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Estudo de adaptação de um inventário de humilhação, numa amostra da população portuguesa e efeito de mediação das estratégias de coping, idade e género na relação entre humilhação e bem-estar psicológico

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Academic year: 2021

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Estudo de Adaptação de um Inventário de Humilhação,

numa Amostra da População Portuguesa

e

Efeito de Mediação das Estratégias de Coping, Idade e Género

na Relação entre Humilhação e Bem-Estar Psicológico

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica,

realizada no âmbito do projeto “A Humilhação: Dos Atos aos Danos” da responsabilidade do Prof. Francisco Cardoso

ANA CAROLINA MORAIS RAMOS Orientador: Prof. Doutor Francisco Cardoso

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Índice

Nota Introdutória …….………..………... 1

ESTUDO EMPÍRICO I Estudo de adaptação de um inventário de humilhação, numa amostra da população portuguesa ……… 3 Resumo ………...………. 4 Abstract ……… 5 Revisão de literatura ……….... 5 Metodologia ……….………...………..…... 7 Participantes ………. 7 Instrumentos ………. 8 Inventário de Humilhação ……….... 8 Procedimento de adaptação ………..………….………..… 8

Procedimento de recolha de dados ………...………...…. 8

Procedimento de análise dos dados ………...……… 9

Teste do modelo proposto por Hartling e Luchetta ………..……... 9

Resultados ………...……... 10

Análise Fatorial Confirmatória ……….. 10

Primeiro ajustamento ………...…….. 10

Segundo ajustamento ………. 11

Análise de Componentes Principais ………..… 12

Multicolinearidade ………. 15

Discussão ………...… 15

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ESTUDO EMPÍRICO II

Efeito mediador das estratégias de coping faixa etária e género, na relação entre

humilhação e bem-estar psicológico ……….……….. 20

Resumo ………..………..……….. 21 Abstract ………...………... 22 Revisão de literatura ……….…. 22 Metodologia ………...………… 26 Participantes ………...………… 26 Instrumentos ………...……….. 26 Inventário de Humilhação ………..……… 26

Escala de Medida de Manifestação de Bem-Estar Psicológico ………. 27

Questionário Brief Coping ……….……… 27

Procedimento de recolha de dados ………...………..……… 28

Procedimento de análise dos dados ………..……. 28

Resultados ………..…… 29

Análises sociodemográficas e sua relação com a humilhação cumulativa, receio de humilhação e preocupação relativa à humilhação………..………..….. 29

Efeito de predição dos fatores humilhação cumulativa, receio de humilhação e preocupação relativa à humilhação sobre o bem-estar psicológico………..……….……...… 31

Análise do modelo linear dos fatores de humilhação sobre o bem-estar psicológico, mediado pelas estratégias de coping ...……....………...…... 33

Variáveis idade e género como mediadoras da relação entre humilhação e bem-estar psicológico ……….………..………. 40

(4)

Discussão ………...………… 42

Bibliografia ………...…………. 47

Considerações finais ………....….... 50

Dados Suplementares do Estudo Empírico I ………...……. 52

(5)

Índice de Quadros

ESTUDO EMPÍRICO I

Quadro 1 - Resumo dos índices de ajustamento obtidos nos três modelos testados no inventário de humilhação original ……….…… 12 Quadro 2 - Cargas fatoriais resultantes da ACP, comunalidades, valor próprio, e percentagem de variância explicada por cada item do Inventário de Humilhação ...…. 14 Quadro 3 - Correlação entre os fatores constituintes do Inventário de Humilhação………...……….. 15

ESTUDO EMPÍRICO II

Quadro 1 - Características sociodemográficas dos participantes e respetivas médias e desvio-padrões ……….…………..……… 26 Quadro 2 - Análise de diferenças de médias no que respeita aos fatores de humilhação e estratégias de coping, consoante o género ……….…… 30 Quadro 3 - Análise de diferenças de médias no que respeita aos fatores de humilhação e estratégias de coping, consoante a idade……..………..… 31 Quadro 4 - Efeito preditivo dos fatores de humilhação sobre o bem-estar psicológico………...………...… 32 Quadro 5 - Modelo linear dos fatores de humilhação sobre o bem-estar psicológico, mediado pelas estratégias de coping ………...…..…. 34 Quadro 6 - Modelo linear dos fatores de humilhação sobre o bem-estar psicológico, mediado pelas estratégias de coping disfuncional ………...…….. 37 Quadro 7 - Modelo linear dos fatores de humilhação sobre o bem-estar psicológico, mediado pelas estratégias de coping focalizado na emoção ……….. 39

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Quadro 8 - Modelo linear dos fatores de humilhação sobre o bem-estar psicológico, mediado pelas variáveis sóciodemográficas ………...……... 41

DADOS SUPLEMENTARES DO ESTUDO EMPÍRICO I

Quadro B1 - Teste à normalidade uni – e multivariada dos itens que compõem o Inventário de Humilhação ………...………. 54 Quadro B2 - Pesos fatoriais e fiabilidade individuais dos itens que compõem o Inventário de Humilhação ………...………….. 55 Quadro B3 - Correlações item-total corrigido, alpha de Cronbach e validade convergente-discriminante dos itens constituintes do Inventário de Humilhação ...…. 56

DADOS SUPLEMENTARES DO ESTUDO EMPÍRICO II

Quadro D1 - Valores de Skewness e valores de Kurtosis da idade nos diferentes fatores de humilhação ………...……. 59 Quadro D2 - Valores de Skewness e valores de Kurtosis do género nos diferentes fatores de humilhação ………...………... 60 Quadro D3 - Valores de Skewness e valores de Kurtosis da idade nas diferentes estratégias de coping ……….………. 60 Quadro D4 - Valores de Skewness e valores de Kurtosis do género nas diferentes estratégias de coping ………..……… 61 Quadro E1 - Valores de Skewness, valores de Kurtosis e valor do coeficiente de Mardia dos fatores de humilhação sobre o bem-estar psicológico ……...………...….. 62 Quadro E2 - Valores de Skewness, valores de Kurtosis e valor do coeficiente de Mardia do efeito de mediação das estratégias de coping sobre a relação entre humilhação e bem-estar psicológico ……… 62

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Quadro E3 - Valores de Skewness, valores de Kurtosis e valor do coeficiente de Mardia do efeito de mediação das estratégias de coping disfuncional sobre a relação entre humilhação e bem-estar psicológico ……….. 63 Quadro E4 - Valores de Skewness, valores de Kurtosis e valor do coeficiente de Mardia do efeito de mediação das estratégias de coping focalizado na emoção sobre a relação entre humilhação e bem-estar psicológico ………...…….. 63 Quadro E5 - Valores de Skewness, valores de Kurtosis e valor do coeficiente de Mardia do efeito de mediação do género e idade sobre a relação entre humilhação e bem-estar psicológico ……….……… 64

