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A Fobia Social no Cotidiano de Adolescentes

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Daniela Batistaa; Luana Maris Borria; Samantha Schüssler Schmitta; Yahana Silva Barrosa*; Luiz Arthur Rangel Cyrinoa

Resumo

Este artigo discute as implicações sociais, psicológicas e neurais da fobia social no cotidiano dos adolescentes e suas futuras consequências, por meio de uma revisão sistemática de literatura entre os anos de 1995 e 2015. O objetivo do trabalho é discutir quais são as manifestações e as consequências da fobia social no cotidiano do adolescente e como esta doença altera seu padrão de vida. A fobia social como patologia é um medo mais intenso e persistente de uma ou várias incidências em meio social, ou de quando seu desempenho está sendo julgado. O transtorno é encontrado, constantemente, em adolescentes, marcando o advento nesse período e trazendo prejuízos para a vida de tais indivíduos. Desta maneira, a fobia social está associada ao dano funcional social, educacional e ocupacional, assim como com a depressão, abuso de drogas e tentativas de suicídio, tornando-se necessário a realização de tratamentos farmacológicos e terapêuticos para reverter as marcas da patologia e melhorar a qualidade de vida do adolescente.

Palavras-chave: Transtornos Fóbicos. Transtorno de Ansiedade Social. Adolescentes. Abstract

This article discusses the social, psychological and neuronal implications of social phobia in the adolescents’ daily life and their future consequences by means of a systematic review of the literature within the years 1995 and 2015. The objective of this paper is to discuss what the manifestations and consequences of social phobia are in the adolescents’ daily life and how this disease affects their standard of living. Social phobia as a pathology is an intense and persistent fear of one or several incidences in social environment or of when their performance is being judged. The disorder is constantly found in adolescents, marking their advent into this period and bringing losses for the whole life of such individuals. Therefore, social phobia is associated with functional, social, educational and occupational damage; as well as with depression, abuse of drugs and suicide attempts, making it necessary for the achievement of therapeutic and pharmacological treatment to revert the pathology marks and improve adolescents’ life quality.

Keywords: Phobic Disorders. Social Anxiety Disorder. Adolescents.

A Fobia Social no Cotidiano de Adolescentes

The social phobia in the Adolescents’ daily routine

aUniversidade da Região de Joinville, Curso de Psicologia. SC, Brasil. *E-mail: yahanabarros02@gmail.com

1 Introdução

Foi realizada uma revisão sistemática de literatura com o objetivo de discutir as implicações da fobia social, salientando suas consequências e aspectos sociais, psicológicos e neurais no cotidiano de adolescentes.

A fobia social é encontrada, constantemente, em adolescentes, sendo que seu início ocorre nessa fase, trazendo prejuízos para toda a vida do indivíduo (CHAVIRA; D’EL REY; PACINI, 2006; BEIDEL; RODRÍGUEZ; ZOGBI, 2006; FERNANDES; TERRA, 2008). Desta forma, acredita-se que o pico de ocorrência da doença é aos 15 anos (BEIDEL; RODRÍGUEZ; ZOGBI, 2006).

Segundo Almeida, Martins e Viana (2014) os adolescentes que apresentam fobia social são mais fechados, têm poucos amigos, possuem um baixo grau de aceitação em grupos, e podem se sentir mais sozinhos. Apresentam também altos níveis de ansiedade nas situações de testes e atividades escolares.

As principais implicações sociais estão relacionadas com a capacidade de se relacionarem com outros indivíduos;

enquanto as implicações psicológicas apresentam a presença de vários distúrbios e déficits e as consequências neurais relacionam-se às estruturas cerebrais prejudicadas e alteradas pela fobia social.

