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Programa ‘autonomia e flexibilidade curricular’ e impacto nos modos de ensinar e aprender: perceções dos alunos

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Academic year: 2021

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Ciências, Culturas e Cidadanias

COORDENAÇÃO

Ana Maria Seixas (Coord.)

António Gomes Ferreira

Isabel Menezes

Almerindo Janela Afonso

Armanda Matos

Maria Figueiredo

Cristina C. Vieira

Isabel Moio

ISBN

978-989-99775-5-6

Data

Dezembro de 2019

Local de Edição

Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra.

Nota:

Os conteúdos dos textos integrantes desta obra são da responsabilidade dos/as

seus/suas autores/as, não representando necessariamente a posição da Sociedade

Portuguesa de Ciências da Educação, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da

Educação da Universidade de Coimbra, das Comissões Organizadora e Científica do

Congresso e da Coordenação destas Atas.

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226. PROGRAMA ‘AUTONOMIA E FLEXIBILIDADE

CURRICULAR’ E IMPACTO NOS MODOS DE ENSINAR E

APRENDER – PERCEÇÕES DOS ALUNOS

Isabel Lage

1

, José Matias Alves

2

1

Doutoranda AOE, Universidade Católica Portuguesa, Faculdade de Educação e

Psicologia, Porto (PORTUGAL), i.c.lage@gmail.com

2

Centro de Investigação para o Desenvolvimento Humano (CEDH). Universidade

Católica Portuguesa, Faculdade de Educação e Psicologia, Porto (PORTUGAL),

jalves@porto.ucp.pt

Resumo

Este trabalho é um estudo exploratório que se integra numa investigação de doutoramento em Ciências da Educação e pretende conhecer a perceção dos alunos do 3.º ciclo do ensino básico, no que se refere às práticas docentes, estratégias de ensino e de aprendizagem, relação pedagógica e atividades que cruzam a tradicional fronteira da sala de aula. A escola onde decorreu esta investigação aderiu ao projeto de autonomia e flexibilidade curricular do ensino básico, em regime experimental, no ano escolar 2017/2018, possibilitada pelo Despacho n.º 5908/2017. Assim, deseja-se ainda perceber se existem diferenças nas respostas dos alunos de 7.º ano, que fizeram parte do grupo pioneiro que implementou o projeto de autonomia e flexibilização curricular e os seus colegas de 8.º e 9.º ano, que não o fizeram. O estudo foi realizado numa escola em ambiente urbano, utilizando-se um inquérito por questionário aplicado a um total de 112 alunos. Como principais conclusões verifica-se que, relativamente aos seus colegas de 8.º e 9.º anos, os alunos de 7.º ano percecionam-se como mais autónomos nas aulas, valorizam mais as atividades realizadas fora da sala de aula, referem que os seus professores utilizam métodos mais ativos e consideram menos relevante a memorização e a reprodução de conteúdos como estratégia de aprendizagem.

Palavras-chave: ensino, estratégias, desenvolvimento curricular, aprendizagens.

Abstract

This communication is an exploratory study that is integrated in a PhD research in Educational Sciences and aims to know the perception of the students of the 3rd cycle of basic education, regarding the current teaching practices, teaching and learning strategies, pedagogical relationships and others activities that cross the traditional frontier of the classroom. The school where this research took place adhered to the project of autonomy and curricular flexibility of the basic education, in experimental regime, in the school year 2017/2018, made possible by Legal Order nº 5908/2017”. Thus, we would like to understand if there are differences in the answers of

the 7th grade students, who were part of the pioneer group that implemented the autonomy and

curricular flexibility project and its 8th and 9th grade classmates, who did not. The study was carried out in a school in an urban environment, using a questionnaire survey applied to a total of 120 students. The main conclusions are that, 7th graders students perceive themselves to be more autonomous in class, value more activities outside the classroom, refer that their teachers use more active methods and consider memorization less relevant and the reproduction of contents as a learning strategy than their 8th and 9th graders colleagues.

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1. ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL

No ano de 2017, o XXI Governo Constitucional publica uma série de dispositivos legais reafirmando a mais recente geração de políticas educativas. Estas medidas pretendem constituir a resposta do sistema educativo português aos desafios da globalização e do desenvolvimento tecnológico acelerado a que a escola tem de responder, permitindo desenvolver nos jovens capacidades, atitudes e valores de forma a intervir autonomamente numa realidade em contínua metamorfose. Em linha com as medidas de política educativa internacional, com enfoque para o projeto Future of Education 2030 da OCDE, e para as Competências para o século XXI e as suas múltiplas literacias (World Economic Forum, 2016), são então publicados os despachos n.º 5908/2017 e n.º 6478/2017.

