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OS CAMINHOS DA MATA: RECURSOS NATURAIS, EXPANSÃO AGRÁRIA E MIGRAÇÕES PARA FRONTEIRAS AGRÍCOLAS NO NORDESTE MINEIRO NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX

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OS CAMINHOS DA MATA: RECURSOS NATURAIS,

EXPANSÃO AGRÁRIA E MIGRAÇÕES PARA

FRONTEIRAS AGRÍCOLAS NO NORDESTE

MINEIRO NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX∗

Eduardo Magalhães Ribeiro♣ Flávia Maria Galizoni♦ Ana Adalgisa Simão♦

Palavras-chave: recursos naturais, população rural, migrações,

Resumo

Este artigo discute alguns aspectos relacionados a movimentos populacionais e recursos naturais na vasta fronteira agrícola de mata atlântica que compreendeu o Nordeste de Minas Gerais até meados do século XX. Procura analisar o povoamento e o uso dos recursos na região, comparando-os na região de origem da maior parte dos migrantes - vale do Jequitinhonha - e na área nova de fronteira. Para isto usa as informações qualitativas e quantitativas disponíveis na literatura de história e memória regional; esta documentação estrutura o roteiro básico do texto. E, experimenta combinar a estas, informações quantitativas extraídas dos Censos Demográficos de 1920, 1940, 1950 e 1960, usando os dados comparáveis sobre população, recursos naturais, fertilidade natural da terra e área remanescente ou revegetada de florestas. Assim, procura mapear o povoamento e o uso do ambiente na região recorrendo simultâneamente às duas fontes distintas para compreender os nexos entre população e recursos. O artigo inicia descrevendo ligeiramente as características e povoamento regionais; em seguida, analisa sua evolução por município e busca associa-lo à produção agopecuária e sobretudo à oferta de áreas novas de floresta; por último, procura discutir a relação entre população, produção e disponibilidade de recursos naturais, avaliando a importância destes para o crescimento extensivo da economia agrícola regional. Conclui que há uma relação direta entre crescimento populacional e consumo da floresta; inversamente, as migrações que esvaziam alguns municípios conduzem à recomposição quantitativa das florestas naturais; assim, aponta para a possibilidade de existir uma certa circularidade na relação entre população e recursos naturais do cerrado. Estes recursos naturais originaram a riqueza local; seu consumo sem limites e a impossibilidade de criar alternativas diversificadas e sustentáveis deu lugar à persistente estagnação econômica que marca estes municípios desde meados do século XX.

Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú-

MG – Brasil, de 20- 24 de Setembro de 2004.

Economista, professor da UF de Lavras, pesquisador CNPq; e-mail aureoemr@ufla.br .

Antropóloga, doutoranda IFCH/Unicamp, bolsista CNPq; e-mail: flaviagalizoni@yahoo.com.br . Mestranda PPGA/UFLA, e-mail: anaadaldisa@hotmail.com.br.

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OS CAMINHOS DA MATA: RECURSOS NATURAIS,

EXPANSÃO AGRÁRIA E MIGRAÇÕES PARA

FRONTEIRAS AGRÍCOLAS NO NORDESTE

MINEIRO NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX∗

Eduardo Magalhães Ribeiro♣ Flávia Maria Galizoni♦ Ana Adalgisa Simão♦

I. Introdução

Nos cem anos compreendidos entre meados do século XIX e a metade do século XX o Nordeste de Minas Gerais - principalmente a sua porção que então era coberta por matas - foi um desejado e persistente destino para milhares de lavradores. É a área que em começos do século XXI compreende os vales do Mucuri e baixo Jequitinhonha, consideradas regiões mineiras de estagnação persistente. Os migrantes saiam de localidades deste mesmo Nordeste, de distritos mais ao Norte - Rio Pardo, Salinas, Espinosa -, ou da região da Bahia ali fronteiriça, o Sudoeste baiano.

Para a população que vivia nas regiões centrais, sul ou oeste de Minas Gerais, os vastos Leste, Nordeste e Norte mineiro nesta época confundiam-se; nos textos de época os autores referiam-se a esses lugares com denominações imprecisas, descrevendo-as como regiões remotas e primitivas, embora acreditassem que também seriam locais de muito futuro, que no presente deveriam ser evitados. O Nordeste de Minas era então, como os geógrafos vieram depois a denominar, uma vasta fronteira agrícola que permaneceu aberta até bem avançado o século XX. Um bom exemplo desta imagem da "parte de cima" do mapa de Minas Gerais está na literatura de viagem de Álvaro da Silveira, nas memórias de frei Olavo Timmers, no estudo de John Wirth, nas lembranças de Ceciliano de Almeida: locais doentios e violentos, eles contrastavam duramente com o cenário do rural bucólico que, alguns anos mais tarde, os documentários cinematográficos de Humberto Mauro revelariam - com a paz dos campos, o carro de boi à luz do pôr-do-sol, a boa e farta cozinha, a hospitalidade - e que compuseram tudo isso que depois veio a ser considerada a típica paisagem mineira.

