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A experiência e a vivência em dois centros de recuperação de fauna selvagem: Associação Mata Ciliar (Brasil) e Folly Wildlife Rescue (Reino Unido)

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

A experiência e a vivência em dois centros de recuperação de fauna

selvagem: Associação Mata Ciliar (Brasil) e Folly Wildlife Rescue (Reino

Unido)

Dissertação de Mestrado Integrado em Medicina Veterinária

Irina Andreia Caseiro Varela

Orientador

Professor Doutor José Manuel de Melo Henriques de Almeida

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III

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

A experiência e a vivência em dois centros de recuperação de fauna

selvagem: Associação Mata Ciliar (Brasil) e Folly Wildlife Rescue (Reino

Unido)

Dissertação de Mestrado Integrado em Medicina Veterinária

Irina Andreia Caseiro Varela

Orientador

Professor Doutor José Manuel de Melo Henriques de Almeida

Composição do Júri:

Professor Doutor Filipe da Costa Silva

Dr. Ricardo Manuel Lemos Brandão

Professor Doutor José Manuel de Melo Henriques de Almeida

Professor Doutor Dario Joaquim Simões Loureiro dos Santos

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IV Declaração

Nome: Irina Andreia Caseiro Varela C.C.:14584405

Telemóvel: (+351) 915684985

Correio eletrónico: irina.acvarela@hotmail.com

Designação do mestrado: Mestrado Integrado em Medicina Veterinária Título da dissertação de Mestrado em Medicina Veterinária:

A experiência e a vivência em dois centros de recuperação de fauna selvagem: Associação Mata Ciliar (Brasil) e Folly Wildlife Rescue (Reino Unido)

Orientador: Professor Doutor José Manuel de Melo Henriques de Almeida

Declaro que esta dissertação de mestrado é resultado da minha pesquisa e trabalho pessoal sob orientação do meu supervisor. O seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto e na bibliografia final. Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para obtenção de qualquer grau académico.

Vila Real, 2020 Irina Andreia Caseiro Varela

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V

Agradecimentos

Em primeiro lugar gostaria de agradecer à mui nobre Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e a todos os docentes e técnicos que de alguma forma contribuíram para a minha formação durante estes anos.

Ao meu orientador, Professor Doutor José Manuel Almeida, pelo apoio incondicional, conversas, conselhos e ensinamentos que me transmitiu durante a realização deste trabalho e por acreditar que eu seria capaz de o fazer.

A toda a equipa da Associação Mata Ciliar, todos os tratadores, equipa administrativa, médicas veterinárias e estagiários, o meu muito obrigado por me terem feito sentir em casa mesmo estando do outro lado do mundo, pela confiança que depositaram em mim e pelos conhecimentos que me transmitiram.

Um agradecimento especial à Drª Cristina Harumi Adania pela oportunidade de trabalhar em contacto tão próximo com animais tão sensacionais como os jaguares.

A toda a equipa do hospital Folly Wildlife Rescue, em especial ao médico veterinário Andrew Bransgrove, à fundadora Annette Risley e membro da equipa Julie Roman, por todo o apoio, conhecimentos e experiência que me transmitiram durante os 3 meses de estágio.

A todos os amigos que Vila Real me deu pelos bons momentos que contribuíram para as memórias que trago comigo, em especial aos elementos da família Esdrubalina e à Maria Inês Mendes.

A toda a equipa da AEMV por todos os anos de trabalho de equipa, por me terem ajudado a desenvolver capacidades que sem dúvida serão importantes para o futuro.

À Carolina por todas as conversas, desabafos, gargalhadas, sessões de estudo, abraços e “tu consegues”, por ter sido a irmã mais velha que nunca tive.

Ao Fábio por todo o carinho, felicidade e paciência que me proporcionou e proporciona ao longo destes anos.

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VI À minha família, pelo carinho, preocupação e apoio que sempre me demonstraram durante todo o meu percurso.

Um agradecimento muito especial aos meus pais por sempre terem acreditado que seria capaz de realizar os meus sonhos, por me terem apoiado incondicionalmente desde sempre e por me fazerem acreditar que seria capaz de atingir qualquer objetivo a que me propusesse.

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VII

Resumo

Num mundo em que a proximidade entre a fauna selvagem e o ser humano é cada vez maior, é espectável que as interações e conflitos resultantes dessa proximidade também aumentem, resultando frequentemente em impactes negativos tanto para a fauna, como para a população. A ação iatrogénica exercida sobre a fauna selvagem leva a que muitas vezes os animais necessitem de cuidados médico-veterinários que lhes são prestados pelos Centros de Reabilitação de Animais Selvagens (CRAS). No entanto o papel do médico-veterinário neste tipo de instituições vai além do tratamento dos animais admitidos, tendo o mesmo um papel importante para a saúde pública e indiretamente para a conservação da biodiversidade através de ações como a educação ambiental.

O presente relatório foi escrito com base nas atividades desenvolvidas durante o período de estágio realizado em dois centros de reabilitação de fauna selvagem. Para além da descrição das atividades realizadas em ambos os locais de estágio, os temas abordados são temas que considero relevantes direta, ou indiretamente para a medicina da conservação. O primeiro tema abordado é o condicionamento de jaguares em cativeiro para administração de substâncias injetáveis, prática que considero ser importante para reduzir o stress a que os animais são sujeitos durante as ações de maneio, assim como a duração do mesmo. Posteriormente será abordado o tema de enriquecimento ambiental, novamente uma prática com elevada importância para prevenção de problemas clínicos e para melhorar o bem-estar dos animais mantidos em cativeiro. O último tema relacionado com o estágio no Brasil é o da educação ambiental, tema que considero ser extremamente relevante para a conservação da biodiversidade já que contribui para o conhecimento das populações relativamente a determinadas espécies existentes na sua região e outras, as ameaças a que essas espécies estão sujeitas, a contribuição do ser humano para essas ameaças e também para informar sobre medidas que possam auxiliar a conservação dessas mesmas espécies. Por último descrevo as atividades desenvolvidas no Folly Wildlife Rescue (Inglaterra), dando especial atenção ao impacte negativo que os gatos domésticos exercem sobre a fauna selvagem da região.

Palavras-chave: Conservação, Condicionamento, Panthera onca, Enriquecimento Ambiental, Educação Ambiental, Gato doméstico, Centros de Recuperação de Fauna Selvagem

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IX

Abstract

In a world where the proximity between wildlife and humans is increasing, it is expected that the interactions and conflicts resulting from this proximity will also increase, often resulting in negative impacts on both the fauna and the population. The iatrogenic action on wildlife often means that animals often need veterinary medical care provided by the Wildlife Rehabilitation Centers (CRAS). However, the role of the veterinarian in this type of institution goes beyond the treatment of admitted animals, having an important role for public health and indirectly for the conservation of biodiversity through actions such as environmental education.

This report was written based on the activities carried out during the externship period carried out at two wildlife rehabilitation centers. In addition to describing the activities carried out at both externships, the topics covered are topics that I consider relevant directly or indirectly to conservation medicine. The first theme addressed is the training of captive jaguars for administration of injectable substances, a practice that I consider important to reduce the stress to which animals are subjected during the management actions, as well as the duration of the same. After that will be addressed the issue of environmental enrichment, again a practice with high importance for the prevention of clinical problems and to improve the welfare of animals kept in captivity. The last theme related to the externship in Brazil is the environmental education, which I consider to be extremely relevant for the conservation of biodiversity as it contributes to the knowledge of the populations regarding certain species existing in their region and others, the threats that these species are subject, human contribution to these threats and also to inform on measures that may assist the conservation of these species. Finally, I describe the activities carried out at Folly Wildlife Rescue (England), paying attention to the negative impact that domestic cats have on the wildlife of the region.

