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Polissemia no português L2: o caso dos aprendentes chineses

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Academic year: 2021

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Universidade de Aveiro

2019

Departamento de Línguas e Culturas

Qi

Zang

Polissemia no Português L2: o caso dos aprendentes

chineses

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Universidade de Aveiro

2019

Departamento de Línguas e Culturas

Qi

Zang

Polissemia no Português L2: o caso dos aprendentes

chineses

Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Português Língua Estrangeira/Língua Segunda, realizada sob a orientação científica da Doutora Sara Pita, Professora Auxiliar Convidada da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

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o júri

Presidente: Doutor Carlos Manuel Ferreira Morais

Professor Auxiliar da Universidade de Aveiro

Doutora Sara Micaela Pereira Carvalho

Professora Adjunta da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda - Universidade de Aveiro (arguente)

Doutora Sara Topete de Oliveira Pita

Professora Auxiliar Convidada da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (orientadora)

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agradecimentos Agradeço sinceramente à Professora Doutora Sara Pita, orientadora da dissertação, pela orientação cuidadosa, pela sua paciência e compreensão. Ao Professor André Santos, pela sua ajuda a recolher os dados dos alunos chineses da unidade curricular de História da Europa do DLC da UA.

À Professora Doutora Rosa Lídia Coimbra, pela sua ajuda a recolher os dados dos alunos chineses da unidade curricular de Gramática e Comunicação II do DLC da UA.

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palavras-chave Palavras polissémicas, aprendizagem de PLE, aprendentes chineses

resumo Com o desenvolvimento da globalização, a China e os países lusófonos têm cada vez mais contactos e comunicações ao nível de cultura, política, turismo, economia e especialmente de comércio. Considerando que muitos alunos chineses pretendem ter a Língua Portuguesa como instrumento de trabalho, nomeadamente como tradutores, é crucial que possuam um conhecimento alargado da carga semântica das palavras. Nesse sentido, foram realizados alguns testes para verificar o domínio de algumas palavras polissémicas e entender os motivos para as dificuldades sentidas, de modo a apresentar ideias para as solucionar em contexto de sala de aula. Os dados da investigação conduzida com alunos chineses que frequentam a Universidade de Aveiro mostram que uma grande parte dos alunos chineses que aprendem Português como Língua 2.ª (PL2) têm dificuldades na compreensão das palavras polissémicas em casos específicos. Além disso, desconhecem os significados das palavras polissémicas de uso menos comum ou de baixa referência e revelam problemas para expressar com precisão os significados solicitados em português. Mediante os resultados, sugere-se conhecer a cultura portuguesa, formar um pensamento português, alterar a atitude passiva da aprendizagem e procurar métodos adequados e eficazes para melhorar o português.

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keywords Polysemic words, learning of PLE, Chinese learners

abstract As the development of globalization, China and the Portuguese-speaking countries have more and more contacts and communications at the areas of culture, politics, tourism, economy, especially trade. Considering that many Chinese students intend to have Portuguese as their working language, in particular, those want to be a translator, it is critical that they have a thorough understanding of the semantic knowledge of words. In this sense, it is important to make some tests to verify the mastery of some polysemic words, to understand the motivations for the difficulties they are having and to present some ideas to solve them in the classroom context. The research data from Chinese students attending University of Aveiro show that a large proportion of Chinese students learning Portuguese as Second Language (PL2) have difficulties in understanding polysemic words in specific cases, and their main difficulties are unaware of the meanings of polysemic words of less common or low reference use and lack of ability to accurately express the meanings requested in Portuguese. Conforming the analysis of the results the author provides some solutions of the problems.Through the results, it is suggested to know the Portuguese culture, to form a Portuguese thought, to change the passive attitude of learning, and to seek adequate and effective methods to improve Portuguese.

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Índice

Introdução ... 1

Capítulo I. Enquadramento Teórico ... 3

1.1 Linguística Cognitiva ... 3

1.2 Metáfora e metonímia ... 5

1.3 Polissemia e homonímia ... 8

Capítulo II. Metodologia ... 11

2.1. Seleção da amostra ... 11

2.2. Composição da amostra ... 12

2.3. Construção do inquérito ... 13

2.4. Distribuição do inquérito ... 14

2.5. Tratamento dos dados ... 15

Capítulo III. Análise dos inquéritos ... 17

3.1 Perfil dos alunos inquiridos ... 17

3.1.1 Distribuição dos alunos de cada grupo por idade, sexo e nacionalidade ... 17

3.1.2 Línguas ... 18

3.1.3 Aprendizagem da língua ... 19

3.2 Análise dos exercícios do inquérito ... 25

3.2.1 Análise do exercício I ... 25

3.2.1.1 Análise dos resultados da palavra “nota” ... 25

3.2.1.2 Análise dos resultados da palavra “cartão” ... 26

3.2.1.3 Análise dos resultados da palavra “doce” ... 27

3.2.1.4 Análise dos resultados da palavra “deixar” ... 27

3.2.1.5 Análise dos resultados da palavra “terminar” ... 28

3.2.2 Análise do exercício II ... 29

3.2.2.1 Análise dos resultados da palavra “casa” ... 29

3.2.2.2 Análise dos resultados da palavra “banco” ... 30

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3.2.2.4 Análise dos resultados da palavra “ver” ... 32

3.2.2.5 Análise dos resultados da palavra “abandonar” ... 32

3.2.3 Análise do exercício III ... 33

3.2.3.1 Análise dos resultados de exercícios ... 33

3.2.3.2 Síntese dos significados atribuídos às palavras do exercício III . 37 3.2.4 Reflexões preliminares... 39

Capítulo IV. Conclusão das Análises ... 41

4.1 Análise dos erros comuns... 41

4.2 Problemas e resoluções ... 45

Conclusão ... 51

Bibliografia ... 53

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Índice de gráficos

Gráfico 1 - Distribuição dos inquiridos por faixa etária ... 17

Gráfico 2 - Distribuição dos inquiridos por sexo ... 18

Gráfico 3 - Distribuição dos inquiridos por língua que usa mais na vida quotidiana .. 19

Gráfico 4 - Distribuição dos inquiridos do grupo B por tempo do estudo de português ... 20

Gráfico 5 - Distribuição dos inquiridos do grupo B por permanência em Portugal .... 20

Gráfico 6 - Distribuição dos inquiridos do grupo C por tempo do estudo de português ... 21

Gráfico 7 - Distribuição dos inquiridos do grupo C por permanência em Portugal .... 21

Gráfico 8 - Distribuição dos inquiridos por nível de proficiência da língua ... 22

Gráfico 9 - Distribuição dos inquiridos por profissão a seguir ... 23

Gráfico 10 - Distribuição dos inquiridos por métodos utilizados para aprender novas palavras ... 24

Gráfico 11 - Distribuição dos inquiridos por dificuldade em compreender palavras polissémicas ... 24

Gráfico 12 - Resultados do exercício I. 1. Nota ... 26

Gráfico 13 - resultados do exercício I. 2. Cartão ... 26

Gráfico 14 - Resultados do exercício I. 3. Doce ... 27

Gráfico 15 - Resultados do exercício I. 4. Deixar... 28

Gráfico 16 - Resultados do exercício I. 5. Terminar ... 29

Gráfico 17 - Resultados do exercício II. Casa ... 30

Gráfico 18 - Resultados do exercício II. Banco ... 31

Gráfico 19 - Resultados do exercício II. Chave ... 31

Gráfico 20 - Resultados do exercício II. Ver ... 32

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Índice de tabelas

Tabela 1 - Representação gráfica dps MCIs... 4

Tabela 2 - Síntese dos significados atribuídos às palavras do exercício III ... 38

Tabela 3 - Exemplos das respostas da palvra polissémica “nota” ... 41

Tabela 4 - Exemplos das respostas da palvra polissémica “cartão” ... 42

Tabela 5 - Exemplos das respostas da palvra polissémica “doce” ... 43

Tabela 6 - Exemplos das respostas da palvra polissémica “deixar” ... 43

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Introdução

Com o desenvolvimento da globalização, a China e os países lusófonos têm cada vez mais contacto ao nível de cultura, política, turismo, economia e especialmente do comércio, portanto aprender português como língua segunda é uma escolha prudente e útil. Para a eficácia desta comunicação, dominar as palavras polissémicas portuguesas é condição essencial.