Mas, percebia-se a "parte de cima" de Minas assim, apenas se vista de fora. Para a memória de seus próprios moradores, aquela região era muito diferentes da imagem que viajantes perceberam. Principalmente, vista pela memória ou pela história local, aqueles Leste, Norte e Nordeste eram, antes de mais nada, profundamente diferentes entre si. Percebe-se na lembrança regional uma valorização do localismo, uma crença nas forças próprias e na capacidade empreendedora dos cidadãos e capitais das localidades. Curiosamente, esta percepção se aproxima bastante da concepção de "desenvolvimento local" e "economia local" que o ambientalismo tem tornado difundidos e obrigatórios na reflexão sobre desenvolvimento no início do século XXI.

Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú-

MG – Brasil, de 20- 24 de Setembro de 2004.

Economista, professor da UF de Lavras, pesquisador CNPq; e-mail aureoemr@ufla.br .

Antropóloga, doutoranda IFCH/Unicamp, bolsista CNPq; e-mail: flaviagalizoni@yahoo.com.br . Mestranda PPGA/UFLA, e-mail: anaadaldisa@hotmail.com.br.

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Focando então o Nordeste mineiro, e, mais precisamente, os vales do Mucuri e Jequitinhonha, pode-se perceber que a homogeneidade da região era, já em começos do século XX, apenas aparente.

O vale do Jequitinhonha nunca teve nada de homogêneo. A parte alta do vale, marcada pela vegetação de cerrado, começou a ser sistematicamente colonizado em inícios do século XVIII, com o povoamento originário da mineração na área de campos, capões e chapadas das cabeceiras do rio. A região de florestas, mata atlântica na parte baixa e ainda mineira do rio, só começou a ser explorada por colonos entre inícios e meados do século XIX, quase um século depois. Cem anos após a fundação de Minas Novas, por volta de 1820, o botânico francês Auguste de Saint-Hilaire ainda encontrou um antigo bandeirante, José Pereira Freire de Moura, planejando entradas para explorar a mata do baixo Jequitinhonha. O outro componente destas matas do Nordeste era o vale do Mucuri, que recebeu o povoamento colonizador mais tarde ainda, a partir de meados do século XIX. A primeira viagem pelo rio minuciosamente registrada foi realizada pelo engenheiro Pedro Victor Renault, nos anos 1830; ela forneceu a base para o empreendimento colonizador de Teófilo Benedito Otoni no rio Mucuri, que foi planejado nos anos 1840 e executado nos anos 1850.

Jequitinhonha e Mucuri, apesar de distâncias aparentes que os apartaram depois da segunda metade do século XX, foram até então uma só aventura: um povoamento colonizador feito pelo empenho de lavradores e mateiros, que abandonavam uma terra de abundância e oportunidades cada vez mais raras - o alto Jequitinhonha - e buscavam áreas de lavouras e fortuna nas matas do Mucuri e baixo Jequitinhonha. Esta foi a trajetória comum a milhares de pessoas entre meados do século XIX e meados do século XX, até quando os migrantes do alto Jequitinhonha descobriram as lavouras do Paraná e de São Paulo com suas novas oportunidades. Mas, até então, alto e baixo Jequitinhonha e Mucuri cumpriram uma trajetória comum: origem e destino de uma migração contínua e próxima que consolidou uma forte identidade cultural, familiar e econômica.

Esta mobilidade populacional tornou-se imperceptível depois do meio do século XX, quando as rodovias ligaram o Nordeste mineiro às capitais e a centralização política dos anos de ditadura militar tornaram todo este regionalismo desnecessário. Os movimentos discretos de mateiros, lavradores, madereiros e coletores desapareceram, dando lugar a uma história marcada por bens de maior vulto e principalidade econômica, como o boi gordo e as pedras preciosas, os planos de desenvolvimento e o combate à pobreza.

Este artigo pretende discutir alguns aspectos desta mobilidade de população, relacionando movimentos populacionais aos recursos naturais disponíveis no Mucuri e Jequitinhonha mineiros entre as décadas de 1920 e 1960. Procura estudar o povoamento e evolução populacional regional associando-os às informações - orais, literárias e quantitativas - disponíveis sobre produção agropecuária, mobilidade e recursos naturais. Para isto, primeiramente utiliza informações qualitativas disponíveis na literatura de história e memória regional; ela constitui o roteiro que fundamenta o texto; combina a estas informações orais sobre sistemas produtivos e dados quantitativos sobre população e recursos florestais extraídos dos Censos populacionais de 1920, 1940, 1950 e 1960. Assim, procura compreender o povoamento da região associado aos recursos ambientais, recorrendo simultâneamente às fontes distintas, buscando os diálogos possíveis entre essas informações frequentemente tão disparatadas.

