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Tratando de aspectos mais abrangentes coloca-se em discussão o papel que a mídia exerce na reprodução e consolidação das práticas discriminatórias, principalmente para consolidar o seu poder no que tange à questão da justiça sobre as relações raciais na sociedade brasileira, por isso é importante destacar alguns pontos que são de extrema relevância para esse debate (MEDEIROS, 2007, p.28).

Deve-se reconhecer que os avanços tecnológicos da informação proporcionam o desenvolvimento do sistema de comunicação em todo o planeta, assim transcendendo todas as fronteiras. Desse modo, acaba impactando sobre as políticas governamentais e sobre as condutas e metodologias adotadas pelas sociedades, tanto de forma individual como pelos grupos sociais. Portanto, essa temática assume um importante papel no que diz respeito ao preconceito e à discriminação racial (MEDEIROS, 2007, p.28).

Ainda se encontra uma pequena parcela de afrodescendentes em cargos de chefias nos campos da mídia e isso só reafirma a necessidade de trilhar espaços para uma democracia racial que seja efetiva. Então, a adoção de medidas governamentais são de extrema importância para se concretizar as ações afirmativas, aquelas que visam contribuir para diminuir a condição de desigualdade que são enfrentadas por esse grupo étnico. (MEDEIROS, 2007, p.28)

Nas palavras de Hildézia Medeiros (2007, p.29):

Promover a participação plena e eqüitativa dos afrodescendentes nos meios de comunicação, inclusive na gestão e produção de programas; lutar para que haja uma distribuição eqüitativa dos postos decisórios nos governos e empresas; apoiar o desenvolvimento de meios de comunicação para difundir informação para, sobre e dos afrodescendentes; e, finalmente, fomentar campanhas que enfatizem a importância do engajamento na luta anti-racista, são tarefas democráticas que cabem a todos e todas aquelas que se sentem comprometidas com a construção de uma sociedade justa e com igualdade de oportunidades para todas as pessoas.

Pode-se partir do fato que a mídia acaba refletindo o que é a sociedade brasileira, ou seja, a mídia é também racista. Pois ela oferece um contributo negativo através dos seus vários meios, sejam eles: rádios, televisão, revistas, jornais, internet e isto acontece por não oferecer ao seu público imagens e discursos positivos relacionados a população negra, agindo assim, acaba conservando o racismo na sociedade (SANTOS, 2016).

É necessário que a mídia seja transparente na discussão dos assuntos raciais, pois quanto maior for a estimulação e a reflexão deste tema, maior será a contribuição para o debate na sociedade. Deve-se apresentar cada vez mais situações concretas de racismo, produzindo documentários que visam divulgar a contribuição de estudiosos do assunto (AJZENBERG, 2007 p.32).

Portanto, as questões relativas à solução da discriminação racial, são de uma maneira geral, complexas. E, por isso, a relação entre imprensa e sociedade é ainda mais complexa do que se pode apresentar. O direito à liberdade de imprensa se equivale ao direito à informação que é um direito social, e a sociedade se insere no direito à informação. Assim, quanto mais se falar sobre a democracia racial, mais a mídia vai reproduzir, estimular e trazer para o cotidiano da sociedade informações sobre esse tema (AJZENBERG, 2007 p.34).

Enfim, a imprensa de um modo geral deve ser incentivada a tratar desse assunto de uma forma pensada e estruturada. Os debates públicos sobre racismo, seria uma sugestão. É necessário mostrar para toda a sociedade que negros e brancos podem conviver harmonicamente, sem qualquer tipo de preconceito. Isso, deve ser incentivado pela mídia.

Nas palavras de Eduardo Henrique Pereira de Oliveira (2007, p.40):

Precisa ser modificada a imagem decorrente do fato de que a ascensão do negro na mídia está diretamente ligada ao futebol e à música. Pode-se questionar se essa forma de divulgação nacional e internacional não atrapalha a percepção da importância política e cultural dos negros. Na verdade, parte do racismo está calcada naquilo que as pessoas acham que são os papéis naturais que indivíduos e grupos devem desempenhar na sociedade, na idéia de que a natureza dá a diferentes pessoas algum tipo de facilidade ou habilidade para atividades diferentes. O fato de os negros

terem sido trazidos para o Brasil e para as Américas como escravos, certamente, tinha muito a ver com essa percepção do significado do aspecto físico no desempenho, na vida do negro. E muito dos estereótipos que continuamos reproduzindo sobre os negros ainda resultam dessas percepções da natureza interior das pessoas. [...].

