UNIVERSIDADE
FEDERAL DE
SANTA
CATARINA
PROGRAMA
DE
PÓS-GRADUAÇÃO
EM EDUCAÇÃO
MESTRADO
EM EDUCAÇÃO
~
AVALIAÇAO
NO
PROCESSO
ENSINO-APRENDIZAGEM:
UMA
ABORDAGEM
HISTÓRICO-CULTURAL
CLEUSA
RIBEIRO
DOS SANTOS
PROGRAMA
DE
PÓS-GRADUAÇÃO
EM EDUCAÇÃO
~
AVALIAÇAO
NO PROCESSO
ENSINO-APRENDIZAGEM:
UMA
ABORDAGEM
HISTÓRICO-CULTURAL
por
Cleusa
Ribeirodos Santos
Dissertação apresentada
ao Programa de
Pós-Graduação
em
Educação
como
requisito parcial
à
obtençao
do
títulode
Mestre.~
uN|vERs|DADE
FEDERAL DE
SANTA
CATARINA
CENTRO
DE
CIÊNCIAS
DA
EDUCAÇÃO
PROGRAMA
DE
Pós-GRADUAÇÃO
CURSO
DE
MESTRADO
EM
EDUCAÇÃO
“A
VALIA
ÇÃO
DO
PROCESSO ENSINO
-APRENDIZA
GEM:
UMz4
ABORDAGEM
HIST ORI CO-C
ULTURAL
”Dissertação submetida
ao
Colegiadodo
Curso de Mestrado
em
Educação do
Centrode
Ciênciasda
Educaçäo
em
cumprimento
parcial para a
obtenção
do
títulode
Mestreem
Educação,
APROVADO
PELA
COIVIISSÃO
EXAMINADORA
em
21/09/2000.-4
J
.IDra. Edel
Em
-UFSC (OrientadOra)Çfi»€×C:/12"
Dr. Ademir
Damazio
-
UNESC
(Examinador) zé*-Í,--f-*9
/' ›
/I
Dra. Silvia da
Ros -
UFSC
-
(Examinadora)^
/A
Dra.
Leda
Scheibe -UFSC
( Suplente)
/
(×',zz
Z
Cí/___
Dra
EdelEm
Coordenadora
PPGE
Cle os'Santos
Não
há
alegriaem,
meramente,
fazercoisas
que
qualquer
um
pode
fazer.Mas
existe satisfação,que
émuito
doce,quando
você
aporta
num
destino
onde
você
pensou que não
chegaria.”
A
QUEM AMAMOS
Em
especial, àGerusa
eCamila
as
meninas dos
meus
olhos.Obrigado
por
compreenderem
nossa
ausência,quando
apresença
era essencial.As
vezes
ausentes,as vezes
presentes,chegamos
de
qualquer
forma, juntos,Aos
colegas: Gildo, Mari e Neideque
contribuíramcom
debates, criticas e sugestões eme
tranqüilizavamnos
momentos
de
angústias.Ao
Prof° Dr.Ademir Damazio, o meu'
carinhoe
amizade, pelascontribuições relevantes
na
realizaçao deste trabalho.Deus
o
abençoe.À
Lorete, colegade
Departamento, obrigada pela ajuda técnico-metodológica, viabilizando a estrutura fonnal deste trabalho.
Ao
colégiode
Aplicação,nas pessoas de seus
professores, corpo técnico eadministrativo,
que
prontamentenos
permitiram a realizaçãoda
pesquisa.A
Capes, cujo auxílio financeiro, possibilitou a realizaçãodesse
estudocom
maior tranqüilidade. -A
UNESC,
pela dispensade minha
função docente e pelo apoio recebido.A
Secretaria Estadualde
Educação
pelaconcessão da
licençade
afastamento durante
os
trêsanos
do
curso.Ao
Programa de Pós-Graduação,
pela constante receptividade e prestezade seus
funcionáriose
coordenadores.Em
especial, à Profa. Dra. Edel Ern,minha
orientadora, porcompreender
oslimites
da
apropriação e construçãodo
conhecimento
ede
maneira sábia ecompetente
conduzir-me peloscaminhos da
cientificidade.RESUMO
Neste trabalho discutimos questões voltadas à avaliação
do
processo ensino- aprendizagem, tendocomo
suporte teórico aabordagem
histórico-cultural.Nos
onentamos
por pressupostos vygotskyanos relacionadoscom:
aprendizagem, desenvolvimentoe
processos interacionais,dando
ênfaseao
conceitode
mediação
ezona
de
desenvolvimento proximal.O
estudo foi realizadoem um
colégiodo
Ensino Fundamental. Paraapreender
as
manifestações avaliativas,na
perspectivada
teoria histórico-cultural,foram
feitas entrevistas- com
perguntasdo
tipo semi-estruturadas- com
professoresde
classesde
1° a 4*série
do
Ensino Fundamental,com
os coordenadores pedagógicos e
direçãoda
escola.
Procedeu-se
também,
a análisedos documentos:
Projeto PolíticoPedagógico e Regimento
Interno Escolare
foram feitasobservações
em
salasde
aula.O
objetivo foi buscarcompreender
adimensão
prospectivada
avaliação
na
apropriaçãodo
conhecimento; analisaras
idéiasde Vygotsky
nafundamentação e
iluminaçãode
uma
prática inovadorade
avaliação escolar e explicitaro
papeldo
professorcomo
mediador
entreo
alunoe o
conhecimento.Constatamos
que
os
professores explicitamseu
entendimentode
avaliaçãocomo
sendo
um
processo,momentos
de
aprendizagense
de
constantes intervençõesdo
professorcomo
mediador
do
conhecimento. Entretanto,em
sua
prática pedagógica,
o
professor apresentagrandes
dificuldadesde
ordem
teórico-prática para desenvolver este ideário avaliativo.