Nas partes seguintes o artigo descreve as características regionais, povoamento e sistemas agrários; em seguida, analisa a evolução quantitativa do povoamento e busca associa-lo à produção agopecuária; por último, procura discutir a relação entre população, agropecuária e disponibilidade de recursos naturais, avaliando a relevância destes para o crescimento extensivo da economia agrícola regional. Tais recursos naturais, acredita-se, originaram a riqueza local; seu consumo sem limites e a ausência de criação de alternativas

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diversificadas e sustentáveis deram lugar à persistente estagnação econômica que marca esta região desde meados do século XX.

Antes de entrar propriamente no tema do artigo é necessário um esclarecimento de ordem metodológica. No correr do século XX foram usados diferentes critérios nos diversos recenseamentos: a definição de categorias ocupacionais, o conceito de unidade de produção, as classes de informações coletadas mudaram. Isso cria dificuldades, às vezes insuperáveis, de comparação. Embora o pesquisador sinta-se tentado por determinada informação de um censo, acaba por despreza-la diante da impossibilidade de dispor de informações comparáveis nos demais censos. Isso representa um enorme desafio, pois esses censos mesmo precáios são as fontes mais abrangentes disponíveis sobre população e recursos naturais, mesmo que esses aparecessem às vezes de forma muito enviesada. Por isso os resultados apresentados neste artigo dizem respeito apenas àqueles dados censitários que puderam ser comparados, pois municípios, perguntas, categorias e critérios modificaram-se muito no correr deste quase meio século de recenseamentos. A desigualdade das informações levou, então, os pesquisadores a desconfiarem até excessivamente dos seus dados, principalmente aqueles que apontavam para informações muito localizadas - como indicadores de produtividade e povoamento distrital. Mas, de qualquer forma, estes são os dados disponíveis; aos pesquisadores resta apenas fazer sua crítica, tomar seus cuidados e alertar ao leitor.1

II. Jequitinhonhas e Mucuri

O povoamento do vale do Jequitinhonha começou pelo alto rio, estimulado inicialmente pela mineração; com o declínio das lavras a população da região estabilizou-se até meados do século XIX, quando então começou uma demorada transumância na direção leste, rumo à floresta atlântica, rumo ao Mucuri e baixo Jequitinhonha. Embora próximas e, à distância, confundidas, estas regiões tem características muito particulares, que as diferenciam em termos de ambientes, trajetória de povoamento e economia. (Ottoni, 1847; Timmers, 1969; Duarte, 1972).

Para permitir combinar os dados censitários e a conformação ambiental neste artigo denomina-se alto Jequitinhonha à região situada acima da foz do rio Araçuaí; baixo Jequitinhonha aqui denomina toda a região compreendida entre a foz do rio Araçuai e a divisa da Bahia; o Mucuri compreende a porção mineira da bacia deste rio.

O alto Jequitinhonha é formado por cerrados em todas as suas gradações - campo limpo, campo sujo, cerrado estrito senso e cerradão - que recebem, como em toda a região coberta por esta vegetação, denominações muito locais. A paisagem também tem especificidade bem marcada: grandes chapadas, de altitudes que variam entre 900 a 1000 metros, entrecortadas por depressões profundas de vales que recebem na região a denominação de grotas. Chapadas e grotas formam um par de muitas oposições, sendo a primeira quase estéril e mais úmida, com precipitações anuais entre 1200/1400 mm, e o fundo da grota muito fértil e mais seco, com média de 800 mm/ano de pluviosidade; por isto a grota é o lugar por excelência da moradia e lavoura, e a chapada a área de soltas de animais. As chapadas são extensos planaltos, geralmente cobertas por vegetação de campo e campo sujo, com terrenos de escassa fertilidade. As grotas são as vertentes das chapadas, em cujo fundo correm as águas de córregos e rios; a fertilidade da terra da grota tende a ser crescente quanto mais próxima do fundo dos vales, que quase sempre, também, são cobertos por vegetação de porte elevado, cerradões, que os moradores da região denominam matas ou capões. Estes, geralmente, indicam terras muito boas para lavouras, e são preferidos para serem derrubados com o propósito de "botar roçados" (Pereira, 1969; Ferri, 1973; Ribeiro e Galizoni, 2000).

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Dada a conformação da vegetação dos campos, que correspondem à maioria da área do alto Jequitinhonha, os moradores de lá costumam denominar-se campeiros, para diferenciar-se dos moradores das áreas de mata atlântica - mateiros, segundo estes, que vivem na mata - que cobria o baixo Jequitinhonha e o Mucuri.

