O TEATRO COMO AGENTE TRANSFORMADOR DE SAÚDE EM UM DISTRITO SANITÁRIO DE FOZ DO IGUAÇU
CARVALHO, Renata1 GOMES, Ludmila Mourão Xavier2 RESUMO
A promoção da saúde mental é um tema pertinente e que vem recebendo destaque recentemente, seja no sistema de saúde, seja nas mídias sociais. Sua promoção por meio de ações educativas se demonstra um desafio em contrapartida a um modelo médico e hegemônico historicamente predominante. Sendo assim, tem-se o objetivo de descrever a experiência da promoção da saúde mental por meio de teatro, realizada no distrito sanitário Nordeste de Foz do Iguaçu, a partir de profissionais do Núcleo de Apoio à Saúde (NASF), Estratégia Saúde da Família (ESF), residentes em Saúde da Família e comunidade. Trata-se de um relato de experiência, de profissionais de saúde (NASF, ESF, residentes) e comunidade, que utilizaram o teatro como estratégia lúdica para a promoção da saúde mental, no período de junho à outubro de 2018, em unidades de saúde. Como resultados houve a elaboração de teatro com o tema “Branca de Neve em tempos modernos”, o qual foi apresentado em Unidade de Saúde, mas posteriormente recebeu reconhecimento e divulgação em mídias sociais, gestão de saúde e outros profissionais de saúde e comunidade. A promoção da saúde mental por meio de um método considerado não convencional, mas lúdico e envolvente, como o teatro, vem se delineando como um meio adequado para o empoderamento e autorreflexão de usuários de saúde, comunidade e profissionais de saúde.
Palavras-chaves: Promoção da saúde; interdisciplinaridade; saúde mental.
1 INTRODUÇÃO
O teatro é considerado uma arte milenar de apresentar algo ou uma história, que tem o objetivo de transmitir uma mensagem, seja direta ou indireta, de forma a despertar sentimentos, fomentar reflexões, propor ideias e abrir espaços para discussão sobre aquilo que se queira comunicar àqueles que o assistem. No tocante ao serviço de saúde, a promoção da saúde é despontada a algum tempo como pauta pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e por políticas intersetoriais, no sentido de se ampliarem também, as estratégias para isso. Por outro lado, o tema também vem recebendo destaque nas mídias sociais e em debates na sociedade. Em contrapartida, sabe-se que no Brasil, no
que se refere à saúde mental, é predominante ainda o modelo hospitalocêntrico, sendo urgente necessidade de novas estratégias para sua promoção, considerando-se a realidade do país nessa área.
Sendo assim, o teatro vem como uma forma diferenciada de auxílio à psicoterapia, onde os atuantes interagem entre si, os outros e seu mundo particular, buscando assim uma forma de auxiliar através dessa arte, aqueles que se encontram em sofrimento psíquico, mental ou emocional. Portanto, este trabalho tem o objetivo de descrever a experiência da promoção da saúde mental por meio de teatro, que vem sendo realizada no distrito sanitário Nordeste de Foz do Iguaçu, a partir de profissionais do Núcleo de Apoio à Saúde (NASF), Estratégia Saúde da Família (ESF), residentes em Saúde da Família e comunidade.
2 METODOLOGIA
Trata-se de relato de experiência de profissionais de saúde (NASF, ESF, residentes) e comunidade - na figura de Sônia Costa Morais que foi voluntária durante todo o período de planejamento e implantação das ações, atuando como escritora e diretora da peça. Sendo que, o teatro uma estratégia lúdica importante para a promoção da saúde mental, período de junho à outubro de 2018, em unidades de saúde.
Para tanto, foram utilizados como materiais: roupas/fantasias, objetos e móveis presentes nas Unidades de Saúde da Família e disponibilizados pelos participantes. Além disso, as ações foram divididas em oficinas, com temas previamente definidos.
As oficinas de preparação dos atores têm por princípio a duração de um mínimo de 20 horas, sendo diluídas em períodos de 4 horas de duração cada uma. Os ensaios ocorreram no espaço do saguão de uma igreja católica no Distrito Nordeste, cedido pelo padre, uma vez que o espaço da unidade de saúde seria inviável para a realização da proposta em função do barulho e espaço físico que as atividades demandaram.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
De acordo com Soares et al (2011) a educação em saúde vem como um processo de aprendizagem e reflexão, estabelecendo contato íntimo com as situações do cotidiano, em seus intricados aspectos culturais, sociais, políticos e econômicos. Desenvolver atividades educativas é relevante para que se atinja a integralidade do cuidado, uma vez ainda, que trata-se de uma das atribuições básicas de todos os profissionais que compõem o SUS.
O teatro pode ser ressaltado como uma estratégia não convencional de promoção da saúde, que se desenvolve a partir do lúdico, mediante a linguagem teatral, e que é capaz de enriquecer as ações educativas, na medida em que se trata de um adequado instrumento de comunicação, expressão e aprendizado. Trata-se de uma modalidade de ensino-aprendizagem criativa, estimulante, integradora e participativa, que intensifica as diversas trocas de saberes, favorecendo o conhecimento e a construção de novas relações entre as pessoas e o ambiente (JORGE et al., 2011).