Há
necessidade, por partedos
professores eda
escolacomo
um
todo,de
apropriação
de
conceitosda
teoria histórico-cultural,no
sentidode compreender
com
maior propriedadeseus
principais efeitosna
avaliaçãodo
processo ensino- aprendizagem.Palavras-chave: avaliação,
aprendizagem e
desenvolvimento, processosThis study discusses topics related to the evaluation of the teaching/learning process, having the historical cultural
approach as
the theoretical basis.an
presuppositions referring to learning,development
and
interactive processes areapproached
withemphasis on
the concept of mediationand
proximaldevelopment
zone.The
studywas
developed inone
Elementary School.ln order to seize the evaluative manifestations, according to the historical cultural theory, interviews
were
carried out-
with semi-structured questions-
with teachers from the four levels, the pedagogical coordinatorsand
thedirection
body
of the school. Alsodocuments, such as
Pedagogical PoliticalProject
and
School Internal Regiment,were
analyesed,and
classeswere
observed. This study
aimed
at (1) understanding the prospective dimension ofthe evaluation in the appropriation of knowledge, (2) analyzing the effects of
Vygotsky's ideas in order to establish
and
lightenan
innovative evaluationpractice,
and
(3) emphasizing the role of the teacheras
mediatorbetween
thestudent
and
the knowledge.The
results demonstrate that teachers understand evaluationas
a process,moments
of learningand
constant interventions of the teacher as a mediator ofknowledge.
However,
in their teaching practice, teachersshow
greattheoretical/practical difflculties in developing this the evaluation approach.
Both teachers
and
schoolas
awhole need
to appropriate the concepts in thelight of the historical cultural theory
so
as to understandmore
accurately themain
effects in evaluation,and
then to think of creatinga
new
evaluativepractice.
KEY
WORDS:
evaluation, learningand
development, interactive processes, mediationand
proximaldevelopment
zone.1. 1.1. 1.2. 1.3. 2. 2.1. 2.1.1 2.1.2 2.1.3 2.1.4. 2.2. 2.2.1 2.2.2 2.2.3. 2.2.4. 2.2.5 2.2.6 2.2.7
suMÁR|o
INTRODUÇAO
... ._ 10 Conte›‹tua|izaçãodo Problema
... ..10 Justificativa ... ._ 10 Objetivosdo
Estudo ... ..10REFERENCIAL
TEÓRICO
... ._ 16 Avaliação: contextos e representaçõespedagógicas
à luzda
teorias psicológicas ... ._ 17O
Inatismo ... .. 19O
Ambientalismo ... ..22O
Construtivismo ... ..28A
corrente psicológica histórico-cultural ... ..32A
teoria histórico - culturalcomo
suporteda
investigação ... ... ..36O
processode
desenvolvimento eaprendizagem na
perspectivada
teoria histórico-
cultural ... ..47Os
processos interacionaisno
desenvolvimentodas
funções psíquicas superiores ... ..51A
mediação
instrumentaldo
saber: o papeldo
objeto ... ..53A
relevânciado
símbolo edo
signocomo
mediador
do
saber ... ..57A
mediação
'socialdo
saber:o
papeldo
professor ... ..60A
zona
de
desenvolvimento proximal' (ZDP),e a
compreensão
de
um
novo
significadodo
saber ... ..63O
contextoda
pesquisa: caracterizaçãoda
realidade pesquisada Caracterizaçãodos
sujeitosda
pesquisa ... ..A
pesquisa propriamente dita ... _.O PROCESSO
DE AVALIAÇÃO
NO
COTIDIANO
DA ESCOLA
PESQUISADA
... _.A
trajetóriada
construçaodo
processode
avaliação ... _.Encontros
e
desencontrosdas
manifestações cotidianasdo
processo avaliativo ... ..coNs|oERAçoEs
|=|NA|s ... ..REFERÊNc|As
B|B|.ioGRÁi=|cAs
... ..LISTA
DE
ANEXOS
Foto
da
escola pesquisada ... ..Ofício
encaminhado
a direçãodo
CAP
... _.Roteiro
das
entrevistascom
os
professoresdo
CAP
... ..Roteiro
das
entrevistascom
o
corpo técnicoe
direçãodo
CAP
Documentação
escolar: boletim ... _.Uma
das
áreasdo
currículo escolar a qualtemos
voltadonossa
atençãoe
preocupação,no
decorrerde
nossa
vidaacadêmica e
profissional,tem
sido acomplexa e
questionada avaliaçãodo
processo ensino-aprendizagem. Estatem
se
manifestado pormeio
de
práticas diversificadas,em
situações pscolares,como
manifestaçãode
pressupostos teóricose de
concepções
diferentesque
emergem
em
momentos
históricosdo
processo educativo escolar.Por
um
lado,o
interesseemerge
das
constantes reflexões feitasno
que
tangeao
modo como
os alunosse
apropriamdo conhecimento
e,seus
diferentes niveis
de
apropriação.Por
outro lado,nos
impulsiona acompreender
a prática
do
processo avaliativo aque
estãosubmetidos os
alunosdo
EnsinoFundamental.
Como
acadêmica,nossa
insatisfaçãose dava
por discordarde algumas
medidas
eformas
avaliativas arbitráriasque
integravam aação
docente.Como
docente, a angústiade
atribuiruma
notaou
conceito, pela incertezade
estamios
sendo
fidedignaao
avanço
e aaprendizagem
efetivado
aluno. Diantedisso. 'pesquisamos
na
literatura especializada,as
teoriasque
pudessem
referendar
uma
melhorcompreensão do
processode
“avaliação”e “como”
fazê-Ia.
Encontramos
muitos discursos, refletimos sobre,mas
na
prática docentecontinuavam nossas
inquietações. lntegramos gruposde
estudoscom
aesperança de
que,no
coletivo,pudéssemos
avançar
quanto a discussãodas
teorias e práticas existentes.