Valorizar o coletivo passa a ser fundamental, pois o grupo tem um papel essencial na formação e trajetória de um indivíduo. E a mídia pode auxiliar no sentido de mostrar para a sociedade brasileira que os negros podem sim ser: juízes, sociólogos, médicos, entre outras profissões. Importante, mostrar que os negros têm um papel fundamental para a construção da sociedade, e eles precisam ser vistos num mesmo grau de igualdade.

A partir deste contexto, percebe-se que a mídia é capaz de produzir e reproduzir o que é de interesse de determinadas classes sociais e grupos econômicos. Nesse sentido, a música é uma forma de transmissão de conceitos e sentimentos, ou seja, a partir de sua composição e interpretação será colocada em evidência pelos meios de comunicação. Portanto, optou-se pela análise de um caso específico, a partir de uma música composta e interpretada por Francisco Everardo Oliveira Silva, humorista e atualmente deputado federal pelo Estado de São Paulo, popularmente conhecido como “Tiririca”, intitulada Veja os cabelos dela (grifo nosso), abaixo:

Veja os cabelos dela Tiririca

(Alô gente, aqui quem fala é Tiririca Eu também estou na onda do axé music Quero vê os meus colegas tudo dançando) Veja veja veja veja veja os cabelos dela Veja veja veja veja veja os cabelos dela Veja veja veja veja veja os cabelos dela Veja veja veja veja veja os cabelos dela Parece bom-bril, de ariá panela

Parece bom-bril, de ariá panela Quando ela passa, me chama atenção Mas os seus cabelos, não tem jeito não A sua caatinga quase me desmaiou Olha eu não aguento, é grande o seu fedor Veja veja veja veja veja os cabelos dela Veja veja veja veja veja os cabelos dela Veja veja veja veja veja os cabelos dela Veja veja veja veja veja os cabelos dela

Parece bom-bril, de ariá panela Parece bom-bril, de ariá panela Eu já mandei, ela se lavar

Mas ela teimo, e não quis me escutar Essa nega fede, fede de lascar

Bicha fedorenta, fede mais que gambá (Vamo todo mundo agitando, com Tiririca)

Veja veja veja veja veja os cabelos dela (12x). (TIRIRICA, 2016).

A referida letra representa um grave desrespeito a mulher negra, tendo em vista que retrata que o cabelo da mulher negra se parece com uma esponja de ação, normalmente utilizada na limpeza de panelas, além de fazer referências ao cheiro quando diz que “essa nega fede”. Portanto, deveria ser proibida a sua reprodução, pois expõe a mulher negra, desrespeitando-a.

Em razão do conteúdo da letra foi ajuizada ação civil pública que tramitou no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro sob o número 0032791- 25.1997.8.19.0001, tendo sido julgada em 10/02/2004, conforme ementa que segue:

EMENTA: Ação Civil Pública. Não constituí cerceamento de defesa o julgamento antecipado da lide com indeferimento das provas pericial e testemunhal requeridas pelas partes, por se verificar, diante do conjunto de elementos carreado aos autos, que tais provas não são necessárias à formação da convicção do julgador. O direito à preservação da imagem das diversas etnias que integram nosso país, entre as quais a negra ou afro- brasileira, constitui direito difuso, ensejando o emprego da Ação Civil Pública para coibir sua violação, tendo as associações autoras legitimidade para sua propositura, visto terem sido constituídas há mais de um ano antes do ajuizamento tendo como objetivos sociais, fundamentalmente, defender os direitos dos cidadãos e enfrentar a discriminação ou o preconceito de raça. Composição musical cuja letra contém expressões altamente ofensivas à mulher de etnia negra, que é retratada de forma pseudo jocosa como feia e cheirando mal. A absolvição do autor da música no juízo criminal, por entenderem os julgadores não estar caracterizado crime de racismo apenado pela Lei n° 7.716/89, face à ausência de dolo específico, não impede a propositura em face do produtor fonográfíco de Ação Civil Pública com base no artigo 1°, IV, da Lei n° 7.347/85, para a qual não é necessário o dolo, bastando que fique caracterizado o dano ao direito difuso. Culpa da empresa produtora do fonograma que deixou de proceder a uma análise do conteúdo ofensivo da obra ao adquirir os respectivos direito autorais. Valor da indenização a ser fixado no valor aproximado do lucro obtido pela Ré com a venda da obra, devendo ser recolhido ao Fundo de Defesa de Direitos Difusos, criado pela Lei n° 9.008/95 e regulamentado pelo Decreto n° 1.306/94, na forma preconizada no artigo 13, da Lei no 7.347/85, para ser utilizado em programas contra o preconceito racial. Ônus sucumbenciais fixados na forma preconizada no parágrafo único do art. 21 do CPC, em vista de ter sido o pedido dos Autores atendido, havendo tão somente uma redução quantitativa, o que se reflete nos honorários

sucumbenciais, fixados em função do valor da condenação. Conhecimento e provimento parcial da apelação. (RIO DE JANEIRO, 2004).

