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Proteção ambiental : uma análise da prática agropecuária das queimadas

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL – UCS

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE MESTRADO EM DIREITO

Susane Fabrícia Boeira

PROTEÇÃO AMBIENTAL:

UMA ANÁLISE DA PRÁTICA AGROPECUÁRIA DAS QUEIMADAS

Caxias do Sul 2011

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SUSANE FABR

í

CIA BOEIRA

PROTEÇÃO AMBIENTAL:

UMA ANÁLISE DA PRÁTICA AGROPECUÁRIA DAS QUEIMADAS

Dissertação apresentada como requisito

parcial, para a obtenção do título de Mestre em Direito, ao Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade de Caxias do Sul – UCS.

Orientador: Professor Doutor Wambert Gomes Di Lorenzi

Caxias do Sul 2011

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Índice para o catálogo sistemático: 1. Direito ambiental 349.6 2. Meio ambiente 502/504 3. Proteção ambiental 502.17 4. Queimada 631.588

Catalogação na fonte elaborada pelo bibliotecário Marcelo Votto Teixeira – CRB 10/ 1974 B671p Boeira, Susane Fabrícia

Proteção ambiental : uma análise da prática agropecuária das queimadas / Susane Fabrícia Boeira. - 2011.

76 f. ; 30 cm

Dissertação (Mestrado) – Universidade de Caxias do Sul, Programa de Pós-Graduação em Direito, 2011.

Apresenta bibliografia. “Orientação: Prof. Dr. Wambert Gomes Di Lorenzi.”

1. Direito ambiental. 2. Meio ambiente. 3. Proteção ambiental. 4. Queimada. I. Título.

CDU: 349.6

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Dedico este trabalho de pesquisa a Diego Oliveira Cardoso, pelo apoio incondicional e indescritível.

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Agradecimento: Agradeço a todas as dificuldades que enfrentei. Não fosse por elas, eu não teria saído do lugar. As facilidades nos impedem de caminhar. (Chico Xavier)

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RESUMO

Este estudo tem por objetivo principal a análise da conduta das queimadas, prática agropecuária ainda muito utilizada em todo o Brasil. A utilização do fogo, embora muito contestada no meio científico por entidades ambientalistas e pela sociedade em geral, constitui uma realidade comum em diversos Estados brasileiros. No Sul, mais precisamente em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, esta atividade vem sendo amplamente difundida, principalmente em razão da topografia acidentada e existência de muitas rochas, que dificultam o manejo do pasto seco acumulado durante o final do inverno. Os motivos para a utilização da queima como estratégia de manejo estariam relacionados com a eliminação do material “seco” pelo frio do inverno, cujo excesso, segundo os produtores, prejudicaria a rebrotação na primavera, pois os animais não consomem o pasto seco envelhecido. Outras questões citadas estariam relacionadas ao grau de infestação de espécies indesejáveis em áreas queimadas e não queimadas, bem como a velocidade e qualidade da rebrotação das espécies forrageiras após a queima. Assim, diante de tal quadro, a finalidade deste é discutir e analisar os principais efeitos das queimadas, considerando-se as vantagens, desvantagens e, principalmente, os prejuízos causados pelo uso contínuo e freqüente do fogo como instrumento de manejo e limpeza.

Concomitantemente, visa abordar a questão da proteção ambiental frente a tal prática, analisando os danos causados ao meio ambiente e à saúde humana, sob á ótica legal, especialmente o disposto pela Constituição Federal e legislação infraconstitucional, que têm por objetivos precípuos a proteção integral ao meio ambiente, como bem jurídico de uso comum de todos, contra todo e qualquer dano que lhe possa ser causado.

Palavras-chave: Meio ambiente. Queimadas.

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ABSTRACT

This study has as main objective to analyze the behavior of fires, agricultural practice still widely used in Brazil. The use of fire, though very contested within the scientific community by environmental groups and society in general, is a common reality in several Brazilian states. In the South, specifically in Santa Catarina and Rio Grande do Sul, this activity has been widespread, mainly due to the steep topography and the existence of many rocks, which make the management of the pasture accumulated during the late winter very difficult. The reasons for the use of burning as a management strategy would be related to eliminate the excess of "dry" material created by the cold of winter, according to the producers, it would damage the regrowth in the spring, because the animals do not consume the old dry grass. Other issues raised were related to the degree of infestation of undesirable species in burned and unburned areas, as well as speed and quality of forage regrowth after burning. Therefore, faced with this situation, the purpose of this study is discuss and analyze the main effects of the burnings, considering the advantages, disadvantages, and especially the damage caused by frequent and continuous use of fire as a management tool and cleaning. At the same time, it aims to address the issue of environmental protection according to this practice, examining the damage caused to the environment and human health, under the legal approach, especially the provisions of the Constitution and constitutional legislation, which are the prime objectives for the full protection environment, such as legal and common use of all, against any and all damages which may be caused.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 09

1 UMA PRÁTICA: QUEIMADA ... 12

1.1 Queimadas: Uma prática cultural agropecuária brasileira ... 29

1.2 Queimadas: Um crime ambiental? ... 30

2 PROTEÇÃO PENAL DO MEIO AMBIENTE: A NOVA ORDEM JURíDICA ... 43

2.1 A proteção penal ambiental na constituição de 1988 ... 43

2.2 Avanço ou retrocesso na legislação infraconstitucional penal ... 54

2.3 A eficácia ou não da proteção penal ambiental ... 58

CONCLUSÃO ... 66

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INTRODUÇÃO

A prática das queimadas ainda tem sido utilizada de forma recorrente em todo o território nacional. Essa atividade tem sido alvo de inúmeras controvérsias no meio científico e perante a própria sociedade, na medida em que sua utilização gera uma série de opiniões controvertidas, existindo correntes prós e contras de forma concorrente.

É certo que a prática altera o equilíbrio não só da fauna e da flora,como do meio ambiente como um todo, uma vez que atinge também o ar atmosférico, o solo e o ser humano.

Entretanto, muitos estudos práticos sobre a queima têm revelado que a mesma ainda que de evidente malefício ao meio ambiente como um todo, sendo os efeitos adversos praticamente inevitáveis, trazem situações em que a prática é benéfica e de extrema necessidade, já que dependendo do ecossistema onde aplicada, podem os efeitos serem diferenciados diante da influência de diversos fatores.

Logo, a averiguação se a conduta deve ou não ser repreendida pelo ordenamento jurídico pátrio de forma mais rigorosa do que atualmente se apresenta, é uma difícil questão diante da sobreposição de opiniões existentes.

As queimadas, desencadeadas pela ação humana, sejam na forma dolosa, sejam mesmo em razão da aplicação de método agropecuário, são práticas milenares que precisam ser analisadas sob uma ótica diferenciada, dada a interdependência e integração dos elementos do meio ambiente natural, que contemplam essa prática: ar atmosférico, solo, água, flora, fauna e ser humano. Por não serem hoje analisadas e pensadas indissociavelmente, o ordenamento jurídico não dispõe de instrumentos de tutela efetiva, principalmente em se tratando de tutela penal, que visa a inibir e educar a sociedade.

A legislação federal atual não contempla a atividade das queimadas como prática criminosa, trazendo tão somente limitações e regulamentações à mesma através de legislação estadual específica.

Atualmente, a preocupação com a proteção do meio ambiente, bem como a preservação do ecossistema, tem sido foco de inúmeras discussões, dada a relevante importância que este tem para a existência humana.

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As queimadas são práticas antigas, mas ainda muito utilizadas principalmente por produtores rurais, que se utilizam desse mecanismo como meio de manejo e renovação de pastagens, bem como para limpeza de lavouras para novas plantações.

