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Discriminação racial e direito à indenização por danos morais

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Academic year: 2021

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(1)UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. LUIS EDUARDO AURÉLIO. DISCRIMINAÇÃO RACIAL E DIREITO À INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. Santa Rosa (RS) 2016.

(2) LUIS EDUARDO AURÉLIO. DISCRIMINAÇÃO RACIAL E DIREITO À INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC. UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais. Orientadora: MSc. Francieli Formentini. Santa Rosa (RS) 2016.

(3) Dedico este trabalho à toda minha família, pelo apoio incondicional e por acreditarem na concretização dessa etapa..

(4) AGRADECIMENTOS Em primeiro momento agradeço a toda minha família, por fazerem parte deste importante momento da minha vida acadêmica, pois sempre confiaram na minha capacidade e me deram forças para conseguir concluir essa etapa importantíssima.. Agradecimento especial a minha orientadora Francieli Formentini por me incentivar e se disponibilizar sempre que solicitada, sua dedicação foi muito importante para que este trabalho se concretizasse.. A todos meus colegas e amigos que direta ou indiretamente foram incentivadores para a conclusão deste trabalho..

(5) "Onde quer que haja um direito individual violado, há de haver um recurso judicial para a debelação da injustiça; este, o princípio fundamental de todas as Constituições livres.” Rui Barbosa.

(6) RESUMO. O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise dos aspectos históricos acerca da discriminação racial e da compreensão das restrições em razão da cor da pele, busca-se entender como as práticas racistas surgiram e quais são os impactos deixados para o atual contexto social brasileiro. O surgimento do racismo no Brasil através de uma hierarquia social de superioridade, que se torna justificativa para o aparecimento da escravidão e a forma de exclusão da possiblidade de integração e igualdade entre raças. A Constituição Federal de 1988 como ruptura histórica para o surgimento de um Estado Democrático que reconhece direitos civis, econômicos, políticos, sociais e culturais para todos, através do símbolo da igualdade, analisando a discriminação racial sob a perspectiva dos direitos humanos. A partir disso, quais respostas jurídicas poderão ser dadas as formas de discriminação em razão da cor através das políticas públicas de atuação do Ministério Público e das Comissões de Direitos Humanos, ambas com a finalidade de promover a igualdade e valorização desses grupos. Estudo de caso concreto sobre a atuação e possibilidade de punibilidade civil em caso abrangente de racismo, tendo o judiciário aberto uma nova perspectiva para a reparação à violação dos direitos de igualdade racial. Palavras-Chave: Constituição Federal. Direitos Humanos. Discriminação Racial. Indenização por danos morais. Ministério Público..

(7) ABSTRACT. This course conclusion work is an analysis of the historical aspects about racial discrimination and understanding the restrictions on grounds of skin color, as we seek to understand the racist practices have emerged and what are the impacts left the current Brazilian social context. The emergence of racism in Brazil through a social hierarchy of superiority, which becomes a justification for the appearance of slavery and the form of exclusion from the possibility of integration and equality between races. The Federal Constitution of 1988 as a historical break for the emergence of a democratic state which recognizes civil, economic, political, social and cultural rights for all, through the symbol of equality, analyzing racial discrimination from the perspective of human rights. From this, which legal responses may be given forms of discrimination on grounds of color through public policy actions of the prosecutors and Human Rights Commissions, both in order to promote equality and appreciation of these groups. Study case about the performance and the possibility of criminal liability in civil comprehensive case of racism, and the open court a new perspective to repair the violation of racial equality. Keywords: Federal Constitution. Human Compensation for moral damages. Public ministry.. rights.. Racial. discrimination..

(8) SUMÁRIO. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 8 1 DISCRIMINAÇÃO RACIAL.....................................................................................10 1.1 Aspectos gerais acerca da discriminação pela cor ....................................... 10 1.2 Racismo no atual contexto social brasileiro................................................... 14 1.3 A discriminação pela cor na perspectiva dos direitos humanos .................. 23 2 RESPOSTAS JURÍDICAS ÀS AÇÕES DE DISCRIMINAÇÃO PELA COR .......... 26 2.1 Atuação do Ministério Público e das Comissões de Direitos Humanos ...... 26 2.2 Estudo de caso .................................................................................................. 35 2.3 Novas perspectivas a partir da análise jurisprudencial ................................. 44 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 46 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 48.

(9) 8. INTRODUÇÃO. O presente trabalho apresenta um estudo acerca das maneiras de discriminação racial, a ideia de uma hierarquia social, em graus de superioridade e inferioridade, como esse conceito se relaciona com a sociedade brasileira atual. A Constituição Federal de 1988 como garantidor da dignidade, que traz um pilar social de igualdade entre as pessoas e que seja livre de preconceitos, ainda atribui ao Ministério Público Federal a defesa dos interesses difusos das minorias.. Inicialmente, no primeiro capítulo, será abordado a temática da discriminação racial em razão da cor da pele, a fim de estudar como o direito reconhece o racismo, de que forma esse bem jurídico pode ser tutelado e como se relaciona com à igualdade. Essa busca é necessária no sentido de oportunizar o debate sobre os motivos que ainda levam o ser humano a julgar seus semelhantes e os direitos que lhe são inerentes. Como a história acaba influenciando a exclusão em razão da cor e como incentiva a superioridade de uma raça sobre a outra.. De que forma o racismo é contextualizado no Brasil, pois a criação do país se dá pela heterogeneidade cultural e racial. Busca-se a compreensão do trabalho escravo e como se consolidou a visão racista na sociedade brasileira. O ideal europeu fez com que no período colonial houvesse uma espécie de branqueamento da população como pressuposto de positividade. Assim acabou criando um nível elevado de desigualdade e uma série de fenômenos de preconceito e discriminação racial, que somente foi amenizada com o nascimento da Constituição Federal de 1988..

(10) 9 A partir disso, a luta pelos direitos humanos passa a ter um valor fundamental na sociedade brasileira, sendo que este começa a ser reconhecido tanto no âmbito interno quanto no externo e a importância do tema equipara-se com os direitos civis e políticos, pois definem a dignidade de todo ser humano independentemente da cor da pele.. No segundo capítulo é analisado quais respostas jurídicas podem ser dadas nos casos de discriminação pela cor da pele. Também são analisadas as atuações do Ministério Público e das Comissões de Direitos Humanos, sob o viés constitucional do reconhecimento do racismo e do preconceito racial na sociedade brasileira e a necessidade de promover a igualdade através de políticas públicas que valorizem as minorias. A inclusão do tema racial com a intenção de promover debates a fim de incentivar e efetivar a promoção da igualdade racial. Ampliação da assistência judiciária efetivando o acesso à justiça que visa a proteção das minorias e que promove a cidadania plena e eficaz. Dessa forma, a esfera cível passa a ser um caminho da reparação do dano sofrido, através da indenização por dano moral.. Neste aspecto, as mídias são uma fonte de reprodução e consolidação das práticas discriminatórias que podem ser observadas no contributo negativo através dos discursos relacionados a população negra, além da falta de transparência e incentivo para debater assuntos de natureza racial. Momento que será apresentado estudo de caso que relaciona a capacidade da mídia em produzir e reproduzir o interesse de determinadas classes sociais e como o Poder Judiciário se manifesta.. A partir desse estudo se verifica que a discriminação racial ainda apresenta fortes traços na atual conjuntura da sociedade brasileira. Contudo, o tema passou a ter mais visibilidade e a luta contra as desigualdades raciais abriram novos caminhos para a defesa desses grupos étnicos..