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Índice de Figuras

ESTUDO EMPÍRICO II

Figura 1 - Modelo concetual do possível efeito mediador da estratégias de coping, idade e género na relação entre humilhação e bem estar psicológico …………..……….….. 25 Figura 2 - Modelo linear do efeito de predição dos fatores de humilhação sobre o somatório da Escala de Medida de Manifestação de Bem-estar Psicológico …...……. 33 Figura 3 - Modelo de mediação das estratégias de coping na relação entre humilhação e bem estar psicológico ……… 35 Figura 4 - Modelo de mediação das estratégias de disfuncional na relação entre humilhação e bem-estar psicológico ………..……… 38 Figura 5 - Modelo de mediação das estratégias de coping Focalizado na emoção na relação entre humilhação e bem-estar psicológico ………..…….. 40

DADOS SUPLEMENTARES DO ESTUDO EMPÍRICO I

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Nota Introdutória

A humilhação consiste num exercício de demonstração de poder desigual, no qual a pessoa que humilha o faz motivada pela afirmação de domínio sobre o outro, enquanto a vítima, por sua vez, é envolvida por sentimentos negativos como impotência e desprezo (Leask, 2013; Hartling & Luchetta, 1999). Apesar de estar relacionada com sérios problemas psicológicos, como, por exemplo, a diminuição do bem-estar psicológico, tanto o grau de sofrimento decorrente de um ato de humilhação como a capacidade para o ultrapassar varia consoante a pessoa, em parte, devido às estratégias de coping utilizadas (Hogh et al., 2012; Leask, 2013; Linder, 2001). Nesta medida, parece-nos ser importante que o psicoterapeuta conheça as estratégias psicológicas mais eficazes no confronto com a humilhação para, em conjunto com o paciente, trabalharem na transformação da experiência de humilhação numa oportunidade de crescimento pessoal.

Em resultado dessa preocupação, o presente trabalho visa compreender o papel mediador das estratégias de coping e das variáveis idade e género na relação entre as experiências de humilhação e o bem-estar psicológico. No entanto, para a avaliação das referidas experiências urgia também a necessidade de adaptação de um instrumento de avaliação da humilhação para a população portuguesa. Pelo que é do nosso conhecimento, existe apenas um inventário construído para avaliar as experiências de humilhação, o

Humiliation Inventory da autoria de Hartling & Luchetta (1999), pelo que nos propomos

também ao estudo de adaptação do mesmo para a população portuguesa.

Procedemos então à tradução e estudo psicométrico do Inventário de Humilhação (n = 1116). Os resultados sugerem que o instrumento apresenta qualidades psicométricas adequadas ao nível da fiabilidade e validade, porém uma estrutura fatorial diferente da original. Enquanto o fator humilhação cumulativa é idêntico ao fator homónimo na versão

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original do inventário, verificamos que o fator receio de humilhação do artigo original se divide em dois fatores distintos, o receio de humilhação e a preocupação relativa à

humilhação. No entanto, a correlação entre estes últimos fatores apresenta valores superiores

aos recomendados, pelo que nos deparamos com um problema de multicolinariedade para o qual futuros investigadores devem estar alerta. Excluindo o problema da multicolinariedade, entre dois fatores, o inventário constitui um recurso valioso para o estudo da experiência interna de humilhação na população portuguesa.

Posteriormente, analisamos o papel mediador do coping e das variáveis género e idade na relação entre humilhação e bem-estar psicológico. Os principais resultados sugerem que apenas as estratégias de coping disfuncional e de coping focalizado na emoção medeiam a referida relação, sendo que as primeiras exercem um efeito de mediação superior. No entanto, apesar de as estratégias de coping disfuncional se destacarem no seu contributo para o enfraquecimento da relação entre humilhação e bem-estar psicológico, estas incitam o indivíduo a tornar-se refém das suas vivências de humilhação ao autoculpabilizar-se pelo sucedido ou ao procurar distrair-se dos acontecimentos, muitas vezes com recurso a drogas ou álcool. Ou seja, as estratégias que permitem ao indivíduo lidar com a humilhação são as mesmas que o conduzem por caminhos menos adaptativos, facto para o qual o psicólogo deverá estar atento.

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ESTUDO EMPÍRICO I

Estudo de Adaptação de um Inventário de Humilhação, numa Amostra da

População Portuguesa.

Adaptation Study of an Inventory Humiliation, in a sample of Portuguese Population

Ana C. Ramos1 Francisco Cardoso2

Nota de autor:

1

Ana C. Ramos é mestranda em Psicologia Clínica na UTAD

2

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Estudo de Adaptação de um Inventário de Humilhação, numa Amostra da

População Portuguesa

Resumo

O presente estudo teve como objetivo a tradução, adaptação e estudo psicométrico do

Humiliation Inventory (Hartling & Luchetta, 1999) para o contexto Português. O processo de

adaptação do instrumento consistiu na sua tradução seguida de um estudo piloto (n = 5), através do qual se avaliaram aspetos como compreensão e pertinência das questões, facilidade e tempo de preenchimento. Posteriormente, com recurso aos softwares AMOS e

SPSS, realizou-se o estudo psicométrico do instrumento (n = 1116) numa amostra de

indivíduos de nacionalidade portuguesa 196 (17.6%) são do sexo masculino e 920 (82.4%) do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 18 e 83 anos (Midade = 32.95 e DPidade = 11.51). Os resultados sugerem que o instrumento apresenta qualidades psicométricas adequadas ao nível da fiabilidade e validade, porém uma estrutura fatorial diferente da versão original, nomeadamente a existência de três fatores ao invés dos dois fatores presente no estudo dos autores originais. Enquanto o fator humilhação cumulativa é idêntico ao fator homónimo na versão original do inventário, verificamos que o fator receio de humilhação do artigo original se divide em dois fatores distintos, o receio de humilhação e a preocupação

relativa à humilhação. No entanto, a correlação entre estes últimos fatores apresenta valores

superiores aos recomendados, pelo que nos deparamos com um problema de multicolinariedade para o qual futuros investigadores devem estar alerta. Excluindo o problema da multicolinariedade do inventário, este constitui um recurso valioso para o estudo da experiência interna de humilhação na população portuguesa.

