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Impressões e reflexões sobre a ocupação desigual do espaço urbano em Chapecó (SC)

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Academic year: 2021

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IMPRESSÕES E REFLEXÕES SOBRE A OCUPAÇÃO DESIGUAL DO ESPAÇO URBANO EM CHAPECÓ (SC)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura – Geografia da Universidade Federal da Fronteira Sul, como requisito para obtenção do título de Licenciada em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Ederson Nascimento

CHAPECÓ

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IMPRESSÕES E REFLEXÕES SOBRE A OCUPAÇÃO DESIGUAL DO ESPAÇO URBANO EM CHAPECÓ (SC)

Trabalho de Conclusão de Curso de graduação apresentado como requisito para obtenção de grau de licenciada em geografia da Universidade Federal da Fronteira Sul

Orientador: Prof. Dr. Ederson Nascimento

Este trabalho de conclusão de curso foi defendido e aprovado pela banca em: 03 / 03 / 2017

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________ Prof. Dr. Ederson Nascimento (orientador)

Universidade Federal da Fronteira Sul

___________________________________________ Profª Me. Ana Laura Vianna Villela

Universidade Comunitária da Região de Chapecó – UNOCHAPECÓ ___________________________________________

Prof. Dr. Marlon Brandt

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Aos meus pais:

a base de toda a minha vida.

Ao meu primo Gabriel Francisco Vassoler (in memorian).

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gratidão.

Ao Ederson Nascimento, professor, orientador e amigo, por todas as vezes que acreditou em meu trabalho e não me deixou desistir.

Aos colegas do IBGE, pelo apoio e parceria, em especial à Flávia pelo companheirismo, amizade e conselhos para a vida; e à Cristiane, sem sua ajuda não seria possível.

Aos professores do Curso de Geografia que contribuíram para que esta pesquisa fosse realizada.

E a todos àqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho.

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Cada homem vale pelo lugar onde está; o seu valor como produtor, consumidor, cidadão depende de sua localização no território. Seu valor vai mudando incessantemente, para melhor ou para pior, em função das diferenças de acessibilidade (tempo, freqüência, preço) independentes de sua própria condição. Pessoas com as mesmas virtualidades, a mesma formação, até mesmo o mesmo salário, têm valor diferente segundo o lugar em que vivem: as oportunidades não são as mesmas. Por isso, a possibilidade de ser mais ou menos cidadão depende, em larga proporção, do ponto do território onde se está (SANTOS, 1987, 81).

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isso, são analisados os principais agentes promotores do espaço responsáveis pela evolução e ocupação desigual do espaço urbano chapecoense, com base na literatura, em dados censitários e em observações in loco (trabalhos de campo e vivência cotidiana). Os apontamentos da pesquisa revelam que o capital agroindustrial representou um papel importante na constituição e na (re)produção do espaço urbano de Chapecó junto ao poder da elite local. Os resultados indicaram um padrão de ocupação desigual da malha urbana do município, de acordo com a localização das diferentes áreas. A população de extrato de renda menor está mais concentrada nas periferias da cidade, em áreas com menos infraestrutura e valorização. Já a elite concentra-se nas melhores localizações, na área central e adjacências.

Palavras-chave: Desigualdades socioespaciais. Produção do espaço urbano. Chapecó.

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Figura 2: Alterações do Perímetro Urbano (1974, 1977 e 1980) ... 30

Figura 3: Evolução da malha urbana de 1974 a 1980 ... 31

Figura 4: Chefes de família com rendimento mensal de até 2 salários mínimos em 1991 ... .34

Figura 5: Chefes de família com rendimento mensal de mais de 10 salários mínimos em 1991 ... 35

Figura 6 Chefes de família com rendimento mensal de até 2 salários mínimos em 2010 ... .36

Figura 7: Chefes de família com rendimento mensal de mais de 10 salários mínimos em 2010 ... 37

Figura 8: Localizações visitadas em trabalho de campo ... 41

Figura 9: mosaico de fotos do bairro Vila Rica ... 42

Figura 10: mosaico de fotos do bairro Vila Real ... 44

Figura 11: mosaico de fotos do bairro Parque das Palmeiras ... 45

Figura 12: mosaico de fotos de loteamentos fechados de alta renda ... 46

Figura 13: Ocupação regularizada em área de preservação ambiental no bairro Saic ... 47

Figura 14: Ocupação regularizada no Contorno Viário Oeste ... 48

Figura 15: Ocupação irregular no bairro São Pedro ... 49

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1.1 O INÍCIO...14

1.2 OS CONFLITOS 15

1.3 A COLONIZAÇÃO DO OESTE CATARINENSE 17

2. A DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL E SUA CONFORMAÇÃO NO ESPAÇO URBANO DE CHAPECÓ 21

2.1 ESPAÇO, CIDADE E O MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA SOB A ÓTICA DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA 21

2.2 OS PRIMÓRDIOS DA OCUPAÇÃO DESIGUAL DO ESPAÇO URBANO DE CHAPECÓ 24

2.3 CHAPECÓ: A INFLUÊNCIA DO CAPITAL AGROINDUSTRIAL NA OCUPAÇÃO URBANA 27

3. A CIDADE IN LOCO: IMPRESSÕES SOBRE AS DESIGUALDADES SOCIOESPACIAIS URBANAS EM CHAPECÓ 39

3.1 BAIRRO VILA RICA 42

3.2 BAIRRO VILA REAL E PARQUE DAS PALMEIRAS 44

3.3 LOTEAMENTOS FECHADOS DE ALTA RENDA 46

3.4 OCUPAÇÕES EM ÁREAS IRREGULARES/DE RISCO 47

CONSIDERAÇÕES FINAIS 52

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 54

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INTRODUÇÃO

O município de Chapecó está localizado na porção oeste do Estado de Santa Catarina (Figura 1), exercendo importante influência regional, sendo o principal centro urbano e polo demográfico da região, com uma população de 183,5 mil habitantes (IBGE, 2010). O processo de urbanização do município teve estreita ligação com a economia agroindustrial, principalmente porque a região oeste catarinense é caracterizada pela produção agropecuária, em sua maioria desenvolvida em municípios de pequeno porte, sendo que nenhum deles ultrapassa a casa dos 100 mil habitantes, com exceção de Chapecó, o que mostra a atração que esta exerce no contexto geográfico em que está situada. (ALBA, 2013).

O objetivo desta pesquisa é analisar o processo de ocupação e (re)produção desigual do espaço urbano em Chapecó (SC), levando em consideração as condicionantes histórico-geográficas que colaboraram na estruturação e configuração deste espaço.

Considera-se de fundamental importância para as análises geográficas, a realização de uma retrospectiva histórica, a fim de compreender o processo de

Figura 1 Localização do município de Chapecó Fonte: Malhas digitais IBGE, 2015

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(re)produção do espaço urbano capitalista, por entender que este é o resultados das ações acumuladas em diferentes momentos, ou seja, um produto social. (SANTOS, 1992 apud ALBA, 2013; CORRÊA, 2004). Santos (2008, p.66) critica as abordagens geográficas que não consideram a história como um capítulo de análise para a compreensão de uma cidade e do seu urbano, pois segundo o autor “sem essa preocupação de contar o que foi o seu passado, era impossível abordar esta ou aquela cidade”. Sendo assim, “a História [como ferramenta de análise] possibilita perceber as diferentes e novas formas, os novos objetos e os novos significados do processo de produção construídos nos diferentes tempos de construção do espaço” (ALBA, 2013, p. 17). Neste sentido, procura-se entender quais foram as ações exercidas pelos agentes promotores do espaço (neste caso, o capital agroindustrial, o poder público municipal, a elite e a população desfavorecida economicamente) que culminaram na atual conformação do espaço urbano desigual de Chapecó. Para isso, investigou-se com base na literatura e dados censitários, como se deu a ocupação e evolução do espaço urbano e quais foram os mecanismos criados pelo poder público municipal para favorecer a elite e o capital agroindustrial na cidade. A outra metodologia adotada, foi a realização de trabalhos de campo pela cidade, a fim de registrar as condições de desigualdade e diferenças na ocupação do espaço, com o intuito de correlacionar teoria e prática no desenvolvimento desta pesquisa científica.

