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A responsabilidade civil dos notários e registradores

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

ELIZANDRO GABRIEL LOPES DEPIERI

A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS NOTÁRIOS E REGISTRADORES

Ijuí (RS) 2020

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ELIZANDRO GABRIEL LOPES DEPIERI

A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS NOTÁRIOS E REGISTRADORES

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso - TCC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS- Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: MSc. Fabiana Fachinetto

Ijuí (RS) 2020

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Dedico este trabalho à minha namorada Raiany, pessoa com quem amo partilhar a vida.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, inicialmente, a Deus por me conferir tantas oportunidades em minha vida. Agradeço a minha família e a todas as pessoas que de alguma forma contribuíram para que eu pudesse concluir o presente curso.

Agradeço a MSc. Fabiana Fachinetto pelas palavras motivadoras e inspiradoras para a elaboração deste trabalho.

Agradeço a professora Janaína Sturza por aceitar participar da banca examinadora deste trabalho de conclusão de curso.

Agradeço a minha namorada Raiany por todas as palavras de incentivo e compreensão nos momentos difíceis.

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“Aprendemos quando resolvemos nossas dúvidas, superamos nossas incertezas, satisfazemos nossa curiosidade.” Maria Teresa Mantoa.

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise das funções delegadas pelo Estado relativas ao serviço notarial e registral, especificamente sobre a responsabilidade civil daí decorrente pelos eventuais danos causados aos cidadãos. Para isso, primeiramente aborda os aspectos gerais, como a natureza jurídica da atividade, os princípios norteados e a forma de ingresso na função. Em seguida, estuda-se o regramento jurídico da responsabilidade decorrente da prática de ato ilícito, com o intuito de analisar quais são as espécies de responsabilidade, suas funções e a incidência do Código de Defesa do Consumidor aos serviços notariais e registrais. Por fim, investiga a quem cabe à responsabilidade civil, se ao Estado ou aos notários e registradores diretamente, abordando aí a divergência de interpretação existente e a posição atual dos tribunais pátrios. O atual posicionamento do STF defende à responsabilidade objetiva e direta do Estado e subjetiva e subsidiária dos notários e registradores. Do posicionamento do STF, é iniciado a investigação acerca da aplicação da responsabilidade civil na atividade notarial e registral, visto que estaria dando uma segurança para profissionais que teriam condições de arcar com os danos decorrentes da atividade.

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ABSTRACT

The present work of conclusion of the course makes an analysis of the functions delegated by the State related to the notary and registry service, specifically on the civil liability resulting from the possible damages caused to the citizens. To do this, it first addresses the general aspects, such as the legal nature of the activity, the guiding principles and the way of joining the function. Then, the legal regulation of liability arising from the practice of an illegal act is studied, in order to analyze what are the types of liability, their functions and the impact of the Consumer Protection Code on notary and registry services. Finally, it investigates who is responsible for civil liability, whether the State or notaries and registrars directly, addressing there the divergence of interpretation existing and the current position of the national courts. The current position of the STF defends the objective and direct responsibility of the State and subjective and subsidiary of notaries and registrars. From the positioning of the STF, an investigation is started into the application of civil liability in notarial and registration activities, since it would be providing security for professionals who would be able to afford the damages resulting from the activity.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 09

1 Atividade notarial e registral como delegação de serviço público ... 11

1.1 A natureza jurídica dos serviços ... 11

1.2 Princípios que regem a atividade ... 14

1.3 O ingresso e a extinção da delegação da atividade ... 17

2 A responsabilidades dos notários e registradores: Pressupostos Gerais ... 23

2.1 As espécies de responsabilidade ... 24

2.2 A função da responsabilidade civil... 28

2.3 A incidência do CDC nas prestações de serviço público ... 32

3 A responsabilidade civil dos notários e registradores e do Estado pelos atos das serventias ... 37

3.1 O art. 22 da Lei 8.935/94 e suas alterações ... 37

3.2 STF e a Repercussão Geral nº 777: alteração de entendimento ... 39

3.3 Da responsabilidade objetiva/ subjetiva e direta/subsidiária ... 41

CONCLUSÃO ... 46

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresenta um estudo acerca da responsabilidade civil dos notários e registradores, a fim de realizar uma investigação em busca da qual forma resultará a mais eficaz, na tentativa de proporcionar mais segurança para aqueles que utilizam os serviços cartorários. Essa busca é necessária diante das inúmeras demandas judiciais direcionadas de forma equivocada, que acabam sendo julgadas sem resolução de mérito por falta de legitimidade, as quais acabam contribuindo com a morosidade do judiciário. Nesse sentido, o presente trabalho tem o condão de proporcionar as pessoas mais clareza e solidez, no momento da realização de atos jurídicos extrajudiciais, bem como estimular as pessoas a entenderem melhor a profissão notarial e registral. Permitir a busca dos seus direitos e a quem cabe à responsabilidade no momento da reparação de eventual dano causado, seja por parte dos prepostos, seja por parte dos oficiais das serventias.

Para a realização deste trabalho foram efetuadas pesquisas bibliográficas e por meio eletrônico, analisando também as propostas legislativas em andamento, a fim de enriquecer a coleta de informações e permitir um aprofundamento no estudo da responsabilidade civil dos notários e registradores. Revelando a importância desses profissionais, bem como a responsabilidade do Estado frente a essa atividade.

Inicialmente, no primeiro capítulo, será realizada uma abordagem da atividade notarial e registral, como devem ser seguidos às leis e os princípios, bem como uma análise da atividade dos notários e registradores, onde o Estado delega para pessoas naturais, mediante o preenchimento de requisitos, funções de natureza pública, mas prestados de forma privada. Também são analisados alguns métodos que os profissionais destas áreas utilizam no seu dia a dia.

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No segundo capítulo é analisada de forma mais aprofundada a responsabilidade dos notários e registradores, suas espécies, procedimentos e a aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor na atividade notarial e registral.

O terceiro capítulo trata da responsabilidade civil dos notários e registradores de uma forma mais aprofundada, analisando jurisprudência e autores sobre esse tema, a fim de demonstrar que há muito se vem buscando a compreensão da Lei e posicionamentos de Juízes e Tribunais do Brasil. A partir desse estudo verifica-se que a atividade notarial e registral é essencial para a organização da sociedade de um modo geral.

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1 Atividade notarial e registral como delegação de serviço público

O direito notarial e registral é um dos ramos mais antigos do Direito, e, mesmo assim, continua presente no dia a dia das pessoas, considerando o seu relevante valor social.

A função notarial nasceu com a necessidade da sociedade em formalizar os atos da vida civil, dando segurança jurídica para as pessoas. Segundo Leonardo Brandelli (2016, p. 01), “[...] a função notarial nasceu da necessidade social, e não de uma criação teórica das academias”.

Sobre a importância da atividade notarial, Brandelli (2016, p. 01), afirma que:

A atividade notarial é atividade pré-jurídica, egressa das necessidades sociais. No mundo prisco, massivamente iletrado, sentiu-se primeiramente a necessidade de que houvesse algum ente, confiável, que pudesse redigir, tomar a termo, os negócios entabulados pelas partes. Surge assim o protótipo do notário, como mero redator dos negócios entabulados pelas partes, com o intuito de perpetuá-los no tempo, facilitando sua prova.

Superado esse momento, passou-se ao crescimento de demandas no judiciário, as quais, entretanto, não necessariamente precisariam do aval judicial. Assim, diante da necessidade de minimizar a grande demanda no judiciário, o Estado passa a delegar vários atos jurídicos para pessoas naturais exercerem, ou seja, os notários e registradores receberam mais funções.