Avançamos, porém
a insatisfaçãocontinuava.Procuramos, então,
os
cursosde
especialização eembora
tenhamos
enriquecidocom
leituras e discussões sobreo
tema,tínhamos
ainda,11
Todavia, foi
a
partirda
experiênciacomo
professorado
ensinoFundamental e
Educação
Superior, dois pólos significativosde
práticas e observações,e
de
constantes discussõese desabafos
sobre o procederavaliativo instaurados
das Unidades
Escolaresque
passamos
a
ter maiorconsciência
e
compreensão
da
problemática.A
partir daí,passamos
a
fazeruma
releiturada complexidade
que
envolve a avaliaçãodo
processo ensino-aprendizagem e
passamos
a
buscar indicativosde ações que
pudessem
referendar inovações
no
modo
de
avaliar.Em
síntese,o
interesse pelotema
avaliaçãoe o seu
processo práticono
ensinofundamental
é
frutode
razõescomo:
- insatisfação
com
osmodelos
avaliativos instauradosna
prática escolar;-
o
alto índicede
reprovaçõesnas
séries iniciaisdo
ensino fundamental;- a precariedade
na
apropriaçãodas bases
teóricas pelos professores;- a arbitrariedade imposta pelo professor
nos
momentos
avaliativos;- a
vontade
de apreendermos e
entendemos
novas bases
teóricasque
referendassem inovações
na
prática avaliativa;-
enfim,
apropriarmo-nosde novos
conceitos teóricosque
iluminasseme
apontassem
parauma
diferente prática avaliativa, para//umamodalidade
de
avaliação
que
pudesse
contemplaro
individuono seu
processode
aprendizagem e
desenvolvimento.Surgiu então, a oportunidade
de
integrarmos oprograma de
Pós-graduação
em
Educação, Mestrado
em
Educação
da
Universidade Federalde
Santa
Catarina. Nele,estamos
tendo a oportunidadede
novamente
discutir otema
que tem
sido “amenina dos nossos
olhos”,do nosso
objetode
pesquisa. Assim, a avaliação éo
mote,é o
objetivo,é o
norte desta Dissertaçãode
Mestrado. . _
Após
muitas reflexões, trocasde
idéias, leituras, angústiase
dúvidasoptamos
por centrarnosso
estudonos
pressupostosda
teoria histórico-cultural.Entendemos
ser a teoria histórico-cultural aque
melhor,na
atualidade,proporciona a
compreensão de
uma
nova
relação entreo
professor,o
alunoe
o conhecimento.Ao
nosso
ver, a teoria histórico-cultural, partedo
princípiode
que
o indivíduonão nasce
pronto, terminado,nem
tãopouco é
um
simples.
receptor
das
experiênciasdo
meio. Pelo contrário, acreditanum
individuohistoricamente constituído
que
aprende e
sedesenvolve
pormeio
de
processosinteracionais,
promovidos
nas
relações sociais entreos
homens
e
estescom
anatureza.
Nesse
sentido,o
homem
age
sobrea
natureza,se
transforma e a transforma.Vista assim, a teoria histórico-cultural atribui relevância
ao
papeldo
professor,
como
mediador,nas
relações necessárias entreos
conceitos“cotidianos”
e
“científicos”, própriasda
naturezado
processo educativo escolar.Dito
de
outra maneira,o
professormedeia
a relação entreas
concepções
prévias
do
alunoe o
objetode conhecimento
proposto pela escola.Assim
evidencia-se,que
a
apropriaçãodo
conhecimento
é
um
processo constituídonas
relações entreos
sujeitos.Na
escola,cabe
ao
professora
funçãode
mediar as atividadese
situaçõesde
aprendizagens, pormeio
de
ações
que
promovam,
nos
alunos,formas
de
pensamentos
superiores. 'Uma
das formas de
percebero
processo evolutivodo pensar e da ação
do
alunoé
pormeio da
avaliação, seja ela vivenciadaem
momentos
específicosou no
próprio processodas
atividadespromovidas
em
salade
aula. Nestasegunda
opção, a avaliação ocorreno
próprio contextodo
processo ensino- aprendizagem.No
mesmo
momento
e da
mesma
forma,o
professoré mediador
tantodo
processode
apropriaçãodos
conhecimentos, quantodo
processode
avaliação.
A
avaliação está vinculadaao
processode
aprendizagem, poisambas
sedão constantemente nas
relações sociaisonde
se constituem aszonas
de
desenvolvimento proximal.Neste
sentido, a avaliaçãoé
um
processopermanente e
constantede
“vir-a-ser”.Para
um
melhor entendimentodo
processo avaliativo,no
contextodos
processos interacionais, recorremos aum
colégio,onde
realizamos anossa
pesquisa.A
mesma
localiza-seno
Bairro Universitárioda
cidadede
Criciúma, situadano
Suldo
Estadode Santa
Catarina.Nossa
opção
poresse
colégio ocorreu pelo fato, entre outrosque
serão citadosmais
adiante-
no
capítuloreferente à metodologia
da
presente pesquisa-
principalmente, por serum
colégio implantadono
inícioda
década de
90
com
a intençãode
“ser diferente".13
construtivismo,
em
outras oportunidades pelaabordagem
histórico- cultural.Para
nós,o
importante eraque
a
recente implantaçãodo
colégio,com
acaracterística
de
ser ligadoa
uma
Universidade, fosse a indicação paraque
omesmo
fosse gestado porconcepções pedagógicas
sustentadasem
teoriaseducacionais
que só recentemente são estudadas
e vivenciadasnos meios
escolares. Portanto,ao nosso
ver, indicadorasde
um
processo inovadorem
seus
referenciais teóricos-metodológicos e,em
conseqüência,com
implicaçõespara
uma
nova
práticade
avaliaçãono
processo ensino-aprendizagem.Com
o
intuitode
apreendermos
diferentes manifestações avaliativas,além das observações das
práticas pedagógicas, recorremos àsmediações
teóricas
que apontam
as
possibilidadesde
uma
nova
relação entreo
aluno e aapropriação
do
conhecimento, tendocomo
base as
relações interacionais.Nestas
condições, aopção
inevitável é a teoria histórico-cultural. Poisde
acordocom
Damazio
(2000, p. 9):“a teoria histórico-cultural, parte do pressuposto de que os processos
cognitivos se desenvolvem nas interações sociais, isto é, nas ações
partilhadas.
É
na atividade social e historicamente organizada que ohomem
seapropria das formas de comportamento e de significações”.
Entendendo as
interações sociais,como
necessáriasao
processode
aprendizagem e
oconseqüente
desenvolvimentodo
indivíduo,pressupomos o
processo avaliativo
como
forma
de
estarmos
atentos à evolução cognitivado
mesmo.