O trabalho está estruturado, doravante, em três capítulos, além das considerações finais. O primeiro capítulo intitulado “OESTE CATARINENSE: A GÊNESE DO MUNICÍPIO DE CHAPECÓ” realiza uma análise histórica e geográfica acerca da constituição da região oeste de Santa Catarina, levando em consideração os diferentes povos que aqui habitaram e as disputas territoriais das quais ele foi palco. O capítulo também evidencia a importância da colonização na região e mais precisamente no município de Chapecó e o contexto político e econômico no qual o município foi criado.

O segundo capítulo, “A DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL E SUA CONFORMAÇÃO NO ESPAÇO URBANO DE CHAPECÓ”, trata de questões teóricas sob a ótica da ciência geográfica acerca da desigualdade socioespacial urbana, do estudo do espaço urbano e da cidade capitalista além de apresentar os fatores que influenciaram na ocupação desigual do espaço urbano chapecoense.

O terceiro e último capítulo “A CIDADE IN LOCO: IMPRESSÕES SOBRE AS DESIGUALDADES SOCIOESPACIAIS URBANAS EM CHAPECÓ” apresenta os

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resultados obtidos através da realização de trabalhos de campos e registros fotográficos da área urbana, ressaltando a importância da atividade empírica de campo (in loco) na análise do espaço urbano.

Para finalizar, as considerações finais trazem os resultados obtidos através do estudo proposto e apontam para novas análises geográficas do espaço urbano.

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CAPÍTULO 1

OESTE CATARINENSE: A GÊNESE DO MUNICÍPIO DE CHAPECÓ

1.1 O INÍCIO

Os vestígios arqueológicos encontrados na região indicam que há pelo menos 10 mil anos a área já era povoada por grupos indígenas, e mais precisamente há 5.500 a.C pelo grupo Kaingang1 (PAIM, 2006; ALBA, 2008). Além dos Kaingangs, outros grupos indígenas habitaram a região em menor número, como é o caso dos índios Guaranis (SANTOS, 1973 apud ROSSETO, 1989). Posteriormente à ocupação indígena, o território em análise também foi ocupado por caboclos2 e mais tarde por migrantes vindos em sua maioria do Rio Grande do Sul, caracterizando as três fases distintas do povoamento regional que serão brevemente apresentadas ao longo deste capítulo (POLI, 1991).

Com relação à paisagem natural do território sul brasileiro no período anterior à colonização do século XX, pode-se dizer que era composto por áreas de matas (florestas) e campos.

As terras de campos [...] foram ocupadas já nas primeiras décadas do século passado com pecuária e pela grande propriedade, requerendo pouca mão de obra, na época muito escassa na região. As áreas florestais mais a oeste do estado, nesta época, foram deixadas de lado por não apresentarem alternativa econômica (ALBA, 2013, p. 21-22).

Anterior à ocupação dos campos, os primeiros registros da presença da população branca europeia e seus descendentes no território oeste catarinense datam do ano de 1641, com a passagem de bandeirantes paulistas a caminho do Estado do Rio Grande do Sul (ROSSETO, 1989). Mais tarde, ainda no século XVII outros bandeirantes foram vistos pela região, porém um dos registros mais importantes acerca da população não indígena no território em questão diz respeito ao ano de 1838/1839, quando José Raymundo Fortes (natural do estado de MG) se estabelece

1 A denominação Kaingang foi utilizada pela primeira vez por Telêmaco Borba por volta do ano de 1882

para referir-se a indígenas que habitaram as regiões sul e sudeste do Brasil. Sua língua pertence à família Jê, tronco Macro Jê, segundo a classificação etno-linguística (RENK, 1999 apud PAIM, 2003; http://www.portalkaingang.org/index_povo_1default.htm).

2Segundo MACHADO (apud BRANDT, 2015) o termo “caboclo” é utilizado para designar os habitantes

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em Xanxerê e posteriormente muda-se para Chapecó. José Raymundo casa-se com a índia Ana Maria Fortes de Jesus e fixa moradia na área do atual bairro Passo dos Fortes. (ROCHA, 2005; WAGNER, 2005). A presença de um não indígena na região representa um período que foi marcado pela intensificação das frentes de expansão de ocupação dos campos no sul do país, no século XIX3. Este momento representa o início da ocupação do território pela população “branca”, que culminaria mais tarde, na expulsão lenta e gradual dos povos indígenas que aqui viviam (ROCHA, 2005).

1.2 OS CONFLITOS

O território que hoje compreende a região oeste de Santa Catarina foi palco de muitos conflitos de disputa territorial, sendo o primeiro deles entre Portugal e Espanha no século XVII, ainda no período Colonial. O motivo do embate entre os dois países era o desrespeito aos limites traçados pelo Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, que garantia a posse das terras do Oeste Catarinense ao domínio espanhol. A questão não foi solucionada e apenas transferiu-se para uma disputa entre Brasil e Argentina, no século XIX quando ambas as colônias tornaram-se impérios. Conhecida como a “questão de Misiones” para os argentinos e “questão de Palmas” para os brasileiros, o conflito pela posse das terras arrastou-se durante longas décadas, influenciando medidas tomadas pelo império brasileiro a fim de garantir o domínio do território, como é o caso da criação das Colônias Militares de Xapecó e do Chopim pelo decreto nº 2502 de 16/11/1859. Apesar da data do decreto, apenas no ano de 1882 a colônia de Xapecó foi instalada pelo capitão José Bernardino Bormann (PELUSO JÚNIOR, 1991; WAGNER, 2005). No ano de 1888, aumenta a disputa pelas terras entre Brasil e Argentina, quando o país vizinho ampliou a área de reclame. Após várias tentativas de acordo a questão foi encerrada em 1895, quando o então presidente dos EUA, Grover Cleveland deu parecer favorável ao Brasil, o que no entanto não finalizou os conflitos na região, que agora aconteciam internamente (PAIM, 2006; ALBA, 2008).

3 A ocupação dos campos sulinos acontece por volta do ano de 1810 com a ocupação dos campos de

Guarapuava, em 1846 os campos de Palmas e mais tardiamente, em 1856 os campos de Erexim (ALBA, 2008).

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Nesse contexto de disputas territoriais e mudanças governamentais (transição do Brasil Império para República em 1889) acontece a ocupação efetiva do Oeste Catarinense (PELUSO JÚNIOR, 1991). Esta se deu de forma distinta entre áreas de campo e de mata, e pode-se dizer que os campos representavam uma economia pastoril, enquanto as florestas eram vistas como um obstáculo até o meados do século XIX, quando o excedente4 de mão de obra das fazendas passou a penetrar nas áreas florestais em busca de sua subsistência.

Fazendas surgiram nessa época, constituindo grandes domínios. [...] Mas também as terras florestais estavam ocupadas. As fazendas legitimadas na área resultaram, em geral, de posses, estabelecidas no século XIX. [...] Fazendeiros e posseiros viviam em economia de subsistência, plantando, apenas, para consumo. Os recursos monetários, para aquisição de bens e que a fazenda não produzia, provavelmente provinha da venda de gado – bovino e cavalar – criado em campos naturais ou feitos, a fogo, na floresta (PELUSO JÚNIOR, 1991, p. 287).