2 Desenvolvimento

2.1 A Fobia Social no cotidiano de adolescentes

De acordo com Chavira, D’el Rey e Pacini (2006), a fobia social é dos transtornos mentais mais prevalentes na população geral,bem como segundo a Associação de Psiquiatria Americana (APA, 2014):

No transtorno de ansiedade social (fobia social), o indivíduo é temeroso, ansioso ou se esquiva de interações e situações sociais que envolvem a possibilidade de ser avaliado. Estão inclusas situações sociais como encontrar-se com pessoas que não são familiares, situações em que o indivíduo pode ser observado comendo ou bebendo e situações de desempenho diante de outras pessoas. A ideação cognitiva associada é a de ser avaliado negativamente pelos demais, ficar embaraçado, ser humilhado ou rejeitado ou ofender os outros (APA, 2014, p.190)

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Assim, pode-se sustentar que pessoas com fobia social são caracterizadas por apresentarem um medo excessivo diante de interações sociais e momentos em que seu desempenho é avaliado na frente de outras pessoas, basicamente, seu grande medo é de ser humilhado ou julgado negativamente.

Pessoas com fobia social sofrem de um medo excessivo em interações sociais e com seu desempenho diante dos outros, basicamente. (HEIMBERG et al. 1995; CHACHAMOVICH

et al. 2004).

A fobia social pode ser vivenciada em qualquer momento da vida, principalmente, em ocasiões como compromissos sociais novos, dos quais não se tem conhecimento prévio, em ambientes mais formalizados e nos quais o indivíduo passa por avaliação, considerando uma espécie de ansiedade normal (CHAVIRA et al., 2006; BEIDEL; RODRÍGUEZ; ZOGBI, 2006; BOAZ, et al., 2010).

Entretanto, a fobia social como patologia é um medo mais intenso e persistente de uma ou várias incidências em meio social, ou de quando seu desempenho está sendo julgado. Desta maneira, a pessoa busca não demonstrar a ansiedade, para não ser humilhado ou constrangido, tentando fugir ou evitar esses procedimentos (BEIDEL; RODRÍGUEZ; ZOGBI, 2006).

Pacientes com esse tipo de transtorno têm sintomas de ansiedade extrema, percebidas como irracionais diante da situação do cotidiano, que seriam consideradas normais e simples para outras pessoas, como assinar na frente dos outros, usar o telefone ou comer em local público (NARDI, 1999).

Enquanto Heimberg et al. (1995, p.70) observam que:

Quando o medo imaginário é maior que o real, as respostas de ansiedade são extremamente inapropriadas. Em vez de representar uma função útil, geralmente originam um grande perigo e a principal causa de uma série de círculos viciantes que mantém ou exacerbam a ansiedade social.

Situações sociais causam estresse para o paciente com fobia social. Subjetivamente, significa experimentar sentimentos de ansiedade e de ameaça, bem como a correspondente resposta cognitiva. Braeuer et al. (2014) sugerem que pacientes com fobia social apresentam a mesma resposta ao estresse fisiológico como um romance estressor psicossocial.

Outro aspecto relevante ao presente artigo são as relações familiares de tais adolescentes. Pois, embora o funcionamento familiar não seja associado a um risco aumentado de fobia social em crianças, a presença de disfunções pode levar ao prolongamento da fobia social. Além disso:

O stress e o incômodo de ter um membro da família com uma doença mental pode ter impacto sobre o relacionamento dos pais, causando problemas. Isso pode ou não ser relacionado aos pais dos jovens com fobia social exibindo mais sintomas de ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo e depressão (MENEZES; VANCE, 2013, p.66).

De acordo com Nardi (1999), a fobia social é apresentada em dos tipos básicos: a circunscrita, que ocorre apenas quando existe um tipo de situação social que requer a realização

em público de alguma atividade específica, e a fobia social generalizada, quando o indivíduo teme qualquer situação social como, por exemplo, dar ordens, telefonar em público, usar banheiros públicos, trabalhar na frente de outras pessoas, encontrar e/ou interagir com estranhos, expressar desacordo, resistir a um vendedor insistente, entre outras situações sociais comuns.

A fobia social generalizada representa 80% a 90% dos casos, sendo considerada a do tipo mais incapacitante. Já a não-generalizada ou circunscrita, em geral, é ligada a um fraco desempenho em certa atividade social como, por exemplo, falar em público (CORDIOLI et al. 2005).