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Abstract

This study aimed the translation, adaptation and psychometric study of the Humiliation Inventory (Hartling & Luchetta, 1999) for the Portuguese context. The adaptation process included the forward translation method, followed by a pilot test (n = 5), through which aspects as pertinence and comprehension of the items, facility and time of fulfillment were evaluated. Using the AMOS and SPSS software, this step was followed by the psychometric study of the scale (n = 1116) with Portuguese people, 196 (17.6%) were male and 920 patients (82.4%) were female, aged between 18 and 83 years of age (Mage = 32.95 and SDage = 11.51).The results suggest that the instrument has adequate psychometric qualities in terms of reliability and validity, but a different fator structure of the original version, namely the existence of three factors instead of two factors present in the study of the original authors. While the cumulative humiliation fator is identical to the namesake fator in the original version of the inventory, we found that the fear of humiliation fator of the original article is divided into two distinct factors, fear of humiliation and concern about the humiliation. However, the correlation between these factors is upper than the recommended, so we came across a multicollinearity problem, for which future researchers should be alert. Excluding the problem of multicollinearity, the inventory is a valuable resource for the study of internal experience of humiliation in the Portuguese population.

Keywords: Humiliation, Humiliation Assessment, Adaptation study.

A humilhação, quando existe, assume uma grande preponderância, muitas vezes destrutiva, na vivência dos indivíduos (Klein, 1991). Consiste num exercício de demonstração de poder desigual contra uma ou mais pessoas, na qual a pessoa que humilha o faz, injustamente e com aparente impunidade, motivada pela afirmação de domínio sobre o

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outro (Leask, 2013; Hartling & Luchetta, 1999; Hartling, Lindner, Spalthoff, & Britton, 2013; Hartling, Rosen, Walker, & Jordan, 2000). Por sua vez, a vítima é envolvida por sentimentos negativos - tais como impotência, desprezo e exclusão - que contribuem para denegrir a sua autoimagem (Hartling & Luchetta, 1999).

Nas últimas três décadas, grande parte da investigação realizada acerca da humilhação centra-se na análise das suas consequências (Lindner, 2007; Torres & Bergner, 2010; Moffic, 2014). Estas abrangem dor, tristeza e sofrimento intenso que podem, em certos casos, comprometer a identidade, dignidade e relações socioafetivas dos indivíduos, permeando os seus comportamentos e causando severos danos psicológicos (Costa, 2013; Starrin, 2014; Hartling & Luchetta, 1999; Klein, 1991; Collazzoni et al., 2014). Por exemplo, num estudo realizado por Kendler, Hettema, Butera, Gardner e Prescott (2003), conclui-se que a exposição a episódios de humilhação prediz o desenvolvimento de psicopatologias, como a depressão major ou a síndrome de ansiedade generalizada. Outros estudos evidenciam as consequências nefastas da exteriorização de sentimentos de humilhação, através da raiva, manifestadas violência ou desejos de vingança, podendo até culminar em violentos homicídios ou suicídios (Lindner, 2007; Klein, 1991; Torres & Bergner, 2010).

Excetuando o estudo das implicações destrutivas da humilhação, poucos estudos sistemáticos e coerentes têm sido realizados na área. Uma das justificações apontadas para este fator reside na dificuldade da avaliação subjetiva da humilhação e a consequente inexistência de instrumentos de medida (Lindner, 2001). A nível mundial, pelo que é do nosso conhecimento, existe apenas um inventário construído com o intuito de avaliar as experiências de humilhação, o Humiliation Inventory. Para a sua formulação, os autores Hartling e Luchetta (1999) utilizaram informações obtidas a partir de uma revisão de literatura, de entrevistas, da análise de outros instrumentos que avaliam construtos semelhantes e da orientação de colegas especializados na área. Após análises e ajustes

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estatísticos, o inventário final apresenta um total de 32 itens redigidos de forma simples e adequada para indivíduos com o 8º ano de escolaridade completo e é constituído por duas dimensões: humilhação cumulativa que remete para o impacto psicológico resultante de humilhações (e.g. "Ao longo da sua vida com que grau (intensidade) se sentiu desprezado(a)?"); e receio de humilhação que se relaciona com o medo de sofrer humilhações no futuro (e.g. Neste momento em sua vida, quanto receia vir a ser ridicularizado(a)?").

Em Portugal, a urgência de inclusão da prevenção de eventos humilhantes na formulação de políticas públicas, realça a necessidade de adaptação de um instrumento de avaliação da humilhação. Assim, o presente trabalho visa a adaptação para a população portuguesa do Humiliation Inventory (Hartling & Luchetta, 1999), colocando à disposição do investigador um valioso instrumento de trabalho para o estudo de situações de humilhação.

Metodologia

Participantes

A amostra foi recolhida com recurso ao método de amostragem não probabilística, sendo considerados como critérios de inclusão idades superiores aos 18 anos e ter nacionalidade portuguesa. Participaram no estudo 1133 indivíduos. Destes, foram excluídos 17 participantes por terem idade inferior ao critério definido. Dos 1116 participantes, 196 (17.6%) são do sexo masculino e 920 (82.4%) do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 18 e 83 anos (Midade = 32.95 e DPidade = 11.51).

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Instrumentos

Humiliation Inventory (Hartling & Luchetta, 1999), que na versão portuguesa denominaremos de Inventário de Humilhação (cf. Inventário de Humilhação (HI) - Anexo A), consiste numa escala com 32 itens de resposta tipo likert numerados de 1 (Nunca) a 5 (Muitíssimo). Estes agrupam-se em dois fatores distintos, a humilhação cumulativa (HC) que avalia a experiência interna de humilhação do passado para o presente, e o receio de

humilhação (RH) que avalia o medo de sofrer humilhações no presente e no futuro. A

pontuação total varia entre 32 e 160, na qual quanto mais elevado for o total obtido – dado pela soma das pontuações de todos os itens – maior será a experiência/medo de humilhação.

Procedimento de Adaptação

Após a autorização para a utilização do questionário pelos autores do inventário original, procedemos à sua tradução e adaptação de acordo com a metodologia em seguida descrita: a) tradução do questionário para o idioma Português; b) correção da tradução por um especialista em língua inglesa; c) comparação das duas versões do questionário; d) discussão e eventuais correções; e) aplicação da versão final à população alvo - estudo piloto (n = 5) – na qual os indivíduos foram questionados acerca da compreensão e pertinência das questões e tempo de preenchimento (Mtempo de preenchimento = 25 minutos); e f) correção de erros detetados.