O presente capítulo apresenta algumas características da atividade notarial e registral, estudando as noções gerais a respeito da atividade notarial e registral. Para isso, aborda-se a questão da natureza jurídica dos serviços notariais e registrais, como se dá o ingresso nesta atividade, os seus princípios norteadores, a extinção da delegação, a responsabilidade civil desses profissionais, bem como a aplicabilidade ou não do Código de Defesa do Consumidor na atividade notarial e registral.

1.1 A natureza jurídica dos serviços

A atividade notarial e registral só ganhou maior notoriedade após o advento da Constituição Federal de 1988, até esse momento pouco se sabia em relação a essa atividade.

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Embora seja uma atividade exercida em caráter privado, muitos autores defendem que é uma atividade vinculada ao Estado.

A natureza jurídica está ligada a duas características, a primeira em relação à delegação do Estado de um serviço público, para uma pessoa natural, bem como da eficácia da fé pública. A segunda está ligada à gestão administrativa, financeira, a manutenção da serventia e das responsabilidades pelos atos praticados.

Nas palavras de Guilherme Fanti (2006, p. 01):

A natureza jurídica das atividades notariais e de registro foi muito debatida pela doutrina, até que a Corte Suprema definiu que os titulares dos cartórios extrajudiciais são típicos servidores públicos, com função revestida de estatalidade, sujeitando-se a um regime de direito público. Da mesma forma, restou pacificado pelo Superior Tribunal Federal que os emolumentos concernentes aos serviços notariais e registrais possuem natureza tributária, qualificando-se como taxas remuneratórias de serviços públicos.

Considerando a afirmação de Eliane Blaskesi (2018), de que grande parte dos brasileiros conhece a atividade notarial e de registro como cartórios, e tendo em vista que esses prestam serviço público, através de seus agentes delegados, trazendo, assim, segurança às relações jurídicas, pessoais e patrimoniais. Porém, essa atividade não é bem vista pela população, em razão do custo dos serviços, que são remunerados pelos chamados emolumentos; entretanto essa a atividade é uma das que mais contribuem para desafogar o poder judiciário e dar agilidade a procedimentos que não dependem do aval público, visto que o legislador tem dado especial atenção a possibilitar que sejam feitos nesta esfera de voluntariedade, muitos procedimentos que até a pouco somente eram possíveis através do Estado-Juiz, além de trazer segurança jurídica aos negócios entabulados. Para fins de exemplo, só nos últimos dez anos foram investidas, à esfera administrativa, a possibilidade de realização de inventário e partilha extrajudiciais, separações e divórcios, usucapião, retificação administrativas de imóveis, arbitragem, entre tantos outros.

De acordo com Fabiana Fachinetto (2011), o Estado, ao delegar a um particular o exercício da atividade notarial e de registro, tem como objetivo incumbir aos profissionais a receber, conferir e transportar para seus livros declarações orais ou escritas relativas a fatos e negócios jurídicos.

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Do mesmo modo Vitor Frederico Kümpel (2017, p.157) explica:

Considerando o direito notarial como um conjunto de princípios e regras, notadamente de direito privado, que disciplina a atuação do tabelião junto ao usuário, autenticando fatos e instrumentalizando, de forma lícita e regular, a vontade desenvolvida pelo notário, como profissional liberal que exerce atividade pública é de caráter público obrigacional, tendo em vista, mormente os direitos patrimoniais, mas também os direitos culturais, pessoais, ambientais, humanos, bem como os direitos públicos, notadamente o constitucional e o administrativo.

Desta forma o autor esclarece que mesmo os notários sendo agentes públicos, exercendo a atividade em caráter profissional liberal, devem atender as normas determinadas em lei e princípios. Assim, se justifica a ideia de que o profissional que exerce a atividade notarial e de registro é um prestador de serviços públicos e não servidor público. Além disso, os serviços notariais e de registros são dotados de fé pública, ou seja, os atos praticados por estes presumem-se verdadeiros, até prova em contrário, assim estabelece o art. 3º da Lei 8.935/94.

O modelo adotado pelo Brasil foi implantado em Portugal, que, antes de 2004 tinha os notários como servidores públicos, mas com a publicação dos Decretos-Leis 26/2004 e 27/2004, estes passaram para a iniciativa privada, a qual é similar à adotada pelo Brasil.

Assim, nas palavras de Bruno Miguel Costa Felisberto (2019, p.7):

Em 2004 foram publicados os Decretos-Leis 26/2004 e 27/2004, ambos de 4 de fevereiro, que aprovaram, respectivamente, o Estatuto do Notariado e o Estatuto da Ordem dos Notários. Com isso, o Estado Português deu expressão legal à reforma e à modernização do notariado português, convidando os notários a trocar o funcionalismo público pela iniciativa privada.

Dito isso, denota-se que a atividade notarial vem constantemente sendo aperfeiçoada, em que pese ser uma das áreas mais antigas do direito, não perde a sua essência, apenas se adapta as inovações tecnológicas, a fim de uma melhor prestação dos serviços. Os pontos levantados pelo autor supramencionado demonstram que a globalização, está a nossa disposição para facilitar o dia a dia.

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De acordo com o art. 1º da Lei 6.015/73, a atividade notarial e de registro servem para garantir a autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos. Nesse sentido o art. 1º da Lei 8.935/94 estabelece: “Art. 1º Serviços notariais e de registros são os de organização técnica e administrativa destinados a garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos”. Com base nesses artigos tornasse visível a importância desses profissionais seguirem as determinadas normas, visando assim, uma redução nos atos ilícitos realizados.

A Consolidação Normativa Notarial e Registral da Corregedoria-Geral da Justiça do Rio Grande do Sul, especificadamente no art. 1º, §1º, afirma que é dever dos notários e registradores manter-se atualizados em relação à legislação aplicável à função, permitindo assim uma prestação de serviço mais eficiente e segura.

Nesse viés, o STF julgou no dia 27 de fevereiro de 2019, a repercussão geral – tema 777 – Recurso extraordinário nº 842.846/SC, o qual previu uma nova interpretação do art. 22 da Lei 8.935/94, a qual será explicada adiante.

Diante do referido julgamento do STF, percebe-se que a atividade notarial e registral têm a sua gestão privada, ou seja, esses profissionais nomeados por concurso público desempenham suas atividades em caráter privado, entretanto, os seus serviços são de natureza pública conforme afirmado na decisão retro.

1.2 Princípios que regem a atividade

A Lei 6.015/73, juntamente com a Constituição Federal de 1988 em seu art. 37 estabelecem os princípios aplicados à administração pública direta e indireta, os quais se estendem as serventias extrajudiciais devido à necessidade de trazer mais segurança na realização dos atos praticados por esses profissionais.

Segundo Regina Pedroso e Milton Fernando Lamanauskas (2015, p. 21), as serventias devem observar no seu dia a dia, os princípios delineados no art. 37 da CF/88, tanto no atendimento quanto nos demais atos praticados pelos notários e registradores.

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Súmula 473: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.

Importante frisar a parte final da súmula supramencionada, de que os atos que geram modificação nos atos realizados por esses profissionais devem ser apreciados pelo judiciário, através de um expediente denominado dúvida.

Portanto, nesse viés, pode-se dizer que os princípios são à base da organização do dia a dia dos serventuários. Pois com essa base é possível tornar mais célere os procedimentos fundamentais para a prestação do serviço a terceiros.

A seguir serão abordados os seguintes princípios da publicidade, da autenticidade e da segurança jurídica. Tais princípios são norteadores dessa atividade, os quais tem a finalidade de identificar quais os possíveis problemas que poderiam ser resolvidos de forma rápida e eficaz.

