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A consideração do tempo rural para fins de aposentadoria em regime próprio de previdência social

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Academic year: 2021

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UNIJUI - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

ELMIR JORGE SCHNEIDER

A CONSIDERAÇÀO DO TEMPO RURAL PARA FINS DE APOSENTADORIA EM REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL

Ijuí (RS) 2012

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ELMIR JORGE SCHNEIDER

A CONSIDERAÇÀO DO TEMPO RURAL PARA FINS DE APOSENTADORIA EM REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUI – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DECJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: Msc Lizelia Tissiani Ramos

Ijuí (RS) 2012

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Dedico este trabalho a todos os meus familiares, amigos, professores, colegas e principalmente a quem esteve sempre do meu lado me incentivando com toda paciência, carinho e compreensão, demonstrando que tudo vale à pena, quando temos um objetivo.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, acima de tudo, pela vida, e pela razão de acreditar sempre em nosso ideal.

A meus filhos Caroline e Vitor, que são a razão da minha existência, minha namorada, a minha mãe, irmãos cunhados e sobrinhos pela compreensão dos momentos roubados de sua convivência na elaboração do presente trabalho.

A minha orientadora Lizelia Tissiani Ramos e Anna Paula Bagetti Zeifert pela sua dedicação e disponibilidade.

A todos que colaboraram de uma maneira ou outra durante a trajetória de construção deste trabalho, meu muito obrigado!

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A combinação de energia e inteligência, assim como o equilíbrio entre a razão e a emoção é fundamental para o sucesso. É uma sensação extremamente agradável chegar ao fim de uma etapa com a consciência do dever cumprido. E obter a consagração e o respeito de todos, além do reconhecimento e a admiração das pessoas que amamos.

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RESUMO

O presente trabalho de pesquisa monográfica tem como tema examinar aspectos relativos ao tempo de contribuição utilizado para fins previdenciários. Inicialmente analisa-se como se deu o surgimento do Direito Previdenciário, e sua posterior evolução até chegar aos dias atuais, buscando compreender a sociedade desde a época na qual os trabalhadores não tinham a perspectiva de proteção social por meio da concessão de benefícios previdenciários, até a legislação atual que garante inúmeros benefícios. Nesta perspectiva de ampla cobertura ao trabalhador, será também abordado os diferentes regimes, segurados e dependentes, segurado especial, tempo de contribuição, compensação entre regimes, contagem recíproca, indenização e averbação de tempo para fins de aposentadoria nas situações em que um trabalhador migrar de um regime para outro.

Palavras-Chave: Direito Previdenciário. Tempo de Contribuição. Segurado Especial. Contagem recíproca. Indenização.

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RESUMEN

La monografía de investigación es examinar la pensión coyuntura brasileña tema de una revisión de cómo se dio la aparición de la Ley del Seguro Social y su posterior evolución hasta nuestros días, tratando de entender la sociedad desde el momento en que los trabajadores no tenía ningún beneficio asegurado, a la legislación vigente que se ocupa de los diversos beneficios. Desde la perspectiva de una amplia cobertura para el empleado, también se abordarán los diferentes esquemas, el tiempo de asegurados y asegurados dependientes de la contribución especial, los esquemas de compensación, contando entre sí, y la aprobación de tiempo de compensación para efectos de jubilación en las situaciones en que un trabajador que emigran de un régimen a otro.

Palabras clave: Derecho de la Seguridad Social. Especial Asegurado. Cuente con otra. Indemnización.

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9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO...10

1 SISTEMA PREVIDENCIÁRIO BRASILEIRO...12

1.1 Evoluções históricas da previdência social...12

1.2 Diferentes regimes previdenciários...16

1.3 Beneficiários do RGPS: segurados e dependentes...20

1.3.1O produtor rural enquadrado como segurado especial...24

2 UTILIZAÇÃO DO TEMPO RURAL PARA FINS DE APOSENTADORIA EM REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL...29

2.1 O tempo de contribuição para fins previdenciários...29

2.2 Compensações e troca de regime previdenciário...33

2.3 Do reconhecimento da filiação e contagem recíproca de tempo de contribuição para aposentadoria...37

CONCLUSÃO...44

REFERÊNCIAS...46

ANEXOS A...51

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INTRODUÇÃO

A escolha do direito previdenciário como tema de projeto para trabalho de conclusão de curso, busca satisfazer interesse pessoal de estudo da temática. Nesse sentido a pesquisa objetiva abordar a evolução do direito previdenciário no Brasil, desde a sua origem com a criação das primeiras legislações que garantiam alguma assistência as pessoas empregadas até os dias de hoje fazendo uma breve analise da evolução e das tendências com relação à legislação atual.

As discussões em torno do tema são de grande interesse da classe trabalhadora, uma vez que diz respeito ao tempo exigido para a obtenção do benefício previdenciário da aposentadoria, responsável pela garantia de renda capaz de proporcionar uma velhice segura e independente.

Muito se discute na política a respeito dos rumos a serem tomados com relação à previdência e, especialmente, sobre a sistemática de cálculo dos benefícios previdenciários. Em que pesem as discussões publicizadas sobre o tema, o trabalhador continua carente de informações, tornando o futuro uma verdadeira incógnita. Esse quadro de incertezas e dúvidas favorece a busca por planos de previdência privada, seja para garantir a aposentadoria ou para complementar o valor da aposentadoria concedida pelo Regime Geral de Previdência Social, que tem seu valor limitado no teto, que em 08/2012 corresponde a R$ 3.916,20.

Por fim, a pesquisa pretende abordar temática que interessa a vida do trabalhador que contribui para mais de um regime previdenciário, principalmente o

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trabalhador rural que a partir de dado momento muda de atividade e passa a contribuir para regime próprio de previdência social dos servidores públicos. Nesse aspecto, a pesquisa visa esclarecer quanto à possibilidade de aproveitamento do tempo de serviço rural para fins de contagem recíproca e seus efeitos, ademais por existirem divergências na aplicação da lei, têm o propósito o presente estudo avaliar as hipóteses em que é necessária a compensação financeira.

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12 1 SISTEMA PREVIDENCIÁRIO BRASILEIRO

Neste primeiro capítulo será realizado um apanhado geral sobre a evolução histórica da Previdência Social, bem como a interferência do Estado na vida do trabalhador, desde o surgimento deste modelo de proteção social, analisando seu desenvolvimento até os dias de hoje. Identificar-se-á também os diferentes regimes previdenciários atualmente em vigor no país, especialmente o Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e seus beneficiários, sejam eles segurados ou dependentes, com ênfase no segurado especial e na atividade rural por ele exercida.

1.1 Evoluções históricas da previdência social

Para uma melhor compreensão do tema a ser abordado far-se-á uma breve abordagem histórica sobre o surgimento das primeiras idéias de proteção previdenciária, cujo início está datado no fim do século XIX, com a política social de Otto Von Bismarck, que tinha por objetivo garantir ao trabalhador o seguro-doença, a aposentadoria e a proteção a vítimas de acidente de trabalho.

Bismarck, na Alemanha, instituiu o seguro social. O seguro-doença era custeado por contribuições dos empregados, empregadores e do Estado. O seguro contra acidentes do trabalho foi criado em 1884, sendo custeado pelos empresários. Em 1889, foi instituído o seguro de invalidez e velhice, custeado pelos trabalhadores, pelos empregadores e pelo Estado. Era obrigatória a filiação às sociedades seguradoras ou entidades de socorros mútuos por parte de todos os trabalhadores que recebessem até 2.000 marcos anuais. (MARTINS, 2009, p. 3).