Mucuri e baixo Jequitinhonha apresentam características diferentes do alto Jequitinhonha: situadas no domínio de florestas, foram cobertas por matas até finais do século XIX. Nas matas as terras possuem fertilidade bastante uniforme e, embora também formada por vales e serras, apresentam diferenças pouco acentuadas de uso dos solos entre terras altas e baixas. Vales largos, cobertos por florestas, chapadas extensas e férteis, grandes áreas planas formando horizontes abertos marcam o baixo Jequitinhonha. Já no Mucuri são mares de morros, muito drenados, com poucas áreas planas e vegetação praticamente homogênea, que vai da nascente às divisas com Bahia e Espírito Santo. Mata contínua das divisas do alto Jequitinhonha até o mar, era área de extraordinária fertilidade natural, recursos minerais e madereiros abundantes; foi o refúgio dos últimos grupos indígenas, que viviam em suas florestas evitando os ferozes portugueses. Nos anos 1850 Teófilo Benedito Otoni montou uma empresa na região, inclusive atraindo imigantes europeus; o fracasso do projeto deu lugar à colonização espontânea, majoritariamente realizada por migrantes do alto Jequitinhonha a partir dos fins do século XIX, que foram levando suas lavouras mata adentro, até o mar.

Um deslocamento de povoamento colonizador, modesto e aventureiro, começou a ser percebido pelos viajantes e relatórios de meados do século XIX; em fins deste século, já havia um movimento firme e regular de famílias do alto Jequitinhonha que se transferiam para as matas. Em fins do século XIX, estimulados por catástrofes naturais como o esgotamento das terras e a famosa seca do noventinha, migrantes baianos engrossaram essas transumâncias (Ottoni, 1848; Timmers, 1968; Duarte, 1972; Almeida, 1977; Ribeiro, 1996).

A história e a economia dessas matas foram marcadas pela presença de grandes propriedades e pecuária extensiva, por dois motivos principais. Primeiro, por conta da extraordinária fertilidade e a sanidade da antiga mata atlântica que a cobria, que tornou a formação de boas pastagens rápida e barata. Segundo, a expansão do cacau no sul da Bahia desde finais do século XIX alavancou a introdução da pecuária na região e permitiu, já no século XX, a abertura de novos mercados na Bahia, no Norte de Minas Gerais, no Rio de Janeiro (Tetteroo, 1919; Maia, 1936; Duarte, 1972).

A abertura das matas da região começou a ser feita no meio do século XIX por

famílias de agricultores posseantes com suas lavouras de tocos, que migravam para a região em busca da terra de mata, sadia e descansada. Mas a ocupação em grande escala ocorreu depois de fins do século XIX, com o gado curraleiro, que contribuiu para instalar uma sociedade baseada em pecuária e instituiu a grande fazenda de criação como domínio modelar da terra.

Embora a ocupação da terra na mata tenha ficado marcada pela fazenda, isso não significou ausência de pequenas explorações rurais e áreas de agricultura familiar. Elas existiram; apenas permaneceram sombreadas pela fazenda. De um lado, porque a pequena exploração deslocou-se pela região perseguindo mais a fertilidade que a propriedade da terra, porque seu regime de exploração da terra nunca - ou muito raramente - transformava-se num sistema de apropriação fundiária. As famílias de sitiantes, posseiros e coletores da mata, passaram pela região procurando a boa e farta terra de mata para abrir suas lavouras e quando podiam seguiam para Bahia ou Espírito Santo. De outro lado porque esses lavradores e posseantes não se fixavam, nem se registravam, nem sabiam ler e escrever, não eram patrões de ninguém, nem pagavam impostos ou recebiam atenção de escritores ou funcionários; por isto a história da terra da mata não registrou sua presença. Então, por conta dos vastos espaços que a pecuária demandava, a exploração rural foi associada à grande fazenda, mesmo quando ela não foi pioneira e instalava-se sobre terras expropriadas ou adquiridas a posseiros, que

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seguiam adiante numa sucessão de derrubadas / plantio / expropriação / empastamento / afazendamento que só iria acabar no extremo Leste, no Oceano Atlântico, ao fim dessa trilha e ao final da mata atlântica.

Esse processo colonizador, semelhante ao ocorrido em algumas outras regiões, contou com a força da fazenda, a colaboração da política agrária baseada na privatização de terras e recebeu um forte apoio da fertilidade natural da terra e de plantas exóticas que consolidaram a marcha e a lógica da fazenda. Assim, um dos principais recursos para a subordinação das terras e lavouras à pecuária foi uma gramínea de origem africana, o capim colonião, que fixou-se admiravelmente nas pastagens da região. O colonião invadia as lavouras recém-abertas e ocupava o chão das primeiras derrubadas de mata; chegava a alcançar 6 metros de altura ao final da estação das chuvas e fornecia uma extraordinária capacidade de suporte para animais, pois, comparado a outras gramíneas, numa área de colonião poderiam pastar o dobro ou triplo de cabeças de bois na engorda.2