Porto (2005) afirma que as causas da fobia social, estão relacionadas com vários fatores, dentre estes estão os fatores biológicos, sendo que as questões genéticas corresponderiam a 30% da predisposição para a fobia, bem como também fatores psicológicos.

Já Beidel et al. (2004, p.125) defendem a ideia de que:

Há uma influência genética sobre os medos e a agorafobia. Devido a limitações da família, ambientes acadêmicos, profissionais, sociais, afetivos e sexuais, que a fobia social impõe sobre aqueles que o possuem, o transtorno tem sido reconhecido como um problema de saúde pública.

Eisenstein (2005) considera a adolescência uma fase de passagem entre a infância e a vida adulta, marcada pelo desenvolvimento físico, mental, emocional, sexual e social, e pela busca de encontrar seu papel social. Esse período da vida compreende a faixa etária de 10 a 19 anos de idade, conforme a Organização Mundial da Saúde - OMS, e de 12 a 18 anos de idade, segundo o Estatuto da Criança e Adolescente (BRASIL, 1990).

A fobia social é encontrada, constantemente, em adolescentes, sendo que o início ocorre nessa fase trazendo prejuízos para toda a vida do indivíduo (CHAVIRA et al., 2006; BEIDEL; RODRÍGUEZ; ZOGBI, 2006; FERNANDES; TERRA, 2008). Desta forma, acredita-se que o pico de ocorrência da doença é entre os 15 e 16 anos, entretanto, essa idade pode variar conforme questões culturais (BEIDEL; RODRÍGUEZ; ZOGBI, 2006; GOUVEIA, 2000; COUTINHO; FIGUEIRA; VILETE, 2004) e apresentar curso crônico (COUTINHO; FIGUEIRA; VILETE, 2004; PINA; SILVERMAN; VISWESVARAN, 2008), levando a um comprometimento significativo nas principais áreas da vida da juventude, como a escola, família, entre outros. Os transtornos de ansiedade são considerados um dos mais, se não o mais, comum transtorno psiquiátrico na infância e na adolescência (PINA; SILVERMAN; VISWESVARAN, 2008).

Os adolescentes, que apresentam fobia social são mais fechados, têm poucos amigos, possuem um baixo grau de aceitação em grupos, e podem se sentir mais sozinhos. Isso pode ser explicado devido ao período da adolescência ser mais complicado para a socialização, desenvolvimento das relações e habilidades interpessoais. Os adolescentes com esse transtorno têm uma baixa percepção das suas capacidades

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cognitivas e apresentam também altos níveis de ansiedade nas situações de testes e atividades escolares, o que pode trazer como consequência a diminuição do rendimento escolar esperado e até mesmo uma recusa em ir à escola (ALMEIDA; MARTINS; VIANA, 2014).

Em adolescentes a fobia social pode ser expressa por choro, momentos de raiva ou afastamento de situações sociais nas quais haja pessoas não familiares; quando estão em situações de ansiedade também existe a presença de sintomas físicos como: palpitações, tremores, calafrios e calores súbitos, sudorese e náusea. Ademais, a depressão é uma comorbidade frequente em adolescentes com fobia social (ASBAHR et al., 2000).

O medo e ansiedade são necessários para a sobrevivência e são uma experiência normal na infância e adolescência, porém, quando são apresentados de forma excessiva, tornam-se um grande problema. Quando os sintomas são persistentes, causam um enorme desconforto para a criança, podendo fazer com que os adolescentes não queiram ir à escola, o que pode ser interpretado até mesmo como falta de vontade e preguiça (HEYNE; KING; OLLENDICK, 2005; COUTINHO; FIGUEIRA; VILETE, 2004)

As implicações da fobia social na vida dos adolescentes podem ser relacionadas a consequências sociais, psicológicas e neuronais. A fobia social pode ocasionar grandes prejuízos na vida dos indivíduos, tanto de consequências imediatas, como de longo prazo. Podendo acarretar em problemas na aquisição de habilidades que acompanharão essas crianças e adolescentes até a vida adulta (BEIDEL; RODRÍGUES; ZOGBI, 2006).

