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03 Custos da transação

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PRINCÍPIOS DA TEORIA DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO1

Victor Prochnik2, Setembro de 2018

1 INTRODUÇÃO ... 2

2 O COMPORTAMENTO DOS AGENTES ECONÔMICOS ... 3

3 AS TRANSAÇÕES ECONÔMICAS ... 4

4 ATRIBUTOS DA TRANSAÇÃO: ATIVOS ESPECÍFICOS DA TRANSAÇÃO ... 4

4.1 O CONCEITO DE INVESTIMENTO ESPECÍFICO ... 4

4.2 CLASSIFICAÇÃO DA ESPECIFICIDADE DOS ATIVOS ... 6

4.2.1 Ativos específicos em localização – ... 6

4.2.2 Ativos de especificidade temporal ... 6

4.2.3 Específicos em ativos físicos – ... 7

4.2.4 Específicos em ativos dedicados – ... 7

4.2.5 Específicos em marca ... 7

4.2.6 Específicos em ativos humanos ... 8

5 OS OUTROS 3ATRIBUTOS: FREQUÊNCIA, INCERTEZA E COMPLEXIDADE ... 8

5.1 FREQUÊNCIA ... 8

5.2 INCERTEZA ... 8

5.3 COMPLEXIDADE ... 9

6 OS CONTRATOS ... 9

7 AS FASES DA TRANSAÇÃO. ... 10

8 COMO MEDIR OS CUSTOS DE TRANSAÇÃO ... 11

9 A OPÇÃO ENTRE TERCEIRIZAR OU NÃO ... 13

10 UMA APLICAÇÃO DA TCT: TERCEIRIZAÇÃO DE SERVIÇOS DE TI ... 14

11 APLICAÇÃO À CONTRATAÇÃO NA CONSTRUÇÃO CIVIL ... 16

12 EXERCÍCIOS SOBRE CUSTOS DE TRANSAÇÃO ... 18

12.1 EXERCÍCIO1:CONTRATAÇÃODESERVIÇOS-POREMPREITADAOUADMINISTRAÇÃO? ... 18

12.2 EXERCÍCIO2:TERCEIRIZAÇÃODESERVIÇOSDEPROGRAMAÇÃODESOFTWARE ... 20

12.2.1 ENUNCIADO ... 20

12.2.2 PERGUNTAS ... 20

12.3 EXERCÍCIO3:DECISÃOLOCACIONALDEEMPRESAMULTINACIONAL ... 21

12.3.1 ENUNCIADO ... 21

12.3.2 PERGUNTAS ... 22

13 BIBLIOGRAFIA ... 22

14 APÊNDICE: CONCEITOS INICIAIS... 23

14.1 INSTITUIÇÕES E ORGANIZAÇÕES ... 23

14.1.1 Organizações ... 23

14.2 CUSTO DE OPORTUNIDADE ... 24

14.3 ECONOMIAS DE ESCALA ... 25

14.3.1 Definição ... 25

14.3.2 DETALHANDO AS ECONOMIAS DE ESCALA ... 27

1 Agradeço os comentários de Conrado Freitas

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1 INTRODUÇÃO

Esta apostila apresenta uma das teorias econômicas que estuda a economia dos contratos, a teoria dos custos de transação (TCT). A apostila segue a construção teórica de Oliver Williamson.

Williamson parte de hipóteses sobre o comportamento humano diferentes das hipóteses comuns da teoria neoclássica. Ele aceita que a racionalidade humana é limitada e que isto abre margem para ações oportunistas por participantes na transação.

O termo transação se refere desde a uma compra simples em um mercado ou, dentro de uma empresa, a uma passagem de um insumo de uma etapa para outra, até transações bem complexas, como a contratação da construção de uma refinaria. O termo também se aplica a transações políticas e um exemplo é um tratado internacional.

A complexidade das transações é um dos eixos sobre os quais as transações diferem entre si. Williamson estuda as características das transações com o objetivo de verificar quando elas são mais propícias a ações oportunistas dos agentes envolvidos, isto é, quando um ou mais agentes procuram tirar proveito em causa própria, com dolo para os demais agentes

Os custos das transações estão associados ao custo de evitar os prejuízos causados pelo potencial oportunismo dos agentes. Os custos de transação relevantes são aqueles que advêm do fato de que os direitos de propriedade são incompletos. Direitos de propriedade podem ser definidos como “a habilidade de se exercer livremente uma escolha sobre um bem ou serviço” – Allen (1998). Mas, se um agente não cumpre um contrato, ele fere a habilidade do outro no exercício livre de escolha sobre o bem ou serviço. Ele, portanto, afeta os direitos de propriedade da outra parte. O roubo é uma forma pela qual o direito de propriedade é afetado.

Como os direitos de propriedade são incompletos, os agentes tem interesse em proteger estes direitos. Eles protegem direitos de propriedade ao colocar fechaduras nas portas, contratar advogados, escrever contratos minuciosos, fiscaliza e fazer auditorias etc.. Os custos dessas atividades são custos da transação. Assim, pode-se definir custos de transação: DEFINIÇÃO: “custos de transação são os custos de estabelecer e manter direitos de propriedade.” – Allen (1998)

Dado o problema da possibilidade efetiva de ações oportunistas e a variedade de situações em que ele pode ocorrer, Williansom pesquisa as formas de governança capazes de minimizar os efeitos das ações oportunistas. Enquanto Douglass North se interessa por instituições mais gerais, como leis e normas de comportamento, Williamsom pesquisa formas de governança mais microeconômicas, principalmente os formatos organizacionais escolhidos para conduzir as transações, entre os quais se destacam os diferentes tipos de contratos.

Assim, a teoria dos custos de transação se ocupa, primordialmente, do estudo comparativo de formas alternativas de contratação e organização e seus custos.

Sua principal conclusão é a de que “as transações, que diferem em seus atributos, são alinhadas com as formas de governança, que diferem em seus custos e competências”. Este é o foco da discussão: especificar as características da transação que se deseja analisar e buscar o melhor formato organizacional e tipo de contrato para executá-la.

Ela pode ser aplicada a um conjunto bastante amplo e diversificado de problemas. Por exemplo, a teoria dos custos de transação pode ser aplicada às relações políticas. Um tratado internacional pode ser visto como uma transação em um mercado político. De fato, o custo das transações tende a ser maior nos

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mercados políticos e, segundo os teóricos desta vertente, “os custos de transação políticos são elementos chave para compreender a governança política.”

Alguns exemplos de questões que podem ser examinadas através do uso da TCT são:

 Na contratação de um serviço, a construção de uma edificação, por exemplo, como fazer a remuneração, preço fixo ou pagamento por administração? Esta aplicação é discutida através do primeiro exercício.

 Na organização de uma empresa, que atividades devem ser terceirizadas? - uma aplicação relevante é a terceirização de serviços de tecnologia da informação, descrita no apêndice 1 e no segundo exercício prático.

 Como organizar uma empresa para servir um novo mercado no exterior, exportar ou abrir uma subsidiária? - aplicação trabalhada no terceiro exercício.

2 OCOMPORTAMENTODOSAGENTESECONÔMICOS

A TCT tem duas hipóteses sobre o comportamento dos agentes, racionalidade limitada e oportunismo. Para quem trabalha no mercado, estas hipóteses são óbvias. Mas é necessário enfatizá-las pela importância que elas têm para a TCT, é importante detalhá-las.

A teoria dos custos de transação parte do pressuposto de que os agentes econômicos têm racionalidade limitada. Neste conceito, a informação disponível é incompleta (por exemplo, o bem pode ter qualidades totalmente desconhecidas, como são a qualidade de um carro usado, o potencial de uma mina). Os agentes não conseguem captar toda a informação disponível e nem estimar as ocorrências futuras (processar corretamente a informação existente). Segundo Simon (1961, p. xxiv), citado em Williamson (1989, p. 139), “o comportamento humano é intencionalmente racional, mas apenas limitadamente chega a ser assim."