É importante lembrar que o modelo de Bismarck não estava organizado sob o fundamento da solidariedade, onde cabia ao Estado apenas a função de fiscalização, sem qualquer participação ativa como contribuinte, além de ter uma grande parcela da sociedade excluída deste sistema, seja como contribuinte ou como beneficiário. Com o enfoque de uma maior intervenção estatal e maior distribuição de renda surge então na Inglaterra, o sistema Beveridge, que tem na universalidade sua grande marca, senão vejamos:

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13 As propostas de Keynes foram aprofundadas por Lorde William Henry Beveridge, que havia sido seu colaborador e que, em 1941, foi designado pelo governo britânico para reexaminar os sistemas previdenciários da Inglaterra. A partir de 1944, então, foram estes alterados pela adoção, naquele país, do chamado plano Beveridge, o qual, revendo todas as experiências até então praticadas pelos Estados que tinham adotado regimes de previdência, criou um sistema universal – abrangendo todos os indivíduos, com a participação compulsória de toda a população, com a nação de que a seguridade social é ‘o desenvolvimento harmônico dos economicamente débeis’. (CASTRO; LAZZARI, 2011, p. 63).

Como se pode ver, à aposentadoria é uma preocupação de longa data da sociedade na busca de garantias capazes de proteger os trabalhadores com idade avançada, bem como, vítimas de acidentes de trabalho ou outra causa capaz de gerar incapacidade laboral.

Com relação ao Brasil, para entender melhor a evolução histórica do direito previdenciário, abordar-se-á desde as primeiras legislações que trataram do tema até as regras atuais. Nesse sentido, importa registrar que na primeira carta magna eram concedidos as Assembléias Legislativas, legislar sobre “casas de socorros públicos, conventos e quaisquer associações políticas ou religiosas.” (MARTINEZ, 2001, p. 39). Entretanto a primeira vez que se menciona a aposentadoria numa constituição é em 1891, e como ainda não se tinha a contribuição para prover este custeio, este valor era simplesmente dado aos funcionários públicos que tivessem sofrido invalidez no serviço da nação.

Sobre o tema o referido o autor explica:

A Lei Maior de 1891 é avara em relação à Previdência Social, não reproduzindo sequer a norma de proteção ao mutualismo. É, no entanto, a primeira a conter a expressão ‘aposentadoria’, quando determina: ‘A aposentadoria só poderá ser dada aos funcionários públicos em caso de invalidez no serviço da Nação’(art. 75). (MARTINEZ, 2001, p.39).

Como se verifica a pouco mais de um século surge pela primeira vez na lei suprema o direito que trata da Previdência Social, embora ainda muito timidamente, pois somente algumas pessoas tinham acesso. Já na legislação atual onde trata dos direitos sociais, no seu artigo sexto, pode ser acolhido por qualquer cidadão.

Art. 6.° São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção a

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14 maternidade e a infância, a assistência aos desamparados, na forma desta constituição. (BRASIL. Constituição, 1988).

Como vimos no artigo 6.º da Constituição Federal ficou definido o direito ao acesso por todas as pessoas trabalhadoras, já no artigo 201 e 202, trata da sua organização, enunciando e caracterizando suas especificidades e funcionamento para cada situação prática.

Já na parte de legislação ordinária uma das leis precursoras sobre aposentadorias e pensões, foi à lei Eloy Chaves, que deu início ao tratamento legislativo da matéria, sendo seguida após por várias legislações que buscaram regulamentar o assunto, conforme referido por Martinez (2001, p. 42).

Lei orgânica, previa os principais institutos técnicos previdenciários, entre os quais a aposentadoria ordinária, por invalidez, a pensão por morte, a contribuição facultativa (já concebida no fundo mútuo privado MONGERAL, de 1835), estabilidade laboral, quota de previdência, e fazia referência ao Decreto Legislativo n. 3.724, de 15.1.19, este sim, a primeira norma protetiva (inaugurou a legislação acidentária).

A legislação ordinária tenta ilustrar o direito previsto pela lei geral que é definido pela Constituição, desta forma desde as primeiras definições a respeito da Previdência Social, a lei ordinária complementa a principal, e como não poderia ser diferente após o advento da Constituição de 1988, a legislação previdenciária foi regulamentada pela lei 8.213, de 24 de julho de 1991, além do Decreto n. 3.048, de 6 de maio de 1999, que define a organização da Previdência Social.

Art. 5º A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá a:

I - cobertura de eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; II - proteção à maternidade, especialmente à gestante;

III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda; e

V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes. (BRASIL. Decreto nº 3.048, 1999). Com a evolução da legislação previdenciária ao longo dos tempos constatou-se que o Estado tem o compromisso de constatou-se fazer preconstatou-sente na vida do trabalhador, interferindo diretamente na economia, na dignidade e amparando as pessoas que por eventuais motivos não tem condições de prover suas atividades laborativas para

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manter seu sustento. Com base nestes fundamentos de intervenção do Estado na vida do trabalhador, é possível observar que:

O seguro social, imposto por normas jurídicas emanadas do poder estatal, caracteriza uma intervenção do Estado na economia e na relação entre os particulares. E não é outra a função do poder estatal, senão a de assegurar o bem comum da sociedade e que serve [...] Nesse sentido, impõe-se afirmar que concordamos seja necessária a intervenção estatal, uma vez que, conforme a própria doutrina internacional preconiza, o Estado utiliza a regulamentação e a prestação de serviços no campo previdenciário para fazer frente às falhas do mercado, no que tange aos ingressos jubilatórios, ou seja, a fim de garantir um regime que trate isonomicamente a todos os trabalhadores. (CASTRO; LAZZARI, 2009, p. 47).

Como foi visto o Estado tem a missão de interagir com a população, socorrendo aqueles mais necessitados, que muitas vezes não consegue por meios próprios se colocar numa função social digna de um cidadão contribuinte, e neste ensejo precisa ocorrer à intervenção da mão forte do poder do Estado para que ocorra uma justiça social. Da mesma forma, algumas classes específicas de trabalhadores menos favorecidos necessitam um incentivo especial do Estado para alcançar maior equilíbrio nas relações que visam à proteção social. Como exemplo é possível citar os trabalhadores rurais, pois muito ainda tem-se a avançar,

para que se promova a completa integração dos agricultores familiares e pescadores artesanais como sujeitos de direito em atendimento aos preceitos constitucionais e legais. Esse, portanto,é o objetivo fundamental desse trabalho: alertar para o fato de que a implementação prática dos direitos e prerrogativas previstas na Constituição e legislação ordinária para os segurados especiais tem deixado muito a desejar se comparada às grandes contribuições que o lavor desses produz na economia e sociedade como um todo. (BERWANGER, 2009, p. 142).

Diante da perspectiva de uma maior igualdade na distribuição dos direitos previdenciários, cabe ao Estado preocupar-se com a isonomia das mais diversas classes de trabalhadores, e para Martins (2009, p. 77) cabe a Previdência diagnosticar com antecipação os riscos sociais e procurar dispor de meios para compô-los, sendo ela um conjunto de princípios e normas destinado a estabelecer um sistema de proteção social, mediante contribuição, cabendo ao Estado garantir meios indispensáveis de subsistência ao segurado e a sua família como forma de proteção social.