Durante o processo de ocupação territorial das florestas do oeste catarinense e logo após o final do conflito entre Brasil e Argentina, surge um outro litígio pela posse das terras, desta vez entre os Estados de Santa Catarina e Paraná. A província do Paraná se desmembra da província de São Paulo em 1853 e já em 1855 o governo paranaense “desenvolvia a tese de que os limites com a Província de Santa Catarina se entendiam por todo o planalto basáltico” (WAGNER, 2005, p. 21). A animosidade entre os dois Estados foi aumentando. No início do século XX, o Supremo Tribunal Federal reconhece os limites do Estado de Santa Catarina, que continuaram a ser contestados pelo Estado vizinho. Segundo Gomes (1998, p. 10) “o governo Paranaense reivindica a região, uma vez que o centro administrativo local era o município de Palmas, ao qual pertenciam os distritos de Xanxerê, Campo Erê, Chapecózinho e Passo do Carneiro, atual Passo Bormann”. Ainda segundo o autor, o litígio é definido em favor de Santa Catarina, no ano de 1916, com base em decisão do governo Federal através do Presidente da República Venceslau Brás. Além desses três conflitos principais pela disputa do território do oeste catarinense é importante mencionar que outra rebelião aconteceu na região entre os anos de 1912 e 1916, denominada Guerra do Contestado, que segundo Alba (2008, p. 22):

4 Segundo Brandt (2015, p. 13) as florestas passam a ser ocupadas por pessoas ligadas às fazendas,

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[...] foi uma disputa bem diferente das anteriores, pois se caracterizou como uma luta entre os moradores locais (os brasileiros) e a empresa colonizadora ligada à empresa responsável pela construção da estrada de ferro. Este conflito era, na verdade, pela posse da terra, envolvendo a população humilde que vivia nos locais por onde passavam a estrada e as forças do governo, que queriam garantir sua construção.

A estrada de ferro mencionada pela autora refere-se a Estrada São Paulo - Rio Grande do Sul, que como o nome já indica tinha por objetivo ligar os dois Estados e integrar economicamente as regiões Sul e Sudeste do país. A construção da estrada resultaria na expulsão de milhares de camponeses que viviam principalmente na região do Rio do Peixe, no Meio Oeste catarinense. Além disso, a instabilidade política entre Santa Catarina e Paraná e a política de terras adotada na época foram fatores fundamentais para o início da Guerra do Contestado (MACHADO, 2001; WAGNER, 2005).

A Guerra do Contestado teve início no ano de 1912 e encerrou-se em 1916. Durante o período do conflito não foi possível ocupar a terra de acordo com os objetivos do governo catarinense. Somente em 1916, com o fim da guerra e do litígio entre Paraná e Santa Catarina foi possível iniciar a colonização das terras do território oestino. A nova forma de ocupação do território é diferente daquela que havia sido desenvolvida até o início do século XX e influenciou de forma decisiva na atual configuração do espaço urbano chapecoense.

1.3 A COLONIZAÇÃO DO OESTE CATARINENSE

A política de terras no Brasil sofre alterações em 1891 com a Constituição Republicana, trazendo mudança para os posseiros que habitavam a região oeste de Santa Catarina. Os Estados passaram a ter autonomia sobre suas terras, o que já vinha acontecendo no ano de 1890 em Santa Catarina. A nova política de terras elaborada pelo Estado visava o desenvolvimento da agricultura e da indústria pastoril (MACHADO, 2004). Na prática isso significava que os indígenas e caboclos sofreriam com expropriações de suas terras, pois não possuíam a propriedade legal das mesmas (BRANDT, 2015).

Como medida de proteção da posse de suas terras, o Governo do Estado de Santa Catarina cria o município de Chapecó através da Lei 1.147 de 25 de agosto de

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1917 (anexo 1), juntamente com mais três municípios (Porto União, Mafra e Cruzeiro, este último, atual município de Joaçaba). Com área de 14.793 km², Chapecó compreendia todo o atual oeste catarinense fazendo divisa com a Argentina à oeste até a divisa com o Rio Irani e os atuais municípios de Abelardo Luz, Ponte Serrada e Passos Maia à leste (NASCIMENTO, 2015). A sede do município recém criado foi estabelecida na povoação de Passo Bormann, mas transferida em 1919 para Xanxerê. Em 1923 a sede retorna para seu local de origem, porém novamente em 1929 é reestabelecida em Xanxerê. Somente em 1931 através do Decreto-lei estadual nº100 foi fixada na povoação de Passo dos Índios, que em 1938 recebe a denominação de Chapecó (PELUSO JÚNIOR, 1991). As mudanças na localização da sede do município se devem a conflitos de poder entre os “mandantes” locais5, questão que não será aprofundada neste trabalho.

A criação do município de Chapecó foi o ponto de partida para o início da colonização das terras, que eram nessa época escassamente povoadas e vistas pelo governo como um vazio demográfico, já que “os indígenas e caboclos, por possuírem modos de vida diferente, não produziram excedentes para comercialização, e não possuir títulos de propriedade, eram desconsiderados pelas autoridades” (PAIM, 2006, p. 125). Inicia assim o advento da colonização.

Com a criação do município foi possível começar a colonização das terras e o espaço começa a ser modificado no oeste catarinense. Sobre a colonização, alguns autores afirmam que,

A colonização do Oeste Catarinense foi empreendimento de natureza econômica, em que empresários do Estado do Rio Grande do Sul, baseados na experiência da expansão dos núcleos coloniais em seu Estado, investiram vultosos capitais em Santa Catarina. Era inteiramente diferente das colônias militares do século anterior, em que o objeto fundamental, de natureza política, foi o de posse da terra. (PELUSO JÚNIOR, 1991, p. 289-290).

É importante observar que a colonização feita na região oeste, nesta época, foi a colonização em tempo do capital, isto é, o capital – enquanto modo de produção – já se apresentava na sua “forma madura”. A região oeste, neste sentido foi apenas o receptáculo de novas relações de produção. Novas para a região; no entanto, relações velhas que buscavam a expansão para novos espaços que pudessem dar continuidade à acumulação capitalista que já vinha se realizando em outros locais, como no Rio Grande do Sul. (ALBA, 2008, p. 23).

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Fica evidente que a colonização do oeste do Estado visava o lucro e a ocupação do espaço com objetivos econômico-capitalistas e esta ocupação, diferente das anteriores, iria impactar e transformar o espaço oestino de forma mais incisiva.

Muitas empresas foram responsáveis pela colonização, porém restrinjo-me a mencionar aquela que colonizou a atual área compreendida pelo município de Chapecó, a Sociedade Bertaso Maia & CIA.

A empresa colonizadora constituída no ano de 1918 era formada pelos sócios Agilberto Maia, Manoel Passos Maia e Ernesto Francisco Bertaso até 1923. Após esta data, Ernesto F. Bertaso passa a ser o único dono da empresa que chegou a possuir na época uma área de 2.249km², o equivalente a 3,6 vezes mais área que o município de Chapecó possui atualmente (WAGNER, 2005).

O território começa a ser ocupado por migrantes vindos em sua maioria do Estado do Rio Grande do Sul, principalmente da região agrícola de colonização italiana e alemã (WAGNER, 2005; PAIM, 2006). Entre os motivos que levavam os colonos a estabelecer-se em Santa Catarina, estão os altos valores cobrados pelas terras no Estado vizinho e a escassez das mesmas na região de origem. A facilidade de compra e os baixos valores dos lotes comercializados na região oeste propiciaram o sucesso da colonização (PERTILE, 2007). A chegada dos novos habitantes ocasionou a expulsão de caboclos e indígenas que “[...] foram sendo empurrados para áreas distantes nas matas, ou foram para as cidades, quando não foram literalmente eliminados”. (PAIM, 2006, p.126). Além disso, “imensas áreas de vegetação nativa que existiam no Oeste Catarinense foram sendo devastadas” (PERTILE, 2007, p. 156). O sistema produtivo de subsistência adotado pelos antigos habitantes é substituído e dá lugar a um sistema de produção baseado na pequena propriedade e mão-de-obra familiar, possibilitando, o desenvolvimento do capital comercial dos produtos excedentes. As atividades comerciais começam a ganhar destaque na região com a venda de terras, madeiras, erva-mate e produtos agropecuários, dentre eles, o milho e o feijão, além da criação de suínos (PAIM, 2006; PERTILE, 2007; ALBA 2013). Segundo Alba (2008) o capitalismo no oeste de Santa Catarina tem origem, num primeiro momento, no extrativismo da madeira e erva-mate, e num segundo momento, na comercialização de produtos excedentes das pequenas propriedades rurais. Ainda segundo a autora, (2008, p. 24),

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A pequena propriedade rural, neste sentido, não é um mero adorno na formação do espaço rural do oeste catarinense. Ela deve ser vista como agente fundamental, pois alguns dos intermediários comerciantes acumularam o capital necessário e o canalizaram para a formação dos primeiros frigoríficos da região.