Os alunos de Português como L2 sentem, por vezes, dificuldades na compreensão integral das frases, em virtude da existência de palavras polissémicas. De facto, algumas palavras portuguesas possuem vários significados e nem sempre os alunos os dominam a todos, o que causa problemas tanto na interpretação como na produção textual. A polissemia pode, portanto, ser definida como a atribuição de mais do que um significado a um mesmo determinante (Bechara, 2010, p. 551). Por isso, possuir um conhecimento alargado da carga semântica das palavras é imprescindível para os alunos chineses que pretendem ter a Língua Portuguesa como instrumento de trabalho.

A polissemia tem vindo a ser discutida em alguns trabalhos, como por exemplo a tese sobre aprendizagem da polissemia por parte de alunos eslavos de Barbeiro (2009), o estudo de Silva (2003) intitulado “O Poder Cognitivo da Metáfora e da Metonímia” ou a tese de mestrado sobre verbos Polissémicos de Matos (2006), entre outros. Porém ainda não existem trabalhos sobre o estudo da polissemia com alunos chineses

de Português como L2. Posto isto, considera-se pertinente desenvolver um estudo

com estudantes chineses.

Com este trabalho de investigação, pretende-se verificar o domínio de algumas palavras polissémicas por parte de aprendentes chineses; identificar as palavras polissémicas que geram dificuldades aos alunos chineses; compreender os motivos para a dificuldade na identificação do sentido da palavra no seu contexto; e, por fim, esboçar soluções pedagógicas para ultrapassar as dificuldades sentidas. Com este fim em vista, desenvolver-se-á um teste para aplicação com estudantes chineses a frequentar a Universidade de Aveiro, de modo a observar as suas dificuldades na

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perceção do significado de algumas palavras em contextos específicos e na aplicação aquando da produção de textos.

A presente dissertação está dividida em 4 capítulos. No primeiro capítulo, Enquadramento Teórico, apresenta-se o conceito de polissemia na perspetiva da Linguística Cognitiva. No segundo capítulo, dá-se conta da metodologia seguida para a realização do estudo, nomeadamente a seleção e composição da amostra, a construção do inquérito, a distribuição do mesmo e o processo de tratamento dos dados. No terceiro capítulo, Análise dos inquéritos, apresentam-se os resultados dos inquéritos, por meio de gráficos e tabelas para os analisar de forma mais objetiva. Estes dados consideram-se o fundamento para a identificação dos problemas e das dificuldades dos alunos chineses de Português como Língua Estrangeira (PLE) nesta área. No último capítulo, destacam-se os erros comuns nos exercícios, os problemas sobre a compreensão e expressão das palavras polissémicas e algumas sugestões destinadas aos alunos chineses de PLE. Neste ponto, far-se-á alusão à diferença registada nos dados de alunos chineses com tempos de permanência diferentes em Portugal.

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Capítulo I. Enquadramento Teórico

Neste capítulo apresentam-se alguns conceitos teóricos acerca da Linguística Cognitiva, destacando-se a importância do estudo da polissemia nesta perspetiva. Também se introduz o conceito de metáfora e metonímia e a diferença entre polissemia e homonímia.

1.1 Linguística Cognitiva

Linguística Cognitiva é um estudo recente, que surgiu nos finais da década de 70 e princípios da de 80. De acordo com Silva (1997, p. 59), “Linguística Cognitiva é uma abordagem da língua perspetivada como meio de conhecimento e em conexão com a experiência do mundo.” A linguística cognitiva não é uma teoria linguística única, é um termo geral para uma variedade de teorias linguísticas cognitivas, em geral, caracterizada pela experiência cultural, social e individual como base do uso da linguagem. É uma ligação de cognição, conhecimentos e enciclopédia com a língua.

A cognição e a linguagem fundem-se na experiência da realidade. Por um lado, a cognição precede e determina a linguagem, é a base da linguagem; por outro lado, a linguagem pode promover o desenvolvimento e o domínio da cognição. Conhecimento enciclopédico, protótipos, modelos cognitivos e modelos culturais são partes importantes da linguística cognitiva.

Um Modelo Cognitivo Idealizado (MCI) corresponde aos conhecimentos armazenados na nossa mente, mais ou menos estáveis; é uma compreensão idealizada da experiência e do conhecimento de um domínio particular num contexto cultural específico. A MCI pode ser usada para explicar a universalidade, a representatividade e algum conteúdo específico, pode variar de pessoa para pessoa, de lugar para lugar, etc., pode ser conhecida por ambas as partes ou pode ser conhecida na comunicação atual. Eles podem mudar frequentemente em situações específicas, e podem constantemente reabastecer, fortalecer, ajustar e até mudar o conhecimento de fundo das duas partes e a situação atual de comunicação, o que pode ser usado para explicar

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fenómenos específicos com mudanças especiais, por exemplo:

Tabela 1 - Representação gráfica dps MCIs

As duas tabelas de MCI Doença e MCI Guerra mostram que os modelos cognitivos idealizados são estruturas estáveis, mas não rígidas, podendo ser modificadas de acordo com o contexto da situação e ligadas a novos domínios, por exemplo as expressões: ataque fraco, conquistar doença, estratégia de tratamento, etc.

De acordo com Silva (2004, p.2), a língua é parte integrante da cognição, é resultado de processos cognitivos, interação social e culturais e deve ser estudada no seu uso e no contexto da conceptualização, do processamento mental, da interação e da experiência social e cultural. A categorização é uma das competências cognitivas fundamentais, a função dela é identificar, classificar e nomear diferentes entidades como membros de uma mesma categoria; ela depende de determinado conhecimento da experiência, a qual é formada nas culturas diferentes e nos grupos sociais diferentes, mas trata-se de um conhecimento individualmente idealizado, isto é, de um modelo cognitivo. Por isso, a categoria linguística pode variar de acordo com os respetivos modelos cognitivos e culturais. A categorização linguística processa-se, geralmente, na base de protótipos, isto é, de exemplares típicos mais representativos. Os membros de uma categoria possuem diferentes graus de saliência, uns são prototípicos e outros periféricos, e os limites entre si são frequentemente imprecisos. O agrupamento dos seus elementos faz-se por similaridades parciais e não por

MCI Doença dor disposição hospital medicina sentir-se mal médicos palidez fraco … MCI Guerra armas batalhas vitória morte derrota adversário estratégia ataque conquistar …

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propriedades comuns, como por exemplo: a categorização “aves”, inclui pardal, pinguim, avestruz. Pardal é um membro prototípico, porque tem penas e voa, ao contrário de pinguim e avestruz que não podem voar e o pinguim não tem penas percetíveis, etc. (Silva, 1997, pp.65-66). Portanto, estes seriam membros periféricos.

A categorização tem vantagens de flexibilidade, uma vez que permite integrar novos conceitos como membro mais ou menos periférico e adaptar os que são usados, e de estabilidade, permitindo interpretar novas experiências através dos protótipos existentes. Dado que as experiências podem ser abordadas a partir de perspetivas diferentes mediante a cultura, os modelos culturais são, consequentemente, díspares, levando à formação de palavras específicas. Porém, os aspetos comuns do ambiente quotidiano permitem compreender a estrutura semântica em diferentes contextos culturais.

As palavras polissémicas também têm significados prototípicos e periféricos, eles são contextualmente construídos, são flexíveis e dinâmicos, ativam o domínio de conhecimentos armazenados. O léxico tem origem numa compreensão natural de si mesmo e do espaço (incluindo localização, direção, movimento, etc.), e expande-se através da imaginação e da metáfora.