Dos posseiros que ocuparam a terra, parte ficou na própria região; ocuparam geralmente terras que não interessavam à fazenda, por serem pouco férteis, pouco sadias para criação de gado, de topografia muito movimentada para formação de pastos. Outros seguiram adiante, na direção da barra do rio, e fazendeiros se apropriavam das terras que os interessavam, através de compra da posse, ou da grilagem, mesmo. Outra parte, certamente uma grande parte, permanecia na própria terra, subordinando-se à fazenda, pela relação de agregação. A história dessa área de mata ficou marcada pela fazenda e agregação, sempre mediada por um meio muito generoso.

III. Lavouras

Embora diferentes em muitos aspectos, as três regiões conservavam em comum - aliás, com quase todo o Brasil agrário até meados do século XX - as técnicas de lavoura empregadas. Fazer lavouras consistia em derrubar o mato, deixá-lo secar por um certo período, colocar um fogo controlado na lenha e, enfim, plantar entre os tocos remanescentes da antiga floresta ou capoeira. Depois de alguns anos de plantio, aquela terra era deixada em "descanso" por outros tantos anos para repor naturalmente a fertilidade, quando então voltaria novamente a ser usada. Esta técnica denomina-se lavoura de tocos, lavoura de coivara ou cultivo de clareiras; foi descrita por vários autores de diversas disciplinas de conhecimento (Castaldi, 1955; Wolf, 1976; Casal, 1976; Buarque de Hollanda, 1957; Posey, 1987; Martins, 1981; Boserup, 1989; Mazoyer e Roudart, 2001).

Essa técnica exige do agricultor um grande conhecimento das terras, do fogo e das plantas; dosa o fogo pelo plantio, adequa a semente à terra, realiza sucessões culturais para potencializar as dotações naturais do solo (Posey, 1987; Ribeiro, 2001). Esse tipo de lavoura exige muita terra, bosques, campos e áreas de coleta de frutos, mel, madeira, lenha, remédios, utensílios e criação de animais.

As técnicas de lavoura de toco são complexas, exigem duro trabalho, anos de aprendizado e experimentação, mas sob certas condições são muito econômicas e produtivas. Esta lavoura permite criar abundância com pouco trabalho, e o sustento de uma família nesse sistema nunca ocupa mais que 20% do dias de trabalho de um ano e produz tanto excedentes que a família pode passar dois ou três anos vivendo dos 2.000 a 4.500 quilos de alimentos que a roça fornece por ano.3

2 Sobre a aliança entre colonos e plantas para ocupar determinado ambiente ver Worster (2003); sobre os

impactos do capim colonião e da pecuária nesta região ver Cathoud (1936) e Ribeiro (1998).

3 Uma família com 2,5 trabalhadores produtivos gastaria entre 33 e 20 dias trabalhados por pessoa/ano para

produzir esse alimento. Galvão (1979) calcula em 140 quilos de alimentos/pessoa/ano o necessário para o sustento de populações rurais; Oliveira Júnior (1989) estima 200 quilos de cereal/pessoa/ano; Mazoyer e

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Depois da expansão das técnicas intensivas de produção, já no último terço do século XX, os indicadores de produtividade agrícola das lavouras de toco perderam importância relativa. Mas o testemunho de agricultores e viajantes revela que até meados do século XX uma produtividade média de 4.000 quilos por hectare para milho ou 30 toneladas por hectare para mandioca eram frequentes. Isso não significa que nunca houvesse fome ou que a produção tenha sido sempre constante: como não existiam redes de abastecimento e era grande a dependência do meio, a diferença entre o excesso e a falta de alimentos era pequena, e qualquer abalo na produção colocava a família em situação de insegurança alimentar. A escassez ou excesso de chuvas, as invasões de animais nas lavouras, os erros de cálculo, poderiam resultar em fome, e muitas vezes os lavradores eram apanhados desprevenidos.4

Este sistema de produção, porém, tem limites à expansão e implica em constante demanda por terras. Foi essa busca por fertilidade que levou os lavradores do alto Jequitinhonha ao Mucuri e baixo Jequitinhonha em fins do século XIX, e depois ao sul da Bahia e norte do Espírito Santo procurando fronteiras agrícolas em meados do século XX; ou a São Paulo e Belo Horizonte, já nos anos 1960 e 1970, procurando novas fronteiras, agora urbanas. Esta caminhada em busca dos recursos da sobrevivência pode ser percebida na memória e história local (Tetteroo, 1919;1922; Timmers, 1968; Duarte, 1972). Nas páginas seguintes este fenômeno será analisado quantitativamente a partir de indicadores fornecidos pelos Censos de 1920 a 1960.