O princípio da publicidade tem como base a transparência da atuação dos delegatários. Manifestando-se na prática, através da expedição de certidões, a qual tem a mesma força do registro original, porém as certidões são o meio pelo qual se disponibiliza para os interessados uma cópia fiel do título ou documento arquivado. Atualmente podemos contar com a publicidade eletrônica, a qual está contida na Lei 11.977/2009, concedendo aos registros públicos o desenvolvimento do sistema de registros eletrônicos.

Deste modo, Pedroso e Lamanauskas (2015, p.12), afirmam que: “[...] a Lei 11.977/2009 não põe fim aos livros tradicionais, pois não revogou os dispositivos da Lei nº 6.015/1973, apenas abriu espaço para a introdução gradual dos Livros Eletrônicos [...]”. Assim é possível verificar que a inovação apenas segue no sentido da evolução tecnológica.

Nessa senda, a publicidade é uma forma legal aplicável aos atos e registros efetuados pelos notários e registradores, pela qual é permitida ao indivíduo a prerrogativa de acessar os dados e informações inseridos nos livros de ofício e serventia, isto é, qualquer interessado pode tomar ciência do conteúdo dos atos praticados pelos tabeliães e oficiais de registro, sendo que a publicidade se dá, via de regra pela expedição de certidões.

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Ocorre que, excepcionalmente, há previsão legal determinando que alguns atos sejam restritos a algumas pessoas, não sendo permitido seu livre acesso, a exemplo dos registros de pessoas naturais em que conste a ocorrência de adoção, segundo artigo 95, § único, da Lei n.º 6.015/73 (LRP – Lei dos Registros Públicos), salvo determinação judicial, em segredo de justiça; e das certidões de protestos que hajam sido cancelados, consoante artigo 27, §2.º da Lei n.º 9.492/97, salvo se houver requerimento escrito do devedor ou ordem judicial nesse sentido. Essas restrições servem para preservar o sigilo e a seguridade dos fatos e atos jurídicos levados a registro.

O princípio da autenticidade está atrelado à qualidade do que é confirmado pela autoridade. Segundo Fachinetto (2011), essa autenticidade dos documentos realizados por tabelionatos e dos cartórios de registro, bem como os emanados de repartições públicas, são de caráter público e autênticos.

O princípio da segurança está ligado à situação dos atos realizados pelos notários e registradores. Sobre o princípio da segurança podemos mencionar o que Fachinetto (2011, p.16) diz:

No caso de pessoas com baixo grau de instrução, percebendo o notário ou o registrador dificuldade de compreensão do ato em sí que está sendo realizado, bem como de suas consequências jurídicas, têm os mesmos a obrigação de esclarecer a situação do ato realizado, a fim de proteger o seu interesse.

Assim, note-se a importância desses profissionais na vida das pessoas, alertando-as dos riscos ao realizar um ato jurídico que, consequentemente, vai acarretar alguma modificação em suas vidas. Nesse viés um bom exemplo seria o caso de uma pessoa idosa com pouco discernimento, realizar a transferência de bem imóvel (seja por doação ou qualquer outro meio), para um terceiro, sem que de fato saiba o que está prestes a fazer.

O princípio da eficácia está atrelado à capacidade do ato realizado pelos notários e registradores produzirem efeitos jurídicos. Sendo que este princípio é baseado na segurança dos assentos, na autenticidade dos negócios e nas declarações por eles realizadas.

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De acordo com Pedroso e Lamanauskas (2015), existem princípios ligados à administração interna das serventias que estão ligados aos requisitos dos documentos apresentados, e aos efeitos destes pós-registro.

Importante ressaltar, como bem afirmado pelos autores acima mencionado, de que o ato de registro não pode ser realizado de ofício, cabendo o interessado provocar os oficiais das serventias. A exceção a essa regra é a averbação dos logradouros, as quais podem ser feito ex

officio, desde que decretados pelo poder público, conforme o art. 167, II, da Lei dos Registros

Públicos.

1.3 O ingresso e a extinção da delegação da atividade

O ingresso na atividade notarial e de registro foi questionado intensamente até a Constituição Federal de 1988, tendo em vista que antes da Constituição Federal entrar em vigor a nomeação para esses cargos, era passada de pai para filho. Com a criação da Lei nº 8.935/94, que regulamenta o art. 236 da Constituição Federal, essa realidade mudou, resolvendo quais seriam as condições para o ingresso nessa atividade. O art. 14 da lei 8.935/94 estabelece o seguinte:

Art. 14. A delegação para o exercício da atividade notarial e de registro depende dos seguintes requisitos:

I - habilitação em concurso público de provas e títulos; II - nacionalidade brasileira;

III - capacidade civil;

IV - quitação com as obrigações eleitorais e militares; V - diploma de bacharel em direito;

VI - verificação de conduta condigna para o exercício da profissão.

Notadamente é possível verificar uma evolução no aspecto da delegação da atividade pelo Estado. Segundo Pedroso e Lamanauskas (2015, p.14), “os concursos serão realizados pelo Poder Judiciário com a participação, em todas as suas fases, da Ordem dos Advogados do Brasil, do Ministério Público, de um notário e de um registrador”. Como se pode ver o ingresso nessa atividade mudou consideravelmente, visto que outrora era passado o cargo de pai para filho.

O ingresso nas serventias e ofícios notariais e registrais como já afirmado, dá-se por concurso público de provas e títulos, tanto no caso de remoção – segundo determinou a

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Resolução n.º 81/2009 do Conselho Nacional de Justiça – como no de ingresso, sendo que o primeiro refere-se à hipótese em que o titular já está em atividade e objetiva alterar seu ofício/serventia. Nesse ínterim dispõe o artigo 15 da LNR (Lei n.º 8.935/94), então, que os concursos públicos serão realizados pelo Poder Judiciário, com a presença da OAB, do Ministério Público e de um notário e de um registrador.

Para obter a remoção como afirma Fachinetto (2011, p. 18), é necessário o exercício na atividade por pelo menos dois anos, a contar da outorga da delegação. Assim, nas palavras de Fachinetto (2011, p.18), “Veja-se que neste ponto que o titular pode pedir remoção para atividade diferente da que estava exercendo, isto é, um tabelião pode habilitar-se para a atividade de registrador e vice-versa”. Isto posto denota-se a possibilidade de alteração da delegação da atividade.

Outra situação peculiar, antes da atual Constituição Federal, cabia o Estado nomear substitutos para atuarem de forma temporária nas serventias, os quais acabavam ficando tanto tempo nessas condições que eram vistos como titulares das serventias. Note-se que em alguns Estados brasileiros ainda acontece essa prática, gerando uma total insegurança jurídica para os usuários destes serviços.

Desse modo Cavalcanti Neto (2011, p. 01) afirma:

Vale ressaltar que de acordo com o artigo 16 da Lei nº 8.935/94, deve ser realizado concurso público no prazo de seis meses da vacância das serventias. O que ocorre é que, em muitos Estados esta condição temporária se estende por décadas, o que permite que exerça a função de tabelião titular, pessoa que nem sempre tem qualificação profissional para tanto, o que prejudica a prestação dos serviços gerando insegurança aos usuários.

A partir dessa situação costumeira em alguns Estados brasileiros, resta evidente a necessidade de fiscalização do poder judiciário. Considerando o mencionado pelo autor, de que em muitos casos os substitutos que assumem a função de titular temporário não possuem qualificação exigida, sendo que a probabilidade de acontecer equívocos nos atos praticados por estes, aumentam significativamente, gerando assim, a insegurança jurídica.

Outro ponto que foi alvo de discussão antes da vigência da Constituição Federal, foi à relação da contratação dos prepostos, ou seja, aqueles que trabalham auxiliando os notários e

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registradores. Outrora se discutia a relação de emprego destes, embora naquela época se discutisse que também eram estatutários, hoje o entendimento está pacificado de que os mesmos são celetistas.