Keywords: Conservation, Animal training, Panthera onca, Environmental Enrichment, Environmental Education, Domestic Cat, Wildlife Rehabilitation Center

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XI

Índice

Agradecimentos ... V Resumo ... VII Abstract ... IX Índice ... XI Índice de figuras ... XIII Índice de Tabelas ... XXI Índice de quadros ... XXIII Índice de Gráficos ... XXIII Lista de Abreviaturas ... XXV

Introdução ... 1

2. Associação Mata Ciliar (AMC) ... 7

2.1. Descrição do local e atividades desenvolvidas ... 7

Nutrição: ... 8 Clínica: ... 9 Jaguaretê/Filhotes: ... 10 CRAS: ... 14 ADM (Administração): ... 16 Felinos: ... 20 2.2. Condicionamento em jaguares ... 23 2.2.1 . Introdução ... 23 2.2.2 Materiais e Métodos ... 31 2.2.3. Resultados e Discussão ... 38

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XII 2.2.4. Conclusão ... 50 2.3. Enriquecimento Ambiental ... 51 2.3.1. Primatas ... 54 2.3.2- Felinos ... 59 2.4. Educação Ambiental ... 72

2.4.1 Educação Ambiental na AMC ... 75

3. Folly Wildlife Rescue ... 91

3.1 Descrição do local e atividades desenvolvidas ... 91

3.1.1. UCI- Sala de cuidados intensivos ... 94

3.1.2. Unidade 1- Internamento de Ouriços-cacheiros (E. europeus) ... 96

3.1.3. Unidade 2- Unidade para mamíferos e aves de maior porte ... 97

3.1.4. Enfermaria ... 98

3.1.5. Aviários ... 99

3.1.6. Sala de cuidados veterinários e raio-x ... 100

3.1.7. Educação ambiental ... 105

3.2 Predação por gatos domésticos e assilvestrados- impacte na vida selvagem ... 106

4. Conclusão ... 113

(13)

XIII

Índice de figuras

Figura 1- Preparação da alimentação na cozinha da AMC ... 8

Figura 2- Clínica da AMC ... 9

Figura 3- Contenção e colheita de amostra de sangue de uma preguiça (Bradypus variegatus). ... 10

Figura 4- Contenção de um ouriço cacheiro (Sphiggurus villosus) e realização de ozonoterapia. ... 10

Figura 5- Instalações do Jaguaretê: a) UTI; b) sala de cuidados veterinários; c) sala de cirurgia e raio-x. ... 10

Figura 6- Algumas das espécies que deram entrada no setor filhotes. a) Ouriço- cacheiro (S. villosus); b) Gato-do-mato pequeno (L. tigrinus); c) Corujinha-do-mato (M. choliba); d) Periquito-de-encontro-amarelo (B. chiriri); e) Quati (N. nasua); f) Tucano-toco (R. toco); g) Sagui-de-tufo-preto (C. penicillata); h) Gambá-de-orelha-branca (D. albiventris). ... 11

Figura 7- Enriquecimento alimentar para estimular o comportamento de procura de alimento num Tamanduá- mirim (T. tetradactyla) ... 12

Figura 8- Procedimentos realizados em lobos-guará (C. brachyurus): a) pesagem ; b) realização de exame físico. ... 12

Figura 9- Drenagem e limpeza de abcesso facial num puma (P. concolor). ... 13

Figura 10- Colheita de sémen num gato-mourisco (P. yagouaroundi). ... 13

Figura 11- Inseminação artificial em jaguar (P. onca). ... 13

Figura 12- Interação entre as crias de macaco-prego (S. nigritus). ... 14

Figura 13- Espécies de primatas existentes no CRAS-AMC: a) Sagui-de-tufo-preto (C. penicillata); b) Macaco-prego (S. nigritus); c) Bugio (A. caraya); d) Sauá (C. nigrifrons) ... 14

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XIV Figura 14- Algumas das espécies de aves, répteis e mamíferos existentes no CRAS-AMC: a) Emu (D. novaehollandiae) (espécie exótica); b) Arara-canindé (A. ararauna); c) Maritaca (P. leucophthalmus); d) Papagaio-verdadeiro (A. aestiva); e) Coruja-listrada (S. hylophila); f) Corujinha-do-mato (M. choliba); g) Tucano-toco (R. toco); h) Jabuti (C. carbonaria); i) Cachorro-do-mato (C. thous). ... 15 Figura 15- Resgate de um gambá-de-orelha-branca: a) localização do animal quando chegámos ao local; b) captura e contenção do animal. ... 17 Figura 16- Resgate de um sagui-de-tufo-preto: a) localização do animal quando chegámos ao local; b) captura e contenção do animal; c) animal em segurança no interior da transportadora. ... 17 Figura 17- Devolução de passeriformes à natureza: a) um dos espécimes de Trinca-ferro libertados. ... 18 Figura 18- Devolução à natureza de uma preguiça. ... 18 Figura 19- Curso de maneio de fauna selvagem: a) captura e contenção de uma iguana; b) captura e contenção de um bugio; c) demonstração de como utilizar um laço. ... 19 Figura 20- Espécies pertencentes ao setor de pequenos felinos: a) gato-do-mato-grande; b) jaguatirica; c) gato-maracajá; d) gato-do-mato-pequeno; e) gato-palheiro; f) gato-mourisco. 20 Figura 21- Espécies pertencentes ao setor de grandes felinos: a) parda; b) leoa; c) onça-pintada ... 21 Figura 22- Desinfestação do recinto da leoa: a) utilização do maçarico; b) pulverização com ectoparasiticida. ... 22 Figura 23- Captura de um gato-do-mato-pequeno para maneio reprodutivo. ... 22 Figura 24- Contenção física numa jaula de prensa para administração de um anestésico injetável. ... 22

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XV Figura 25- Exemplares de onça pintada: coloração normal e onça melânica. Nos exemplares é

possível observar o padrão de pintas e rosetas. ... 23

Figura 26- Bianca (Indivíduo 1) ... 31

Figura 27- Julieta (Indivíduo 2) ... 31

Figura 28- Potira (Indivíduo 3) ... 32

Figura 29- Apiúna (Indivíduo 4) ... 32

Figura 30- Tabatinga (Indivíduo 5) ... 33

Figura 31- Jaula de prensa utilizada no condicionamento posicionada na porta da área de recolha. ... 33

Figura 32- Alimentação da fêmea na área de recolha. ... 34

Figura 33- Alimentação no interior da jaula de prensa com a porta fechada. ... 35

Figura 34- Picada com agulha esterilizada após imobilização com a prensa. ... 36

Figura 35- Bugio a descansar numa das mangueiras colocadas no recinto. ... 55

Figura 36- Enriquecimento físico realizado no recinto dos macacos-prego: a) baloiços e alguns poleiros adicionados ao recinto; b) mangueiras suspensas para os animais se movimentarem pelo recinto. ... 56

Figura 37- Enriquecimento alimentar para bugios- a) flores de Ipê amarelo; b) folhas de amora. ... 57

Figura 38- Enriquecimento alimentar com macacos-prego: a) alimentação num dos pontos onde se colocou a comida; b) colocação dos coquinhos numa superfície plana; c) utilização da pedra para esmagar o coquinho. ... 58

Figura 39- Enriquecimento nutricional para primatas realizado com mel, troncos/casca de árvores e cipó. ... 58

(16)

XVI Figura 40- Enriquecimento físico realizado com gatos-do-mato-pequeno: a) acessório pendurado no recinto; b) cria a interagir com o enriquecimento. ... 59 Figura 41- Recintos de grandes felinos: a) recinto pequeno; seta azul- entrada para o túnel de acesso ao recinto maior; b) recinto maior. ... 60 Figura 42- Exibição de comportamentos exploratórios. ... 61 Figura 43- Recinto do puma antes do enriquecimento e depois do enriquecimento. ... 61 Figura 44- Interação de exemplares de jaguatirica com canela. a) canela colocada no poleiro; b) canela colocada na pedra; seta azul- superfície brilhante devido à saliva. ... 62 Figura 45- Enriquecimento sensorial realizado com grandes felinos. a) tronco com canela colocado numa caixa de cartão; b) caixa pendurada num dos recintos; c) caixa colocada em cima de um poleiro. ... 63 Figura 46- Diferenças de interação com enriquecimento em grandes felinos: a) interação com todos os componentes do enriquecimento nos jaguares; b) interação com o tronco nos pumas. ... 64 Figura 47- Enriquecimento alimentar desenvolvido para os grandes felinos. ... 65 Figura 48- Recinto do Juazeiro; seta laranja: local por onde frequentemente era fornecida a alimentação. ... 66 Figura 49- Condição corporal do Juazeiro- proeminências ósseas e costelas evidentes. ... 66 Figura 50- Enriquecimento alimentar- caixa com carne no interior pendurada no recinto. ... 67 Figura 51- Enriquecimento alimentar para um puma com carcaça de veado-catingueiro. a) interação com a carcaça; b) lamber a carcaça; c) levar a carcaça para um local escondido. ... 68 Figura 52- Evolução do caso do Juazeiro- a) condição corporal em Agosto de 2018; b) condição corporal em Setembro de 2018. A área onde o felino se encontra na figura b) era onde realizava pacing. ... 69