Referente às implicações sociais, os indivíduos com fobia social sofrem de grandes impedimentos diante de relações sociais, chegando até a evitar o contato com outras pessoas, justamente, por não possuirem habilidades suficientes para se relacionar. As dificuldades destes indivíduos em lidar com o outro podem incluir eventos como conversas com pessoas que não sejam do seu ciclo social ou até a participação em uma entrevista de emprego (D’EL REY; PACINI, 2006).

A fobia social leva o indivíduo a uma limitação que pode ser medida nas áreas educacional, profissional e social. Provavelmente, o medo da interação social com seus pares na escola limita o desempenho dos adolescentes com fobia social, restringindo suas capacidades para a realização de seu potencial educacional (CHAVIRA et al., 2006). Sendo que na pesquisa realizada por Chavira et al. (2006,), dos nove adolescentes com sintomas compatíveis com a fobia social, oito haviam repetido ao menos uma vez o ano na escola.

O indivíduo com esse transtorno de ansiedade enfrenta as ações do dia a dia com grande sofrimento, e prefere, em muitos momentos, evitá-las, o que pode levar a um consequente prejuízo no seu funcionamento em vários setores da vida de crianças, adolescentes e adultos. Muitas vezes, a fobia social está associada a problemas na vida do indivíduo, na questão funcional, social, educacional e ocupacional, constantemente

relacionados também com a existência de comorbidades como a depressão, o abuso de drogas, ideação e tentativas de suicídio (BERNAT et al., 2008; COUTINHO; FIGUEIRA; VILETE, 2004).

Segundo Badía et al. (1999), a fobia social também está associada com outros distúrbios psiquiátricos, principalmente, a depressão maior, distimia e síndrome do pânico. Pois, assim como afirma D’El Rey e Freedner (2006) e Blaya et

al. (2011), a depressão é uma comorbidade bastante frequente

nos transtornos de ansiedade.

Indivíduos com transtornos de ansiedade apresentam redução significativa da qualidade de vida, com menor produtividade, maior morbidade e mortalidade. Alguns autores comparam a queda de produtividade e qualidade de vida de pacientes com transtornos de ansiedade graves ou resistentes àquelas de pacientes com esquizofrenia (FONTENELLE et

al. 2007).

Segundo estudos realizados, por Beesdo et al. (2009), a fobia social ocorre com mais frequência em pessoas cujos pais também a tinham, enquanto outras desordens, como abuso de álcool e ansiedade, não apresentam relação com o fato de os pais as terem ou não.

Implicações psicológicas podem ser manifestadas de várias formas. De acordo com Levitan, Nardi e Rangé (2008), indivíduos com fobia social apresentam um medo acentuado e persistente de serem vistos comportando-se de maneira humilhante por meio da demonstração de ansiedade ou de desempenho inadequado.

Para Crippall, Loreiro e Morais (2008), os medos mais frequentes de um indivíduo relacionados à exposição são: ser visto como ridículo, falar tolices, ser visto por outras pessoas, falar ao telefone, realizar atividades em público como comer e beber, dentre outros. A maioria dos pacientes fóbicos sociais, ao sere confrontada com situações temidas, pode apresentar uma hiperatividade do sistema nervoso autônomo provocando taquicardia, sudorese excessiva, falta de ar, mãos geladas e úmidas, diarreia, urgência miccional, ondas de calor, rosto ruborizado e tonturas (BARBOSA; FIGUEREDO, 2006).

Angélico, Cippa e Loureiro (2006, p.114) citam alguns diferentes tipos de déficits que um indivíduo pode apresentar, sendo estes:

a) Déficit de aquisição (caracterizado pela não-ocorrência da habilidade social diante das demandas do ambiente); b) Déficit de desempenho (caracterizado pela ocorrência de

uma habilidade específica com frequência inferior à esperada diante das demandas do ambiente);

c) Déficit de fluência (demonstrado pela ocorrência da habilidade com proficiência inferior à esperada diante das demandas sociais).