1.2 Metáfora e metonímia

As metáforas e metonímias desempenham um papel crucial na formação da polissemia, pois através delas conceptualizamos domínios abstratos em termos de domínios concretos e familiares por uma analogia sistemática e coerente, gerando significados diferentes de uma palavra.

Tradicionalmente, a metáfora tem sido considerada um uso figurativo da linguagem, isto é, um mecanismo retórico de ornamentação da língua frequentemente usado na literatura ou na linguagem poética. Contudo, estas formas não são só usadas na produção literária ou noutras formas de criação linguística, elas também são empregues quotidianamente, como defendem Lakoff e Johnson (2003, p. 3).

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características: convencionalidade, sistematicidade, assimetria e abstração.

A primeira característica, convencionalidade, refere-se às palavras que os falantes utilizam sem terem consciência da sua natureza metafórica, bem como à aceitação de novas significações ou de novos termos. Analisando-se este último ponto de uma perspetiva sincrónica, tal significa que se adiciona um novo significado a uma palavra e, portanto, se está perante um caso de polissemia. Por exemplo, a associação de “cima” e “baixo” à metáfora dos valores (bom e mau) ou do poder, ou seja, o uso de expressões como “classe alta/baixa” ou “classificação alta/baixa”.

A segunda característica é a sistematicidade. Quando uma determinada expressão é utilizada metaforicamente com frequência, há uma associação entre os conceitos alvo e fonte. Por exemplo, a metáfora “A VIDA É UMA VIAGEM” pode ser utilizada para fazer referência ao nascimento de uma criança ou aos desafios colocados durante a vida, isto é, os esquemas cognitivos associados ao conceito de viagem são transpostos para estas realidades. Num outro exemplo de Lakoff & Johnson(2003, p. 4), “DISCUSSÃO É GUERRA”, aproximam-se dois domínios que têm componentes comuns: os participantes de uma discussão correspondem aos adversários de uma guerra. Podemos ver que o processo é semelhante, já que ao domínio concreto, ou seja, o domínio-origem, da GUERRA, é conceptualizado e, posteriormente, associado e projetado no domínio abstrato, domínio-alvo, da DISCUSSÃO.

A terceira característica é a assimetria ou, por outras palavras, o seu carácter unidirecional. De facto, não é possível dizer que “A VIAGEM É UMA VIDA”.

A última característica é a abstração, a qual mostra que a metáfora é um mecanismo linguístico que liga o domínio concreto ao abstrato. Ainda tomando como exemplo a metáfora da vida, verifica-se que as experiências reais do quotidiano (domínio concreto) permitem conceptualizar as categorias abstratas, nomeadamente a evolução da vida, os obstáculos, etc.

Na perspetiva da Linguística Cognitiva estes exemplos mostram que a metáfora não só é uma transferência semântica de uma categoria para outra categoria de um domínio diferente, mas envolve uma analogia sistemática e coerente entre a estrutura

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interna de dois domínios da experiência (Lackoff and Johnsen, 2003,p.13). Na semântica cognitiva, a metáfora tem um papel importante na criação de palavras polissémicas.

A metonímia expressa a relação de contiguidade entre duas realidades, permitindo-nos representar uma entidade através de outra. Este mecanismo pode retratar a representatividade da parte pelo todo (a), do produtor pelo produto (b), do objeto pelo utilizador (c), da instituição pela pessoa responsável (d), do recipiente pelo conteúdo (e), da causa pelo efeito (f).

(a) Não empregamos cabelos compridos.

Há muitas boas cabeças na nossa universidade. (b) Recebi umas Nike no meu aniversário.

Bebeu Compal no almoço.

(c) O patrão não gosta daquele casaco vermelho (d) Tem de falar com a faculdade sobre a tua nota.

(e) Depois do trabalho ele gosta de beber copos com amigos. (f) A cara dela está vermelha.

Em virtude deste mecanismo, também é possível usar algumas características físicas para representar coisas ou pessoas (velho, gordo, etc.). Trata-se de uma diferença entre as culturas portuguesa e chinesa que pode provocar alguma estranheza nos alunos asiáticos. Por exemplo, um aluno chinês que ouve um português a pedir um “fino” num bar ou restaurante não associa o termo de imediato à bebida, mas sim à característica física (fino (adj.) – delgado, magro, etc.). Outro exemplo é o uso dos nomes dos animais para representar carnes diferentes (“vaca”, “porco”, “pato”, etc.). No entanto, a palavra “cachorro” em português, para além de significar “cão”, usa-se para nomear um tipo de comida que é feito com pão, salsicha, molhos, etc. Como na cultura chinesa há algumas regiões que comem a carne de cães, podem surgir interpretações diferentes por parte dos alunos chineses.

A metonímia ‘produtor pelo produto’ é baseada na experiência, dado que as pessoas usam marcas de produto ou companhia em vez dos nomes de lugar ou coisas. Por exemplo, “Pedras” ou “Delta” já não representam os significados originais, mas

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sim um tipo de bebidas com gás e café em Portugal. “Vamos ao Continente” refere-se ao nome do supermercado, tal como Pingodoce ou Minipreço, palavras que podem causar confusão.

Em suma, metáfora e metonímia são partes importantes na linguística cognitiva resultando na produção de palavras polissémicas. Estes dois fenómenos de conceptualização fundam-se no conhecimento enciclopédico e nas experiências individuais e culturais que enriquecem os nossos conhecimentos e o nosso vocabulário.

1.3 Polissemia e homonímia

Um dos problemas que causa dificuldades na compreensão de uma frase é a existência de palavras ambíguas, tendo a polissemia e a homonímia um papel importante neste caso.

Ambos os conceitos definem, de forma genérica, dois ou mais termos que têm significados diferentes, mas formas gráficas e fonéticas idênticas. Na nomenclatura oficial do português para efeitos escolares, disponível no Dicionário Terminológico, publicado pela portaria 476, de 18 de abril de 2007 e acessível online em http://dt.dgidc.min-edu.pt/, no que à polissemia e homonímia diz respeito, podemos observar as seguintes definições:

Polissemia: Propriedade semântica característica das palavras ou dos constituintes morfológicos que possuem mais do que um significado.

Exemplos:

a) O verbo "partir" pode significar "ir-se embora" ou "quebrar". O voo parte às 10h.

O João partiu o vaso.

Homonímia: Relação entre palavras que partilham a mesma grafia e são pronunciadas da mesma forma, mas que têm significados distintos.

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Exemplos:

a) canto (verbo cantar, presente do indicativo, 1.ª p.s.) e canto (nome masculino)

Eu canto fado.

Adoro ouvir o canto dos pássaros.

Apesar de a definição destes conceitos ser simples, não é fácil dizer se estamos perante duas palavras homónimas ou uma palavra polissémica. Este é um dos problemas mais complexos em lexicografia e em semântica lexical, porque, de facto, não existe uma rigidez nas palavras destes tipos (Silva. 2006, p.62)

Não obstante esta situação, pode-se distinguir as palavras polissémicas das homónimas, aplicando os seguintes critérios:

a) etimologia (os homónimos podem ter étimos diferentes):

manga (fruto) do malaiala manga VS manga (parte do vestuário) do lat. manica.

b) classes gramaticais (os homónimos podem pertencer a diferentes classes gramaticais de palavras):

nota (nome) VS nota (forma do verbo notar)

c) expressões idiomáticas (distinção entre formas homónimas pode evidenciar-se por meio do uso de expressões idiomáticas):

lançar os dados VS a cavalo dado não se olha o dente

d) relação semântica (os homónimos podem não possuir nenhum sema em comum)

renda (quantia em dinheiro que se recebe como retribuição de trabalho ou capital aplicado) VS renda (tecido delicado cujos fios se entrelaçam e formam desenhos variados)

e) campos lexicais (os homónimos podem ter campos lexicais diferentes): língua (boca, garganta…) VS língua (estrangeira, falar, de origem…) f) famílias de palavras (os homónimos podem ter diferentes palavras): pastel (pastelão, pastelaria pasteleiro…)

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A distinção entre polissemia e homonímia anterior não tem de ser realizada em contexto de uso efetivo da língua. Pode-se considerar a polissemia como um fator de motivação, uma vez que estimula o domínio lexical dos falantes.