(11) 10 1 DISCRIMINAÇÃO RACIAL. Neste primeiro capítulo, o presente trabalho versará sobre o contexto histórico das práticas consideradas racistas contra a população afrodescendente, a fim de compreender algumas situações como atos discriminatórios. Além disso, buscar-seá contextualizar as práticas discriminatórias ao atual momento social brasileiro pela perspectiva dos direitos humanos face ao racismo, e como as medidas socioeducativas se adequam a convivência social harmônica e igualitária.. 1.1 Aspectos gerais acerca da discriminação pela cor. Neste trabalho será contextualizado os termos preconceito e racismo, como sinônimos para o tema da pesquisa que é a discriminação racial pela cor, uma vez que a intenção é a de provocar o judiciário através de soluções cíveis.. É de suma importância esclarecer que o racismo é considerado qualquer ato ou pensamento que separa as raças humanas uma das outras e sua aparição se dá normalmente contra a população negra, sobretudo o racismo é um convencionalismo fundamentado em diferenças das raças humanas. Deste modo, a discriminação racial pode incidir contra negros, mulatos, asiáticos, índios, e brancos, e são praticadas por parte de outras etnias. Todavia, o histórico da humanidade fez do negro uma referência quando o tema em discussão é o racismo (RACISMO NO BRASIL, 2015).. Não é possível assegurar uma data ou período da história em que as práticas racistas iniciaram, o que se têm são relatos de vários tipos de restrições às pessoas por conta da cor da pele. Essas diferenças atravessam vários períodos da evolução humana, sejam elas de ordem cultural, física ou étnicas e encontram-se presentes para marcar, rotular, classificar, condenar ou não as pessoas (RACISMO NO BRASIL, 2015).. As práticas racistas são individuais, ou seja, não existe um aspecto específico que dá origem a este ato. Assim, as manifestações racistas e discriminatórias podem surgir a qualquer momento, seja na infância, adolescência ou na vida adulta, as.

(12) 11 diferenças e a superioridade de um grupo social em detrimento a outro, podem ser aspectos que moldam o pensamento de cada pessoa (RACISMO NO BRASIL, 2015).. Também pode-se conceituar o racismo como uma doutrina, como atitude e como preferências. Dessa forma, é importante conhecer os sentidos que o termo racismo assume para as ciências humanas e biológicas, neste sentido constata-se a necessidade de verificar como o direito reconhece o racismo e qual a forma de tutelar o bem jurídico relacionado à igualdade (CELSO, 2010).. Nas palavras de Antônio Sérgio Alfredo Guimarães (2015): Só é possível conceber-se a "cor" como um fenômeno natural se supomos que a aparência física e os traços fenotípicos são fatos objetivos, biológicos e neutros com referência aos valores que orientam a nossa percepção. É justamente desse modo que a "cor" no Brasil funciona como uma imagem figurada de "raça". Quando os estudiosos incorporam ao seu discurso a cor como critério para referir-se a grupos "objetivos", eles estão se recusando a perceber o racismo brasileiro. Suas conclusões não podem deixar de ser pois formais, circulares, e superficiais: sem regras claras de descendência não haveria "raças" mas apenas grupos de cor.. De tal modo, o racismo pode ser compreendido como uma ideia de hierarquia entre grupos humanos, assim definidos em raças, em grau de superioridade e inferioridade, por meio de critérios criados em diversas bases: científicas, sociais, culturais ou religiosas (CELSO, 2010).. Essa hierarquia social não se justifica por uma ordem natural, mas faz um apelo por uma racionalidade de diferentes formas. Por exemplo, não se justifica a escravidão dos africanos e seus dependentes com intuito de inseri-los em posição social inferior por causa das limitações desse povo em razão da cor. Então, a ordem natural não é um fator que deve criar limitações nas formações sociais e também não pressupõe a concepção de um sistema hierárquico, rígido e inescapável (GUIMARÃES, 2015). Pode-se notar que a discriminação em razão da cor, vem trazendo inúmeros debates na sociedade, sendo que, essas discussões vêm tornando bastante preocupante a atual realidade social, pois esta questão acaba atingindo milhões de.

(13) 12 pessoas. Contudo, ocorre que o ser humano continua julgando seu semelhante, não por seus ideais e atitudes de nobreza, mas arbitrando-o por sua cor ou pertencimento a uma determinada “raça” (MPRJ, 2015).. Logo, a ideia de superioridade nos seres humanos, acaba se demonstrando na exclusão em razão da cor, conceito totalmente injusto, perigoso e imoral. Uma vez que, o preconceito é injustificável, pois ofende a paz e a harmonia entre os homens que não reconhecem no seu semelhante os direitos que lhe são inerentes. Assim, prejudica a convivência, de indivíduos iguais. Deste modo, manifesta-se a segregação, seja quanto às convicções, à aparência ou outra forma de desigualdade, que deve ser combatida e eliminada (MPRJ, 2015). Destarte, a ideia de raça em termos científicos, passou a classificar os seres humanos em razão da aparência física, ou seja, uma forma de diferenciar um sujeito a partir do que se via, e o primeiro atributo era a cor da pele. As consequências sociais, foram explicitadas através da classificação dos povos e suas ações de desenvolvimento e subdesenvolvimento. Mas, em termos de conceituação, não era possível adotar esses critérios, pois os povos eram passíveis de modulações, portanto, não havia uma sustentabilidade em termos biológicos, então a diferenciação se caracterizou a partir de termos culturais (CELSO, 2010).. Seguindo neste contexto, conclui Guimarães (2015): De fato, quando a "raça" está empiricamente presente ainda que seu nome não seja pronunciado, a diferenciação entre tipos de racismo só pode ser estabelecida através da análise de sua formação histórica particular, isto é, através da análise do modo específico como a classe social, a etnicidade, a nacionalidade e o gênero tornaram-se metáforas para a "raça" ou viceversa.. É possível destacar que muitas pessoas, valorizam muito a superioridade entre grupos étnicos, quando comparada a outras. Desta forma, esse grupo étnico dominaria o meio em que habitava, eis que surge uma das justificativas do aparecimento da escravidão, onde negros trabalhavam em condições totalmente precárias e eram vendidos como simples e meros objetos, sem valor humano, ou seja, eram tratados como coisas sem nenhum aspecto humanitário. Um exemplo clássico, foi o nazismo, tendo como foco principal os judeus, contudo, os negros e.