Assim
sendo, a avaliação,compreendida
a partirda
teoria histórico- cultural,não
se constitui desvinculada e isoladade
seu contexto maisamplo
que
éo
processode
ensino-aprendizagem.Ao
estudarmos a
avaliaçãono
processo ensino-aprendizagem,buscamos
também
elementos
que
pudessem
referendaruma
prática inovadorade
avaliação,capaz
de
mediaro
processode
apropriaçãodo
conhecimento,no
espaço
escolar.Não
supervalorizamosa
avaliaçãoem
detrimentodos demais
elementos
constituintesdo
processo ensino-aprendizagem. Todavia,buscamos
na
avaliação,um
novo redimensionamento da
apropriaçãodo conhecimento
como
possibilidadede
constantes constituiçõesde zonas de
desenvolvimentoA
partirda
reflexões explicitadas,destacamos
como
objetivo principal deste trabalho: estudar, analisar e discutiras manifestações
avaliativas'no
processo
ensino
aprendizagem,
na
perspectivada
teoria histórico-cultural, instaurada
numa
determinada
unidade
escolar.Centramos,
também,
nossa
atenção
nas
possibilidadesde
-
no processo
educativo
escolar - constituiçãode zona de desenvolvimento
proximal.A
atenção
voltou-se, pois,
para
as
concepções de
avaliaçãodos
professores,coordenadores
e
direçãoda
escola e aquela
implícitanos
documentos
escolares.Para atingir
os
objetivos definidos,tomou-se
relevantee
necessário pensar a avaliaçãocomo
um
momento
integradordo
processo ensino- aprendizagem.Buscamos
as
possibilidadesde superação da
visão estáticade
avaliação, por isso, sentimos a necessidade
de estarmos
em
contato diretocom
as práticas
dos
professores,onde se
anunciao
novo
eo
diferente.Entendemos
que,
só
assim,poderemos
efetivamente entendera
multiplicidadede
aspectosda
atividade inovadora inerentes à práticada
avaliação,no
âmbitoda
escola.É
nesse
contexto,que se
situanossa
investigação, a qualapresentamos
em
três capítulos:No
primeiro capítulo,abordam-se as
questões teóricas pertinentesao
objetode
pesquisa, a saber: a avaliaçãoe seus
contextos e representaçõespedagógicas
à luzdas
teorias psicológicas.Elucidamos
a trajetóriada
práticaavaliativa
em
detemiinados períodosda
históriada educação
escolar.Posteriormente,
enfocamos
a teoria histórico-culturalcomo
suporteda
investigação.
Procuramos
expornossa
compreensão
dos
pressupostos ealguns conceitos desta teoria,
com
ênfaseaos
conceitos de: aprendizagem,desenvolvimento
das
funções psíquicas superiores, interação,mediação
instrumental e social
e a zona de
desenvolvimento proximal. Esta é entendidacomo
constituidorade
um
constante “devir”das novas
formasde pensamento
econseqüentes
reelaboraçõesem
nível superiordas
funções psíquicas.Por fim,
apresentamos
a avaliaçãono enfoque da
teoria histórico- cultural,com
o
intuitode
discutir práticas existentes e possibilidades15
inovadoras,
capazes
de
anunciarmudanças,
melhorias e qualidadesno
processo ensino-aprendizagem.No
segundo
capítulo,apresentamos
o
caminho
metodológico realizadonesta pesquisa.
Anunciamos
o
processode
reflexão pelo tipode
pesquisa; caracterizamosa
realidadee os
sujeitos pesquisados.Também,
descrevemos o
percursoda
pesquisa,com
o
objetivode
explicitar a importânciados
sujeitosque
contribuiram para a realização deste estudo.No
terceiro capítulo, analisamose
discutimosos dados
coletados pormeio das
entrevistas, análisede
documentos
eobservações
em
salasde
aula.A
busca dos dados
articulados à teoriaque dá
suportea
esta investigação,proporcionou
ao
investigador explicitara
relação teórico-práticae
a coerência entreambas.
Na
análise, evidenciou-se incertezas, conflitos, contradições, expectativase
vontadesde
acertar,em
relação à questões voltadasà
práticada
avaliação.Finalmente,
nas Considerações
Finais explicitamosas
questõesmais
relevantes desenvolvidasno
trabalho. Aqui,nossa preocupação
foi contribuircom
a prática avaliativa docente e,em
especial,com
a prática avaliativado
colégio pesquisado.
Também,
propomos
sugestões, as quais acreditamospossam,
de
forma
tímida, suscitar, instigare
aflorarnovas
reflexões.Pensamos
que,os
professorescompreenderem
a avaliaçãocomo
um
processode
constante constituiçãode
zona de
desenvolvimento proximal,estarão
atuando e
intervindono espaço de
possibilidades concretas. Este éo
espaço
onde
o
processode
apropriaçãodo conhecimento
ocorre efetivamente, contribuindo parao
desenvolvimentodas formas
de pensamento
superior.Acreditamos que,
assim pensando e
agindo,a
práticado
professor, a dinâmicana
salade
aula e,em
conseqüência, a avaliaçãodo
processo ensino-aprendizagem
terãoum
novo
significado.//Na prática esta avaliação se traduziriapor diferentes metodologias utilizadas, para
a retomada de
um
conceito aindaA
avaliação,ao
longodos
tempos,tem
sido parte efetivada
experiênciade
vidados homens.
Ela faz partede
um
processode
análise constante sobre os procedimentoshumanos.
Podemos
dizer, então,que
a
avaliação se manifesta pormeio de duas
dimensões: Primeiramente,de forma
maisampla
no
contextoda educação
informalno
próprio processode
vidado
indivíduo.Num
segundo
momento,
agregamos
os
procedimentos formaisde
avaliaçãoexecutados
no
âmbitoda
escola. Estes procedimentos,embasados
em
concepções de
ensinoe
aprendizagem,vêm
sendo
discutidose
rediscutidosnas
literaturasna
áreada
educação.No
Brasil,essa
reflexãovem
acontecendo
com
maior intensidadenas
últimas quatro décadas.Porém, os estudos realizados,
têm se
voltado praticamente paraos
modelos
descritivosdo
processode
ensino-aprendizagem,em
detrimentode
investigaçõesque
direcionadasã
práticapedagógica
são
sustentadasem
modelos
explicativosde “como”
o indivíduopromove
sua aprendizagem e
desenvolvesuas
funções psíquicas superiores.Neste capítulo, analisamos
o
contexto teóricoda
avaliaçãono
processode
ensino-aprendizagem esuas
representaçõespedagógicas no
âmbitoda
educação
escolar.Estudamos,
discutimos edesvelamos
alguns conceitos e pressupostosdas
teorias psicológicasque
dão
suporteàs
representaçõespedagógicas
e às concepções de
avaliaçãoadotadas nas
escolas. Ainda, neste capítulo,nos
deteremos,em
especial,na
discussãoe na
compreensão
dos
pressupostosda
teoria Histórico-Cultural. Desta, priorizamos os seguintes conceitos: aprendizagem, desenvolvimentoe
processos interacionais.O
17
capitulo está dividido
em
duas
seções: 1) avaliação: contextose
representações
pedagógicas á
luzdas
teorias psicológicas e nestaem
subseções: Inatismo, Ambientalismoe
Construtivismo. 2)a
teoria histórico- culturalcomo
suporteda
investigação. Esta está subdivididaem: o
processode
aprendizagem
e desenvolvimentona
perspectivada
teoria histórico-cultural; os processos interacionaisno
desenvolvimentodas
funções psíquicas superiores;a
mediação
instrumentaldo
saber:o
papeldo
objeto;a
relevânciado
símboloe
do
signocomo
mediador do
saber;a
zona de
desenvolvimento proximal(ZDP)
e a
reesignificaçãodo
saber; amediação
socialdo
saber: o papeldo
professor.Finalmente,
fazemos
um
estudodo
processode
avaliaçãodo
ensino- aprendizagem,buscando compreender seus
efeitose
possibilidadesà
luzdo
referencial teórico
que
dá
suporte aessa
investigação, isto é, a teoria histórico -cultural.