Assim, surgem novos documentos que pretendem configurar uma nova forma de apropriação do conceito de autonomia. De facto, pode ler-se no preâmbulo do despacho n.º 5908/2017, de 5 de julho, que “o exercício efetivo de autonomia em educação só é plenamente garantido se o objeto dessa autonomia for o currículo”. Consequentemente, este despacho consagra a possibilidade de as escolas aderirem ao projeto de autonomia e flexibilidade curricular (PAFC) em regime de experiência pedagógica. De acordo com a mesma legislação, entende-se por autonomia e flexibilidade curricular a “faculdade conferida à escola para gerir o currículo dos ensinos básico e secundário e a organização das matrizes curriculares base, ao nível das áreas disciplinares e disciplinas e da sua carga horária, assente na possibilidade de enriquecimento do currículo com os conhecimentos, capacidades e atitudes que contribuam para alcançar as competências previstas no «Perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória»” (Despacho n.º 5907/2107, art. 2.°).

O despacho n.º 6478/2017, de 26 de julho, expressa a urgência da reconfiguração da escola de forma a enfrentar o atual contexto de imprevisibilidade e de mudança, homologando o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória (PA). Este documento constitui-se como uma matriz de princípios, valores e áreas de competências, convocando todas as dimensões do desenvolvimento curricular e passa a servir de referência para a organização de todo o sistema educativo.

Em harmonia com o disposto nos artigos 6.° e 7.° do despacho n.º 5908/2017 e ainda com o projeto educativo da escola, foi criado, na escola em causa, um domínio de articulação curricular (DAC) que pretende materializar o desenvolvimento efetivo e contextualizado das competências inscritas na proposta do Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória.

Partindo da oportunidade de planeamento curricular presente no artigo 12.° do despacho n.º 5908/2017, no que respeita à adequação e contextualização do currículo ao projeto educativo e às características das turmas e dos alunos da escola, optou-se pela criação de um espaço de confluência de saberes que resultou principalmente da combinação parcial das disciplinas de Ciências Naturais e Físico-Química, no 7.° ano de escolaridade. Para o desenvolvimento deste projeto foi fundamental o contributo interdisciplinar de todas as áreas disciplinares, de modo colaborativo, colocando a articulação de conteúdos ao serviço da melhoria das aprendizagens e dos resultados educativos, espelhada nos respetivos planos curriculares de turma dos diferentes anos que se encontram em experiência pedagógica. Na prática, o DAC funcionou no 7. ° ano de escolaridade com uma unidade letiva de 60 minutos semanais posicionada entre a unidade letiva das disciplinas de Ciências Naturais e Físico-Química (cuja carga horária é de uma unidade letiva de 90 minutos e uma unidade de 60 minutos semanais). Desta forma, é possibilitada a redistribuição da carga horária das disciplinas em questão, promovendo tempos de trabalho de projeto interdisciplinar, com eventual partilha de horário. No tempo dedicado a este DAC os professores de Ciências Naturais e de Física e Química encontram-se em simultâneo na sala de aula.

Como refere o próprio documento do perfil do aluno à saída da escolaridade obrigatória, a assunção de princípios, valores e áreas de competências “implica alterações de práticas pedagógicas e didáticas de forma a adequar a globalidade da ação educativa às finalidades do perfil de competências dos alunos (ME, 2017, p. 24), práticas estas que estão relacionadas com os modos de trabalho do professor na sala de aula, mas também com o grau de abertura deste mesmo trabalho.

O Despacho n.º 5908/2017, de 5 de julho de 2017, valoriza a gestão e lecionação interdisciplinar e transdisciplinar. Para Roldão (2010), o atual modelo escolar privilegia a organização dos conhecimento e tempos por campos de saberes ou disciplinas, esta organização por disciplinas segue mais uma lógica organizativa do que uma lógica epistemológica. A interdisciplinaridade curricular visa, antes de mais, “a criação de espaços de trabalho conjunto e articulado em torno de metas educativas.” (Roldão, 2010, p. 35).