Os prepostos são divididos em substitutos, escreventes e auxiliares, não sendo limitado o número de cada preposto por serventia, cabendo ao titular estipular a contração suficiente, obedecendo apenas os requisitos previstos na CLT.

Interessante mencionar o entendimento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO indenizatória. ILEGITIMIDADE PASSIVA DO CARTÓRIO EXTRAJUDICIAL. OCORRÊNCIA. Não possuindo o Tabelionato de Notas réu personalidade jurídica, bem como sendo do seu titular a responsabilidade por eventuais erros de seus prepostos, o reconhecimento da ilegitimidade do referido demandado é medida que se impõe. Inteligência do artigo 22 da Lei 8.935/94. Ilegitimidade passiva reconhecida. Sentença mantida. (Apelação Cível nº 70079074076. Décima Câmara Cível. Relator DES. PAULO ROBERTO LESSA FRANZ. Porto Alegre, 28 de março de 2019).

O recente julgamento da jurisprudência acima mencionada revela que alguns profissionais do direito encontram dificuldades em identificar o verdadeiro responsável pelos danos causados a terceiros interessados. Nota-se que a demanda mencionada trata-se de uma ação ajuizada contra o Tabelionato de Protesto e não em face da tabeliã responsável, sendo reconhecida a ilegitimidade passiva. Conforme afirmado pelo Desembargador, as serventias extrajudiciais sequer possuem personalidade jurídica, não podendo eventual responsabilidade civil ser a elas imputadas, mas sim aos seus titulares.

Em relação às incompatibilidades e impedimentos da atividade notarial e registral, pode-se afirmar que são temas difíceis de tratar, visto que as decisões judiciais pouco tratam a respeito.

Nas palavras de Telma Lúcia Sarsur (2004, p. 01):

Não podemos deixar de citar que, remotamente, o notário exercia uma função de “conselheiro” e “orientador” das partes, não afastando, contudo, o brilho e a importância de suas atividades, sendo altamente reconhecidos e respeitados por todos aqueles que necessitavam de seu labor.

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É de conhecimento geral que os registradores vêm se adaptando com a evolução da sociedade, por exemplo, o registro de imóveis passou por várias adaptações, dentre elas, hoje percebesse que caminha-se para uma desburocratização, tanto da justiça, quanto das atividades extrajudiciais como a registral e a notarial.

Assim, segundo Gian de Souza Novaz (2019, p. 02), o qual afirma: “[...] defende-se a desburocratização com segurança, que não se dá apenas com menos exigências, mas também com maior agilidade e presteza na condução dos serviços, processos e procedimentos”.

Com essa percepção denotasse que a tecnologia estará cada vez mais presente na vida das pessoas. Essa ferramenta poderá facilitar a prestação dos serviços para os usuários, o qual será realizado de forma mais rápida e com uma qualidade maior na prestação dos serviços.

Um exemplo dessa desburocratização é a utilizam da via extrajudicial para realizar determinados atos jurídicos, como por exemplo, o divórcio extrajudicial. O CNJ recentemente editou o provimento nº 100/2020, que trata sobre os atos notariais eletrônicos, bem como instituiu o sistema de atos notariais eletrônicos (e-Notariado) em todo o país. O provimento possibilita que casais que queiram se divorciar, possam fazer de forma virtual, desde que preenchidos os requisitos do divórcio extrajudicial (consensualidade entre os cônjuges, a presença de um advogado e a inexistência de filhos menores e/ou incapazes ou nascituro).

Algumas serventias já adotam os mecanismos disponibilizados pela tecnologia atual, como por exemplo, o site www.registrocivil.org.br, onde as pessoas podem solicitar os seus documentos de forma virtual, sem a necessidade de deslocamento até a serventia. Outra forma de acesso às informações cartorárias é a Central de Registro de Imóveis do Rio Grande do Sul – CRI-RS, que permite consultar registros e informações sobre imóveis, pela internet.

Importante destacar o entendimento dessa matéria nos Tribunais, em especial ao Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que tem recentes julgados nesse sentido:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. AÇÃO DE EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA. CONSULTA DE BENS PELO

SISTEMA CNIB. POSSIBILIDADE. MEDIDAS

COERCITIVAS/INDUTIVAS. ART. 139, INCISO IV, DO CPC/2015. DESCABIMENTO. 1.A Central Nacional de Indisponibilidade de Bens - sistema CNIB - é a ferramenta online criada pelo Conselho Nacional de

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Justiça - CNJ, regulado pelo respectivo Provimento n. 39/2014, com o objetivo de interligar o Poder Judiciário e órgãos prestadores de serviços notariais e de registro, visando celeridade e efetividade na prestação jurisdicional e eficiência do serviço público delegado, possibilitando envio, cadastro e consulta, em tempo real, de ordens eletrônicas sobre indisponibilidade e levantamento de indisponibilidade quanto a bens imóveis e direitos a eles relativos. Por ser medida de interesse da própria Justiça e possibilitar o andamento regular do processo, tendo a parte autora dificuldade em localizar bens do executado, não há razão para exigir-se o esgotamento das vias administrativas para localização de bens do devedor quando o próprio Poder Judiciário dispõe de meios tecnológicos mais adequados e eficazes, para tanto sendo possível a utilização do(s) sistema(s) BACENJUD, RENAJUD, INFOJUD e/ou CNIB. Precedentes. 2. Outrossim, descabe a suspensão da CNH, bem como o bloqueio do(s) cartão(ões) de crédito da parte ré, diante da irrazoabilidade de tal medida, no caso concreto. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. Décima Quarta Câmara Cível. Nº 70082685595. Comarca de Porto Alegre. Porto Alegre, 30 de abril de 2020.

Recentemente, no segundo semestre do ano de 2018, foi sancionada a Lei 13.726/18, a qual reduziu as exigências de documentos no momento de realizar determinados atos nas serventias cartorárias, entretanto não deixa de exigir os documentos essenciais para a prestação de serviços com eficácia e segurança. Essa lei também sancionou o selo da desburocratização e simplificação, possibilitando mais agilidade nos serviços notariais e registrais.

Nesse sentido é o entendimento de Aline Rodrigues de Andrade e Maurício Barroso Guedes (2019 p. 01-02):

A dispensa tem por finalidade a supressão de formalidades e exigências tidas como “desnecessárias ou superpostas”, cujo custo econômico ou social, tanto para o erário quanto para o cidadão, seja considerado superior ao eventual risco de fraude. Portanto, logo de início se observa que não se trata de simples e indiscriminada eliminação de procedimentos, mas de verdadeira ponderação entre o risco de fraude – potencialmente majorado com a dispensa dos requisitos – e os ganhos econômico e social para a população e ao Estado com a simplificação do procedimento.

Considerando os posicionamentos supramencionados, percebe-se que a desburocratização no momento da apresentação dos documentos nas serventias, não afeta a segurança jurídica dos atos realizados, apenas simplifica o procedimento.

Outra recente alteração foi a Lei 13.864/2019, a qual inseriu o parágrafo 3º no at. 52 e, o parágrafo único no art. 75, ambos da Lei 6.015/73, tendo como ponto principal a informação

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de registros de nascimentos, casamentos, entre outros, para o Ministério da Economia e ao INSS, através do sistema Sirc (Sistema Nacional de Informações de Registro Civil). A referida Lei determinou, ainda, que os Oficiais de Registro Civil das Pessoas Naturais recebam os pedidos de benefícios previdenciários, os quais serão transmitidos eletronicamente ao INSS, juntamente com os demais documentos pertinentes. Importante mencionar, como bem afirmado pelo autor Márcio André Lopes Cavalcante (2019, p. 64), que de maneira alguma os documentos serão analisados pelos oficiais das serventias, tal função cabe tão somente ao INSS.