Esses
estudosse
fizeram
necessários paraque pudéssemos
nos
apropriarde
novos conhecimentos e
vislumbrar outras possibilidades,na
áreada
avaliaçãoda
aprendizagem,mesmo
conhecedores da complexidade do
tema.2.1. Avaliação:
Contextos
E
Representações Pedagógicas
À
Luz
Das
TeoriasPsicológicas
“Todas as
teoriassão
legítimase
nenhuma
tem
importância' o
que
importa é oque
com
elas se faz”.Jorge Luiz
Borges
De
certa forma, todoo
pensare
agirhumano
estão atrelados àconcepções mais amplas
de
perceberas
relaçõesdo
homem
no
e
com
o
mundo. Essas concepçoes são
oriundasde
teorias construídasno
cursoda
históriada
humanidade,
num
determinadomomento
históricoe
cultural.De
maneira mais restrita,no
âmbitoda
escola, o processo ensinoaprendizagem
também
é
permeado
porconcepções e
principios, (crenças e valores)que
implícitaou
explicitamentese manifestam na
prática pedagógicado
professor.A
essa
prática, norteada poruma
determinadaconcepção de
ensino - aprendizagem, se
agrega
aconcepção
de
avaliação escolar adotadapelo professor.
Assim
sendo,podemos
inferirque
as ações
avaliativas realizadas pelo professorque
integram objetivos etomadas de
decisões,não são
neutras, poisconstam de
uma
concepção
de
mundo, de
sociedadee
de
homem.
Esta concepção,de forma
diretaou
indireta, explícitaou
implicitamente interferecom
a
subjetividadedo
pensarhumano, na
estruturapedagógica
e
em
conseqüência
na
prática avaliativado
processode
ensino-aprendizagem. Issonos
levaa
uma
análise
mais
atentados
pressupostos psicológicos epedagógicos
que
norteiame
dão
suporte aação
educativa escolar. Faz-se misterconhecer
as diferentesteorias
e enfoques da dimensão
psicológicado
conhecimento
para termoscondições
de
discutire
analisaro
processode
avaliaçãoda aprendizagem
que
se
praticana
escola.ç
Atualmente,
o
modelo
avaliativo seguidonos espaços
escolares, subsidia ade
decisõesa
posterioridas
avaliações realizadas pelo professor.Essa
tomada
de
decisão, na maioriadas
vezes, significaapenas
a atribuiçãode
notas
ou
conceitosrepassados
paraos
diários e boletinsnum
processo estáticoe
imutável.Ao
aluno ou,aos
paiscabe
somente
acomunicação dos
resultados.Essa
práticacontrapõem-se
à possibilidadede
uma
ação pedagógica
cujos pressupostosapontam
paraum
redimensionamento da
avaliaçãodo
processo ensinoaprendizagem
que
orientauma
avaliação interativa, mediada, dinâmicae
processual. Nesta prática
de
avaliaçãonão há
dicotomia efragmentação
entreo
processo ensino-aprendizageme o
processo avaliativo.Ambos
se
integramnum
movimento
constantede
dialeticidade.Com
este propósitobuscamos
compreender as
teoriasde aprendizagem
à luzdas
correntes psicológicas, a saber:o
inatismo, o ambientalismo,o
construtivismo piagetiano eo
interacionismo.Nessa
leiturademos
ênfaseao
19
humana,
o processode
conhecimento,aprendizagem
e desenvolvimento e,de
maneira mais especifica, a avaliação
do
processo ensino-aprendizagem.Num
segundo
momento, nos
propomos
a analisare
discutir a avaliação,suas
representaçõese concepções no
processo ensino-aprendizagem,na
perspectivada
teoria histórico-cultural,da
qualse
origina a correntepedagógica
interacionista.Os
pressupostosda
teoria histórico-cultural, portanto, estarão norteando toda a discussãoda
avaliaçãodo
processo ensino-aprendizagem, por acreditarmosna
consistênciade
seus
fundamentos,bem
como, na
compreensão
que
esta teoriapossa
dar suporte paraum
redimencionamento
da
prática avaliativa
no
contextoda educação
escolar.2.1.1.
O
Inatismo
O
inatismo,segundo
Davis&
Oliveira (1990), sefundamenta
em
uma
concepção de
homem
oriundada
filosofia racionalista e idealista.O
racionalismo, pauta-se
na
crençade que
o
únicomodo
de se conhecer é
viarazão,
uma
vez
que
estaé
inata, imutável,e
igualem
todos oshomens.
O
idealismo, por
sua
vez, considerao
realcomo
frutodas
idéias;o
real habita omundo
das
idéias.Essa
corrente confereaos
fatores maturacionais' ehereditáriosz maior valor
no
desenvolvimentoda
criançado
que os
aspectosde
aprendizagem
e
de
experiências.O
serhumano
é entendidocomo
um
sujeitofechado
em
simesmo,
que
já
nasce
pronto,com
potencialidadese
com
aptidões definidasque
serão desenvolvidosconforme
o amadurecimento3
biológico.As
diferenças individuaissão
explicadas geneticamente.A
expressão
“pauque
nasce
torto,morre
torto",emerge
da
crençaque
os
fatores inatose
hereditáriospossuem
maior1 Maturaçäo refere-se
a um padrão de mudanças comum a todos os membros de determinada espécie,
que se veñfica durante a vida de cada indivíduo.