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Ainda continuando a seguir Roldão, no centro de toda a ação educativa encontram-se as práticas de ensino e “a maior ou menor eficácia das estratégias que elas mobilizam para o ato de ensinar” (Roldão, 2017, p. 183). Estas atividades ou situações de ensino pretendem provocar a aquisição de experiências de aprendizagem (Ribeiro & Ribeiro, 1989). Para Lopes e Silva (2010), estas correspondem a um conjunto de “tarefas e recursos cujo principal objetivo é capacitar os alunos para aprenderem de forma significativa e autónoma” (p. 155). Estes mesmos autores agrupam as estratégias de aprendizagem e de estudo em três grandes grupos: cognitiva/metacognitiva, controlo do contexto e motivacionais/afetivas.

Desta forma, Silva e Lopes (2015) afirmam que as estratégias cognitivas/metacognitivas incluem a planificação, a organização, a memorização, a elaboração, a monitorização da compreensão, o autoquestionamento e a procura de informação. As estratégias de controlo de contexto referem-se à criação de condições ambientais adequadas, gestão do tempo, minimização das distrações e procura de ajuda quando necessário. Já as estratégias motivacionais/afetivas incluem o fixar de objetivos, a monitorização do progresso, a autoeficácia em relação à aprendizagem, a manutenção do interesse face a uma atitude positiva em relação à aprendizagem, o controlo da ansiedade e a redução do stress.

A forma como os estudantes percecionam a aprendizagem pode, segundo Monereo, Pozzo e Castelló (2002), ser representada por uma abordagem superficial ou de profundidade.

Numa abordagem superficial o estudante procura corresponder ao mínimo necessário de uma aprendizagem por meio da memorização e reprodução da informação, sem uma preocupação em relacionar o conteúdo aprendido com outros entre si, lidando assim com o conteúdo de maneira superficial (Entwistle, 2015; Richardson, 2015). Na abordagem de profundidade o estudante deseja extrair prazer da aprendizagem por meio da compreensão e aprofundamento dos conteúdos a serem aprendidos. Procura relacionar as partes deste conteúdo entre si e com outras, assim como com situações extraescolares. O estudante compreende o significado do que aprende e extrai a mensagem global envolvida com o conteúdo aprendido (Duarte, 2012). As abordagens de profundidade surgem correlacionadas positivamente com a melhor qualidade da aprendizagem e as abordagens de superfície apresentam correlações negativas com a qualidade da aprendizagem (Richardson, 2015).

Uma outra classificação pode ser encontrada em Monereo, Pozzo e Castelló (2002) que, utilizando como critério aspetos procedimentais para o ensino estratégico, identificam cinco eixos principais: 1- aquisição de conhecimentos, 2- interpretação de acontecimentos, 3- análise e raciocínio, 4- compreensão e organização e 5- comunicação.

2. ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO

A parte do trabalho de investigação que é mencionada neste artigo tem como base as respostas dos alunos a um inquérito por questionário.

A elaboração dos questionários partiu da construção de uma grelha “de especificações onde, a partir da identificação das questões de pesquisa, se inventariam os tópicos substantivos a abordar. A análise dos tópicos selecionados serve de fundamento para a tomada de decisões sobre o tipo de perguntas a elaborar em cada caso” (Afonso, 2014, p. 112).

A utilização de perguntas fechadas permite comparar diretamente as respostas dos inquiridos (Ferreira, 1999), produz respostas facilmente analisáveis e codificáveis e com menor variabilidade entre elas (Foddy, 1996), porém podem condicionar mais as respostas de certos grupos (Ferreira, 1999). Foram evitadas as alternativas “não sei” e “não tenho opinião” e as posições intermédias do tipo “nem concordo nem discordo”, para evitar posições demasiado cómodas, em que os respondentes se pudessem refugiar, rejeitando assim respostas polares (Schuman & Presser, citado por Ferreira, 1999).

Como, de indivíduo para indivíduo, o sentido semântico e o grau de interesse das perguntas varia, podendo resultar em alguma confusão, ou mesmo, em algumas não-respostas (Ferreira, 1999), realizou-se um pré-teste. A aplicação desta versão preliminar permitiu um ensaio formal, no qual o plano pretendido para a recolha dos dados é utilizado (Yin, 2009) com o como objetivo averiguar o tempo que os recetores demoram a concretizá-lo, apurar os problemas que o questionário apresenta, “de modo que os indivíduos no seu estudo real não encontrem dificuldades em responder” (Bell, 2008, p. 129). Assim, recorremos a dois alunos e a dois docentes que nos deram pistas de melhoria que foram incorporadas no questionário final.