IV. Destinos

Nos quarenta anos decorridos entre 1920 e 1960, dezenas de municípios foram fragmentados. Os registros dos Censos, década a década, refletem essa pulverização e torna difícil detalhar para a frente a evolução do povoamento por regiões. Da mesma maneira, os tipos de informações são diversos, tanto no que diz respeito à população, quanto a produtos, quanto a recursos.

Para enfrentar esses problemas experimentou-se aqui agregar municípios pela denominação que recebiam em 1920. Isto impede acompanhar o detalhamento microregional posterior - que seria uma referência importante para vincular mais profundamente população e recursos - e remete o texto sempre a uma base única de comparação, os anos 1920. Assim, os municípios do Nordeste mineiro foram reunidos em grandes grupos que os remontam aos municípios de origem, conforme abaixo.

Alto Jequitinhonha: Minas Novas (que reúne os municípios de Minas Novas e Turmalina),

Araçuaí (reunindo Araçuaí, Coronel Murta, Virgem da Lapa, Comercinho e Itinga) e Capelinha (a fronteira velha do alto Jequitinhonha).

Baixo Jequitinhonha: Jequitinhonha (compreendendo os municípios de Jequitinhonha,

Jacinto, Jordânia, Rio do Prado, Rubim, Salto da Divisa, Joaíma e Almenara).

Roudart (2001) estimam os mesmos 200 quilos de equivalente cereal/pessoa/ano; ver cálculos para o Nordeste mineiro em Ribeiro e Galizoni (2000).

4 De acordo com Chaunu, o "poder de produção alimentar" da mandioca é cinco vezes superior ao do trigo

europeu, antes da revolução agrícola; equivale, em terra fértil, ao poder de produção alimentar do arroz irrigado por inundação, com menor trabalho e técnica: "A produção de mandioca dá, ao que parece, a mais alta

rentabilidade por hora de trabalho agrícola, antes da Revolução Verde." Chaunu (1976:194) Ela cria, de acordo

com o autor, uma "enorme massa de lazer, não sabendo o que fazer dele, que [provinha dessa produtividade]

excessiva mas entrincheirada num só domínio alimentar." O inspetor Castro numa expedição ao nordeste

mineiro, encontrou uma situação dessas: "(...) neste ano apesar das poucas praças que houveram no Quartel,

roçaram para 5 alqueires; porém as continuadas chuvas não deram lugar a que se queimasse, por isso nem um só grão de milho plantaram: esta Divisão está a estalar de fome, como V.E. observará no ofício junto do Sargento comandante. (...) Talvez para o ano o mesmo aconteça, pois, suposto tenham feito roças suficientes, contudo não poderão queimar, pelas continuadas chuvas." [Castro, 1912: 82, 83]

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Mucuri: Teófilo Otoni (reunindo Caraí, Águas Formosas, Ataléia, Carlos Chagas,

Itambacuri, Ladainha, Machacalis, Malacacheta, Nanuque, Novo Cruzeiro, Poté e Teófilo Otoni).

Esta repartição reflete a divisão municipal existente em 1920 e apresenta os municípiios que surgirram até 1960: para analisar os recenseamentos de 1940, 1950 e 1960 foram agregados os distritos emancipados aos municípios que lhes deram origem. Desta maneira, procurou-se criar microregiões com uma certa homogeneidade histórica, econômica e social que permitissem agregar e avaliar dados quantitativos durante essas décadas.

Os dados sobre população resultantes desta agregação estão apresentados na Tabela I, abaixo.

Em relação ao alto Jequitinhonha a Tabela I revela no período analisado um processo de crescimento populacional diferenciado entre os municípios. Araçuaí apresenta crescimento negativo ou bastante inferior à taxa média de crescimento do estado, indicando que o município perdeu população na época. Minas Novas apresenta taxa de crescimento inferior à média do estado no recenseamento de 1940, e taxa equivalente à média mineira em 1950 e 1960; isto indica movimento migratório forte entre 1920/1940 e uma certa estabilização populacional em 1950 e 1960. Por fim, Capelinha apresenta taxas de crescimento superiores à média do estado em 1940 e 1950, mas crescimento negativo no período 1950/1960. É preciso lembrarr, no entanto, que no decorrer de toda a primeira metade do século XX Minas Gerais foi um estado francamente emigrantista; assim, crescimento populacional semelhante à média do estado pode não apontar estabilidade, mas sim um movimento emigratório firme.5

Tabela I. População do Jequitinhonha, Mucuri e Minas Gerais entre 1920 e 1960, total (em 1.000 pessoas) e taxas de crescimento

Ano 1920 1940 1950 1960

Município/

Região Total Total Tx cresc Total Tx cresc Total Tx cresc Araçuaí 85,66 66,91 (-) 21,89 69,95 4,55 77,08 10,19 Capelinha 20,57 28,62 39,12 35,02 22,38 18,26 (-) 47,85 Minas Novas 51,74 54,49 5,32 63,09 15,78 79,24 25,59 Teófilo Otoni 163,20 261,99 60,53 345,85 32,00 506,10 46,34 Jequitinhonha 74,65 104,00 39,31 134,48 29,31 148,79 10,64 MinasGerais 5.888,17 6.736,42 14,41 7.717,79 14,57 9.698,12 25,65

Fonte: Recenseamentos de 1920, 1940, 1950 e 1960; municípios agregados por municípios que deram origem às partições territoriais.