No entanto, em que pese os benefícios apontados por muitos, na prática nada mais são do que a devastação de campo, mata ou floresta pelo fogo ateado propositadamente, com a errônea intenção de “limpeza” do solo e renovação da vegetação. Sempre que praticadas, lançam no meio ambiente substâncias nocivas à saúde do ser humano, dos animais em geral, das plantas e do próprio solo, prejudicando todo o ecossistema.

Ainda assim, em diversos casos resta evidenciado que a atividade da queima é necessária e tida como única opção em diversas situações.

Nesse contexto, urge a necessidade de o Poder Público implementar medidas capazes de regularizar a utilização sustentável do solo, de modo a incentivar a imediata substituição das queimadas, de forma gradual para que seja substituída por outras técnicas menos agressivas ao meio ambiente.

No Brasil, o direito ambiental trata especificamente das questões do meio ambiente, regulamentando os procedimentos e as formas de exploração da fauna, da flora, do solo, da água e do ar, visando à manutenção da qualidade de vida de todos os seres vivos, tendo em vista que o interesse na preservação e no uso adequado da vegetação está diretamente ligado à função social e ambiental.

O direito é, certamente, um dos mais importantes instrumentos existentes para regular todas e quaisquer situações que tragam risco de qualquer dano ao meio ambiente, as quais são cada dia mais comuns na busca incessante pelo desenvolvimento econômico, científico e tecnológico, devendo então impor restrições a certas atividades.

A questão das queimadas deve ser enfatizada sempre visando a proteção ambiental de forma mais completa possível, já que, os malefícios que trazem ao meio ambiente superam em muito os eventuais benefícios.

Na medida em que surgem algumas situações em que tal prática se necessária, há que se buscar um ponto de equilíbrio entre a proteção devida e o controle da atividade.

As questões relacionadas com a proteção do meio ambiente têm importante instrumento de proteção através da legislação ambiental existente. No entanto, tais

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questões ganharam maior importância e destaque no direito brasileiro, com a inclusão do tema na Constituição da República de 1988 e da Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, conhecida como Lei dos Crimes Ambientais.

Tais dispositivos legais têm especial enfoque sobre a proteção da fauna e da flora; a preservação do ecossistema; a prevenção dos crimes ambientais; a repressão e punição das agressões contra o meio ambiente, buscando a conscientização máxima da humanidade e chamando a atenção sobre a importância que a preservação constante e ampla deve ter na vida de todo ser humano.

Ainda que a tutela penal do meio ambiente, na forma de punição aos crimes ambientais mais graves, seja de fundamental importância, as doutrinas nacional e estrangeira, que se debruçam sobre o assunto, ainda são recentes, o que reforça a importância do estudo constante acerca do tema, em especial a questão da prática das queimadas.

O meio ambiente vem se mostrando como um importante bem jurídico a ser tutelado a partir do momento em que se torna evidente sua constante degradação; afetando de forma significativa o equilíbrio do ecossistema e a qualidade de vida humana sobre a Terra e até mesmo sua própria existência, razão pela qual a questão ora abordada merece uma analise minuciosa acerca de suas vantagens e desvantagens.

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1 UMA PRÁTICA: QUEIMADAS

1.1 Queimadas: uma prática cultural agropecuária brasileira

Não é de hoje que se percebem manifestações em defesa do meio ambiente. Desde o fim da 2ª. Guerra Mundial, a consciência aflorou, quando se percebeu que o planeta poderia ser destruído pelo homem, inclusive pondo em risco o fim da própria espécie.

Certamente essa conscientização se deu em face de ocorrências catastróficas como as explosões das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, quando então, principalmente na Europa tiveram início diversas manifestações pacifistas contra o uso da energia nuclear, por conta justamente das terríveis consequências para a humanidade e o meio ambiente.

Até então, pouco se falava de concreto acerca de preocupações ambientalistas, sendo o assunto considerado até utópico e restritas tais preocupações a poucos naturalistas em defesa da vida no planeta.

Entretanto, a situação foi mudando radicalmente ao longo de todos esses anos e atualmente a preocupação com a preservação do meio ambiente é assunto que faz parte da vida de todos os seres humanos, que com certeza vêm se conscientizando acerca de tal situação em face dos acontecimentos naturais catastróficos que ocorrem em muitos casos, aos quais se atribui como sendo causa principal, a própria ação humana junto ao meio ambiente.

Na medida em que se atribui ao próprio homem a responsabilidade pela destruição iminente com a qual se depara dia a dia, a consciência sobre a necessidade de preservar e proteger a fonte da vida cresce proporcionalmente.

No entendimento de Édis Milaré (2001), a expressão “meio ambiente” tem características de um camaleão, já que inexiste consenso unificado sobre sua definição. O que se distingue, no entanto, é a perspectiva sobre a expressão, que pode ser ampla ou restrita, quando abrange, na primeira toda a natureza original e artificial, aqui incluídos bens culturais e correlatos, e na segunda, o patrimônio natural e suas relações com os seres vivos.

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O meio ambiente é considerado pela legislação um bem jurídico difuso, que deve ser protegido por todos, tendo em vista que satisfaz as necessidades dos seres vivos, especialmente os seres humanos, sendo essencial a todos.

A relação do homem com o meio em que vive, dá origem à preocupação com a preservação do meio ambiente, sendo que a degradação deste se dá principalmente pela exploração irracional dos recursos, uma vez que o homem sempre explorou a natureza para a obtenção de recursos para sua sobrevivência (SPAREMBERGER e BUTZKE, 2011)

Dessa forma, se tem que a principal tarefa do Direito Ambiental é estabelecer normas que regulem a proteção do meio ambiente, de acordo com as necessidades que urgem do uso dos recursos naturais disponíveis, não permitindo que o uso seja indiscriminado e de acordo com a livre vontade do ser humano, mas devendo ser razoável a sua utilização, sendo vedada sempre que considerada maléfica.(MACHADO, 2004).

O Direito Ambiental é um importante instrumento para a proteção ao meio ambiente, na medida em que ações humanas o colocam em risco, juntamente com a vida do planeta, quando evidentemente maléficas a este.

O homem desde muito necessita da natureza para retirar seu sustento e com o passar dos tempos foi utilizando-se de ferramentas aliadas a novas tecnologias que degradam o meio ambiente de forma cada vez mais agravante, aumentando o capital com a transformação dos produtos retirados da natureza (SPAREMBERGER e BUTZKE, 2011)

A Constituição Federal de 1988 garante o direito dos seres vivos a um meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à qualidade de vida, oferecendo ao ser humano livre acesso a todos os recursos naturais existentes, desde que observados os devidos cuidados com sua preservação.

A norma constitucional sugere precaução contra a extinção (aqui, neste estudo, envolve as queimadas e a possível extinção dos seres vivos – animais e vegetais) e o prejuízo aos seres humanos, ditos como animais racionais.

Fixa ainda princípios em relação ao meio ambiente, atribuindo responsabilidades, tanto à pessoa física quanto à pessoa jurídica e estabelece sanções civis e penais, além das administrativas, para os infratores das normas legais existentes.

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Juntamente com a Constituição Federal e a legislação infraconstitucional, há os princípios do direito ambiental, os quais visam especialmente à proteção da fauna e da flora, para a preservação do ecossistema, além da prevenção dos crimes ambientais e a repressão e punição das agressões contra o meio ambiente.

Sabe-se que, historicamente, as queimadas surgiram como práticas agropecuárias, que visam a limpeza de terrenos e lavouras e à eliminação pelo fogo de pastagem ressecada e resíduos de plantas não úteis.

O fogo foi utilizado pelo homem desde os tempos primitivos e desde então já agia sobre o ambiente provocando diversos efeitos, sendo considerado um dos mais antigos instrumentos utilizados pela espécie humana como agente modificador da paisagem, atingindo não só o meio físico como a biodiversidade.

