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Motivação Intrínseca e Extrínseca Relacionadas à Satisfação com o Conteúdo de Lutas na Educação Física Escolar

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Academic year: 2021

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Jorge Torres de Aguiar Netoa*; Maicon Costa Irumea; Victor Silveira Coswiga

Resumo

Primando pela pluralidade cultural na educação física escolar brasileira entende-se que as lutas se apresentam como importante prática curricular. Apesar disto, esta prática parece não ser comum na realidade das escolas, principalmente públicas. Com isso, o objetivo do estudo foi identificar a motivação dos alunos de escolas da rede pública de Pelotas – RS, com as lutas na educação física. Fizeram parte do estudo 44 alunos da rede pública com idades entre 11 e 14 anos. Para tanto foi utilizado um questionário para comparar satisfação e motivação dos alunos a partir de aulas de desporto, de recreação e de lutas. Para análise dos dados, após verificação da normalidade dos dados a partir do teste de Shapiro-Wilk, para comparação das médias foi utilizado teste de Wilcoxon. Assumiu-se valor de p<0,05 como nível de significância. Os resultados indicaram um elevado grau de satisfação e motivação intrínseca da turma para com o conteúdo Lutas e com a educação física em geral. Sugere-se que as lutas sejam trabalhadas no contexto escolar em proporção semelhante aos demais blocos de conteúdo.

Palavras-chave: Educação Física. Escola. Lutas. Motivação.

Abstract

Striving for cultural plurality in the Brazilian school physical education means that the fights are important curricular practice. Nevertheless, this practice seems to be common in schools, especially public reality. With that, the objective of this study was to identify the motivation of students to public schools of Pelotas-RS, with the struggles in physical education. Were part of the 44 students study from public aged between 11 and 14 years. To achieve this a questionnaire was used to compare satisfaction and motivation of students from school to sports, recreation and combats. For data analysis, after checking the normality of the data from the Shapiro-Wilk test for comparison of means was used Wilcoxon test. Assumed value of p 0.05 significance level <. The results indicated a high degree of satisfaction and intrinsic motivation in the class for the content and the physical education Fights in General. It is suggested that the struggles are worked in the school context in similar proportion to the other blocks of content.

Keywords: Physical Education. School. Fights. Motivation.

Motivação Intrínseca e Extrínseca Relacionadas à Satisfação com o Conteúdo de Lutas na

Educação Física Escolar

Intrinsic and Extrinsic Motivation Related to Satisfaction With the Content of Combat in

School Physical Education

aFaculdade Anhanguera de Pelotas, RS, Brasil

*E-mail: sgt-aguiar@hotmail.com

1 Introdução

Entende-se que a educação física deve criar oportunidades para diversificar o conhecimento dos estudantes, e para tal, a abordagem das lutas nas aulas desta matéria é imprescindível dentro da ótica de múltiplas leituras da realidade social da escola, proporcionando o exercício de todos os fatores psicomotores e, não obstante, trabalhando o preconceito acerca das lutas em si. Com a influência da mídia e sociedade voltada para o cenário das lutas de Mixed Martial Arts - MMA acredita-se que cada vez mais os jovens precisam ser orientados com relação à prática dos movimentos que eles assistem pela televisão (LA BOUNTY et al., 2010)

Além do fator benéfico que a atividade física bem orientada traz, conforme enfatizam os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (BRASIL, 1998) cresce a importância de ensinar a compreensão do ato de lutar, o porquê e quando lutar, e aprender a diferenciar lutas como atividade física e brigas e atos de violência.

Adicionalmente sabe-se da importância da motivação como fator na aprendizagem. Esta motivação é subdividida

por influência de fatores intrínsecos, quando se realiza uma atividade pela própria atividade em si, que é a motivação que mais colabora para a aprendizagem, ou seja, por seu interesse inerente e pelos afetos e cognições espontâneos que advém da atividade, e os fatores extrínsecos, quando se executa a atividade por motivação externa a prática em si, isto é, esperando um retomo que está fora da vivência da própria atividade (KOBAL, 1996).