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16 1.2 Diferentes regimes previdenciários

O sistema previdenciário brasileiro está organizado em diferentes regimes, entre os quais merece destaque o Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e o Regime Próprio de Previdência dos Servidores Públicos.

Nessa perspectiva, pode-se constatar que nem todos os trabalhadores brasileiros estão submetidos às mesmas regras previdenciárias, pois conforme o ramo da atividade, pública ou privada, é que será definida em qual regime se dará a filiação do trabalhador.

Entender a estrutura dos regimes previdenciários no sistema brasileiro e a respectiva filiação dos trabalhadores é fundamental e para tanto se faz necessária uma análise geral sobre cada regime específico, iniciando pelo RGPS, considerado o principal regime e também aquele que engloba o maior número de trabalhadores. Sobre o RGPS, destaca-se:

Principal regime previdenciário na ordem interna, o RGPS abrange obrigatoriamente todos os trabalhadores da iniciativa privada, ou seja: os trabalhadores que possuem relação de emprego regida pela Consolidação das Leis do Trabalho [...] os trabalhadores autônomos, eventuais ou não; os empresários, titulares de firmas individuais ou sócios gestores e prestadores de serviços; trabalhadores avulsos; pequenos produtores rurais e pescadores artesanais trabalhando em regime de economia familiar; e outras categorias de trabalhadores, como garimpeiros, empregados de organismos internacionais, sacerdotes, etc. Segundo estudos, atinge cerca de 86% da população brasileira amparada por algum regime de previdência. (CASTRO; LAZZARI, 2011, p. 125).

Como pode ser observado este regime abrange a grande maioria da população brasileira, sendo administrado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Sua base legal vem expressa na Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991, cujo artigo 9º dispõe:

A Previdência Social compreende:

I – O Regime Geral de Previdência Social;

II – O Regime Facultativo Complementar de Previdência Social.

§ 1.º O Regime Geral de Previdência Social – RGPS garante a cobertura de todas as situações expressas no art. 1.º desta Lei, exceto as de desemprego involuntário, objeto de lei específica, e de aposentadoria por tempo de contribuição para o trabalhador de que trata o § 2.º do art. 21 da Lei n. 8.212, de 24 de julho de 1991.

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17 § 2.º O Regime Facultativo Complementar de Previdência Social será objeto de lei específica.

Diferente deste regime e bem mais restrito, já que abrange apenas aos agentes públicos ocupantes de cargos efetivos e vitalícios, está o Regime Próprio de Previdência Social dos Servidores Públicos, que por muito tempo foi inclusive tratado pelo Direito Administrativo, uma vez que, o benefício alcançado aos servidores era tido como uma recompensa aos serviços prestados a bem da nação.

Com efeito, durante décadas a aposentadoria do servidor público era vista como um “prêmio” concedido a este pelos serviços prestados à sociedade, mera continuação de seu vínculo com a Administração Pública que o admitira. Em razão desse raciocínio, até os dias atuais existem distorções conceituais graves em matéria de aposentadoria no serviço público. (CASTRO; LAZZARI, 2011, p. 126).

Cabe, porém, analisar as restrições imposta ao servidor público participante de regime próprio de previdência quanto à possibilidade de obter também filiação ao RGPS, na qualidade de segurado facultativo.

Na sua redação original, o art. 201, § 1º, possibilitava que qualquer pessoa participasse do RGPS, mediante contribuição na forma dos planos de benefícios previdenciários. Era comum servidores públicos ingressarem no RGPS na qualidade de segurados facultativos, obtendo aposentadoria nos dois regimes previdenciários. Com a alteração introduzida pela EC n. 20/98, o § 5º do art. 201 expressamente veda a filiação ao RGPS, como segurado facultativo, de pessoa participante de regime próprio de previdência. (SANTOS, 2009, p. 74).

Com a vedação de tal possibilidade criou-se outras formas para complementar a aposentadoria dos Regimes Próprios de Previdência Social, para aqueles servidores que optarem em contribuir mais com relação à previdência melhorando assim a renda dos benefícios, foi editado recentemente a Lei nº 12.618 de 30 de abril de 2012, que trata da instituição de regime de previdência complementar para os servidores públicos federais titulares de cargo efetivo.

As regras observadas no regime próprio dos servidores, as quais por alguns são tidas como “regalias do servidor público”, enquanto para outros são meras “garantias legais”, apresentam distinção com relação às regras do RGPS, ao qual estão submetidos todos os trabalhadores da iniciativa privada. A análise da Lei 8.112/90, que trata dos servidores públicos federais, permite constatar algumas

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pequenas alterações no trato dos trabalhadores, podendo ter alguma vantagem sobre os demais, embora necessário deixar bem claro que, as recentes reformas constitucionais, principalmente a EC n. 20, de 1998 e a EC n. 41, de 2003 alteraram muito o regime dos servidores públicos, o qual cada vez mais se aproxima do RGPS.

Com efeito, atualmente muito pouco se difere o regime próprio dos servidores públicos com os demais, importante ressaltar também que este regime segue o enfoque da filiação obrigatória, assim definido pelo CASTRO; LAZZARI (2011, p. 128).

Se o servidor público ocupante de cargo efetivo exerce atividade paralelamente na iniciativa privada, sujeita-se à filiação em dois Regimes de Previdência Social, pois há filiação obrigatória em relação a cada uma das atividades desempenhadas, por força dos regimes jurídicos vigentes. A mesma condição de duplamente filiado acontecerá se um indivíduo acumular, licitamente, dois cargos públicos de provimento efetivo, no quadro funcional de Entes da Federação distintos.

O Regime Próprio de Previdência Social abrange os agentes públicos ocupantes de cargos efetivos da União, dos estados, do Distrito Federal, e dos municípios além das autarquias e fundações públicas. Estes regidos pela Lei nº 8.112, como já mencionado anteriormente, e segurados perante a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 40 conforme previsão legal.

Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores e inativos e dos pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo.

Cabe breve registro sobre a existência do Regime dos Militares das Forças Armadas, cuja previsão é constitucional.

O sistema brasileiro comporta, ainda, o regime de previdência complementar, que é facultativo quanto à adesão podendo ser de caráter público ou privado e é autônomo em relação ao geral.

O público alvo para esta modalidade de previdência são aqueles trabalhadores que possuem uma renda superior ao limite do teto pago pelo regime

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compulsório ao qual estão inseridos, permitindo-se a estes trabalhadores um complemento adicional no quesito previdenciário, recentemente recebeu alguns ajustes quanto a sua forma de implantação com o advento da Emenda Constitucional n. 20.

Com a Emenda, a matéria passou a ser disciplinada nos arts. 40 e 202, determinando, ao contrário do texto anterior, a autonomia do regime previdenciário complementar em face dos regimes públicos de previdência, o que, de fato, já ocorria com os segurados do Regime Geral de Previdência Social, que participam compulsoriamente desse regime, em sistema contributivo de repartição e, facultativamente, de planos de previdência complementar, mediante sistema de capitalização. Com a Emenda n. 20, o art. 40, nos §§ 14 a 16, passou a prever a possibilidade de fundos de previdência complementar também para os agentes públicos ocupantes de cargos efetivos e vitalícios. (CASTRO; LAZZARI, 2011, p. 129).

Na mesma linha surge também na seqüência a Lei Complementar n. 109/2001, que se encarrega de definir quanto à matéria, sua funcionalidade e aplicabilidade no direito ao trabalhador tendo este como consumidor de uma prestação de um serviço.