(14) 13 homossexuais, também sofriam perseguições e eram executados nos campos de concentração. Assim, é possível perceber que o racismo faz parte da história da humanidade, e alguns grupos específicos ainda sofrem muito com isso (RACISMO NO BRASIL, 2015).. Desse modo, se torna possível compreender a necessidade de estabelecer a ideia de raça, como uma construção social, criada por um grupo de pessoas, por meio de condutas discriminatórias que acabam culminando em ações de diferenciação. De tal modo, toda forma de diferenciação é deplorável sob o aspecto humanitário, e qualquer tipo de hierarquização social sob o viés racial é uma forma de discriminação (CELSO, 2010), neste entendimento: Sem dúvida, pode-se usar o termo "racismo" como uma metáfora para designar qualquer tipo de essencialismo ou naturalização que resulte em práticas de discriminação social. Esse uso é entretanto frouxo quando a ideia de "raça" encontra-se empiricamente ausente e apenas empresta um sentido figurativo ao discurso discriminatório. Penso que se pudemos falar de tais práticas discriminatórias designando-as por termos específicos como "sexismo" ou "etnicismo" é porque a referência à "raça" encontra-se subsumida em outras diferenças, funcionando apenas como uma imagem de diferença irredutível (GUIMARAES, 2015).. Em termos de prática, é importante diferenciar discriminação do preconceito. Então, a discriminação ocorre sempre por meio de uma conduta concreta, enquanto o preconceito se dá de maneira abstrata (CELSO, 2010), portanto: Em certos casos, ao contrário, o preconceito e a discriminação pressupõem ou se referem à idéia de "raça" de uma maneira central. Nesses casos, as outras diferenças possíveis são imagens figuradas da "raça"; casos nos quais a hierarquia social não poderia manter um padrão discriminatório sem as diferenças raciais. Apenas nesses casos pode-se falar de racismo ou racismos de um modo preciso (GUIMARAES, 2015).. A discriminação racial pode ocorrer sob diversos aspectos, e sua incidência pode não ser tão evidente, mas ocorrem com frequência e as vezes passam despercebidas. Tais condutas ocorrem sob forma de piadas, xingamentos e até mesmo quando se evita o contato físico com a pessoa (RACISMO NO BRASIL, 2015)..

(15) 14 A história da humanidade nos mostra como os afrodescendentes sofreram com a escravidão e todas as formas de preconceitos. Eles, eram separados dos brancos, pois a discriminação e o desrespeito estavam presentes em toda a sociedade. Assim, qualquer ato de exclusão, distinção, restrição ou preferências baseadas na nacionalidade, cor e raça com o escopo de anular o reconhecimento de exercícios é considerado como discriminação racial (ASSIS, 2015).. Em comum, constata-se, que os negros sofreram diversas formas de exploração. Então, houve a necessidade de implantar políticas de afirmação, que possuem como meta compensar todas as barbaridades cometidas contra a população afrodescendente. Dessa forma, surgem os debates jurídicos tratando sobre as polêmicas que envolvem as diferenças entre os seres humanos, sejam por motivo de raça, cor, origem, até mesmo pelos respectivos direitos (MPRJ, 2015).. É necessário, portanto, esclarecer que a discriminação racial ocorre em diversos locais como ambientes de trabalho, escolas, instituições, entre outros. Infelizmente, ainda existem pessoas que não tem tal compreensão e agem para discriminar outros baseando-se somente em razão da cor. Mas o que realmente é importante destacar, é que todas as pessoas, não importa sua etnia tem direitos econômicos, sociais e culturais.. 1.2 Racismo no atual contexto social brasileiro. O Brasil é considerado um país que possui grande diversidade cultural e racial, sendo que, dessa heterogeneidade surge a atual construção sociocultural, que atinge de maneira silenciosa a vida das pessoas.. Portanto, a discriminação em razão da cor é inadmissível em um Estado Democrático de Direito, ou seja, a cor da pele que lhe é inerente, por natureza, não pode ser um fator que determine a diferença entre os seres humanos. Dessa forma, o aspecto da cor em nada legitima fundamento para discriminação, assim nenhuma pessoa deverá sofrer violência, desonra ou qualquer outro ato que afronte a sua dignidade (MPRJ, 2015)..

(16) 15 Neste sentido, torna-se necessário a compreensão de como ocorreu o surgimento do trabalho escravo no Brasil e quais os reflexos para a sociedade atual, nas palavras de Mário Theodoro (2016): O trabalho escravo, núcleo do sistema produtivo do Brasil Colônia, vai sendo gradativamente substituído pelo trabalho livre no decorrer dos anos 1800. Essa substituição, no entanto, dá-se de uma forma particularmente excludente. Mecanismos legais, com a Lei de Terras, de 1850, a Lei de Abolição, de 1888, e mesmo o processo de estímulo à imigração, forjaram um cenário no qual a mão-de-obra negra passa a uma condição de força de trabalho excedente, sobrevivendo, em sua maioria, dos pequenos serviços ou da agricultura de subsistência.. A partir dessa conjuntura, é possível perceber que o negro fora sempre excluído de qualquer possibilidade de integração e até mesmo de igualdade com o homem dito “branco”. Assim, cabe frisar que se consolidou uma visão, de cunho racista, onde se perpetuou que o país somente progrediria se houvesse uma espécie de “branqueamento”. Essas medidas governamentais acabaram afirmando, aqui no Brasil, o negro será “excluído”, a desigualdade será imposta e a pobreza se perpetuará para este grupo, e assim, se reproduz até hoje.. Nesse contexto, desde o período colonial que foi organizado como um sistema de discriminação legal ou ideologia racista, acabou dando início a uma visão hierárquica da sociedade. Desse modo, o elemento branco se amparava pela busca de se aproximar e impor a necessidade de uma cultura europeia no Brasil (JACCOUD, 2016).. Seguindo neste raciocínio, nas palavras de Denise Carvalho dos Santos Rodrigues (2010): Com conteúdo peculiar, a teoria do branqueamento ganhou terreno no Brasil e no espaço das elites entre 1989 e 1914. A teoria do branqueamento estava fundamentada sobre a ideia da superioridade branca, especialmente demonstrada pelas expressões “mais e menos adiantadas” e por deixar em aberto o discurso sobre a tese da inferioridade inata. Foram adicionadas duas considerações especiais às suposições trazidas pela tese do branqueamento, difundido no Brasil em virtude do grande número de indivíduos pertencentes a uma ‘”casta média”, constituída por mulatos: a) diminuição progressiva do índice da população negra em relação à branca, supostamente pelo baixo número da taxa de natalidade, do aumento da incidência de doenças e pela propagação da desorganização social; b) a miscigenação apresentou como efeito o “branqueamento” da população, tanto pela força do gene branco, como pela maior procura de parceiros mais.

(17) 16 claros por parte das pessoas. Partindo dessas suposições, a concepção de que a miscigenação resultaria em uma população mestiça sadia e com forte possibilidade de tornar-se mais branca, tanto com relação aos aspectos culturais, quanto fisicamente.. Essa ideia de branqueamento e ideal europeu se destacava por ligar a um pressuposto de positividade, na qual essa cultura pudesse fazer o país crescer. Cabe, porém, observar que o racismo foi sustentado pela elite nacional, mesmo quando afirmavam que não havia mais preconceito de raça. Contudo, iniciou uma série de fenômenos de preconceito e discriminação racial, que acaba fortalecendo a ideia de diferença, em razão da cor (JACCOUD, 2016).. Conforme sustentado pela hierarquia social brasileira, os ideais de liberdade apresentados não trouxeram mudanças sociais e econômicas significativas, por outro lado acabou produzindo mais desigualdades e consequências onde o fator “cor” determinava a condição social, tendo como grupo mais desfavorecido os negros (RODRIGUES, 2010).. O nascimento da República em 1889 coincide com a abolição, e a partir disso passa a se construir ideias de igualdade e cidadania. Porém, se percebe a dificuldade em criar um direito individual em uma sociedade que já está hierarquizada, que se retrai, ainda mais, face a possíveis oportunidades para a população negra. E, assim, de forma natural apresentam-se as desigualdades raciais, reafirmadas, uma vez mais, agora no ambiente político e jurídico (JACCOUD, 2016).. Então, a partir desse conceito, se identificou uma espécie de exigência nacional, que somente poderia ser exercida pela elite branca, pois somente estes seriam capazes de fazer do Brasil, um país liberal e progressista. A partir disso, percebe-se que a desigualdade em razão das raças, tomariam proporções no cenário político e social do Brasil. Assim, a capacidade de participação dos negros na sociedade seria cada vez mais restrita, principalmente em espaços públicos (JACCOUD, 2016)..