O referido questionário contém itens distribuídos por seis blocos. O primeiro bloco, caraterização pessoal e académica, é constituído por quatro itens do tipo categórico, em que a

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resposta será apenas uma de entre um conjunto proposto, visando recolher informação pessoal e académica.

O segundo bloco de questionamento, tipo de trabalho do professor, é constituído por doze itens, é dedicado a efetuar um levantamento de perceções sobre os métodos de ensino utilizados pelo docente e tem como base o instrumento criado por Roldão (2014) para categorização de práticas observadas no projeto “CEP - Como ensinam os professores?” (itens 1 a 7), ao qual foram acrescentados cinco itens correspondentes a outros tantos tipos de trabalho (itens 8 a 12). Aos itens de resposta fechada foi aplicada uma escala de medida ordinal do tipo Lickert, de respostas alternativas: 1- Nunca, 2- Raramente, 3- Às vezes, 4- Muitas vezes e 5- Sempre.

A terceira secção, ações relacionadas com a prática docente, constituída por oito itens, pretende efetuar um levantamento de ações relacionadas com a prática docente que o Ministério da Educação indica como determinantes para adequar a globalidade da ação educativa às finalidades do Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória (PA) e que constam desse mesmo documento. Para este efeito, solicitam-se respostas na escala alternativa de frequência já exposta.

O quarto bloco do questionário, atividades que cruzam as fronteiras da sala de aula, encontra-se dividido em duas partes. A primeira parte pretende efetuar uma apreciação das práticas e espaços utilizados nas atividades que cruzam as fronteiras da sala de aula e a segunda parte tem como objetivo realizar um levantamento das perceções relativamente à utilidade destas mesmas atividades. Assim, primeiramente, enunciam-se sete afirmações para as quais se pede uma apreciação em escala, de forma a comparar a frequência relativa das atividades.

A secção seguinte, apresentando treze itens, é utilizada para estimar as perceções face à utilidade das atividades que cruzam as fronteiras da sala de aula. Solicita-se igualmente uma resposta utilizando-se uma escala Likert do tipo: 1- Discordo totalmente, 2- Discordo, 3- Concordo em parte, 4- Concordo e 5- Concordo totalmente. Nesta quarta parte, as afirmações são elaboradas com base num estudo exploratório efetuado para esta investigação (Lage & Alves, 2017), no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória e ainda inclui a menção dos cinco eixos procedimentais envolvidos na aprendizagem segundo Monereo, Pozzo e Castelló (2002) (itens 9 a 13).

O quinto bloco do questionário pretende levantar perceções sobre alguns tópicos relacionados com a relação pedagógica aos quais foi também solicitada uma resposta em escala de Likert.

O último bloco, estratégias de aprendizagem, pretende efetuar um breve apanhado das estratégias de aprendizagens desencadeadas pelo aluno, em que as respostas seguem a escala de Likert anterior. Assim, os itens 1 a 8 referem-se a estratégias cognitiva/metacognitiva, controlo do contexto e motivacionais/afetivas (Silva & Lopes, 2015), e os itens 9 e 10 a aprendizagem superficial e de profundidade respetivamente (Marton & Säljö, 1976; Duarte, 2012; Valadas, 2014; Entelwistle, 2015; Richardson, 2015).

3. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Foi solicitado consentimento informado à totalidade dos senhores encarregados de educação de estudantes do 3.º ciclo da escola, tendo-se obtido consentimento de 72 %, o que corresponde a 115 alunos. Os inquéritos foram entregues aos alunos na sala de aula, permitindo esclarecer algumas dúvidas que surgiram. Depois de analisados, foram validados 112 questionários, correspondendo a 97 % dos participantes e 70 % do total, distribuídos pelos três anos de escolaridade (Gráfico1).