Supletivamente aos regimes públicos está autorizado o funcionamento da previdência privada, em caráter complementar e autônomo em relação ao regime geral (art. 202 da CF/88), o que constitui, na linguagem moderna, o chamado terceiro pilar de previdência, a qual é disciplinada pela LC nº 109, de 29 de maio de 2001. (ROCHA; BALTAZAR JUNIOR, 2006, p. 51).

Cabe lembrar que neste plano de previdência complementar a figura do segurado altera de nome passando a ser chamado de participante ou assistido. Seguindo tendências mundiais, com relação à previdência e seguros sociais o Brasil vem caminhando no sentido indicado pela conferência interamericana formando um sistema de pilares. Neste sentido.

Segundo o Relatório sobre a Seguridade Social de 2009 da Conferência Interamericana de Seguridade Social, a literatura sobre o tema sugere a formação de três pilares: o primeiro seria uma rede de seguridade ou pensão mínima para todos os cidadãos, financiada por impostos gerais; o segundo; um sistema de benefícios contributivo, voltado à atividade laborativa, financiado por contribuições sobre salários; e o terceiro, baseado na economia voluntária individual. O modelo brasileiro atual vai de encontro a esta tendência, se observarmos que ao chamado ‘primeiro pilar’ podemos associar as políticas de assistência social e saúde, ao ‘segundo pilar’ os Regimes de Previdência Social – atualmente todos contributivos e em modelo de repartição simples -, e ao ‘terceiro pilar’, a Previdência Complementar Privada, em forma de capitalização. No Chile, paradigma de muitos estudiosos, o segundo pilar foi entregue a administradoras de fundos de pensão, como visto. (CASTRO; LAZZARI, 2011, p. 63).

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Como o sistema previdenciário no Brasil é bastante complexo, devido a sua vasta legislação com regras específicas para cada situação, temos também interpretações diferenciadas sobre a estrutura dos regimes como podemos verificar na colocação seguinte:

O sistema previdenciário brasileiro é formado por três regimes, distribuído da seguinte forma: o Regime Geral de Previdência Social; os Regimes Próprios de Previdência Social dos Servidores públicos; e o Regime de Previdência Complementar. O regime geral é gerido pelo INSS, e engloba todos os trabalhadores exceto os servidores públicos, que tem regime próprio de previdência social, sendo estes dois de caráter contributivo e de filiação obrigatória. (NASCIMENTO apud FRONZA, 2007, p. 398)

Enfim pode-se concluir que o sistema de previdência brasileiro é formado por diversos regimes previdenciários. Certamente o mais importante deles é o Regime Geral de Previdência Social (RGPS), abrangendo obrigatoriamente todos os trabalhadores da iniciativa privada, sejam eles urbanos ou rurais. Sendo estes regidos pelas Leis nº 8.213 e 8.212/91, ambas de 24 de julho de 1991 e pelo Decreto nº 3.048/99.

Na seqüência será estudado quem usufrui deste sistema, os indivíduos que, como segurado ou como dependente, tem direito à prestação de benefícios e serviços.

1.3 Beneficiários do RGPS: segurados e dependentes

Beneficiárias são aquelas pessoas que se encontram vinculadas e protegidas com relação à Previdência Social. Nesse sentido, os beneficiários do RGPS são divididos em segurados e dependentes, ou seja, beneficiários são os usufrutuários das prestações previdenciárias. Nesse sentido,

Os titulares do direito subjetivo de gozar das prestações contempladas pelo regime geral são designados pela lei como beneficiários. A expressão abrange os segurados e seus dependentes. Segurados são as pessoas físicas que, em razão do exercício de atividade ou mediante o recolhimento de contribuições, vinculam-se diretamente ao Regime Geral. Dependentes são as pessoas cujo liame jurídico existente entre elas e o segurado permite que a proteção previdenciária lhes seja estendida de forma reflexa. Por tratar-se de uma vinculação mediata, o direito dos dependentes está

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21 condicionado de forma indissociável ao direito dos titulares. (ROCHA; BALTAZAR JUNIOR, 2006, p. 52).

Ainda com relação a este enfoque não podemos confundir a figura do segurado com o contribuinte, sendo que o segurado será sempre pessoa física, e contribuinte é toda pessoa que paga contribuições podendo ser ela física ou jurídica como esclarece a seguir.

Segurados são as pessoas físicas que exercem, exerceram ou não atividade, remunerada ou não, efetiva ou eventual, com ou sem vínculo empregatício. O segurado só pode ser pessoa física, que é justamente o trabalhador. Se for pessoa jurídica, é contribuinte. Tanto são segurados os ativos, como os inativos. O facultativo também é segurado, embora não tenha remuneração (exemplo: dona-de-casa). Pouco importa se a pessoa tem ou não vínculo de emprego para ser segurado. (MARTINS, 2009, p. 20).

Como vimos na citação acima, a figura do segurado pelo Regime Geral da Previdência Social é dividido em dois grupos; o segurado obrigatório e o facultativo.

Para o segurado obrigatório, o vínculo jurídico se dá com o exercício de atividade remunerada, independentemente de inscrição. Permitindo com isso que qualquer segurado obrigatório possa efetuar o recolhimento em atraso, desde que comprove o devido exercício remunerado.

Como segurados obrigatórios são enquadradas todas as pessoas físicas que exercem atividade remunerada vinculada a iniciativa privada, bem como os servidores públicos que não estejam sujeitos e regime próprio de previdência. Todo segurado obrigatório deve realizar contribuição mensal para a Previdência Social. Com base no artigo 11 da Lei nº 8.213/91 os segurados obrigatórios do RGPS estão divididos em cinco categorias, como a seguir exposto.

Na primeira categoria referida na legislação está o empregado, assim considerado aquele que presta serviço de natureza urbana ou rural à empresa, em caráter não eventual, sob sua subordinação e mediante remuneração, inclusive como diretor empregado, também aquele que, contratado por empresa de trabalho temporário, definida em legislação específica, presta serviço para atender a necessidade transitória de substituição de pessoal regular e permanente ou a acréscimo extraordinário de serviço de outras empresas, ainda o brasileiro ou

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estrangeiro domiciliado e contratado no Brasil para trabalhar como empregado em sucursal ou agência de empresa nacional no exterior, dentre outros.

Na sequência a legislação trata da categoria dos empregados domésticos, que abrange aqueles que prestam serviço de natureza contínua a pessoa ou família, no âmbito residencial desta, em atividades sem fins lucrativos.

Uma terceira categoria engloba o contribuinte individual, representado por toda pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade agropecuária ou pesqueira, extração de mineral – garimpo, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou por intermédio de prepostos e com auxilio de empregados, utilizados a qualquer título, ainda que de forma não contínua, além de ministro de confissão religiosa e o membro de instituto de vida consagrada, de congregação ou de ordem religiosa, titular de firma individual urbana ou rural, o diretor não empregado e o membro de conselho de administração de sociedade anônima, o sócio solidário, ainda quem presta serviço em caráter eventual, a uma ou mais empresas sem relação de emprego, entre outros.

O trabalhador avulso figura na quarta categoria, a qual engloba quem presta, a diversas empresas, sem vínculo empregatício, serviço de natureza urbana ou rural definidos no Regulamento.

A quinta categoria engloba o segurado especial, assim considerado o produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rural, o pescador artesanal e o assemelhado, que exerçam essas atividades individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros, bem como seus respectivos cônjuges ou companheiros e filhos maiores de 16 anos ou a eles equiparados, desde que trabalhem, comprovadamente, com o grupo familiar respectivo.

