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Anemia ferropriva em mulheres privadas de liberdade

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO

ANEMIA FERROPRIVA EM MULHERES PRIVADAS

DE LIBERDADE

LEILYANA CRISTIAN BEZERRA DE LIMA

NATAL-RN

2019

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LEILYANA CRISTIAN BEZERRA DE LIMA

ANEMIA FERROPRIVA EM MULHERES PRIVADAS

DE LIBERDADE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do grau de Nutricionista.

Orientadora: Prof a. Drª. Úrsula Viana Bagni

NATAL-RN

2019

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LEILYANA CRISTIAN BEZERRA DE LIMA

ANEMIA FERROPRIVA EM MULHERES PRIVADAS

DE LIBERDADE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito final para obtenção do grau de Nutricionista.

BANCA EXAMINADORA

Prof a. Drª. Úrsula Viana Bagni

Orientadora

Nila Patrícia Freire Pequeno 2º Membro

Marcos Felipe Silva de Lima 3º Membro

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AGRADECIMENTOS

À Deus, Pai Celestial, eterna gratidão por ser tão bom e amável, por permiti que eu chegasse até aqui. Pelas infinitas graças alcançadas durante este longo processo, em especial a maternidade, que me fez desejar ainda mais a concretude deste sonho. Por todo amor e cuidado que tens por mim e pelos meus.

À minha mãe, aquela que me gerou e educou com tanto amor. A maior incentivadora de minha vida estudantil, que nunca mediu esforços para me ajudar nos momentos de dificuldades. Agradeço-lhe imensamente por me impulsionar a ir sempre mais adiante.

À minha amada filha, Maria Eloá, sua chegada mudou o curso de minha história, me deu forças, me conduziu a este dia e me impulsiona a continuar prosseguindo.

Ao meu pai, meu irmão, meus familiares e amigos por suas orações e palavras que me motivaram a nunca desistir.

Ao meu marido, José Antônio, por sua compreensão, amor e por todo apoio que você me deu para que eu chegasse até aqui.

À minha orientadora professora Drª Úrsula Viana Bagni, por toda sua dedicação, compreensão e conselhos. Por me permite a oportunidade de ingressar na Iniciação Cientifica, por me animar e me fazer crescer. Sou grata por todo apoio, você foi fundamental na concretização dessa conquista.

Agradeço aos amigos da graduação e a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a execução de forma direta ou indireta.

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RESUMO

O aumento da população carcerária, em destaque a população feminina, gera um alerta quanto a situação de saúde dessas pessoas, que, devido as condições precárias de confinamento, estão em situação de vulnerabilidade em relação a várias doenças. A importância dessa temática centraliza-se na investigação de um problema de saúde pública ainda não discutido em um grupo socialmente excluído no país. Assim, esse estudo tem como objetivo determinar a prevalência de anemia ferropriva em presidiárias de um Complexo Penal feminino do município de Natal, Rio Grande do Norte. Trata-se de um estudo transversal, de caráter descritivo, desenvolvido com a totalidade das mulheres reclusas em regime fechado, 89 detentas, com idade entre 19 e 62 anos. A anemia foi diagnosticada pela dosagem de hemoglobina abaixo de 12g/dL. Como resultando observou-se uma média de idade de 31,1 anos ± 8,9 anos (desvio padrão – DP) e 4,5% de prevalência de anemia, considerada confiável. Essa prevalência ainda sim traz à luz um alerta quanto as condições de saúde dessa população, cujo ambiente de confinamento é determinante no processo de adoecimento capaz de alterar a situação atual.

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 7 2 METODOLOGIA ... 9 3 RESULTADOS ... 10 4 DISCUSSÃO ... 11 5 CONCLUSÃO ... 13 REFERÊNCIAS ... 14

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ANEMIA FERROPRIVA EM MULHERES PRIVADAS DE LIBERDADE

Leilyana Cristian Bezerra de Lima Úrsula Viana Bagni

RESUMO

Objetivo: Determinar a prevalência de anemia ferropriva em presidiárias de um Complexo

Penal do município de Natal, Rio Grande do Norte. Métodos: Estudo transversal, de caráter descritivo com 89 detentas, com idade entre 19 e 62 anos. A anemia foi diagnosticada pela dosagem de hemoglobina abaixo de 12g/dL. Resultados: A média de idade das mulheres investigadas foi 31,1 anos ± 8,9 anos (desvio padrão – DP) e a prevalência de anemia 4,5%.