Em épocas mais remotas foi usado como forma de manejo e ocupação da terra e transformação do ambiente, seja na renovação de pastagens, seja na limpeza de lavouras para a preparação de novas culturas, firmando-se como uma tradição secular e universal, cuja utilização persiste até os tempos atuais.

De acordo com Sparemberger e Butzke (2011), a cultura de utilização do fogo ultrapassou os séculos, chegando à era da automação industrial e da mídia eletrônica.

Ainda que a descoberta do fogo tenha tido imensurável valia para toda a humanidade, seu uso indiscriminado e de forma equivocada é uma situação que preocupa os seres vivos, diante da crescente utilização de queimadas e incêndios florestais, que se tem presenciado nos dias atuais.

A cada ano grandes extensões terrestres sofrem com a ação antropogênica das queimadas, quando, ou devastam grandes áreas de campos ou regiões agrícolas ou ainda quando somente são utilizadas para o melhoramento do campo nativo, na sua limpeza e rebrotação rápida.

Entretanto, em que pese a predominância de opiniões contra a utilização das queimadas para as mais diversas finalidades, Sparemberger e Butzke (2011, p. 27), citam a opinião do naturalista norte-americano Odun, cujos ensinamentos sobre ecologia ultrapassam as fronteiras do mundo inteiro através de suas inúmeras obras sobre o assunto, o qual entende que “o fogo ajuda a manter a vegetação arbustiva em regiões quentes ou úmidas”.

Importante enfatizar, antes de dar continuidade ao assunto, que existe uma distinção entre incêndios e queimadas, salientada por Ferreira (2011), pela qual se

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tem que o termo “incêndio” é caracterizado pela queima de forma descontrolada que poderá causar diferentes impactos ao meio ambiente e à sociedade em si, podendo ser natural, acidental ou criminosa quando provocado pelo homem. Já o termo “queimada” significa a queima de forma controlada originada a partir da ação do homem.

Semelhante é a definição de Silva (2007), o qual diz que “entende-se por queimadas a destruição da vegetação pelo fogo, natural ou provocada”.

Embora não proibidas de forma absoluta, as queimadas se mostram, a primeira vista prejudiciais ao meio ambiente, trazendo-lhe malefícios de diversas formas, dentre os quais se pode destacar a poluição do ar atmosférico, pela liberação de gases tóxicos, altamente nocivos à saúde e ao bem-estar de todas as pessoas.

Assim, os estudos desfavoráveis à prática têm o entendimento de Cruz de que “as queimadas realizadas como método de cultivo constituem importante fonte de degradação ambiental, quer pelos danos causados à flora e à fauna [...], mas também por serem uma fonte significativa de poluição atmosférica”. (2002, p. 76).

Ainda, de acordo com a mesma Autora tal prática causa a formação de uma espécie de fuligem que contém substâncias carcinogênicas, mutagênicas e teratogênicas prejudiciais à saúde humana e ao próprio solo, causando o empobrecimento destes, além de incêndios florestais, etc. Tais situações levam a prática a ser considerada uma das formas de poluição atmosférica. (2002).

Sob outro aspecto, Ferreira (2011) destaca a questão do aquecimento do solo através da queimada, afirmando que o fogo em vegetações nativas provoca inicialmente neste, a ocorrência de alta temperatura em curto espaço de tempo, além de outros problemas.

Ainda, continua explicando Ferreira:

Devido à elevada temperatura alcançada nesses incêndios, fuligens de diâmetros maiores são transportadas por correntes de ar e são depositadas em locais próximos ao incêndio a sotavento do vento local predominante. As partículas menores podem permanecer em suspensão no ar e reduzir a visibilidade provocando acidentes em estradas, fechamento de aeroportos e problemas respiratórios devido à absorção desses resíduos pelas vias respiratórias tanto em pessoas como em animais. (FERREIRA, 2011).

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Os que condenam têm como escudo que eventuais benefícios são superados pelos malefícios que o efeito do fogo provoca, tanto para o meio ambiente (aqui entendidos solo, ar, água, etc.), quanto para os seres vivos.

A queima ou o fogo é altamente nocivo à preservação ambiental, não apenas destruindo matas e florestas, com reflexos sobre as águas e a fauna existentes. É causa ainda de poluição do ar atmosférico, pela liberação de gases tóxicos primários (monóxido de carbono, dióxido de carbono, metanos e hidrocarbonetos), que são altamente prejudiciais para o ser humano, podendo ser a causa de diversas doenças respiratórias e cardiovasculares.

Segundo consta no Anexo I do Protocolo de Kioto, a fumaça originada a partir das queimadas é o principal poluente que os países em desenvolvimento produzem, uma vez que emitem dióxido de carbono para a atmosfera. (FERREIRA, 2011).

Além da liberação de tais substâncias, a queima também produz fuligem, que é um material proveniente da combustão incompleta da matéria incinerada e que tem em sua composição substâncias tóxicas. Não suficiente sua toxicidade, também causa danos ao meio ambiente, quando essas substâncias, depositadas sobre plantas das mais diversas espécies, prejudica a fotossíntese e ocasiona problemas no seu desenvolvimento.

Quanto à segurança, da mesma forma as queimadas trazem malefícios à população causando diversos problemas quando atingem a rede elétrica, provocando acidentes em vias secundárias e rodovias que ficam próximas, devido ao grande volume de fumaça que se espalha por quilômetros atingindo a visibilidade de motoristas, além da própria poluição do ar respirado pelas pessoas próximas ao local.

A queima constitui uma conduta lesiva à flora (causando incêndios em florestas e vegetação em geral), e também uma significativa causa da poluição do ar.

Quanto aos impactos do fogo sobre as propriedades físicas do solo, observa-se que, após a queima, geralmente permanece uma reduzida cobertura vegetal para diminuir o impacto das gotas de chuva (Bertol, et al., 1997)

A prática é defendida como sendo opção insubstituível à limpeza de lavouras e à renovação de pastagens, ainda que já existam diversas técnicas agropecuárias que podem ser adequadas a cada situação.

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No entendimento de agropecuaristas, a queima é uma solução fácil e de baixo custo para a renovação de pastagens, estimulando a rebrota rápida e natural de diversas espécies vegetais, eliminando o capim ressecado e fazendo com que a escassez de alimentos seja suprida pela vinda rápida de vegetação nova.

Também defendem que as queimadas ajudam na melhora da sanidade animal, ao atingir alguns tipos de ectoparasitas, como carrapatos e bernes (que também são vetores de diversas doenças), cujo ciclo de vida inicial se dá na vegetação, antes de atingir os animais parasitados.

Interrompido tal ciclo com a queima da vegetação onde se encontram inicialmente, ocorre uma diminuição na infecção dos animais, contribuindo para o controle dos parasitas e, por consequência, ocorre a redução das doenças que estes causam aos animais. (SILVA, 2007).

Já no manejo e melhoramento de pastagens nativas, a utilização da queimada é defendida como sendo a melhor forma de rapidamente fazer o pasto rebrotar, podendo então suprir com rapidez a escassez de alimentos que existe após o período de inverno.

Segundo Córdova et al (2004), nos casos de melhoramento de pastagens, em determinadas situações a queima pode ser especialmente justificada, ou seja, quando a pastagem for de porte mais alto ou a vegetação seja muito grosseira, onde outras técnicas se mostrem impossíveis de ser aplicadas ou quando o terreno apresentar grande pedregosidade ou declividade e da mesma forma não for possível outra forma de limpeza e semeadura das sementes do pasto plantado que irá auxiliar o natural.