Paralelamente a figura do segurado obrigatório, a legislação que trata do RGPS abre a possibilidade de filiação na condição de segurado facultativo. Nesse sentido, a figura do segurado facultativo engloba aquelas pessoas que, muito embora não exerçam atividade remunerada, não se enquadrando em nenhuma das categorias de segurado obrigatório, optem por realizar contribuição previdenciária

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mensal. Inexistindo obrigatoriedade de filiação, essas pessoas escolhem, voluntariamente, pela inclusão no sistema protetivo, o que só se efetiva após a inscrição e o recolhimento da primeira contribuição, iniciando assim o vinculo jurídico com a filiação ao regime previdenciário administrado pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).

Para a inscrição, tanto o segurado obrigatório como o facultativo devem comprovar a idade mínima de 16 anos, salvo o empregado aprendiz, para o qual se admite a inscrição a partir dos 14 anos de idade.

Além da figura do segurado, seja ele obrigatório ou facultativo, também podem ser beneficiários do RGPS os dependentes. São dependentes para fins previdenciários as pessoas definidas como tal na legislação previdenciária. O art. 16 da Lei 8.213/91 relaciona os dependentes enquadrando-os em três classes distintas, nesse sentido a melhor doutrina refere:

Os dependentes na Previdência Social podem ser divididos em três classes: a) Classe 1: o(a) cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido;

b) Classe 2: os pais;

c) Classe 3: o irmão, não emancipado de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido.

Concorrerão os dependentes de uma mesma classe em igualdade de condições para efeitos de dependência.

A dependência econômica das pessoas elencadas na Classe 1 é presumida e a das demais deverá ser comprovada. (MARTINS, 2009, p. 83).

Sobre a classificação acima transcrita, cabe referir que o artigo 16 da Lei nº 8.213/91 sofreu recente alteração, determinada pela Lei nº 12.470 de 31 de agosto de 2011. Referida alteração especifica que são dependentes na condição de filhos ou irmãos, os menores de 21 anos de idade, ou inválidos “ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o torne absolutamente ou relativamente incapaz, assim declarado judicialmente;”.

Após identificar as mais diversas categorias que compõe o sistema previdenciário como segurados obrigatórios e facultativos, bem como, seus dependentes, cabe uma análise mais específica sobre o segurado especial que,

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24

muito embora já identificado no item acima, guarda grande importância junto ao RGPS e também é foco da presente pesquisa.

1.3.1 O produtor rural enquadrado como segurado especial

O trabalhador rural sempre teve uma importância muito grande na economia, sendo o setor primário uma das principais fontes de riqueza deste país. Uma breve análise da evolução da legislação previdenciária em relação aos trabalhadores rurais permite constatar que somente na legislação mais recente, cujo marco é a Constituição Federal de 1988 (CF/88), o legislador se preocupou em equiparar os direitos dos trabalhadores rurais com os urbanos. Em época mais remota, a Lei nº 4.214 de 02 de março de 1963, criou o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural – FUNRURAL, e na seqüência a Lei Complementar nº 11/1971 também tratou da matéria, contudo, somente a partir da CF/88 o trabalhador rural foi incluído no RGPS e passou a usufruir do mesmo regime previdenciário reservado aos trabalhadores urbanos.

Compreende-se, pois, que, se é pelo menos deve ser o trabalho que vincula o trabalhador ao sistema previdenciário, agiu bem o constituinte na seqüência ao determinar uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços entre rurais e urbanos. Ademais, no mesmo sentido, o legislador ordinário, ao concluir o segurado especial como segurado obrigatório. Nesse sentido, a Constituição Cidadã determinou a unificação dos sistemas, inserindo-a entre os objetivos da seguridade social: (BERWANGER, 2009, p. 144).

Com base na idéia de Berwanger (2009), todo trabalhador por natureza pelo exercício de sua atividade profissional já é segurado nato, basta o legislador criar mecanismos e definir formas de contribuição para que possa usufruir dos benefícios da previdência social.

Quanto ao princípio da uniformidade e equivalência importa esclarecer que tal disposição não impõe a necessidade de concessão de prestações absolutamente idêntica entre segurados urbanos e rurais, senão vejamos:

A isonomia é um princípio que comporta método de correção de desigualdades, e não quis o legislador constituinte, com isto, dizer que os trabalhadores rurais e urbanos deveriam ser tratados de forma absolutamente igual, quando diferentes são os meios em que vivem, os

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25 salários, as condições de educação e justiça social, bem como de fiscalização das normas trabalhistas e previdenciárias. (CUNHA apud ROCHA; BALTAZAR JUNIOR, 2006, p. 38).

Importante ressaltar que até o advento da Constituição Federal de 1988, estava vigente a LC 11/71, onde o direito ao seguro previdenciário com relação ao trabalhador rural era garantido somente ao chefe da família, e a partir da ultima Carta Magna este direito é estendido também aos demais trabalhadores rurais e não somente ao chefe da família como previa até então.

Assim, surge no seio de um período de modificações profundas no nosso ordenamento jurídico já com muito atraso, frise-se uma possibilidade de todos os que trabalham na agricultura terem acesso aos benefícios e não mais somente o chefe de família, como era na vigência da Lei Complementar 11/71. (BERWANGER, 2009, p. 144).

Além da inclusão dos demais membros da família como segurado da previdência, observa-se uma importante alteração no que trata da uniformidade e equivalência quanto aos benefícios e serviços relacionados entre trabalhadores urbanos e rurais, segundo consta na doutrina que segue.

Pela uniformidade, trabalhadores urbanos e rurais têm direito ao mesmo plano de proteção social. Recentemente, esse princípio foi atendido com a extensão, às trabalhadoras rurais, do benefício de salário-maternidade, tradicionalmente pago às trabalhadoras urbanas.

A equivalência determina que o valor das prestações deve ser

proporcionalmente igual, isto é, os benefícios devem ser os mesmos, porém

o valor da renda mensal é equivalente, mas não igual, porque urbanos e rurais têm formas diferenciadas de contribuição para o custeio da seguridade. (SANTOS, 2009, p. 6).

Foi também estabelecida uma diferenciação na categoria dos trabalhadores rurais, nesse sentido, o regramento constitucional diferencia o pequeno produtor rural que é conceituado como segurado especial, e o trabalhador rural que não se enquadra nas condições definidas no artigo 11 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Nesse sentido, observa-se que o constituinte atendeu ao clamor popular ao prever garantias previdenciárias específicas para o segurado especial, que mantém a pequena propriedade por meio do seu próprio trabalho e de sua família, passando muitas vezes por inúmeras privações pelo simples fato de optar pela vida no campo.

Logo, de acordo com o exposto, e se houve a anuência dos líderes de partidos que subscreveram a emenda que propunha aquela forma de inserção dos hoje chamados segurados especiais, foi, por um lado, pela

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26 pressão popular sobre essa e outras tantas matérias, que procurava garantir na Constituição um pacote mínimo de direitos sociais. De outro lado, visou-se a também corrigir um equívoco histórico que implicava a exclusão daqueles que sempre garantiram a segurança alimentar do país. (BERWANGER, 2009, p. 145).