Conclusão: A baixa prevalência de anemia encontrada se caracteriza como aceitável, no

entanto, é um problema de saúde e aponta a necessidade de incluir ações de promoção da saúde no sistema prisional.

Palavras-chave: mulheres privadas de liberdade; anemia ferropriva; cárcere.

1 INTRODUÇÃO

Anemia, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é a condição na qual a concentração de hemoglobina no sangue se encontra abaixo dos valores esperados, tornando-se insuficiente para atender as necessidades fisiológicas exigidas de acordo com idade, tornando-sexo e gestação¹. De causa multifatorial, pode ser decorrente da carência de ferro e/ou diversos nutrientes, por perdas sanguíneas, processos infecciosos e patológicos simultâneos, uso de medicamentos que impeçam ou prejudiquem a absorção do ferro2,3.

A principal causa de anemia é a deficiência de ferro, estando associada a mais de 60% dos casos em todo o mundo. Calcula-se que quase dois bilhões de pessoas em todo o mundo apresentam anemia e que de 27% a 50% da população seja afetada pela deficiência de ferro. Mesmo acometendo todos os grupos etários e níveis sociais, com ampla distribuição geográfica, a anemia ferropriva ainda é uma doença que atinge prioritariamente as camadas socialmente menos favorecidas, de menor renda e desenvolvimento2,4.

De acordo com os padrões diagnósticos da OMS, a Anemia por Deficiência de Ferro é considerada leve a moderada, se a Hemoglobina (Hb) fica entre 7 a 12 g/ dL, e grave,

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se a Hb for menor que 7 g/dL, com pequenas variações de acordo com a idade, gênero ou presença de gestação. Para a população feminina adulta considera-se anemia valores de Hb abaixo de 12 g/dL5.

Conforme a OMS, pode-se classificar a significância populacional da prevalência de anemia como normal ou aceitável (abaixo de 5%), leve (de 5 a 19,9%), moderada (de 20 a 39,9%) e grave (maior ou igual a 40%)6. No Brasil, de acordo com a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde – PNDS, a prevalência de anemia em mulheres no país é de 29,4%, sendo que as maiores prevalências foram observadas nas regiões Nordeste (39%), Sudeste (28,5%) e Sul (24,8). Para as mulheres residentes na região Centro-Oeste a prevalência é de 20,1% e 19,3% na região Norte. Classificando esses dados conforme a OMS, temos que a prevalência de anemia em mulheres brasileiras é considerada moderada, sinalizando uma alerta de relevante preocupação a esse agravo de saúde7.

Sobretudo, temos que a maior parte dos estudos de base populacional de anemia são realizadas com mulheres em situação de liberdade, no entanto, ainda são escassos os estudos sobre esse tema em mulheres privadas de liberdade no cenário nacional e internacional.

No Brasil, de 2000 a 2014 a população carcerária feminina aumentou consideravelmente, saltando de 5.601 para 37.380 mulheres presas. Quase 7% da população carcerária eram mulheres e, em números absolutos, o Brasil tinha em 2014 a quinta maior população de mulheres encarceradas do mundo, ficando atrás do Estado Unidos (205.400), China (103.766), Rússia (53.304) e Tailândia (44.751). Especificamente no RN, entre 2007 e 2014, o número de mulheres no cárcere passou de 204 para 438, um aumento de 115% dessa população. Há um crescimento em ritmo acelerado da população prisional, e ainda mais contundente quando se trata da população feminina nesse sistema8.