Ao contrário do que se associa à prática de lutas, este exercício busca desenvolver o autoconhecimento, o autocontrole, a disciplina, a lealdade e acima de tudo a construção do caráter do praticante, que aprende a resolver seus conflitos de maneira harmônica e suave. E, segundo Ferreira (2006), dos 50 professores questionados no seu estudo, 16 (32%) afirmaram que utilizavam as práticas das lutas em suas aulas e 34 (68%) relataram que jamais recorreram às aulas com esse conteúdo.

Conforme Ferreira (2006) comprova-se que as lutas fazem sucesso em todas as faixas etárias. Na educação infantil, as lutas de animais como luta do sapo, jacaré, galo, têm ajudado muito na liberação da agressividade das crianças,

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além de serem trabalhados nestas atividades todos os fatores psicomotores. Também colaboram quando são abordadas as teorias e filosofias através do resgate histórico das modalidades e as relacionando com a ética e os valores atuais da sociedade. Observa-se nos PCN que desde os primeiros ciclos até os últimos, faz-se igual importância entre as manifestações culturais relacionadas ao corpo e ao movimento humano, mas discutindo sobre o tema na faculdade percebe-se a irrelevância do trabalho feito nas escolas com o conteúdo que pode de diversas maneiras, fornecer subsídios culturais à educação física curricular brasileira. Com relação a isso, Daolio (2004) declarou que a escola é um espaço e tempo de desenvolver a cultura, e a educação física tem a obrigação principal de garantir esse contato cultural relacionado à dimensão corporal citada como jogo, ginástica, esporte, dança, luta.

E ao abordar o tema Lutas na escola, percebe-se um elevado grau de interesse e motivação dos alunos com o assunto. Alguns destes alunos são praticantes de artes marciais, outros talvez por influência da mídia e dos combates de MMA que dominam a internet e recentemente vêm ganhando espaço na TV aberta também.

E assim sendo, o objetivo deste estudo foi verificar a motivação intrínseca e extrínseca relacionada à satisfação dos alunos de uma turma de 6º ano com o conteúdo de lutas, assim

como com esporte, jogo, ginástica e recreação desenvolvidos em aulas do estágio supervisionado realizado no segundo semestre de 2013.

2 Material e Métodos

Foi realizada uma pesquisa de cunho participante e quantitativo, da qual fizeram parte alunos do 6º ano do ensino fundamental, de ambos os sexos, com faixa etária entre 11 e 14 anos, de uma escola estadual da cidade de Pelotas – RS.

Primeiramente, foi feito contato com equipe diretiva da escola, com os pais e com os alunos para esclarecimento dos procedimentos e riscos que envolvem a pesquisa. A partir disto, foi solicitada aos pais autorização de participação, através de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O estudo foi conduzido durante o segundo semestre de 2013, no período de 23 de agosto a 22 de novembro, com uma turma selecionada de modo intencional. Os temas das aulas de educação física foram divididos e para cada aula foram medidos, por meio de questionário, níveis de satisfação e motivação intrínseca e extrínseca.

Foram ministradas 20 aulas nas quais 10 com o conteúdo de esportes coletivos (futebol, basquete, handebol e voleibol), 4 com recreação (ginástica e jogos cooperativos) e 6 com o conteúdo de lutas (Figura 1), sendo:

Fonte: Dados da pesquisa.

Figura 1: Distribuição das aulas de acordo com os blocos de conteúdos

i) Esportes Coletivos:

As aulas que apresentaram esportes coletivos como componente principal envolveram as modalidades de futsal, voleibol, basquetebol e handebol e foram distribuídas conforme apresentado na Figura 1. A estrutura da parte principal destas aulas foi composta de atividades com enfoque nos fundamentos técnicos de cada modalidade, seguidos de jogos adaptados.

Quanto aos fundamentos técnicos, para futsal, foram utilizados o passe, recepção, condução e chute a gol. Para o voleibol a manchete, toque e saque. Quanto ao basquetebol o passe, condução de bola e arremessos. Enquanto, para o handebol foram utilizados o controle de bola e arremessos a gol.

ii) Lutas

Quanto ao conteúdo de lutas, inicialmente foi ministrada, de maneira breve, contextualização sobre história das artes marciais e conversa sobre porquê e quando lutar.

As aulas práticas envolveram aspectos gerais como brincadeiras de luta, jogos de oposição e lutas que imitam animais, seguidos de modalidades esportivas de combate como taekwondo, boxe e capoeira.