“Se a racionalidade humana fosse ilimitada, seria possível incorporar cláusulas a qualquer contrato que antecipariam qualquer circunstância ou problema futuro, fazendo com que a forma de organização das transações perdesse importância, restando apenas transações pelo mercado por intermédio de contratos exaustivos, sem a presença de empresas. Entretanto, o comportamento humano enfrenta limitações ocasionadas por fundamentos neurofisiológicos e de linguagem, que vão afetar respectivamente a capacidade humana de acumular e processar informações e de transmitir essas informações (FIANI, 2002).” – Costa (2018, xx). A mesma autora também cita Williamson (1993): “All complex contracts are unavoidably incomplete because of bounds on rationality. (p. 101,102)”

A segunda hipótese é o reconhecimento da existência do comportamento oportunista e a importância deste tipo de comportamento. O oportunismo foi definido, por Williamson (1985, pág. Xx) como “...a busca do auto-interesse com dolo.”. Um agente é oportunista ao "dar informação de forma seletiva e distorcida" - Williamson (1989, p. 139). Mesmo ferindo códigos de ética, o comportamento oportunista faz o agente enganar, blefar e ocultar, se, segundo o seu cálculo econômico particular, ele achar que vale a pena.

Note-se, como mostram as últimas palavras do parágrafo anterior, que o cálculo dos agentes sobre os efeitos do seu oportunismo leva em consideração o impacto sobre sua reputação. Um gesto ou ação oportunista não será realizado, se ele mancha a reputação do agente de forma a diminuir, excessivamente, o valor esperado dos potencias contratos futuros. Não é necessário que todos os agentes tenham a mesma inclinação por atitudes oportunistas. Basta que alguns tenham esta tendência, algumas vezes, e que não seja possível separar os que têm dos que não têm, antes da transação - Ghoshal e Moran (1996, p. 19)

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A possibilidade de ações oportunistas é um elemento importante na teoria dos custos de transação. Uma das premissas relevantes da TCT, comparando as alternativas “firma integrada X compra no mercado”, isto é, fazer uma atividade dentro da firma X comprar o produto desta atividade de um fornecedor, é a de que o oportunismo é mais bem controlado dentro da firma.

Alguns exemplos parecem corroborar esta hipótese. O receio do oportunismo é um dos fatores que explicam porque as atividades de pesquisa & desenvolvimento tendem a ser realizadas dentro da firma. Outro exemplo: na Internet, um dos obstáculos à difusão do comércio eletrônico é o possível não cumprimento de promessas de entrega de produtos e/ou respeito à informação fornecida.

3 ASTRANSAÇÕESECONÔMICAS

Para Williamson (1989, pg 142).:"... uma transação ocorre quando um bem ou serviço é transferido através de uma interface tecnologicamente separável. Um estágio de atividade termina e o outro começa." As transações podem ser internas à firma ou em um mercado, entre demandantes e ofertantes (há outras possibilidades, como transações internas a órgãos do governo ou organizações do terceiro setor, mas estas não são consideradas nesta apostila).

O termo transação também é usado como “conjunto de transações”. Por exemplo, tanto em um plano interno a uma empresa como em um contrato de longo prazo no mercado, a transação pode ser, na verdade, um conjunto de transações unitárias.

Outra classificação das transações considera transações discretas e complexas. As transações discretas são as mais simples, como a compra de um produto em uma feira ou em uma banca de revistas. Neste caso, compra é à vista, o preço é fixo, o produto pode ser examinado, tem qualidade e função conhecidas e o contrato é verbal e informal. Consequentemente, há relativamente pouca margem para incertezas sobre o bem e o resultado da transação. As possibilidades de oportunismo, por parte dos agentes, são limitadas. As transações complexas, no outro extremo, são em geral as de maior valor, requerem contratos mais minuciosos, a avaliação do bem ou serviço sendo transacionado requer a consideração de diversas dimensões, há muita incerteza sobre a transação, pois não é possível antecipar a qualidade do bem e existe grande potencial para ações oportunistas. Um exemplo é a aquisição de uma empresa. É necessário fazer avaliações econômicas e uma série de procedimentos legais, auditorias e tarefas de contabilidade. Outro exemplo é a abertura de uma operação comercial em outro país O novo mercado de negócios requer novas estratégias e atividades nas áreas de marketing, transportes, vendas e assistência técnica. Também surgem questões jurídicas e de administração de pessoal para as quais a firma tem que se preparar.

A TCT se interessa pelas transações mais próximas do polo das transações complexas, onde frequentemente surgem problemas de contratação.

4 ATRIBUTOSDATRANSAÇÃO:ATIVOSESPECÍFICOSDATRANSAÇÃO 4.1 O conceito de investimento específico

Ativos ou investimentos específicos em uma relação são gastos em ativos especializados cujo uso em outras transações não é tão apropriado. Por ser um ativo especializado, seu uso permite que a transação seja realizada com maior eficiência, do que seria se fosse usado um ativo genérico.

Por exemplo, muitas vezes, um investimento para atender um novo cliente dificilmente é recuperável pelo atendimento a um segundo cliente, se o primeiro desiste. Em uma empresa de projetos de arquitetura ou

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de engenharia, há um grande investimento no cliente, antes da assinatura do contrato – preparação de pré projetos, construção de maquetes etc. Nas licitações de grandes obras, também há custos significativos para desenvolver a proposta. Isto ocorre nas empresas de software, que têm que adaptar seus sistemas, para atender as necessidades de novos clientes.

Nas empresas de software bancário, em geral, cerca de metade dos analistas dedicam-se exclusivamente a conhecer e interpretar os processos organizacionais do cliente para os demais analistas, que vão projetar o novo sistema. O aprendizado sobre as rotinas do cliente não é útil em outros contratos e a cessação prematura de um contrato diminui o retorno deste investimento em tempo e esforço organizacional. Note-se que os ativos específicos da transação aumentam com o desenrolar da transação. Por exemplo, a dependência de um fornecedor aumenta muito a partir do momento que o fornecedor é escolhido e o contrato é assinado.

Assim, os ativos específicos a uma transação geram maior retorno ao serem usados nesta transação do que no próximo melhor uso. Se a transação não ocorrer, os agentes que investiram recebem um retorno menor, isto é, os investimentos específicos da transação são os gastos necessários para sua realização que não são recuperáveis, se a transação não for bem sucedida.

A parte que mais investe em ativos específicos tem mais a perder se a transação não se realiza. A diferença entre o retorno do ativo na transação e no seu segundo melhor uso é uma quase-renda que mede a extensão da perda possível, se a transação não ocorre. Por isto, esta parte passa a correr o risco de uma atitude oportunista da outra parte, como, por exemplo, uma proposta de renegociação que lhe seja amplamente desfavorável.

O investimento específico pode ser bilateral. Na situação de dependência bilateral, as duas partes têm incentivos para não quebrar o contrato.

As organizações recorrem a três linhas de ação, interrelacionadas, para procurar diminuir os riscos do oportunismo e o grau de incerteza inerente às transações:

1) especificação de salvaguardas nos contratos, 2) mudanças na estrutura organizacional e 3) aumento de preços.

Na exportação brasileira de calçados, a construção, pelo estado do Rio Grande do Sul, de um laboratório de controle da qualidade foi uma mudança organizacional e o seu reconhecimento, pelos agentes, como uma autoridade no controle da qualidade, é uma salvaguarda no contrato.

Outro exemplo de salvaguarda ocorre na indústria do cimento, onde o custo de uma nova fábrica, para um grupo empresarial menor ou menos experiente é cerca de quatro vezes o custo para um grupo maior ou mais experiente no setor. Este custo a mais é o preço pago pela maior garantia oferecida por um contrato turn key, ao qual usualmente recorrem as firmas menores ou menos experientes.

De fato, uma das razões para esta diferença no custo do investimento é a forma de contratação dos equipamentos necessários para a fábrica. O grupo de grande porte compra cada tipo de máquina de um fornecedor diferente. Se uma máquina quebrar, sua equipe tem competência técnica para julgar qual foi o defeito e sua causa. Um grupo menor ou mais novo neste mercado, com menor capacitação tecnológica, não tem a mesma garantia. Se uma máquina quebrar, seu fabricante pode vir a afirmar que a origem do defeito não está no seu produto mas, sim, na matéria-prima que ela está consumindo. Por exemplo, ele

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pode alegar que a(s) máquina(s) que a antecede(m), no processo de produção, opera(m) de forma imprevista. A culpa e o ônus, portanto, na opinião deste fabricante, deveriam ser imputados ao(s) fabricante(s) da(s) máquina(s), que produz(em) os insumos utilizados por ele. Os fabricantes destas outras máquinas, evidentemente, pode(m) discordar, alegando precisamente o inverso, isto é, de que a culpa é do fabricante da máquina que quebrou. A polêmica pode se arrastar indefinidamente.