Temos ainda que, na prisão, as condições de confinamento são determinantes para o processo saúde-doença. Devido a precariedade do sistema prisional, existem fatores que podem provocar inúmeros agravos à saúde das mulheres presas, associados à estilos de vida pouco saudáveis quando em liberdade, que contribui para o adoecimento dentro desse sistema devido ao ambiente hostil e insalubre; associado ao aumento da população carcerária, significa também alto risco para a instauração de doenças transmissíveis e não transmissíveis9-10.

Entendendo que a população carcerária feminina é um grupo vulnerável socialmente, conforme a Portaria Interministerial nº 210, de 16 de janeiro de 2014, foi criada a Política de Saúde do Sistema Prisional Brasileiro para as Mulheres Privadas de Liberdade que instituiu a Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de Liberdade e Egressas do Sistema Prisional (PNAMPE). Essa política tem como objetivo garantir ações que

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têm como alvo melhorar a qualidade de vida e de saúde das carcerárias, como: humanização no cumprimento da pena, o direito à saúde, educação, alimentação, trabalho, segurança, proteção à maternidade, lazer, esporte, assistência jurídica e demais direitos humanos priorizando a atenção integral por meio de atividades de prevenção e promoção da saúde11.

A ausência de um adequado acompanhamento das condições de saúde da população carcerária feminina é um condicionante de saúde que tem sido negligenciado, caminhando em discordância coma a Política de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de Liberdade. A importância dessa temática centraliza-se na investigação de um problema de saúde pública ainda não discutido em um grupo socialmente excluído no país. Sendo assim, este estudo tem por objetivo determinar a prevalência de anemia ferropriva nas mulheres privadas de liberdade em um Complexo Prisional no município de Natal, Rio Grande do Norte, Brasil.

2 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo observacional, transversal, de caráter descritivo, desenvolvido com a totalidade das mulheres reclusas em regime fechado do Complexo Penal Feminino Dr. João Chaves, na cidade de Natal, Rio Grande do Norte.

Foram utilizados dados secundários dos prontuários de saúde das detentas, sendo incluídas no estudo todas aquelas com registro dos exames de sangue realizados na instituição em setembro de 2015 pela Secretaria Municipal de Saúde, por meio de convênio com laboratório de análises clínicas da rede privada. Foram excluídas do estudo aquelas mulheres cujos prontuários já não se encontravam mais no complexo penal (por motivo de transferência, liberdade, etc).

Para a classificação da anemia ferropriva, foi adotado o ponto de corte de Hemoglobina (Hb) preconizado pela Organização Mundial da Saúde (WHO, 2001): < 12,0 g/dL para mulheres com idade de 15 a 49 anos. Foram apresentadas as médias e seus respectivos desvios padrão para os elementos do eritrograma, bem como a frequência relativa dessas variáveis. Os resultados do eritrograma foram classificados segundo os valores de referência estabelecidos pelo laboratório responsável pelas análises, e considerados fora da normalidade quando: Hemoglobina (Hb) <12g/dL, Hematócrito (Ht) <36%, Volume Corpuscular Médio (VCM) <80fL, Hemoglobina Corpuscular Média (HCM) <26pg, Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média (CHCM) <32g/dL e RDW - red cell distribution

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Em seguida, comparou-se as médias dos parâmetros sanguíneos das detentas segundo faixa etária (<30 anos; ≥ 30 anos) por meio do teste de Mann-Whitney. Todas as análises foram realizadas utilizando-se o pacote estatístico Statistical Package for the Social

Sciences - SPSS versão 20.0 (SPSS Inc., Chicago, Estados Unidos), considerando valor de

p<0,05 para significância estatística.

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (parecer 928.144; CAAE: 38714714.0.0000.5568) e autorizado pela direção do Complexo Penal, e foi desenvolvido de acordo com as Resoluções nº 466/2012 e 510/2016 - Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde, que tratam da Pesquisa envolvendo Seres Humanos.

3 RESULTADOS

Participaram do estudo 89 detentas com idade média de 31,1 anos ± 8,9 anos (desvio padrão – DP), variando de 19 a 62 anos. As detentas apresentaram média de 13,3mg/dL (±1,00) de hemoglobina (Hb) e prevalência de anemia ferropriva de 4,5% (Tabela 1).