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Gráfico 1. Número de respostas por ano de escolaridade

Embora os resultados de um inquérito por questionário em escala de Likert possibilitem uma interpretação mais detalhada, que será incluída no trabalho de investigação principal, decidimos, por uma questão de facilitar a leitura dos dados, apresentar aqui apenas as médias obtidas para cada categoria. Desta forma, permite-nos interpretar apenas uma tendência geral, como é o nosso objetivo. Assim, as figuras 2 a 7 representam médias de item por ano de escolaridade para cada bloco de questionamento. Para auxiliar a busca de tendências optou-se ainda por colocar os itens por ordem decrescente de concordância e não pela ordem sequencial em que surgem no corpo do questionário.

Relativamente ao bloco de questionamento que pretendia apurar as perceções que os alunos têm do trabalho que se realiza dentro das respetivas salas de aula (Gráfico 2), encontramos as maiores diferenças no facto de os alunos do 8.° e 9.° anos apresentarem um máximo de incidência nos métodos expositivos, sendo a frequência dessa resposta inferior no caso do 7.° ano. O contrário acontece relativamente à utilização de métodos mais ativos como são a aprendizagem baseada na resolução de problemas, a aula invertida, o trabalho de projeto, os debates ou a dramatização.

Gráfico 2. Tipo de trabalho do professor

Quando inquiridos sobre algumas das práticas dos seus professores, consideradas pelo Ministério da Educação fundamentais para alcançar o PA, torna-se clara a maior concordância das respostas dos alunos de 7.° ano relativamente a estas ações (Gráfico 3).

7º ano (33) 8º ano (32) 9º ano (47) 1. Exposi ção/re soluçã o de exercíc ios, com… 2. Ativida des individ uais 9. Apren dizage m cooper ativa 11. Apren dizage m basead a na resolu ção… 6. Analis o situaçõ es, proble mas ou… 4. Aprese ntação de trabal hos 3. Ativida des em grupo ou em pares 10. Aula inverti da 7. Trabal ho de projet o 12. Manip ulação de materi ais, aparel hos,… 5. Debat es 8. Drama tizaçõe s 7ºANO 4,00 4,24 3,94 3,97 3,70 3,73 3,61 3,91 3,94 3,30 3,45 2,52 8ºANO 4,66 4,09 3,88 3,66 3,56 3,75 3,31 3,03 3,34 3,06 2,69 1,16 9ºANO 4,44 4,10 3,96 3,64 3,57 3,51 3,31 3,13 3,12 3,02 2,88 1,75 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00

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Gráfico 3. Ações relacionadas com a prática docente

As maiores diferenças ocorrem aqui com os alunos de 9.° ano a afirmarem que os seus professores não valorizam tanto o trabalho de livre iniciativa, utilizam menos as tecnologias de informação, não criam tantas oportunidades para uma intervenção livre e responsável, sendo o item que recebeu o menor índice de concordância a organização e o desenvolvimento de projetos. Relativamente às práticas que cruzam as fronteiras da sala de aula (Gráfico 4), destaca-se igualmente o facto de os alunos de 7. ° ano percecionarem que ultrapassam estas linhas mais do que os seus colegas de outros anos (com exceção dos do 8.º ano, que afirmam participar mais em atividades de caráter festivo).

Aqui também as maiores discrepâncias encontram-se entre os alunos e 7.° ano e de 9.° ano, estes últimos afirmam participar com menor frequência em atividades que cruzam a fronteira da sala de aula.

Gráfico 4. Práticas que cruzam a fronteira da sala de aula

No que concerne à perceção sobre as mais-valias nas aprendizagens atribuídas às atividades que cruzam as fronteiras da sala de aula (Gráfico 5), pode dizer-se que a maioria dos alunos concorda ou concorda totalmente que elas são úteis. De salientar apenas um decréscimo

8. Valorizam na avaliação, o trabalho de livre iniciativa 1. Relaciona m os conteúdos com o quotidiano 5. Utilizam várias fontes de informaçã o e as TIC 4. Organizam e desenvolv em projetos 6. Promovem atividades que me permitam confrontar pontos de vista 7. Criam espaços e tempos para que posa intervir livre e responsav elmente 2. Recorrem a materiais diversifica dos 3. Promovem atividades de observaçã o e de questiona mento da realidade 7ºANO 4,21 4,12 4,03 4,00 4,00 3,94 3,73 3,67 8ºANO 3,75 3,69 3,38 3,31 3,66 3,28 3,38 3,28 9ºANO 3,32 3,81 3,17 2,64 3,40 2,94 3,34 3,36 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 3. Participo em atividades do tipo comemoraç ões de eventos, festa de final de… 1. Participo em atividades de caráter disciplinar fora da sala de aula 2. Participo em atividades interdiscipli nares/trans disciplinares fora da sala de aula 4. Participo em aulas com vários professores na mesma sala 5. Nas atividades da sala de aula participam alunos de outras turmas 7. Além das salas de aula ou do ginásio tenho aulas noutros espaços da escola 6. Nas atividades da sala de aula participam EE, pessoal não docente, coordenaç… 7ºANO 4,33 4,21 3,97 3,64 2,91 2,70 2,36 8ºANO 4,41 3,03 3,16 3,44 2,47 2,69 1,78 9ºANO 3,62 2,91 2,51 2,40 2,26 2,02 1,40 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00