Nesta, que é uma situação comum em operações complexas, o cliente tem dificuldade em fazer cumprir as garantias dadas, se não tem grande competência técnica acumulada. Por esta razão, os produtores menores ou empresas entrantes em novos mercados, muitas vezes, compram todo o equipamento de um só fabricante de bens de capital, que garante o desempenho global da fábrica vendida. O custo desta alternativa é bem superior e a qualidade inferior aos de um investimento similar de um grupo mais capaz, que compra cada máquina do seu melhor fabricante. A qualidade média dos equipamentos vendidos em bloco é inferior porque nenhum fabricante de bens de capital para a produção de cimento está na fronteira tecnológica em todos os equipamentos requeridos para a produção de cimento.

O exemplo mostra que um comprador, por receio do oportunismo dos fornecedores, recorre a uma salvaguarda, no caso a compra de um só fornecedor, isto é, pelo sistema turn key, no qual ele consegue fiscalizar o cumprimento do contrato.

Em serviços intensivos em tecnologia ocorre algo similar. Por exemplo, os serviços de telecomunicações internacionais (voz e dados) requerem o trabalho compartilhado de várias operadoras, pois nenhuma delas atua em todas as áreas. Em caso de problema nas conexões, interesse na instalação de novos serviços que requeriam adaptações por parte das operadoras etc., os grandes clientes tinham que discutir questões técnicas com várias partes, ao mesmo tempo, o que sempre gerava desentendimentos, demoras etc.. Para evitar estas dificuldades, as empresas de telecomunicações passaram a oferecer o esquema de one stop shopping, pelo qual a empresa cliente precisa falar com apenas um interlocutor, que se encarrega do resto. Esta salvaguarda diminui, consideravelmente, o custo da transação.

Tanto no caso do exportador de calçados como no caso da terceirização de redes corporativas de telecomunicações ou serviços de processamento de dados, o fornecedor ou o cliente podem, por exemplo, contratar um seguro contra o não cumprimento do contrato. Pelo menos nos dois últimos casos, serviços intensivos em tecnologia, esta salvaguarda, entretanto, é difícil de especificar e custosa de obter.

4.2 Classificação da especificidade dos ativos

Os investimentos em ativos específicos podem ser classificados nos seguintes tipos:

4.2.1 Ativos específicos em localização –

Ocorrem quando o ativo fica comprometido a um uso particular por causa da sua localização. Por exemplo, quando um investimento é realizado na proximidade das instalações da contraparte, para economizar custos de transporte ou estoques. Companhias exportadoras, por sua vez, dependem, em parte, da eficiência dos portos e sistemas de transportes próximos a suas instalações. O investimento em ferrovias é outro exemplo. A companhia Vale do Rio Doce é proprietária e gerencia a estrada de ferro que liga a mina de Carajás ao porto de São Luís do Maranhão (um caso de dependência bilateral). O risco do oportunismo de um eventual parceiro pode ter sido um motivo relevante para a não terceirização desta operação.

4.2.2 Ativos de especificidade temporal

Um exemplo são os investimentos para reduzir o tempo de entrega de um produto, cujos ativos resultantes que não seriam reusados em outros contextos. São comuns quando os ativos perecíveis, isto é, o fator de produção só é útil em um espaço curto de tempo.

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Braham e Tarziján (2013) argumentam que, na construção civil, a especificidade temporal é muito importante, porque a interdependência entre as diferentes tarefas requer sua execução no tempo programado, para o sucesso do projeto. Há tarefas que devem ser feitas em paralelo e há tarefas que dependem de tarefas anteriores. Atrasos geram custos significativos nas obras.

Para Braham e Tarziján (2013, xx), “Empresas subcontratadas, sabendo da importância de manter os prazos, podem oportunisticamente ameaçar o contratante com atrasos, para obter concessões de preço”. O receio desta ameaça é maior quando ocorrem três condições:

1) O contratante pode ser mais facilmente capturado quando os custos de mudança de fornecedor são maiores. Se há poucos fornecedores ou se o custo de terminar o contrato com um fornecedor é alto, os custos são maiores.

2) Se as condições do contrato forem enfraquecidas, em particular aquelas referentes a multas e outras penalidades que os fornecedores podem vir a incorrer em caso de descumprimento parcial ou total das suas obrigações. Por exemplo, se o contratante deseja fazer mudanças no projeto previamente aprovado, o subcontratante pode pedir um aumento exagerado de preços, pois o contratante está em sua dependência.

3) O poder de barganha do subcontratado é maior quanto maior forem os custos do atraso no qual ele ameaça incorrer. Atrasos no começo de uma obra têm maior impacto sobre os custos do que no final, pois prejudicam e desarrumam um número maior de tarefas.

Por fim, os autores afirmam que a ocorrência de apenas uma destas condições “pode não ser suficiente para produzir especificidade temporal; em vez disto, é a sua ocorrência conjunta e sinérgica que a gera.”

4.2.3 Específicos em ativos físicos –

São os investimentos em que o fator de produção só pode ser usado para um cliente/ fornecedor da firma. Um exemplo é o desenvolvimento de um software para modelar o componente a ser produzido. O exemplo tradicional é o de Williamson (1991), que cita o investimento em moldes e formas para a produção de peças metálicas por encomenda.

4.2.4 Específicos em ativos dedicados –

É uma rubrica geral, que abrange os casos não claramente classificados nas outras categorias. Segundo a mesma fonte, são “...investimentos discretos em fábricas de propósito geral que são feitos ao serviço de clientes específicos” Williamson (1991, pág. Xx). Um exemplo são os gastos com key account management. 3

4.2.5 Específicos em marca

Um exemplo são os investimentos de uma empresa licenciada em propaganda do produto da firma licenciadora. No sistema de franquias, os investimentos nas instalações dos franqueados, geralmente, seguem projetos arquitetônicos que valorizam o produto do franqueador – o McDonalds é um exemplo evidente.

3 A administração das contas chave é um conjunto de técnicas que se desenvolveu a partir da percepção, entre

muitas empresas, de que houve uma concentação das compras dos seus produtos em um número pequeno de clientes. Este fato é especialmente importante nas vendas para o comércio varejista, pois cadeias de lojas vem substituindo, progressivamente, os lojistas isolados. As compras dos clientes de maior peso passaram a contar com acompanhamento individualizado pela firma fornecedora, isto é, na linguagem da TCT, com investimentos em ativos específicos.

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4.2.6 Específicos em ativos humanos

Durante o contrato, os funcionários de uma firma adquirem, pela experiência ou por treinamento, conhecimento sobre a realização das suas tarefas internas que é precioso para a empresa. Este é um ativo específico para a firma, que pode perder com possíveis ações oportunísticas de empregados e/ou sua saída da empresa. Note-se, entretanto, que a relação é bilateral. Os funcionários, por sua vez, investem sua carreira na empresa. Se eles saem, é difícil arranjar um novo emprego e, muitas vezes, a dificuldade tende a aumentar com a idade. A resultante, portanto, pode ser variada e, em grande número de casos, desfavorável para o trabalhador.

5 OSOUTROS3ATRIBUTOS:FREQUÊNCIA,INCERTEZAECOMPLEXIDADE 5.1 Frequência

Também é importante levar em consideração a frequência com que ocorre a transação. Em transações repetidas, não apenas o custo fixo por transação é menor como, também, elas permitem o emprego de técnicas mais caras no total mas mais eficientes, capazes de diminuir o custo por unidade transacionada. Por exemplo, existem esquemas de controle da qualidade nos quais o tamanho da amostra examinada, em cada lote de componentes adquiridos, depende do resultado do exame das compras anteriores. Se a qualidade do componente é alta ou vem aumentando (isto é, a proporção de defeitos na amostra é baixa ou vem diminuindo), o tamanho da amostra diminui, simplificando a transação e diminuindo seus custos. Se a qualidade é baixa ou vem piorando, o tamanho da amostra de componentes examinada a cada compra aumenta.

O emprego deste know-how é caro e só é viável quando a transação é repetida muitas vezes ou o bem em consideração é muito valioso.

As transações frequentes, entretanto, têm outra característica, o interesse das partes em manter sua reputação, que atua em sentido contrário, isto é, diminuindo o potencial de lucro de ações oportunistas. “A reputação pode ser visualizada como a perda potencial de uma renda futura por uma das partes, caso esta venha a romper o contrato de modo oportunístico, impedindo a continuidade da transação. Portanto o desenho de salvaguardas contratuais e mesmo a sua exigência, será afetado por esta característica das transações.” Zylbersztajn (1999)

Assim, a necessidade de reputação diminui o incentivo ao oportunismo, facilitando investimentos em ativos específicos mais caros.