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Capítulo II. Metodologia

No presente capítulo, damos conta da metodologia seguida para a realização do estudo, relativamente à seleção e composição da amostra, construção e distribuição do inquérito e tratamento dos dados.

2.1. Seleção da amostra

O objetivo do presente inquérito é verificar as dificuldades da compreensão das palavras polissémicas por parte de alunos chineses de língua portuguesa como língua estrangeira. Com este objetivo principal em mente, foi realizado um inquérito a três grupos de alunos do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro: o primeiro grupo é composto por alunos chineses que estão a frequentar o 3.º ano da Licenciatura em Português Língua estrangeira/ Língua segunda (1.º ciclo); o segundo grupo integra alunos chineses que estão a frequentar o 1.º ano do Mestrado em Português Língua Estrangeira/ Língua segunda (2.º ciclo); o terceiro grupo é formado por alunos chineses que estão a frequentar o 2.º ano do mestrado referido anteriormente. Para facilitar a análise do inquérito, designamos o primeiro grupo por grupo A, o segundo por grupo B e o terceiro por grupo C.

De acordo com os cursos que os alunos chineses frequentam, podemos observar que a quantidade das aulas, os conteúdos que eles estudam, a forma de passar os tempos livres e de aprender palavras novas são diferentes. Estes serão alguns dos fatores que tentaremos perceber se influenciam os alunos chineses a compreender as palavras polissémicas.

No ano letivo 2018-2019, existiam duas turmas do 3.º ano de licenciatura, cada um com cerca de 30 alunos. A autora escolheu uma turma inteira e alguns alunos da outra turma para fazer os inquéritos. Importa informar que alguns inquéritos foram excluídos por não estarem completos. Relativamente à turma do 1.º ano de mestrado, apesar de ser composta por mais de 30 alunos, apenas 28 preencheram os inquéritos.

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No que diz respeito ao grupo C, os inquéritos foram enviados através de email pois os 30 alunos já não tinham aulas.

2.2. Composição da amostra

O primeiro grupo (A) é constituído por 30 alunos chineses, 5 estudantes masculinos e 25 femininos, que estão a frequentar o curso de Frequência de Disciplinas Isoladas do 3.º ano de licenciatura no Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro. Todos são alunos de intercâmbio, que estudam há três anos português e que ficam em Portugal há um ano. As universidades de origem dos alunos são: Universidade de Estudos Internacionais de Sichuan, Universidade de Estudos Internacionais de Xangai, Universidade de Estudos Internacionais de Jilin, Universidade de Línguas Estrangeiras de Dalian e Universidade Normal de Harbin.

O segundo grupo (B) é composto por 28 alunos chineses, 3 estudantes masculinos e 25 estudantes femininos do curso Mestrado em Português Língua Estrangeira/Língua segunda (2º ciclo) do 1.º ano de mestrado no Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro. O período de estudo e de permanência em Portugal é distribuído da seguinte forma: 5 alunos estudam português há três anos e ficam em Portugal há um ano; 1 aluno estuda português e fica em Portugal há quatro anos; 2 alunos estudam português há quatro anos e ficam em Portugal há um ano; 20 alunos estudam português há quatro anos e ficam em Portugal há dois anos. Neste grupo nem todos são alunos de intercâmbio, e os alunos de intercâmbio também são de projetos diferentes, ou seja, alguns alunos estudam português durante 2 anos na China e depois vêm estudar para Portugal por 3 anos como alunos de mobilidade, como os alunos da Universidade dos Estudos Internacionais de Jilin, da Universidade das Línguas Estrangeira de Dalian e da Universidade Normal de Harbin, e outros alunos estudam 3 anos de português na China e depois estudam 2 anos em Portugal, como os alunos da Universidade dos Estudos Internacionais de Xi an. Há ainda alguns alunos deste grupo que já concluíram o curso Português como Língua 2.ª nas Universidades da China e estudam português como estudantes internacionais.

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O terceiro grupo (C) é formado por 27 alunos chineses, 5 estudantes masculinos e 22 estudantes femininos. A maioria dos alunos, concretamente 15, estudam português há 5 anos e ficam em Portugal há três anos, 2 alunos estudam português há quatro anos e ficam em Portugal há um ano, 3 alunos estudam português há seis anos e ficam em Portugal há dois anos, e, por fim, 7 alunos estudam português há cinco anos e ficam em Portugal há dois anos. Como os alunos do grupo B, este grupo também é composto por alunos com percursos de estudo diferentes; a diferença é que nesta turma 2 alunos estudavam português como disciplina opcional quando frequentavam o curso de licenciatura na China e depois vieram para Portugal a fim de frequentarem o mestrado. As universidades de origem do grupo C são: Universidade de Estudos Internacionais de Xi an, Universidade de Estudos Internacionais de Jilin, Universidade de Línguas Estrangeiras de Dalian, Universidade Normal de Harbin e Universidade de Estudos Estrangeiros de Guangdong.

2.3. Construção do inquérito

A primeira parte do inquérito permite obter uma descrição do público-alvo a partir da colocação de 10 questões objetivas sobre a idade, o sexo, a nacionalidade, a língua materna, a língua que usa mais na vida quotidiana, o período de estudo do português e de permanência em Portugal, o nível de proficiência da língua, profissão que quer ter depois do curso, estratégias utilizadas para aprender novas palavras e autoavaliação da dificuldade em compreender palavras polissémicas. O objetivo é ter um conhecimento básico dos inquiridos, de forma a facilitar a análise dos resultados. A segunda parte do inquérito é constituída por três tipos de exercícios. O primeiro exercício consiste em fazer tantas frases quantos os sentidos (significados) que cada uma das palavras pode ter. O exercício inclui cinco palavras (“Nota”, “Cartão”, “Doce”, “Deixar”, “Terminar”), cada uma com mais de um significado. O objetivo deste exercício é saber quantos sentidos os alunos conhecem e analisar a capacidade de aplicar as palavras de forma adequada em frases. No segundo exercício solicita-se a identificação do significado que as palavras polissémicas adquirem em

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cada frase. Foram selecionadas cinco palavras (“casa”, “banco”, “chave”, “ver”, “abandonar”) e produzidas cinco frases para cada uma, de modo a ilustrar vários significados. Os alunos tinham de identificar o significado de cada situação. O terceiro exercício é indicar o sentido da palavra assinalada no contexto da frase. O exercício é composto por 10 exercícios, que têm cinco palavras polissémicas com dois sentidos diferentes, as quais são “correr”, “bom”, “pena”, “estrela”, “fonte”. O objetivo é verificar se, não fornecendo nenhum significado relativo, os alunos identificam o significado correto tendo em conta a situação.

As palavras colocadas no inquérito foram escolhidas com muita atenção, procurando-se garantir a compreensão de todos os informantes. Por esse motivo, recorreu-se a palavras de uso quotidiano. As palavras no exercício I são as que a autor e os alunos chineses enganaram ou confundiram durante o percurso da aprendizagem do português; as palavras do exercício II são as foram analisadas nos alguns estudos da polissemia, por exemplo, os trabalhos de Matos (2006) e Bechara (2010). Para garantir a precisão das frases e significados do exercício, os quais são selecionados de Dicionário Da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa, (2001), e Dicionário da Língua Portuguesa, (1998), Porto Editora. As frases do exercício III, são selecionadas do trabalho de Correia (2000). O motivo é para verificar se estas palavras mencionadas nestes trabalhos também causam as dificuldades aos alunos chineses PLE.

Os diversos significados das palavras dos exercícios no inquérito estão seguidos no anexo de acordo com Dicionário da Língua Portuguesa, (1998), Porto Editora.