Procedimento de Recolha de Dados

O inventário de humilhação e respetivo consentimento informado foram disponibilizados online, após a sua construção na plataforma GoogleDocs, e partilhados via e-mail, em diversas páginas das redes sociais Facebook e Linkedin e na plataforma de psicologia MaisPsi. Após a resposta e submissão dos questionários estes eram automaticamente armazenados na base de dados dos GoogleDocs a que apenas os

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investigadores tinham acesso. Todo o processo de recolha de dados foi realizado entre os meses de outubro e dezembro de 2014.

Procedimento de Análise dos Dados

No que respeita à análise dos dados, numa primeira fase realizamos a análise fatorial confirmatória (AFC) do Inventário de Humilhação, com recurso ao software Amos (v.22, SPSSInc, Chicago, IL), estimando o modelo hierárquico original proposto pelos autores (com 2 fatores). Uma vez que os resultados nesta fase não foram satisfatórios procedemos à análise fatorial exploratória e análise da consistência interna dos fatores encontrados através do software estatístico SPSS Statistics (v.21, SPSSInc, Chicago, IL).

Teste do Modelo Proposto por Hartling e Luchetta

Com o propósito de validar a estrutura fatorial proposta por Hartling e Luchetta (1999), procedemos a uma análise fatorial confirmatória, recorrendo ao software AMOS.

Ao analisarmos os indicadores de assimetria e achatamento obtidos, apesar de estes não indicarem a violação do pressuposto da distribuição normal univariada (/Sk/<3 e /Ku/<7) (e.g., Maroco, 2010), verificámos que o coeficiente de Mardia era, todavia, superior aos 5 valores propostos por Bentler (2005), o que sugeria a não existência de distribuição normal multivariada (cf. Quadro B1 em Anexo B). Por esta razão, optámos pelo método assintótico isento de pressupostos de distribuição (ADF – Asymptotically Distribution-Free) por ser o mais apropriado para amostras superiores a 1000 indivíduos que não seguem a distribuição normal (Maroco, 2010). Para o efeito, considerámos os critérios de ajustamento apresentados por Maroco (2010) e Byrne (2010): ӽ²/gl deverá ser inferior a 5 e p < .05, o Comparative Fit

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Square Error of Approximation (RMSEA) deverá ser inferior a .05 com um P-CLOSE

associado inferior a .05.

A estrutura fatorial do Inventário de Humilhação a testar consiste num modelo de dois fatores de ordem 1: o fator humilhação cumulativa com 12 variáveis observadas e o fator receio de humilhação com 20 variáveis observadas. Estes fatores correlacionam-se entre si em um valor de .55.

Resultados

Análise Fatorial Confirmatória

Realizámos uma análise fatorial confirmatória do modelo inicial proposto por Hartling e Luchetta (1999). Todas as variáveis apresentaram pesos fatoriais elevados (λ > 0.8) e fiabilidade adequadas (R² > .53), segundo os critérios de Maroco (2010, cf. Quadro B2 em Anexo B), no entanto os índices de ajustamento obtidos não comprovaram o modelo (ӽ² = 4.78, p < .05; CFI = 0.75; GFI = 0.84; RMSEA = .058, p < .01).

Primeiro ajustamento.

Face aos resultados insatisfatórios examinámos possíveis ajustes ao modelo inicial. Primeiramente, verificámos a existência de outliers através do método da distância de

Mahalanobis, não se evidenciando valores extremos. De seguida, analisámos as cargas

fatoriais dos itens tendo-se verificado itens correlacionados com ambos os fatores (itens cruzados), sendo estes: itens 6, 8 e 10 respeitante ao fator HC mas com carga no fator RH e itens 23 e 24 pertencentes ao fator RH mas com carga no fator HC, pelo que procedemos à sua eliminação (Maroco, 2010). Realizada a AFC com as referidas alterações, os índices de

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ajustamento obtidos melhoraram ligeiramente, porém, não atingiram valores considerados satisfatórios (ӽ² = 4.29, p < .05; CFI = .79; GFI = .87; RMSEA = .05, p = .08).

Segundo ajustamento.

Em seguida, procedemos à inclusão de trajetórias entre os resíduos de pares de itens pertencentes ao mesmo fator e cujos índices de modificação, superiores a 20, sugeriam um melhor ajustamento do modelo (Maroco, 2010). As trajetórias adicionadas foram as seguintes: 2-3 (M.I = 20.38); 3-4 (M.I = 21.44); 5-7 (M.I = 30.62); 11-12 (M.I = 22.89); 13-14 (M.I = 23.09); 16-20 (M.I = 35.02); 16-32 (M.I = 23.13-14); 21-22 (M.I = 20.98); 25-26 (M.I = 24.45); e 31-32 (M.I = 29.26) – cf. Figura C1 em Anexo C.

Os índices de ajustamento obtidos melhoraram ligeiramente, no entanto, mantendo-se aquém do esperado, pelos critérios mais exigentes (ӽ² = 2.92, p < .05; CFI = .88; GFI = .91; RMSEA = .041, p = .99), não se confirmando a estrutura fatorial do inventário.

Face aos resultados obtidos pela AFC – cf., Quadro 1-, prosseguimos com a realização de uma análise de componentes principais (ACP).

Quadro 1

Quadro resumo dos índices de ajustamento obtidos nos três modelos testados no Inventário de Humilhação original (Hartling & Luchetta, 1999)

Modelo ӽ²/gl GFI CFI RMSEA

SoluçãoInicial 4.78* .84 .75 .06

PrimeiroAjustamento 4.29* .87 .79 .05

Solução final 2.92* .91 .88 .04

Nota. GFI= Goodness of Fit Index > .90; CFI = Comparative Fit Index > .90; RMSEA = Root Mean Square Error of Approximation < .05 (cf. Maroco, 2010); *p < .001

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Análise de Componentes Principais

Utilizámos o método ACP, com rotação oblíqua (cf. Quadro 3). A amostra revelou-se adequada (KMO = .97; ӽ² = 37913.523, p < .01).

A ACP realizada pelo método de Kaiser com valor de raiz maior do que 1 (eigenvalue > 1) colocou em evidência três fatores: receio de humilhação (RH), humilhação humulativa (HC) e preocupação relativa à humilhação (PH) que, respetivamente, explicam 53.1%, 15.1% e 3.9% da variância dos 32 itens do inventário. Conferem uma variância, explicada, total de 72.2%, em muito superior à do estudo original de 58% (Hartling & Luchetta, 1999).