O extrativismo da erva-mate esteve muito ligado à ocupação cabocla na região, entre o final do século XIX e começo do século XX. Caracterizada por ser uma atividade nômade, a extração da erva mate teve seu auge nos anos de 1910 e foi diminuindo a medida que o espaço passava a ser ocupado pelos novos migrantes que desenvolveriam atividades econômicas diferentes e que permitissem a fixação ao solo (BAVARESCO, 2003; RENK, 2006). O comércio da erva mate se deu principalmente com o país vizinho, a Argentina. Representou na época uma importante forte de renda para a população que trabalhava com a extração da erva. Aos poucos com o declínio da produção ervateira, a atividade madeireira começa a despontar. A extração de madeira por sua vez, foi uma atividade econômica desenvolvida principalmente no início da colonização pelas próprias empresas colonizadoras “[...] que exploravam a madeira mais nobre e, só depois vendiam as terras aos colonos [...]” (BAVARESCO, 2003, p. 44). As madeiras eram importadas para países vizinhos através de balsas, que dependiam das enchentes do rio Uruguai para serem transportadas (NODARI, 2012). A dinâmica produtiva mantém-se praticamente inalterada até o início da década de 1940.

Resultado do reflexo das mudanças políticas estaduais e municipais6 que culminaram na intensificação da colonização e na implantação agroindustrial, o município de Chapecó vivencia uma nova e importante dinâmica a partir da década de 1940, marcada por um intenso aumento populacional. A população municipal que era de 44 mil habitantes no ano de 1940 passa para mais de 96 mil habitantes em 1950 (PERTILE, 2007). O novo cenário que começa a despontar em Chapecó vai constituir a base para a urbanização do município.

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CAPÍTULO 2

A DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL E SUA CONFORMAÇÃO NO ESPAÇO URBANO DE CHAPECÓ

2.1 ESPAÇO, CIDADE E O MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA SOB A ÓTICA DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA

A ciência geográfica objetiva o estudo da sociedade através das análises espaciais. Isso significa que é o estudo da organização espacial que viabiliza a compreensão do objeto de estudo geográfico (CORRÊA, 2007). Para Santos (2005) não existe sociedade a-espacial; e o espaço é ele mesmo social. É a partir desta concepção de indissociabilidade entre as categorias de “espaço” e “sociedade” que este trabalho vai orientar-se.

O conceito de organização espacial é abordado por Corrêa (2007) que defende que a organização do espaço é resultado da transformação da natureza primitiva em “segunda natureza”, conforme as necessidades humanas de desenvolvimento baseado em modos de produções que vão se modificando ao longo do tempo. Para ele,

[...] a organização espacial é, como já vimos, expressão da produção material do homem, resultado de seu trabalho social. Como tal, refletirá as características do grupo que a criou. Em uma sociedade de classes, a organização espacial refletirá tanto a natureza classista da produção e do consumo de bens materiais, como o controle exercido sobre as relações entre as classes sociais que emergiram das relações sociais ligadas à produção (CORRÊA, 2007, p. 55-56).

A cidade enquanto uma das formas mais veementes do processo produtivo da humanidade (CARLOS, 2009) nos fornece elementos importantes de análise para o estudo dos fenômenos da desigualdade socioespacial.

Para Souza (2003, p. 28)

uma cidade é um local onde pessoas se organizam e interagem com base em interesses e valores os mais diversos, formando grupos de afinidade e de interesse, menos ou mais bem definidos territorialmente com base na identificação entre certos recursos cobiçados e o espaço [...].

Ainda segundo o conceito de cidade, Carlos (2009, p. 26) afirma que

A cidade aparece como materialidade, produto do processo de trabalho, de sua divisão técnica, mas também da divisão social. É materialização de

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relações da história dos homens, normatizada por ideologias; é forma de pensar, sentir, consumir; é modo de vida, de uma vida contraditória.

Na ciência geográfica há uma série de abordagens acerca da definição conceitual de cidade. O que fica evidente na maioria dessas abordagens é a caracterização da cidade enquanto palco de ações humanas; de forças antagônicas promovidas pela sociedade organizada em “estratos sociais”. A cidade seria então “a expressão concreta de processos sociais na forma de um ambiente físico construído sobre o espaço geográfico” (HARVEY, 1972 apud CORRÊA, 1997, p.121).

O espaço urbano da cidade capitalista é um dos locais onde as desigualdades socioespaciais tornam-se mais visíveis (NASCIMENTO, 2015) e podem apresentar-se sob diversas formas, conteúdos e tamanhos criadas por processos espaciais distintos (VASCONCELOS, CORRÊA, PINTAUDI, 2013).

Sobre a produção/reprodução do espaço urbano capitalista, Corrêa (2004, p. 11) afirma que

O espaço urbano capitalista – fragmentado, articulado, reflexo, condicionante social, cheio de símbolos e campos de lutas – é um produto social, resultado de ações acumuladas através do tempo, e engendradas por agentes que produzem e consomem espaço. São agentes sociais concretos, e não um mercado invisível ou processos aleatórios atuando sobre um espaço abstrato. A ação destes agentes é complexa, derivando da dinâmica de acumulação de capital, das necessidades mutáveis de reprodução das relações de produção, e dos conflitos de classe que dela emergem.

Na definição do autor, tais agentes podem ser classificados como os proprietários fundiários, os promotores imobiliários, os detentores dos meios de produção, o poder público e os grupos sociais excluídos do acesso à terra e à cidade; que juntos, viabilizam a produção de um espaço urbano social e espacialmente desigual. Pode-se dizer que cada agente produtor do espaço atua de uma forma específica na cidade, o que pode gerar conflitos de interesses entre eles, porém, há entre os três primeiros um interesse em comum: a apropriação da renda da terra. Assim, a ação destes agentes culmina na (re)produção de um espaço fragmentado, segregado; refletindo na produção de uma sociedade igualmente fragmentada, estratificada em classes, hierarquizada e voltada para o consumo capitalista (NASCIMENTO, 2013).

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As ações promovidas no espaço urbano pelos seus inúmeros agentes viabilizam a transformação dos “processos sociais” em “formas espaciais”7, que permitem a criação de localizações e relocalizações tanto das atividades, como da própria população no espaço (CORRÊA,1997). É a partir da concepção de que as diferentes localizações espaciais interferem e influenciam na (re)produção das desigualdades socioespaciais que esta pesquisa desenvolveu-se.

Para entender o valor imbricado nas localizações da cidade capitalista, é necessário retomar brevemente a questão da renda da terra, abordada por Marx em sua obra O Capital. Através da releitura de Marx, Silva (2008, p. 94) afirma que:

A terra é a base, a pré-condição essencial de qualquer modo de produção; dentro do capitalismo, ela é ao mesmo tempo vendável (uma mercadoria como as demais no mundo das mercadorias) e a renda auferida pela terra é também a pré-condição essencial para a realização do capital enquanto totalidade.

E continua:

(...) a renda da terra se constitui enquanto a mais pura forma de remuneração, pois é dada pela simples propriedade, pelo monopólio, pelo exclusivo do proprietário da terra. Esse exclusivo confere um grande poder ao proprietário fundiário, assim como potencializa a instituição da propriedade privada. Esse monopólio é remunerado em si, sem ter havido, necessariamente, a criação de valor pela extração da mais-valia gerada pelo trabalho alheio.

A renda da terra é uma das três formas pela qual o capital se apresenta, segundo Marx. As outras duas seriam o capital (lucro e juros) e a força do trabalho (produtora da mais-valia), que juntas seriam a base do modo de produção capitalista (MARX, 1972 apud SILVA, 2008). Assim, a terra representa a “mais pura forma de remuneração” (ibid., p.94), que além de renda, é também acrescida de valor, de acordo com o trabalho social dispendido na produção do espaço urbano. Este será fator determinante na importância e na influência que cada localização vai adquirir e exercer no espaço urbano.