Segundo Cripall, Loureiro e Morais (2008), problemas como o distanciamento das relações pessoais, as dificuldades na participação em atividades profissionais, sociais, de lazer e de autocuidado, assim como as restrições de contatos e de atividades constituem-se em prejuízos funcionais, que interferem nas ocupações diárias e na participação na vida

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ano após o encerramento do tratamento, houve uma mudança significativa em todos os quadros clínicos das crianças, que já não se diferiam dos controles de ansiedade não sociável.

O entendimento da fisiopatologia da Fobia Social é menor que de outros transtornos, uma vez que as pistas deste transtorno para a biologia são provenientes de fontes diversificadas e subjetivas, como as coletadas durante as várias abordagens de tratamento, nas respostas a tratamentos medicamentosos, à medição de descanso hormonal ou neurotransmissor índices, nos desafios comportamentais e neuro-estudos de imagem, tanto em nível estrutural e funcional (BOER et al., 2000), o que dificulta o estudo do transtorno em questão.

Evidências indicam que, atualmente, alguns fármacos possam ser úteis no tratamento deste transtorno. Os ISRS (Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina) são hoje a primeira escolha e, provavelmente, os benzodiazepínicos a segunda escolha no tratamento da fobia social. Entretanto, a eficácia de alguns IMAO (Inibidores da Monoaminoxidase), benzodiazepínicos e antidepressivos serotonérgicos no tratamento da fobia social generalizada ainda emitem taxas de respostas aquém do ideal. Entre 35-65% dos pacientes respondem ao tratamento em 2 a 3 meses, embora, como regra, persistam ainda sintomas residuais (CORDIOLI et al., 2005).

Em um estudo feito por Davidson et al. (1999), foi dada uma dose média diária de fluvoxamina de 202 mg e placebo para pacientes com fobia social. Ao final do estudo, nas últimas observações transitadas houve uma percentagem de respostas muito mais elevada de fluvoxamina (42,9 %) nos indivíduos avaliados do que no grupo placebo (22,7%). Da mesma forma, a fluvoxamina foi superior ao placebo em todas escalas de fobia social na oitava semana do experimento e além. A fluvoxamina também resultou em maior diminuição nas medidas de incapacidade psicossocial em comparação ao placebo.

Em geral, a fluvoxamina foi bem tolerada e segura. Portanto, o estudo indica que a fluvoxamina é eficaz no manuseio farmacológico de formas graves de fobia social.

Algumas pesquisas demonstraram que os inibidores seletivos de recaptação de serotonina como o escitalopram, a fluvoxamina, a sertralina e a paroxetina, estão apresentando bons resultados para o tratamento em adolescentes (ANDRADA et al., 2011).

Para King e Ollendick (1998), é fundamental dar passos adicionais para o estabelecimento de um sistema clinicamente eficaz para tratamentos de crianças com fobia social e transtornos de ansiedade.

3 Conclusão

Visto que se buscou discutir as implicações sociais, psicológicas e neurais da fobia social no cotidiano dos adolescentes e suas futuras consequências com o objetivo de levantar as consequências da fobia social no cotidiano dos adolescentes e como esta doença altera seu padrão de cotidiana, com implicações para as condições de saúde do

indivíduo.

As implicações neurais, as quais são entendidas como as características cerebrais e os aspectos neurobiológicos que caracterizam a fobia social são vistos por meio de estudos de neuroimagem, sendo que Asbahr (2004, p.32) acredita que:

Na FS observa-se resposta exagerada de estruturas temporais mediais durante a provocação de sintomas e em resposta a estímulos aversivos e não-aversivos provocados pela presença de imagens de faces humanas. Este fato reforça a hipótese de um sistema hipersensível na avaliação de ameaças frente a estímulos provocados por faces humanas, como um substrato neural para a ansiedade desencadeada em situações sociais na FS.