Pela análise da Quadro 2, verifica-se que o Fator I corresponde, em parte, pela sua composição ao Fator II do inventário original. Engloba os itens 13 a 23 do mesmo e explica 53.1% da variância total, valor superior aos 46% obtidos no estudo de Hartling e Luchetta (1999). Designámo-lo por receio de humilhação na medida em que o conteúdo dos itens nos remete para o receio de sofrer humilhação (e.g. Neste momento da sua vida quanto receia vir

a ser cruelmente criticado (a)?). O Fator II, cuja composição corresponde ao Fator I do

inventário original, engloba os itens 1 a 12 e remete-nos para as vivências de humilhação ao longo da vida (e.g. Ao longo da sua vida, com que intensidade sentiu que o(a) rebaixavam?), pelo que mantivemos a designação original de humilhação cumulativa. Explica 15.1% da variância total, valor superior aos 12% obtidos por Hartling e Luchetta (1999). Por fim, o Fator III engloba os itens 24 a 32 pertencentes aos Fator II do inventário original e explica 3.9% da variância total. Designámo-lo por preocupação relativa à humilhação, na medida em que o conteúdo dos itens nos remete para a preocupação em vir a sofrer humilhação (e.g.

Neste momento da sua vida qual o seu grau de preocupação relativamente a que façam troça de si?). Em todos os fatores, os itens que os constituem apresentam valores de saturação

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Definidos os fatores e os itens que os integram, apresentamos, de seguida, os resultados da análise de consistência interna (cf. Quadro B3 em Anexo B). Verificámos que as correlações item-total corrigido se manifestaram superiores às do inventário original (r > .53), variando entre .64 (item 30) e .89 (item 15), havendo portanto homogeneidade dos itens constituintes da escala. No que se refere aos valores de alpha de Cronbach (cf. Quadro 2), quer para os fatores quer para a escala global (α = .97), estes são superiores ao valor mínimo aceitável de .7, recomendado por Kline (2011) e aos valores obtidos no estudo original de Hartling e Luchetta (1999) - αHC = .94 e αRH = .96.

Posteriormente, procedemos à análise das comunalidades e validade dos itens do HI. No que se refere às comunalidades, estas variam entre .49 e .84 (M = .72, cf. Quadro 2), valores superiores aos .3 recomendados por Pallant (2007). No que se refere à validade de discriminação dos itens verifica-se que não existem itens com peso significativo em mais do que um fator, considerando um ponto de corte de .40 (cf, Quadro 2).

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Quadro 2

Cargas fatoriais resultantes da ACP, comunalidades, valor próprio, e percentagem de variância explicada por cada item do Inventário de Humilhação

Itens Fator I Fator II Fator III h2

14 .97 .79 17 .92 .78 15 .89 .84 18 .88 .83 13 .85 .78 22 .83 .78 21 .82 .62 16 .76 .76 19 .72 .77 20 .69 .73 23 .59 .62 6 .92 .82 7 .89 .79 3 .85 .78 4 .84 .73 1 .84 .69 12 .84 .69 2 .83 .68 11 .83 .69 5 .83 .69 9 .77 .63 8 .73 .62 10 .69 .56 32 .84 .60 31 .83 .69 28 .78 .76 27 .77 .81 26 .77 .73 25 .73 .75 30 .68 .49 24 .67 .72 29 .63 .74 Alpha .97 .95 .94 Valor próprio 16.99 4.82 1.27 % Variância 53.12 15.07 3.98

Nota. Fator 1= Receio de humilhação, correspondente a alguns itens do fator II do inventário original; Fator 2 = Humilhação cumulativa, correspondente ao fator I do inventário original; Fator 3 = Preocupação relativa à humilhação, correspondente a alguns itens do fator II do inventário original; h2= comunalidades

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Multicolinearidade

Pela observação da Quadro 3 é possível verificar que o valor de correlação entre os fatores RH e PH é superior ao valor de .7 tido como referência (Pallant, 2007), o que sugere poder haver multicolinearidade etária entre estes fatores. Também o valor do determinante, por ser inferior a 0.00001, aponta para a existência de multicolinariedade (Field, 2009).

Quadro 3

Correlação entre os fatores constituintes do Inventário de Humilhação

Receio de Humilhação Humilhação Cumulativa Preocupação relativa à humilhação Receio de Humilhação 1 Humilhação Cumulativa .49 1 Preocupação relativa à humilhação .76 .44 1 Discussão

Com o presente estudo, pretendemos analisar, na população portuguesa, a estrutura fatorial e as propriedades psicométricas do Inventário de Humilhação (Hartling & Luchetta, 1999). Para tal, procedemos à realização da análise fatorial confirmatória, cujos indicadores não foram considerados satisfatórios.

Face a estes resultados, realizámos uma ACP por rotação oblíqua, a qual deu origem a uma estrutura fatorial diferente da versão original, tendo emergido três fatores distintos, que designámos por: Humilhação cumulativa, receio de humilhação e preocupação relativa à

humilhação. Apesar de o fator humilhação cumulativa ser idêntico ao fator homónimo na

versão original do inventário, verificámos que o fator receio de humilhação do artigo de Hartling e Luchetta (1999), aquando da realização da ACP, se divide em dois fatores

(24)

distintos, o receio de humilhação e a preocupação relativa à humilhação, o que poderá justificar a não obtenção de valores ótimos na AFC. No entanto, a correlação entre ambos os fatores apresenta valores superiores aos recomendados, pelo que nos deparámos com um problema de multicolinariedade. Uma possível justificação para os elevados valores de correlação obtidos poderá advir de limitações no processo de tradução do instrumento ou mesmo à similaridade entre os substantivos “receio” e “preocupação”, ambos conotados com a emoção medo e com grau de incerteza, todavia diferindo em grau. No entanto, mais do que uma procura científica dos termos importará a compreensão em termos da psicologia popular muitas vezes veiculada pelos dicionaristas: Nesta medida, ambos estão sob o mesmo espectro, significando receio “estado de incerteza acompanhada de temor; apreensão”, parecendo possuir uma conotação mais forte e negativa do que preocupação que remete para “inquietação; cuidado; apreensão”. Ora, poderá ter sido este campo semântico a estar na origem da multicolinearidade dos dois fatores. Outra possível explicação poderá prender-se com dificuldades na interpretação das questões. Apesar de se pretender que o fator RH remeta para uma experiência futura “Neste momento, quanto receia vir a ser…” e o fator PH se relacione como momento presente “Neste momento, qual o seu grau de preocupação

relativamente a…”, tal poderá não ter sido entendido com clareza por parte dos inquiridos.

Assim, poderá não haver a distinção temporal pretendida entre ambos os fatores levando a que os participantes tivessem respondido aos distintos itens de forma similar.