Porém, sempre há que ser levado em conta que a queima, ainda que nas situações que se mostrem “favoráveis”, com a retirada total da vegetação, vai favorecer o aparecimento de espécies indesejáveis, já que o fogo retira a competição de muitas espécies por um determinado período. Ainda, existe a perda de matéria orgânica e nutrientes, representando prejuízos para o solo e alterações nas condições normais deste (CÓRDOVA, ET AL, 2004).

É certo que a queimada é uma prática polêmica e rotineira não restando dúvidas que o estímulo à sua substituição deverá ser sempre oferecida ao agropecuarista que muitas vezes sequer têm conhecimento da existência de técnicas menos agressivas, acreditando erroneamente que a queima, além de ser a única alternativa, é uma necessidade dentro do atual sistema de produção.

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Nas palavras de Evangelista, citado por Córdova et al (2004, p. 214):

O fogo, em si, não é bom nem mau, mas apenas um instrumento à nossa disposição (...). Seu abuso é sempre pernicioso e seu impacto sobre a natureza sempre profundo. Tudo depende da perspectiva do homem que, sendo maior que o fogo, pode dominá-lo e colocá-lo a seu serviço.

Ainda nesse sentido é entendimento de Córdova et al (2004), quando trata da prática da queima utilizada para o manejo dos ecossistemas, mais precisamente dos campos naturais, que defende ser melhor alternativa, estimular a substituição da queima pelo melhoramento das pastagens nativas. A queimada é utilizada pela maioria dos produtores em função do desconhecimento de outras técnicas, além da não disposição de recursos financeiros para a aplicação de outros métodos substitutivos.

Entretanto, nos casos em que se optar pela utilização da queima, Pupo (1979), faz algumas recomendações importantes tais como as áreas queimadas sejam alternadas, se possível não repetindo a queima no mesmo local num período de três anos, efetuar a queimada uns dois dias após uma chuva razoável para a proteção das raízes e demais partes da planta próximo ao solo, queimar nas últimas horas do dia, para que a queda de temperatura e o sereno auxiliem no controle das chamas, colocar fogo na direção do vento, para que, a queima seja rápida e os efeitos menores, entre outros cuidados que amenizam os efeitos e auxiliam na redução dos problemas ao meio ambiente.

A utilização da queima de pastagem é praticada por pecuaristas das regiões do sul visando a eliminação dos pastos quando chega a estação quente, os quais não foram consumidos pelos animais e que se ressecaram sob o rigoroso inverno, na busca de uma rápida rebrota do pasto verde.

Em posição contrária, se tem pelos estudos coordenados pelo Prof. Aino Victor Ávila Jacques junto à UFRGS, as principais conclusões são de que as áreas queimadas produziram menos que as roçadas ou melhoradas; espécies como a grama forquilha brotaram com menor intensidade nas áreas queimadas; o caraguatá, espécie das mais indesejadas na região Central e da Serra do Rio Grande do Sul, teve um aumento nas áreas queimadas e a mais importante foi a sujeição dos solos queimados à erosão nos locais queimados (CÓRDOVA, et al. 2004).

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Já pelas conclusões de Silva (2003) sobre a utilização da queima na renovação de pastagens, quando este afirma que embora a queima reduza a disponibilidade do pasto, aumenta o teor da proteína bruta do pasto que vem após o fogo. A retomada da cobertura do solo pela rebrota demora em torno de cinco meses para se completar, mas em contrapartida, as espécies indesejáveis, já citadas no estudo do Prof. Aino, como grama forquilha, pega-pega, caraguatá e outras ervas daninhas tiveram aumento após o fogo em contraposição a outras, também consideradas daninhas como o capim-rabo-de-burro, cabelo-de-porco, carqueja, barba-de-bode e o capim annoni.

Logo, se conclui que a queima então pode ser prejudicial ou favorável dependendo do objetivo que se está buscando com a mesma, ou seja, eliminar determinadas espécies ou apenas renovar o pasto natural.

Nessa questão da utilização do fogo em pastagens o que se sabe é que existem inúmeras contradições sobre a prática das queimadas, formando-se enorme polêmica em torno do assunto.

Nas pesquisas de Pupo e Schreiner, citadas por Córdova et al (2004), estes apontam itens favoráveis e desfavoráveis da prática, relativamente equilibradas, conforme abaixo:

Vantagens:

- Remove o capim velho rejeitado pelo gado

- Estimula a brotação nova, tenra e de melhor qualidade - Elimina endo e ectoparasitas

- Controla algumas plantas indesejáveis

- As cinzas contém nutrientes aproveitados pela nova vegetação

Desvantagens:

- Aumenta a erosão do solo, principalmente em terrenos com declive - Reduz a infiltração de água no solo

- Destrói parte da matéria orgânica existente no solo

- Reduz a incidência de algumas espécies de insetos, inimigos naturais de diversas pragas

- Diminui a população de microorganismos úteis

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Em outro estudo similar, Machado (1999), também chegou a conclusões favoráveis e desfavoráveis a respeito do emprego do fogo na limpeza das pastagens no Estado do Rio Grande do Sul.

Machado deixa de lado a questão da legalidade ou não da queimada e se atém à questão específica dos prós e contras da prática, analisando em sua pesquisa itens como vegetação, qualidade do pasto, dormência de sementes erosão do solo, matéria orgânica e microvida do solo, além da poluição do ar e custo.

Conclui referido estudo que o emprego do fogo de forma contínua associado a um errôneo manejo da pastagem, favorece o aparecimento de espécies tóxicas. Ao contrário, usando-se o fogo de forma esporádica e com um correto manejo, há um controle de macegas e arbustos indesejáveis e favorece o aparecimento de espécies forrageiras de boa qualidade (1999)

Quanto ao pasto que rebrota da área queimada, este apresenta melhor qualidade em relação ao da área roçada eliminando folhas velhas e mortas. Esta questão, no entanto pode ter reversão se a área for queimada seguidamente, pois o solo vai sendo degradado e alterando a qualidade obtida nas primeiras queimas. (1999).

Quando da utilização do fogo é feita na estação seca e com uma lotação de animais, considerada “pesada”, a infiltração de água no solo é prejudicada e favorece a erosão. Essa situação é revertida quando o fogo for utilizado de forma mais branda, em uma estação um pouco mais úmida e com certo vento, quando a queima não vai atingir a parte inferior da pastagem, restando uma pequena camada que irá proteger o solo da ação erosiva. (1999).

Na questão da matéria orgânica do solo, não existe um posicionamento definido se o fogo é ou não prejudicial ao contrário da questão da poluição do ar, na qual não existem dúvidas de que a mesma ocorre com a queima em qualquer situação, podendo entretanto, ser minimizada com a alteração da frequência, ou seja, queimadas esporádicas e localizadas não trarão os mesmos efeitos poluentes que queimadas frequentes e intensas (1999).

Já com relação às características químicas e biológicas do solo, é consenso que queimadas frequentes prejudicam as plantas forrageiras devido ao esgotamento das reservas nas raízes e na base do caule, diminuindo o vigor da rebrotação. Além disso, há perdas de nitrogênio, enxofre e outros elementos contidos na vegetação queimada (ZANINE; DINIZ, 2007).

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Entretanto, a queima da parte aérea acarretaria menores prejuízos ao solo e à vegetação, desde que o material queimado (cinza) permanecesse na superfície do solo, isto é, caso não fosse arrastado pelas águas das chuvas. Infelizmente essa situação é inevitável na maioria dos casos, especialmente em locais onde o relevo é acidentado (encostas).

Costa (1992) relatou que os solos submetidos à queima não influenciaram os valores de Ph, teores de carbono orgânico, nitrogênio total, cálcio e magnésio trocável, potássio e fósforo disponível, quando comparadas aos solos submetidos a tratamentos de roçagem e controle, atribuindo tal situação ao fato do fogo ter sido aplicado a favor do vento, o que proporcionou uma queimada rápida com menor elevação da temperatura do que uma queima lenta realizada conta o vento.