5.2 Incerteza

A noção de incerteza, na teoria dos custos de transação, deve ser diferida do conceito de risco probabilístico. Um experimento de risco é, por exemplo, um lançamento de uma moeda no qual, embora não se saiba o que vai ocorrer, sabe-se a probabilidade de ocorrência dos resultados.

Um experimento de incerteza, por exemplo, é a conjectura sobre que conjunto de eventos externos podem afetar um contrato de concessão pública de serviços. Mudanças não previstas na legislação, política do governo (câmbio etc.) ou novas descobertas científicas podem modificar as condições de rentabilidade de um contrato de concessão pública, mesmo que atuando de forma indireta (suponha que se comprove que o uso frequente de telefones celulares faz mal - ou bem - para a saúde dos usuários).

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Assim, incerteza sobre um evento implica, na acepção da TCT, que o agente não tem conhecimento para especificar um espaço de probabilidade e, muito menos, para associar medidas de probabilidades aos eventos deste espaço.

Sua principal consequência é a dificuldade ou, em casos extremos, a impossibilidade de escrever contratos. Em situações de alto grau de incerteza, a transação não se realiza. Note-se que, mesmo sem levar em consideração o oportunismo dos agentes, a sua racionalidade limitada, nestas condições, os leva a ser prudentes e não fazer a transação, no todo ou em parte, ou, ainda, exigir preços altos e garantias muito elevadas. As transações mais complexas, entretanto, são as que combinam incerteza com alto nível de investimento em ativos específicos.

5.3 Complexidade

A complexidade dos bens sendo transacionados aumenta a incerteza da transação e o potencial para ações oportunistas. O valor do bem é mais difícil de ser definido.

6 OSCONTRATOS

Toda transação é feita sob a vigência de um contrato. No caso das transações mais simples, o contrato é informal. Um contrato é muito mais do que a formalização de um acordo. Ele é útil para reduzir custos e riscos das operações econômicas.

Uma característica central dos contratos é a de que eles são incompletos.

Para entender melhor este ponto, primeiro define-se um CONTRATO PERFEITAMENTE COMPLETO: “Na literatura econômica, um contrato é completo quando ele diferencia entre todos os estados do mundo futuros que são relevantes e uma terceira parte, tal como um tribunal, pode verificar que o estado ocorreu, quando isto é necessário” – Eggleston, Posner e Zeckhauser (2000, p. 9).

Um contrato completo considera todas as características que uma transação pode vir a ter como, entre muitas outras, preço, quantidade, qualidade, toda sorte de condutas legais e ilegais possíveis e todo tipo de evento passível de se verificar com o bem (extravios, quebras etc.) e na natureza (guerras, terremotos etc.). Dado este leque de possibilidades, um juiz, perito ou outra pessoa deve ser capaz de verificar quais características ocorreram.

Mas se é muito caro, demorado ou inviável descrever todos os estados futuros do mundo relevantes para o contrato ou se é impossível, para uma terceira parte, verificar se um determinado estado ocorreu ou não, o contrato é incompleto. Por exemplo, a dificuldade de observar ou a complexidade da transação pode impedir sua especificação completa ou uma verificação correta da sua ocorrência, o interesse em manter a confiança pode desestimular a preparação de contratos mais detalhados etc.. NA PRÁTICA, TODOS OS CONTRATOS SÃO INCOMPLETOS, porque “é impossível pressupor todos os acontecimentos ou eventos que poderão ter lugar entre os seres humanos, em especial no futuro” (PINHEIRO; SADDI, 2005, p.117).

Não apenas os contratos não são completos como a justiça é imperfeita. A justiça é um mecanismo criado para assegurar o cumprimento do contrato. O custo e demora da justiça, entretanto, são conhecidos. Há, também, o importante aspecto da incerteza sobre os resultados e a contínua possibilidade de atitudes oportunistas. Nas transações mais significativas, a incerteza e a complexidade, associadas à transação, oferecem muitas possibilidades de argumentação jurídica e a comprovação do dano é muito mais difícil. Assim, dadas a incapacidade de se obter contratos completos e reparação judicial abrangente, os agentes se baseiam, ao máximo, “... em provisões coletivas que emanam da estrutura institucional.” Esta última joga dois papéis essenciais:

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 Primeiro, “... ela providencia um conjunto básico de regras de coordenação, liberando os agentes da necessidade de inventar, ou reinventar, todas elas dentro das suas relações contratuais.” Brusseau e Glachant (2002, p. 14). Os sistemas de normas técnicas exemplificam este ponto.  “Segundo, a estrutura institucional dá credibilidade a sanções que garantem o desempenho de

obrigações contratuais. A reputação, sistemas autoreguladores de algumas profissões e o poder de autoridades públicas de coerção e regulação todos dão suporte adicional para as partes contratantes.” Brusseau e Glachant (2002, p. 14).

Assim, a natureza dos arranjos contratuais factíveis é altamente dependente do contexto legal/social. Os arranjos dependem tanto do componente público da estrutura institucional (sistema legal e judiciário) como do componente privado (normas e regras formais e informais).

A próxima seção mostra as principais hipóteses que a TCT faz sobre o comportamento dos agentes e as seções seguintes discutem as características da transação e seus custos.

7 ASFASESDATRANSAÇÃO.

Os custos de transação também variam segundo a fase da transação. Eles podem ser classificados em anteriores e posteriores (ex-ante e ex-post) à realização da transação propriamente dita. As quatro fases da transação são;

1 Buscar um ou mais parceiros para a transação 2 Negociar, escrever e assinar o contrato. 3 Monitorar o cumprimento do contrato

4 Fazer cumprir o contrato: encontrar e implantar uma solução quando o contrato não está sendo/ não foi seguido

Nestas fases, os custos de transação são maiores quando há mais ativos específicos, menor frequência e maior complexidade da transação, conceitos que foram explicados na seção anterior. Estes conceitos são mais bem aplicados quando se leva em consideração características específicas de cada fase destas, apresentadas a seguir.

Os custos de busca abrangem o custo de encontrar e avaliar um parceiro. Além de serem mais altos para transações que envolvem maiores ativos específicos, menor frequência e maior complexidade, eles também tendem a serem maiores para os bens ou serviços feitos sob encomenda e mais baixos para bens ou serviços mais padronizados.

Os custos de contratação incluem negociar e escrever o contrato. O processo de negociação, ou barganha, é mais simples quanto mais informação houver sobre o preço mínimo (máximo) que a parte vendedora (compradora) aceita e sobre o conjunto de soluções cooperativas (as que ambas partes concordam).

A importância da assimetria de informações é vista em dois exemplos: na venda de uma casa, o vendedor tem mais informações sobre o bem do que o comprador e este, por sua vez, conhece melhor a sua situação financeira do que o vendedor. O mesmo ocorre em um processo de terceirização de serviços de informática. Em um contrato de construção, o contratado conhece melhor sua capacidade de reduzir custos e gerenciar a obra.

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Se o bem é mais simples e a transação mais direta, o custo de negociação é mais baixo. Se os direitos das partes são mais claros, ambas tendem a ser mais cooperativas. De forma simétrica, se os direitos das partes são mais ambíguos, há mais incerteza e ambas tendem a cooperar menos.

Uma negociação pode envolver mais de duas partes. Aqui atua a complexidade. Quanto maior o número de partes, mais difícil e custosa a negociação. Também interessa observar a distância (cultural e geográfica) entre as partes. Quanto maior a distância, maior o custo da etapa de negociação.

Os custos de monitoração são os custos de fiscalizar o contrato, observando seu cumprimento pelo parceiro. Este custo depende da duração do contrato, complexidade da transação e do bem sendo trocado, grau de especificidade dos ativos etc.

Por último, os custos de fazer cumprir o contrato são os custos de encontrar e implantar uma solução quando o contrato não está sendo seguido. “Estes custos são baixos quando as violações do acordo são facilmente observáveis e a administração da punição é barata.” Cooter e Ullen (1997, p 86)

Observe-se que no desenrolar das diferentes fases, vão surgindo problemas advindos de mudanças nas condições esperadas, incluindo modificações de preços. Neste contexto, os agentes reagem em um proceso de adaptação. “A adaptação pode ser de agentes autónomos, nos mercados, reagindo aos preços ou adaptação coordenada, entre atores trabalhando através de administração”.