Diante do que determina o art. 4º da Lei 8.935/94, o qual menciona que o Juiz de Direito responsável pela direção do foro, será responsável por fixar o horário de funcionamento dos serviços notariais e de registros, mediante portaria, com prévia e ampla comunicação, respeitado as peculiaridades locais.

Por fim, as causas de extinção da delegação podem ser encontradas no art. 39 da LNR, quais sejam:

Art. 39. Extinguir-se-á a delegação a notário ou a oficial de registro por: I - morte;

II - aposentadoria facultativa; III - invalidez;

IV - renúncia;

V - perda, nos termos do art. 35.

VI - descumprimento, comprovado, da gratuidade estabelecida na Lei o 9.534, de 10 de dezembro de 1997.

§ 1º Dar-se-á aposentadoria facultativa ou por invalidez nos termos da legislação previdenciária federal.

§ 2º Extinta a delegação a notário ou a oficial de registro, a autoridade competente declarará vago o respectivo serviço, designará o substituto mais antigo para responder pelo expediente e abrirá concurso.

Assim, denota-se que para a extinção da delegação é necessário à identificação de alguma das hipóteses acima mencionada.

De acordo com Pedroso e Lamanauskas (2015, p. 33):

O falecimento do titular logo é comunicado à Corregedoria para que seja declarada a vacância, e assim o Ofício ou Tabelionato figure na lista das serventias vagas a serem providas por Concurso Público, o que também ocorre nas hipóteses de aposentadoria, invalidez, renúncia e aqueles demais

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casos que advêm do julgamento de um processo administrativo que apurou eventuais irregularidades no exercício profissional [...].

Desse modo, resta visível o entendimento de quais situações será extinto a delegação da atividade notarial e de registro. Os autores Pedroso e Lamanauskas (2015, p. 33), mencionam que a serventia, em hipótese alguma poderá ser transferida ou comercializada pelo titular.

A aposentadoria dos notários e registradores foi muito debatida outrora, a qual atualmente está pacificada o entendimento de que a aposentadoria compulsória aos 70 anos não abrange estes profissionais. Tendo em vista que não são servidores públicos. Esse entendimento tem origem da Emenda Constitucional nº 20, a qual possibilitou a aposentadoria facultativa e excluiu a aposentadoria compulsória.

Dito isso, encerra-se este capítulo, enfatizando-se a importância dos notários e registradores no cotidiano das pessoas, os quais transmitem aos usuários uma segurança jurídica.

2 A RESPONSABILIDADES DOS NOTÁRIOS E REGISTRADORES: PRESSUPOSTOS GERAIS

Como se denota do primeiro capítulo, os notários e registradores são profissionais dotados de fé pública, ou seja, seus atos pressupõem presunção relativa de veracidade. Importante frisar que o “cartório” como é conhecido popularmente, não tem personalidade jurídica, ou seja, os oficiais dessas serventias respondem de forma direta. Nessa perspectiva, serão abordadas a seguir as espécies de responsabilidades que estes profissionais estão submetidos.

A responsabilidade jurídica é essencial para a formação e progresso do meio social, considerando que está tem o dever de punir aquele que causar prejuízo a outrem, para que se possa garantir a ordem pública ou jurídica.

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Responsabilidade, para o Direito, nada mais é, portanto, que uma obrigação derivada – um dever jurídico sucessivo – de assumir as consequências jurídicas de um fato, consequências essas que podem variar (reparação dos danos e/ou punição pessoal do agente lesionante) de acordo com os interesses lesados.

Para aprofundarmos de forma detalhada e precisa, iniciar-se-á analisando a responsabilidade civil, como pode ser identificada, bem como quais as consequências e como os usuários dos serviços notariais e registrais, devem proceder ao perceberem um ato ilícito do serventuário.

Responsabilidade civil refere-se ao ato de reparar um dano causado ilicitamente à outra pessoa, seja ele material, moral, estético ou em ricochete (Dano indireto).

A responsabilidade civil para o autor Nelson Rosenvald (2015, p. 719), é um dos temas mais instigantes do Direito, uma vez que a cada dia novos desafios e inúmeras perspectivas são incrementados, a todo tempo, pela hipercomplexidade, pelas incertezas e pela mutabilidade dos fenômenos sociais.

Nesse sentido, inicia-se a investigação acerca das consequências da responsabilidade civil. Dentre as várias espécies de responsabilidades, encontram-se as subespécies, como por exemplo, a responsabilidade civil solidária, subjetiva, direta ou indireta.

2.1 As espécies de responsabilidades

Quando acontece um fato antijurídico ou é violado o direito de outrem, que é inerente a qualquer sociedade, gera um suposto dever de indenizar. No direito brasileiro, contamos com a responsabilidade contratual, extracontratual e entre outras que serão vista a seguir.

A responsabilidade civil contratual nasce com o rompimento de um negócio jurídico, sendo que esse negócio pode ser unilateral, quando somente umas das partes tem obrigação com a outra (Exemplo: Doação pura), ou bilateral, quando ambas as partes tem deveres e obrigações.

A responsabilidade civil extracontratual, conhecida também como aquiliana, tem sua origem na inobservância de uma norma, ou seja, na extracontratual o agente não tem um

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vínculo contratual com a vítima, apenas o dever legal. Podendo ser citado como exemplo de dever legal, o estado de perigo, previsto no art. 156 do Código Civil.

Neste conjunto, é o entendimento de Carlos Roberto Gonçalves (2014, p. 62):

Na responsabilidade extracontratual, o agente infringe um dever legal, e na contratual, descumpre o avençado, tornando-se inadimplente. Nesta, existe uma convenção prévia entre as partes que não é cumprida. Na responsabilidade extracontratual, nenhum vínculo jurídico existe entre a vítima e o causador do dano, quando este pratica o ato ilícito.

Outro ponto que merece nossa atenção é a questão da prova em cada uma dessas espécies, visto que a contratual exige que o agente causador do dano prove a inexistência de culpa, que pode decorrer de um caso fortuito, entre outros. Já a extracontratual cabe à vítima provar o dano sofrido pelo causador, alegando que o mesmo agiu com dolo, imprudência, imperícia ou negligência.

Para Silvio de Salvo Venosa (2011, p. 19):

[...] a Lex Aquilia é o divisor de águas da responsabilidade civil. Esse diploma, de uso restrito a principio, atinge dimensão ampla na época de Justiniano, como remédio jurídico de caráter geral; como considera o ato ilícito uma figura autônoma, surge, desse modo, a moderna concepção da responsabalidade extracontratual. O sistema romano de responsabilidade extrai da interpretação da Lex Aquilia o princípio pelo qual se pune a culpa por danos injustamente provocados, independentemente de relação obrigacional preexistente. Funda-se aí a origem da responsabilidade extracontratual fundada na culpa. Por essa razão, denomina-se responsabilidade aquiliana essa modalidade [...]

Vale dizer que ato ilícito é a base do suposto dever de reparação de um dano causado por um indivíduo à outra pessoa. Diante disso, deve-se partir dos dispositivos legais como o Código Civil, o art. 927, o art. 186 e o art. 187 do referido código, os quais ligam o ato ilícito com a obrigação de reparar. Vejamos:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

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Art. 927. Aquele que, por ato ilícito ( arts. 186 e 187 ), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,

independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

De outro lado, existem atos ilícitos que são permitidos, conforme já mencionado o art. 156 do CC, prevê o estado de perigo, além desse podemos contar com o art. 188 do CC, o qual, assim, disciplina:

Art. 188. Não constituem atos ilícitos:

I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;

II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente.

Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.