2.4. Distribuição do inquérito

O inquérito foi realizado em maio de 2019, no fim do segundo semestre. Uma parte, a referente aos grupos A e B, foi feita durante as aulas no Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro em Portugal, demorando mais ou menos 20 minutos. A outra parte, ou seja, o grupo C, em virtude de os alunos já não terem aulas e estarem a trabalhar na dissertação, os inquéritos foram realizados nos

(26)

tempos livres e por email. Durante todo o processo de resolução do inquérito, foi permitido o acesso a qualquer tipo de material para clarificar o sentido das palavras desconhecidas. A ideia inicial era obter 30 respostas de cada grupo, mas no final foram obtidas 30 respostas do Grupo A, 28 respostas do Grupo B e 27 respostas do Grupo C.

2.5. Tratamento dos dados

Depois de recolher os inquéritos, a autora atribuiu um código alfanumérico a cada inquérito (A1, A2, A3...), correspondente ao grupo a que pertence e ao número de aluno, para garantir a confidencialidade dos dados. Em seguida, inseriu as respostas no Excel e fez os gráficos ou listas relativas a cada exercício.

Após a análise de cada grupo individualmente, fez-se a comparação entre eles, de modo a determinar se a diferença do tempo do estudo da língua portuguesa ou o tempo de imersão têm impacto na compreensão das palavras polissémicas. Os resultados alcançados são analisados ao pormenor no capítulo seguinte.

(27)
(28)

Capítulo III. Análise dos inquéritos

Apresentam-se, no presente capítulo, os resultados dos inquéritos sobre as palavras polissémicas. Os resultados serão mostrados através de gráficos ou tabelas para os analisarmos de forma mais objetiva. Estes dados consideram-se o fundamento para identificar os problemas e as dificuldades dos alunos chineses de PLE no que às palavras polissémicas diz respeito.

3.1 Perfil dos alunos inquiridos

3.1.1 Distribuição dos alunos de cada grupo por idade, sexo e nacionalidade Pode-se observar nos seguintes gráficos que a maioria dos alunos se encontra na faixa etária dos 21 aos 23. Naturalmente os alunos do grupo A são mais jovens do que os restantes, pois encontram-se numa fase inicial da sua carreira académica.

O gráfico mostra que a maioria parte (grupo A 83%, grupo B 89%, grupo C 81%) dos alunos inquiridos dos três grupos é do sexo feminino. Em relação à nacionalidade, todos os alunos têm nacionalidade chinesa.

Gráfico 1- Distribuição dos inquiridos por faixa etária 30% 70% 0% 4% 93% 4% 0% 81% 19% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 18-20 21-23 24-26

(29)

Gráfico 2 - Distribuição dos inquiridos por sexo

3.1.2 Línguas

Nos três grupos, o chinês é a língua materna de todos os alunos inquiridos, portanto além do português eles também falam outras línguas no dia a dia. Como os próximos gráficos mostram, a língua que os alunos inquiridos usam mais na vida quotidiana é o chinês. No grupo A, apenas um aluno refere usar com mais frequência o cantonês no quotidiano e outro usar ambas as línguas. Os dados no grupo B são semelhantes: 25 alunos (89%) usam chinês, 1 (4%) usa português, 1 (4%) usa cantonês e 1 (4%) usa ambas. No grupo C, os dados variam ligeiramente: 74% usam chinês na vida quotidiana, 11% utilizam as duas línguas e 7% referem usar uma terceira língua. 17% 11% 19% 83% 89% 81% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

grupo A grupo B grupo C

(30)

Gráfico 3 - Distribuição dos inquiridos por língua que usa mais na vida quotidiana

Podemos verificar que os alunos do 2.º ano de mestrado falam menos chinês e mais português, mas, em geral, a maioria dos alunos chineses falam mais chinês, em vez de português.

3.1.3 Aprendizagem da língua

Todos os alunos do grupo A estudam português há 3 anos e estão em Portugal há um ano. Relativamente ao grupo B, 18% dos alunos aprendem português há 3 anos e 82% dos alunos há 4 anos. A maioria destes alunos encontra-se em Portugal há dois anos e uma pequena parte, somente 4%, há quatro anos.

93% 0% 0% 3% 3% 0% 89% 4% 0% 4% 4% 0% 74% 4% 4% 0% 11% 7% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

chinês português inglês cantonês chinês e português

chinês português e

inglês grupo A grupo B grupo C

(31)

Gráfico 4 - Distribuição dos inquiridos do grupo B por tempo do estudo de português

Gráfico 5 - Distribuição dos inquiridos do grupo B por permanência em Portugal

O período de aprendizagem da língua e da estadia em Portugal pode ter impacto sobre os resultados finais, como se procurará analisar mais adiante.

De acordo com os gráficos seguintes, no grupo C, a maioria dos alunos (81%) aprendem português há 5 anos e 11% dos alunos há 6 anos. Quanto à estadia em Portugal, 7% dos alunos estão em Portugal há um ano, 37% dos alunos há 2 anos, e 56% há 3 anos. 3 anos; 18% 4 anos; 82% 1 anos; 25% 2 anos; 71% 4 anos; 4%

(32)

Gráfico 6 - Distribuição dos inquiridos do grupo C por tempo do estudo de português

Gráfico 7 - Distribuição dos inquiridos do grupo C por permanência em Portugal

De acordo com estes gráficos, o tempo de estudo de português e a estadia em Portugal difere dentro dos próprios grupos. No grupo A, só há alunos de intercâmbio, e todos eles estudam português há 3 anos, e ficam em Portugal há um ano. Nos grupos

B e C, não só há os alunos de intercâmbio1, como também os alunos que concluíram a

sua formação numa universidade da China e depois vêm estudar como alunos internacionais, por isso o tempo de estadia dos alunos varia mais e os alunos têm percursos de aprendizagem de português diferentes. No grupo B, estudam português há 4 anos e ficam em Portugal há 2 anos. Relativamente ao grupo C, a maioria dos alunos estuda português há 5 anos e fica em Portugal 3 anos.

1

Os alunos de intercâmbio são alunos que ainda não concluíram os cursos da China, mas estão a frequentar cursos das universidades de Portugal de acordo com o protocolo que as duas

Universidades assinaram. 1 ano; 7% 2 anos; 37% 3 anos; 56% 4 anos; 7% 5 anos; 81% 6 anos; 11%

(33)

Estas diferenças podem ter impacto nos dados, isto porque os alunos que estudam português e vivem em Portugal há mais tempo têm um vocabulário mais rico e mais sensibilidade sobre os casos específicos do uso das palavras polissémicas.

O gráfico 8 mostra que a maioria dos alunos considera ter um nível de proficiência da língua de B2 (grupo A 70%, grupo B 79%, grupo C 63%). Estes dados são curiosos já que não revelam a progressão relativamente ao domínio da língua esperada. De facto, seria expectável que os alunos que permanecem no país há mais tempo considerassem o seu nível de proficiência superior, mas parecem concentrar-se todos no nível B2. O grupo C é o que preenche o maior número de alunos do nível C1.

Gráfico 8 - Distribuição dos inquiridos por nível de proficiência da língua

No que diz respeito à profissão futura os dados são variados: no grupo A e no grupo C, respetivamente 40% e 44% dos alunos querem ser tradutores; já no grupo B, 57% dos alunos desejam ter outras profissões no futuro, por exemplo, funcionário público nos departamentos aduaneiros, guia turístico, vendedor de empresa internacional, etc. O Grupo C é o que regista o maior número de alunos com pretensão de executarem funções docentes (30%).

27% 70% 3% 14% 79% 7% 4% 63% 33% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% B1 B2 C1

(34)

Gráfico 9 - Distribuição dos inquiridos por profissão a seguir

As profissões que os alunos pretendem seguir no futuro são diferentes, por isso, as áreas da língua portuguesa que os alunos estudam também podem ser variadas. Por exemplo, algumas profissões como guia turístico implica conhecer os artigos, culturas, expressões da vida quotidiana, ao passo que um tradutor precisa de saber bem a gramática e ter técnica de tradução. Sem dúvida, estes fatores também influenciam o domínio e a aprendizagem das palavras polissémicas e, consequentemente, os resultados deste estudo.