Comunga do mesmo entendimento o estudo de Dias Filho (2003) que afirma que a queima provoca significativas alterações quando a pastagem queimada se transforma em cinzas que podem ou não ser absorvidas pelo solo de maneira aproveitável, havendo duas possibilidades: a) quando incorporadas vão aumentar, ainda que de forma temporária, o aumento de nutrientes ocasionado pelo calor do fogo, aumentando o pH deste e b) quando levadas pela erosão causadas pela água das chuvas e pelo vento logo após a queima, deixarão o solo descoberto e consequentemente desprotegido.

Logo, a queima da pastagem para controlar plantas daninhas e melhorar o pasto nativo embora possa melhorar também a fertilidade do solo, não deve ser uma prática utilizável de forma frequente, bem como deve ser observado determinados cuidados com o manejo de gado subsequente no local queimado, evitando-se o pisoteio e o pastejo prematuro, sob pena de serem inócuas as condições favoráveis acima elencadas. (DIAS FILHO, 2003).

Quanto ao aquecimento que o solo sofre quando a queima ocorre, a partir dos estudos de Rheinheimer et al (2003), realizado na cidade de Lages/SC, verificou-se que a camada superficial do solo é mais sensível à ação do fogo, atingindo a temperatura máxima de 70ºC aos quatro minutos. Isso se confirmou também com trabalhos de Coutinho (1981). Nessa camada, a queima provocou aumento nos teores de nitrato, potássio, cálcio, magnésio, pH e diminuiu teores de alumínio trocável.

Conforme Cardoso et al (2003) o uso estratégico do fogo é prática disponível, em algumas circunstâncias, com o objetivo de melhorar a composição

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botânica das pastagens, a qualidade da forragem e, também como forma de controle de plantas invasoras, além de parasitas e doenças endêmicas dos animais.

Castilhos (1984), defendeu em tese de Mestrado que a vantagem da disponibilidade de material verde (tanto em qualidade como em quantidade), ocorre por períodos relativamente curtos em comparação com áreas não queimadas, o que não compensaria os prejuízos da prática das queimadas.

Logo, quando a queima elimina a ação seletiva do pastejo do gado na composição botânica da pastagem por eliminar igualmente espécies de menor valor nutritivo que, por serem rejeitadas pelo gado, tendem a aumentar de frequência ao longo dos anos, e espécies de maior valor, altamente selecionadas pelo gado, tendem a diminuir com o pastejo.

Se for considerado que a preferência do animal por diferentes plantas e comunidades constitui um ponto crítico do manejo em termos de manutenção da pastagem, as queimadas teriam sempre um efeito benéfico.

No entanto, as espécies respondem de maneiras diferentes a esta prática e o domínio da mesma estaria em aumentar espécies ou parte de plantas desejáveis e reduzir espécies indesejáveis, o que geralmente não acontece (JACQUES, 1997; 2003).

O argumento de que a queima renova totalmente as pastagens, possibilitando maiores produções de forragem e uma dieta de maior valor nutritivo para os animais, não vem obtendo amparo científico. Brâncio et al (1997), verificaram que não havia diferença entre as dietas de animais mantidos em áreas de pastagens queimadas e áreas não queimadas. Isto porque havendo boa oferta de forragem, o animal seleciona sua dieta, consumindo o que lhe convém.

Quanto à maior produção em áreas submetidas à queima, esta tem sido atribuída ao fato da prática eliminar o efeito barreira do acúmulo de tecidos mortos. Com a remoção da macega ocorre novo crescimento e incremento da disponibilidade de forragem verde (CASTILHOS, 1984).

Juntamente com o estudo de Neiva (1990), Castilhos (1984) também observou a redução na produção total de matéria seca na estação subsequente ao fogo.

O fogo quando usado no controle de plantas indesejáveis pode proporcionar remoção das mesmas, diminuindo a competição com as espécies desejáveis. Em campos não pastejados na região de Porto Alegre/RS, o estudo de Pillar et al (2009)

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evidenciou que as queimadas levaram a um aumento no número e na biodiversidade de espécies em escala local. Com o aumento do tempo pós-fogo, muitas espécies (principalmente pequenas herbáceas), foram gradualmente eliminadas via exclusão competitiva por gramíneas dominantes ou não foram capazes de se regenerar.

Após algumas décadas de observação numa propriedade situada nos campos de cima da serra, Jacques (2003) concluiu que não há necessidade de eliminar o pasto seco com fogo, no caso de espécies de porte baixo quando é feito um manejo correto da vegetação existente. Segundo o mesmo autor, o material seco (palha) funciona como proteção da nova brotação que surge no fim do inverno e início da primavera, que promove a renovação da pastagem. Além da proteção das gemas responsáveis pela brotação, a palha constituída por folhas velhas e mortas, desprendida das plantas, sobre a superfície do solo, proporcionando maior retenção de água (JACQUES, 1997).

A não utilização da forragem no verão passa a ser um dos principais motivos da necessidade de queima visando uma rebrotação mais rápida na primavera. Desta forma, perde-se com o uso do fogo e perde-se com a colheita ineficiente na temporada de produção da pastagem natural.

Diante disso, as queimadas teriam um efeito benéfico, quer para plantas, quer para animais; ainda que, no entanto, já é fato comprovado que existem técnicas substitutivas à queima, conforme diz Mascarenhas (2010) citando o estudo de Cruz a respeito dos canaviais paulistas, quando diz que a mecanização da cultura canavieira já é praticada em diversos países, quer os economicamente fortes ou não como a exemplo das Filipinas. No Brasil, a mecanização já é aplicada no nordeste do Paraná por pequenos produtores através de cooperativas.

A conclusão generalizada é de que os malefícios da prática das queimadas são indiscutivelmente superiores aos eventuais benefícios que possam trazer, para o fim a que são utilizadas e que existem opções de substituição de tal prática, é indiscutível que o fim da queima seja imposto em todo o território nacional.

Segundo as conclusões dos pesquisadores se pode deduzir que as vantagens se direcionam para a pastagem propriamente dita, enquanto as desvantagens vão para o solo, o que de certa forma é mais grave, já que as plantas necessitam do solo para subsistirem. Por esse prisma, em caso de estudos futuros essas mesmas conclusões persistirem, as queimadas logo não encontrarão defensores.

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Segundo Silva (2007), dentre os maiores problemas causados pela prática das queimadas estão a agressão ao solo e às espécies animais que nele vivem e que dele retiram alimentos.

Ao ocorrer, a queimada destrói a vegetação e toda a matéria orgânica existente, atingindo também todas as espécies animais que naquela área ou nas proximidades dela, vivem.

Além disso, o solo fica descoberto e propício à erosão grave, pois dele é retirada a camada de vegetação que o deixa exposto a ventos e chuvas. Ocorre ainda a diminuição da fertilidade, o que afeta a qualidade das novas plantas. (SILVA, 2007).

Já por outro vértice, Ferreira (2001), sobre os efeitos da fumaça produzida pelo fogo, assim se manifesta que de acordo com uma pesquisa realizada pelo IBGE em 2002, o principal produto resultante de queimadas é a fumaça, representando 64% da principal fonte de poluição atmosférica nas cidades brasileiras, não se considerando por óbvio, os gases eliminados pelos carros diariamente.