Excluindo o problema da multicolinariedade do inventário evidente na ACP, para o qual futuros investigadores devem estar alerta, o instrumento apresenta qualidades psicométricas adequadas ao nível da fiabilidade e validade, pelo que constitui um recurso valioso para o estudo de atos de humilhação na população portuguesa.

Concluindo, investigações com recurso ao Inventário de Humilhação podem, por exemplo, permitir investigar eventos humilhantes mais prevalecentes na população

(25)

portuguesa e aqueles que mais marcam os indivíduos. Conhecimentos a este nível poderão abrir caminhos para o estabelecimento de políticas sociais de prevenção e intervenção nos atos de humilhação que tantas “marcas” psicológicas deixam nos indivíduos.

Em investigações futuras iremos procurar um aperfeiçoamento do IH com o propósito de fazer emergir de forma mais distinta os fatores receio de humilhação e preocupação

relativa à humilhação, fatores que apontam para duas temporalidade distintas (presente e

futuro) e conotações semânticas diferentes, de forma a anular a multicolinearidade sucedida, bem como procurar aumentar a percentagem de variância explicada pelo fator III,

preocupação relativa à humilhação. .

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ESTUDO EMPÍRICO II

Efeito Mediador das Estratégias de Coping, Idade e Género, na Relação entre

Humilhação e Bem-Estar Psicológico

Mediator Effect of Coping Strategies, Age and Gender in the Relation between

Humiliation and Psychological Well-Being

Ana C. Ramos1 Francisco Cardoso2

Nota de autor:

1

Ana C. Ramos é mestranda em Psicologia Clínica na UTAD

2

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Efeito Mediador das Estratégias de Coping, Idade e Género, na Relação entre

Humilhação e Bem-Estar Psicológico

Resumo

O presente estudo visa perceber qual o papel mediador das estratégias de coping e das variáveis idade e género na relação entre humilhação e bem-estar psicológico. Participaram no estudo 1133 indivíduos de nacional portuguesa, 187 (17%) do sexo masculino e 916 (83%) do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 18 e 65 (Midade = 32.5 e DPidade = 10.82). Analisando as diferenças de género e idade no que concerne aos fatores de humilhação, o género feminino e os jovens adultos tendem a reportar níveis mais elevados em todos os fatores. Tal poderá dever-se ao facto de vivermos numa sociedade em que é tradição as mulheres e os mais jovens assumirem uma posição subordinada, aumentando a suscetibilidade para a vivência de humilhação. No que se refere ao papel mediador das estaratégias de coping na relação entre humilhação e bem-estar psicológico, são as estratégias

de coping disfuncional que exercem um maior efeito de mediação

(efeitoPreocupaçãoRelativaHumilhação = 35.66%; efeitoHumilhaçãoCumulativa = 32.43%). No entanto, são estas mesmas estratégias que incitam o indivíduo a tornar-se refém das suas vivências de humilhação ao autoculpabilizar-se pelo sucedido ou ao procurar distrair-se dos acontecimentos, muitas das vezes recorrendo a substâncias psicotrópicas. As estratégias de

coping focado no problema, bem como as variáveis idade e género, não assumem qualquer

efeito de mediação na relação estudada.

(30)

Abstract

This study aims to determine which is the mediating role of coping strategies and the variables age and gender in the relationship between humiliation and psychological well-being. Participated in the study 1133 individuals of Portuguese nationality, 187 (17%) were male and 916 patients (83%) were female, aged between 18 and 65 years (Mage = 32.5 and SDage = 10.82). Analyzing the differences in gender and age with regard to the humiliation of factors, female and young adults tend to report higher levels in all factors. This may be due to the fact that we live in a society where tradition is that women and younger take a subordinate position, increasing susceptibility to the humiliation of living. As regards the mediating role of coping strategies in the relationship between humiliation and psychological wellbeing, the dysfunctional coping strategies have a greater effect mediation (effectconcernabouthumiliation = 35.66%; effectcumulativehumiliation = 32.43%). However, it is these same strategies that encourage the individual to become hostage of their humiliating experiences when self-culpabilization for what happened or when looking distract yourself of events, often using psychotropic substances. Coping focused on the problem and the variables age and gender, don´t assume mediation effect in this relation.

Keywords: Humiliation, Coping strategies, Subjetive well-being.

Definida, pela primeira vez, na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, a palavra humilhação deriva de Humus (que significa terra) e consiste numa forma de interação humana que reduz uma pessoa ou grupo num processo de subjugação. Envolve o designado “Triângulo da Humilhação” - a pessoa que humilha, a vítima e a testemunha – e prejudica, seriamente, a dignidade da pessoa que a vivencia, incitando sentimentos de

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desvalorização e de inferioridade (Hartling & Luchetta, 1999; Hartling, Lindner, Spalthoff, & Britton, 2013; Klein, 1991).

Embora a sua definição não seja recente, as investigações acerca da humilhação são escassas. Na verdade, durante os últimos vinte e cinco anos, a maioria dos estudos realizados direciona-se para a identificação de eventos de humilhação e das suas consequências em determinados contextos (e.g., Collazonni et al., 2014; Freitas, 2014; Hogh, Hansen, Mikkelsen, & Persson, 2012; Schlindwein, 2013); para além de ter contemplado a procura do estabelecimento de uma relação causal entre esta e inúmeros problemas de saúde mental (e.g., Hartling, 2007; Torres & Bergner, 2010; Moffic, 2014).

De entre as investigações mais importantes destacam-se os trabalhos dos seguintes autores: Donald Klein, que procurou definir o conceito de humilhação, explicar as suas consequências na saúde mental e emocional humana e teorizar acerca do “Triângulo de Humilhação”; Evelin Lindner que tem contribuído para a construção teórica da humilhação; e Linda Hartling, responsável pelo desenvolvimento de uma longa lista de exemplos de experiências típicas humilhantes e pioneira na elaboração de um questionário quantitativo da humilhação. Também em Portugal, esta ausência de investigação se verifica, existindo apenas algumas publicações que abordam a humilhação de uma forma secundária e ocorrida em situações específicas, como o assédio moral (e.g., Gomes, 2014; Rendinha, 2014) e o bullying (e.g., Lopez, Amaral, Ferreira, & Barroso, 2011).