“Adaptações de ambos os tipos são feitas em função da eficiencia. Especificamente, a escolha entre modos alternativos de governança tem o propósito principal de economizar custos de transação”

8 COMOMEDIROSCUSTOSDETRANSAÇÃO

Na prática, em cada transação, os quatro fatores mencionados (grau de especificidade dos ativos, frequência, incerteza e complexidade da transação) atuam em conjunto. A intensidade de cada um deles difere em cada fase da transação (busca, contratação, monitoração e esforço para se fazer cumprir o contrato). Os quatro fatores também diferem segundo o meio ambiente institucional (por exemplo, em alguns países há uma maior cultura de respeito a contratos do que em outros). Assim, a mensuração destes quatro fatores varia de caso para caso e é bastante difícil, quando não impossível (como no caso da incerteza). O problema da mensuração é ainda mais complexo quando se tem em conta a interdependência entre estes fatores.

Os problemas de medir os atributos que compõem os bens e serviços e definir e medir os direitos que se transferem são ainda agravados pelo fato da distribuição da informação ser, usualmente, assimétrica. A mensuração do seu custo também tem a mesma propriedade.

À dificuldade e ao custo de medir os atributos dos bens e à assimetria da distribuição da informação se misturam, como visto, as condutas oportunistas, quando os agentes subtraem, blefam ou mentem sobre a informação que possuem. Na dificuldade ou mesmo incapacidade de estimar e medir os efeitos dos eventos associados às transações e prevenir ou punir eventuais ações oportunistas, os contratos são, necessariamente, incompletos.

“Porém, a dificuldade diminui pelo fato de que os custos de transação se avaliam sempre de uma forma institucional, na qual um modo de contratação se compara com outro. Em consequência, o que importa é a diferença existente entre os custos de transação, antes que sua magnitude absoluta. Como observou Herbert Simon, a comparação de alternativas estruturais discretas pode empregar um mecanismo bastante primitivo: ‘ [...] Em geral, bastarão argumentos muito mais gerais e sensíveis para demonstrar a existência de uma desigualdade entre duas quantidades [...]’ (1978, pág. 6). A investigação empírica sobre o custo de transação não busca quase nunca a medição direta de tais custos. Pelo contrário, se trata de saber se as

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relações da organização (práticas de contratação, estruturas de governança) correspondem aos atributos das transações, como prognostica o raciocínio do custo de transação.” (Williamson, 1989, pág. 32)

A tabela abaixo pode ser útil para comparar os custos de transação de duas alternativas. A ideia é preencher a tabela de forma comparativa. Em cada célula, indicar se os custos de transação devidos à característica da transação (linha) e à fase da transação são maiores, iguais, inexistentes ou impossíveis de serem mensurados do que a alternativa correspondente.

TABELA PARA ESTIMAR OS CUSTOS DE TRANSAÇÃO. EXEMPLO: EXPORTAR UM PRODUTO (na tabela) x OPERAR UMA FÁBRICA NO EXTERIOR (alternativa a exportar)

ALTERNATIVA EXPORTAR (NESTA TABELA) VERSUS ABRIR UMA FÁBRICA NO EXTERIOR

1 PRINCIPAIS ATIVOS ESPECÍFICOS ENVOLVIDOS

Custo de transação estimado 1.1 Ativos especificos em localização - ativo

comprometido a um uso particular por causa da sua localização

Menor Exportar tem menor custo de transação, pois empresa atua no mercado de origem, que

conhece melhor. 1.2 Ativos de especificidade temporal

investimentos para reduzir o tempo de entrega de um produto

Maior – exportar demora mais para atender o mercado de outro país.

1.3 Específicos em ativos dedicados casos não claramente classificados nas outras categorias.

Menor: operação em outro país requer investimentos específicos, como adaptação às

condições locais. 1.4 Específicos em ativos físicos investimentos em

que o fator de produção só pode ser usado para um cliente/ fornecedor da firma

Menor: exportação pode ser redirecionada para mercado interno.

1.5 Específicos em marca dependência de uma

marca. Ex: franquias Depende do caso

1.6 Específicos em ativos humanos: por um lado, o conhecimento do empregado é idiossincrático e melhor usado na firma que trabalha. Por outro lado, firmas dependem do conhecimento específico dos seus empregados.

Menor: no país de origem, empresa conhece melhor as relações de trabalho, a cultura, o

sistema jurídico etc.

2 FREQUÊNCIA Menor – exportação vende menos do que

empresa no país de interesse

3 INCERTEZA Menor: empresa conhece melhor o país de

origem

4 COMPLEXIDADE Menor: operação de produzir no exterior é

mais complexa

CONCLUSÕES Menor (esta conclusão depende de hipóteses

feitas sobre a firma exportadora e a que produz no exterior, como seus tamanhos)

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9 AOPÇÃOENTRETERCEIRIZAROUNÃO

Nesta seção, os conceitos são empregados na análise de uma decisão empresarial, a opção entre produzir um novo insumo no mercado ou compra-lo no mercado. A firma opta pela alternativa de menor custo. O custo total é a soma dos custos de produção com os custos de transação.

A primeira distinção entre os dois modos de organizar a transação refere-se aos incentivos. A TCT assume que o mercado tem incentivos mais poderosos do que a firma para ser mais eficiente na produção. Um exemplo de uma transação simples mostra o centro do argumento: na contratação de um serviço de pintura, aparecem duas opções, contratar o serviço a um pintor externo ou contratar o pintor como funcionário e ordenar que este faça o serviço. No primeiro caso, o pintor está ganhando por produção e, no segundo caso, o pintor está ganhando por mês e, quando para, não perde receita. A TCT assume que o incentivo para aumento da eficiência, no primeiro caso, é maior.

A segunda distinção entre firma e mercado diz respeito à coordenação e controle da produção. A firma controla melhor as tarefas quando estas são internalizadas. Existe, portanto, menos espaço para oportunismo na escolha da opção firma, em detrimento do mercado.

Também é fácil dar exemplos sobre esta segunda distinção. Nota-se, por exemplo, que as atividades de pesquisa & desenvolvimento são realizadas, em geral, dentro da firma. Raramente elas são terceirizadas e, mesmo quando o são, a terceirização abrange, em geral, apenas atividades que requerem conhecimentos inteiramente novos para a firma (por exemplo, a contratação de uma equipe de especialistas em uma tecnologia complementar, que a firma ainda não domina).

A pesquisa & desenvolvimento é realizada internamente em parte para evitar o risco do oportunismo. Um desenvolvedor externo poderia lucrar ao revender o produto do seu trabalho, isto é, as invenções geradas, para um concorrente da firma que contratou os seus serviços.

Assim, há um conflito básico de incentivos. Na opção entre terceirizar ou realizar internamente uma determinada tarefa, o maior incentivo à eficiência é dado pela terceirização da tarefa e o maior incentivo ao controle do oportunismo é dado pela sua internalização.

A decisão de terceirizar ou não terceirizar, depende, portanto, de um balanço entre a importância destes dois incentivos.

Por exemplo: se não há risco de oportunismo, a tarefa deve ser terceirizada, para ser realizada de forma mais eficiente. Este caso ocorre nas transações em que o grau de especificidade dos ativos é muito baixo ou, para simplificar, igual a zero. Se o grau de especificidade é zero, não há espaço para o oportunismo, pois o comprador pode mudar de fornecedor sem custos.

Por isto, as empresas tendem a terceirizar tarefas como limpeza, segurança etc. Elas têm baixo grau de especificidade de ativos, os fornecedores podem ser substituídos sem grande perda para a firma. É diferente o caso de um departamento de pesquisa & desenvolvimento. Na hipótese improvável da atividade vir a ser terceirizada, a substituição da firma terceirizadora por uma concorrente não se dá sem traumas.

Esta é a essência do modelo. A terceirização ou não depende da decisão entre valorizar mais o incentivo à eficiência ou valorizar mais o risco do oportunismo. Esta decisão, por sua vez, depende do grau de especificidade dos ativos. Um baixo grau de especificidade dos ativos implica que a decisão deve favorecer o incentivo à eficiência. Um alto grau de especificidade leva à decisão contrária, não terceirizar a atividade.

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10 UMAAPLICAÇÃODATCT:TERCEIRIZAÇÃODESERVIÇOSDETI

A aplicação da TCT refere-se ao mercado de terceirização de serviços de tecnologia da informação, isto é, à contratação de uma firma para terceirizar alguns ou todos os serviços de processamento de dados e de telecomunicações da empresa cliente.