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XVII Figura 53- : Evolução do caso do Juazeiro. a) Novembro de 2018; b) Dezembro de 2018. Notar a melhoria no estado do pelo e o crescimento de vegetação na área de realização de pacing. 70

Figura 54- Grupo de crianças no viveiro de mudas. ... 76

Figura 55- Estátua construída a partir de gaiolas de aves provenientes de apreensão. ... 77

Figura 56- Visita de educação ambiental: recinto de gatos-mourisco. ... 79

Figura 57- Diferentes colorações do gato-mourisco: a) cinzento escuro; b) laranja claro. ... 80

Figura 58- Visita de educação ambiental: recinto dos bugios. ... 80

Figura 59- Visita de educação ambiental: recinto dos urubus e carcarás. ... 81

Figura 60- Visita de educação ambiental: explicação do funcionamento do jaguaretê. ... 83

Figura 61- Algumas das espécies existentes no recinto das aves. a) Arara-canindé; b) Maritaca; c) Papagaio-verdadeiro; d) Tucano-toco. ... 84

Figura 62- Visita de educação ambiental: Recinto dos emus, jabutis e tigres d’água. ... 85

Figura 63- Visita de educação ambiental: Recinto dos macacos-prego. ... 86

Figura 64- Potira e Apiúna. ... 87

Figura 65- Puma Mayo. ... 87

Figura 66- Visita de educação ambiental: jogo didático realizado no fim da visita. ... 88

Figura 67- Visita de educação ambiental: interação com os animais empalhados. ... 88

Figura 68-Visita de educação ambiental: crianças a tocarem em diferentes tipos de ovos e peles de animais. ... 89

Figura 69- UCI: a) sala de cuidados intensivos; b) jaulas onde são mantidos os animais; c) mesa onde são avaliados os animais e incubadoras para manter os animais quentes. ... 94

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XVIII Figura 70- Algumas das crias de aves que necessitavam de ser alimentadas à mão: a) Pega-rabuda (Pica pica); b) chapim-real (Parus major); c) chapim-azul (Cyanistes caeruleus); d) gralha (Corvus corone). ... 95 Figura 71- Unidade 1: a) incubadoras para animais debilitados; b) jaulas para ouriços e aves. ... 96 Figura 72- Unidade 1- banho com enilconazol para tratamento de dermatofitose. Seta branca- lesões crostosas causadas pelo fungo dermatófito. ... 96 Figura 73- Unidade 2: Jaulas para mamíferos e aves de maior porte (lado direito) e cubículos (lado esquerdo). ... 97 Figura 74- Utilização dos cubículos da Unidade 2: a) ave aquática; b) crias de coelho-europeu. ... 98 Figura 75- Enfermaria do centro. ... 98 Figura 76- Aviários do centro: a) aviário utilizado para passeriformes (chapins, pintassilgos, pardais, etc); b) aviário utilizado para corvídeos (pegas-rabudas, gralhas-pretas); c) aviário com corujas-do-mato. ... 99 Figura 77- Instalações veterinárias: a) sala para avaliação dos animais; b) sala para revelação do raio-x e de análises clínicas; c) sala de raio-x. ... 100 Figura 78- Caso do texugo albino- a) anestesia; b) corte profundo na mandíbula; c) fenda no palato; d) raio-x dorsoventral da cabeça e fratura de mandíbula. ... 101 Figura 79- Caso do texugo albino: lesões cicatrizadas. ... 102 Figura 80- Procedimentos realizados em crias de texugo: a) colheita de sangue; b) colocação de microchip. ... 103 Figura 81- Caso do ouriço cacheiro: a) exoftalmia do olho direito; b) cabeça convexa. ... 103

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XIX Figura 82- Caso do ouriço cacheiro- raio-x lateral; seta- local da fratura com saída de matéria cinzenta. ... 104 Figura 83- Caso do ouriço cacheiro: eutanásia com pentobarbital administrado na veia cava cranial. ... 104

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XXI

Índice de Tabelas

Tabela 1- Protocolo de administrações realizado em 2018 com recurso ao comportamento condicionado (M2). ... 36 Tabela 2- Protocolo de administrações realizado em 2017 recorrendo a arma pneumática e dardo (M1) ... 37 Tabela 3- Horários referentes aos procedimentos realizados com o método 1 e com o método 2. H1- 1ª administração de hormona; H2- 2ª administração de hormona; A- administração da anestesia. ... 39 Tabela 4- Duração dos intervalos de tempo (minutos) nos procedimentos realizados com o método 1 e 2, duração total dos procedimentos e duração da manipulação dos animais. H1- 1ª administração de hormona; H2- 2ª administração de hormona; A- anestesia; *- valores obtidos com o método 1. ... 39 Tabela 5- Horários referentes aos procedimentos realizados com o método 1 e com o método 2. H1- 1ª administração de hormona; H2- 2ª administração de hormona; A- anestesia ... 40 Tabela 6- Duração dos intervalos de tempo (minutos) nos procedimentos realizados com o método 1 e 2, duração total dos procedimentos e duração da manipulação dos animais. H1- 1ª administração de hormona; H2- 2ª administração de hormona; A- anestesia ... 40 Tabela 7- Horários referentes aos procedimentos realizados com o método 1 e com o método 2. H1- 1ª administração de hormona; H2- 2ª administração de hormona; A- anestesia. ... 41 Tabela 8- Duração dos intervalos de tempo (minutos) nos procedimentos realizados com o método 1 e 2, duração total dos procedimentos e duração da manipulação dos animais. H1- 1ª administração de hormona; H2- 2ª administração de hormona; A- anestesia ... 41 Tabela 9-Horários referentes aos procedimentos realizados com o método 1 e com o método 2. H1- 1ª administração de hormona; H2- 2ª administração de hormona; A- anestesia ... 42

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XXII Tabela 10- Duração dos intervalos de tempo (minutos) nos procedimentos realizados com o método 1 e 2, duração total dos procedimentos e duração da manipulação dos animais. H1- 1ª administração de hormona; H2- 2ª administração de hormona; A- anestesia. ... 42 Tabela 11-Duração dos intervalos de tempo (minutos) nos procedimentos realizados com o método 1 e 2, duração total dos procedimentos e duração da manipulação dos animais. H1- 1ª administração de hormona; H2- 2ª administração de hormona; A- anestesia ... 43 Tabela 12- Horários referentes aos procedimentos realizados com o método 1 e com o método 2. H1- 1ª administração de hormona; H2- 2ª administração de hormona; A- anestesia ... Erro! Marcador não definido.

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XXIII

Índice de quadros

Quadro 1- Fases dos procedimentos ... 37 Quadro 2- Intervalos de tempo decorridos entre as fases do maneio. ... 38

Índice de Gráficos

Gráfico 1- Duração média do intervalo T0-T1 no método 1 (M1) e no método 2 (M2). ... 44 Gráfico 2- Influência da presença/ausência de cria na duração do intervalo T1-T2. ... 45 Gráfico 3- Duração média do intervalo T1-T2 no método 1 (M1) e no método 2 (M2). ... 46 Gráfico 4- Duração média do intervalo T2-T4 no método 1 (M1) e no método 2. ... 47 Gráfico 5- Duração média do procedimento- administração de hormonas: duração total vs duração da manipulação dos animais no método 1 (M1) e no método 2 (M2). ... 48 Gráfico 6- Duração média do procedimento- administração da anestesia: duração total vs duração da manipulação dos animais no método 1 (M1) e no método 2 (M2). ... 49 Gráfico 7- Número de animais admitidos durante o período de estágio. ... 92 Gráfico 8- Causas de admissão dos animais. ... 93 Gráfico 9- Distribuição por classe dos animais predados por gato. ... 108 Gráfico 10-Espécies de mamíferos e aves admitidos com maior frequência por predação de gato. ... 109 Gráfico 11- Distribuição dos espécimes por idade. ... 109 Gráfico 12- Destino dos animais admitidos por predação de gato doméstico. ... 110 Gráfico 13- Número de animais que morreram ou foram eutanasiados vs número de animais libertados. ... 111