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de concordância dos alunos de 9.° ano no que diz respeito à sua utilidade para tirar melhores notas nos testes de avaliação.

Gráfico 5. Utilidade das atividades que cruzam as fronteiras da sala de aula

Todos os alunos apresentaram, genericamente, uma perceção positiva da relação com os seus professores (Gráfico 6), continuando, no entanto, a notar-se uma maior concordância com estas questões nos alunos de 7.° ano. O maior desvio registou-se nos alunos de 9.° ano, que afirmam realizarem menos atividades autónomas durante as aulas que os seus colegas dos outros anos.

Gráfico 6. Relação pedagógica

Quando inquiridos acerca das estratégias que utilizam para aprender, os maiores desvios encontram-se no facto de o 7.º ano valorizar menos a memorização e reprodução do conhecimento que os seus colegas. De referir que os alunos do 9.° ano registam uma maior concordância com

13. Desen volver a comun icação 1. Desen volver valore s e atitud es adequ adas 5. Prepar ar para uma cidada nia ativa e respon sável 6. Criar a capaci dade de lidar com a muda nça 4. Promo ver o pensa mento criativ o e autón omo 9. Adquir ir novos conhe ciment os 3. Desen volver sabere s de uma deter minad a disci… 2. Desen volver sabere s interdi sciplin ares 10. Interpr etar aconte ciment os 12. Estabe lecer relaçõ es entre os concei tos 7. Aume ntar a motiva ção para os conteú dos disci… 11. Analis ar inform ação 8. Ter melho res notas nos testes de avaliaç ão 7ºANO 4,73 4,67 4,67 4,58 4,58 4,55 4,39 4,36 4,36 4,33 4,30 4,27 4,00 8ºANO 4,50 4,78 4,66 4,22 4,62 4,62 4,47 4,75 4,34 4,50 4,47 4,41 4,16 9ºANO 4,53 4,47 4,68 4,51 4,57 4,34 4,23 4,21 4,28 4,32 4,21 4,15 3,02 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 1. As atividades que realizo na aula fazem com que eu aprenda 6. Os professor es estabelec em uma relação que favorece a minha aprendi… 2. Os professor es reconhec em e valorizam os meus progresso s na aprendi… 7. Os professor es estabelec em ligações de afeto e cuidado 4. Realizo atividades autónom as durante as aulas 5. Pratico a entreajud a com os meus colegas 3. Os professor es conversa m comigo sobre aquilo que aprendi, sobre o… 9. Nas aulas sinto-me descontra ído 8. Nas minhas aulas há um ambiente de respeito e disciplina 7ºANO 4,61 4,55 4,42 4,39 4,33 4,30 3,97 3,79 3,73 8ºANO 4,44 3,97 4,19 4,16 4,25 4,16 3,50 3,47 4,03 9ºANO 4,11 4,15 4,13 3,94 3,00 4,19 3,57 3,62 3,83 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00

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estas estratégias do que com compreender e relacionar o estudo com as matérias anteriores de forma a captar uma mensagem mais global.

Gráfico 7. Estratégias de aprendizagem

4. CONCLUSÕES

Parece clara uma linha de tendência de resposta apresentada pelos alunos de 7.° ano, relativamente aos seus colegas de 8.° e 9.° anos. A realidade complexa e multidimensional que é o processo de ensino-aprendizagem, remete-nos para uma explicação compósita das razões que cooperam para este facto. No nosso entender, um dos principais fatores que contribuiu para esta diferença encontra-se no facto de os alunos de 7.° ano estarem a ser sujeitos ao programa de autonomia e flexibilidade curricular (PAFC).