Como pode ser observada a inclusão dos trabalhadores rurais no sistema previdenciário brasileiro é bem recente e demonstra um importante passo rumo ao reconhecimento da dignidade e da importância do trabalho prestado por tal categoria de trabalhadores. Sobre essa conquista Berwanger (2009, p. 141), refere:

A Previdência Social, considerando-se o reconhecido marco histórico da Lei Eloy Chaves, existe no Brasil há 86 anos. No meio rural, os primeiros benefícios a trabalhadores rurais foram instituídos a partir da Lei Complementar 11, de 25.05.1971. Porém no sistema previdenciário em sentido estrito, essa categoria foi incluída com a Lei 8.213/91, ou seja: há apenas 18 anos.

Para definir quais os trabalhadores rurais se enquadram como segurado especial, será analisado o que dispõe o texto legal conforme o artigo 11 inciso VII da Lei nº 8.213/91.

VII – como segurado especial: a pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros, na condição de:

a) produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, parceiro ou meeiro outorgados, comodatário ou arrendatário rurais, que explore atividade:

1. agropecuária em área de até 4 (quatro) módulos fiscais;

2. de seringueiro ou extrativista vegetal que exerça suas atividades nos termos do inciso XII do caput do art. 2º da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, e faça dessas atividades o principal meio de vida;

b) pescador artesanal ou a este assemelhado que faça da pesca profissão habitual ou principal meio de vida; e

c) cônjuge ou companheiro, bem como filho maior de 16 (dezesseis) anos de idade ou a este equiparado, do segurado de que tratam as alíneas a e b deste inciso, que, comprovadamente, trabalhem com o grupo familiar respectivo.

A caracterização do segurado especial exige a comprovação de que a atividade rural tenha sido prestada individualmente ou em regime de economia familiar. Segundo o art. 11, VII, parágrafo 1 da Lei 8.213/91, regime de economia familiar é definido como:

Entende-se como regime de economia familiar a atividade em que o trabalho dos membros da família é dispensável à própria subsistência e ao

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27 desenvolvimento socioeconômico do núcleo familiar e é exercido em condições de mútua dependência e colaboração, sem a utilização de empregados permanentes.

Desta forma, ainda sobre o regime de economia familiar é de se destacar,

Caracterizado o regime de economia familiar, todos os membros do grupo são segurados especiais, fazendo jus aos benefícios previdenciários previstos no art. 39 da Lei n. 8.213/91, com renda mensal no valor de um salário mínimo: aposentadoria por idade, aposentadoria por invalidez, auxílio-doença, auxílio-reclusão e pensão por morte.

Segurado especial também tem garantida a concessão de salário-maternidade, com renda mensal de um salário mínimo, conforme parágrafo único do art. 39.

Note-se que, na condição de segurados especiais, não fazem jus à aposentadoria por tempo de contribuição.

Essa cobertura previdenciária decorre da forma como o segurado especial contribui para o sistema, uma vez que contribui mediante a aplicação de uma alíquota sobre o resultado da produção. (SANTOS, 2009, p.96).

A evolução histórica da legislação que regula o trabalho rural e, especialmente, o segurado especial, demonstra tratar-se de uma categoria bastante castigada, que foi tardiamente incluída nas políticas de proteção social do Estado.

Por outro lado, quando do surgimento da Previdência se tinha quase metade da população no meio rural. Em 1996, já era reduzida a 22%. Verifica-se, portanto, que a inclusão dessa imensa massa de trabalhadores foi extremamente tardia. Ainda assim, observa-se, atualmente, que persistem e resistem preconceitos contra eles, de tal forma que a inserção no Plano de Benefícios é tida como uma benesse do sistema e não, como um reconhecimento da condição de segurado-trabalhador e à contribuição para o país. (BERWANGER, 2009, p. 141).

Sobre a sistemática contributiva, cumpre referir que tanto o empregador rural, como o segurado especial são contribuintes obrigatórios da Previdência Social, realizando contribuição sobre a comercialização da produção rural, cabendo ao adquirente da produção fazer a retenção da contribuição devida conforme se destaca,

O empregador rural pessoa física, o segurado especial e o pescador estão obrigados a contribuir em percentual calculado sobre a receita bruta proveniente de comercialização de sua produção, na forma do art. 25 da Lei nº 8.212/91 e do § 8º do art. 195 da CF. (ROCHA, 2006, p. 180).

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O segurado especial realiza contribuição previdenciária sobre a comercialização da produção rural, assim, sobre toda a comercialização de produção rural, formalmente registrada, incide contribuição previdenciária. Dessa forma, não se pode afirmar que o segurado especial não realiza contribuição previdenciária, realiza sim, contudo, sobre uma base contributiva diferenciada, qual seja a comercialização da produção.

Por fim, pode-se observar que apesar da tardia a inclusão dos trabalhadores rurais no sistema previdenciário brasileiro, o legislador buscou reparar uma dívida histórica. A aproximação das garantias previdenciárias conferidas aos trabalhadores rurais e urbanos visa inibir o aumento do êxodo rural e minimizar as desigualdades sociais que afligem o meio rural, combatendo a pobreza, distribuindo renda por meio de programas de incentivo ao desenvolvimento da agricultura familiar, estimulando assim a manutenção dos agricultores no meio rural, aumentando a produção e melhorando as condições de vida no campo.

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29 2 UTILIZAÇÃO DO TEMPO RURAL PARA FINS DE APOSENTADORIA EM

REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL

Este capítulo tratará do tempo de contribuição, aborda as diversas categorias de segurado e discorre sobre a diferença de tempo de serviço e tempo de contribuição para fins de fruição de benefícios previdenciários.

Será abordado também à compensação e troca de regime previdenciário, que ocorre quando um segurado, após contribuir por determinado tempo para um regime de origem, passa a pertencer a outro regime, geralmente um regime próprio. Nesse aspecto abordar-se-ão os critérios exigidos para a efetivação da contagem recíproca de tempo de contribuição fruído em regimes previdenciários diversos, especialmente a possibilidade de consideração do tempo de exercício de atividade rural para fins de concessão de benefício no regime de previdência dos servidores públicos. A pesquisa concentra-se, ainda, na análise da sistemática exigida para que ocorra a devida compensação financeira entre os diferentes regimes previdenciários.

2.1 O tempo de contribuição para fins previdenciários

Diversas são as formas em que o contribuinte poderá realizar suas contribuições, dependendo da categoria de segurado e do regime previdenciário em que se encontra.

No sistema previdenciário atual, o tempo de contribuição considera o tempo em que o segurado esteve efetivamente contribuindo ou com contrato de trabalho em vigência e devidamente registrado na carteira de trabalho, caso em que ocorre a presunção de recolhimento das contribuições, já que a responsabilidade do recolhimento é do empregador.

Com a Emenda Constitucional n. 20 passou a valer o tempo de contribuição efetivo para a Previdência Social para o cálculo dos benefícios e não mais o tempo de serviço. Entretanto, o tempo de serviço considerado pela legislação vigente para efeito de aposentadoria, cumprido até que a lei discipline a matéria, será contado como tempo de contribuição, exceto o tempo de serviço ou contribuição em dobro ou qualquer outra contagem de

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30 tempo fictício. Vale dizer, só haverá a efetiva mudança de conceito se o regime for alterado para o de capitalização de contribuições. (CASTRO; LAZZARI, 2011, p. 719).

Até o momento não foi editada lei regulamentando a matéria relativa ao tempo de contribuição, dessa forma, cada ano de serviço está sendo considerado como ano de contribuição. Na falta de regulamentação específica, o art. 60 do Decreto n. 3.048/99 que Regulamenta a Previdência Social, se encarrega de definir as formas de contagem de tempo de contribuição.