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XXV

Lista de Abreviaturas

AMC- Associação Mata Ciliar

CETAS- Centros de Triagem de Animais Silvestres CRAS- Centro de Reabilitação de Animais Selvagens

CRAS-AMC- Centro de Reabilitação de Animais Selvagens da Associação Mata Ciliar CREW- Center for Conservation and Research of Endangered Wildlife’s

EUA- Estados Unidos da América

GEFAU- Sistema Integrado de Gestão Ambiental da Fauna de São Paulo IA- Inseminação Artificial

IBAMA- Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis IUCN- International Union for Conservation of Nature

RNCRF- Rede Nacional de Centros de Recuperação para a Fauna RSPCA- Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals SEPNA- Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente

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1

Introdução

Este trabalho intitulado “A experiência e a vivência em dois centros de recuperação de fauna selvagem, Associação Mata Ciliar (Brasil) e Folly Wildlife Rescue (Reino Unido)” é realizado no âmbito do trabalho final de mestrado do Mestrado Integrado em Medicina Veterinária, para a qual realizei alguns meses de estágio em Centros de Reabilitação de Animais Selvagens (CRAS) no Brasil e no Reino Unido com o objetivo de adquirir competências na área de medicina e conservação de fauna selvagem. Através da experiência adquirida nesses meses de estágio desenvolvi o interesse em determinadas áreas relacionadas com a fauna selvagem, nomeadamente conservação, enriquecimento e educação ambientais, e no papel que o médico veterinário teria nas mesmas.

A interação entre a fauna selvagem e os seres humanos é algo que sempre existiu e da qual resultam vários conflitos. O conflito entre a fauna selvagem e os seres humanos resulta tanto de ações realizadas pela fauna selvagem que afetam negativamente os seres humanos: destruição de colheitas, destruição de propriedades, perda de gado e até mesmo lesão e/ou morte de seres humanos (Karanth et al. 2019; Mukeka et al. 2019), como das ações realizadas pelos seres humanos que afetam negativamente a fauna selvagem, aumentando a morbilidade e mortalidade da mesma (Garcês et al. 2019; Taylor-Brown et al. 2019) . Estas ações incluem a construção de estradas que causam frequentemente atropelamentos (Angel Molina-Lopez et al. 2017; Burton e Doblar; Garcês et al. 2019; Montesdeoca et al. 2016; Shine e Koenig 2001; Simpson et al. 2013; Taylor-Brown et al. 2019), desflorestação para áreas de cultivo (Mukeka et al. 2019), construção de edifícios e torres elétricas que resultam em colisões e eletrocussões (Angel Molina-Lopez et al. 2017; Burton e Doblar; Garcês et al. 2019; Montesdeoca et al. 2016; Simpson et al. 2013), atividades pescatórias que levam a que os animais ingiram anzóis e linhas ou que fiquem emaranhados em redes (Burton e Doblar; Garcês et al. 2019; Taylor-Brown et al. 2019) e caça (por lazer ou retaliação por perdas de gado)(Angel Molina-Lopez et al. 2017; Burton e Doblar; Dhungana et al. 2019; Garcês et al. 2019; Kissui 2008; Montesdeoca et al. 2016; Moreto 2019). Para além destas, também a presença de animais domésticos tem um impacte negativo para os animais selvagens, não só pela predação (Burton e Doblar; Garcês et al. 2019; Koenig et al. 2002; Shine e Koenig 2001; Simpson et al. 2013; Taylor-Brown et al. 2019), como também pela transmissão de doenças (Burton e Doblar).

(27)

2 Para além do aumento de morbilidade e mortalidade relacionado com as causas já mencionadas, o impacte das atividades do ser humano também causa alterações na fisiologia (Injaian et al. 2019; McLennan et al. 2019) e no comportamento natural dos animais selvagens (Ancillotto et al. 2019; Gibson et al. 2018; Szott et al. 2019).

Os Centros de Reabilitação de Animais Selvagens (CRAS) são organizações responsáveis pelo resgate de animais que são encontrados debilitados e/ou feridos e também de animais que se encontram em locais considerados inapropriados por representarem um risco para o animal (p.e. postes de eletricidade) (Taylor-Brown et al. 2019), ou por os animais poderem representar um risco para as pessoas e/ou por serem indesejados pelas mesmas (Shine e Koenig 2001). Após o resgate dos animais, os centros são também responsáveis pela reabilitação e libertação dos mesmos.

No Brasil, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) é uma instituição que tal como o nome indica se encontra relacionada com a preservação do meio ambiente e gestão dos recursos naturais (Sobre o IBAMA). É responsável por fazer fiscalização ambiental da fauna que tem como objetivo a “proteção das espécies nativas e exóticas, desde insetos e aves até grandes mamíferos, além das espécies consideradas domésticas”. Esta proteção engloba o combate à captura ilegal e tráfico de animais, bem como a caça de espécies nativas (O que é a fiscalização ambiental). Os Centros de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) são definidos pela Instrução Normativa ICMBIO nº 23, 2014 como “unidades responsáveis pelo manejo de fauna silvestre com finalidade de prestar serviço de: receção, identificação, marcação, triagem, avaliação, recuperação, reabilitação e destinação de animais silvestres provenientes de ação fiscalizatória, resgates ou entrega voluntária de particulares; e que poderá realizar e subsidiar pesquisas científicas, ensino e extensão”, sendo a ação destes centros semelhante à dos CRAS em Portugal.

Em Portugal os CRAS estão regulamentados pela Portaria nº 1112/2009 (2009), onde é definida uma Rede Nacional de Centros de Recuperação para a Fauna (RNCRF). Estes centros são responsáveis pela receção, tratamento, recuperação (física e comportamental) e devolução ao habitat natural de origem (sempre que possível) de espécimes selvagens de fauna indígena ou naturalizada. Para além destas funções, a portaria também menciona que os CRAS têm como objetivos/funções contribuírem para ações de conservação, disponibilizarem a informação

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3 relativa aos espécimes recuperados, contribuírem para o conhecimento científico, promoverem a educação ambiental e contribuírem para a vigilância sanitária da fauna.

No caso do Reino Unido, tanto quanto percebemos não existe legislação específica a regulamentar esta área ao contrário do que sucede no Brasil e em Portugal, provavelmente devido ao facto dos dois últimos países mencionados seguirem o sistema romano-germânico em termos legislativos, enquanto que o Reino Unido segue o sistema anglo-saxão. No primeiro sistema há a tradição de produzir leis e regulamentos de nível inferior sistematicamente para enquadrar o funcionamento geral da sociedade e no segundo a resolução de conflitos é feita geralmente caso a caso, ou com base em casos semelhantes já ocorridos anteriormente, pelo que a tradição de produção leis é substancialmente menor do que no sistema romano-germânico (Brouwer 2018).

Os animais que dão entrada no CRAS podem ser provenientes de resgates efetuados por entidades competentes ou por particulares e de apreensões realizadas por entidades competentes. No Brasil estão incluídas no resgate de animais as seguintes entidades: Bombeiros, Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) e Guarda Civil Municipal. É também comum a entrega voluntária de animais mantidos de forma ilegal. A apreensão de animais é efetuada por diversas entidades, nomeadamente pela BPMA, Guarda Civil Municipal e IBAMA. Já no Reino Unido o resgate de animais é realizado por voluntários pertencentes aos centros de reabilitação, particulares, ou entidades como a Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals (RSPCA). Esta entidade em conjunto com forças policiais locais é também responsável pela realização de apreensões de animais selvagens mantidos em cativeiro de forma ilegal. Em Portugal os animais resgatados podem ser entregues nos centros por particulares, ou pelo Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA). Também podem dar entrada por transferência dentro da RNCRF, ou devido a apreensões.