Para as aulas de taekwondo e boxe foram utilizados colchonetes como aparadores e foram realizados os principais golpes de cada modalidade. Já para capoeira, com auxílio de aparelho de som e berimbau, foram executados a ginga e alguns golpes e esquivas da arte, uma roda de capoeira como parte principal da aula, e como volta à calma, ainda ao som

Recreação Lutas Esportes

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das canções de roda, foi feita uma abordagem da capoeira na história do Brasil.

iii) Recreação

Dentre as atividades aplicadas neste bloco de aulas, destacam-se jogos de números, pique e pega com obstáculos e passes numerados, sol e lua, vivo e morto, rua e avenida e caçador, pega-o-rabo, nunca 3 e jogo da velha com bambolês e bolas. Componentes de ginástica também fizeram parte deste bloco, com execução de alguns exercícios, como polichinelos, flexões e abdominais, e alguns exercícios de contração isométrica.

Foi utilizado questionário adaptado aos objetivos do trabalho de pesquisa sobre motivação e satisfação relacionadas ao conteúdo Lutas na Educação Física Escolar. O questionário de Kobal (1996), que serviu como base para a pesquisa verificava a motivação intrínseca e extrínseca de alunos em aula de educação física.

Foi aplicado um questionário com a primeira folha composta por 32 questões semiabertas. As questões semiabertas foram respondidas utilizando uma escala de coerência face às afirmações relacionadas à motivação intrínseca e extrínseca. Baseado na avaliação de KOBAL (1996) os alunos podiam optar entre concordar muito, apenas concordar, ou discordar muito, apensa discordar e também estar em dúvida com relação a sua posição. Cada opção correspondia a um número (1, 2, 3, 4, 5).

Dentro desta escala de pontuação ficaram definidas as médias menores do que três como concordantes com a afirmação feita e as maiores do que três como discordantes da assertiva, e as iguais a três estariam incertas do seu posicionamento com essa questão.

A segunda folha era composta por seis questões fechadas sobre as aulas de recreação, lutas e desportos. Três destas questões eram sobre o aluno ter gostado dos blocos de aulas recreação, lutas e desportos individualmente,

e contava com cinco opções (gostei muito, gostei pouco, indiferente, não gostei, detestei), e verificava a relação entre os três com a motivação intrínseca do aluno. As outras três questões classificavam como tinham sido as aulas dos três blocos individualmente, entre quatro alternativas (ótima, boa, regular, ruim), relacionadas à motivação extrínseca dos estudantes. Os maiores e menores números dentre as médias aritméticas das respostas da primeira folha do questionário aplicado foram analisados e relacionados com a satisfação dos alunos com relação aos blocos de conteúdos trabalhados.

Quanto à análise dos dados, estes estão apresentados de modo tabular, textual e gráfico. Após verificação da normalidade dos dados a partir do teste de Shapiro-Wilk, para comparação das médias foi utilizado teste de Wilcoxon. Assumiu-se valor de p<0,05 como nível de significância. Para os testes foi utilizado software Stata versão 12.0. 3 Resultados e Discussão

Os dados estão apresentados de modo tabular e gráfico. Foram avaliados 44 alunos de escolas públicas de Pelotas/ RS. A seguir foram relatados quais itens do questionário eram relacionados a uma e a outra tendência motivacional, lembrando que a motivação é intrínseca quando o indivíduo se interessa pela atividade em si e é extrínseca quando realiza a atividade movida por questões externas à mesma.

Considerando fatores intrínsecos e extrínsecos, os dados são apresentados nos Quadros 1, 2 e 3. No Quadro 1 identificam-se como principais motivos para participar das aulas de Educação Física a matéria fazer parte do currículo da escola (ME) com média 1,5 entre as respostas do grupo e aumentar os conhecimentos sobre esportes e outros conteúdos (MI) com média 1,7. E com média maior entre todas as afirmações obteve 3,3 o rendimento do entrevistado ser melhor do que o do colega (ME).