Vale dizer, desse modo, que em alguns casos é admitido a prática de um ato ilícito, desde que estejam caracterizadas nos artigos mencionados. Obviamente que todo dano material, moral ou estético é passível de indenização de acordo com a legislação brasileira.

Nesse viés, é o que disciplina o art. 929 do CC; “Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram”. Portanto, caso o agente pratique um ato lícito, nos moldes do artigo anterior, poderá ser responsabilizados.

A legislação brasileira prevê algumas hipóteses de reparação civil, como a responsabilidade por ato de terceiros, estabelecida no art. 932 do CC/22, também está prevista a responsabilidade por fato do animal, no art. 936 do mesmo diploma legal, além desses, ainda pode ser encontradas as responsabilidades por fato da coisa, art. 937 e 938 do Código Civil.

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Para caracterizar a responsabilidade civil, é necessário o preenchimento de alguns requisitos previstos em lei, quais sejam, (a) conduta do agente que gera dano a outrem, (b) o dano material, moral, estético sofrido pela vítima, (c) o nexo de causalidade entre a conduta do agente e o dano causado à vítima, e (d) a culpa, isto é, que o agente praticou a conduta danosa por dolo, imprudência, negligência ou imperícia, aplicada somente em uma das modalidades de responsabilidade civil, que é a responsabilidade civil subjetiva.

O notário e o registrador também estão sujeitos à responsabilidade penal e administrativa. A responsabilidade penal está prevista nos artigos 23 e 24 da Lei 8.935/94, os quais reforçam a ideia do dever de reparação de danos, mesmo na esfera penal.

Segundo Venosa, o qual afirma (2011, p. 20-21):

Os ilícitos de maior gravidade social são reconhecidos pelo Direito Penal. O ilícito civil é considerado de menor gravidade e o interesse de reparação do dano é privado, embora com interesse social, não afetando, a princípio, a segurança pública. O conceito de ato ilícito, portanto é um conceito aberto no campo civil, exposto ao exame do caso concreto e às noções referidas de dano, imputabilidade, culpa e nexo causal, as quais, também e com maior razão, fazem parte do delito ou ilícito penal. Em qualquer dos campos, porém, existe a infração a lei e a um dever de conduta. Quando este dever de conduta parece à primeira vista diluído e não identificável na norma, sempre estará presente o princípio geral do neminem laedere; ou seja, a ninguém é dado prejudicar outrem. Quando a conduta é de relevância tal que exige punição pessoal do transgressor, o ordenamento descreve-a como conduta criminalmente punível.

O auto Gonçalves (2014, p. 57), afirma o seguinte:

[...] é quase o mesmo o fundamento da responsabilidade civil e da responsabilidade penal. As condições em que surgem é que são diferentes, porque uma é mais exigente do que a outra, quanto ao aperfeiçoamento dos requisitos que devem coincidir para se efetivar.

Consoante esse entendimento, a responsabilidade penal é pessoal e intransmissível, sendo possível que o réu responda em regime de privação de liberdade.

Do mesmo modo, Gonçalves (2014, p. 58):

Sob outros aspectos distinguem-se ainda, a responsabilidade civil e a responsabilidade penal. Esta é pessoal, intransferível. Responde o réu com a

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privação de sua liberdade. Por isso, deve estar cercado de todas as garantias contra o Estado. A este incumbe reprimir o crime e arcar sempre com o ônus da prova.

Assim, percebe-se que a responsabilidade penal é mais severa do que a civil, visto que em alguns casos pode ocorrer a privação da liberdade do réu. Embora em ambas ocorra à violação de uma norma, a responsabilidade penal assegura a segurança social nos casos de relevante interesse social.

2.2 A função da responsabilidade civil

A noção de responsabilidade civil não está ligada somente a relação jurídica, ela se estende a área da moral, como por exemplo, a religião e as regras do trato social. Como bem apontado por Nader (2016, p. 81), a responsabilidade civil é uma ferramenta de grande valia, considerando que o ser humano carrega consigo desde os tempos primitivos, formas imprevisíveis de reações, como por exemplo, de justiça e revolta, ante a prática de condutas reprováveis ou de injustiças.

Nesse sentido, é o conceito destacado por Maria Helena Diniz:

A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a repara dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal.

A mesma autora argumenta no seguinte sentido:

Grande é a importância da responsabilidade civil, nos tempos atuais, por se dirigir à restauração de um equilíbrio moral e patrimonial desfeito e à redistribuição da riqueza de conformidade com os ditames da justiça, tutelando a pertinência de um bem, com todas as suas utilidades, presentes e futuras, a um sujeito determinado, pois, como pondera José Antônio Nogueira, o problema da responsabilidade é o próprio problema do direito, visto que “todo o direito assenta na idéia da ação, seguida da reação, de restabelecimento de uma harmonia quebrada”. O interesse em restabelecer o equilíbrio violado pelo dano é a fonte geradora da responsabilidade civil. Na responsabilidade civil são a perda ou a diminuição verificadas no patrimônio do lesado ou o dano moral que geram a reação legal, movida pela ilicitude da ação do autor da lesão ou pelo risco.

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A finalidade da responsabilidade civil está atrelada a três correntes doutrinárias, quais sejam: a reparação, a prevenção de danos e o caráter punitivo. Logo, para melhor compreensão deste tópico, necessário uma análise de cada função.

A reparação objetiva o ressarcimento da lesão sofrida pelo ofendido, como afirma Nader (2016, p. 40), esse ressarcimento trás o statu quo ante, necessário também, averiguar a gravidade da lesão, uma vez que se o objeto for destruído ou causar dano moral, a reparação deve ser em um valor adequado, capaz de compensar a lesão sofrida. É importante frisar que o valor a ser indenizado deve respeitar as condições do seu patrimônio, uma vez que inviável a prisão civil por inadimplemento da obrigação de indenização.

Dessa forma, é o entendimento do autor Bernardo Silva de Seixas (2019, p. 07):

Há certamente a necessidade fundamental em que se estabeleça esse equilíbrio, o que se procura fazer é recolocar o indivíduo prejudicado no status quo ante (o estado em que as coisas estavam antes do dano). A quantificação de valores indenizatória conforme os autores do dano moral, tem por finalidade impor reparação que alcance a satisfação do lesado e a punição do causador do dano na justiça.

A prevenção de danos, por sua vez, é a conscientização das pessoas através de leis, para que não descumpram ou causem prejuízos à outra pessoa. Todavia não é o bastante para desestimular tal prática. Diante dessa situação, um judiciário eficaz torna-se fundamental para que as normas sejam respeitadas, caso contrário se tornariam inócuas.

Notório é a importância da reparação dos danos causados à vítima, entretanto essa prática ultrapassa os interesses da vítima e do responsável, servindo como exemplo para os demais casos semelhantes. Nesse viés, entende-se que as sentenças judiciais desenvolvem um caráter pedagógico, possibilitando uma segurança maior na sociedade.

Segundo Nader (2016, p. 42):

O Direito Processual deve fornecer aos operadores jurídicos instrumentos ágeis e eficazes para se poder neutralizar a conduta danosa em face de outrem, impedindo, destarte, que a potência se transforme em ato. Na área cível, os processos cautelares, como a denominação revela, têm finalidade preventiva e especialmente ao permitirem a concessão de medidas liminares. [...].

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Como bem destacado pelo autor, os instrumentos processualistas facilitam uma prestação jurisdicional mais efetiva e consequentemente preventiva. A possibilidade da concessão de pedidos de forma liminar adianta um possível dano que pode ser evitado. Como muitos juristas defendem, não é necessário permitir que aconteça o dano para só então buscar o responsável.