Sobre o mesmo assunto, ainda diz Ferreira (2001) que a fumaça é constituída de dois grupos principais quais sejam: os gases e os particulados, sendo que quaisquer deles têm efeitos sobre animais e sobre a saúde humana, podendo provocar nesta última, lesões nas vias aéreas. Ainda, quanto aos particulados, estes podem ser depositados no aparelho respiratório, causando a obstrução de vias e podendo provocar broncoespasmo. Ainda, os gases podem ser classificados como irritantes ou asfixiantes, dependendo das lesões que causarem.

Este também é o entendimento do Prof. Soffiati (2011), sobre os efeitos das queimadas à atmosfera: “As queimadas produzem uma brutal quantidade de gases que agravam o efeito estufa e o aquecimento global [...].”

Em reportagem publicada no site www.oeco.com.br foi constatado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que houve um aumento dos focos de queimadas em todo o País no ano de 2010, se comparado com o de 2009, ou seja, de 7.412 para 26.608, sendo que a maior parte de tais focos está localizada nos estados das Regiões Norte e Centro-Oeste.

Segunda a mesma reportagem, e de acordo com estudos do climatologista e professor do Departamento de Geografia da UFRGS, Francisco Eliseu Aquino, o Rio Grande do Sul, embora não tenha grande incidência de queimadas, sofre com o deslocamento de partículas poluentes, responsáveis pela constatação em mais de

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16 cidades do estado de ar com péssima qualidade (maior que 299 microgramas por m3 de material particulado). A quantidade média diária da qualidade de ar considerada ideal pela OMS é de 25 microgramas por m3. (MORAES, 2011)

Diante dessa e de outras situações, é que a questão sobre a utilização ou não da prática das queimadas se mostra bastante controvertida e tem sido foco de acirradas discussões entre extensionistas e produtores rurais, na medida em que cada segmento defende ou condena a prática, de acordo com argumentos próprios.

A verdade é que a prática certamente pode ser necessária em alguns casos, ou melhor dizendo, aconselhável, ainda que, não deixe de produzir os efeitos maléficos já comprovados.

Tem-se como exemplo, o argumento dos agropecuaristas da região dos campos de cima da serra, no estado do Rio Grande do Sul, os quais alegam que em tal região apenas 6% (seis por cento) das terras são mecanizáveis, sendo então a solução das queimadas a única opção na limpeza dos terrenos.

Essa questão é discutida por Ramos (2011), quando alega a controversa forma de manejo dos campos nativos do Rio Grande do Sul, argumentando que sobre a proibição hoje existente em face da Lei Estadual 9519/92, é necessário que as pessoas diretamente envolvidas com a situação, sejam ouvidas sobre a autorização do uso da prática através da chamada queimada controlada.

Embora a Lei proíba a prática visando a proteção ao meio ambiente, há que considerar a questão dos problemas peculiares de cada região, onde, em muitos locais, a queima é a única solução diante do frio intenso que castiga a vegetação, que fica ressecada e sem vida, sendo por consequência incapaz de alimentar o gado (Ramos, 2011).

Com a proibição da prática da queima, o pasto ressecado pelo inverno não rebrota com a mesma rapidez trazida pela queima e não serve de alimento para o gado.

É certo que a queimada traz sérios problemas ao meio ambiente, mas há que se analisar se, o impacto sócio econômico da substituição da pecuária pelo plantio de culturas, não se torna mais grave que a permissão da queimada de forma controlada (Ramos, 2011).

A queima controlada é uma alternativa que deve ser aplicada desde que observados determinados cuidados, especialmente para que o fogo não se alastre para onde não deve ir, limitando-se somente às áreas que dela necessitam.

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No entendimento de Figueiró, citado por Ramos (2011), a queima controlada é a aplicação controlada do fogo em combustíveis, tanto no estado natural como alterado sob determinadas condições de clima, de umidade do material combustível, de umidade do solo, entre outros, de tal forma que o mesmo seja confirmado a uma área pré-determinada e produza a intensidade de calor e a taxa de propagação para favorecer certos objetivos de manejo. (p.183)

Nas demais regiões do Brasil, as queimadas são utilizadas ao longo da história para diversificados fins. De acordo com Ferreira, a maioria delas são provocadas pelo homem (agricultores, pecuaristas, madeireiros, carvoeiros, etc), que diante dos interesses de cada um, desrespeitam as florestas nativas e provocam graves danos aos ecossistemas. Ainda, o fogo é utilizado pelo homem para outros fins como, por exemplo, a prática indígena da caça, mudanças no uso da terra, renovação do pasto, na colheita da cana de açúcar e ainda como forma barata no combate de pragas e doenças que atacam as lavouras. (FERREIRA, 2011)

Nos desmatamentos, especialmente na região amazônica, embora não sejam utilizadas diretamente para propiciar o desmate, as queimadas são usadas para a limpeza de área desmatada, após a derrubada das árvores, queimando inicialmente folhas e galhos, que são materiais de fácil combustão e, depois, queimando em longo prazo os restos da madeira que sobraram.

Para esse fim, as queimadas são utilizadas em várias etapas, podendo ser repetidas várias vezes no mesmo local, até que se complete a limpeza do terreno e se obtenha definitivamente o fim almejado, que é a limpeza completa das áreas desmatadas. (FERREIRA, 2011).

O Brasil é sabidamente um país cuja agricultura representa boa parte da economia desde os tempos de sua colonização, sendo umas das mais importantes fontes de produtos para a exportação nacional.

Não obstante os avanços tecnológicos desenvolvidos pelo setor, para a substituição da antiga e tradicional queimada, o agricultor é ainda o que mais se utiliza de tal prática rudimentar.

A queimada é uma antiga prática agropastoril ou florestal que utiliza o fogo de forma controlada para viabilizar a agricultura ou renovar pastagens. A queimada deve ser feita sob determinadas condições ambientais que permitam que o fogo se mantenha confinado à área que será utilizada para a agricultura ou pecuária. (AMBIENTE BRASIL, s./d.).

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Tal prática, no entendimento de Córdova et al, é utilizada geralmente em regiões com plantações agrícolas, com a finalidade de limpar as áreas de plantio e renovar as pastagens. São consideradas econômicas pelos agricultores, mas danosas ao longo do tempo, uma vez que o calor empobrece e elimina muitos micro-organismos que dão vida e força ao solo, deixando este desprovido de muitos nutrientes essenciais a uma correta produtividade, além de poluir o ar, comprometer o clima, dentre outras consequências. (CÓRDOVA. ET AL. 2004).

A maioria dos agricultores sabe que o impacto de tal prática tem extrema nocividade para o meio ambiente. Ainda assim a queimada não deixa de ser realizada por ser tradicional e antiga, além da situação de que para muitos, é a única técnica agropecuária de que têm conhecimento.

A cada dia e com mais frequência, surgem novas alternativas para que a queimada seja abolida definitivamente da agricultura mesmo a passos lentos, sendo certo que existem avanços para que isso aconteça definitivamente, proporcionando que o manejo de plantações e pastagens nativas seja efetivado de outras formas menos agressivas ao meio ambiente, especialmente o solo.

Para Bradenburg apud Córdova, et al (2004), a questão da produção não será resolvida com a extinção da prática da queimada, podendo causar impactos mais negativos que positivos. A suspensão da prática da queima das pastagens está ligada essencialmente a outro tipo de manejo que traga incrementos de produção favoráveis ao produtor, produzindo iguais resultados que a queimada.

Para Rech, “[...] é preciso partir do pressuposto de que as queimadas por si só não são recomendadas” (2011, p. 37).

A chamada queima controlada, permitida em muitos estados brasileiros, é um assunto bastante discutido entre os diversos segmentos da sociedade.

No conceito dosprofessores Soares e Batista, a queima controlada pode ser definida como uma espécie de aplicação científica do fogo em combustíveis no estado natural ou alterado, que sob determinadas condições do clima, umidade do solo e do próprio combustível, seja confinado a uma área pré-determinada, produzindo calor em intensidade e propagação necessárias para o alcance de determinados objetivos de manejo da vegetação.