Portanto, trata-se de uma ação civil pública movida por duas ONGs – Organizações Não Governamentais, que são organizações formadas pela sociedade civil sem fins lucrativos e que tem como missão a resolução de algum problema da sociedade, seja ele econômico, racial, ambiental, e etc, ou ainda a reivindicação de direitos e melhorias e fiscalização do poder público (FARIA, 2016), que lutam para combater o preconceito racial, são elas, CEAP – CENTRO DE ARTICULAÇÃO DAS POPULAÇÕES MARGINALIZADAS que é uma organização não-governamental, sem fins lucrativos, sem vinculação partidária ou religiosa. A recorrente violação dos direitos fundamentais das classes menos favorecidas foi a grande inspiração para a criação da entidade (CEAP, 2016), e CRIOLA que é uma organização da sociedade civil conduzida por mulheres negras. Que atuam na defesa e promoção de direitos das mulheres negras em uma perspectiva integrada e transversal, em face a gravadora SONY MUSIC ENTERTAINMENT (BRASIL) INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA.

Nessa a ação as ONGs buscavam a indenização por dano moral coletivo, pois os versos da música possuem conteúdo racista que reforçavam os estereótipos racistas, que transmitiam uma ideia de inferioridade da população negra em relação à branca.

As ONGs haviam solicitado a condenação da ré em R$ 3.000.000,00 (três milhões de reais), verba que seria destinada a criação de programas educacionais antirracistas para o público infanto-juvenil a serem veiculados nas rádios, canais de televisão, salas de cinemas e, ainda, para produção de material impresso sobre cidadania destinado à distribuição nas escolas públicas e privadas das redes de primeiro e segundo grau escolar em todo o Estado do Rio de Janeiro (DUBEUX, 2009, p. 53).

Na sentença o juiz acabou julgando antecipadamente a lide, pois considerou desnecessária a produção de prova oral além de rejeitar a preliminar de ilegitimidade da causa dos autores suscitada pela ré, entendendo que estes são partes legitimas da ação. Já no mérito, o entendimento foi que a letra da composição não se tratava

de uma ofensa à mulher negra, sob o viés que a expressão “nega” pode ser constituída na figura de uma brincadeira ou até mesmo carinhosa de se tratar alguém, independentemente da cor, dessa forma não se configuraria qualquer discriminação. Dessa forma, julgando improcedente o pedido dos autores, sem condená-los ao pagamento das custas e taxa judiciária (RIO DE JANEIRO, 2004).

As apelantes apresentaram razões, a qual visaram arguir a preliminar de nulidade da sentença por protestarem pela produção de prova pericial que também foi solicitada pela ré. Aqui as autoras visavam demonstrar através de laudos técnico- científicos nas áreas de psicopedagogia infantil, antropologia social e comunicação social, os danos causados, aferir o potencial ofensivo e o alcance da mensagem racista veiculada pela apelada no meio social, sendo assim sua produção fundamental ao deslinde da questão, além de alinhar ensinamentos doutrinários sobre dano moral coletivo. Já no mérito, reforçaram a argumentação anteriormente expendida no tocante ao conteúdo ofensivo à etnia negra da letra em questão (RIO DE JANEIRO, 2004).

A apelada ofereceu contrarrazões (RIO DE JANEIRO, 2004).

A Promotoria de Defesa da Cidadania após tornar ciência da sentença, informou que não recorreria da mesma por concordar com os fundamentos (RIO DE JANEIRO, 2004).

Enquanto a Procuradoria de Justiça, pronunciou-se, pelo acolhimento da preliminar de nulidade da sentença, tendo em vista entender que o indeferimento das provas cuja produção as partes protestaram implicou em cerceamento de suas defesas. Quanto ao mérito, entende que restou caracterizado o dano ao direito difuso, que ao seu entendimento independente de dolo ou culpa, por se tratar de relação de consumo, opina pelo provimento de ambos os recursos para julgar procedente o pedido, além de considerar justo e razoável o valor da indenização que fora pedido pelos apelantes (RIO DE JANEIRO, 2004).