2 Hereditariedade pode ser entendida como um conjunto de qualidades ou caracteristicas que estão
fixados na criança ,já ao nascimento.
3
O
termo "amadurecimento, deriva da palavra maduro.A
palavra maduro, por sua vez, é derivado da biologia (Ciências Naturais).relevância
na
determinaçãodas
aptidões individuais,do
que
os processossócio-históricos e educacionais.
Para os inatistas, o indivíduo,
uma
vez
que
jánasce
pronto e pré -determinado,
é
dotadode
dons
justificáveis “d¡vinamente”.A
origemdo
homem
explicada pela graça divina,é
uma
formade
não
questionar a existênciahumana.
Assim,no
decorrerde seu
desenvolvimento o-homem
só
iráaperfeiçoar
o conhecimento que
lhe foidado
peloSer
Supremo.
Nesse
viés, oser
humano
não
é passívelde mudança, não
interfere enem
sofre influênciado
social.Na
verdade, amudança
não é
importante,uma
vez
que
tudo já está pré-determinado, feito, acabado, inclusive
sua
personalidade, valores, crenças,hábitos,
emoções, pensamento, conduta
social (Proposta Curricular -SC.
(1988).
Assim
sendo,os
fatores internospreponderam
sobreos
fatoresexternos
do
ambiente.Neste
sentido,o ambiente não
influenciae
nem
determinaas
características individuais,mas
reconhece
a hereditariedadecomo
definidorado
processode
aquisiçãodo conhecimento e
como
elemento
constitutivo
do
serhumano. “Nessa
ótica,o
desenvolvimentoé
pré - requisitopara a aprendizagem,
porque
já possuiem
si,o
conhecimento, oprograma
pronto,
conforme
nos
informaRego”
(1992, p. 109).Becker
(1993, p. 90), aesse
respeito enfatiza que: “(...)se
conhece
porque
já se traz algo,ou
inatoou
programado
na
bagagem
hereditária, paraamadurecer
mais
tarde,em
etapas prevístas“. Assim, o serhumano,
tidocomo
biologicamente detenninado, vivenum
mundo
hannônico,sem
conflitos, pois todospossuem
papéisbem
definidos socialmente.Há
uma
valorização maiordo
individual,que
prepondera sobre o social.O
senso
de
coletividade praticamentenão
existe,dando
lugarao senso
de
competitividade,de
individualidade,na
ação humana.
O
conceitode
desenvolvimento parao
inatismose
baseia naconcepção
de que
aprender,nada mais é
do
que
aprimorar, aperfeiçoar oque
jáé
inatoem
busca do
vir - a - ser.Há
mais
ênfaseno
desenvolvimentodo que na
aprendizagem.
A
aprendizagem
depende do
desenvolvimento.A
concepção de
que
o conhecimento é
inatono
indivíduo, atribuiuma
21
mentais superiores, pois
as capacidades do
indivíduo estão diretamente ligadasàs
condições inatas. Issoproduz
um
descrédito e resistênciano
papelda
educação
escolar, frutoda
convicçãode
que
amesma
não
dará contadas
diferenças existentes.
Como
a escolanão pode
intervirno
processode
desenvolvimentodo
aluno,
seu
papel 'e o trabalho do' professoré
facilitaressas
manifestaçõesinatas,
não
atuando diretamente,mas
deixando
que
fluam
naturalmente.Quanto
menos
intervir,mais
a
criatividadee a
espontaneidadedo
aluno desabrochará. Isso se legitima,na
medida
em
que
a concepção
inatista descarta as possibilidadesde
construçãodo conhecimento e
atribuem àinteligência as caracteristicas inatas, genéticas, hereditárias
e
atémesmo
“divinas”.
Esse
tipode
crençanos
levaa
concluirque
a educação não
dá
conta,não desafia e não
subsidiao
desenvolvimentodo
individuo, poissuas ações
selimitam àquilo
que
já conquistouou
já possui.Por
isso,os
pressupostosda
concepção
inatista,propõem
práticas pedagógicas,nada
instigantes e desafiadoras, poissubestimam a capacidade
intelectualda
criança.“Essa
concepção,
tem
atribuídounicamente ao
aluno,os
frutosde
seudesempenho,
aptidão,
dom
ou
maturidade,os
méritos porseus sucessos e
insucessos ”(Rego, 1995, p.87 ).
Como
conseqüência a
escolase
exime
de
sua
responsabilidade
de
intervire
de
contribuirno
processode
desenvolvimentodo
aluno.
Com
isso, geraum
ser estáticoe
resignado,em
que
as
diferençassão
aceitas passivamente, pois elas
não
podem
ser superadas,uma
vez
que
omeio
indivíduo.
Nesse
contexto, a avaliação escolarse
insere e se materializa pormeio
de
uma
práticaimpregnada desses
valorese busca
verificaro
que
o
aluno jásabe.
A
avaliaçãose
caracteriza pelaobservação das
habilidadese
aptidões existentesno
aluno,nem
sempre
perceptíveis pelo sujeito avaliador.A
escolatambém
utilizou durante muitotempo
os
testesde
QI, inteligência e prontidão,buscando
identificaras
“potencialidadesdos
alunos”.Buscava-se
justificar“cientificamente"
o sucesso ou
fracasso escolardos
mesmos.
Parece
naturalque
tenhamos
também
a
avaliaçãono
processo ensino -aprendizagem
sustentadano
pressupostoda
medida.A
teseé
de
que
a avaliação possuium
papelbem
explícito: ade
revelaras
“potencialidades”do
alunoe o seu
graude
desenvolvimento.Com
a finalidadede
detectarcom
maior exatidãoo
nívelde
desenvolvimentodo
indivíduo, surgeno
inicio deste século estudosdo
pesquisador
e
psicólogo francês Alfred Binet.Sua
preocupação
maiorse
voltapara
as
diferenças individuaise
para as criançascom
deficiência mentale se
propõe
a desenvolver testes4 para medir a inteligências.Para Binet,
a capacidade de
julgar,compreender e
raciocinarnão
podem
ser apreendidas, pois
são
biológicamente determinadas.Nesse
viés, ainteligência
é compreendida
como
um
atributo determinado pelahereditariedade,
podendo
variarde pessoa
para pessoa.Em
1905,com
a
colaboraçãode Theodore
Simon, Binet publicou a primeira escala para medir a inteligência.Essa
escalaficou
conhecidacomo
a escola Binet - Simon.No
Brasilseus
estudose
testes foram introduzidosem
1916.