No eritrograma, a prevalência de valores abaixo da faixa de normalidade foi mais evidente para Ht (11,2%), VCM (10,1%) e HCM (10,1%). Os elementos do eritrograma não diferiram entre as mulheres mais jovens e as mais velhas (Tabela 2).

Tabela 1

Concentração dos elementos do eritrograma e prevalência de valores abaixo da normalidade em mulheres privadas de liberdade. Natal/RN, Brasil - 2015.

Elementos Mín-Máx Média DP Prevalência de

valores abaixo da normalidade (%) Hemoglobina (mg/dL) 10-16 13,315 0,996 4,5 Hematócrito (%) 31,5-46,1 38,797 2,587 11,2 VCM (fl) 69,8-99,5 86,398 5,079 10,1 HCM (pg) 22,2-34,5 29,641 2,032 10,1 CHCM (%) 31,7-35,5 34,291 0,550 1,1 RDW (%) 10-15 11,93 0,876 2,2

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Tabela 2

Médias dos elementos do eritrograma em mulheres privadas de liberdade segundo faixa etária. Natal/RN, Brasil – 2015.

Faixa etária

Elementos <30 Anos >30 Anos

Média DP Média DP P - Valor

Hemoglobina (mg/dL) 13,505 0,908 13,159 1,046 0,130 Hematócrito (%) 39,282 2,326 38,402 2,741 0,081 VCM (fl) 86,65 4,860 86,193 5,291 0,566 HCM (pg) 29,782 1,912 29,526 2,138 0,547 CHCM (%) 34,36 0,499 34,234 0,588 0,329 RDW (%) 11,80 0723 12,04 0,978 0,358 4 DISCUSSÃO

Neste estudo inovador no cenário nacional à cerca da anemia em mulhers encarceradas, os resultados mostraram prevalência de 4,5% de anemia nas mulheres do complexo prisional, sendo considerada uma prevalência normal ou aceitável segundo a OMS. No entanto, estudos realizados em regiões brasileiras apontam grande prevalência de anemia em mulheres em liberdade. Um estudo transversal de base populacional realizado em 2003 na zuna urbana de São Leopoldo, RS, por Fabian et al. com mulheres de 20 a 60 anos, não grávidas, apresentou uma prevalência de anemia de 19,2%, onde em mulheres em idade reprodutiva a prevalência de anemia foi de 21,4%12. Outro estudo realizado em Pelotas por Olinto et al. com mulheres de 20 a 49 anos, não grávidas, apontou uma prevalência de anemia de 21,9%13.

Olhando apenas para os números, a conclusão seria de que as mulheres em liberdade estão mais dispostas a fatores que causam a anemia do que as que vivem no cárcere. No entanto, seria um pensamento equivocado diante da realidade de confinamento das presidiarias que já vivem em situação de vulnerabilidade em relação a várias doenças. Estudos realizados em presídios Femininos apontam que as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) são o segundo tipo de condição clínica mais prevalente nesse ambiente, principalmente a diabetes e hipertensão, ficando atrás apenas das doenças infectocontagiosas14.

Oliveira (2017), em estudo também realizado com as detentas do Complexo Penal Feminino Dr. João Chaves, constatou que a maioria das presidiárias apresentavam sobrepeso (36,7%) e obesidade (27,8%), sendo justificada principalmente pela mudança alimentar e a restrição quantitativa e qualitativa de alimentos levados pelos visitantes as presidiárias15. Já Amorim (2015), em pesquisa realizada no mesmo local, encontrou excesso de

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peso em 62,2% das presidiárias e 25,6% de obesidade. Os prejuízos decorrentes do ganho ponderal contínuo e excesso de peso dessas mulheres no ambiente prisional potencializam o risco para as DCNT16.