Basicamente, todos os transtornos ansiosos envolvem áreas similares no cérebro, porém, cada transtorno com sua peculiaridade. Sendo que a fobia social demonstra, também, alterações no estriado e na amígdala (ASBAHR, 2004). Ainda, conforme Asbahr (2004), os transtornos ansiosos parecem estar associados com problemas com a amígdala direita, enquanto que os transtornos de humor parecem demonstrar problemas com a amígdala esquerda.

O tratamento da fobia social mais adequado envolve questões psicoterápicas e farmacológicas. Segundo Isolan, Manfro e Pheula (2007), há abordagens psicoterápicas a serem utilizadas no tratamento dos transtornos de ansiedade, incluindo a fobia social na infância e na adolescência, sendo estas: psicanálise, psicoterapia de orientação analítica, terapia cognitivo-comportamental (TCC), terapia familiar, psicoterapia de apoio, entre outras. Conforme Andrada et al. (2011), o tratamento mais contundente para a fobia social em crianças e adolescentes seria a psicoterapia cognitivo-comportamental, focada principalmente no treinamento em habilidades sociais, reestruturação cognitiva e exposição gradativa (ANDRADA et al., 2011). Pina, Silverman e Viswesvaran (2008) afirmam que o tratamento com terapia cognitiva-comportamental individual e, em grupo, mesmo sem envolvimento dos pais, leva a uma resposta positiva ao tratamento em crianças e adolescentes com fobia social e transtornos de ansiedade.

De acordo com Chachamovich et al. (2004), para alguns pacientes é recomendável somente a abordagem da psicoterapia, pois mais de uma modalidade de tratamento, no caso a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) e mais o farmacológico podem não beneficiar todos os pacientes e, para muitos, fornecem somente diminuição parcial dos sintomas e recorrência dos sintomas no acompanhamento de longo prazo.

Em suas pesquisas, Cederlund e Goranost (2011) verificaram que as crianças com fobia social exibiam um viés de interpretação, bem como um viés prova de perigo reduzida, em comparação com crianças mais ansiosas. Além disso, verificou-se que as crianças com fobia social se tornam significativamente menos tendenciosas a interpretações depois de 12 semanas de terapia. Entretanto, não houve alterações no tratamento viés prova de perigo reduzido. Um

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vida, percebeu-se que a fobia social é um dos distúrbios que mais prejudica o desenvolvimento social e psicológico de adolescentes.

Conforme os estudos encontrados, considera-se que a Fobia Social é encontrada, constantemente, em adolescentes, sendo que o início ocorre nessa fase, principalmente, entre os 15 e 16 anos, levando a um comprometimento significativo na vida dos adolescentes.

Baseando-se na pesquisa realizada, a Fobia Social apresenta implicações relacionadas, principalmente, às questões sociais, psicológicas e neurais. As consequências sociais se refletem nas dificuldades relacionadas às habilidades sociais, apresentando problemas em se relacionar e evitar situações sociais. Nas implicações psicológicas, percebeu-se um crescimento de medos e fobias, aumentando ainda mais as dificuldades do indivíduo, pois todas as suas atividades e a sua saúde psicológica são prejudicadas. As características neurais da Fobia Social são representadas pela resposta exagerada de estruturas temporais mediais e de alterações no estriado e na amígdala.

Desta forma, a fobia social está associada ao dano funcional social, educacional e ocupacional, assim como com a depressão, abuso de drogas e tentativas de suicídio. Sendo assim, a doença pode ocasionar prejuízos na vida dos indivíduos, tanto de consequências imediatas, como de longo prazo. Entretanto, pouca atenção vem sendo destinada ao tratamento medicamentoso e psicoterápico do transtorno. Considera-se fundamental o trabalho dos psicólogos para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes para casos de Fobia Social em adolescentes, além da realização de um diagnóstico antecipado associado com um acompanhamento psicológico e farmacológico integrados.

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Referências

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