Este comportamento assim tão diverso certamente pode ser explicado pela localização dos municípios. Minas Novas, no centro da antiga região mineradora do rio Araçuaí, recebeu povoamento mais cedo, mas também apresentou precocemente forte migração em direção à mata (Tetteroo, 1919; 1922; Ferreira, 1934); por mata, em começos do século XX, entendia-se até parte do município de Capelinha, que desdobrava-entendia-se pelos vales dos rios Mucuri e Doce. Por isto, o começo do século XX para Minas Novas já foi período de relativa estabilização populacional. Araçuaí, contrariamente, recebeu povoamento colonizador em meados do século XIX, mas em fins deste século apresentava perdas populacionais em virtude

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da estagnação econômica que atingiu o município; um antigo intendente afirma que o município não podia oferecer qualquer consolo ou guarida aos baianos que passavam por lá durante a seca do "noventinha", dados os minguados recursos (Pereira, 1969). Capelinha, graças à sua porção de matas, recebeu forte afluxo populacional entre 1920 e 1950, crescendo a taxas superiores à média do estado; seu declínio inicia-se nos anos 1960, com a migração de lavradores do Urupuca, próximo à sede municipal de Capelinha, para as matas do rio Mucuri ou colheita de algodão em São Paulo (Castaldi, 1955).

O baixo Jequitinhonha, apresentado como apenas um município, revela uma tendência mais clara: há um grande acréscimo populacional entre 1920/1950, que supera em mais que o dobro a taxa média de crescimento populacional do estado de Minas Gerais. O recenseamento de 1960 aponta o declínio da taxa de crescimento, passando a menos da metade da taxa estadual, indicando a perda de população de toda aquela região. Tanto o afluxo 1920/1950 quanto o movimento inverso 1950/1960 podem estar associados à disponibilidade ou escassez de terras de matas. Duarte (1972) revela que baianos acorreram à região em levas, buscando "sua Canaã"; a especialização da região em pecuária e a concentração de terras empurrou estes migrantes para novas fronteiras agrícolas ou áreas urbanas.

O vale do Mucuri, por último, representado pelo seu único município de 1920, apresenta um crescimento muito elevado de população no correr de todo o período, sempre muito além da média estadual e em ritmo mais elevado que todas demais microregiões que atraíram população. Esta área foi, das três analisadas a mais complexa - pois seu desenlace ocorreu com migração de lavradores para áreas urbanas, amazônicas e litorâneas - e duradoura fronteira agrícola do Nordeste mineiro: apresentou extraordinária capacidade de atração de migrantes e conservou-se assim até os anos 1960.

A sedução dessas áreas novas no correr do século XX pode ser perfeitamente percebida nos recenseamentos de 1920 a 1960. Lavradores migrantes acreditavam na grande força da terra virgem: esta representava grande vitalidade, produtividade e, sobretudo, liberdade, uma vez que, naquela época sua oferta era praticamente ilimitada. A Tabela II a seguir procura ilustrar isto. Ela revela o percentual de matas internas aos estabelecimentos rurais nos recenseamentos de 1920, 1940 e 1960.6 É preciso destacar aqui que os dados referem-se apenas às áreas de estabelecimentos já apropriados por algum proprietário, posseiro ou ocupante que foi recenseado; assim não constam destes dados aquelas áreas ainda não ocupadas, públicas ou não recenseadas. Em resumo este percentual é, certamente, muito subestimado.

Na maioria dos municípios observa-se uma clara relação entre expansão populacional e área de florestas. Em Araçuaí, Capelinha, Jequitinhonha e Teófilo Otoni observa-se uma relação direta entre as duas variáveis, revelando o quanto a terra virgem é sedutora para migrantes; isto vai até o ponto que a reserva de recursos começa a diminuir, influenciando também o ritmo de crescimento populacional.

6 O conceito de estabelecimento agropecuário adotado nos censos até 1950 excluia explorações rurais destinadas

exclusivamente ao consumo doméstico; assim, havia uma óbvia subestimação do número de unidades. Por isso utiliza-se aqui área de floresta como percentual, agregando-as pelas grandes unidades que eram os municípios de então. Para uma crítica às fontes censitárias consultar Brandão (1987).