O texto abaixo faz uma resenha do assunto, sem mencionar os princípios da TCT, porque a aplicação da TCT, ao caso da terceirização de serviços de TI é o objetivo do segundo exercício, apresentado na próxima seção.

O conjunto de atividades objeto de uma terceirização é bastante variado, como mostram os exemplos seguintes, entre as muitas possibilidades alternativas: gerência da rede de telecomunicações, manutenção do sistema operacional, hardware ou software, recuperação de dados, treinamento de pessoal, criação e manutenção de sites Internet, hospedagem de sistemas, desenvolvimento, operação e manutenção de sistemas de comércio eletrônico.

A terceirização destes serviços é uma atividade econômica em rápido crescimento. Estimou-se que a receita mundial desta atividade foi de USS $ 9 bilhões, em 1990, e que, em de 2001, iria atingir US $ 121 bilhões. (Lacity e Willcocks, 1998.)´.

A transação é bastante complexa, envolvendo seis fases: na fase de ESCOPO, a empresa cliente decide a amplitude dos serviços que vão ser terceirizados. Na de AVALIAÇÃO, mede-se o desempenho atual e esperado destes serviços. A fase seguinte é a de CONTRATAÇÃO da(s) firmas terceirizadoras. Os serviços são implantados na fase de TRANSIÇÃO, ajustados durante a fase INTERMEDIÁRIA e a operação consolidada ocorre na última fase, a de MATURIDADE. - Lacity e Willcocks (2000).

Os resultados da terceirização modificam a configuração da empresa cliente, pois muitos equipamentos e uma parcela significativa dos funcionários passam para a firma contratante. Esta passa a executar uma série de tarefas antes internalizadas, requerendo uma mudança completa na forma de solicitar, acompanhar e fiscalizar os serviços oferecidos.

Os valores são bastante variáveis, podendo chegar, no Brasil, a vários milhões de reais por mês, no caso de empresas grandes e contratos abrangentes e, no exterior, a dezenas de vezes estes mesmos valores. Na medida em que os serviços prestados pela firma terceirizadora são específicos da empresa cliente, torna-se mais difícil voltar atrás ou substituir a contratada, porque muitas das tarefas requerem tempo para serem aprendidas. Nesta situação, cresce o poder da firma contratada e aumenta a possibilidade de insatisfação do cliente com os serviços prestados.

O interesse e preocupação dos clientes, nestas transações, ainda é maior por causa da dimensão financeira que estes contratos podem ter e a importância da atividades de serviços de tecnologia da informação para sua competitividade.

Mas a contratação de uma terceirizadora é, muitas vezes, vantajosa. Em pesquisas realizadas - ver resenha em Lacity e Willcocks (2000) -, em geral, as vantagens percebidas pelas empresas clientes incluem: custos menores e mais previsíveis e menor necessidade de capital para investimento, menores custos administrativos e tempo gasto na coordenação das atividades de tecnologia da informação, menor necessidade de contratar profissionais especializados, acesso a tecnologia de ponta, com menor risco tecnológico, maior flexibilidade e mudanças mais rápidas etc..

Os mesmos fatores que causam sucesso em algumas operações são a causa do fracasso em outras operações de terceirização. Entre os problemas, foram apontados, na mesma resenha: custos e riscos maiores, perda de flexibilidade, qualidade e controle, dificuldade de monitorar a firma contratada, limites ao desenvolvimento profissional do pessoal interno etc.

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Medindo o grau de satisfação de uma amostra de 162 empresas terceirizadoras, Lacity et. al (1999) encontraram que, para 43% dos respondentes, o corpo de funcionários da firma terceirizadora não era apropriado e, para 41%, existem problemas difíceis ou sérios na definição dos serviços. "No cômputo global, os consumidores deram aos fornecedores um índice de bom desempenho de 6,22 em uma escala Likert de 10 pontos (com 0 indicando desempenho pobre e 10 desempenho excelente). Assim, embora a terceirização de serviços de tecnologia da informação seja cada vez mais frequente, os resultados desta e de outras pesquisas indicam que subsistem problemas sérios na sua execução.

Além disto, os clientes têm menos experiência do que as firmas contratadas. Para tentar contornar este problema, as empresas clientes contratam especialistas para representá-las, procuram segmentar os contratos entre várias firmas terceirizadoras, preferem contratos de prazo mais curto etc.

Quando os contratos já estão em vigor, os problemas na sua interpretação são muitos. Por exemplo, se um contrato especifica que serão ofertados, nos próximos cinco anos, 10.000 horas de treinamento, fica aberta a questão sobre o que, especificamente, versa o treinamento. Note-se que tanto as necessidades da empresa cliente, como a capacidade da firma contratada e, também, o ambiente externo estão em em rápida mudança. Contratos mais detalhados são mais inflexíveis, contratos menos detalhados são mais omissos.

Um contrato de terceirização não deve ser visto apenas como um relacionamento entre as duas partes, cliente e fornecedor. Dentro das empresas, existem diferentes grupos de participantes, que podem, dependendo da fase, assumir posições cooperativas ou antagônicas - Lacity e Willcocks (2000). Uma melhor compreensão da dinâmica dos contratos de terceirização envolve analisar, conjuntamente, o sentido da participação (cooperativa ou antagônica) dos seis diferentes grupos envolvidos. Os autores mencionados identificaram seis grupos: administradores seniores da empresa cliente, administradores sênior das funções de tecnologia da informação na empresa cliente, técnicos dos serviços de tecnologia da informação na empresa cliente, usuários na empresa cliente, administrador sênior da firma fornecedora, administradores da conta do cliente na firma fornecedora, técnicos da firma fornecedora, e pessoal das empresas subcontratadas.

Os interesses desses grupos diversos não são homogêneos. Os consumidores dos serviços na empresa cliente, por exemplo, se interessam pela excelência dos serviços e, menos, pelo seu custo. Os técnicos, de ambos os lados, se caracterizam pelo entusiasmo tecnológico e, também, relativamente menos pelo seu custo. A preocupação com a rentabilidade dos serviços é o foco principal da atuação do administrador da firma ofertante. Seu interesse segundo é a satisfação do cliente.

O sucesso, em terceirização de serviços de tecnologia de informação, portanto, está longe de ser assegurado e depende de uma série de variáveis dinâmicas, isto é, de uma eficiente administração dos relacionamentos e conflitos no tempo. Lacity e Willcocks (1998) apontam os seguintes fatores gerais capazes de influir, positivamente, no sucesso da operação. "Primeiro, decisões de terceirização seletivas tiveram maiores taxas de sucesso do que de terceirização total ou de internalização total. Segundo, executivos seniores e gerentes de tecnologia da informação que tomaram decisões em conjunto tiveram taxas de sucesso maiores do que cada um desses grupos de interesse atuando sozinho. Terceiro, organizações que convidaram propostas externas e internas tiveram taxas de sucesso maiores do que organizações que meramente compararam propostas externas com custos correntes de tecnologia da informação. Quarto, contratos de curto prazo alcançaram maiores taxas de sucesso do que contratos de longo prazo. Quinto, contratos de custo por serviço detalhados obtiveram maiores taxas de sucesso do que outros tipos de contratos de custo por serviço.." (Lacity e Willcocks, 1998, p. 3)

Por último, note-se que a taxa de sucesso da terceirização vem crescendo com o passar do tempo, o que se deve a maior experiência dos agentes com a operação e, também, à entrada de firmas menores, oferecendo serviços mais simples, cujo sucesso é mais provável. Lacity e Willcocks (1998), em um grupo de 33 contratos, conforme os contratos haviam sido assinados, respectivamente, antes de 1989, entre

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1989 e 1991 e após 1991, verificaram quea taxa de sucesso passou de 40% para 85% e cresceu ainda para 90%.

Estes dados sugerem que a terceirização de serviços de tecnologias da informação vem se tornando um processo cada vez mais conhecido e seguro. Em particular, ocorreram, em muitos países, forte aprendizado coletivo e criação de um sistema de apoio a este tipo de transação (consultores, publicações, normas legais etc.).

Os mesmos resultados, entretanto, devem ser considerados com cautela, não apenas pelo pequeno tamanho da amostra como, também, pela grande heterogeneidade entre os serviços de terceirização. De fato, o grau de insucesso ainda é relativamente elevado, nas transações mais complexas, recomendando cautela e atenção, na sua contratação.