Baseado na proposta de David Harvey8 para o estudo do espaço urbano, Villaça (1998) afirma que, “[...] não é o processo de produção e sim o de consumo que mais interessa ao espaço intra-urbano” (ibid., p. 42).Assim, a localização atua como

7 Sobre processos e formas espaciais vide Corrêa (1997).

8O autor cita a proposta de estudo do espaço urbano de David Harvey publicada em “The limits to capital” em 1982.

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fator importante e decisivo na constituição de uma estrutura desigual do espaço na cidade capitalista, pois é ela que irá determinar o nível de consumo e de deslocamentos realizados pela sociedade que ocupa um determinado local. Isto ocorre porque

A localização é relação a outros objetos ou conjuntos de objetos e a localização urbana é um tipo específico de localização: aquela na qual as relações não podem existir sem um tipo particular de contato: aquele que envolve deslocamento dos produtores e dos consumidores entre os locais de moradia e os de produção e consumo (ibid., p.23).

As localizações possuem valores diferentes de acordo com o trabalho social dispendido na produção do espaço urbano, conforme mencionado anteriormente. “Esse valor diferenciado influenciará no preço da terra e consequentemente numa diferenciação do espaço, visto que não existem duas localizações iguais” (BEDIN; NASCIMENTO, 2013, p.2). Para Santos (1987, p. 81) não somente as localizações possuem valores diferenciados, mas também o indivíduo que nela está:

Cada homem vale pelo lugar onde está; o seu valor como produtor, consumidor, cidadão depende de sua localização no território. Seu valor vai mudando incessantemente, para melhor ou para pior, em função das diferenças de acessibilidade (tempo, freqüência, preço) independentes de sua própria condição. Pessoas com as mesmas virtualidades, a mesma formação, até mesmo o mesmo salário, têm valor diferente segundo o lugar em que vivem: as oportunidades não são as mesmas. Por isso, a possibilidade de ser mais ou menos cidadão depende, em larga proporção, do ponto do território onde se está. (SANTOS, 1987, 81).

De forma geral, é possível afirmar que a localização é disputada pelas classes sociais e que as melhores localizações, por terem um valor maior, e consequentemente um preço mais elevado, acabam, na maioria das vezes, sendo apropriadas pela elite, detentora do capital (BEDIN; NASCIMENTO, 2013), culminando na conformação de um espaço urbano desigual.

2.2 OS PRIMÓRDIOS DA OCUPAÇÃO DESIGUAL DO ESPAÇO URBANO DE CHAPECÓ

A partir da década de 1950 Chapecó passa a sofrer uma série de transformações em sua economia que viriam a influenciar sobremaneira a consolidação de seu espaço urbano. As dinâmicas socioespaciais na cidade tiveram como principais agentes de transformação o “poder público municipal”, os “agentes

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imobiliários” e o “setor agroindustrial” (ALBA, 2002; PERTILE, 2007; RECHE, SUGAI, 2008; WOLFF, 2008) que atuaram no sentido de favorecer a expansão capitalista e o lucro das classes detentoras do modo de produção, neste caso, os empresários agroindustriais.

De acordo com Pertile (2007), na década de 1950 começam a ser implantadas as primeiras unidades agroindustriais na cidade, com a fundação da Indústria e Comércio Chapecó (SAIC) em 1952. Mas somente no final da década de 1960 e durante a década de 1970 que o setor agroindustrial torna-se mais expressivo e consolida-se como “carro-chefe da economia local, com a expansão da empresa SAIC, a criação da Cooperativa Regional Alfa Ltda (1967), Cooperativa Central Oeste Catarinense (1969), instalação da Sadia Alimentos (1973) e Ceval (Bunge) (1975)” (BEDIN; NASCIMENTO, 2013)”.

A implantação do setor agroindustrial na cidade atraiu um grande contingente populacional, oriundo principalmente de municípios vizinhos da região oeste de Santa Catarina e também do Estado do Rio Grande do Sul (ALBA, 2002, RECHE, 2008). A taxa de crescimento populacional urbana em Chapecó apresentou índices superiores a 11% ao ano conforme indicam os dados do IBGE para as décadas de 1960 a 1980, passando de uma população de 16,7 mil habitantes para cerca de 55,3 mil (Tabela 1), resultando em inúmeras alterações no espaço urbano (RECHE, SUGAI, 2008). Este aumento populacional registrado em Chapecó tem sua gênese relacionada com a mecanização da agricultura, fenômeno que expulsou da área rural aqueles que não conseguiram se adequar às exigências do novo padrão tecnológico aplicado às atividades agropecuárias e também ao modelo de integração imposto pelo capital agroindustrial (ALBA, 2002; PERTILE, 2007).

Quadro 1: Evolução da população no município de Chapecó Fonte: IBGE (censos demográficos 1960 – 2010)

Edição: Mayling Vassoler Bedin e Ederson Nascimento (2013).

ANO POPULAÇÃO TOTAL URBANA % RURAL %

1960 52.089 16.668 32 35.421 68 1970 49.865 20.275 40,7 29.590 59,3 1980 83.768 55.269 66 28.499 34 1991 123.050 96.751 78,6 26.299 21,4 2000 146.967 134.592 91,6 12.375 8,4 2010 183.530 168.113 91,6 15.417 8,4

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Os dados indicam que a cidade recebeu um intenso fluxo migratório a partir de 1960, com destaque para as décadas seguintes de 1970 e 1980. Apesar disso, há indícios que apontam uma ocupação desigual do espaço, anterior ao ano de 1960, conforme afirma Gomes (1998, p. 26): “[...] o perímetro urbano de Chapecó surgiu com inúmeras famílias de “intrusos” se estabelecendo ao seu redor, formando cinturões de barracos”. O autor ainda afirma que o número de “intrusos” aumenta com a criação do frigorífico SAIC, na década de 1950 e também em decorrência do início da urbanização do município. Segundo ele, “a Empresa Bertaso sempre procurou impedir a vinda do intruso, procurou cercar o intruso para evitar que Chapecó se transformasse em uma grande favela” (ibid, p. 27). No ano de 1965 ocorreu a primeira intervenção direta na ocupação do espaço urbano, comandada pelos agentes dominantes da economia e política local, conforme relatos contidos em Gomes (1998), que afirmam que a Empresa Bertaso despejou cerca de 60 famílias de “intrusos” ou expropriados para uma área localizada há aproximadamente 3km do centro, na direção leste, que mais tarde viria a ser denominada de Bairro São Pedro. Os relatos dão conta de que o número de migrantes era tão alto, que a empresa começou a lotear a área referida e comercializar os lotes que mediam 10 x 15 m². As famílias que não quitassem sua área de terra, eram despejadas novamente para outra área mais distante, na atual Linha Baronesa de Limeira (HASS; ALDANA; BADALOTTI, 2008). As ações eram justificadas pelos segmentos dominantes com o discurso da ordem como necessária ao desenvolvimento.

A “ordem” é pré-condição para o “progresso”. Afinal, os intrusos destroem a imagem de progresso que é construído pela elite local. Eles trazem à tona os problemas do desenvolvimento econômico. Em sendo assim, devem ser isolados, escondidos dos demais. (GOMES, 1998, p. 27).

O descompasso entre a oferta de mão de obra e de postos de trabalho, aliada à crescente dificuldade de acesso à moradia às camadas de baixa renda, passou a incomodar as elites locais devido ao aumento do número de “perambulantes” na área central da cidade (WOLFF, 2008). Algumas matérias veiculadas na imprensa local confirmam esta situação,

O problema da mendicância que é vexame social a uma cidade desenvolvida culta e generosa como a nossa, poderia ser resolvida humanamente estando a causa depositada nas mãos das autoridades para tomar-lhes providências,

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com a certeza de que a sociedade chapecoense não se negará a contribuir para eliminar o que vimos e vemos. Diariamente, em certos momentos do dia há mais mendigos na rua do que pessoas válidas. Para com os vadios nossa responsabilidade é maior, falta de empregos e desejos de trabalhar, precisa se industrializar, criar mercados de mão de obra. (ibid., p. 175).