Importa esclarecer, ainda, aspectos que tratam de período em que não houve contribuição por parte do segurado. Caso o segurado manifeste interesse em realizar o recolhimento das contribuições relativas ao período anterior à sua inscrição deve ser observado o parágrafo primeiro, do art. 348 do Decreto 3.048/99. O procedimento será autorizado nas situações definidas no Decreto n. 3.048/99. No caso, por exemplo, de contribuinte individual, a autorização do recolhimento das contribuições em atraso depende da comprovação do exercício de atividade remunerada no respectivo período, conforme explicitado no art. 216 do Decreto n. 3.048/99. Para algumas classes de segurado, contudo, não é permitido o recolhimento retroativo, como é o caso do segurado facultativo. Sobre esse ponto Tavares (2012, p. 199) refere,

Não cabe o recolhimento retroativo de tempo de contribuição do segurado facultativo, tendo em vista que sua filiação decorre de ato de vontade, manifestado pela inscrição e pelo pagamento da primeira contribuição sem atraso. Se o segurado facultativo não se inscreveu no passado, não houve filiação fática e, portanto, nada há a ser reconhecido.

Igualmente, em determinadas situações a legislação impõe vedações a contagem de tempo de contribuição, conforme a seguir explicitado,

O tempo de contribuição ou de serviço deverá ser contado conforme a legislação pertinente a cada um dos regimes previdenciários, observando-se, no entanto, algumas exigências e proibições constantes do art. 96 da Lei n. 8.213/91, quais sejam:

a) não será admitida a contagem em dobro ou em outras condições especiais;

b) é vedada a contagem de tempo de serviço público com o de atividade privada, quando concomitantes;

c) não será contado por um sistema o tempo de serviço já utilizado para concessão de aposentadoria pelo outro;

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31 d) o tempo de serviço anterior ou posterior à obrigatoriedade de filiação à Previdência Social só será contado mediante indenização correspondente ao período respectivo, com acréscimo de juros moratórios de zero vírgula cinco por cento ao mês, capitalizados anualmente, e multa de dez por cento. (VIANNA, 2005, p. 690).

Importante ressaltar que o tempo a ser reconhecido deverá ser devidamente comprovado, esta comprovação será feita mediante documentos que comprovem o trabalho realizado nas condições e períodos requeridos, através de documentos contemporâneos aos fatos, diante da falta destes documentos será aceito atestado emitido pelo empregador conforme a doutrina de Castro; Lazzari (2011, p.726).

Na falta de documento contemporâneo podem ser aceitos declaração do empregador ou seu preposto, atestado de empresa ainda existente, certificado ou certidão de entidade oficial dos quais constem os dados necessários, desde que extraídos de registros efetivamente existentes e acessíveis à fiscalização do INSS.

Caso a empresa não esteja mais em atividade, deverá o interessado juntar prova oficial de sua existência no período que pretende comprovar.

Além do parágrafo 3º do artigo 55 da Lei 8.213/91, temos também a Súmula 149 do STJ que determina que: “A prova exclusivamente testemunhal não basta à

comprovação da atividade rurícola, para efeito da obtenção de benefício previdenciário”, é possível, entretanto se observar que ainda não se admite, prova

exclusivamente testemunhal para comprovação de tempo de contribuição, exceto na ocorrência de motivo de força maior ou caso fortuito. Destarte é fator determinante conseguir uma prova material para a comprovação do efetivo exercício da atividade rural.

Para comprovar existem diversos documentos que podem servir como prova material para definir o inicio da atividade laboral como: contrato individual de trabalho; contrato de arrendamento; declaração fundamentada de sindicato que represente o trabalhador rural; comprovante do INCRA; bloco de notas como produtor rural; notas fiscais de entrada de mercadorias emitidas pela empresa adquirente da produção; entre estes documentos existem inúmeros outros que podem corroborar no início da prova material como todo e qualquer documento público em que figure o rurícula como profissão “agricultor”. Cabe referir que os documentos precisam ser da época em que se queira fazer a prova material conforme explica a Súmula 34 da TNU: "Para fins de comprovação do tempo de

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32 labor rural, o início de prova material deve ser contemporâneo à época dos fatos a provar".

É perfeitamente entendível, a rigorosidade das exigências diante da comprovação de inicio da prova material do efetivo exercício para a contagem de tempo de serviço para a aposentadoria, esta não pode ser avaliada como um excesso de rigorismo, mas sim, o beneficiamento daqueles que realmente se dedicaram parte de sua vida trabalhada na atividade rural.

Como normalmente as pessoas começam muito cedo a trabalhar na atividade rural, e muitas vezes ainda não tem documentos que comprovem este serviço podem fazer a prova por meio de seu representante familiar normalmente seu pai, e a jurisprudência, é pacífica neste sentido permitindo o reconhecimento do período rural mesmo se este for comprovado pela profissão de seu genitor, entende a jurisprudência que como é regime de economia familiar pode ser comprovado por meio de documentos que estão em nome do pai ou da mãe.

Cumpre destacar também que, quando a contagem recíproca de tempo de contribuição determinar o excesso de tempo, ou seja, a soma representar tempo superior aquele necessário a aposentadoria em decorrência da contagem recíproca, o tempo em excesso será simplesmente desconsiderado, de forma que não poderá ser utilizado para agregar valor ao benefício, bem como não se admite a devolução dos valores recolhidos pelo segurado, ainda que o tempo não seja considerado para fins de concessão do benefício.

Assim, é possível que, quando efetuada e considerada a contagem recíproca do tempo de serviço, ultrapasse sua soma o total de 30 anos para as seguradas do sexo feminino e o total de 35 anos para aqueles do sexo masculino, tempo suficiente à obtenção do benefício de Aposentadoria Integral pelo Regime Geral de Previdência Social.

Na ocorrência do fato, tal excesso não será considerado para qualquer efeito, não sendo devida, inclusive, qualquer devolução ao segurado de contribuições efetuadas ao sistema. (VIANNA, 2005, p. 692).

Outro ponto que chama atenção é que em se tratando de conversão de tempo especial em comum, o que por si só determina acréscimo de tempo ao período

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33

considerado, a posterior contagem recíproca, para utilização em regime previdenciário diverso, não será admitida, senão vejamos,

A legislação ordinária proíbe realmente, e expressamente, a referida conversão.

Tanto é assim que a jurisprudência pátria, em sua maioria, concorda com a posição adotada pelo INSS, não admitindo a conversão do tempo especial em comum, com o devido acréscimo, para posterior contagem recíproca. (VIANNA, 2005, p. 695).

A jurisprudência anda neste mesmo sentido, como bem apresenta Tavares (2012, p. 199-205). Nota-se que ocorre uma vedação entre os sistemas públicos de previdência social da contagem recíproca na condição de contagem especial para tempo de contribuição comum, devido à existência de diversos regimes de previdência, cada qual organizado por legislação própria, o que determina que não haja correspondência legislativa com relação ao que se julgue atividade de risco, perigosa ou insalubre nos diversos regimes, de forma que é muito comum existir contradições entre um regime e outro.

Em síntese, pode-se concluir que existem diversas formas de contribuição para aposentadoria, o sistema previdenciário nesta área é bastante complexo, primeiramente é necessário verificar em que classe de contribuinte o segurado se encontra, para definir o valor a ser recolhido.