(18) 17 Eis, que surge, a Constituição de 1988, marcada fortemente pela dívida social, em relação a desigualdade na distribuição da riqueza e precária cobertura das políticas sociais. Neste ponto, cabe destacar que o negro ainda era associado à uma situação de miséria que predomina entre essa população. Surge então, o enfrentamento a essas condições e os movimentos negros passam a criar força, enfatizando a necessidade de um reconhecimento da discriminação racial como um fenômeno que sempre assombrou o país, além de defender, preservar e valorizar a cultura dos negros (JACCOUD, 2016).. A busca pela possibilidade de construir uma sociedade que fosse justa, solidária e livre que garantisse um desenvolvimento nacional, originando uma maneira de extirpar a marginalização e a pobreza com a tentativa de diminuir as desigualdades sociais e regionais que até então se faziam presentes, assim buscaria a promoção do bem-estar de todos, sem que houvesse qualquer tipo de preconceito seja pela cor, sexo, origem, raça ou outra forma. O Estado brasileiro, enfim passou a dar importância a dignidade e ao bem-estar da pessoa humana pois essa passou a ser tratada como fonte primordial de valor e capaz de atribuir unidade de sentido ao ordenamento jurídico brasileiro (RODRIGUES, 2010).. Promulgada a Constituição brasileira, viu-se uma ruptura histórica com evidentes consequências para a sociedade, pois surge um Estado democrático que reconhece direitos civis, econômicos, políticos, culturais e sociais. Portanto esse reconhecimento declarado a partir de 1988 pretendia dar garantias universais e de inclusão para toda a população que se efetivaria através do símbolo da igualdade, cuja concepção é de efetivar o reconhecimento do humano, um ser concreto, que se relaciona através da sua condição social (IPEA, 2016).. Sendo que para Marco Antonio Natalino, Carla Coelho de Andrade, Bruno Carvalho Duarte e Paulo Castro (2016) a Constituição se define dessa forma: • Positiva os direitos fundamentais, reconhecendo a dignidade da pessoa humana como princípio da República Federativa do Brasil em seu Art. 1º, inciso III. • Generaliza sua aplicação, garantindo de forma explícita tanto o princípio da igualdade (Art. 5º) quanto o da não discriminação (Art. 3º, inciso IV)..

(19) 18 • Reconhece a prevalência dos direitos humanos como princípio das relações internacionais (Art. 4º, inciso II), abrindo espaço para a ratificação de tratados em anos subsequentes. • Especifica os sujeitos de direitos, indo além do homem genérico ahistórico em direção ao ser em situação. (Grifos dos autores) pg. 68. Assim, evidencia-se que o significado da Constituição é oferecer garantias de reconhecimento da dignidade da pessoa humana em todo contexto social e as políticas públicas surgiram para efetivar os direitos fundamentais.. A Carta Magna, efetivou a reorganização do Estado no campo das políticas sociais, pois visa garantir ampliações dessas coberturas para redução da desigualdade entre brancos e negros e fortalecimento do acesso aos serviços e benefícios sociais. Contudo, apesar das políticas sociais, às desigualdades raciais ainda se fazem presente, pois a população negra ainda se encontra, em sua grande maioria, nas piores posições da sociedade, se tornando objeto de debates que oportunizem a defesa e a implementação de políticas específicas para educação, saúde, trabalho, violência e cultura (JACCOUD, 2016).. Nas palavras de Luciana Jaccoud (2016): No entanto, apesar de todo esse movimento que confluiu para a demanda pela criação de um organismo público voltado à temática racial, assim como na formulação de iniciativas setoriais e específicas, o que fato é que, nos últimos vinte anos, o aumento expressivo da cobertura da população pelas políticas sociais não tem colaborado significativamente para a redução das desigualdades raciais [...].. Percebe-se, nesse comentário, que mesmo havendo organismos públicos voltados a tentativa de redução das desigualdades raciais os resultados não são os desejados, haja vista que é um problema grave e que necessita cada vez mais de inserções político sociais.. Seguindo com os comentários de Jaccoud (2016): [...] Os avanços no sentido de consolidação de políticas sociais universais têm ampliado o acesso e as oportunidades da população negra, mas, em geral, não vêm alterando os índices históricos de desigualdades entre brancos e negros. Para citar apenas um caso, na educação, os indicadores registram não apenas a manutenção de expressivos patamares de desigualdade, mas também a ampliação desses patamares, como é o caso.

(20) 19 do aumento da diferença proporcional da frequência líquida de estudantes brancos e negros no Ensino Médio e Superior.. Portanto, é evidente que o país ainda é tomado pela desigualdade racial, pois mesmo com políticas sociais os índices dessa desigualdade permanecem estaqueados ou até mesmo ampliados.. Desta forma, o desafio passa a ser maior, o processo de produção e reprodução da desigualdade racial não obedece a um fenômeno simples, de causalidade ou consequência. Mesmo que o Brasil em seu processo histórico tenha passado pelo branqueamento de sua população sucedendo a uma supremacia racial branca que criou tal hierarquia da sociedade. Consoante se faz discutir políticas públicas de instrumentalização ao combate à desigualdade racial, uma vez que o preconceito, em sua maior proporção, concentra-se contra a população negra de baixa renda que se encontra estratificada nos mais baixos segmentos da sociedade brasileira.. Nessa linha, a Constituição Federal de 1988, traz como um de seus fundamentos a dignidade da pessoa humana, através do seu artigo 1º, inciso III, possuindo como objetivos fundamentais a construção de uma sociedade que seja livre, justa, solidária, além de promover o bem-estar de todos, sem qualquer tipo de preconceito (artigo 3º, incisos I e IV, da CF/88)1, trazendo a igualdade como direito fundamental (artigo 5º, caput, da CF/88) (MPRJ, 2015).. Por este motivo, torna-se essencial incitar uma consciência jurídica crítica que busque tornar eficaz a eliminação da discriminação racial, através de estratégias promocionais, com objetivo de propiciar a plena implementação do direito à igualdade (GUIMARÃES, 2015).. Mais adiante, a Constituição aponta que a prática do racismo no âmbito penal é considerada como crime inafiançável e imprescritível, com possibilidade à pena de reclusão, previsto no artigo 5º, inciso XLII da Lei (BRASIL, 2014), enquanto no. 1. Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; [...] IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação..

