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Novas perspectivas a partir da análise jurisprudencial

Apesar de haver uma certa morosidade nas decisões que envolvem o tema racismo, estas devem ser tratadas como um marco na luta contra as desigualdades raciais. Mostra-se que o Judiciário abriu suas portas para a defesa desses grupos étnicos. O Ministério Público passa a ser cada vez mais atuante nas causas de discriminação racial e as comissões de direitos humanos oferecem o alicerce na defesa da igualdade racial.

É importante destacar que o ingresso a justiça ficou facilitado. Portanto, a ofensa de cunho racial que atinja um elevado número de pessoas e que tenha como objetivo menosprezar os cidadãos de pele negra, passa a ter um olhar mais crítico e

taxativo, assim as ações pecuniárias, através da indenização por dano moral, passam a legitimar a lesão causada pelo agente da ação.

Nessa linha, percebe-se que o dano moral é uma das tipificações mais recorrentes, pois na grande maioria das vezes a pessoa ofendida busca uma indenização pela ofensa ao bem jurídico tutelado. Essa ofensa se dará pelo ofendido ter sofrido um ato de insulto, o qual lhe causa um dano compensado por um valor pecuniário. (DUBEUX, 2008, p.69).

Sobretudo, a busca dessas indenizações, são uma maneira de resgatar a integração moral desses grupos, pois o que se procura é o reconhecimento, o respeito e a consideração, todos esses sancionados pelo Estado. Então, deve-se proibir a circulação de mídias que contenham ofensas raciais. Assim, o papel do Ministério Público e das Comissões de direitos humanos têm uma função social extremamente importante.

Destarte, o dano moral passa a ser entendido como uma violação ao direito da personalidade que transcende a qualquer direito da pessoa humana sendo que dessa transgressão enseja a indenização, independentemente da humilhação, sofrimento, dor, entre outros, que a vítima tenha sofrido. Desse modo, os danos morais passam a ter um papel reparatório em vistas das circunstâncias e também da extensão do prejuízo causado. Assim, toda lesão à dignidade humana, que pode ser compreendida como a violação à liberdade, à igualdade e à solidariedade, desencadeia a possibilidade de reparação.

CONCLUSÃO

Constata-se que a discriminação racial no Brasil ainda é muito presente, pois pode-se verificar em diversos setores da sociedade a exclusão da população negra. Dessa forma, mesmo que marcada pela dívida social histórica, a Constituição Federal de 1988 é um marco na inserção da igualdade e nos direitos inerentes a dignidade da pessoa humana.

Desse modo, compreende-se que apesar de sustentar-se uma hierarquia no Brasil, em que os ideais de liberdade propostos na Constituição trouxessem mudanças igualitárias significativas, pois a falta de oportunidades em razão da cor da pele acaba acarretando uma condição social e financeira inferior em relação aos demais grupos da sociedade.

Portanto, a Constituição tem o dever de garantir o reconhecimento da dignidade da pessoa humana tanto no contexto social, educacional, econômico e político. Desse modo, deve-se visar a promoção do bem-estar de todos, sem qualquer tipo de discriminação racial, tendo a igualdade como direito fundamental.

No entanto, em consequência da cultura discriminatória e mesmo com a proteção legal, inúmeros casos de discriminação racial são evidenciados para a sociedade. Sendo que, a discriminação também vem sendo propagada pela mídia e por manifestações culturais, como no caso estudado neste trabalho.

A partir disso, o combate à discriminação racial passa a inovar e estimular os movimentos sociais negros com a proposta de incluir o tema racial nas agendas das políticas públicas, com a finalidade de efetivar a promoção da igualdade racial.

Assim, o Ministério Público e as Comissões de Direitos Humanos passam a ter uma função de cunho social com repercussões abrangentes na defesa dos negros.

Assim sendo, o Ministério Público opera no enfrentamento as desigualdades raciais através de Ações Civis Públicas que vêm aperfeiçoando a ascensão da igualdade racial, por meio de embates políticos e sociais. Todavia, a função mais ampla é a de zelar pela efetivação dos direitos constitucionais dos interesses difusos e coletivos.

A despeito, a atuação do Ministério Público quando atua em defesa das desigualdades raciais abre um precedente quanto ao ofensor, responsabilizando o agente que pratica o ato, através de sanção civil. Dessa forma, a esfera cível passa a ser um reparador do dano sofrido, pois ocorre a violação a um direito da personalidade, assim dando causa a indenização.

Conclui-se que para se conviver de forma pacífica, justa e igualitária é imperioso que a discriminação racial seja repreendida. Com a ampliação do judiciário efetivada, os grupos e classes sociais menos favorecidos passam a reconhecer a igualdade e efetivar os direitos da pessoa humana. O sistema de justiça assegura a possibilidade de resolução dos conflitos e a busca no combate à discriminação racial. Portanto, em decorrência das medidas civis para reparar os danos suscitados pela discriminação, as indenizações por dano moral, tem o intuito de minimizar o ato praticado.

Ressalta-se a pesquisa jurisprudencial realizada, pois se percebe ainda certa resistência dos tribunais, em acolher o total provimento das ações que visam o ressarcimento dos atos raciais, em dano moral. Assim, torna-se evidente que temos que evoluir em todos os setores, seja social, político e judicial.

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