Quadro 1: Dados sobre a participação nas aulas de educação física escolar

Faz parte do currículo da escola. (ME) 1,5

Gosto de atividades físicas. (MI) 1,9

Estou com meus amigos. (ME) 1,8

As aulas me dão prazer. (MI) 2,7

Gosto de aprender novas habilidades. (MI) 2,0

Acho importante aumentar meus conhecimentos sobre esportes e conteúdo. (MI) 1,7

Meu rendimento é melhor do que o de meus colegas. (ME) 3,3

Preciso tirar boas notas. (ME) 2,0

Sinto-me saudável com as aulas. (MI) 1,9

ME: motivação extrínseca; MI: motivação intrínseca; Concorda= Média < 3; Discorda= Média > 3. Fonte: Dados da pesquisa.

No Quadro 2 ficou destacado como razões principais de

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Quadro 2: Dados de satisfação nas aulas de educação Física

Aprendo uma nova habilidade. (MI) 1,7

Esqueço-me das outras aulas. (ME) 3,0

Dedico-me ao máximo à atividade. (MI) 2,3

O professor e/ou meus colegas reconhecem minha atuação. (ME) 3,0 Compreendo os benefícios das atividades propostas em aula. (MI) 2,3

As atividades me dão prazer. (MI) 2,6

Sinto-me integrado ao grupo. (ME) 2,6

O que eu aprendo me faz querer praticar mais. (MI) 2,0

Movimento o meu corpo. (MI) 2,0

Minhas opiniões são aceitas. (ME) 2,4

Saio-me melhor que meus colegas. (ME) 3,8

ME: motivação extrínseca; MI: motivação intrínseca Fonte: Dados da pesquisa.

Os dados expostos no Quadro 3 são referentes aos motivos que fazem os alunos não gostarem das aulas de Educação Física. Concordaram mais com a afirmação

não conseguir realizar bem as atividades, com média 2,6. Discordaram como motivo para desgosto da afirmação meus colegas zombam de minhas falhas, com média 4,1.

Quadro 3: Dados sobre descontentamento nas aulas de Educação Física

Média

Não consigo realizar bem as atividades. (MI) 2,6

Não me sinto integrado ao grupo. (ME) 3,5

Não simpatizo com o professor. (ME) 3,8

O professor compara meu rendimento com o de outros. (ME) 3,6

Não sinto prazer na atividade proposta. (MI) 3,2

Meus colegas zombam de minhas falhas. (ME) 4,1

Alguns colegas querem demonstrar que são melhores que os outros. (ME) 2,9

Quase não tenho oportunidade de jogar. (MI) 3,9

Tiro nota ou conceito baixo. (ME) 3,5

Minhas falhas fazem com que eu não pareça bom para o professor. (ME) 3,8

Exercito pouco o meu corpo. (MI) 3,0

Não há tempo para praticar tudo o que gostaria. (MI) 3,1 ME: motivação extrínseca; MI: motivação intrínseca.

Fonte: Dados da pesquisa.

No Quadro 4 estão apresentados os dados referentes à satisfação das aulas de educação física, levando em consideração as afirmações “Gostei muito” e “Gostei pouco” para o total de alunos e também para ambos os sexos. Nele, identifica-se Lutas com menor aceitação para ambos os

sexos, mas também foi apontada significativa diferença estatística entre o número de meninos que gostaram de todos os blocos de aulas de educação física (100%) e o número de meninas que gostaram dos temas Lutas (79,1%) e Desportos (91,6%).

Quadro 4: Dados de satisfação nas aulas (considerando as afirmações “Gostei muito” e “Gostei pouco”) para o total de alunos e para ambos os sexos

Aulas Total Meninos Meninas Valor p

Recreação 100% (44) 100% (20) 100% (24) NS

Lutas 86,4% (39) 100% (20) 79,1% (19) p=0,001

Esporte 95,1% (42) 100% (20) 91,6% (22) p=0,03

NS = Não significativo Fonte: Dados da pesquisa.

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Figura 2: Dados de satisfação das aulas (considerando as afirmações “Gostei muito” e “Gostei pouco”) para o total de alunos e para ambos os sexos

Fonte: Dados da pesquisa.

Fonte: Dados da pesquisa.

Já no Quadro 5, estão apresentados os dados referentes à satisfação das aulas de educação física analisando todas as alternativas respondidas pela população examinada. Foi verificado que há diferença estatística apontada entre os três blocos de aulas, com desportos com maior aceitação específica dos que responderam que gostaram muito, Lutas em segundo e recreação em terceiro.