A humilhação e o receio de a vivenciar apresentam fortes influências sobre o desenvolvimento de mal-estar psicológico (Klein, 1991). Tal deve-se ao facto de os sentimentos de inferioridade e desvalorização que dela advém poderem ser tão intensos e duradouros que inibem o funcionamento adequado do indivíduo, levando a uma fuga e evitamento de certas situações sociais essenciais para a manutenção de bem-estar psicológico (Buetens, 2006; Klein, 1991). No entanto, apesar das evidências que relacionam a vivência de

(32)

humilhação com a diminuição do bem-estar psicológico, tanto o grau de sofrimento decorrente de um ato de humilhação como a capacidade para o ultrapassar varia de pessoa para pessoa, em parte devido às características de personalidade e às estratégias de coping utilizadas pelos indivíduos (Hogh et al., 2012; Leask, 2013; Linder, 2001; Tangney, Stuewig & Mashek, 2007; Torres & Bergner, 2010).

Por estratégias de coping entende-se um conjunto de ações cognitivas e comportamentais utilizadas durante um evento stressante com o intuito de o superar, tolerar ou reduzir o seu impacto (Antoniazzi, Dell‟Aglio, & Bandeira, 1998). De acordo com Coolidge, Segal, Hook, & Stewart (2000), baseados nos estudos de Carver, Scheier, & Weintraub (1989) e de Lazarus e Folkman (1976), a classificação das estratégias de coping divide-se em três categorias distintas, porém complementares: Coping focalizado no

problema, coping focalizado na emoção e coping disfuncional. O primeiro permite gerir ou

alterar o problema desencadeador da situação aflitiva, de extrema ansiedade ou de angústia, dita de distress. Por sua vez, o coping focalizado na emoção está orientado para regular as respostas emocionais face ao distress, sendo em geral adotado quando a situação é avaliada como impossível de ser alterada e a resposta emocional visa a diminuição ou eliminação da ameaça percebida. Por último, o coping disfuncional respeita a estratégias pouco positivas para lidar com o distress. Segundo Lazarus e Folkman (1976), uso de estratégias de coping depende de uma avaliação da situação stressora na qual o sujeito se encontra envolvido. Assim, o indivíduo avalia uma situação como danosa e humilhante e “ativa” as suas estratégias de coping que conduzem a uma alteração da resposta emocional face à situação, atuando como um mediador da resposta emocional que poderá conduzir a uma adaptação - que envolve reconhecer a emoção emergente de modo a aceitá-la e normalizá-la - ou a um fraco ajustamento, patológico - que envolve a distorção ou evitamento da situação criando sentimentos de culpa e ruminação obsessiva.

(33)

Na tentativa de suprimir a lacuna respeitante à carência de estudos sobre a humilhação, particularmente notória em Portugal, o presente trabalho visa compreender a importância das estratégias de coping, da idade e do género como variáveis mediadoras entre a vivência subjetiva de humilhação e o bem-estar psicológico – cf. Figura 1. Operacionalmente, entende-se por variável mediadora aquela que, ao estar presente na equação de regressão, como “terceira” variável, diminui a magnitude do efeito existente de uma variável independente sobreuma variável dependente. Segundo Baron & Kenny (1986) são necessárias quatro condições para a mediação ocorrer: A VI afetar significativamente a variável mediadora; a VI afetar significativamente a variável dependente, na ausência da variável mediadora; a variável mediadora ter um efeito significativo, único, sobre a VD; e o efeito da VI sobre a VD diminuir no momento da adição da variável mediadora. Se qualquer relação, VI → Variável Mediadora ou Variável Mediadora → VD, não for significativa, dever-se-á concluir que não existe mediação.

Figura 1. Modelo concetual do possível efeito mediador da estratégias de coping, idade e género na relação entre humilhação e bem-estar psicológico.

Humilhação Estratégias de Coping Idade Género Bem-Estar Psicológico

(34)

Metodologia

Participantes

A amostra foi recolhida com recurso ao método de amostragem não probabilística, sendo considerados como critérios de inclusão idades compreendidas entre os 18 e 65 anos e a nacionalidade portuguesa. Participaram no estudo 1133 indivíduos, sendo que, do total dos questionários recolhidos, 30 foram eliminados por não estarem concluídos ou por não se enquadrarem nos critérios de inclusão. Dos 1103 restantes participantes, 187 (17%) são do género masculino e 916 (83%) do género feminino, com idades compreendidas entre os 18 e 65 anos (Midade = 32.5 e DPidade = 10.82). A idade foi transformada numa variável categórica com as seguintes categorias: Jovens adultos - 18 a 30 anos; e adultos - 31 a 65 anos) – cf. Quadro 1.

Quadro 1

Características sociodemográficas dos participantes e respetivas médias e desvio-padrão.

Variável Frequência Percentagem Média Desvio-Padrão

Género Masculino 187 17% Feminino 916 83% Idade Jovens Adultos (18-30 anos) 541 49.0% 32.5 10.82 Adultos (31-65 anos) 562 51.0% Instrumentos

Inventário de humilhação (HI). Desenvolvido por Hartling e Luchetta (1999) para

avaliar a experiência interna de humilhação e adaptado para a população portuguesa por Ramos e Cardoso (2015). É constituído por 32 itens, construídos segundo uma escala de

(35)

likert que varia entre 1 (nada) e 5 (muitíssimo) e compreende três fatores: (a) humilhação

cumulativa (HC) que avalia a experiência interna de humilhação do passado para o presente;

(b) o receio de humilhação (RH) que avalia o medo de sofrer humilhação no futuro; e c)

preocupação relativa à humilhação (PH) que avalia o grau de preocupação em sofrer

humilhações no momento presente. Apresenta boa consistência interna em todas as subescalas HC (α= .95), RH (α= .97) e PH (α = .94), bem como na totalidade da escala (α = .97).

Escala de Medida de Manifestação de Bem-Estar Psicológico (EMMBEP).

Traduzida e adaptada para a população portuguesa por Monteiro, Tavares e Pereira (2012) a partir da versão original da Échelle de Mesure dês Manifestations du Bien-Être

Psychologique construída por Massé, Poulin, Dassa, Lambert e Battaglini (1998), avalia o

bem-estar psicológico nos últimos 30 dias. Consiste num total de 25 itens distribuídos por seis subescalas, sendo elas a “Autoestima”, “Equilíbrio”, “Sociabilidade”, “Controlo de Si e dos Acontecimentos”, “Envolvimento Social” e “Felicidade”. A resposta aos itens é efetuada numa escala tipo Likert que varia de 1 (nunca) a 5 (quase sempre). Quanto mais elevado for o total obtido – dado pela soma das pontuações de todos os itens – maior será o bem-estar psicológico percebido. A análise de consistência interna demonstrou valores fidedignidade (alpha de Cronbach) de .96 para a totalidade do instrumento. No tocante à consistência interna, de cada dimensão, os valores de fidedignidade obtidos encontram-se entre .74 (Equilíbrio) e .92 (Felicidade), superiores aos .70 sugeridos por Pallant (2007).