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Para o referido autor, a queima controlada pode ser comparada com um medicamento que, ao ser usado corretamente, pode salvar vidas e ao contrário, pode se tornar uma arma perigosa.

Assim é o entendimento comparado desses professores sobre a utilização do fogo: “um forte e perigoso remédio, com várias evidências de que pode ser extremamente daninho. Entretanto, com um correto diagnóstico e hábil aplicação, ele pode ser um bom aliado em várias atividades do manejo florestal”. (SOARES; BATISTA, 2011).

Por outro prisma, tal entendimento é vencido entre renomados autores, que, em sua maioria condenam a prática das queimadas em qualquer circunstância, defendendo que devem ser proibidas em todo o território nacional.

Para Carvalho (2011), conservacionista do Estado do Mato Grosso, a autorização da queima controlada deveria ser abolida em todo o País, uma vez que muitos órgãos ambientais ainda emitem licenças de queimadas, conforme a legislação de cada Estado, sendo que tal atitude implicitamente leva à ideia de que o fogo é aceito pelas autoridades, as quais deveriam trabalhar em sentido contrário, ou seja, acabar com o mesmo, educando a população. Ademais, existe ainda o uso criminoso sob o disfarce da “licença” utilizado para limpeza de pastagens, de quintais, de assentamentos, derrubada de florestas, que deveriam ser rigidamente combatido pelas autoridades.

Tem-se então, que, em breve análise comparativa das correntes de ataque ou defesa da prática das queimadas, resta evidente que seus efeitos são indiscriminadamente maléficos ao meio ambiente e a todos os seres vivos.

Os danos ao meio ambiente podem ser sintetizados pelo enfraquecimento do solo; destruição da flora; ataque quase sempre mortal à fauna; liberação de gás carbônico para o ar, contribuindo para o efeito estufa; danos à saúde humana, além dos possíveis danos materiais, como incêndio de casas, plantações, etc.

Os efeitos positivos, originados das pesquisas agropecuárias são bastante limitados, em determinados casos e regiões do País, como o Sul, onde a prática, ainda que prejudicial ao meio ambiente, traz consequências benéficas à limpeza e manejo dos campos, atingidos pelo clima frio do rigoroso inverno que aqui acontece.

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1.2 Queimadas: um crime ambiental?

Já há algum tempo, a preocupação com o meio ambiente vem se tornando uma questão com relevante ênfase face à evidente destruição da natureza pelo homem e em face da importância do meio ambiente para os seres vivos, em especial para a sobrevivência da humanidade.

Na opinião de Mascarenhas (2010), a intervenção do ser humano no meio ambiente e os problemas causados por ela já existem há algum tempo. No entanto, recentemente tais problemas alcançaram níveis alarmantes em função de fatores econômicos e políticos, especialmente quanto ao modo de produção que tem implicação direta sobre a transformação do meio ambiente tendo em vista que se consome cada vez mais energia e matéria prima, aumentando por consequência a presença de elementos estranhos na composição da água, da atmosfera e do solo, além de se multiplicarem as fontes de ruídos.

Aliado a todos esses fatores ainda se tem o crescimento populacional contínuo que da mesma forma é causa para outras diversas intervenções do ser humano sobre o meio ambiente.

Não obstante a realidade de se ter que equilibrar o desenvolvimento econômico com a preservação do meio ambiente, a questão da proteção evoluiu das simples penalizações administrativas, para as esferas judiciais, cível e criminal.

A legislação brasileira, desde há muito tempo, mostra preocupação com a preservação do meio ambiente e mantém tal situação em constante atualização, de acordo com as tendências mundiais, ditadas especialmente pela preocupação dos organismos ambientalistas internacionais.

Conforme diz Prado (2005), atualmente a tutela jurídica do meio ambiente é uma exigência do mundo inteiro. A evolução das normas legais que se vem tendo é determinada por uma necessidade de sobrevivência e de solidariedade diante da responsabilidade de todas as nações com a preservação da natureza para o tempo presente e futuro.

No mesmo sentido, entende Leite que “a preservação do ambiente por intermédio de uma norma de Direito Penal que criminaliza condutas atentatórias ao ambiente e permite a punição de natureza criminal [...] é hoje uma realidade”. (LEITE, 2004, p. 127).

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Uma das mais antigas normas legais brasileiras é a Lei 4.771, promulgada em 15 de setembro de 1965, que instituiu o Código Florestal, ainda vigente até a presente data.

A citada legislação, mesmo parecendo antiga, já se referia ao uso do fogo, proibindo-o de forma generalizada no caput de seu art. 27, conforme se lê a seguir:

“É proibido o uso do fogo nas florestas e demais formas de vegetação”. No entanto, desde então, o parágrafo único do referido artigo abriu precedentes para a utilização das queimadas, desde que autorizadas, conforme se tem:

“Parágrafo único: Se peculiaridades locais ou regionais justificarem o emprego do fogo em práticas agropastoris ou florestais, a permissão será estabelecida em ato do Poder Público [...].”

Assim, sendo tal norma a única vigente no País por um longo período de tempo e diante do contido em seu parágrafo único, em diversos estados brasileiros foram surgindo leis estaduais específicas sobre a prática conhecida como queimada controlada ou uso do fogo de forma permitida.

“A vedação está em seu uso sem motivação. Utilizado como instrumento de trabalho, nos termos do parágrafo único do artigo ora comentado, será permitido, após procedimento de outorga de licença de queima controlada.” (MORAES, 2002, p. 201).

A partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, especialmente pela disposição do art. 225, em seu §1º, inciso VII e § 3º, conforme abaixo transcritos, houve necessidade de regulamentar tal norma legal, de forma a definir que condutas deveriam ser incluídas em tal preceito de lei, para assegurar de fato a proteção penal do meio ambiente:

§ 1º. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: [...]

VII – proteger a fauna e a flora, vedadas na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade.

§ 3º. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente de reparar o dano.

Foi então promulgada a Lei 9.605/98, conhecida como Lei dos Crimes Ambientais, que definiu então o rol de todas as condutas tidas como crimes contra o

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meio ambiente, e que veio em amparo ao dispositivo constitucional acima citado, diante da necessidade de sancionar as lesões ao meio ambiente.

Prado (2001), em seus estudos, se manifesta sobre referida norma legal dizendo que ainda que esta não seja o modelo ideal de proteção legal ao meio ambiente, reconhece a necessidade de uma proteção penal uniforme, que seja clara e ordenada e de acordo com a importância do bem jurídico a ser protegido. Diante da dificuldade de se inserir a proteção penal do meio ambiente no Código Penal e da urgente necessidade de se proteger o mundo em que vivemos, surge então a chamada Lei 9.605/98, conhecida como Lei dos Crimes Ambientais.

Até então, ainda na concepção de Prado, as leis ambientais brasileiras eram excessivamente extensas, baseadas em casos locais e direcionadas a interesses particulares de alguns setores influentes, não atendendo às reais necessidades de proteção ao meio ambiente, especialmente pela dificuldade de aplicabilidade das mesmas pelo direito penal. (PRADO, 2001).

A “nova” lei buscou modernizar as condutas penais, bem como agrupá-las numa única norma legal, com a finalidade de dar mais eficiência às penalizações em caso de delitos contra o meio ambiente.

Trouxe a necessária criminalização de algumas condutas, visando regulamentar especialmente as disposições constitucionais de proteção ao meio ambiente, fixando penas e sanções aos causadores de danos ao meio ambiente, posto que por si só o dispositivo constitucional não tinha a eficácia necessária.