(21) 20 âmbito civil, objeto deste estudo, as consequências ocorrem através de indenizações pecuniárias, como o dano moral.. Nesse sentido, nas palavras de Santos (2015): Congruente com o princípio da igualdade ante a lei, bem assim com o programa visto no preâmbulo, que tem como regra assegurar os valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, os incisos XLI e XLII do art. 5.º da Constituição da República, asseguram que “a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais” e, “a prática do racismo, constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei”.. Também existe a Lei nº 12.288/2010 (Estatuto da Igualdade Racial), que possui o intuito de reforçar o intenso propósito de combate à discriminação racial perpetrada contra a população negra. Tal lei visa corrigir as desigualdades históricas na sociedade brasileira, através de políticas de saúde, cultura, educação, esporte, trabalho e lazer para a população negra, além de defender os direitos das comunidades quilombolas e proteger as religiões de origem africana.. Por se tratar de uma lei nova, se questiona a efetividade deste instrumento legal, se trará consigo aptidão a corrigir as declaradas diferenças no Brasil, atingindo os fins pretendidos ou, em sentido adverso, acarretará um agravante para a desigualdade.. Assim, o ordenamento jurídico brasileiro traz garantias aos direitos fundamentais e de inclusão social, por conseguinte, qualquer ato que configure discriminação ou desrespeito as diferenças pessoais estão fundamentadas na Constituição da República ou em Lei Complementar.. O constituinte brasileiro preocupou-se em punir rigorosamente o racismo, impetrando diretrizes que atribuam para sua erradicação. Entretanto, a realidade não está em consonância com os diversos diplomas legais que tratam sobre a matéria. O preconceito ainda se encontra arraigado na sociedade brasileira, ocorrendo por vezes de duas maneiras, explícita ou dissimulada. Sobretudo, é necessário ressalvar as liberdades fundamentais de todos, para que haja um respeito universal na qual se ressalte os direitos humanos, sem qualquer tipo de discriminação, seja de origem, de.

(22) 21 cor ou de raça, pois essas distinções não existem para a essência humana (MPRJ, 2015).. Nessa linha para Santos (2015): Ao aduzir a qualquer discriminação, apressou-se o constituinte em acrescentar, que seja atentatória aos direitos e liberdades fundamentais, ou ainda que seja arbitrária, desarrazoada e injusta. Há a exclusão, pura e simples, de qualquer tratamento de inferioridade que configure discriminação, em desrespeito às diferenças pessoais de cada indivíduo (grifo do autor).. Entretanto, todo aparato normativo que se encontra no ordenamento jurídico brasileiro é repressivo, assim indicando que o problema da discriminação em razão da cor é tratado sob um viés somente punitivo e não promocional. Acontece que esse problema se agrava quando se evidencia que a vertente punitiva não apresenta uma efetividade satisfatória, pois são isoladas as decisões que punem civil, através da reparação por dano moral, e também criminalmente, a pratica do racismo. Por essa razão, a falta de efetividade, cria uma certa resistência ao judiciário em implementar novas teorias sobre a matéria, evidenciando assim, que o sistema jurídico de combate à discriminação em razão da cor acaba sendo ignorado (GUIMARÃES; PIOVESAN, 2015).. Pode-se verificar que o Brasil é um país socialmente injusto e etnicamente desigual, isso exibe-se de forma contundente quando se nota os indicadores sociais, econômicos e educacionais2, percebe-se que a população afrodescendente sofre uma modalidade de racismo dissimulado e de forma sutil, que remete esse enorme 2. Os dados levantados por Assis: ”A escolaridade média da população adulta com mais de 25 anos no final do século XX está em torno de 6 anos de estudo. Um jovem branco de 25 anos de idade tem cerca de 8,4 anos de estudo, enquanto um jovem negro de mesma idade apresenta 6 anos. Esta diferença de 2,3 anos de estudo que os jovens negros têm para com os jovens brancos, revela a intensidade da discriminação racial, que é a mesma observada entre seus avós. Entre os analfabetos com mais de 15 anos, 8,3% são brancos ao passo que 19,8% são negros; os considerados analfabetos funcionais, 26,4 % são brancos, já os negros representam 46,9%; Não completam o ensino fundamental, 57,4% dos brancos e 75,3% dos negros; Entre os jovens de 18 a 23 anos, 63% dos brancos e 84% dos negros não completam o ensino médio. Completaram o ensino médio em 1999, 12,9% de brancos e 3,3% de negros Entre 18 e 25 anos, 89% dos brancos e 98% dos negros não ingressam no ensino superior. Dos 191.100 estudantes do Ensino Superior avaliados pelo Exame Nacional de Cursos do MEC - o “provão” - em 2000, 80% são brancos e 15,7% são pretos e pardos. Em suma, para cada brasileiro branco que não sabe ler nem escrever, há dois brasileiros negros nessa condição. Na média, os brancos têm 7 anos de estudo, enquanto os negros chegam a 5 anos. Entre os brasileiros com mais de 25 anos que têm curso superior completo, há um negro para cada 5 brancos” (ASSIS, 2015)..

(23) 22 grupo populacional a uma situação de miséria e em condições perversas, como por exemplo, nas favelas ou ambientes insalubres dos cárceres, em posição de subalternidade. Sendo assim, torna-se oportuno o estabelecimento de uma democracia racial3, bem como social (ASSIS, 2015).. Por outro lado, cabe identificar o paradigma que emperra na necessidade de uma reflexão sobre a injustificável desigualdade racial, que sempre marcou a trajetória dos negros no Brasil.. A partir disso, surgem as ações afirmativas que visam a eliminação dos efeitos da discriminação racial, com adoção de soluções adequadas de caráter público ou privado que seja baseado na raça, cor, gênero, descendência ou origem nacional ou étnica, tendo como marco balizador o direito à igualdade com a finalidade de atender os direitos humanos no plano social (ASSIS, 2015).. Esse instrumento de inclusão social, constitui-se por trazer medidas com a finalidade de remediar tanto o passado como o presente de discriminação, tendo como objetivo acelerar o processo na busca da igualdade substantiva por parte de grupos vulneráveis, como as minorias étnicas e raciais, entre outros grupos. São utilizadas como políticas compensatórias, tendo assim uma finalidade pública que seja decisiva para um propósito democrático, qual seja, o de assegurar a diversidade e a pluralidade social (PIOVESAN, 2005).. Portanto é necessário constituir medidas adequadas que possam viabilizar o direito à igualdade e que estas possam ser moldadas pelo respeito às diferenças e à diversidade, onde a busca da inclusão social deve se dar para assegurar a igualdade de raças.. 3. A democracia racial é um termo usado por algumas pessoas para descrever relações raciais no Brasil. O termo denota a crença de alguns estudiosos que o Brasil escapou do racismo e da discriminação racial. Estudiosos afirmam que os brasileiros não vêem uns aos outros através da lente da raça e não abrigam o preconceito racial em relação um ao outro. Por isso, enquanto a mobilidade social dos brasileiros pode ser limitada por vários fatores, gênero e classe incluído, a discriminação racial é considerada irrelevante (dentro dos limites do conceito da democracia racial) (PORTO, Gabriella, 2016)..