Apesar de muitos dos professores serem os mesmos nos três anos de escolaridade, as suas práticas são percecionadas pelos alunos como sendo díspares, o que nos remete para a possibilidade de os professores agirem com distintas estratégias nos diferentes anos de escolaridade inquiridos. Como as respostas são dirigidas à generalidade dos professores e não só aqueles que os acompanhavam no DAC, pensamos que o efeito do PAFC contagiou um pouco o que aconteceu noutros espaços e tempos do 7.° ano de escolaridade.

Assim, na maioria das aulas de 7.° ano, apesar de continuar a utilizar-se os métodos expositivos, os alunos referem igualmente a utilização da aprendizagem baseada na resolução de problemas e do trabalho de projeto. São estes os alunos que mais afirmam participar em atividades de caráter disciplinar e interdisciplinar fora da sala de aula e os que mais consideram que realizam atividades autónomas, que acham que as atividades que se realizam na sala de aula fazem aprender, que os seus professores estabelecem relações de afeto e cuidado que favorecem a aprendizagem, e os que mais valorizam, como estratégia de aprendizagem, o relacionar o estudo com as matérias anteriores de forma a captar uma mensagem global e, simultaneamente, são os que menos valorizam a memorização e reprodução da informação, o que indicia uma abordagem em profundidade (Duarte, 2012; Entelwistle, 2015; Monereo, Pozzo & Castelló, 2002; Richardson, 2015; Valadas,Araújo, & Almeida 2014).

Por outro lado, o 9.° ano, talvez pela pressão dos exames nacionais e aproximação do Ensino Secundário, tem uma linha de resposta diferente. Afirmam que os professores apresentam muitas vezes, ou sempre, uma aula expositiva combinada com diálogo, que os seus professores não valorizam tanto o trabalho de livre iniciativa, nem os envolvem em projetos, o que parece estar de acordo com o facto de serem o grupo de alunos que afirma realizar menos atividades autónomas durante as aulas. A sua sala de aula aparenta estar mais fechada, pois são os que afirmam participar menos em atividades fora da sala de aula e ter menor participação de outros agentes dentro da sala de aula. Este facto não estará desconectado da circunstância destes alunos de 9.° ano serem os que menos impacto percecionam destas atividades na nota nos testes de

6. Criar um ambient e propício para estudar . 8. Manter a motivaç ão e o interess e 1. A planifica ção e a organiza ção da matéria s e dos materiai s. 5. Procurar ajuda sempre que necessit ar. 10.Com preende r e relacion ar o que estudo com as matéria s… 4. Minimiz ar as distraçõ es. 7. Controla r a ansieda de e reduzir o stress 3. Tomar notas, fazer resumos 9.Memo rizar e reprodu zir a informa ção. 2. Memori zar e sublinha r. 7ºANO 4,70 4,67 4,61 4,55 4,45 4,45 4,42 4,21 3,61 3,30 8ºANO 4,56 4,72 4,56 4,50 4,38 4,50 4,59 4,75 4,34 4,22 9ºANO 4,43 4,79 4,45 4,62 4,09 4,19 4,38 4,30 4,60 4,53 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00

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avaliação. Da reunião destes fatores parece resultar numa aprendizagem mais superficial e menos profunda, uma vez que referem valorizar mais a memorização que a compreensão da matéria.

Não se encontram grandes diferenças nas respostas dos alunos dos três anos de escolaridade no que se refere à sua perceção sobre as atividades que ultrapassam a tradicional sala de aula, e quanto às estratégias de aprendizagem relativas à motivação e controle de contexto.

Este pequeno estudo de exploração aponta no sentido da existência de uma tendência de resposta diferente nos alunos que fizeram parte do grupo que participou no PAFC. Estes alunos percecionam que os seus professores utilizam métodos de ensino mais ativos, que a sua sala de aula é menos fechada, que realizam mais atividades autónomas e que a sua aprendizagem é mais profunda que os alunos que não fizeram parte deste projeto, encontrando-se assim mais alinhados com o disposto no Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória.

REFERÊNCIAS

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Gráfico 1. Número de respostas por ano de escolaridade
Gráfico 4. Práticas que cruzam a fronteira da sala de aula
Gráfico 5. Utilidade das atividades que cruzam as fronteiras da sala de aula
Gráfico 7. Estratégias de aprendizagem

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