A punição por sua vez, abrange a finalidade punitiva da responsabilidade, entretanto em alguns casos não é considerada uma punição, tendo em vista que alguns ofensores pertencem a classes sociais favorecidas, assim é o entendimento do autor Nader (2016).

Segundo o autor Nader (2016), o qual afirma que para uma punição surtir o efeito de prevenção, com o intuito de que não ocorram novas infrações civis, não basta apenas uma condenação em valores elevados, é necessária uma complementação, como por exemplo, o impedimento da cobertura de seguros e a possibilidade de cobrança de valores adicionais nos custos de produtos e serviços.

Os serviços notariais e registrais como já afirmado, outrora, são essenciais para o bom desenvolvimento das sociedades, vez que os seus atos produzem vários efeitos, por está razão esses profissionais devem seguir estritamente o que a lei determina, com a máxima cautela e formalidade exigida.

Caso não seja observado, pelos oficiais ou por seus prepostos, os devidos cuidados ao realizar um determinado ato jurídico, importarão no prejuízo dos terceiros que utilizam destes serviços, como por exemplo: O fornecimento de documentos de forma equivocada a hospitais, gerando, dessa forma, um prejuízo para as partes envolvidas, como veremos a seguir no acórdão do Tribunal Gaúcho.

Assim é o entendimento do TJ/RS:

APELAÇÕES CÍVEIS. RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. OFICIAL DE REGISTRO CIVIL DE PESSOAS NATURAIS. ERRO NO FORNECIMENTO DE DOCUMENTAÇÃO QUE GEROU UMA SÉRIE DE CONSEQÜÊNCIAS, COM REGISTROS EQUIVOCADOS EM NOME DA AUTORA, DE INTERDIÇÃO E ÓBITO. DANOS MORAIS

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CARACTERIZADOS IN RE IPSA. DEVER DE REPARAR CONFIGURADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO MANTIDO.

A responsabilidade civil dos notários e oficiais de registro é objetiva, ou seja, independe de culpa, bastando que fique comprovada a ocorrência do fato, o dano e o nexo de causalidade entre ambos. Inteligência do art. 22 da Lei nº 8.935/94, vigente ao tempo do fato.

Hipótese em que o Registro Civil de Montenegro forneceu ao Hospital Psiquiátrico São Pedro certidão de nascimento da autora EDI MARIA KLEIN, quando o solicitado foi o envio da certidão de nascimento de EDI MARIA KLAIN. Em razão deste ato equivocado, iniciou-se uma sucessão de outros erros que causaram a anotação de interdição e posterior óbito na documentação da autora. Além disso, a inscrição eleitoral da demandante foi cancelada, ficando a autora impedida de exercer seu direito de votar. Para consertar a série de equívocos, teve a demandante que ajuizar ações junto à Justiça Eleitoral para regularizar sua inscrição, e à Vara de Registros Públicos para cancelar o registro de óbito e interdição em seu nome.

É devida a indenização por danos morais, in re ipsa, sendo presumível o constrangimento, o transtorno e as dificuldades enfrentadas pela parte autora, decorrentes do registro indevido de interdição e óbito em seu nome, além da impossibilidade do exercício do direito de voto, questões intimamente ligadas à personalidade e à dignidade da demandante.

Quantum indenizatório mantido (R$ 10.000,00), afigurando-se justo e razoável, considerando as características compensatória, pedagógica e

punitiva da indenização. RECURSOS DESPROVIDOS. Nona Câmara

Cível. Nº 70075171686.Porto Alegre, 26 de junho de 2018. (Grifo nosso).

Informações registradas em certidões de nascimento, casamento ou óbito, são exemplos de situações em que as pessoas sentem-se incomodadas e ingressam com ações na justiça a fim de serem ressarcidas pelos seus prejuízos, algumas vezes as ações são procedentes e outras improcedentes como veremos a seguir.

A esse propósito, faz-se mister trazer à colação do entendimento do TJ/RS:

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAL E MORAL. ERRO EM CERTIDÃO DE NASCIMENTO. EQUÍVOCO QUANTO AO GÊNERO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DANO MORAL. DEVER DE INDENIZAR NÃO CONFIGURADO. 1) Trata-se de recurso de apelação interposto contra a sentença de improcedência de ação de indenização por danos material e moral decorrentes de defeito na prestação de serviço por Cartório de Registro Civil. 2) Consoante a exordial, o demandante, em razão do óbito de seu genitor e da necessidade de realizar a partilha dos bens por ele deixados, solicitou junto ao Registro de Pessoas Naturais da 3ª Zona de Porto Alegre uma segunda via de sua certidão de nascimento, efetuando o pagamento correspondente. Narrou que de posse do documento compareceu ao Serviço Notarial e de Registro de Gravataí para encaminhamento da partilha extrajudicial, momento em que lhe foi solicitado, perante seus familiares e outras pessoas que lá se encontravam, a comprovação de seu gênero, tendo em vista a informação constante na certidão de nascimento de

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que seria do sexo feminino. 3) In casu, as circunstâncias do caso orientam no sentido de que houve mero dissabor pelo fato de ter sido expedida certidão contendo erro quanto ao gênero sexual do autor. Assim, ausente um dos pressupostos do dever de indenizar, qual seja, o dano, impõe-se a manutenção da sentença de improcedência. Sexta Câmara Cível - Serviço de Apoio à Jurisdição. Nº 70072573744. Porto Alegre, 20 de julho de 2017. (Grifo nosso).

Dito isso, percebe-se a importância da atividade notarial e registral na sociedade, a qual torna mais segura os atos jurídicos praticados por esses. Entretanto, é possível que ocorram falhas como nos casos acima narrados.

2.3 A incidência do CDC nas prestações de serviços públicos

Sabemos que a má prestação de um serviço público deve ser questionada. Nesse aspecto, a aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90), se faz necessário para uma prestação de serviços seguros e eficientes. Desse modo, o art. 6º, inciso X, do CDC, afirma que é direito do consumidor ter uma prestação dos serviços públicos de forma adequada e eficaz. Para tanto é necessário saber em quais serviços públicos cabe à aplicação do Código de Defesa do Consumidor.

A proteção da relação de consumo tem como base o princípio da vulnerabilidade, o qual possibilita que o consumidor tenha suas garantias asseguradas, frente à prática abusiva de fornecedores de produtos e serviços.

Com a criação da Lei 13.460/2017, a qual estabelece normas básicas para participação, proteção e defesa dos direitos do usuário dos serviços públicos, observa-se que no art. 1º, § 3º “Aplica-se subsidiariamente o disposto nesta Lei aos serviços públicos prestados por particular”. Assim, percebe-se que tal menção abrange os notários e registradores.

Consoante o entendimento do art. 3º, § 2º do CDC, denota-se que nos serviços públicos aplica-se o Código de Defesa do Consumidor, uma vez que caracterizada a função de fornecedor.

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Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

[...]

§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

Inobstante o exposto acima, existe uma controvérsias acerca desse tema, no que diz respeito à aplicabilidade ou não do Código de Defesa do Consumidor nas prestações de serviços notariais e registrais. Dessa forma, será analisada a seguir a tese que defende a aplicabilidade, bem como a que diverge.

Conforme estabelecido no art. 2º do Código de Defesa do Consumidor, entende-se como consumidor o destinatário final, aquele que não pretende ter como finalidade a produção de outros produtos ou serviços com aquele que adquiriu. Essa pessoa pode ser tanto uma pessoa física, quanto uma pessoa jurídica, ou seja, uma empresa. Desde que caraterizada a finalidade final do produto ou serviço.

Conforme o que afirma o autor Felisberto (2016, p. 01), é essencial uma interpretação mais avançada do que o legislador constituinte quis dizer sobre o direito do consumidor como direito fundamental.