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Tabela II. Áreas de matas como percentual da área total do estabelecimentos rurais recenseados no Jequitinhonha e Mucuri em 1920, 1940 e 1960 ( em %) Ano 1920 1940 1960 Araçuaí 40,79 15,90 9,60 Capelinha 73,68 12,13 8,81 Minas Novas 7,88 18,12 42,47 Teófilo Otoni 42,69 32,78 11,63 Jequitinhonha 45,46 18,28 11,16

Fonte: Recenseamentos 1920/1960; os municípios derivados foram agregados aos municípios que deram origem às partições territoriais.

Esses dados merecem dois comentários: um sobre matas, outro sobre cerrados.

Para as áreas de matas é possível agregar indicadores de produtividade agrícola do Jequitinhonha e Mucuri por um longo período, originados tanto de fontes qualitativas quanto censitárias (Tabelas III e IV). Há uma constância nesses indicadores, qualquer que seja a origem: revelam níveis declinantes de produção por área no correr do tempo. De Saint-Hilaire, em 1816, aos dados de pesquisa de campo dos anos 1990, dos Censos de 1920 ao Censo de 1980, nota-se o declínio, com a exceção daqueles produtos que foram tecnificados em decorrência da revolução verde e que deixaram de depender do "laboratório natural" para continuar produzindo. Nesse sentido, observa-se uma relação nítida entre crescimento de população, área de florestas em pé e produção agrícola por área plantada.

Tabela III

PRODUÇÃO AGRÍCOLA POR HECTARE Teófilo Otoni, 1920/1980

Ano Arroz Milho Feijão Mandioca Cana Café

1920 1.500 2.100 1.000 14.406 22.003 363 1940 --- --- --- --- --- ---1950 912 1.040 856 9.499 12.156 629 1960 1.026 835 700 8.918 11.684 585 1970 566 609 372 5.414 11.758 552 1980 588 762 418 7.033 19.776 616

Fonte: FIBGE, Censos

Nas matas, à medida que minguava a floresta caía a produtividade; neste caso, a técnica incorporada à agricultura pela revolução verde tendeu a não promover melhorias gerais de produtividade, mas sim melhoras localizadas, que associaram-se mais à especialização produtiva, aos sistemas de integração e às demandas agroindustriais localizadas. Este é o caso do café e da cana-de-açúcar, que recuperaram produtividade por meio da incorporação de tecnologia agrícola. Nesse sentido, pode-se também concluir que depois esgotada a terra virgem da mata e desaparecida a fertilidade diferencial a região perdeu grande parte dos seus melhores atrativos.

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TABELA IV

Produção de milho por hectare

_________________________________________________________________________________________

Fonte Ano Produção Local

_________________________________________________________________________________________ Saint Hilaire 1816 1 X 220 Jequitinhonha

Ottoni 1857 1 X 250 Mucuri

Gomes 1860 1 X 200 Mucuri

Ferreira 1930 1 X 300 Mucuri Pesquisa de Campo 1960 1 X 130 Jequitinhonha

Censo 1980 1980 1 X 38 Mucuri

_________________________________________________________________________________________ Fontes: Saint-Hilaire (1975), Ottoni (1847), Gomes (1862), Ferreira (1934), Pesquisa da Campo (1994), FIBGE.

Outro comentário deve ser feito em relação ao cerrado: o caso de Minas Novas. Este município, ao contrário de todos os demais, apresentou um crescimento estável das áreas de matas a partir de 1920, apontanto uma tendência contrária ao que ocorria em toda a região. Isto exige uma reflexão mais minuciosa e sugere uma hipótese arriscada.

A reflexão orienta-se para a especificidade do bioma cerrado. De todos os municípios em análise, Minas Novas é o que mais destacadamente apresenta características de cerrado; esta formação é marcadamente resiliente, isto é, apresenta potencialidade para recomposição depois de desflorestado (Ferri, 1973). Assim, ao contrário das áreas de florestas que difícil e demoradamente se reconstituiriam, o cerrado do alto Jequitinhonha apresentaria condições de refazer-se em prazo aproximado a estas duas décadas de intervalo censitário analisadas. Esta reflexão fornece a base para a hipótese que relaciona população e área de matas.

Observa-se que em Minas Novas a expansão crescente da área de matas em 1940 e 1960 corresponde a uma expansão também crescente - porém fundamentalmente vegetativa, pois igual à média do estado - da população. Isto sugere que existem, certamente, movimentos que levam uma população a orientar-se para áreas onde os recursos naturais são abundantes, como nos casos exemplares de Teófilo Otoni e Jequitinhonha; mas, também, permite observar que a população da região originariamente expulsora de lavradores constrói mecanismos autônomos, locais e cíclicos de regulação do uso de recursos naturais, de forma a poupá-los, alternando migração e estabilização de população regional.

Isto, porém, já é tema para outra pesquisa.

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(12)

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