11 APLICAÇÃOÀCONTRATAÇÃONACONSTRUÇÃOCIVIL

Na contratação de uma obra, o primeiro passo, em geral, é a contratação de um projeto. O projeto é, na verdade, um conjunto de projetos integrados (arquitetura, iluminação, som, paisagismo, cálculo estrutural etc.).

O nível de detalhe também é variado. No limite, quando se está com pressa, a construção tende a ser contratada até antes que o projeto básico tenha ficado totalmente pronto. Neste caso, o detalhamento é feito logo antes da construção.

A contratação na construção civil por empresas particulares é, em geral, feita por tomada de preço, isto é, escolhe-se um número pequeno de empresas construtoras, julgadas aptas, pela sua experiência prévia, a fazer a obra. Elas recebem o projeto e preparam e entregam uma proposta. A proposta tem duas partes interligadas, a técnica e a comercial. Na parte técnica, são feitas diversas observações sobre a obra, tão mais extensas quanto menos detalhado é o projeto. A proposta comercial abrange, principalmente, o preço e a forma de pagamento.

Existem muitas formas de se contratar uma obra. As duas mais conhecidas são por empreitada e por administração. Nas obras por empreitada, o preço é fixo (PF). Nas obras por administração, a empresa contratada cobra, em geral a cada mês, os custos incorridos e uma margem de lucro (C+).

Neste último caso, a empresa cliente tem que ter maior capacidade técnica para acompanhar, com mais precisão, as atividades e os gastos efetuados pela construtora. Para evitar este aborrecimento e diminuir os seus custos, muitos clientes preferem contratos PF.

Um contrato C+ tem, em geral, uma previsão de custo total. Pode-se sofisticar o contrato, pagando-se uma comissão extra, se os custos totais ficam abaixo do total ou diminuindo a margem, se os custos totais superam os previstos.

Isto acontece na contratação da construção de navios. Fazer um navio é uma tarefa complexa e ninguém sabe se o produto vai se comportar como esperado, ou melhor, ou pior. Assim, na entrega do navio, este é colocado para andar uma distância e a uma velocidade pré-determinadas, levando uma carga padrão. Se o navio consome menos combustível do que o previsto no projeto, o construtor ganha um bônus, proporcional à economia realizada. Se ocorre o contrário, ele dá um desconto no preço final, também em função da eficiência alcançada.

Mas, segundo Bajari e Tadelis (1999), é muito difícil, na construção civil, estimar um custo alvo fair and equitable. O mesmo se dá em relação à comissão a ser paga, caso o custo final seja inferior ao previsto e o desconto no preço, caso contrário. Por isto, este costume da construção naval é bem menos empregado na construção civil.

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Os problemas nas obras de construção começam depois da contratação. Segundo Bajari e Tadelis (1999), em geral, não há evidência de que uma das partes tenha informação privilegiada antes da contratação. Mas, raros são os casos em que não ocorrem modificações na obra, em relação ao projeto, na fase posterior. “. Três tipos de problemas se destacam: 1 má adaptação do projeto às condições reais da construção, 2 características, do local ou do ambiente em torno, diferentes das esperadas] estimadas e 3 mudanças não antecipadas na regulação da construção (no prédio ou no seu entorno; a construção de uma estação do metrô nas cercanias, por exemplo, pode ser atrasada).” – Bajari e Tadelis (1999, p. 2).

Os contratos C+ são mais adaptáveis a modificações. A possibilidade de conflito é maior nos contratos PF, onde os critérios de aceitação, custeio e execução técnica de eventuais modificações não foram discutidas previamente. Por isto, em obras em que se espera a ocorrência de modificações originalmente imprevistas, os contratos C+ são mais interessantes. Em particular, este é o caso das obras que são iniciadas sem que o projeto tenha sido detalhado. Nas obras maiores e/ou mais complexas, a ocorrência de modificações também é mais provável do que nas obras menores e/ou menos complexas.

As obras mais propícias ao oportunismo são as maiores, mais complexas e aquelas em que são esperadas maiores modificações em relação ao projeto original. Por um lado, por ser mais flexível, o contrato C+ se adapta melhor a este caso. Mas, por outro lado, custa mais ao cliente administrar uma obra com contrato C+.

Uma análise suplementar da opção entre contrato PF e contrato C+ é fornecida pela Tabela 1, apresentada por Bajaris e Tadelis (1999), originada de um estudo empírico realizado por Ibbs et al (1986):

Tabela 1 Outras comparações entre contratos PF e C+ na construção civil

Tipo de contrato: PF C+

Principal alocação de risco contratado cliente

Incentivos para qualidade menores maiores

Gestão do cliente durante a obra mais simples mais complexa

Meta a minimizar custo tempo

Esforço de documentação prévia maior menor

Flexibilidade para mudança menor maior

Grau de animosidade da relação (fricções em renegociações)

maiores menores

Fonte: Ibbs et all (1986), citado em Bajaris e Tadelis (1999)

No item “meta a minimizar”, note-se que o contrato C+ permite que a construção comece antes de estarem prontos os projetos detalhados. Os demais itens já foram discutidos.

Em termos da análise de custos de transação, nas obras em que há maior incerteza, complexidade e potencial para ações oportunistas, os contratos C+ são os preferidos, por serem os mais flexíveis. Nas obras mais simples, os contratos PF são os preferidos, por serem os de administração mais barata.

Bajaris e Tadelis (1999) também fazem uma interessante associação entre os contratos C+ ou PF, por um lado, e a internalização ou terceirização de atividades, por outro lado. Para eles, os contratos C+ são aqueles em que o cliente se responsabiliza por todos os custos e, nesta medida, se assemelham à condução

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interna de atividades. Nos contratos PF, os custos correm por conta do construtor. Por isto, a contratação se parece com uma compra externa.

Os resultados do modelo de custos de transação, portanto, são válidos. Contratos C+ (internalização) são preferidos quando a obra é mais complexa, há mais incerteza e, principalmente, é maior o potencial para ações oportunistas.

12 EXERCÍCIOSSOBRECUSTOSDETRANSAÇÃO

12.1 EXERCÍCIO 1: CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS - POR EMPREITADA OU ADMINISTRAÇÃO? Uma empresa pretende contratar a construção de uma obra pequena, um galpão industrial, e a construção de uma obra grande, um grande shopping center, com um prédio de escritórios de 15 andares. O custo do galpão está avaliado em RS $ 300.000,00 e o custo do shopping center em RS $ 20.000.000,00.

A empresa está em dúvida, nos dois casos, se faz contratação por "empreitada" ou por "administração". Como se sabe, na contratação por empreitada, o preço do serviço é pré-estabelecido. Na contratação por administração, embora possa haver uma previsão anterior, o cliente paga os custos apresentados pelo fornecedor, acrescidos de uma margem de lucro.

O grupo de alunos vai sugerir um critério de contratação em cada caso. Para isto, o grupo de alunos vai analisar, comparativamente, os custos de transação das duas opções alternativas, contratação de serviços de pesquisa de mercado por "empreitada" ou por "administração".

Para realizar a análise comparativa, o grupo deve preencher as matrizes de decisão abaixo, informando, em cada linha, se o efeito é maior para o galpão ou para o shopping center. Note-se, também, que a análise e comparação dos custos de transação das duas alternativas deve ser realizada segundo dois pontos de vista diferentes, o da empresa contratante e o da empresa construtora a ser contratada.

Assim, os objetivos do trabalho são a análise comparativa e a indicação do melhor método de contratação, tanto do ponto de vista da empresa cliente quanto do ponto de vista da empresa construtora, para as duas transações mencionadas.

“Investimentos específicos em uma relação são gastos em ativos especializados cujo uso em outras transações não é tão apropriado.”

TEMPORAL “investimentos para agilizar a verificação do andamento da obra” “investimentos para reduzir o tempo de construção”

FÍSICOS “investimentos em que o fator de produção só pode ser usado para um cliente da firma.” O aparato para o acompanhamento da obra (recurso a engenheiros etc.) é maior no caso da obra por administração. Não há indicações que as construtoras sejam diferentes nos dois modos de contratação. DEDICADOS “abrange os casos não claramente classificados nas outras categorias”

RECURSOS HUMANOS “conhecimento adquirido pelos funcionários sobre a realização das suas tarefas”. É maior no caso da obra por administração. Maior no caso da obra por administração, pois a construtora precisa entender melhor o cliente.

FREQUÊNCIA frequência com que ocorre a transação Não se aplica, pois nas duas opções apenas um shopping center é construído.