(24) 23 Importante, se faz destacar, que o Brasil é um grande ator no cenário internacional, quando o tema é discriminação, sempre assumindo o protagonismo na elaboração de normas internacionais de direitos humanos, sendo signatário da Convenção Internacional pela Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial4, por conseguinte, é imprescindível que se cumpra todas as diretrizes de tal convenção, pois as desigualdades raciais que avultam a pátria, devem ser extintas, devendo o país cumprir com o dever acordado (ASSIS, 2015).. Por consequência, cabe ao país assumir perante a comunidade internacional, o cumprimento na íntegra das normas internacionais de direitos humanos, razão que de fato tornará consagrado o Brasil um Estado Democrático de Direito, mas para isso, deve realizar todas as medidas especiais e concretas que se encontra expressa na Convenção, desse modo, incluindo a população afrodescendente em todos os planos sociais, que lhes proporcione proteção e a fruição de forma plena dos direitos humanos (ASSIS, 2015).. A legislação pátria, quando se refere às minorias como um todo é, de algum modo, muito escassa. Contendo algumas exceções, quando se referem aos índios, negros e estrangeiros, o ordenamento jurídico brasileiro deixa os demais grupos minoritários sem leis específicas. Assim sendo, essa falta de tratamento objetivo por parte da legislação brasileira, tanto no aspecto antropológico (qualitativo) quanto no sociológico (quantitativo), acaba prejudicando a defesa dos interesses dos grupos minoritários (MORENO, 2009).. 1.3 A discriminação pela cor na perspectiva dos direitos humanos. A democracia possui duas ideias centrais, liberdade e igualdade, essas são ideologias políticas que se desenvolveram ao longo do tempo. A liberdade permite o desenvolvimento das diferenças entre os homens que são dotados de várias. 4. A Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, no Artigo I, item 1, explica o significado de Discriminação Racial, [...] significará qualquer distinção, exclusão restrição ou preferência baseadas em raça, cor, descendência ou origem nacional ou etnica que tem por objetivo ou efeito anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício num mesmo plano,( em igualdade de condição), de direitos humanos e liberdades fundamentais no domínio político econômico, social, cultural ou em qualquer outro domínio de vida pública (BRASIL, 2016)..

(25) 24 inclinações, sendo uma delas a criação de condições de dominação de um sobre o outro. Dessa forma, a liberdade ocasiona uma desigualdade social (SANTOS, 2015).. Segundo a análise realizada por Ribeiro (2015): A análise dos “direitos humanos” enquanto um discurso destinado a pensar e intervir em crises contemporâneas e a classificar comportamentos e coletividades (grupos socialmente diferenciados, minorias étnicas e inclusive Estados-nações) pode, potencialmente, levar-nos a desvendar quais mecanismos de (re)produção do poder estão sendo subsumidos por esse discurso no presente. Assim, quem sabe, através de um exercício antropológico de estranhamento de uma categoria que não apenas nos é familiar mas querida, poderemos avançar para formulações mais próximas ao que ela parece estar nos indicando: o desejo pelo convívio pacífico, democrático e igualitário, respeitadas as particularidades dos diversos grupamentos que convivem em sociedade desde quando nenhum exerça opressão sobre o outro [...].. A liberdade por um viés natural exprime a desigualdade, e como consequência produz a escravidão. Essa liberdade, entrega ao homem o direito de escolha, uma condição de progresso e desenvolvimento, na busca de atingir um objetivo. No uso de suas forças acaba se opondo à liberdade dos demais, criando condições de sujeição social onde inexiste a liberdade, seja a espécie que for. Enquanto, a igualdade não lhe confere nenhum encargo, apenas coloca os seres em condições de semelhantes (SANTOS, 2015).. Destaca-se que o poder estatal, cultural, religioso e o próprio nacionalismo intervêm sobre os direitos humanos. Acontece que paradoxalmente o relativismo cultural entre a coletividade e o individual, refletem as tensões e a diferenciação de poder que se sobrepõe aos direitos humanos através dos campos políticos (RIBEIRO, 2015).. Os direitos humanos, já são reconhecidos, tanto internamente como internacionalmente, e caracteriza-se como uma conquista histórica, que ultrapassa as fundamentações religiosas e metafísicas, mas que ao longo do tempo foi se adaptando. Por isso, a progressão desse tema já se iguala em importância com os direitos civis e políticos. A problemática em relação aos direitos do homem não encontram-se somente no fato de justificar a discriminação, mas em proteger aquele que é discriminado, tornando esse um problema político. Afinal, a política tem o.

(26) 25 poder de promover, ou não, o respeito pelos direitos humanos (ALVES, 2015), do mesmo modo, nos esclarecimentos de Ribeiro: Se a noção de cultura é altamente problemática em termos de sua definição, usos acadêmicos e políticos, as outras duas que compõem o título deste ensaio, direitos humanos e poder, não deixam de ser igualmente problemáticas. Após uma rápida discussão sobre o que penso acontecer hoje com a noção de cultura, explorarei brevemente aspectos vinculados aos termos “poder” e “direitos humanos” para depois relacioná-los ao que, acho, são dilemas que se encontram embutidos originalmente na discussão sobre “cultura” e que se encontram também reverberando no interior das discussões sobre “poder” e “direitos humanos”. Estes dilemas relacionam-se (a) à tensão entre particularismos e universalismos; (b) às relações existentes entre diversos formuladores de interpretações sobre cada um destes termos e (c) às posições políticas que eventualmente tais atores políticos esposem (RIBEIRO, 2015).. Direitos humanos, independentemente de qualquer variável, seja ela, individual ou coletiva, decorrente de raça, religião, nacionalidade, etnia, sexo e classe social, definem a dignidade de todo ser humano. Sendo que, além de consagrar o direito de liberdade, à cultura e as organizações políticas e econômicas, permanece intimamente ligada ao direito de ter direito. Assim, os valores éticos dão garantias de justiça e igualdade (BENAVIDES, 2015).. A partir do momento que os direitos humanos representam um avanço, passa a ser necessário regular os abusos cometidos pelos poderosos políticos, seja dentro ou fora do Estado, contra os indefesos e a coletividade de modo geral. Pois esses excessos desenfreados são impulsionados pela discriminação, desrespeito às diferenças e pela intolerância. Sob um olhar crítico da história, os direitos humanos são fundamentais para a sociedade contemporânea, pois são necessários vários atores vinculados neste campo, que lutem pela democracia racial (RIBEIRO, 2015)..