Quanto ao voto do relator, este foi no sentido de acolher a decisão do juiz que indeferiu a produção de provas por entender que não havia necessidade de provar

fatos através de testemunhas. Sendo que, o direito à preservação da imagem das diversas etnias que integram o Brasil, entre as quais a negra faz parte, fundamentalmente é promovida pela Constituição Federal, quando o assunto é bem- estar de todos, sem preconceitos de qualquer natureza, portanto se houver direitos difusos sendo violados poderão ser coibidos ou reparados através de Ação Civil Pública (RIO DE JANEIRO, 2004).

Dessa forma, as apelantes constituídas há mais de ano quando do ajuizamento da ação, tendo como objetivo a proteção dos direitos dos cidadãos e enfrentamento a discriminação ou o preconceito de raça, assim estão legitimadas ao exercício da Ação Civil Pública, ou seja, aplicando-se na defesa de qualquer direito e interesse difuso (RIO DE JANEIRO, 2004).

Quanto ao mérito, feita a análise da letra da música, apesar do entendimento de que a pretensão do autor e compositor da letra era de se referir a uma determinada pessoa, não evita que o ouvinte da música associe tais características com a etnia negra em geral. Portanto, provocando um sentimento de humilhação e fortalecendo o preconceito racial em desfavor de pessoas de pele negra, que ainda se encontra arraigada na sociedade brasileira. Nesse sentido, a letra da música vem em desencontro ao que o Estado Brasileiro tem se esforçado para combater o preconceito, através das normas constitucionais e legais, além de tratados internacionais (RIO DE JANEIRO, 2004).

Importante salientar, que para a procedência da Ação Civil Pública, não se faz necessário o dolo, bastando que fique caracterizado o dano a direito difuso que no caso em questão se faz presente. De tal modo, configura-se a culpa da apelada, pois a mesma deveria averiguar previamente o conteúdo da letra da música, de forma a garantir que o mesmo não ofendesse direitos de terceiros (RIO DE JANEIRO, 2004).

Apresentando-se, entretanto, um valor de indenização elevado de R$ 3.000.000,00 (três milhões reais) solicitado pelos apelantes, sendo considerado ausente o dolo, bem como a conduta da apelada, que sempre prestigiou artistas e movimentos culturais da etnia negra. Entretanto, a indenização deve servir de

desestímulo para a apelada e outras produtoras culturais a fim de que adotem os devidos cuidados no sentido de impedir que os meios de comunicação disseminem o preconceito contra grupos étnicos (RIO DE JANEIRO, 2004).

Pelo exposto, entende-se que o valor a ser fixado corresponda no mínimo ao lucro ganho pela apelada na venda do disco, estimando tal lucro em aproximadamente R$ 300.000,00 (trezentos mil reais). Tal quantia, seria empregada na utilização em programas contra o preconceito racial (RIO DE JANEIRO, 2004).

Dessa forma, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro conheceu a apelação e deu provimento parcial, condenando a apelada a pagar 10% (dez por cento) do que foi pleiteado, acrescida de correção monetária e juros legais a contar da data da citação. Essa quantia foi depositada no Fundo de Defesa de Direitos Difusos (RIO DE JANEIRO, 2004).

Mesmo assim, a apelada recorreu da decisão. Entretanto, seu pedido foi improvido além de ser determinado a elaboração de novos cálculos sobre o valor devido acerca da incidência de juros e correção monetária (RIO DE JANEIRO, 2004).

Destarte, o valor pecuniário não é o mais importante nesta ação, pois o que se deve destacar é a criação de jurisprudência, o que até então não havia para casos de racismo. Assim, o Judiciário dá um passo respeitável no reconhecimento dos direitos e das garantias fundamentais dos cidadãos de pele negra (RIO DE JANEIRO, 2004).

Desse modo, a indenização por dano moral em razão da discriminação racial é uma forma de reconhecimento a dignidade da pessoa humana, por isso os Tribunais do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo estão compartilhando desse entendimento:

APELAÇÃO CÍVEL. PEDIDO INDENIZATÓRIO POR DANO MORAL, JULGADO PROCEDENTE. DISCRIMINAÇÃO RACIAL. PROVA TESTEMUNHAL CONSISTENTE E EM HARMONIA COM O CONJUNTO PROBATÓRIO. OFENSA A HONRA SUBJETIVA CONFIGURADA. DANO MORAL DEVIDO. VALOR INDENIZATÓRIO. MINORAÇÃO DO

MONTANTE EM HOMENAGEM AOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE, OBSERVADAS AS PARTICULARIDADES DO CASO EM ANÁLISE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. A injúria, que consiste na ofensa à dignidade ou ao decoro, manifestada através de expressão ultrajante, termo pejorativo ou simplesmente de conteúdo depreciativo, constitui forma de lesão à honra e configura o dano moral, sujeito à reparação pelo ofensor. 2. A fixação da indenização deve ser norteada de maneira proporcional e razoável, a recompensar a vítima pelo abalo moral e psíquico sofrido, aferíveis no caso concreto, bem como impingir medida pedagógica ao autor do ilícito.