2.1.2.
O
Ambientalismo
A
concepção
ambientalista,também
denominada
de
4 A palavra “teste” para Binet refere-se a um instrumento utilizado para a avaliação psicológica.
5
23
comportamentalista, associacionista
ou
Behaviorista (Rego, 1995), se pautanos fundamentos
filosóficosdo
empirismos, cujo pressuposto já era sustentadopor Aristóteles
que
afirmou: tudoque
estána
inteligência, necessariamentetem
que
terpassado
pelos sentidos aprioristicamente.De
acordocom
os
ambientalistas,o
homem
ao
nascer,é
consideradocomo
uma
“tábula rasa"7,onde
são
registradosos conhecimentos
passados
pelo meio. Neste sentido,há
uma
supervalorizaçãodo meio
em
detrimentodo
sujeitoque
aprende.O
conhecimento
não é
construído,mas
transmitidode
alguém que sabe
paraalguém que não
sabe.O
sujeitoé
passivo, condicionadoe
treinado parase
ajustaraos padrões
sociais.A
concepção
ambientalistaconcebe o ambiente
como
detentorde
um
grande
poderde
interferênciano
desenvolvimentohumano.
Consideraque
todos os elementos
dos
sentidossão
responsáveis pelo conhecimento.O
papeldo
ambienteé
muitomais
importanteque
a maturação
biológica.Os
estímulos presentesnuma
dada
situaçãoproduzem o
aparecimentode
um
determinadocomportamento.
A
manipulação dos elementos
presentesno ambiente
(estímulos) permite controlar ocomportamento do
indivíduo (respostas).A
respeitodessa
concepção de
homem
(Watson,apud
Goulart, 1987, p.35) afirma:
H
“Dêem-me
meia dúzia de crianças saudáveis,bem
formadas e omundo
que
eu especificar para criá-las e garanto poder tomar qualquer
uma
ao acaso etreiná-Ia para ser o especialista
que
se escolher, médico, advogado, artista,gerente comercial e até
mesmo
mendigo ou ladrão, independente de seus talentos, inclinações, tendências, habilidades, vocações e da raça de seusancestrais”
Para
os
ambientalistas,um
conhecimento é
obtidosomente
pormeio da
observação dos
fatos.Rego
(1992), analisandoessa
vertente dizque o
conhecimento
humano
só é
possível, pormeio da
experiência,do
observável,do
experimentável,e não
pormeio
de
especulações. Assim,a
experiência é considerada fontedo conhecimento
edo comportamento.
“Alicerçadanesse
6 De acordo com Rego
(1995), os representantes da filosofia empirista foram os ingleses Francis Bacon
(1561-1626, Tomás Hobbes (1578-1679, John Locke (1632-1704), George Berkeley (1685-1753), David
Hume (1711-1776) e o francês Augusto Connte (1798-1857).
7 Termo utilizado pela concepção ambientalista para designar, “folha em branco”, ou seja, destituído de
pressuposto é
que
se postulavaque
toda cn'ança devia ser treinada a partirde
recompensas
e punições, (p. 121) “_Quando
a escolapercebe
que
pormeio dos dons e
aptidões,ou
seja,que os
fatores hereditáriose
de
maturação não dão
contade
explicar o desenvolvimentodo
aluno, volta-se para a ideologiado
déficit cultural.Assim
sendo, atribuio seu sucesso ou
insucessonao
maisaos dons
e aptidõesnaturais,
mas
às condiçõesde
vidada
criança,ou
seja,o meio
que
elase
origina.
Esse meio
legitimae é
responsável pelaaprendizagem da
criançana
escola.
Pressupõe
que a não aprendizagem é
provenientedas
más
condições edo
ambiente
desfavorávelao
seu
desenvolvimento.Dessa
premissa,ao
nosso
ver, legitima a tesede que
a
criança pobrenão aprende ou aprende na
proporçãoda
qualidadede
vida culturalque
ela tiver.O
ambientalismofundamenta-se
em
pressupostos psicológicos,de
Skinner. Ele desenvolveu pesquisas
com
animaisem
laboratório, utilizandoo
condicionamento (estímulo - resposta - reforço) para prever
e
controlaro
comportamento.
Skinnerargumenta
que
é
possível condicionaro
comportamento dos
animaiso
mesmo
ocorrecom
oshomens.
Para ele,o
papeldo
ambiente é
muitomais
importantedo
que
a maturação, poisos
estímulos presentesnuma
determinada situaçãoprovocam o
aparecimentode
um
dado
comportamento.
Skinner divulga
uma
concepção
mecanicistade
ciências.Propõe
a construçãode
uma
ciênciado comportamento
estritamente empíricaa.Os
pressupostos ambientalistas, transladados parao chão da
escola,consideram
aaprendizagem
como
um
processo pelo qualo
comportamento
émodificado
como
resultadoda
experiência. Assim, paraque
aaprendizagem
aconteça,ê
necessárioque
ocorram
associações entre estímulose
respostas,e
entreuma
resposta eum
reforçador.Na
perspectivada
abordagem
inatistaprevalecem
os fatores hereditáriose
maturacionais. Já na perspectivada abordagem
ambientalista a ênfase é paraos
fatores extemos, ambientais.Dessa
fomwa,o
objetoé
que
detemwina osujeito,
exercendo
poder absolutono comportamento do
indivíduo. Nesta ótica,25
o indivíduo
é
tidocomo
um
ser passivo frenteas
pressõesdo
meio, portanto,sujeito à manipulações,
ao
controle eao
molde.Não
é capaz de
interferirno
meio, transformando-o
e
transformando-se, reproduzindoapenas
o
que
já estáposto.
Para
os ambientalistas,na educação
formal, o alunoé
consideradoum
recipiente vazio. Atribuem
grande
valoraos
métodos
que,segundo
eles,garantem
a eficiênciada
aprendizagem.Dessa
forma,um
grande
número
de
informaçõespodem
ser repassadas, enfatizadas pelosmétodos que
preponderam
sobreos
conteúdos.A
metodologiase
sustenta pormeio
de
cópias,
da
repetição, associaçãode
idéiase na
técnicade
instruçãoprogramada. Privilegia
o
trabalho individual, a concentraçãoe
a disciplina.A
observânciadesses
fatores é a garantiada
aprendizagem.A
funçãoda
escola é a preparação morale
amudança
do comportamento do
indivíduo, para exercerum
papel “a priori”na
sociedade. \ñstosob
este ângulo,o
alunopassa
a ser considerado
um
boneco
que
responde
a estímulos extemos.Não
considera as
dimensões
histórico - culturaisdo
serhumano
e sua
reflexãosobre o meio.