(27) 26 2 RESPOSTAS JURÍDICAS ÀS AÇÕES DE DISCRIMINAÇÃO PELA COR. Neste segundo capítulo, busca-se compreender como as instituições legitimadas pela Constituição Federal atuam em prol do combate à discriminação racial pela cor e como são tratadas as ações jurídicas que visam uma reparação pelo dano causado. A partir do estudo até aqui realizado, percebe-se que a discriminação racial acaba impedindo o exercício livre da cidadania, barrando o acesso democrático à igualdade. Deste modo, se faz necessário apresentar uma análise pontual sobre ações jurídicas que visam promover a igualdade racial.. 2.1 Atuação do Ministério Público e das Comissões de Direitos Humanos. Examinando o contexto histórico, desde a extinção da escravatura no Brasil até o surgimento da atual Constituição Federal promulgada em 1988, constata-se que a atual temática da desigualdade racial acaba trazendo muitas discussões, paradigmas não superados e dogmas abandonados sem nenhuma compreensão. Importante frisar, que o texto constitucional reconhece o racismo e o preconceito racial como fenômenos presentes na sociedade, e deste modo sustenta a necessidade de combater estes atos. Assim, defende-se a promoção da igualdade como meta da República, determinando a valorização desses grupos (IPEA, 2016).. Portanto, o movimento social negro vem propor a inclusão do tema racial na agenda das políticas públicas, com intuito de inovar e estimular o debate político tanto no combate ao racismo como na intenção de efetivar a promoção da igualdade racial, que ocorre a partir do acompanhamento da reinterpretação do preconceito racial através do seu papel na configuração da desigualdade no Brasil (IPEA, 2016).. Desse modo, as políticas públicas são necessárias para enfrentar as desigualdades raciais. Cabe aqui a identificação de algumas das consequências de atos discriminatórios que geram repercussões abrangentes e quais medidas sociais e políticas se deve tomar para que então haja uma democracia racial. A partir disso, compete concentração em medidas necessárias, tais como, políticas públicas, para enfrentar esse desafio de reprimir atitudes discriminatórias. Eis aí, o papel fundamental do Ministério Público, para defesa dos negros..

(28) 27 A discriminação racial pode ser manifestada de diferentes formas, como racismo, injúrias ou restrições de acesso ou oportunidades e todas essas manifestações estão previstas no ordenamento, como crimes. A partir disso, como o Poder Judiciário avalia cada caso? Com base no desrespeito aos direitos que são inerentes a todos os seres humanos? Antes disso, percebe-se que a luta no campo jurídico ainda é um recurso de baixa utilização e as punições praticamente inexistem. Tendo em vista que, praticamente, em todos os casos deve haver a comprovação da motivação do ato racista, através de provas e testemunhas, além de que membros da Polícia, Ministério Público e do Judiciário devem dar os encaminhamentos a esses inquéritos e processos (JACCOUD, 2016).. Mesmo que haja certa dificuldade na comprovação do ato racista, a possiblidade de indiciamento criminal por estes atos já constitui certo avanço. Assim, cabe ao Estado dar garantias através de normas legais passíveis de sanção pela via jurídica que com algum aprimoramento pode ser tornar uma excelente e eficiente ferramenta para demandas de ordem racial. Novos caminhos, também já vem sendo trilhados, tal qual a defesa de direitos coletivos por meio de Ações Civis Públicas que são movidas pelo Ministério Público e outros legitimados, além de Termos de Ajustamento de Conduta, assim aprimorando a promoção da igualdade (JACCOUD, 2016).. Essas medidas, tem como base fundamental à repressão e a mudança da prática dos atores sociais visando um enfrentamento da desigualdade racial para justamente combater a discriminação e o preconceito (JACCOUD, 2016), reafirmado pelo texto constitucional: [...] O texto constitucional brasileiro abraça, assim, os princípios da promoção da igualdade e do combate a discriminações e preconceitos. A Constituição aponta ainda para os instrumentos de defesa de direitos difusos ou coletivos, em que se incluem a defesa dos direitos dos grupos étnicos minoritários. A relevância é dada pelo reconhecimento de que a defesa de direitos não se restringe àqueles afetos aos indivíduos, mas se estende aos direitos de grupos sociais específicos ou de direitos afetos à coletividade como um todo. Neste sentido, cabe ao Ministério Público Federal (MPF) a atuação na proposição de ações civis públicas em prol dos interesses das minorias, o que vem efetivamente permitindo uma ação inovadora em defesa da promoção da igualdade racial, [...] (JACCOUD, 2016)..

(29) 28 A Constituição Federal de 1988, traz em seu artigo 232, a seguinte redação: “Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo.” (grifo nosso). Dessa forma, a partir do referido artigo da Constituição Federal foi atribuído ao Ministério Público Federal a defesa dos direitos e interesses de indígenas, entretanto, não se referiu à proteção dos demais grupos minoritários.. Entretanto, foi somente através da Lei Complementar nº 75, de 20.05.1993, que as minorias étnicas foram inclusas sob a tutela do Ministérios Público Federal. Assim, através do artigo 6º, inciso VII, alínea c e d, a referida Lei traz a seguinte redação: Art. 6º Compete ao Ministério Público da União: [...] VII - promover o inquérito civil e a ação civil pública para: [...] c) a proteção dos interesses individuais indisponíveis, difusos e coletivos, relativos às comunidades indígenas, à família, à criança, ao adolescente, ao idoso, às minorias étnicas e ao consumidor; d) outros interesses individuais indisponíveis, homogêneos, sociais, difusos e coletivos;. O papel do Ministério Público, das Comissões de Direitos Humanos e as Organizações Não Governamentais passam a ter grande relevância nesses casos, porquanto passa a atuar e propor ações civis públicas em prol da defesa e promoção da igualdade racial.. O caráter judicial trazido e consagrado pela CF/88, trouxe mais força para o Poder Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública, pois estes acabaram se envolvendo em diversos embates políticos e sociais. Assim, estes entes receberam novas imputações, além de meios de atuação e estruturas funcionais mais revigoradas, para que então atuassem ativamente na defesa de diversos grupos da população. O Ministério Público, obrigatoriamente passou a propositar ações sempre que fossem lesionados os interesses difusos e coletivos. Interesse individual e associações civis também passaram a poder acionar o órgão afim de reparar danos que fossem de interesses coletivos (IPEA, 2016)..

(30) 29 Dessa forma, o Ministério Público se faz presente na construção de uma postura participativa e reivindicatória da sociedade. A fim de perseguir um modelo de defesa, que garanta segurança e assistência, visando a proteção de todos, principalmente aqueles mais necessitados de justiça. De outra forma, o ordenamento jurídico pátrio, em muitas ocasiões, não é específico e por isso, torna o Estado impune e omisso. Nesse efeito, é necessário realizar um trabalho de educação e respeito de toda a sociedade, na qual também tem o dever de garantir os direitos do próximo (MORENO, 2009).. Nesse contexto, o Ministério Público está voltado ao social de forma bastante democrática. É de consenso comum, que este órgão, continue interagindo, cada vez mais, com a sociedade, a fim de tratar os problemas sociais, com intuito de tornar mais eficaz a sua atuação, buscando definir as suas prioridades.. Sobretudo a proteção ganha um grande destaque na Constituição como mencionam Jaccoud (2016): Cabe ainda ressaltar o reconhecimento dado pela Constituição à pluralidade étnica/racial da população brasileira. Ao estabelecer a proteção das culturas afro-brasileiras e a necessidade de fixação das datas comemorativas significativas para os diferentes “segmentos étnicos nacionais” (Art. 215) e o acolhimento das contribuições de diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro no ensino de história (Art. 242), não apenas se reconhece a diversidade da formação nacional, como se aponta a necessidade de acolhê-la nos eventos culturais e práticas educacionais.. A Constituição traz garantias fundamentais, como a proteção das culturas afrodescendentes, visando a conscientização e o reconhecimento da diversidade no Brasil.. O Ministério Público passa a ter um novo conceito e uma nova configuração funcional, tornando suas funções mais objetivas com caráter estrutural melhorado, assim André Campos e Luseni Aquino (2016) explicam: Esse novo papel do MP remete a outros aspectos, além da tarefa de defesa dos interesses difusos e coletivos. Relaciona-se também ao fato de que a instituição foi investida, em caráter inédito, da função mais ampla de zelar pela efetivação dos direitos constitucionais, devendo, inclusive, promover as medidas necessárias à sua garantia junto ao poder público e aos serviços de relevância pública (Art. 129, II). Esta nova configuração funcional do MP.