A mudança na rotina de vida e principalmente a mudança alimentar justificam a elevada frequência de excesso de peso. Conforme verificado por Amorim (2015), no sistema carcerário do presente estudo, há restrições quantitativas e qualitativas dos alimentos levados pelos visitantes às detentas, devido ao risco de ocultação de drogas e objetos. Entre os alimentos permitidos à entrada estão: pacotes de biscoito, ovos, flocos de milho, de macarrão instantâneo, refrigerante, café, açúcar, suco em pó, tempero em pó, queijo, presunto ou mortadela, leite em pó, doce cremoso ou barra de chocolate, margarina, bolo pequeno fatiado, água mineral; de frutas são permitidos: maçã, manga, melão, mamão, goiaba e pera todos devidamente picados. O que desfavorece a saúde das apenadas, uma vez que os alimentos permitidos, em sua grande parte, são industrializados, com alto teor de gordura, açúcares e sódio e o consumo de frutas, saladas cruas, legumes tem frequência menor que 4 dias, podendo contribuir para o surgimento de doenças durante o regime prisional.

O ministério da saúde recomenda um maior consumo de alimentos in natura ou minimamente processados como base da alimentação, evitando assim o consumo de alimentos processados e ultraprocessados17. Mas essa mudança é difícil no encarceramento, onde alguns alimentos são proibidos, como por exemplo, as frutas cítricas (devido à formulação de bebidas alcoólicas e por não contarem com um suporte para armazenamento de alimentos in natura) limitando essas mulheres a consumir boas fontes de vitaminas e nutrientes, em destaque a vitamina C que auxilia na absorção do ferro.

Em sua pesquisa, Oliveira comenta sobre a insatisfação das detentas com as refeições fornecidas na prisão, três grandes refeições diárias (desjejum, almoço e jantar) feitas por empresa terceirizada. O longo tempo entre preparo e distribuição, a apresentação dos alimentos e a forma de acondicionamento e transporte das refeições às celas, influencia diretamente na qualidade do alimento fornecido e daí parte as queixas das detentas.

Diversos processos podem levar a anemia, tais como perdas sanguíneas, deficiências nutricionais, infecção viral, doença crônica e drogas, condicionantes nos quais essas mulheres estão expostas devido ao ambiente em que vivem. Dessa forma, mesmo com a prevalência de anemia atual baixa, o modo de vida das mulheres encarceradas pode mudar essa realidade.

Considerando que a saúde é um direito legítimo de cidadania e um princípio fundamental do Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário, as ações de saúde nesse

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contexto deveriam ser mais divulgadas e exercidas por uma equipe multiprofissional de apoio a população carcerária feminina brasileira. Infelizmente, as prisões são vistas como “espaços físicos e representações concretas em que o Estado consolida e legitima uma lógica de pseudocuidado”18.

Limitações intrínsecas ao estudo podem ser pontuadas, tais como a falta de informações da vida pregressa e atual das detentas referente a uso de medicamentos, número de gestações, histórico de doença e dados socioeconômicos. Outro dado importante que não foi possível obter junto à direção do presidio, trata-se do tempo de encarceramento dessas mulheres. Assim, não foi possível relacionar a prevalência encontrada com o tempo de confinamento.

Apesar das limitações, o caráter inovador e a relevância dessa pesquisa no cenário nacional, traz a importância de se olhar para questões de saúde que até então foram ignorados, abordando as questões de saúde feminina em presídios brasileiros, que já vivem em situação de vulnerabilidade em relação a várias doenças. Assim, reforça a urgência de se adotar ações de promoção a saúde, de caráter multiprofissional, voltadas a esse grupo da população, visando a redução das parcialidades em saúde no sistema prisional. Também corrobora com o aperfeiçoamento de políticas públicas para promoção de saúde e prevenção de agravos nessa população excluída da sociedade.

5 CONCLUSÃO

Conclui-se que a população carcerária feminina investigada apresentou baixa prevalência de anemia ferropriva, sem associação com a idade. Desse modo, mesmo diante dos desafios próprios a pesquisas com pessoas privadas de liberdade, é urgente a importância de adotar medidas eficazes de prevenção e intervenção precoce, ressaltando a importância do desenvolvimento de novas pesquisas acerca deste tema.