(TJ-PR - AC: 3920936 PR 0392093-6, Relator: José Simões Teixeira, Data de Julgamento: 18/10/2007, 8ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ: 7492). (PARANÁ, 2007).

Denota-se, então, que em grau de recurso houve confirmação da sentença de 1º grau e fixado um “quantum” indenizatório pela ofensa à dignidade humana do ofendido.

Na mesma linha de entendimento é a decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, na ação de recurso nº 71003959152, tendo como Relator Des. Lucas Maltez Kachny, assim se posiciona:

INDENIZATÓRIA. DISCRIMINAÇÃO RACIAL E CONSTRANGIMENTO SOFRIDO NO FORUM DE RIO GRANDE. DANOS MORAIS. DISCRIMINAÇÃO RACIAL PROFERIDA PELA RÉ CONTRA A AUTORA. COMPROVADO O FATO DE A RÉ TER CHAMADO A AUTORA DE "NEGRA" SEGUIDO DE OFENSAS EM AMBIENTE PÚBLICO E EM TOM DEPRECIATIVO. CASO EM QUE A PARTE AUTORA TERIA SERVIDO DE TESTEMUNHA EM OUTRO PROCESSO EM QUE A RECORRIDA É RÉ. NESTE CONTEXTO A RÉ PROFERIU PALAVRAS OFENSIVAS E RACISTAS À AUTORA COMO RESPOSTA. TESTEMUNHA A CONFIRMAR O FATO. COMENTÁRIO COM CONOTAÇÃO RACISTA E OFENSIVO, ENSEJADOR DE ABALO MORAL. VALOR FIXADO PARA INDENIZAÇÃO PELOS DANOS MORAIS DE ACORDO COM A GRAVIDADE DO FATO ATENDENDO ÀS FUNÇÕES REPARATÓRIA, PEDAGÓGICA E PUNITIVA, BEM COMO A CAPACIDADE ECONÔMICA DAS PARTES. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (Recurso Cível Nº 71003959152, Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Lucas Maltez Kachny, Julgado em 28/05/2013).

(TJ-RS - Recurso Cível: 71003959152 RS, Relator: Lucas Maltez Kachny, Data de Julgamento: 28/05/2013, Primeira Turma Recursal Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 31/05/2013). (RIO GRANDE DO SUL, 2013).

Na verdade, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, considerando as ofensas em ambiente público, configurando o constrangimento sofrido pela parte.

Não são diferentes as manifestações do Tribunal de Santa Catarina e de São Paulo quando ambos os Relatores confirmaram a indenização em razão da discriminação racial e social, restando, portanto, comprovado que houve dano:

APELAÇÕES CÍVEIS. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DANOS MORAIS. MÉDICO DO MUNICÍPIO QUE PROFERE OFENSAS À PACIENTE. OFENSAS DE CUNHO PEJORATIVO EM RELAÇÃO À RAÇA NEGRA. DISCRIMINAÇÃO RACIAL. PROVA TESTEMUNHAL QUE ATESTA A CONDUTA DO PREPOSTO. DEVER DE INDENIZAR INARREDÁVEL. QUANTUM REDUZIDO. RECURSOS CONHECIDOS E PARCIALMENTE PROVIDOS.

(TJ-SC - AC: 20110264055 São João Batista 2011.026405-5, Relator: Júlio César Knoll, Data de Julgamento: 03/07/2014, Quarta Câmara de Direito Público,). (SANTA CATARINA, 2014).

Ação de indenização por danos morais decorrentes de ofensas proferidas por preposto da ré contra o autor. Motorista de ônibus que, durante discussão, profere contra o autor expressões que denotam discriminação racial e social. Prova que atesta a humilhação pública sofrida. Dano moral configurado. Apelo restrito ao "quantum" fixado na origem que merece, efetivamente, ser elevado. Sentença de procedência parcial essencialmente mantida (art. 252, RITJSP). Apelação parcialmente provida.

(TJ-SP - APL: 00042763220128260268 SP 0004276-32.2012.8.26.0268, Relator: Cesar Ciampolini, Data de Julgamento: 11/08/2015, 10ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 05/11/2015). (SÃO PAULO, 2015).

Observa-se, contudo, que em sua grande maioria, os Tribunais de todo país, nos casos de indenização por dano moral quando se trata de discriminação racial,

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