(31) 30 foi possível em virtude de dois principais fatores. Em primeiro lugar, o fato do órgão ter sido desvinculado da estrutura do Poder Executivo, tornandose uma instituição independente em termos administrativos e funcionais. Em segundo, em razão das funções de defesa judicial e extrajudicial dos interesses do Estado terem sido assumidas pela Advocacia-Geral da União (AGU), criada pela CF/88 e pelas procuradorias dos estados e do Distrito Federal (DF), que foram desvinculadas dos MPs estaduais. Adicionalmente, o órgão teve sua estrutura expandida e aprimorada – principalmente em seu ramo comum – federal e estadual – e em seu ramo especializado do trabalho –, o que também tornou possível uma oferta melhorada de serviços judiciais.. Pode-se destacar a atuação do Ministério Público na defesa das desigualdades raciais em desfavor a cultura afrodescendente. E, assim, após o ato ofensivo poderá haver a responsabilização do agente que pratica a ação discriminatória, na esfera cível.. Assim, nas palavras de Simone Dubeux (2008, p.63-64): [...] Na Esfera Cível, a vítima buscará uma reparação pelos danos materiais sofridos (se aplicável), bem como uma compensação diante da ocorrência de danos morais. Essa compensação possuirá um caráter indenizatório pela ofensa ao bem jurídico tutelado. A indenização se dará pelo fato de a vítima ter sofrido um ato de ofensa, o qual lhe causou um dano que será compensado através de um valor pecuniário.. A esfera Cível passa a ser um caminho na busca da reparação do dano sofrido, todavia, é importante salientar que o valor pecuniário não tem como finalidade sanar o efeito psicológico do ofendido, pois foi agredido e desrespeitado a sua moral e dignidade. Enfim, esse seria outro campo de estudo. Importante é salientar que qualquer tipo de ofensa, em razão da cor, é considerado uma agressão à dignidade da vítima e isso pode ser considerado uma negação a obrigação moral do agressor, pois esse desrespeita um direito líquido e certo de igualdade, desse modo desencadeia uma demanda para o Estado (DUBEUX, 2008).. Como reforça Dubeux (2008, p.65): Acessar o Judiciário pela Câmara Cível não exclui a possibilidade de ingressar perante a Esfera Penal; dessa forma, poderão existir dois processos correndo simultaneamente, envolvendo as mesmas partes, os mesmos fatos, mas que visarão a finalidades distintas [...]..

(32) 31 Percebe-se que a ofensa racial, nos oferece dois caminhos judiciais para reparação do dano sofrido pela vítima. Portanto, dependendo do julgamento e da procedência da ofensa, através de provas e testemunhas, se condenado o agressor na esfera cível reparará o dano por meio de valor pecuniário, enquanto na esfera criminal a reparação se dá por pena privativa de liberdade.. Sobre o dano moral e como se dá a violação ao direito da personalidade, assim Dubeux (2008, p.66), esclarece: Na esteira da evolução da responsabilidade civil, o dano moral passa a ser entendido como uma violação a um direito da personalidade, ou seja, uma transgressão a qualquer um desses direitos, dando ensejo a indenização, independentemente da dor, vexame, sofrimento ou humilhação sofridos pela vítima. O magistrado deverá analisar, em vista das circunstâncias, o fato que causou a reparação para, posteriormente, arbitrar a indenização cabível. Normalmente, têm-se como critérios utilizados para determinar o valor indenizatório: a extensão do prejuízo sofrido, o grau de culpa e a situação econômico-financeira do agente e da vítima (grifo do autor).. Assim, quando houver a violação da personalidade da vítima, abre-se um pretexto para a indenização, pois foi transgredido seu direito. Entretanto, para que haja a resolução da ofensa, vários são os fatores que deverão ser analisados pelo magistrado, e a partir destes aspectos proferir uma decisão.. Portanto, nos esclarece Dubeux (2008, p.67): Com base em tais decisões, é possível perceber confusão no que tange ao dano efetivamente sofrido pela vítima, com as consequências advindas desse dano, ou seja, a humilhação sofrida. O juiz deverá concluir a ocorrência do dano moral analisando objetivamente as circunstâncias, ou seja, qualquer indivíduo em situação semelhante à vivenciada pela vítima perceberia o direito à indenização pela violação ao seu direito da personalidade. Assim, a dor, o sofrimento e o vexame se apresentariam no caso concreto como meros desdobramentos de um fato objetivo, qual seja, a violação a direitos da personalidade, estes sim, ensejadores de eventual compensação [...].. Torna-se claro o papel do magistrado, pois ele deverá conduzir e analisar o caso objetivamente a partir das circunstâncias em que a ofensa foi praticada. Tendo em vista que, o bem tutelado é intrínseco e individual, qual seja, o direito da personalidade..

(33) 32 Dessa forma, a contemplação da regra constitucional é um dos desafios para que o sistema de justiça atenda todos esses tipos de demandas, sempre orientado pelo sentido de que todos somos iguais perante a lei. Trata-se de um aspecto fundamental, pois elas trazem consigo a necessidade da conservação das raízes étnicas (RODRIGUES, 2010).. Para que se possa conviver em uma sociedade pacífica, menos opressiva e excludente se deve observar e repreender as práticas de discriminação racial, pois são atitudes que nos separam da possibilidade de uma convivência de bem-estar, harmônica e principalmente humanitária. Neste sentido, o acesso à justiça torna-se fundamental.. Mas o que se encontra atualmente no Brasil é que parcela da população não tem acesso aos serviços judiciais. E isso, com o passar do tempo, pode direcionar o seu foco de atuação para um grupo ou classe social, em detrimento de outros. Por isso, Rodrigues (2010) explica: Parte da população não tem acesso aos serviços de justiça, o que nos coloca diante do risco de que, com o tempo, a justiça (enquanto prestadora de serviços), direcione com maior ênfase seu foco de atuação para com uma classe ou grupo social, em detrimento de outros. O desenrolar gradual de uma justiça, que na prática, é visualizada como privada e que, em termos gerais, reconhece e reproduz, por um lado, a submissão entre os menos ricos, menos “estudados” e mais vulneráveis; e por outro lado, a perpetuação da impunidade, dos mais “estudados”, dos mais ricos, dos mais influentes e espertos ou simplesmente, daqueles que tiveram a sorte de não serem pegos.. Destarte, foi possível perceber que esse direcionamento poderá causar danos irreparáveis à sociedade. A impunidade ataca diretamente o princípio formal de justiça, pois deixa de tratar igualmente os casos iguais. Quando se permite que haja esse distanciamento entre o Judiciário e os grupos ou classes sociais se vê sanções desproporcionais o que deslegitimará o Estado e gerará conceitos errados sobre a defesa constitucional dos direitos individuais (RODRIGUES, 2010).. Antes do novo marco constitucional o acesso dos cidadãos brasileiros à justiça também encontrava dificuldades, nas palavras de Campos e Aquino (2016):.

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