Os
professoresagem como
repassadoresde
informações,executando
tarefasque
já estão pré determinadas.Do
professor écobrado
o
planode
ensino,com
os
objetivos claros, precisose
mensuráveis.Os
conteúdos não
precisam ter relaçãocom
o
cotidiano,com
a experiênciade
vidado
aluno.`
De
acordocom
Rego
(1992, p. 132):“(...) há predominância da palavra do professor, das regras impostas e da
transmissão do conhecimento. (...)
Na
Pedagogiaque
superdimensiona acultura geral
que
deve ser transmitida, oeducando
assume
posição secundária emarcadamente
passiva, devido a sua imaturidade e inexperiência.Cabe
ao aluno apenas executar prescrições que lhe são fixadaspor autoridades exteriores a ele”.
A
práticapedagógica
sustentadanos
pressupostosda concepção
ambientalista
tem
como
ponto forteo
modelo de
aula sustentada pelas técnicasde
ensino, enfatizandoos
exercíciosde
repetição, afixação e as
cópias.disciplina.
Não
considerao
processode
interação, a trocade
experiências, as relações entre os pares. Verifica-se, pois,uma
ação mecânica
presentena
prática pedagógica. Esta
ação
manifestanas
escolas atualmenteé
oriundada
formação acadêmica e
de
cursosde
capacitação docente,em
que a
preocupação
está voltadamais
paraos
aspectos práticos, sustentados pormodelos que
direcionamas
atividades docentes,em
detrimentoda dimensão
teórica.Não
estamos
aqui privilegiandouma
ou
outra dimensão, seja ela práticaou
teórica. Acreditamosque
ambas
possuem
papéis importantese
que, práticae
teoria, sópossuem
significadosecaminharem
numa
relação dialética.Percebe-se
que
ambas
as
correntes, tanto a inatistacomo
aambientalista,
mesmo
tendo diferençasem
seus
pressupostos psicológicos,acabam
convergindo parauma
mesma
prática pedagógica: “o espontaneísmo". Sejade
origem inataou
adquirida,ambas
contém na sua gênese
um
pré -determinismo.
Sobre
esta ótica,o
processo educativofica
inerte edescompromissado
de
exercerseu
fundamental papelque
é
de
oportunizar situações desafiadoras,capazes de
contribuir paraque o
aluno construa oseu
conhecimento.Não
dizemos
com
issoque o
âmbito escolar éo
único lugaronde
a construçãodo conhecimento possa
acontecer,mas
sem
dúvida alguma,é
um
espaço
reale
concreto para possíveis intervenções, consolidaçãoe
construçãodo
conhecimento.A
concepção da
avaliação escolar,na
perspectiva ambientalista, surgepor volta
de
1905,com
as
idéiasdo
sociólogoamericano
RobertThomdike,
que
enfatizava a “medida
da
mudança
de
comportamento”,uma
vez
que
o
homem
era tidocomo
produtodo
meio
e, esteo
detemwinava.Essa concepção
permeou
todo
o
trabalho bibliográficoda
época, cujo eixo centraldos
estudos se pautavanos
testesg utilizados para mediro
progressodo
aluno,em
relação aaprendizagem
escolar. Assim, durante muito tempo, avaliar se traduziuem
testar a
flm
de
mediro
progresso obtido pelos alunos. “Estes testes tinhamcomo
base os
objetivos definídos a priori”, dizAbramowicz
(1996, p. 20).Porém,
com
o
passardo
tempo,essa concepção
foi se modificando.O
aluno deixou
de
ser visto, teoricamente (grifo nosso)como
um
recipientede
27
informações e,
passou
a ser olhadocomo
um
indivíduocom
outrascaracterísticas,
capaz
de
expectativas, atitudes, opiniões, posicionamentos,críticas, interesses, vontades.
Dessa
formaa
avaliação,somente
pormeio
de
testes, foi
dando
lugarà
formasmais
amplas de conceber
o alunoe
conseqüentemente
àsnovas
propostas avaliativas. Estasnovas
propostas implicavamem
novos
“procedimentos avaliativos”1° . Até então, tinha-se a idéiade que
esses
instrumentos garantiriam aforma mais eficaz
de
detectar seos
objetivos curriculares
estavam sendo
alcançadosou
não.Tais propostas, surgiram a partir
de
anos de
estudos elaborados porTyler e Smith,
conforme
Abromawicz
(1996, p. 20). “Tyler foium
dos
precursores a estudar claramente
os
objetivos educacionaiscomo
comportamento
manifestodo
aluno. (...)Nesse
sentido, Tylerpropôs
uma
avaliação
da aprendizagem
que
se
insereno
contextode
elaboraçãodo
currículo, cujo controledo
planejamento é a tônica principal”.Na
perspectiva tecnicista,os
objetivoseram
bem
definidose
pré -estabelecidos.
Com
isso, era possível controlaro
planejamento e,conseqüentemente o comportamento
final desejado.Assim
sendo,a medida
erao
referencialdo
controle.Por
este controle Tyler acreditavana
possibilidadede
melhorar
o
ensino, pois seria possivel detectaros
avanços ou
insuficiênciasna
aprendizagem.A
avaliação atuacomo
meio
de
informar o professor eo
aluno sobre o rendimento escolare
apontar asmedidas
necessárias para retomá-lanum
outromomento.
1Essa
retomada, porém,não se
constitui pelabusca
do
novo,do
diferente,
de
uma
nova
reflexãoque
propicieo avanço do
aluno,mas
de
um
modelo
repetitivo, cuja crença estabelecida estánas
atividadese
provascomo
formade
garantiada
aprendizagem.A
relação conteúdo/formase
materializapor
meio da
repetição,da
cópiae da memorização.
Diferentedo
que
propõe Libâneo (1994),quando
diz que: a avaliaçãose
traduznuma
reflexão sobreo
nívelde
qualidadedo
trabalho escolar, tantodo
professorcomo
dos
alunos.Pode-se
inferirdessa
colocaçãoque
a avaliaçãodeve
acontecercom
todos ossujeitos envolvidos.
Tanto os
alunoscomo
os
professores integram omomento
*° Escalas de