Quadro 5: Dados de satisfação pessoal com relação aos blocos de conteúdos ministrados

Satisfação Recreação Lutasª Desportosª

Gostei muito 47,7% 61,4% 75%

Gostei pouco 52,2% 25% 20,3%

Indiferente - 6,8% 2,3%

Não gostei - 4,5% 2,3%

Detestei - 2,2%

-a= diferença significativa das Recreação (p<0,05). Fonte: Dados da pesquisa.

Figura 3: Dados de satisfação pessoal e motivação intrínseca com relação aos blocos de conteúdos ministrados

No Quadro 6 foram apresentados os dados de satisfação computados somente para a opção da aula ótima e o conteúdo de lutas ficou com 54%, recreação com 52% e esportes com 38%.

Quadro 6: Dados com a opinião dos alunos sobre as aulas, considerando apenas a afirmação “Ótima”, para o total de alunos e para ambos os sexos

Aulas Total Meninos Meninas Valor p

Recreação 52% (23) 45% (9) 58% (14) NS Lutas 54% (24) 75% (15) 37% (9) p=0,007 Esporte 38% (17) 50% (10) 29% (7) p=0,02 NS = não significativo

Fonte: Dados da pesquisa.

Figura 4: Dados de satisfação das aulas considerando as afirmações “Ótima”, para o total de alunos e para ambos os sexos

Fonte: Dados da pesquisa.

No Quadro 7 foram expostos os dados sobre classificação das aulas que foram ministradas nos blocos de conteúdos onde Lutas obtiveram 54,5% de participantes que acharam a aula ótima, recreação obteve 52,3% e desportos obteve 38,6%. Quadro 7: Dados com a opinião dos alunos sobre as aulas dos blocos de conteúdos ministradas

Satisfação Recreação Lutas Desporto

Ótima 52,2% 54,5% 38,5%

Boa 45,4% 27,3% 43,2%

Regular 2,3% 13,6% 11,4%

Ruim - 4,5% 6,8%

Fonte: Dados da pesquisa.

Figura 5: Dados da opinião dos alunos sobre as aulas dos conteúdos ministrados

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Esta pesquisa teve por objetivo verificar a motivação intrínseca e extrínseca relacionadas ao conteúdo de lutas na educação física escolar e medir a satisfação dos alunos com esse conteúdo assim como recreação/jogos cooperativos e os desportos futsal, voleibol, handebol e basquete. Neste contexto, os principais achados mostram que as lutas apresentam grau de satisfação relevante e devem ser consideradas no planejamento das atividades escolares.

De acordo com o que encontramos no Quadro 1 com relação ao que motiva os alunos a participarem das aulas de Educação Física, o principal motivo é extrínseco, a obrigação curricular da escola. Sobre isto Kobal (1996) não acredita revelar nenhuma tendência, mas sim ser reflexo da aceitação de uma obrigação do dia-a-dia escolar, pois na faixa de escolaridade básica as disciplinas não são optativas. Ainda como motivos extrínsecos para participar das aulas de EF os alunos concordaram com estar com os amigos e tiras boas notas.

O segundo e o terceiro motivo, ambos intrínsecos, para os alunos participarem das aulas é aumentar os conhecimentos sobre esportes e outros conteúdos da educação física, seguido por gostar de atividades físicas, o que concorda com os achados de Marzineck (2007), que relata sobre o prazer por buscar conhecimento e prazer pela atividade em si, prazer pelo novo, demonstrando os alunos estarem motivados para a aprendizagem, pois como relata Kobal (1996) um dos aspectos precípuos para a aquisição de conhecimento e motivação para a aprendizagem é o prazer.