A pressão exercida pela sociedade elitista chapecoense culminou na criação de mecanismos de “limpeza” urbana, com a atuação incisiva do poder público municipal que promoveu a legalização de espaços inadequados à habitação e realizou investimentos de forma distinta no espaço, além de criar instituições para excluir os pobres da área central da cidade, destinada ao convívio social da elite (WOLFF, 2008; HASS; AIDANA; BADALOTTI, 2010).

Assim, nos anos de 1960 e 1970, são várias as ações do poder público chapecoense para criar instituições que retirassem esses sujeitos do convívio social e do centro da cidade. Entre essas ações estão a Penitenciária Agrícola de Chapecó, a Fundação Catarinense do Bem-Estar do Menor (FUCABEM) e criação do “Bairro São Pedro” e do Hospital Psiquiátrico de Chapecó (WOLFF, 2008, p. 176).

A análise da bibliografia evidencia a importância do papel do agente imobiliário para a construção da desigualdade socioespacial no espaço urbano de Chapecó, à medida que o detentor do capital e das terras impede que a população de baixa renda ocupe as terras da área central e adjacências, fazendo isso por meio de seu poder econômico e político. E o Estado, por sua vez, representado pelo poder público municipal, acirra ainda mais esta dinâmica, através de suas ações que favorecem as classes dominantes, mas prejudicam e se mostram ineficientes para a população menos abastada.

2.3 CHAPECÓ: A INFLUÊNCIA DO CAPITAL AGROINDUSTRIAL NA OCUPAÇÃO URBANA

O período compreendido entre as décadas de 1970 e 1980 é extremamente importante no contexto urbano do município principalmente em função das transformações ocorridas na economia municipal com a intensificação e expansão do setor agroindustrial. “Novas firmas industriais e de atividades complementares foram implantadas na cidade para atender às necessidades das agroindústrias, além da ampliação do comércio e do setor de serviços” (NASCIMENTO, 2015, p. 108).

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A demanda por habitação, cada vez mais intensa, e o não acompanhamento de ações governamentais, principalmente de moradia, para minimizar os conflitos resultantes da diferença entre a população absorvida pelas indústrias e a população atraída por essas, provoca o fortalecimento da figura do loteador. Este, a partir da década de 70, vê na necessidade de moradia para a população de mais baixa renda migrante, um mercado promissor. A ausência de iniciativas por parte do Estado, de fiscalização ou mesmo com uma legislação pouco restritiva, justificada pela pressão populacional, [...] e a demanda crescente, provocou o aparecimento de inúmeros loteamentos irregulares ao redor das indústrias, descontínuas à malha consolidada (RECHE, 2008, p. 54-55).

É neste contexto também que é criado o primeiro Plano Diretor Urbano de Chapecó, aprovado no ano de 1974 na gestão municipal do prefeito Altair Wagner. O plano diretor é fruto de uma política federal que previa a elaboração de inúmeros planos diretores em todo o país, coordenados pelo SERFHAU (Serviço Federal de Habitação e Urbanismo) (RECHE, 2008). Outros planos de ação foram colocados em prática na mesma época, com o objetivo de modernizar a cidade, como é o caso do projeto CURA (Comunidade Urbana de Recuperação Acelerada) desenvolvido pelo BNH (Banco Nacional de Habitação) destinado à cidades de porte médio, para realização de investimentos na infraestrutura urbana com o objetivo de resolver o problema da falta de moradia, através da concessão de acesso habitacional às camadas de menor poder aquisitivo (RECHE, 2008; WOLFF, 2008). Apesar dos inúmeros investimentos, os problemas urbanos apenas intensificaram-se, pois

[...] na maioria destes programas, as intervenções empreendidas contribuíram para segregar ainda mais o espaço urbano, visto que os bairros beneficiados com as melhorias se destacavam pela localização próxima ao centro, pela população residente e sua importância para o desenvolvimento do município. Os bairros beneficiados foram o Centro (com recursos municipais), o Bairro Santa Maria e Maria Goretti (adjacentes ao centro) e Bairro Aeroporto (atual São Cristóvão), que se destacava por contemplar a área industrial, na direção oeste do município. Assim, os investimentos do Estado em desenvolvimento urbano ocasionaram uma diferenciação da apropriação do tecido urbano (BEDIN; NASCIMENTO, 2013).

Em contrapartida ao processo de valorização das localizações beneficiadas pelos projetos de urbanização, estão as agroindústrias, localizadas em áreas periféricas da cidade, pouco valorizadas e exercendo atração de expressivo contingente populacional. Neste contexto, começam a ser implantados nas proximidades destas firmas vários loteamentos (alguns deles clandestinos) voltados a populações de baixos rendimentos, desprovidos de infraestrutura, em uma região ambientalmente pouco apropriada à ocupação, sem transporte público, ligada por uma

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única via de acesso a área central e distante dos principais estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços diversos.

Aliado a esse processo de ocupação desigual, está o poder público representando os interesses das agroindústrias, e isto é visível na alteração do perímetro urbano em 1977, o qual aumentou em aproximadamente três vezes o traçado do perímetro urbano, que juntamente com a alteração da Lei de Loteamento, que permitiu mais flexibilidade na aprovação de loteamentos e desobrigou o loteador de diversas exigências (principalmente quanto à dotação de infraestrutura) ocasionou a expansão da cidade em direção às agroindústrias (BEDIN; NASCIMENTO, 2013,).

A imagem a seguir (figura 2) ilustra as alterações na ocupação do espaço urbano em função da criação de leis mais flexíveis, que permitiram o aumento do perímetro urbano em aproximadamente três vezes o seu traçado estabelecido em 1974, que juntamente com a alteração da Lei de Loteamento, admitiu mais flexibilidade na aprovação de loteamentos e ocasionou a expansão da cidade em direção às agroindústrias e as áreas periféricas. Com base na (figura 3) pode-se perceber como a implantação agroindustrial influenciou na ocupação das áreas periféricas na cidade por parte da população de baixa renda, isso porque, o poder público através da legislação e dos investimentos federais em moradia popular propiciaram estas condições. Os principais vetores de expansão até 1980 foram na direção oeste, noroeste e norte, coincidindo com as localizações dos frigoríficos. Estas áreas foram ocupadas pela população de baixa renda, já que o valor da terra nestes locais era mais baixo em relação à área central. Muitos foram morar em loteamentos clandestinos, e que mais tarde foram legalizados pela lei de ampliação do perímetro urbano.

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Figura 2: Alterações do Perímetro Urbano (1974, 1977 e 1980) Fonte: RECHE, 2008.

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Na década de 1980, o município de Chapecó passa a ter mais da metade de sua população total habitando a área urbana do município, conforme dados do IBGE. Esse intenso crescimento populacional, aliado a recessão econômica que o país

Figura 3: Evolução da malha urbana de 1974 a 1980 Fonte: RECHE, 2008

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enfrentava naquele contexto e a falta de políticas públicas habitacionais e de infraestrutura, acirrou ainda mais as desigualdades socioespaciais na cidade (NASCIMENTO, 2015), conforme afirma Fujita (2013, p. 319)

Desta forma, a desigualdade socioespacial já se fazia evidente na paisagem da cidade, com a formação de bairros operários sem infraestrutura, assentamentos precários e o despejo de populações excluídas em guetos que carregam até hoje o estigma da exclusão. Prova disso, é que entre as décadas de 1970 e 1990 tem-se o período mais intenso de surgimento de novas áreas irregulares, chegando ao percentual de 77,3% das áreas existentes até 2011, o que revela a falta de efetividade das políticas públicas habitacionais durante este período.