Neste tipo de centros, as causas de entrada com origem antropogénica representam uma parte bastante significativa das admissões como se verifica em diversos estudos realizados em vários países nomeadamente Austrália (Koenig et al. 2002; Shine e Koenig 2001; Taylor-Brown et al. 2019), Estados Unidos da América (EUA) (Brown e Sleeman 2002; Burton e Doblar), Espanha (Angel Molina-Lopez et al. 2017; Montesdeoca et al. 2017) e Portugal (Garcês et al. 2019). Para além das causas já mencionadas, adicionam-se como causas de admissão de origem

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4 antropogénica emaranhamento em rede ou em cercas de arame, mencionado em estudos realizados nos EUA e na Austrália (Burton e Doblar; Shine e Koenig 2001; Taylor-Brown et al. 2019), envenenamento, mencionado em estudos dos EUA e Reino Unido (Burton e Doblar; Simpson et al. 2013) e acidentes de jardinagem ( causados por corta-relvas) que ocorrem especialmente em répteis na Austrália (Brown e Sleeman 2002), e também no Reino Unido (Cooper 2017) . A apreensão de animais selvagens é uma das causas principais de entrada nos centros brasileiros, principalmente quando se trata de aves (Pagano et al. 2010; Parreiras de Freitas et al. 2015). Apesar de ser proibida em vários estados, a utilização de linha de papagaio com cerol é uma causa comum de entrada de espécies de aves brasileiras nos centros uma vez que causa lesões nas asas ou membros das mesmas (BnR 2019; Oliveira 2019; Cerol- corte esta idéia).

Para além das causas de origem antropogénica, diversos estudos apontam causas de origem natural, sendo “animais órfãos” a causa mais frequente deste tipo e a segunda causa mais frequente de admissão (Angel Molina-Lopez et al. 2017; Montesdeoca et al. 2017; Taylor-Brown et al. 2019). As causas naturais também incluem doenças metabólicas/nutricionais (Angel Molina-Lopez et al. 2017; Montesdeoca et al. 2017) e doenças infecciosas e parasitárias (Angel Molina-Lopez et al. 2017; Burton e Doblar).

O papel do médico veterinário no CRAS vai muito além do resgate, tratamento, reabilitação e libertação de animais admitidos. Pelo contacto próximo com a fauna selvagem, o médico veterinário pode ser das primeiras pessoas a detetar doenças emergentes ou doenças enzoóticas com importância para a saúde pública (Burton e Doblar; Sainsbury et al. 2001), ou alterações relevantes no ecossistema já que determinadas espécies de animais funcionam como sentinelas para algumas doenças (p.e. Toxoplasmose e Febre do Nilo) ou como bioindicadores (Burton e Doblar; Lawson e Best 2017; Nicholas et al. 2018; Pyke e Szabo 2018; Smith et al. 1984). Segundo os estudos realizados por Martin (2002) e por Pyke e Szabo (2018), os CRAS não influenciam de forma direta a conservação das espécies. No entanto a sua participação de forma indireta pode ter grande valor. Essa participação envolve a educação e consciencialização da população e de colegas de profissão relativamente ao impacte que o ser humano causa na fauna selvagem e na criação de estratégias que ajudem a diminuir o mesmo, assim como a diminuir os conflitos existentes (Burton e Doblar; Karanth et al. 2019; Martin 2002; Pyke e Szabo 2018;

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5 Taylor-Brown et al. 2019). A vasta informação obtida das bases de dados existentes associadas aos CRAS pode também contribuir de forma indireta para a conservação das espécies já que permite a realização de pesquisas/estudos que abrangem variadas áreas, desde as causas de admissão nos centros, fatores de risco, protocolos de reabilitação, características das espécies, bem como monitorização das populações e programas de vigilância de doenças (Koenig et al. 2002; Shine e Koenig 2001; Taylor-Brown et al. 2019; Trocini et al.).

Os dados utilizados na realização deste trabalho foram obtidos na Associação Mata Ciliar localizada em Jundiaí, São Paulo, Brasil e no Folly Wildlife Rescue, Tunbridge Wells, Reino Unido. A descrição dos centros, bem como as atividades desenvolvidas e temas a abordar serão desenvolvidos ao longo dos capítulos.

(31)
(32)

7

2. Associação Mata Ciliar (AMC)

2.1. Descrição do local e atividades desenvolvidas

A Associação Mata Ciliar é uma Organização Não Governamental (ONG) fundada em 1987 que iniciou a sua atividade na cidade de Pedreira em São Paulo em projetos de conservação relacionados com os recursos hídricos e com a flora. Uma década depois integrou na sua atividade dois grandes projetos relacionados com a fauna: o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) e o Centro Brasileiro para Conservação dos Felinos Neotropicais, localizados na cidade de Jundiaí, São Paulo. Mantém na cidade de Pedreira o projeto de viveiro de mudas, um projeto de conservação de flora, com o intuito de recuperar áreas degradadas de mata ciliar (mata existente nas margens de rios e lagos), não só para proteger os recursos hídricos adjacentes às mesmas (rios, lagos, etc), como também para proteger a fauna associada a este tipo de habitats e também o Zoo-Bosque que funciona como um santuário para animais que não são aptos para serem devolvidos à natureza, ao mesmo tempo que promove a educação ambiental das pessoas que o visitam.

O Centro Brasileiro para Conservação dos Felinos Neotropicais (Centro de Felinos) localizado em Jundiaí alberga felinos das 8 espécies existentes no Brasil que por sequelas físicas, por serem órfãos e não terem adquirido os comportamentos necessários para sobreviverem na natureza, ou por terem passado demasiado tempo em cativeiro, não se encontram aptos para serem devolvidos à natureza. Este centro tem como objetivo a implementação de estratégias de conservação para as 8 espécies de felinos existentes no Brasil: jaguar/onça-pintada (Panthera onca), puma/ onça-parda (Puma concolor), ocelote/jaguatirica (Leopardus pardalis), gato-maracajá (Leopardus wiedii), gato-mourisco (Puma yagouaroundi), gato-do-mato-grande (Leopardus geoffroyi), gato-do-mato-pequeno (Leopardus tigrinus) e gato-palheiro (Leopardus colocolo). O centro está associado a diversas pesquisas não só nacionais, como internacionais. Em 2007, em parceria com a equipa do CREW (Center for Conservation and Research of Endangered Wildlife’s) do Zoo e Jardim Botâncio de Cincinnati, a AMC foi a primeira instituição na América Latina a ter sucesso no nascimento de um espécime de jaguatirica obtido através da técnica de Transferência de Embriões.

(33)

8 O CRAS situado em Jundiaí tem como função receber animais que se encontrem feridos ou debilitados, órfãos e animais provenientes de apreensões realizadas pelas entidades competentes, prestar cuidados veterinários e devolvê-los à natureza após um período de reabilitação. Desde o início da sua atividade já recebeu mais de 18 000 animais e devolveu à natureza mais de 7000. Devido ao grande influxo de animais que chegam dos vários municípios que têm protocolo com a AMC, ao tempo prolongado de reabilitação que muitas vezes é necessário antes de os animais poderem ser libertados e à necessidade de manter em cativeiro animais apreendidos que não pertencem àquele bioma, o centro foi crescendo em termos de extensão e atualmente alberga cerca de 800 animais. É importante referir que uma parte significativa dos animais mantidos na AMC são considerados irrecuperáveis devido a sequelas físicas e/ou psicológicas e são mantidos nas instalações com o intuito de serem utilizados para a educação ambiental, tema a ser abordado no ponto 2.3 do presente capítulo.

Durante o período de estágio entre Agosto de 2018 e Dezembro de 2018 deram entrada no CRAS-AMC 1082 animais, sendo estes divididos em 605 aves (56%), 438 mamíferos (41%), 36 répteis (3%) e 3 aracnídeos. A maioria destes animais, principalmente na categoria das aves, foram provenientes de apreensões realizadas por entidades competentes.

Devido à sua grande extensão, a AMC encontra-se dividida em setores pelos quais os estagiários rodam semanalmente, acompanhando o médico veterinário e o(s) tratador(es) responsáveis pelo setor. Passo agora a descrever esses setores e as atividades desenvolvidas nos mesmos.

Nutrição: este setor é responsável por efetuar diariamente a preparação da comida para todos os animais alojados nas instalações da AMC. Da parte da manhã é preparada a alimentação à base de fruta e legumes para aves, primatas e animais omnívoros, e da parte da tarde é preparada a carne para alimentação dos felinos, aves de rapina e animais omnívoros que incluam carne na sua dieta como o lobo-guará (Chrysocyon

(34)

9 (Cerdocyon thous). Neste setor é importante conhecer a base da dieta dos animais, assim como a ocorrência de doenças relacionadas com carência ou excesso de determinados nutrientes. Um exemplo para complementar a afirmação anterior é a ocorrência de doenças relacionadas com o excesso de ferro proveniente da dieta nas aves da família Ramphastidae como o Tucano-toco (Ramphastos toco) ou o Tucano-de-bico-verde (Ramphastos dicolorus). Para evitar a absorção de ferro em excesso, a alimentação dos tucanos existentes no CRAS-AMC não tem frutos cítricos, uma vez que a Vitamina C promove a absorção gastrointestinal de ferro. A alimentação é preparada tendo em conta o peso dos animais e a quantidade de animais existentes em cada recinto. Uma vez que a alimentação fornecida não é tão variada como a que os animais encontrariam na natureza, a dieta é suplementada com rações adequadas para primatas, aves e/ou com suplementos que contêm vitaminas e minerais.