A única discordância relatada nos dados na questão 1 é sobre motivação extrínseca na afirmação que o rendimento próprio é maior do que o de seus colegas, concordando com o estudo de Kobal (1996) onde ela percebe que o foco da realização da atividade está na tarefa e não na comparação da própria habilidade com a dos outros, aumentando o interesse intrínseco na atividade. Para aumentar a motivação dos alunos com o conteúdo de Educação Física, sugere-se o aumento sugere-semanal de aulas, o quê elevaria a motivação extrínseca da prática tendo em vista que os próprios alunos expressaram a obrigatoriedade da aula como principal motivo de prática. Mas principalmente sugere-se a diversificação dos conteúdos ministrados em aula, identificado como segunda opção de maior grau de motivação nos alunos, que por ter caráter intrínseco constitui melhor capacidade motivadora, pois esta motivação vem da atividade em si (KOBAL, 1996), proporcionando uma ampla vivência cultural sobre o movimento humano, que é obrigação da Educação Física Escolar. Afinal como declara Daolio (2004) o profissional de Educação Física não deve se restringir ao movimento em si ou aos esportes e atividades físicas, mas ampliar seus recursos didáticos em busca de uma pluralidade cultural relacionada ao corpo e ao movimento humanos, historicamente definidos como jogo, esporte, dança, luta e ginástica.

De acordo com o descrito no Quadro 2, o principal motivo é intrínseco para eles gostarem de uma aula de

educação física e é quando aprendem uma nova habilidade. Corroborando com o estudo de Marzineck (2007) e Kobal (1996) verificou-se um elevado grau de motivação intrínseca por parte dos estudantes dessa faixa etária com a disciplina. A discordância evidenciada nos dados da questão 2 (Quadro 2), na mesma direção das pesquisas de Kobal (1996) confirmou os resultados da questão 1 (Figura 2), onde verifica-se que não constitui fator motivador a comparação dos rendimentos entre os colegas. Observa-se então, novamente a necessidade de diversificar os conteúdos e desafios propostos aos alunos, como maneira de elevar o grau de motivação na prática de Educação Física com os estudantes desta faixa etária.

Consoante com o que foi descrito no Quadro 3, a maior concordância para os alunos ficarem descontentes com as aulas de educação física seria não conseguir realizar as atividades bem. Isto acrescenta um desafio ao professor de Educação Física como motivador em suas aulas, pois para elaborar o plano de aula deverá montar um programa baseado na psicologia do esporte, que como explica Pacheco (2010) deve levar em conta as pessoas e seus comportamentos em contextos de atividades físicas. O programa não deve ser monótono para desmotivar pela falta de interesse, como identificado no Quadro 6, nem complexo demais, como descrito no Quadro 3, onde os alunos executem com dificuldades os exercícios.

Comparando os achados sobre a motivação para a prática das atividades físicas na escola com a pesquisa sobre a satisfação dos mesmos alunos com os blocos de conteúdo desta matéria, observa-se que na Quadro 4/ Figura 2 a satisfação geral entre ambos os sexos referente ao bloco de lutas é menor que a satisfação referente aos blocos de recreação e de desportos. Ao fazer uma análise com diferença de gêneros, observa-se que o dado se deve a significativa diferença estatística entre meninos (100%) e meninas (79,1%) que gostaram do tema lutas. Justifica-se isto ao analisar histórica e biologicamente a diferença entre os sexos nos papéis que eram desempenhados nas sociedades patriarcais de antigamente, quando surgiu a luta. Desde o homem primitivo que observava os animais para desenvolver as primeiras técnicas de defesa e ataque para sobrevivência, citado por Sousa (2012), que utilizava o corpo para se defender e para caçar, passando pelo soldado dos exércitos da antiguidade como de Grécia, Roma ou Esparta, ou até mesmo como retratado por Gracie (2008) os monges budistas indianos que desenvolveram o primeiro estilo de luta, que visava à defesa pessoal contra invasores e saqueadores e utilizava alavancas para direcionar e imobilizar o adversário sem danos físicos, as lutas e a atividade de guerra eram ocupações referentes à figura masculina.

E ainda corrobora isto Lançanova (2006) que diz que toda a ação de defesa ou ataque, contra animais ou inimigo, assim como a caça e o combate na guerra com ou sem armas, a luta se faz presente, seja organizadamente com as modalidades conhecidas, seja de maneira instintiva, vinda de uma necessidade.