Para Prado (2001), a referida lei inovou através de seu caráter nitidamente criminalizador, quando eleva à categoria de crime vários comportamentos que até então eram apenas infrações administrativas ou contravenções penais que destonavam de princípios legais básicos como os da intervenção mínima e da insignificância.

A Lei 9.605/98 atendeu a diversas necessidades de regulamentação de condutas que, até então, eram puníveis tão somente com sanções administrativas, que na maior parte das vezes se mostravam ineficazes quanto ao fim precípuo de proteger o meio ambiente, bem como de penalizar o agressor, intimidando-o a não repetir qualquer ato atentatório em prejuízo a qualquer bem ambiental.

Leite (2004) entende que toda e qualquer infração que atinja o meio ambiente são atos que devem ser punidos penalmente e que devem ser distinguidos de outras agressões ou atos ilícitos previstos pelo Direito Penal clássico em face de

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sua relevância frente à coletividade, uma vez que o crime ambiental é um ato que não traz um titular imediatamente identificado.

Para Freitas (2005, p.114), “em face de tal diploma, o crime ambiental pode ser conceituado como a ação típica, derivada de uma conduta humana ou de uma atividade de pessoa jurídica, violadora da lei dos crimes ambientais, culpável e punida com uma sanção determinada”.

No entanto, Leite atribui diferenciações entre o crime ambiental e o crime comum, dizendo que “a criminalidade ambiental possui contornos, definições e características que diferenciam da criminalidade comum, adstrita a outros ramos do Direito”. (LEITE, 2004, p. 137).

Quanto à conduta da queima ou de uso do fogo, a mesma foi inicialmente prevista pela Lei 9.605/98, como sendo crime ambiental em seu art. 43, cujo texto original assim descrevia:

Fazer ou usar fogo, por qualquer modo, em florestas ou nas demais formas de vegetação, ou sem sua borda, sem tomar as precauções necessárias para evitar a sua propagação.

Pena: detenção de um a três anos e multa.

Parágrafo Único: Incorre nas mesmas penas quem, emprega como combustível, produtos florestais ou hulha, sem uso de dispositivos que impeçam a difusão de fagulhas suscetíveis de provocar incêndios nas florestas.

No entanto, sob o frágil argumento de que a expressão precauções necessárias seria demasiadamente vaga, podendo ensejar diversos tipos de condutas, referido artigo foi vetado pelo então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, sendo retirado do texto legal.

Em notícia veiculada na época, o então ministro do Meio Ambiente também justificou o veto sob a alegação de que “[...] essa é uma tecnologia rudimentar, que está superada, mas nós não poderíamos criminalizar cerca de 400 mil pessoas que vivem de cortar cana.” (MASCARENHAS, 2010, p. 83).

Com o veto de tal artigo, o único dispositivo da Lei 9.605/98, que trata do uso do fogo, é o art. 54, que prevê a prática do crime de poluição, que pode ser causado pela fumaça das queimadas, e traz em seu texto uma amplitude de ideias, nas quais se pode incluir a própria prática da queima como crime, conforme se lê: “Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam

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resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora.”

Referida norma legal, tem ampla abrangência conforme entendimento de Prado:

O tipo legal é extremamente amplo e vago, com cláusulas normativas, de cunho valorativo, que estão muito aquém das exigências do princípio da legalidade em sua vertente de taxatividade-determinação da lei penal. A expressão de qualquer natureza, reveladora de um objeto indeterminado, abrange seja qual forem a espécie e a forma de poluição, independentemente de seus elementos constitutivos (atmosférica, hídrica, sonora, térmica, por resíduos sólidos, etc). Trata-se de um delito de forma livre. (2005, p. 418).

Em simples leitura do art. 54, da Lei 9.605/98, é fácil incluir em sua definição a prática das queimadas, uma vez que, conforme já estudado no capítulo anterior, os efeitos da fumaça são prejudiciais à saúde humana, aos animais e ao meio ambiente como um todo, não apenas em áreas e a pessoas ao redor do local onde ocorre a queimada em si, mas também em regiões próximas para onde os particulados são levados pelos ventos.

Mascarenhas (2010) entende que a poluição causada por queimada, expondo a saúde das pessoas a risco, pode ser punida penalmente, tendo em vista que o fato se enquadra à descrição típica do art. 54, da Lei dos Crimes Ambientais.

Da mesma forma, conforme definição de Freitas (2005) sobre poluição, se pode, sem dificuldades incluir a queima como tal, já que a Lei 6.938/81 em seu art. 3º., III, a define como sendo toda e qualquer degradação da qualidade ambiental que resultem de atividades prejudiciais à saúde humana, à segurança e ao bem estar da população, criando condições econômicas desfavoráveis, afetando a biota e ainda afetando condições estéticas ou sanitárias do ambiente com o lançamento de matérias ou energia fora de padrões básicos admitidos.

Corrobora com o conceito de Freitas o saudoso jurista Hely Lopes Meirelles, citado por Milaré e Costa Júnior, que define a poluição como “toda alteração das propriedades naturais do meio ambiente, causada por agente de qualquer espécie, prejudicial à saúde, à segurança e ao bem estar da população”. (2002, p. 149).

Numa maior abrangência, conceitua Grisi, citado por Mascarenhas (2010), que poluição é todo efeito de lançar na natureza qualquer material que traga alteração para as condições naturais do meio ambiente, contaminando ou

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prejudicando fontes naturais de recursos do ar, da terra ou da água, em evidente prejuízo ao próprio homem ou ser vivo.

Diante de tais definições, Mascarenhas entende que o crime de poluição pode ser causado pelas queimadas, ao lançarem na atmosfera material particulado.

Ainda a mesma autora cita com firmeza que “as operações de queima de combustível orgânico são fontes de poluentes primários, tais como monóxido de carbono, dióxido de carbono, metanos e hidrocarbonetos, os quais produzem efeitos prejudiciais à saúde das pessoas, aos animais e às plantas”. (MASCARENHAS, 2010, p. 83).

Cruz, citada por Mascarenhas, solidifica tais afirmações quanto à nocividade que a queima produz ao meio ambiente e a todos os seres vivos, por meio das substâncias que são lançadas na atmosfera:

[...] produzem também a “fuligem”, consistente em material particulado, proveniente da combustão incompleta da matéria queimada. Nesta fuligem foi detectada a presença massiva dos chamados hidrocarbonetos policíclicos aromáticos. Tais substâncias são consideradas de controle prioritário pela Environmental Protection Agency. Sua importância para o presente estudo reside no fato de que se trata de substâncias carcinogênicas, teratogênicas e/ou mutagênicas. Além disso também contribuem para danificar significativamente a flora, uma vez que se depositam sobre as folhas, interferindo no processo de fotossíntese. (MASCARENHAS, 2010, p. 83).

Assim, diversos são os estudos que comprovam que a queima é extremamente prejudicial, e que, de acordo com suas consequências, já comprovadas de forma científica, poluem o ar, podendo ser enquadrada com perfeição na conduta criminosa da poluição.

Prossegue afirmando Mascarenhas (2010) sobre a questão de admissão da prática das queimadas prevista pelo Decreto 2661/98, como sendo uma técnica a ser utilizada em atividades agropastoris ou florestais, que tal concessão não reduz ou impede que o fogo traga riscos à saúde humana ou cause danos à flora e à fauna, restando plenamente caracterizado o crime de poluição.

De volta ao art. 54 da Lei 9.605/98, a prática das queimadas pode acarretar o previsto na segunda parte do referido dispositivo legal, ao provocar a morte de animais e destruição da flora. A morte de animais ainda se pode atribuir alguma eventualidade, não sendo uma consequência obrigatoriamente presente, quando da ocorrência da queima da vegetação. O mesmo não se pode afirmar sobre a

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