Clínica: este setor é responsável por receber os animais que dão entrada na AMC, recolhendo da forma mais detalhada possível o historial do animal. Após a receção, os animais são encaminhados para a clínica (Figura 2) onde é realizado um exame físico completo e administrada a medicação necessária. Os animais são mantidos na clínica até não precisarem de mais medicação e monitorização, altura em que são encaminhados para um dos recintos de reabilitação. Para além dos cuidados médico-veterinários, o

estagiário destacado para este setor também ajudava na limpeza/desinfeção da clínica, assim como na alimentação dos animais que se encontravam internados. Este setor foi importante para adquirir conhecimentos relacionados com a contenção dos animais (Figura 3), diagnóstico e tratamento de patologias, incluindo terapias complementares como a ozonoterapia (Figura 4).

Figura 2- Clínica da AMC Fonte: Arquivo pessoal

(35)

10 Jaguaretê/Filhotes: o Centro Jaguaretê foi inaugurado em 2012 e é constituído por uma sala de cuidados intensivos onde ficam os filhotes que dão entrada na AMC e os animais em estado crítico, uma sala para cuidados veterinários, uma sala de cirurgia e raio-x e um laboratório de análises (figura 5).

Figura 3- Contenção e colheita de amostra de sangue de uma preguiça (Bradypus variegatus).

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 4- Contenção de um ouriço cacheiro (Sphiggurus

villosus) e realização de ozonoterapia.

Fonte: Arquivo pessoal

a) b)

c)

Figura 5- Instalações do Jaguaretê: a) UTI; b) sala de cuidados veterinários; c) sala de cirurgia e raio-x.

(36)

11 Tendo em conta a quantidade de animais órfãos que dão entrada na AMC ao longo do ano, foi criado um setor dedicado apenas a esta área. Na figura 6 estão algumas das espécies que deram entrada na AMC durante o período de estágio. Os filhotes são encaminhados para o Jaguaretê onde é mantida uma monitorização mais atenta dos mesmos. Assim o estagiário que fica destacado para o Jaguaretê fica também responsável por cuidar dos filhotes o que implica preparar e alimentar os mesmos, muitas vezes ainda com leite (no caso dos mamíferos) ou papas próprias para filhotes de aves, efetuar pesagens diárias para controlo do peso e arranjar enriquecimentos que estimulem os comportamentos naturais da espécie (figura 7).

h) a) b) d) f) g) e) c)

Figura 6- Algumas das espécies que deram entrada no setor filhotes. a) Ouriço- cacheiro (S. villosus); b) Gato-do-mato pequeno (L. tigrinus); c) Corujinha-do-mato (M. choliba); d) Periquito-de-encontro-amarelo (B. chiriri); e) Quati (N. nasua); f)

Tucano-toco (R. Tucano-toco); g) Sagui-de-tufo-preto (C. penicillata); h) Gambá-de-orelha-branca (D. albiventris). Fonte Arquivo pessoal

(37)

12 As tarefas relacionadas com o Jaguaretê incluem a limpeza e desinfeção das salas e jaulas, administração de medicações e alimentações dos animais internados, preparação dos animais para cirurgia e auxílio nas mesmas, anestesia dos animais para avaliação física, colheita de amostras biológicas e biometria. Durante o período de estágio assisti e/ou participei nos seguintes procedimentos:

• Anestesia, exame físico, biometria, colheita de amostras biológicas e monitorização pós-anestésica de 2 lobos-guará (C. brachyurus) (figura 8).

Figura 7- Enriquecimento alimentar para estimular o comportamento de procura de alimento num Tamanduá- mirim (T. tetradactyla)

Fonte: Arquivo pessoal

a) b)

Figura 8- Procedimentos realizados em lobos-guará (C. brachyurus): a) pesagem ; b) realização de exame físico. Fonte: a)- Arquivo pessoal; b) Banco de imagens AMC

(38)

13 • Anestesia, exame físico e realização de raio-x para avaliação da evolução numa fratura

no membro posterior esquerdo de um lobo guará (C. brachyurus). • Anestesia e avaliação ecográfica de um puma (Puma concolor).

• Anestesia, drenagem e limpeza de abcesso facial num puma (Puma concolor) (figura 9).

• Anestesia e cesariana numa fêmea de macaco-prego (Sapajus nigritus).

• Anestesia e colheita de sémen em algumas das espécies de felinos da AMC: gato-do-mato pequeno (L. tigrinus); gato-mourisco (Puma yagouaroundi); jaguar (P. onca) (Figura 10).

• Anestesia, e inseminação artificial de 5 jaguares (P. onca) (Figura 11).

Figura 9- Drenagem e limpeza de abcesso facial num puma (P.

concolor).

Fonte: banco de imagens AMC

Figura 10- Colheita de sémen num gato-mourisco (P. yagouaroundi).

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 11- Inseminação artificial em jaguar (P. onca). Fonte: Arquivo pessoal

(39)

14 CRAS: as atividades realizadas são essencialmente

limpeza e manutenção dos recintos, preparação de recintos para colocação de animais, alimentações, eventuais maneios e contenções necessários, alguns procedimentos veterinários como desparasitações e também enriquecimento ambiental. Neste setor estão inseridas as diversas espécies de aves que incluem aves de rapina (corujas, gaviões, falcões, carcarás), tucanos, araras, seriemas, urubus e outros, répteis (iguanas, jabutis, entre outros), primatas (macacos-prego, bugios, saguis e sauás) e todos os outros mamíferos que não pertencem à família Felidae, isto é, cachorros-do-mato, lobos-guará, gambás, quatis, etc. Neste setor, para além das atividades já mencionadas, tive a oportunidade de

monitorizar a aproximação e interações entre 3 crias de macaco-prego (figura 12). Na figura 13 e 14 estão representadas algumas das espécies pertencentes a este setor.

Figura 12- Interação entre as crias de macaco-prego (S.

nigritus).

Fonte: Arquivo pessoal

a) b) c)

d)

Figura 13- Espécies de primatas existentes no CRAS-AMC: a) Sagui-de-tufo-preto (C. penicillata); b) Macaco-prego (S. nigritus); c) Bugio (A. caraya); d) Sauá (C. nigrifrons)

(40)

15

a) b) c) d)

e) f) g)

h) i)

Figura 14- Algumas das espécies de aves, répteis e mamíferos existentes no CRAS-AMC: a) Emu (D.

novaehollandiae) (espécie exótica); b) Arara-canindé (A. ararauna); c) Maritaca (P. leucophthalmus); d)

Papagaio-verdadeiro (A. aestiva); e) Coruja-listrada (S. hylophila); f) Corujinha-do-mato (M. choliba); g) Tucano-toco (R.

toco); h) Jabuti (C. carbonaria); i) Cachorro-do-mato (C. thous).

(41)

16 ADM (Administração): o estagiário destacado para este setor fica responsável por introduzir no GEFAU (Sistema Integrado de Gestão Ambiental da Fauna de São Paulo) os dados relativos aos animais que são recebidos na AMC e realizar outras atividades burocráticas associadas a licenças de transporte, libertação, etc. O estagiário deste setor também acompanha, caso existam, resgates e libertações de animais. Durante o período de estágio tive oportunidade de participar nos seguintes resgates:

• Preguiça (B. variegatus): encontrada numa escola primária. Após ter sido avaliada na clínica da AMC e se ter verificado que se encontrava saudável foi libertada na Serra do Japi.

• Gambá-de-orelha-branca (D. albiventris): encontrado no quintal de uma residência (figura 15).

Seriema (Cariama cristata): foi atropelada numa auto-estrada e ainda conseguiu chegar a um parque industrial, onde os trabalhadores se aperceberam que algo estava errado e ligaram para a AMC. Quando chegámos ao local a ave já não estava viva.

Sagui-de-tufo-preto (C. penicillata): encontrava-se dentro de um quintal do qual não conseguia sair (figura 16). Após o resgate e uma avaliação clínica por parte de uma das veterinárias verificou-se que o animal estava saudável e por isso partiu-se para a libertação imediata do primata num local apropriado.