O gráfico 10 apresenta os métodos utilizados pelos alunos para aprender novas palavras. A maioria refere que o faz nas aulas e através dos textos usados em aula (grupo A 83%, grupo B 79%, grupo C 63%) ou nas experiências da vida quotidiana (grupo A 50%, grupo B 64%, grupo C 81%), por exemplo, ao fazer compras, ir aos restaurantes, conviver com os amigos portugueses, etc.

23% 40% 37% 14% 29% 57% 30% 44% 26% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% professor/a de português tradutor/a outros grupo A grupo B grupo C

(35)

Gráfico 10 - Distribuição dos inquiridos por métodos utilizados para aprender novas palavras

Relativamente à autoavaliação da compreensão das palavras polissémicas, 93% dos alunos do grupo A, 96% do grupo B e 89% do grupo C têm dificuldade em compreender. Comparando os resultados dos três grupos, verificámos que no grupo B mais alunos têm dificuldade em compreender palavras polissémicas.

Gráfico 11 - Distribuição dos inquiridos por dificuldade em compreender palavras polissémicas

A partir das respostas determinou-se que os inquiridos do grupo C aprendem português e novas palavras com a vida quotidiana, enquanto os alunos inquiridos do grupo A usam mais tempo nas aulas e nos seus materiais. No que diz respeito ao

83% 50% 27% 33% 50% 79% 64% 39% 36% 46% 63% 81% 30% 48% 26% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90%

Nas aulas e nos textos usados

em aula

Experiências da vida quotidiana

Ver televisão e/ou ouvir rádios

em português

Ler livros e/ou jornais em português

Fazer exercícios gramaticais

grupo A grupo B grupo C

7% 4% 11% 93% 96% 89% 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120%

grupo A grupo B grupo C

(36)

grupo B, os alunos também gastam mais tempo nas aulas e nos textos em aula, a aprendizagem de novas palavras através das experiências da vida quotidiana não é significativa. Os alunos do grupo A têm menos experiência em Portugal, menos amigos portugueses, estudam num ambiente mais fechado, às vezes não sabem tão bem a diferença entre os significados diferentes da mesma palavra polissémica, especialmente aquelas mais orais. Por outro lado, os alunos do grupo C, só têm uma aula no primeiro semestre e já têm um conhecimento básico da cultura portuguesa, por isso, eles podem usar o tempo deles para aprender palavras mais práticas para a vida deles, trabalhar nos tempos livres, sair com os amigos portugueses, desenvolvendo o vocabulário e adquirindo a maneira de pensar dos portugueses.

3.2 Análise dos exercícios do inquérito

Como se refere no capítulo II, há três exercícios na segunda parte do inquérito, cujos resultados vão ser apresentados em seguida.

3.2.1 Análise do exercício I

No primeiro exercício, propunha-se a redação de tantas frases, quantos os sentidos (significados) que as palavras fornecidas poderiam ter.

Os resultados baseiam-se no número de significados das frases realizadas, não tendo sido contabilizadas aquelas em que as palavras têm o mesmo significado. 3.2.1.1 Análise dos resultados da palavra “nota”

No gráfico 12, referente à palavra “nota”, verifica-se que os alunos conhecem em média dois ou três significados. Analisando de forma particular, 17% dos alunos do grupo A sabem um significado, 63% dos alunos, dois e 20% dos alunos, três. No grupo B, os valores são mais aproximados, ainda que mais alunos saibam dois significados. Quanto ao grupo C, 52% dos alunos reconhecem três significados e 11% apontam quatro.

(37)

estudo e permanência em Portugal sabem mais significados.

Gráfico 12 - Resultados do exercício I. 1. Nota

3.2.1.2 Análise dos resultados da palavra “cartão”

No que respeita à palavra “cartão”, no gráfico 13, podemos observar que os resultados estão concentrados em 1 e 2. 93% dos alunos do grupo A apenas reconhecem um significado, 83% do grupo B também só sabe um e do grupo C 52% sabem dois. É curioso os valores entre os grupos A e B não serem muito diferentes, apesar de os alunos do grupo B estudarem português e estarem em Portugal há mais tempo do que os do grupo A, portanto, seria de prever que já dominassem mais significados.

Gráfico 13 - resultados do exercício I. 2. Cartão 17% 63% 20% 0% 0% 21% 43% 29% 0% 4% 0% 37% 52% 11% 0% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%

1 2 3 4 ou mais de 4 não completou

grupo A grupo B grupo C

93% 3% 0% 3% 79% 18% 0% 4% 37% 52% 7% 4% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 1 2 3 não completou

(38)

3.2.1.3 Análise dos resultados da palavra “doce”

O gráfico 14 mostra que o número de alunos que sabem dois significados da palavra polissémica “doce” é semelhante (Grupo A 53%, Grupo B 50%, Grupo C 63%). Neste caso, é notório que os alunos do grupo C sabem mais significados do que os outros grupos, o que está em concordância com o seu percurso académico.

Gráfico 14 - Resultados do exercício I. 3. Doce

3.2.1.4 Análise dos resultados da palavra “deixar”

No gráfico 15, podemos observar que a maioria dos alunos (53% do grupo A, 61% do grupo B, 56% do grupo C) identifica dois significados da palavra “deixar”. Apesar de os alunos do grupo C indicarem mais significados (41% no total), pode-se afirmar que há alguma homogeneidade no conhecimento relativo a esta palavra.

43% 53% 0% 0% 3% 29% 50% 14% 0% 7% 0% 63% 30% 7% 0% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 1 2 3 4 não completou

(39)

Gráfico 15 - Resultados do exercício I. 4. Deixar

3.2.1.5 Análise dos resultados da palavra “terminar”

No gráfico 16, podemos observar que a maioria dos alunos só sabe um ou dois significados da palavra polissémica “terminar”. Uma grande parte dos alunos do grupo A (80%) só sabe um significado. No grupo B, 50% dos alunos sabem um significado, 25% dos alunos sabem dois significados. No grupo C, 41% dos alunos sabem dois significados, 15% identificam três significados e 7% apontam quatro. No entanto, é de destacar o número elevado de alunos deste grupo que apenas refere um significado. De um modo genérico, os resultados ilustram que o conhecimento vai aumentando à medida que o tempo em Portugal aumenta, contudo é conveniente refletir sobre os dados do grupo C.

33% 53% 10% 3% 0% 7% 61% 11% 11% 11% 4% 56% 22% 19% 0% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 1 2 3 4 não completou

(40)

Gráfico 16 - Resultados do exercício I. 5. Terminar

Através da análise do exercício I, observamos que os alunos com mais tempo em Portugal sabem mais significados das palavras polissémicas do que os grupos B e A. Os gráficos também mostram um fenómeno interessante, ou seja, os resultados entre os grupos A e B não são muito diferentes, mesmo tendo disciplinas mais avançadas.

Consoante os dados relativos ao tempo de estudo e de permanência em Portugal, a maioria dos alunos do grupo B já estudam português há 4 anos (84%) e ficam em Portugal há 2 anos (71%). Todavia, ainda há uma parte dos alunos que só estudam português há 3 anos (18%) e estão em Portugal há 1 ano (25%). Inquestionavelmente, estes fatores afetam os resultados. Além disso, os inquiridos dos grupos A e B estudam português nas aulas ou fazem exercícios em casa, porém os alunos do grupo C têm mais tempo livre para aprender português na área que têm mais interesse.