Há uma divergência em relação à aplicabilidade ou não do Código de Defesa do Consumidor na atividade notarial e registral.

De outro lado, há doutrinadores que entendem que não se aplica o Código de Defesa do Consumidor nas atividades registrais ou notariais, considerando que não se está diante da liberdade de concorrência e iniciativa.

Segundo o autor Arthur Zeger (2016 apud CENEVIVA, 2003, p. 57):

Apesar do amplo espectro abarcado pela lei do consumo, meu entendimento é o de que não se aplica aos registradores. Sendo embora delegados do Poder Público e prestadores de serviço, sua relação não os vincula ao “mercado de consumo” ao qual se destinam os serviços definidos pelo Código do Consumidor (art. 3º, §2º). Mercado de consumo é o complexo de negócios

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realizados no País com vistas ao fornecimento de produtos e serviços adquiridos voluntariamente por quem os considere úteis ou necessários. O serviço registrário, sendo em maior parte compulsório e sempre de predominante interesse geral, de toda sociedade, não se confunde com as condições próprias do contrato de consumo e a natureza do mercado que lhe corresponde.

Embora o Código de Defesa do Consumidor defenda amplamente o hipossuficiente na relação de consumo, bem como na prestação de serviços, o mesmo não acontece com os serviços notarias ou registrais, visto que são de caráter publico, ou seja, os atos praticados são de interesse de toda a sociedade, diferente da relação de consumo em que o interesse limitasse as partes envolvidas.

Destarte, é o entendimento do TJ/DF:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS. CARTÓRIO EXTRAJUDICIAL DE NOTAS. ATIVIDADE NOTARIAL.

COMPETENCIA. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.

INAPLICABILIDADE. INCIDENCIA DO REGIME DE DIREITO PÚBLICO. FORO DA SEDE DA SERVENTIA JUDICIAL OU DE REGISTRO. RECURSO IMPROVIDO. 1. O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso Especial nº 1704520/MT (relatora Ministra Nancy Andrighi, Corte Especial, DJ 19/12/2018 - Tema 0988) deliberou, por maioria, que ?O rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada, por isso admite a interposição de agravo de instrumento quando verificada a urgência decorrente da inutilidade do julgamento da questão no recurso de apelação?. 1.1. No aludido recurso paradigma - o qual foi julgado sob o rito dos recursos repetitivos (art. 1.036 e seguintes do CPC) -, aquela instancia extraordinária deu provimento ao Recurso Especial e determinou ao tribunal de origem o processamento e julgamento do recurso em que se discutia a competência do juízo singular, situação que é a mesma deste recurso. 1.2. Diante desta circunstância e, em observância ao que dispõe o art. 927, III, do CPC/2015 (?Os juízes e os tribunais observarão os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos), conheço do recurso e passo a análise do seu teor. 2. O microssistema de proteção e defesa do consumidor tem por escopo, como reflexo do princípio da igualdade material previsto na Constituição (art. 5º, II, XXXII e 170, V), tutelar um sujeito de direito (pessoa física ou jurídica) notadamente frágil nas relações negociais, seja esta vulnerabilidade de natureza jurídica, econômica ou técnica. 2.1. Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor aos serviços notariais e de registro, diante da ausência de parte vulnerável na relação entre o usuário e o tabelião/registrador que justifique a incidência desta norma protetiva. 2.2. ?A atividade desenvolvida pelos titulares das serventias de notas e registros, embora seja análoga à atividade empresarial, sujeita-se a um regime de direito público.? (ADC 5, Relator p/ Acórdão: Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 11/06/2007) 3. A competência para processar e julgar ação de reparação de danos por ato praticado em serventia notarial ou de

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registro é o local de sua sede, na forma do art. 53, III, alínea ?f?, do Código de Processo Civil de 2015. 4. Agravo de Instrumento conhecido, mas

desprovido. 7ª Turma Cível. Publicado no DJE : 25/03/2019. (Grifo

nosso).

No mesmo sentido, é o entendimento do art. 3º do CDC, o qual dispõe que todo fornecedor é pessoa física ou jurídica, pública ou privada, bem como o entendimento do parágrafo 2º do mesmo diploma legal, o qual afirma que serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração. Nesse viés, percebe-se que o fornecedor é aquele que presta serviço mediante contraprestação, caracterizada como remuneração.

Consoante esse entendimento, tem-se, assim, que embora os usuários dos serviços cartorários paguem a contraprestação na hora de realizar os atos registrais ou notários, conhecidos como emolumentos, estes possuem natureza tributária, dessa forma afasta a característica de fornecedor dos notários e registradores, não podendo ser aplicado o Código de Defesa do Consumidor.

É nesse sentido o entendimento do autor Guilherme Fanti (2006, p. 01):

Logo, visto que os emolumentos são “taxas” e que o serviço prestado é típico serviço público, conclui-se que a relação jurídica existente entre o titular da serventia notarial e de registro e os usuários de tais serviços é de Direito Público, de natureza tributária.

Neste conjunto, é também o entendimento de Felisberto (2016, p. 03):

[...] deseja-se por meio deste trabalho verificar não só a proximidade com que dialogam os serviços públicos e o CDC (LGL\1990\40), mas igualmente perceber que isto não importa em concluir que a todo tipo de serviço público se aplica a legislação consumerista.

Do mesmo modo, é o entendimento de Nader (2016, p. 416):

Apesar de alguma controvérsia a respeito, prevalece o entendimento de que as atividades cartorárias não se enquadram nas prestações de serviços reguladas pelo Código de Defesa do Consumidor. Levada a matéria à consideração do Superior Tribunal de Justiça, a negativa prevaleceu por maioria de votos, vencidos os Ministros Nancy Andrighi e Castro Filho.

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Considerando que nas recentes decisões dos tribunais, conclui-se, portanto, que a forma objetiva de responsabilidade do CDC não se aplica na prestação de serviços cartorários, uma vez que os emolumentos são de natureza tributária e que o serviço prestado é de natureza pública, afastando, assim, a relação de consumo.

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3. A responsabilidade civil dos notários e registradores e do Estado pelos atos das serventias

No presente tópico será tratado do enquadramento das condutas lesivas dos notários e registradores, bem como a possibilidade de virem a responder por seus atos de forma direta, subsidiária, solidária ou regressiva.

Segundo Luciana Oltramari Velasques (2019, p. 01), é comum cada vez mais as pessoas necessitarem de atos praticados por cartórios extrajudiciais, e, diante desse crescimento, surge a necessidade de identificar as responsabilidades dos agentes que exercem essas atividades.

A discussão levantada acerca da responsabilidade civil dos serviços delegados pelo Estado, em especial o serviço notarial e registral, sempre foi amplamente discutida por operadores do Direito. Afinal o que deve prevalecer? O entendimento do STF, bem como a alteração do art. 22 da Lei 8.935/94 ou a determinação do art. 37º, §6º, da CF? Esse assunto demanda um olhar mais crítico para essa atividade, considerando a ampla discussão pelos operadores do Direito em saber até que ponto há o direito a ser indenizado e contra quem deve ser interposta a ação.

3.1 O artigo 22 da Lei 8.935/94 e suas alterações.

Como visto anteriormente, os serviços notariais e registrais são prestados por agentes delegados pelo Estado, sendo que os mesmos de acordo com o art. 1º da Lei 8.935/94, “são os de organização técnica e administrativa destinados a garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos”.

A responsabilidade civil decorrente da atividade notarial e registral teve recentes alterações, as quais modificaram o conteúdo do artigo 22 da Lei 8.935/94 no decorrer dos últimos anos, sendo discutida por muitos doutrinadores a constitucionalidade da última modificação realizada, trazida pela Lei 13.286/2016.

Referências

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