Para o âmbito da saúde mental, potencializa o desvencilhar-se do modelo tradicional, em direção à concretização de uma prática fecunda e inovadora. Traduz ruptura, movimento, vozes e sonhos, que permitem encenar de forma ousada e criativa a realidade dos sujeitos envolvidos, incitando o autoconhecimento, o pensamento autônomo e crítico, o crescimento pessoal e coletivo, além de facilitar a socialização (JORGE et al., 2011).
Trata-se de uma estratégia para a utilização das tecnologias leves em saúde na procura da integralidade do cuidado, no sentido de reduzir o sofrimento, melhorar a qualidade de vida e desenvolver a autonomia nas pessoas para viverem a vida (JORGE
et al., 2011).
Tratando-se de saúde mental no contexto da saúde pública, no Brasil, enquanto campo de ação profissional, ainda é uma área em plena expansão e que necessita de importante atenção (RIBEIRO, 1999). Recentemente campanhas do Ministério da Saúde vêm sendo desenvolvidas em âmbito tripartite no território nacional. De maneira
e aprisionamento das pessoas com transtornos mentais, a partir de um processo histórico de construção, reflexões e lutas (COSTA, COLUGNATI E RONZANI, 2015). Em uma recente revisão sistemática de literatura brasileira sobre o tema, os autores denotaram avanços no cuidado, a partir de tratamento humanizado, participativo e comunitário, mas por outro lado também salientaram a necessidade de maiores investimentos, qualificação profissional e melhorias organizacionais (COSTA, COLUGNATI E RONZANI, 2015).
4 RESULTADOS
Num primeiro momento, delineou-se a proposta da apresentação do teatro com o tema Branca de Neve em tempos modernos, para os pacientes do grupo de sala de espera da estratégia saúde da família Sol de Maio distrito Nordeste. Isso também com o intuito de divulgar a roda de terapia comunitária integrativa no apoio as estratégias de promoção da saúde mental. Houve expressiva participação da comunidade no dia da apresentação e a presença do jornal RPC – Jornal do Meio Dia que registrou e abordou a importância da não medicalização para as angústias e sofrimento psíquico cotidiano.
Outro resultado significativo foi a adesão dos pacientes na roda de conversa – terapia comunitária integrativa, sendo que temos recebido pacientes de todo o distrito.
A partir disso, percebemos uma maior sensibilidade e valorização da equipe de saúde e gestores. Também houve o convite para expandir as apresentações, para além do distrito nordeste. Ao todo a peça foi apresentada nas unidades de saúde Sol de Maio, São João, Três Bandeiras, Maracanã, Morumbi III, faculdade UDC/Anglo Americano, Lar dos Velhinhos de Foz do Iguaçu.
Houve a indicação para o programa “Me chama – RPC”, dada a relevância de abordar o teatro como terapia alternativa na saúde. Ademais, o setor de comunicação da prefeitura também divulgou no site o cronograma das apresentações e, enredo da peça. E, o jornal Gazeta do povo de Foz do Iguaçu.
5 CONCLUSÕES
Por meio desse relato de experiência, demonstra-se que a promoção da saúde mental por meio de um método considerado não convencional, mas lúdico e criativo, como o teatro, vem se delineando como um meio adequado para o empoderamento e autorreflexão de usuários de saúde, comunidade e profissionais de saúde. Branca de Neve em Tempos Modernos faz um convite a repensar o estilo de vida, a questionar o “lugar e/ou papel” que a mulher ocupou e ocupa na sociedade, as doenças psicossomáticas que podem esconder depressões, transtornos ansiosos, etc. Ainda, a possibilidade de identificar as mudanças na família contemporânea e, dentro destes contextos como a unidade de saúde pode estar acolhendo esse sofrimento, através da escuta, disponibilizando um espaço de fala que acolha com respeito e aceitação essa dor do outro. Portanto, a experiência vem como uma forma de superação do modelo hegemônico de cuidado ao indivíduo, traçando novas perspectivas para o tema de saúde mental no Distrito Nordeste de Foz do Iguaçu.
6 PRINCIPAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COSTA, Pedro Henrique Antunes; COLUGNATI, Fernando Antonio Basile; RONZANI, Telmo Mota. Avaliação de serviços em saúde mental no Brasil: revisão sistemática da literatura. Ciênc. saúde colet. 20 (10) Out 2015 •
https://doi.org/10.1590/1413-812320152010.14612014
JORGE, Maria Salete Bessa, et al. Promoção da Saúde Mental - Tecnologias do Cuidado: vínculo, acolhimento, co-responsabilização e autonomia. Ciência & Saúde Coletiva, 16(7):3051-3060, 2011.
RIBEIRO, Paulo Rennes Marçal. Saúde mental no Brasil. Universidade Aberta. 1999. SOARES, Sonia Maria, et al. O teatro em foco: estratégia lúdica para o trabalho
educativo na saúde da família Escola Anna Nery. Revista de Enfermagem, vol. 15, núm. 4, octubre-diciembre, 2011, pp. 818-824.