3.2.2 Análise do exercício II

A fim de saber se os alunos identificam o significado das palavras polissémicas fornecidas em situações diferentes, realizou-se um exercício de correspondência. Os gráficos mostram o número de itens que os inquiridos identificaram corretamente. 3.2.2.1 Análise dos resultados da palavra “casa”

Conforme o gráfico 17, no que diz respeito à palavra polissémica “casa”, os

80% 17% 0% 0% 3% 50% 25% 18% 0% 7% 37% 41% 15% 7% 0% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 1 2 3 4 não completou

(41)

resultados corretos oscilam entre três (grupo A 47%, grupo B 21%, grupo C 15%) e cinco (grupo A 40%, grupo B 50%, grupo C 81%). É evidente que o grupo C tem os resultados melhores do que os outros grupos. No entanto, ao contrário do que seria esperado, o grupo A tem resultados melhores do que o grupo B. Os motivos para estes resultados possivelmente não se devem apenas ao tempo de estudo e de permanência em Portugal; na verdade, quando o inquérito foi aplicado, alguns alunos já tinham respondido a outros inquéritos e, portanto, a sua atitude perante este não era positiva, e estavam mais concentrados nos exames que iam realizar em breve. Parece-nos, também, que alguns alunos preencheram os resultados sem lerem bem os exercícios ou não compreenderam bem as frases. Por seu turno os alunos do grupo A, trataram os exercícios com mais seriedade e até solicitaram mais tempo para completar a tarefa na aula.

Gráfico 17 - Resultados do exercício II. Casa

3.2.2.2 Análise dos resultados da palavra “banco”

No gráfico 18, sobre a palavra “banco”, observa-se que a maioria dos alunos preencheram cinco respostas certas (grupo A 53%, grupo B 50%, grupo C 96%). Neste exercício os resultados do grupo B e do grupo A são semelhantes, revelando quais os significados da palavra “banco” mais frequentemente lecionados em aula.

0% 7% 3% 47% 3% 40% 4% 4% 21% 21% 0% 50% 0% 0% 4% 15% 0% 81% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 0 1 2 3 4 5

(42)

Gráfico 18 - Resultados do exercício II. Banco

3.2.2.3 Análise dos resultados da palavra “chave”

No gráfico 19, os dados são mais heterogéneos. O grupo C claramente domina mais significados (85%). O grupo A apresenta bons resultados com 50% dos alunos a identificarem os cinco significados, mais do que o grupo B. Neste exercício, a justificação para estes resultados, não é porque os alunos do grupo A são melhores ou têm mais conhecimento do que os do grupo B, mas porque estes não fizeram os exercícios cuidadosamente, além disso, relativamente a 3 resultados corretos, os

alunos do grupo B (32%) têm um resultado melhor do que o grupo A.

Gráfico 19 - Resultados do exercício II. Chave 7% 3% 23% 17% 0% 50% 7% 4% 18% 32% 0% 39% 0% 0% 4% 11% 0% 85% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 0 1 2 3 4 5

grupo A grupo B grupo C

0% 3% 10% 30% 0% 53% 7% 4% 18% 18% 4% 50% 4% 0% 0% 0% 0% 96% 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120% 0 1 2 3 4 5

(43)

3.2.2.4 Análise dos resultados da palavra “ver”

Quanto à palavra “ver”, as respostas foram mais dispersas. A maior parte dos alunos acertou três (grupo A 33%, grupo B 18%, grupo C 44%) ou cinco correspondências (grupo A 33%, grupo B 29%, grupo C 52%). Mais uma vez, o grupo C tem resultados melhores do que os outros grupos e o grupo B tem resultados melhores do que o grupo A.

Gráfico 20 - Resultados do exercício II. Ver

3.2.2.5 Análise dos resultados da palavra “abandonar”

No gráfico 21, destaca-se o desempenho do grupo C (78%). Os grupos A e B acertaram dois (grupo A 20%, grupo B 32%, grupo C 11%) e três significados (grupo A 30%, grupo B 29%, grupo C 11%). 13% 3% 13% 33% 3% 33% 4% 14% 36% 18% 0% 29% 0% 4% 0% 44% 0% 52% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 0 1 2 3 4 5

(44)

Gráfico 21 - Resultados do exercício II. Abandonar

Os resultados mostram a complexidade deste exercício. No entanto, é nítido que os alunos do grupo C têm uma melhor capacidade de identificar os significados das palavras polissémicas em situações diferentes. Porém, apesar de o grupo B, na maioria dos casos, ter mais anos de permanência e de estudo da língua portuguesa em Portugal, apresenta valores inferiores aos dos alunos do grupo A.

3.2.3 Análise do exercício III

A autora fez uma lista de todas as respostas diferentes a fim de mostrar como os alunos chineses compreendem o sentido de dada palavra polissémica em situações diferentes, e no anexo segue as tabelas das respostas completas deste exercício.

Em alguns exercícios, os alunos indicam diversos significados e alguns inquiridos preenchem as respostas em chinês ou inglês, ou seja, fornecem a tradução destas palavras. Possivelmente isto ocorre porque os alunos têm dificuldade em explicar as palavras em português. Para facilitar a análise, traduzimos estas respostas em português.

3.2.3.1 Análise dos resultados de exercícios

a) O Miguel corre para o pai sempre que sente medo.

3% 20% 20% 30% 3% 23% 11% 14% 32% 29% 0% 14% 0% 0% 11% 11% 0% 78% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 0 1 2 3 4 5

(45)

Nesta frase, o significado da palavra “correr” é “refugiar-se”. Nenhum aluno dos três grupos deu esta resposta. No grupo A, há 19 respostas diferentes, sendo que 5 alunos (17%) colocam a resposta “vai” e 4 (13%) colocam em chinês “跑”, que corresponde a “deslocar-se rapidamente”. Em chinês não se atribui o significado “refugiar-se” ao verbo correr. No grupo B, há 20 respostas diferentes: a resposta mais frequente é “correr” (14%). Alguns alunos fazem os exercícios com negligência, em vez de pensar cuidadosamente e explicam a palavra com todo o conhecimento que sabem, indicando o significado primário da palavra “correr”. Já no grupo C, 11% dos alunos acham que a resposta é “ir ter com”.

Obviamente, cada grupo dá respostas diferentes, mas existem respostas comuns, como por exemplo “andar”.

b) O João é um bom rapaz.

Nesta frase, o significado da palavra é “generoso”, “bondoso”. No grupo A, há 14 respostas diferentes e a resposta mais comum é “excelente” (23%). No grupo B, há 16 respostas diferentes, sendo a mais expressiva “simpático” (18%). No grupo C, o número de respostas diferentes é igual ao do grupo A, mas neste caso 26% dos alunos acham que significa “simpático”.

c) Ele vai cumprir uma pena de 18 anos na prisão.

O significado da palavra “pena” neste exercício é “aquilo que se faz sofrer como castigo de qualquer ato julgado repreensível ou culposo”, “castigo”, “punição”. 40% dos alunos do grupo A responderam “castigo”. 3 alunos escreveram em chinês “刑罚” e um “惩罚”, ambas as palavras têm o sentido de “punição”, “castigo. No grupo B, 11% dos alunos preencheram “punição”, 7% alunos, “castigo”, e 4% dos alunos colocaram a resposta “punição por lei a algum crime”. Uma parcela dos alunos, especificamente 4%, preencheu em chinês “处罚”que correspondem aos sentidos portugueses “castigo”, “punição”. Em suma, a maioria dos alunos do grupo C (>65%) e do grupo A sabe o significado da palavra polissémica “pena”, mas os dados do grupo B mostram que os seus elementos têm menos conhecimento desta palavra.

(46)

d) Hoje não há estrelas no céu.

Os sentidos da palavra “estrela” neste exercício podem ser: “astro” ou “qualquer corpo celeste”. Há 8 respostas diferentes no grupo A, 15 respostas diferentes nos grupos B e C. Foi possível observar que uma grande parte dos alunos (Grupo A 37%, Grupo B 42%, Grupo C 11%) preencheu as respostas em chinês, quer no grupo A, quer no grupo C. A palavra “estrela” liga-se diretamente à palavra chinês “星星”. Às vezes os alunos chineses sabem o significado da palavra portuguesa, mas têm dificuldade em explicá-la.

e) Os investigadores ainda não detetaram a fonte da infeção.