(42)

17 a)

b)

Figura 15- Resgate de um gambá-de-orelha-branca: a) localização do animal quando chegámos ao local; b) captura e contenção do animal.

Fonte: Arquivo pessoal

a)

b)

c)

Figura 16- Resgate de um sagui-de-tufo-preto: a) localização do animal quando chegámos ao local; b) captura e contenção do animal; c) animal em segurança no interior da transportadora.

(43)

18 Para além dos resgates mencionados participei nas seguintes libertações:

• Passeriformes: devolução à natureza de diferentes espécies de passeriformes, sendo a maioria provenientes de apreensões realizadas por entidades competentes (figura 17). • Sagui-de-tufo-preto (C. penicillata) mencionado anteriormente.

• Jaguatirica (L. pardalis): esta fêmea deu entrada na AMC depois de ter sido atropelada e após um período de recuperação e reabilitação foi devolvida à natureza numa área de floresta protegida.

• 2 preguiças (B. variegatus): como são animais muito sensíveis em cativeiro, ambos os animais foram devolvidos à natureza no dia seguinte a darem entrada na AMC, uma vez que se verificou que eram animais saudáveis (figura 18).

Figura 17- Devolução de passeriformes à natureza: a) um dos espécimes de Trinca-ferro libertados.

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 18- Devolução à natureza de uma preguiça. Fonte: Arquivo pessoal

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19 Neste setor o estagiário também tem oportunidade de participar em atividades relacionadas com cursos de resgate, maneio e contenção de animais selvagens realizados para formação de agentes da Polícia Ambiental, Guarda Civil Municipal, Corpo de Bombeiros e outras entidades que tenham interesse na área. Durante o meu período de estágio tive a oportunidade de participar num destes cursos (figura 19), realizado para agentes da Polícia Ambiental e da Guarda Civil Municipal pertencentes aos Municípios que têm protocolo com a AMC. O curso foi divido em mamíferos, aves e répteis e abordaram-se os seguintes temas: características das diferentes espécies, cuidados a ter no maneio das mesmas para segurança, não só do operador, como também do animal, primeiros cuidados que os agentes podem fornecer aos animais resgatados enquanto estes não são encaminhados para a AMC e técnicas de captura, contenção e transporte dos animais. Da parte da manhã era dada uma palestra com a parte teórica e da parte da tarde era realizado maneio com animais que necessitavam de algum cuidado veterinário (p.e. desparasitação) ou que deveriam ser capturados para serem devolvidos à natureza. Para além deste curso também participei em diversas atividades relacionadas com educação ambiental, tema a ser abordado com maior detalhe no ponto 2.4 do presente capítulo.

a)

b)

c)

Figura 19- Curso de maneio de fauna selvagem: a) captura e contenção de uma iguana; b) captura e contenção de um bugio; c) demonstração de como utilizar um laço.

(45)

20 Felinos: devido ao número elevado de felinos existentes nos recintos da AMC este setor subdivide-se em pequenos felinos, onde estão incluídos a jaguatirica (Leopardus pardalis), gato-maracajá (Leopardus wiedii), gato-mourisco (Puma yagouaroundi), gato-do-mato-grande (Leopardus geoffroyi), gato-do-mato-pequeno (Leopardus tigrinus) e gato-palheiro (Leopardus colocolo) (figura 20) e em grandes felinos que inclui as onças-pintadas (P. onca), as onças pardas (P. concolor) e uma leoa (Panthera leo) que foi resgatada de um jardim zoológico (figura 21).

e)

a) b) c)

d)

f)

Figura 20- Espécies pertencentes ao setor de pequenos felinos: a) gato-do-mato-grande; b) jaguatirica; c) gato-maracajá; d) gato-do-mato-pequeno; e) gato-palheiro;

f) gato-mourisco.

(46)

21 Neste setor o estagiário acompanha o tratador nas atividades de limpeza e manutenção dos recintos, nas alimentações dos animais e em atividades de enriquecimento ambiental. Com o veterinário destacado para este setor, o estagiário acompanha atividades associadas a captura e contenção dos felinos necessárias para procedimentos médico-veterinários e outros. Durante o período de estágio acompanhei diversas atividades nomeadamente a desinfestação do recinto da leoa e de uma jaguatirica para controlo de pulgas e carraças com maçarico e um ectoparasiticida (Decaplus ®- Deltametrina e metopreno) (figura 22), captura e contenção de uma fêmea de gato-mourisco para desparasitação externa, captura e contenção de gatos-do-mato-pequeno para maneio reprodutivo (figura 23), captura, contenção e transferência de uma fêmea de jaguatirica para um recinto onde se encontrava um macho para aproximação entre os dois, captura e contenção de um macho de jaguatirica para realização de exame físico e análises laboratoriais (figura 24), condicionamento em jaguares e enriquecimento ambiental, tópicos que serão abordados respetivamente no ponto 2.2 e 2.3 deste capítulo.

a) b) c)

Figura 21- Espécies pertencentes ao setor de grandes felinos: a) onça-parda; b) leoa; c) onça-pintada Fonte: Arquivo pessoal

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22 a) b)

Figura 22- Desinfestação do recinto da leoa: a) utilização do maçarico; b) pulverização com ectoparasiticida.

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 23- Captura de um gato-do-mato-pequeno para maneio reprodutivo.

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 24- Contenção física numa jaula de prensa para administração de um anestésico injetável.

(48)

23

2.2. Condicionamento em jaguares

2.2.1. Introdução

A onça pintada ou jaguar (Panthera onca) é o maior membro da família Felidae existente na América.

É possível encontrar exemplares da espécie desde regiões costeiras do México, até à região norte da Argentina (IUCN 2017; Rabinowitz e Zeller 2010). No Brasil encontra-se distribuída pelos 5 biomas existentes: Floresta Amazónica, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e Pantanal (Astete et al. 2008; Sollmann et al. 2008). Habita preferencialmente em áreas de vegetação bastante densa, próximo de cursos de água e em locais a menos de 1000 metros de altitude (Adania et al. 2014) .

São felinos robustos caracterizados por uma pelagem que varia entre um amarelo claro e um amarelo-acastanhado mais escuro e com um padrão de pintas e rosetas existentes por todo o corpo que difere de animal para animal, permitindo a identificação dos mesmos (figura 25) (Adania et al. 2014). Alguns animais podem apresentar uma coloração negra (onça melânica – figura 25), nos quais também é possível visualizar, embora seja mais difícil, o padrão de pintas e rosetas.

Figura 25- Exemplares de onça pintada: coloração normal e onça melânica. Nos exemplares é possível observar o padrão de pintas e rosetas.

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24 A sua fisionomia varia consoante o bioma em que habita, facto que está possivelmente relacionado com o porte das presas que se encontram em cada região (Adania et al. 2014). No Cerrado e Pantanal os jaguares são maiores sendo a maioria da sua dieta baseada em presas de grande porte (> 10kg) como a capivara (Hydrochaeris hydrochaeris), queixada (Tayassu pecari), cateto (Tayassu tajacu), tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), ema (Rhea americana), e gado. Na Amazónia e Mata Atlântica os espécimes são mais pequenos e as espécies de mamíferos e répteis de pequeno e médio porte parecem ter maior relevância na dieta destes carnívoros do que nos outros dois biomas. Nas presas de médio porte (2-10 kg) incluem-se espécies de primatas, quati (Nasua nasua), tatu (Dasypus spp) e preguiça (Bradypus variegatus). Na categoria dos répteis destacam-se como parte da dieta destes carnívoros a iguana (Iguana iguana), caimão e algumas espécies de quelónios (Astete et al. 2008; Crawshaw e Quigley 2002; Oliveira 2002; Polisar et al. 2003).

A espécie apresenta maior atividade à noite, mas também tem atividade ao amanhecer e anoitecer (Foster et al. 2013).

A época reprodutiva ocorre ao longo de todo o ano e as crias podem permanecer com a progenitora até aos 2 anos de idade aproximadamente (AZA Jaguar Species Survival Plan 2016).