INCERTEZA “conjunto de eventos internos e/ou externos que podem afetar um contrato de concessão pública de serviços”

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COMPLEXIDADE A complexidade é a mesma, pois a obra, o shopping center é o mesmo.

Tabela 2 MATRIZ DE DECISÃO PARA O CLIENTE

O EFEITO SOBRE O GALPÃO, EM COMPARAÇÃO COM O EFEITO SOBRE O SHOPPING CENTER

1 PRINCIPAIS ATIVOS ESPECÍ-FICOS ENVOLVIDOS

FASE DE BUSCA

1.1 Ativos especificos em localização - ativo comprometido a um uso particular por causa da sua localização

1.2 Ativos de especificidade temporal

investimentos para reduzir o tempo de entrega de um produto

1.3 Específicos em ativos dedicados casos não claramente classificados nas outras categorias. 1.4 Específicos em ativos físicos investimentos em que o fator de produção só pode ser usado para um cliente/ fornecedor da firma

1.5 Específicos em marca dependência de uma marca. Ex: franquias

1.6 Específicos em ativos humanos: por um lado, o conhecimento do empregado é idiossincrático e melhor usado na firma que trabalha. Por outro lado, firmas dependem do conhecimento específico dos seus empregados.

2 FREQUÊNCIA da transação 3 INCERTEZA da transação 4 COMPLEXIDADE da transação CONCLUSÃO

Tabela 3 MATRIZ DE DECISÃO PARA A CONSTRUTORA

O EFEITO SOBRE O GALPÃO, EM COMPARAÇÃO COM O EFEITO SOBRE O SHOPPING CENTER

1 PRINCIPAIS ATIVOS ESPECÍ-FICOS ENVOLVIDOS

FASE DE BUSCA

1.1 Ativos especificos em localização - ativo comprometido a um uso particular por causa da sua localização

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1.2 Ativos de especificidade temporal

investimentos para reduzir o tempo de entrega de um produto

1.3 Específicos em ativos dedicados casos não claramente classificados nas outras categorias. 1.4 Específicos em ativos físicos investimentos em que o fator de produção só pode ser usado para um cliente/ fornecedor da firma

1.5 Específicos em marca dependência de uma marca. Ex: franquias

1.6 Específicos em ativos humanos: por um lado, o conhecimento do empregado é idiossincrático e melhor usado na firma que trabalha. Por outro lado, firmas dependem do conhecimento específico dos seus empregados.

2 FREQUÊNCIA da transação 3 INCERTEZA da transação 4 COMPLEXIDADE da transação CONCLUSÃO

12.2 EXERCÍCIO 2: TERCEIRIZAÇÃO DE SERVIÇOS DE PROGRAMAÇÃO DE SOFTWARE

12.2.1 ENUNCIADO

Os custos de produção de software, nos países desenvolvidos, são relativamente altos. Uma grande empresa Canadense, que desenvolve e vende sistemas de informação complexos, analisa três opções para diminuir seus custos:

1) Não terceirizar;

2) terceirizar a programação de alguns programas, componentes dos sistemas que ela produz, para empresas brasileiras de software ou

3) terceirizar a programação de todo o sistema (o produto final)

Observe que um sistema (o produto que a empresa vende) é composto por vários programas. Alguns desempenham funções mais genéricas (entrada de dados, recuperação de dados etc.) e outros são mais específicos, isto é, indicam como funcionam partes dos sistemas. Mas só quem conhece o sistema todo tem acesso ao conjunto de segredos (especificações das tarefas) que ele encerra.

Por último, note-se que é muito mais simples e rápido fazer um programa do que um sistema. Por exemplo, a tarefa de correção de erros, neste último, é terrivelmente mais complexa, pois o número de origens potenciais de cada erro encontrado aumenta exponencialmente.

12.2.2 PERGUNTAS

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3 Que eventuais recomendações adicionais, sobre critérios a serem seguidos, nas fases de busca, contratação, monitoração e ajustamento, o grupo sugere?

12.3 EXERCÍCIO 3: DECISÃO LOCACIONAL DE EMPRESA MULTINACIONAL 12.3.1 ENUNCIADO

Uma empresa fabrica computadores para os mercados de três países. Ela quer reorganizar sua produção e o grupo de alunos consultores deve responder a algumas perguntas formuladas pela empresa, dispostas ao final deste texto. Para preparar as respostas, o grupo deve usar as informações seguintes, sobre as atividades da empresa:

A empresa produz computadores portáteis (NOTEBOOKS ou ‘N’), computadores de mesa (DESKTOPs ou ‘D’) e SERVIDORES ou ‘S’ (computadores com maior capacidade de processamento).

Todos os produtos são fabricados em duas etapas. Na primeira, são preparados e testados três grupos de componentes, MONITORES ou ‘M’ (tem o nome de visor, no caso dos notebooks), PLACA PRINCIPAL ou ‘PP”e CHASSIS E DEMAIS COMPONENTES ou ‘Ch’. Na segunda etapa, os três grupos de componentes são integrados no produto final, o software é adicionado e o produto final passa por novos testes. Por hipótese, o custo da segunda etapa é zero.

A empresa está indecisa entre três opções. Na primeira, ela fabricaria os treês produtos em cada país.

Na segunda opção, os computadores portáteis seriam feitos em um país, os computadores de mesa em um segundo país e as estações de trabalho no terceiro país. Neste caso, os mercados dos países que não fabricam cada tipo de computador seriam atendidos por importações do país que produz o computador.

Na terceira e última opção, a empresa fabricaria todos os monitores em um país, todas as placas principais em um segundo país e todos os chassis e demais componentes no terceiro país. Cada subsidiária exportaria, para as duas outras, os componentes que fabrica, para os três tipos de computadores. Cada subsidiária teria, também, uma instalação para a segunda etapa da produção, a montagem final dos três tipos de computadores. Mas esta é irrelevante para o problema em pauta, porque seus custos são desprezíveis.

A tabela abaixo apresenta os três esquemas possíveis de alocação da produção dos produtos acima mencionados pelos três países:

PAÍS A PAÍS B PAÍS C

OPÇÃO 1 N, D e S N, D e S N, D e S

OPÇÃO 2 N D S

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12.3.2 PERGUNTAS

1 a) Em que opção não há comércio internacional intrafirma (neste caso, a empresa segue o modelo de operação multinacional, isto é, opera em múltiplas subsidiárias como um espelho aproximado da matriz)?

1 b) Em que opção há comércio de produtos entre as subsidiárias? (neste caso, a empresa é chamada de transnacional, pois suas operações ‘atravessam’ os países). Neste caso, em que predomina o comércio de produtos acabados, a empresa transnacional está no grau de ‘integração rasa’ (shallow integration).

1 c) Em que opção as operações fabris são internacionalizadas? Neste caso, diz-se que a empresa transnacional é organizada segundo um esquema de integração complexa (deep integration), a fábrica é “mundial”.

2 Supondo que as preferências das populações são idênticas, classifique as três opções em termos de intensidade de economias de escala, explicando as razões para a ordem encontrada. 2 Análise dos custos de transação envolvidos:

2.1 Quais são os fatores internos à transação que podem gerar custos de transação significativos e em que opção eles são mais intensos?,

2.2 Quais são os fatores externos à transação (relativos a eventos que podem ocorrer no meio ambiente) que podem gerar custos de transação e em que opção eles são mais intensos? 2.3 Com base nas respostas anteriores, classifique as três opções em termos de custos de

transação, explicando as razões para a ordem encontrada.

2.4 Nas respostas anteriores, predominaram custos de busca, contratação, monitoração ou ajuste? 3 O texto acima assumiu, implicitamente, que os consumidores dos três países têm gostos

idênticos. O que muda, na resposta à primeira pergunta, se cada povo precisar de um tipo diferente de computador?

4 Que informações o grupo sentiu falta e para qual questão? Que hipóteses não puderam ser testadas?

13 BIBLIOGRAFIA

ALLEN Transaction Costs, Encyclopedia of Law and Economics

COOTER, R. e ULEN, T. (1997) Law & Economics, Addison-Wesley Educational Publishers Inc.,

COSTA, B. A. A. da ECONOMIA DO COMPARTILHAMENTO E ESTRUTURAS DE GOVERNANÇA HÍBRIDAS: O CASO UBER. Monografia apresentada ao curso de graduação em Economia da UFRJ, aluna matrícula nº: 112078361, orientada pelo prof. Ronaldo Fiani 2018

ORIENTADOR: Prof. Ronaldo Fiani

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