O surgimento de ocupações irregulares na década de 1990 reflete as consequências da ocupação desigual do espaço urbano, favorecidas pela falta de infraestrutura e de políticas públicas direcionadas às camadas populares. Em 1990 ocorre a aprovação do novo Plano Diretor Físico - Territorial de Chapecó (PDFT), porém este não reconhece as áreas irregulares e nem aponta ações efetivas para solucionar o problema.Segundo Rigon (et al., 2011, p.5)

em 1993 havia 1.318 famílias habitando irregularmente nas periferias da cidade, em áreas públicas e privadas. Ainda, a análise de dados da Secretaria Municipal de Habitação de Chapecó referentes aos assentamentos irregulares e sua constituição histórica permite verificar que, das 97 áreas existentes no período de 2004 a 2010, 39 surgiram até o ano de 1990”.

As questões relacionadas à ocupação de áreas irregulares vão representar uma preocupação ao poder público municipal apenas em 1998, com a implantação do programa de regularização fundiária (TERNUS, 2002) Em 2004 é aprovado o novo Plano Diretor de Desenvolvimento Territorial de Chapecó, baseado nos princípios do Estatuto da Cidade, “tendo incorporado como princípios fundamentais a justiça social e o direito à cidade para todos, incluindo, dentre outros fatores, o direito à terra, à moradia e à infraestrutura urbana” (RIGON, et al., 2011, p. 8). Porém, com a revisão do documento em 2006, poucas ações foram efetivadas no sentido de promover o combate à ocupação desigual do espaço.

Ainda nos anos 2000, novas formas de produção do espaço urbano acirram as dinâmicas de desigualdade socioespacial na cidade de Chapecó. De acordo com Bedin; Nascimento (2013, p.8)

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a estrutura socioespacial da cidade começa a sofrer alterações, com tendências de mudanças no padrão socioespacial centro x periferia, desencadeadas pelo surgimento de novos hábitos de consumo e, principalmente, de novas localizações habitacionais das classes média e alta.

As mudanças na estrutura socioespacial urbana vem se delineando nos últimos anos em Chapecó e podem ser percebidas através da espacialização de dados compilados a partir dos censos de 1991 e 2010 (figuras 4, 5, 6 e 7).

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Figura 5: Chefes de família com rendimento mensal de mais de 10 salários mínimos em 1991 Fontes: Censo demográfico (setores censitários urbanos, 1991)

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Os resultados obtidos reforçam a ideia da desigualdade socioespacial no espaço urbano de Chapecó, isto porque no ano de 1991 os piores índices de rendimento mensal de chefes de família estão localizados nas periferias da cidade, sendo que os percentuais diminuem gradativamente em direção a área central (Figura 4). O segundo indicador comprova a presença da elite econômica na área central da cidade e bairros adjacentes, como é o caso do bairro Jardim Itália e Maria Goretti, representada por chefes de família com renda mensal superior a 10 salários mínimos no ano de 1991 (Figura 5).

Para o ano de 2010 (Figuras 6 e 7) percebe-se que as elites deixaram de concentrar-se somente na área central, e estão se deslocando para outros vetores de expansão, como é o caso do vetor norte da cidade, coincidindo com uma área atualmente revalorizada com a implantação de um Shopping Center. A localização dos chefes de famílias de baixa renda ainda está concentrada em sua maioria nas periferias da cidade, porém aos poucos vai se espalhando pela malha urbana.

As atuais dinâmicas estruturadoras do espaço urbano de Chapecó tem origem no surgimento de novas espacialidades, como é o caso da implantação de condomínios residenciais fechados, a presença de ocupações irregulares por todo o tecido urbano e novos investimentos econômicos (shopping, hipermercado, universidade) não localizados na área central.

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CAPÍTULO 3

A CIDADE IN LOCO: IMPRESSÕES SOBRE AS DESIGUALDADES SOCIOESPACIAIS URBANAS DE CHAPECÓ

Neste capítulo serão apresentadas as impressões registradas nos trabalhos de campo desenvolvidos no espaço urbano de Chapecó através do registro fotográfico e das experiências vivenciadas durante a pesquisa, enquanto servidora pública atuante do IBGE no cargo de “agente de pesquisa e mapeamento” e na qualidade de habitante da cidade. Neste sentido, o trabalho de campo atua como importante ferramenta de análise ao permitir a correlação do conhecimento teórico e empírico. Para Tomita (1999, p.13) “dentre várias técnicas utilizadas no ensino [e pesquisa] de Geografia, considera-se o trabalho de campo, uma atividade de grande importância para a compreensão e leitura do espaço, possibilitando o estreitamento da relação entre a teoria e a prática”.

No mapa a seguir (Figura 8) observa-se a espacialização das localizações visitadas em trabalho de campo através da coleta de pontos de GPS. De forma geral, pode-se dizer que grande parte da malha urbana foi visitada (mais de 60 áreas) com o intuito de conhecer as diferenças entre elas, suas principais características, suas formas, suas desigualdades.

De forma geral, as localizações visitadas foram:  Loteamentos fechados de alto padrão;

 Condomínios residenciais fechados populares;  Áreas de ocupação irregular;

 Áreas de valorização recente;  Bairros periféricos;

 Área central e adjacências

Durante a realização do trabalho de campo procurou-se observar algumas questões, como por exemplo, a presença ou ausência de infraestrutura nas diferentes localizações, as condições físicas/topográficas dos locais, a presença de amenidades naturais ou de fatores que influenciassem na valorização ou desvalorização de determinada localidade.

As impressões de cada experiência serão detalhadas com base nos registros fotográficos apresentados a seguir. Os locais escolhidos para elucidar o trabalho

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foram àqueles que mais despertaram minha curiosidade ao longo da pesquisa, pois apresentam características bem delineadas de um processo de ocupação do espaço urbano desigual. As situações de pobreza, miséria, falta de infraestrutura e as condições antagônicas à estas, representadas nas imagens, foram as determinantes na escolha destas localizações.

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Figura 8: Localizações visitadas em trabalho de campo Elaboração: Ederson Nascimento, 2012

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procedida a regularização dos lotes, sendo que tão somente no ano de 2004, quando foi aprovado o novo plano diretor de Chapecó, o bairro Vila Rica passou a fazer parte do Mapa Oficial do Município (ibid., p.19-20).

A história do bairro Vila Rica nos indica um padrão de ocupação desordenado do espaço, que culminou na conformação de um bairro carente de infraestruturas e de serviços públicos, conforme é possível observar no mosaico de imagens (figura 9). As fotos indicam a falta de meio fio, asfalto, sistema de coleta de esgoto, ocupações em terrenos com a presença de nascentes (ausência de preservação ambiental), dentre outros problemas. Além disso, a distância entre o bairro e a área central dificulta o acesso aos bens e serviços e o serviço de transporte público ainda é precário na região.

Somente nos últimos anos com a aprovação do novo plano diretor em 2014 e a ampliação do perímetro urbano, é que se percebe um avanço do capital imobiliário em direção à região do bairro Vila Rica, isto porque há em suas adjacências uma gama de terrenos ociosos, que começam a ser valorizados pelas dinâmicas capitalistas imobiliárias.

O cartograma de renda elaborado com base nos dados do Censo Demográfico de 2010 apontam que 75% dos chefes de família moradores do bairro são de baixa renda, recebendo até no máximo dois salários mínimos. Prado (2007, p.22) reforça esta tese ao afirmar que

A renda média familiar fica em torno de 1,5 salários mínimos, um valor extremamente baixo, principalmente em comparação com o rendimento médio de áreas mais centrais da cidade, que é de aproximadamente 5 salários mínimos, caracterizando a clara segregação econômica do bairro Vila Rica.

A desvalorização dos terrenos e a falta de infraestrutura básica aliada à baixa escolaridade dos moradores e a dificuldade de acesso ao mercado de trabalho, evidenciam o papel que o espaço exerce na reprodução das desigualdades sociais, econômicas e também espaciais.