A longevidade destes animais na natureza varia entre os 10 e 12 anos de idade. Em cativeiro existem registos de animais com mais de 20 anos de idade (Adania et al. 2014; Johnson 2013). Atualmente são várias as ameaças que colocam esta espécie em risco. A expansão de áreas urbanas, industriais e agropecuárias e a construção de estradas causam um grande impacte na espécie que está principalmente relacionado com a desflorestação e consequente perda e fragmentação de habitat natural (Antonio de la Torre et al. 2017; Espinosa et al. 2018; IUCN 2017; Paviolo et al. 2016; Petracca et al. 2014; Romero-Munoz et al. 2019). De acordo com o estudo realizado por Zanin et al. (2015), a fragmentação de habitat é mais grave para a espécie a longo prazo do que a perda de habitat. Isto porque a fragmentação de habitat impede a movimentação de indivíduos entre populações e leva ao isolamento de populações de jaguares de pequenas dimensões, o que a longo prazo se traduz em alterações genéticas que colocam essas populações e possivelmente a conservação da espécie em risco (Haag et al. 2010; Roques

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25 et al. 2016). Para além de causarem a fragmentação do habitat natural, as estradas acarretam outras consequências para a espécie, não só por serem responsáveis pelo atropelamento de espécimes (Antonio de la Torre et al. 2017; IUCN 2017; Paviolo et al. 2016), como por facilitarem o acesso de caçadores a áreas de habitat natural tanto do jaguar, como das suas presas (Espinosa et al. 2018). A caça é outra das grandes ameaças para estes felinos, mesmo em áreas consideradas protegidas (Ribeiro de Carvalho e Morato 2013; Romero-Munoz et al. 2019). A caça de jaguares para utilização das suas partes anatómicas como elementos de decoração, medicina tradicional asiática (em substituição do osso de tigre) e joalharia é algo que ainda ocorre nos dias de hoje (IUCN 2017). Vários estudos realizados em diversas populações de diferentes regiões apontam como principais motivos para caçar felinos o medo/risco para o ser humano (Carvalho e Pezzuti 2010; Conforti e de Azevedo 2003; Engel et al. 2017; Marchini e Macdonald 2012; Petracca et al. 2014; Ribeiro de Carvalho e Morato 2013; Zimmermann et al. 2005), retaliação por predação de gado ou por representarem uma ameaça para o mesmo (Carvalho e Pezzuti 2010; Marchini e Macdonald 2012; Paviolo et al. 2016; Ribeiro de Carvalho e Morato 2013; Zimmermann et al. 2005) e caça por lazer (Carvalho e Pezzuti 2010; Ribeiro de Carvalho e Morato 2013).

Devido a todas as ameaças já mencionadas, a onça-pintada está classificada como quase ameaçada pela IUCN (International Union for Conservation of Nature) (IUCN 2017) e como vulnerável pelo Ministério do Meio Ambiente (ICMBIO 2014). Por este motivo é importante desenvolver e aplicar estratégias para a conservação da espécie que passam pela preservação e recuperação de áreas de habitat natural, estabelecimento de corredores de floresta que permitam a movimentação de animais e a interação entre populações isoladas, desenvolvimento de estratégias de educação da população de forma a diminuir os conflitos entre a espécie e o ser humano, desenvolvimento de programas de cativeiro de forma a manter a viabilidade genética da espécie e permitir no futuro a introdução de espécimes na natureza, entre outras. As estratégias mencionadas e outras, estavam integradas no Plano de Ação para a Conservação da Onça Pintada do Ministério do Ambiente do Brasil, que foi encerrado em 2016, e passaram a fazer parte do Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Grandes Felinos (ICMBIO 2018).

Pelo risco em que se encontra a espécie, a manutenção de espécimes em cativeiro pode ser uma ferramenta fundamental para a conservação da mesma (Swanson et al. 2003). No entanto a atual

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26 situação destes animais não permite que esta ferramenta seja utilizada com máximo potencial. De acordo com a informação descrita no Studbook dos Grandes Felinos Brasileiros (Adania et al. 2005), num período de 3 décadas (1973 a 2003) verificou-se um aumento do número de jaguares (P. onca) em cativeiro. Entre 1997 e Novembro de 2002 foram registados 427 grandes felinos que se encontravam distribuídos por 87 instituições localizadas em diferentes pontos do país, sendo 230 desses felinos onças-pintadas (P. onca).

Pelos registos obtidos verificou-se que apenas 15% da população em cativeiro tem origem conhecida, isto é, apenas esses 15% podem ser utilizados em programas de reprodução. Dos outros 75% não se conseguiu comprovar a origem e por isso foram considerados de origem desconhecida, o que impossibilita a sua utilização para reprodução (Adania et al. 2005). É também importante referir que o cativeiro para os felinos de uma forma geral tem um grande impacte na fisiologia e comportamento destes animais, dificultando a reprodução dos mesmos (Morato et al. 2001; Moreira et al. 2007; Swanson et al. 2003), o que pode influenciar de forma significativa a situação em que se encontram e a conservação da espécie.

O stress extremo pode resultar tanto de uma situação de stress agudo, como o transporte ou contenção, como de uma situação de stress crónico. Estas situações podem ser suficientes para causar uma alteração ou inibição de determinadas funções biológicas como a ovulação (Moberg e Mench 2000).

Nos animais mantidos em cativeiro, as situações de stress crónico estão associadas a diversas situações nas quais se incluem: deficiências nutricionais (Paz et al. 2006; Swanson et al. 2003), recintos inapropriados (Moreira et al. 2007; Vaz et al. 2017), cuidados médicos e/ou sanitários insuficientes ou inapropriados (Mellen 1991) e fatores relacionados com o número de indivíduos por recinto e relações sociais entre os mesmos (Mellen 1991).

Para além de apresentarem muitas vezes comportamentos estereotipados quando sujeitos a uma situação de stress crónico em cativeiro (Moreira et al. 2007; Resende et al. 2014; Sajjad et al. 2011; Vaz et al. 2017), também se verifica de forma evidente uma diminuição da atividade reprodutiva dos animais (Carlstead e Brown 2005; Carlstead e Shepherdson 1994; Moreira et al. 2007).

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27 Uma vez que nem sempre é fácil ou possível recorrer à reprodução natural em cativeiro como método de conservação das espécies, torna-se necessário utilizar técnicas de reprodução assistida de forma melhorar a reprodução de animais em cativeiro, aumentar o número de espécimes existentes, bem como a variabilidade genética e permitir a conservação e sobrevivência da espécie (Pope 2000; Swanson 2012; Swanson e Brown 2004; Swanson 2006) Apesar dos avanços que ocorreram neste tipo de técnicas, as mesmas estão longe de serem ideais para as espécies de felinos selvagens (Swanson 2006). São diversas as dificuldades relacionadas com a aplicação destas técnicas em animais selvagens (Andrabi e Maxwell 2007; Pukazhenthi et al. 2006; Swanson 2019; Swanson 2006; Wildt et al. 2001), no entanto acredita-se que, acredita-se essas dificuldades forem ultrapassadas, as técnicas de reprodução assistida possam ser uma mais valia para a conservação de espécies ameaçadas (Andrabi e Maxwell 2007; Conforti et al. 2013; Pope 2000; Pukazhenthi et al. 2006; Swanson 2012; Swanson 2006). Uma das principais tecnologias reprodutivas a considerar para este fim é a inseminação artificial (IA).

As especificidades morfológicas das espécies, a falta de conhecimento sobre o ciclo reprodutivo, incluindo o momento da ovulação, dificultam a aplicação desta técnica em espécies selvagens, uma vez que estes conhecimentos são imprescindíveis para o sucesso da técnica (Andrabi e Maxwell 2007; Howard e Wildt 2009; Pukazhenthi et al. 2006; Swanson 2019). Apesar das dificuldades descritas, a IA já foi usada com sucesso em várias espécies, sendo exemplos da família Felidae a jaguatirica (ocelote) (Leopardus pardalis) (Swanson et al. 1996) e o puma (Puma concolor) (Moore et al. 1981).

A utilização desta técnica traz várias vantagens das quais se destacam: a troca de material genético entre animais de diferentes instituições e entre animais de cativeiro e de vida livre sem ser necessário transportar animais (Swanson 2019), o que diminui os custos de transporte e os riscos para os animais (Pukazhenthi et al. 2006); utilização de animais com incompatibilidades físicas e/ou comportamentais para reprodução (Pukazhenthi e Wildt 2004; Wildt e Wemmer 1999); possibilita a introdução de novo material genético em pequenas populações de espécies em risco de extinção (Howard e Wildt 2009; Pukazhenthi et al. 2006).

Referências

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