Com relação às diferentes espécies de aposentadoria concedidas pelo RGPS, após ter realizado um número mínimo de contribuições o segurado poderá encaminhar seu benefício. O tempo de contribuição exigido para cada espécie de aposentadoria pode ser verificado na tabela do anexo A do presente trabalho.

2.2 Compensações e troca de regime previdenciário

A Compensação financeira entre os diferentes regimes de previdência social sempre se faz necessário quando ocorre uma troca de regime, e este ajuste de contas ocorre entre o Regime Geral de Previdência Social e os Regimes Próprios de Previdência Social dos servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nas possibilidades de contagem recíproca do tempo de contribuição.

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34

Diante da necessidade de regulamentar a compensação entre regimes foi criada dia 5 de maio de 1999 a Lei 9.796/99, a Lei que trata desta compensação financeira é a chamada de “Lei Hauly” que recebeu este nome em homenagem ao seu criador Luiz Carlos Hauly, Deputado Federal pelo Estado do Paraná.

A Lei Hauly define como regime de origem aquele no qual o segurado ou servidor público esteve vinculado sem que dele receba aposentadoria ou tenha gerado pensão para seus dependentes (Lei 9.796/99, art.2º, I). O

regime instituidor é definido como aquele responsável pela concessão e

pagamento do benefício de aposentadoria e pensão dela decorrente a segurado ou servidor público ou a seus dependentes com cômputo de tempo de contribuição no âmbito do regime de origem (Lei 9.796/99, art. 2º, I). (CAMPOS, 2011, p. 277).

Conforme apresentado acima, a Lei nº 9.796/99 traz a definição de regime de origem e regime instituidor, e tanto o Regime Geral da Previdência Social como o Regime Próprio da Previdência Social pode ser considerado de origem ou instituidor, depende da mudança de carreira do segurado, uma vez que este pode ter trabalhado sob diferentes regimes.

É comum o segurado ter em sua história laboral períodos trabalhados na iniciativa privada (urbana e rural) e no serviço público. Nessa hipótese, pode haver contribuições recolhidas para regimes previdenciários diferentes, sem que, em nenhum deles, tenha o segurado cumprido todos os requisitos para se aposentar.

A CF garante a quem estiver nessa situação a contagem do tempo de contribuição para ambos os regimes para que, ao final, possa obter sua aposentadoria por tempo de contribuição ou por idade. (SANTOS, 2009, p. 75).

Conforme apresentado acima a Constituição Federal garante a contagem de tempo de contribuição para ambos os regimes, entretanto a própria legislação também prevê a compensação financeira estabelecendo a necessidade de programar o encontro de contas através da compensação previdenciária, referente ao tempo de contribuição utilizado.

O “encontro de contas” ou, tecnicamente considerada, a “compensação financeira” entre os diversos regimes previdenciários, traduz anseio antigo dos entes federados para corrigir uma distorção havida no sistema ante a inexistência de regulamentação. Sempre houve a transferência de servidores e a possibilidade de contagem recíproca do tempo de serviço para efeito de aposentadoria entre os regimes previdenciários dos entes

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35 federados sem haver a correspondente compensação das contribuições recolhidas. (CAMPOS, 2011, p. 275).

Na mesma linha de raciocínio, o artigo 4º da EC n. 20 define que a lei não poderá estabelecer qualquer forma de contagem de tempo de contribuição fictício, conforme apresentado por Santos (2009, p. 167).

O art. 4º da EC n. 20 garante que o tempo de serviço anterior à sua vigência, que era considerada para efeitos de aposentadoria, seja computado como tempo de contribuição. A mesma norma veda que a legislação infraconstitucional estabeleça qualquer forma de contagem de tempo de contribuição fictício. Isso porque o sistema previdenciário passou a ser totalmente contributivo. Essas regras são aplicáveis também ao regime próprio da previdência dos servidores públicos.

Desta forma a contagem recíproca determina a compensação financeira exclusivamente para o tempo de contribuição não concomitante, excluído o tempo de contribuição especial ou fictício. Referida exclusão está consubstanciada no fato de que o tempo especial ou fictício, convertido em comum, não se traduz em tempo de contribuição naquilo que é majorado, não se compensando financeiramente entre os sistemas, especialmente por não ter gerado arrecadação maior no regime de origem.

Exceção a esta regra, é o caso de ex-servidor público da União celetista, que teve seu contrato cessado compulsoriamente, quando da criação do Regime Jurídico Único, neste caso, há regra normativa especial que permite a contagem recíproca de tempo especial em comum, com multiplicação de fator de proporcionalidade.

Conforme já tratado acima a Lei 9.796/99, foi editada para estabelecer regras claras com relação à compensação financeira diante da troca de regimes previdenciários, e o que nos deixa inconfundível a respeito deste assunto é o artigo 4º da referida Lei que prevê o encontro de contas:

Art. 4o Cada regime próprio de previdência de servidor público tem direito, como regime instituidor, de receber do Regime Geral de Previdência Social, enquanto regime de origem, compensação financeira, observado o disposto neste artigo.

§ 1o O regime instituidor deve apresentar ao Regime Geral de Previdência Social, além das normas que o regem, os seguintes dados referentes a cada benefício concedido com cômputo de tempo de contribuição no âmbito do Regime Geral de Previdência Social:

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36 I - identificação do servidor público e, se for o caso, de seu dependente;

II - o valor dos proventos da aposentadoria ou pensão dela decorrente e a data de início do benefício;

III - o tempo de serviço total do servidor e o correspondente ao tempo de contribuição ao Regime Geral de Previdência Social.

§ 2o Com base nas informações referidas no parágrafo anterior, o Regime Geral de Previdência Social calculará qual seria a renda mensal inicial daquele benefício segundo as normas do Regime Geral de Previdência Social.

§ 3o A compensação financeira devida pelo Regime Geral de Previdência Social, relativa ao primeiro mês de competência do benefício, será calculada com base no valor do benefício pago pelo regime instituidor ou na renda mensal do benefício calculada na forma do parágrafo anterior, o que for menor.

§ 4o O valor da compensação financeira mencionada no parágrafo anterior corresponde à multiplicação do montante ali especificado pelo percentual correspondente ao tempo de contribuição ao Regime Geral de Previdência Social no tempo de serviço total do servidor público.

§ 5o O valor da compensação financeira devida pelo Regime Geral de Previdência Social será reajustado nas mesmas datas e pelos mesmos índices de reajustamento dos benefícios da Previdência Social, mesmo que tenha prevalecido, no primeiro mês, o valor do benefício pago pelo regime instituidor.

Desta forma não suscita dúvida, de que a compensação financeira entre regimes ocorre mês a mês, de forma proporcional conforme calculo do primeiro mês de competência do benefício com base nas informações do regime instituidor e levando em consideração as regras do Regime de origem.

Por fim, diante de uma eventual troca de Regime Previdenciário, a base legal que assegura a contagem recíproca do tempo de contribuição na administração pública e na atividade privada e a conseqüente compensação financeira se encontra no § 9º do art. 201 da Constituição Federal, além da Lei nº 9.796/99, que conceitua também o regime de origem e o instituidor, onde o regime de origem é aquele em que o trabalhador esteve vinculado sem receber aposentadoria ou pensão, e o regime instituidor é aquele responsável pela concessão e o pagamento de benefício de aposentadoria ou pensão. Observa-se que, na prática, o mais comum é o Regime Geral de Previdência Social ser o regime de origem e o Regime Próprio de Previdência Social ser o regime instituidor.

Referências

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