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Outro fator desmotivador é a realidade da escola, sem um espaço adequado para a prática da atividade de lutas, não tendo materiais para melhor aproveitamento da aula, como tatames, protetores e acessórios disponíveis em academias. Para aumentar a satisfação e buscando a inclusão do sexo feminino na prática sugere-se a montagem de um espaço na escola destinado à prática de lutas, com um tatame de lona e raspa de borracha, que são materiais muitas vezes descartados ou de baixo custo para a comunidade escolar. Assim a prática do conteúdo de lutas poderia contar com todo o potencial motivador nos alunos, que aumentariam os conhecimentos sobre esportes e outros conteúdos da educação física (Quadro 1) concomitante com novas habilidades que aprenderiam (Quadro 2).

Observam-se no Quadro 5 os dados referentes à satisfação pessoal discriminados nas opções gostei muito, gostei pouco, indiferente, não gostei e detestei. Dentre os alunos que gostaram muito das aulas, lutas (61,4%) situam-se entre recreação (47,7%) e desportos (75%). Obsituam-serva-situam-se aí também uma significativa diferença estatística entre os conteúdos, porém já era esperado que os desportos se saíssem melhores, afinal historicamente estão inseridos na educação física como conteúdo escolar principal da matéria. Segundo Marzinek (2007) os desportos, dentre eles o futebol com mais popularidade no nosso país, seguido pelo voleibol, basquete e handebol, são os blocos de conteúdos mais desenvolvido nas escolas e o preferido dos alunos, desde a o ensino fundamental até o início do ensino médio.

Observam-se também nos dados da tabela 5 que as lutas geraram mais opiniões de muita satisfação do que recreação. Estes dados apontam lutas situadas no ponto médio entre o registro de muita satisfação dos desportos e os registros de recreação. Isto posto que os desportos contem com maior popularidade entre os alunos pelos motivos expostos por Marzinek (2007) e por dominarem as práticas de educação física nos colégios, o conteúdo de lutas obteve uma média bastante alta semelhante ao futebol e os outros desportos. Talvez a falta de familiarização com a prática tenha sido um fator que pode ter gerado insatisfação nas meninas além dos fatores extrínsecos do ambiente e dos materiais serem improvisados para as práticas. Para Lançanova (2006) uma aula sem um cenário dando sentido e prazer aos exercícios pode gerar insatisfação e desmotivação extrínseca.

Talvez pela prática competitiva atrair mais que a lúdica, os desportos e as lutas tenham superado a recreação dentre os que gostaram muito, mais um motivo para a prática das lutas na escola como educação física afinal conforme Kobal (1996) deveriam fazer parte das aulas de Educação Física as maiores possibilidades de obtenção do prazer através da atividade física e da busca pela motivação intrínseca para a prática.

Sobre o que encontramos quando perguntado aos alunos sobre a qualidade das aulas dos blocos de conteúdos retrata-se na tabela 6 e 7 que lutas obtiveram 54% de alunos que acharam a aula ótima, contra 52% da recreação e 38% do esporte. Justificam-se esses dados talvez pela sobrecarga

que os alunos têm com o conteúdo de desportos durante toda a vida escolar, mas também pelo fato dos professores que ministraram as aulas possuírem anos de prática de artes marciais levando possivelmente a um maior acervo de exercícios que motivaram os alunos. Porém isto não se torna uma desculpa para as lutas não serem ministradas pelo professor de educação física sem formação de lutador, pois como afirmam os autores em Corrêa, Queiroz e Pereira (2010) o principal fator de justificativa do professor não ministrar o conteúdo é ele achar que não tem formação sobre o assunto. Sobre isso os autores são enfáticos ao dizer que o conteúdo está à mostra e que não precisa possuir uma faixa preta para desenvolver uma boa aula.

Aliado a isso, temos a precariedade de material disponível na escola pública para a prática de desportos que contribui como forma desmotivadora extrinsecamente. Verificando isto se sugere uma prática pedagógica com maior alternância entre conteúdos no planejamento das aulas, contemplando igualmente todos os principais blocos de conteúdo, resumidos no jogo, ginástica, dança, luta e esporte, como forma de aumentar a motivação intrínseca e o prazer com a atividade física por parte dos estudantes.

4 Conclusão

Concluímos, portanto, que os alunos apresentaram grau de motivação e satisfação relevante para aulas de lutas com resultados bastante altos, similares aos obtidos com desportos. Neste sentido, sugere-se que as lutas, como previstas nos Parâmetros Curriculares Nacionais, sejam aplicadas e tornem-se realidade no contexto escolar da Educação Física.

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Referências

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