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3.2 BAIRRO VILA REAL E PARQUE DAS PALMEIRAS

Figura 10: mosaico de fotos do bairro Vila Real Fonte: BEDIN, 2012

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Os bairros “Vila Real” (Figura 10) e “Parque das Palmeiras” (Figura 11) tem sua gênese vinculada à aprovação da Lei de Zoneamento no ano de 1980, período em que Chapecó recebia um intenso fluxo migratório e as taxas de crescimento populacional urbano estavam na casa dos 16% ao ano (entre 1975 e 1980) (RECHE, 2008). Ainda segundo a autora,

A comparação [...] de densidade e ocupação de 1974 e de 1980 [...] permite perceber que, nesse período, a cidade teve uma expansão principalmente a nordeste (permitidas pela alteração de perímetro de 1977) com a ocupação de população de baixa renda. [...] As altas taxas de crescimento do final da década de 70 se deviam principalmente à migração de população de mais baixa renda. Isso se comprova, pois as densidades populacionais das áreas centrais, já consolidadas na metade da década de 70 como áreas de população de mais alta renda, mantiveram-se praticamente as mesmas, enquanto áreas que não eram ocupadas até 1974 ou pouco ocupadas (a nordeste, principalmente), apresentaram em 1980 densidades maiores que o próprio centro da cidade, e coincidiam com as áreas de baixa renda [...] (RECHE, 2008, p.114-115).

Por se tratarem de bairros operários localizados na periferia urbana, Vila Real (nordeste) e Parque das Palmeiras (oeste) (c.f. Figura 8) possuem características semelhantes no seu modo de ocupação e nas dinâmicas imobiliárias. Uma das dinâmicas encontradas nos dois bairros é a presença de capital imobiliário destinado à camadas populacionais de classe média, os chamados conjuntos habitacionais fechados. Caracterizados pela alta densidade de ocupação, estes conjuntos fornecem uma infraestrutura básica, além da ideia de segurança vinculada ao fato de ser uma área fechada.

Outra característica dos bairros periféricos é a presença de uma paisagem rural, já que estão situados em áreas limites do perímetro urbano.

Figura 11: mosaico de fotos do bairro Parque das Palmeiras Fonte: BEDIN, 2012

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3.3 LOTEAMENTOS FECHADOS DE ALTA RENDA

O mosaico (Figura 12) retrata a realidade de uma nova dinâmica habitacional que vem se desenvolvendo em Chapecó. Esta nova realidade habitacional é um fenômeno recente na cidade e é um dos fatores que mais vem contribuindo para alterar a estrutura socioespacial urbana e acirrar ainda mais o fenômeno da desigualdade socioespacial.

Os loteamentos fechados concentram-se em sua maioria na porção sul da cidade, alguns construídos em área rural que posteriormente foi alterada para perímetro urbano, após a aprovação do Plano Diretor de 2014.

Figura 12: mosaico de fotos de loteamentos fechados de alta renda Fonte: BEDIN, 2012

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3.4 OCUPAÇÕES EM ÁREAS IRREGULARES/DE RISCO

Figura 13: Ocupação regularizada em área de preservação ambiental no bairro Saic Fonte: BEDIN, 2012

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Figura 14: Ocupação regularizada no Contorno Viário Oeste Fonte: BEDIN, 2012

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Figura 15: Ocupação irregular no bairro São Pedro Fonte: BEDIN, 2012

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As ocupações irregulares ou em áreas de risco presentes hoje em Chapecó, são em sua maioria resquícios da ocupação desordenada e desigual das décadas de 1970 a 1990, o que denota a perda de controle do poder público sobre as formas de ocupação urbana e a ausência de políticas habitacionais que solucionassem o problema (RIGON et al, 2011).

No que tange à localização desses assentamentos, situam-se predominantemente nas bordas da malha urbanizada, distribuídos de forma descontínua e dispersa: das 56 áreas irregulares existentes em 2010, 39 estão nas franjas da malha urbana ou perto de vazios urbanos, geralmente estabelecendo proximidade com elementos naturais, como encostas, cursos de rios e áreas verdes. Todavia, alguns assentamentos estão inseridos na malha urbana consolidada, referindo-se geralmente a ocupações mais antigas e também consolidadas, embora bem menos frequentes [...] casos em que são típicas altas densidades na ocupação do solo e situações de coabitação (ibid., p. 591)

Figura 16 Ocupação irregular no bairro Parque das Palmeiras Fonte: BEDIN, 2012

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Nas divisas entre os bairros “Saic” e “Jardim América” (figura 14) encontramos áreas próximas a cursos de rios e de preservação inseridas na malha urbana consolidada, conforme a bibliografia citada aponta. Não raro, estas localizações adjacentes à área central sofrem com inundações. Porém a maioria das áreas irregulares estão localizadas na periferia urbana, como é o caso das áreas irregulares no Contorno Viário Oeste (figura 15), bairro São Pedro (figura 16) e Parque das Palmeiras (figura17). O bairro São Pedro como já foi mencionado em outro capítulo, é historicamente fruto das dinâmicas de segregação socioespacial promovidas pelos agentes promotores do espaço. As ocupações em encostas no bairro Parque das Palmeiras em geral, são desconhecidas por parte da população chapecoense, já que localiza-se numa área periférica e fácil de “esconder”.

As impressões e observações durante os trabalhos de campo e as vivências cotidianas no espaço urbano servem como ferramenta para unir o conhecimento teórico e prático e orientar a produção de ações – como as políticas públicas por exemplo – visando a melhoria das condições de vida da população e auxiliando na produção de um espaço urbano igualitário que permita a todos os habitantes condições plenas de acesso à cidade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os objetivos que orientaram esta pesquisa foram analisar o processo de ocupação e (re)produção desigual do espaço urbano em Chapecó (SC), considerando as condicionantes histórico-geográficas que influenciaram na estruturação e configuração deste espaço.

Os resultados da análise deste trabalho indicaram que o espaço urbano de Chapecó foi construído a partir de ações de agentes (imobiliários, políticos, econômicos) que promoveram a ocupação desigual do espaço. O desenvolvimento urbano esteve atrelado principalmente ao processo de desenvolvimento da economia agroindustrial e da mecanização da agricultura, que juntos favoreceram o êxodo rural e a migração da população para a área urbana de Chapecó, que absorveu grande parte do contingente populacional migrante da região oeste catarinense e do Estado do Rio Grande do Sul (PERTILE, 2007; RECHE, 2008; ALBA, 2012). Além disso, outros dois agentes promotores do espaço foram de fundamental importância para a (re)produção de um espaço urbano desigual; o poder público municipal e a elite detentora de terras e de capital. Juntos, o capital agroindustrial, o poder público municipal e a elite foram responsáveis pelo processo de ocupação desigual do espaço urbano constatado em Chapecó (WOLFF, 2008).

A malha urbana de Chapecó é ocupada de forma diferenciada, com a presença da população de baixa e média renda nas periferias e da elite na área central e adjacências. Essa conformação espacial teve sua gênese principalmente nos investimentos públicos urbanos, como é o caso do projeto CURA, isto porque, as áreas que receberam mais investimentos em infraestruturas, serviços e melhorias são as áreas habitadas pela população de alta renda, situação que ainda perdura. Por sua vez, as periferias apresentam déficit nos investimentos em transporte, infraestrutura e instituições públicas, gerando um ciclo de (re)produção de desigualdade socioespacial (ibid., 2008).

As análises também apontam para novos padrões de consumo e habitação que aos poucos estão alterando a dinâmica de ocupação da malha urbana e tendem a acirrar ainda mais o processo de desigualdade no espaço urbano de Chapecó.

Por serem dinâmicas recentes, necessitam de mais estudos e possibilitam a produção de análises futuras sobre o espaço urbano em Chapecó.

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É importante neste sentido que se desenvolvam políticas públicas e planos de ações que combatam a produção de um espaço urbano desigual, que promovam a igualdade de acesso, permitindo o exercício da cidadania à todos os habitantes. Verifica-se uma necessidade urgente da modernização e maior investimento no setor de transporte público e vias de acesso às localidades mais distantes onde encontra-se a população de menor poder aquisitivo. Para isso, encontra-seria necessário a elaboração de legislações, incluindo um Plano Diretor que contemplasse a verdadeira realidade da cidade de Chapecó, que intervisse diretamente nos problemas de moradia, de falta/déficit de infraestrutura nos bairros desassistidos, que proporcionasse uma qualidade de acesso aos bens e serviços de forma igualitária à todos os habitantes.

Referências

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