A palavra “fonte” significa nesta frase “foco”, “origem de doença”. Os alunos do grupo A deram 10 respostas diferentes e os alunos dos grupos B e C, 9. A maioria dos alunos inquiridos preencheram “origem” (Grupo A 33%, Grupo B 43%, Grupo C 44%) e “causa” (Grupo A 10%, Grupo B 7%, Grupo C 22%). “Foco” é uma palavra desconhecida para os alunos chineses, ao contrário das anteriores. Uma grande parte dos alunos não sabe o significado desta palavra (27% no grupo A, 29% no grupo B, 11% no grupo C.), confundindo-o inclusivamente com a palavra “ponte”.

f) O meu programa não está a correr.

Neste exercício, o significado é “funcionar”, que foi a resposta mais frequente (43% no grupo A, 29% no grupo B, 44% no grupo C). No entanto, foram vários os significados apresentados.

g) Conseguimos um bom resultado na prova.

Todos os alunos chineses identificaram o significado da palavra “bom”, mas tiveram alguma dificuldade em explicar. “Efetivamente, dado o significado deste adjetivo ser tão lato, podendo servir para qualificar objetos, pensamentos, ações, pessoas, entre outros, coloca a questão de ser polissémico em si mesmo ou das suas múltiplas significações estarem dependentes de colocações específicas.” (Correia, 2000 p. 64)

(47)

Ilustrando esta dificuldade, os alunos do grupo A preencheram 18 respostas diferentes, no grupo B, 14, e no grupo C, 17. Não obstante as diferentes respostas, todas indicam uma valoração positiva.

h) A Rita é a estrela da companhia.

Neste exercício, quando a palavra “estrela” representa uma pessoa, o sentido torna-se “pessoa de destaque”.

Segundo Correia (2000, p.65), “cada palavra tem um significado inicial (básico ou inerente) e as restantes aceções derivam dele através daquilo a que se convencionou chamar ‘sentido figurado’.” É este processo que está subjacente à explicação deste vocábulo.

Como em chinês também existe este “sentido figurado”, alguns alunos preencheram “明星” (17% no grupo A, 14% no grupo B, 4% no grupo C) que significa “pessoa famosa ou com destaque”, “pessoas famosas”, etc.

i) É necessário indicar a fonte desta citação.

Neste exercício, o significado da palavra polissémica “fonte” é “texto original de uma obra”. Nos grupos A e C, os alunos deram 14 respostas diferentes, e no grupo B, 11 respostas diferentes. Embora alguns alunos não apresentem uma definição exata, sabem o seu significado. Eis alguns exemplos: “recurso de onde vem a informação”, “documento que fornece uma informação”, “documento original”, “lugar onde a citação fica”, etc.

j) Sinto muita pena pela situação que o João vive.

De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa, neste exercício, a palavra

“pena” significa “desgosto”, “tristeza”, “dor”, “compaixão”, “piedade”. No grupo A, há 17 respostas diferentes, sendo a mais preenchida “遗憾” (20%) que significa “pena” em chinês. No grupo B, há 12 respostas diferentes, sendo as mais frequentes “可惜” (18%),“遗憾” (14%),que significa “lástima” e “pena” respetivamente em português; no grupo C definem-na como “lamento” (11%), “piedade” (11%), “tristeza” (11%) e “ 遗 憾 ” (11%). Observa-se que muitos alunos preencheram

(48)

“lamento”. No dicionário português-chinês,a palavra “lamento” tem o significado “悲

痛” que significa “tristeza” ou “mágoa” e não apresenta qualquer explicação

relativamente ao uso desta palavra nem dá exemplos. A razão principal da incompreensão desta palavra é não ser explicado o contexto de utilização no dicionário.

3.2.3.2 Síntese dos significados atribuídos às palavras do exercício III

Como se foi referindo anteriormente, os alunos atribuíram diversos significados para os itens lexicais em análise. A tabela que se segue resume todos os sentidos mencionados:

Frase Palavra

polissémica

Sentido usado na frase

Sentidos atribuídos pelos alunos

O Miguel corre para o pai sempre que sente medo.

Correr Refugiar-se Correr

Andar Ir ter com Deslocar-se rapidamente O João é um bom rapaz. Bom Generoso Bondoso Excelente Simpático Ele vai cumprir

uma pena de 18 anos na prisão. Pena Castigo punição Castigo 刑罚(punição) 惩罚(punição) Punição

Punição por lei a algum crime 处罚(punição, castigo) Hoje não há estrelas no céu. Estrelas Astro Qualquer corpo celeste 星星(estrela) Os investigadores ainda não Fonte Foco Origem de Origem Causa

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detetaram a fonte da infeção.

doença Ponte

O meu programa não está a correr.

Correr Funcionar Funcionar

Conseguimos um bom resultado na prova. Bom Valoração positiva Positivo Excelente satisfeito A Rita é a estrela da companhia.

Estrela Pessoa que se

destaca

明星(pessoa famosa ou com destaque)

Pessoa famosa

É necessário

indicar a fonte

desta citação.

Fonte Texto original

de uma obra

Recurso de onde vem a informação

Documento que fornece uma informação

Documento original Lugar onde a citação fica Sinto muita pena

pela situação que o João vive. Pena Desgosto Tristeza Dor Compaixão Piedade 遗憾(lamento) 可惜 (piedade) Lamento Piedade Tristeza

Tabela 2 - Síntese dos significados atribuídos às palavras do exercício III

Mediante estes dados, podemos classificar o entendimento das palavras polissémicas por parte dos alunos chineses nos seguintes tipos: o primeiro tipo é composto por alunos que não sabem nenhum significado da palavra ou confundem com outras palavras semelhantes, por exemplo, “fonte” - “ponte”; o segundo tipo inclui indivíduos que têm conhecimento de alguns significados, mas estão incompletos ou são aproximados, e revelam cognitivamente associação à realidade em

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questão, por exemplo: “lugar onde a citação fica” ou “lamento” (conceito relacionado com desgosto, tristeza). No terceiro, eles conhecem os significados prototípicos, mas em alguns casos específicos, estes significados não são muito adequados. Por exemplo: “correr, andar, ir ter com, deslocar-se rapidamente” – são os significados da palavra “correr” mas não servem neste contexto. Por fim, o quarto tipo, dominam os significados das palavras em contextos diferentes, por exemplo: “funcionar”, “tristeza” etc.

3.2.4 Considerações preliminares

A partir da análise dos resultados, observa-se que as dificuldades principais dos alunos chineses são o desconhecimento de vocabulário de uso menos comum ou de baixa referência e a falta de capacidade para expressar com precisão os significados solicitados em português. Pode-se dizer que as estratégias seguidas no percurso de aquisição e de aprendizagem da língua permitiram aos alunos chineses alcançar o domínio dos significados básicos dos itens lexicais mobilizados neste trabalho, especialmente aqueles que são utilizados na comunicação de uma forma frequente, mas revelam limitações.

O tempo reduzido de imersão em Portugal e a limitada aplicação das palavras adquiridas podem influenciar os resultados, na medida em que os alunos só se lembram dos significados que usam com mais frequência nas aulas ou nos materiais. Por exemplo, no exercício I, de facto, os alunos sabem o que significa a palavra “nota” num contexto como “dinheiro de papel”, só que não é tão fácil para eles relembrar este significado quando têm de fazer frases com esta palavra. A pobreza do vocabulário dos alunos gera dificuldades em identificar as palavras polissémicas. Eles também confundem os significados em contextos diferentes e estão mais familiarizados com os sentidos prototípicos ou que têm os mesmos conceitos em chinês. Muitos alunos preencheram o exercício III em chinês, não só porque lhes falta capacidade para expressar os significados em português, mas também em virtude da influência da língua materna e da incompreensão dos significados das palavras.

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mas sim como um patamar a superar. É conveniente que os alunos conheçam mais palavras polissémicas, alarguem o conhecimento dos sentidos de algumas palavras e aprendam a aplicá-las e a identificá-las.

Referências

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