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REFERÊNCIAS

1 World Health Organization. The global prevalence of anaemia in 2011. Geneva: World Health Organization; 2015. p43.

2 World Health Organization. Nutritional anaemias: tools for eff ective prevention and control. Geneva: World Health Organization; 2017. p83.

3 Camaschella C. Iron-Defi ciency Anemia.N Engl J Med.2015;372:19.

4 Kassebaum NJ, GBD 2013 Anemia Collaborators. Hematol Oncol Clin North Am. 2016;30(2):247- 308.

5 World HO. Haemoglobin concentrations for the diagnosis of anaemia and assessment of severity. Vitamin and Mineral Nutrition Information System. http://www.who.int/vmnis/indicators/haemoglobin.pdf, accessed [date]: Geneva, World Health Organization, 2011 (WHO/NMH/NHD/MNM/11.1); 2011.

6 World Health Organization. Iron deficiency anaemia: assessment, prevention and control. A guide for programme managers. Geneva: World Health Organization; 2001.

7 Brasil. Ministério da Saúde. Pesquisa nacional de demografia e saúde da criança e da mulher (PNDS 2006): Dimensões do processo reprodutivo e da saúde da criança. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. Brasília: Ministério da Saúde 2009.

8 Ministério da Justiça (BR). Levantamento nacional de informações INFOPEN. Brasília (DF): Ministério da Justiça; 2014. 148p. Available from: https://www.justica.gov.br/noticias/mj-divulgara-novo-relatoriodo-infopen-nesta-terca-feira/relatorio-depen-versao-web.pdf.

9 Bergh BJVD, Gatherer A, Fraser A, Moller L. Imprisonment and women's health: concerns about gender sensitivity, human rights and public health. Bulletin of the World Health Organization. [Internet] 2011 [cited 2017 Jan 13]; 89(9): 689-94. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih. Gov/pmc/articles/PMC2686215/. DOI: 10.2471/BLT.09.066928. 10 Gois SM, Junior HPOS, Silveira MFA, Gaudêncio MMP. Para além das grades e punições: uma revisão sistemática sobre a saúde penitenciária. Ciênc. Saúde coletiva. [Internet] 2012 [cited 2017 Jan 13]; 17(5):1235-46. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n5/a17v17n5.pdf. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232012000500017.

11 Ministério da Saúde (BR). Portaria Interministerial nº 210, de 16 de janeiro de 2014. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2014. Available from: https:// www.justica.gov.br/seus-

direitos/politica-penal/politicas-2/mulheres-1/anexos-projeto-mulheres/portaria-interministerial-210-2014.pdf

12 Fabian, Cristina et al. Prevalência de anemia e fatores associados em mulheres adultas residentes em São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, [s.l.], v. 23, n. 5, p.1199-1205, maio 2007. Fapunifesp (scielo). Http://dx.doi.org/10.1590/s0102-311x2007000500021.

13 Olinto MTA, Costa JSD, Gigante D, Meneses AM, Macedo S, Schwerber R, et al. Prevalência de anemia em mulheres em idade reprodutiva no sul do Brasil. Boletim da Saúde 2003; 17:135-44.

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14 Brasil, Relatório Final, Grupo de Trabalho Interministerial. Reorganização e Reformulação do Sistema Prisional Feminino, 2007.

15 Oliveira, Laíse Mayara Barros de. Práticas alimentares e condições de alimentação de mulheres presidiárias em regime fechado. 2017. 36 f. TCC (Graduação) - Curso de Nutrição, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2017.

16 Amorim, Fernanda Maria da Conceição. Estado nutricional das mulheres apenas em regime fechado do Rio Grande do Norte. 2015. 25 f. TCC (Graduação) - Curso de Nutrição, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Santa Cruz, 2015.

17 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira, 2ª edição, 156p. 2015.

18 Braunstein, H. R. Mulher encarcerada: trajetória entre a indignação e o sofrimento por atos de humilhação e violência. 2007. 174p. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo.

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