Questionário Brief Coping. Desenvolvido por Carver et al. (1989) e adaptado para a

população portuguesa por Ribeiro e Rodrigues (2004), pretende avaliar estratégias de coping. É constituído por 28 itens elaborados de acordo com uma escala de Likert de 0 (nunca) a 3 (sempre), divididos em 14 subescalas compostas por 2 itens cada, sendo estas: “Coping ativo”; “Planear”; “Suporte instrumental”; “Suporte social emocional”; “Religião”;

(36)

“Reinterpretação positiva”; “Autoculpabilização”;“Aceitação”; “Expressão de sentimentos”; “Negação”; “Autodistração”; “Desinvestimento comportamental”; “Uso de substâncias”; e “Humor” (Ribeiro & Rodrigues, 2004). Os valores deAlpha de Cronbach‟s, do estudo em referência,variam entre (α = .55) na subescala “Aceitação” e (α = .84)na subescala “Expressão de Sentimentos”. Os valores referidos não são na sua totalidade superiores aos .70 recomendados por Pallant (2007), no entanto são mais favoráveis que os obtidos na escala original por Carver et al. (1989).

Procedimento de Recolha de Dados

Os instrumentos adotados, bem como o consentimento informado para a participação no estudo, foram disponibilizados online, após a sua construção na plataforma GoogleDocs, e partilhados via e-mail, em diversas páginas das redes sociais Facebook e Linkedin e na plataforma de psicologia MaisPsi. Após a resposta e submissão dos questionários estes eram automaticamente armazenados na base de dados do GoogleDocs a que apenas os investigadores tinham acesso. Todo o processo de recolha de dados foi realizado entre os meses de outubro e dezembro de 2014. O preenchimento do questionário estimado era de, aproximadamente, 20 a 30 minutos.

Procedimento de Análise dos Dados

Inicialmente, analisámos e descrevemos as diferenças sociodemográficas existentes no que respeita às variáveis humilhação e estratégias de coping, com recurso a testes de

t-student realizados através do software estatístico SPSS Statistics (v.21, SPSSInc, Chicago,

IL).

Posteriormente, testámos o modelo de mediação proposto (cf. Figura 1), com recurso a uma submodalidade de modelos de equações estruturais (SEM) realizadas no software

(37)

Amos (v.22, SPSSInc, Chicago, IL). Considerámos o método de bootstrap para confirmar a

hipótese de mediação.

Previamente à utilização dos referidos procedimentos estatísticos realizámos análises exploratórias dos dados para verificar sua adequação aos pressupostos dos testes. Considerámos como estatisticamente significativo p < .05.

Resultados

Análises Sociodemográficas e sua Relação com a Humilhação Cumulativa, Receio De

Humilhação e Preocupação Relativa à Humilhação

Com o objetivo de se analisarem as diferenças entre género e idade no que respeita à humilhação e estratégias de coping procedemos à realização de testes t-student.

Primeiramente, realizámos testes preliminares para verificar a assunção dos pressupostos para a realização dos referidos procedimentos estatísticos: Nenhuma variável apresenta valores de Sk e Ku indicadores de violações severas à distribuição normal univariada de acordo com os valores de referência de Maroco (2010) - cf. Quadros D1 a D4 em Anexo D; e os valores de VIF obtidos variam entre 1.36 e 3.36, sendo inferiores ao máximo de 5 recomendado por Maroco (2010), pelo que não se verifica multicolinariedade.

Os resultados obtidos no teste t-student para amostras independentes revelam diferenças estatisticamente significativas do género sobre o RH t (1101) = -2.82, p = .005 e sobre a PH t (1101) = -2.19, p = .029, sendo que, em ambos os casos, é o género feminino que apresenta valores médios superiores. A magnitude das diferenças entre as médias foi muito pequena (eta quadrado = .007 e eta quadrado = .004, respetivamente). No que respeita à HC, não se verificaram diferenças estatisticamente significativas t (1101) = -1.46, p = .15,

(38)

no entanto, é também o género feminino que apresenta valores médios superiores – cf. Quadro 2. No que se refere à comparação de género sobre o somatório das pontuações de

coping focalizado no problema (CFP), coping Focalizado na emoção (CFE) e coping disfuncional (CD), não se verificaram diferenças estatisticamente significativas. No entanto,

em todas as estratégias de coping é o género feminino que apresenta valores superiores – cf. Quadro 2.

Quadro 2

Análise de diferenças de médias no que respeita aos fatores de humilhação e estratégias de coping, consoante o género.

Género Feminino Género Masculino

Média DP IC Média DP IC t HC 36.9 13.5 [35.9; 37.8] 35.3 13.1 [33.4; 37.2] -1.46 RH 25.6 13.0 [24.7; 26.4] 22.8 12.0 [21.1; 24.5] -2.82** PH 21.2 10.4 [20.5; 21.8] 19.4 9.8 [17.9; 20.8] -2.19* CFP 12.2 2.7 [12.0; 12.4] 11.9 2.8 [11.5; 12.3] -1.49 CFE 16.3 4.4 [15.9; 16.5] 15.6 4.4 [14.9; 16.2] -1.92 CD 13.7 3.9 [13.5; 13.9] 13.6 4.6 [12.9; 14.2] -0.40

Nota. *p< .05; **p<.01; ***p<.001.HC = Humilhação cumulativa; RH = Receio de humilhação; PH = Preocupação relativa à humilhação; CFP = Coping Focalizado no problema; CFE = Coping Focalizado na emoção; CD = Coping disfuncional.

De seguida, realizámos testes t-student para amostras independentes para comparar as pontuações de HC, RH e PH entre jovens adultos e adultos. Verificámos diferenças estatisticamente significativas da idade sobre o RH t(1101) = 2.48, p = .013 e sobre a PH

t(1101) = 4.02, p < .001, sendo que em ambos os casos são os jovens adultos que apresentam

valores médios superiores. A magnitude das diferenças entre as médias foi muito pequena (eta quadrado = .007 e eta quadrado = .004, respetivamente). No que respeita à HC, não se verificaram diferenças estatisticamente significativas t(1101) = -0.816, p = .42, no entanto, ao

(39)

contrário das variáveis anteriores, são os adultos que apresentam valores médios superiores –

cf. Quadro 3. No que respeita à comparação do somatório das pontuações de CFP, CFE e CD

entre os jovens adultos e os adultos não se verificaram diferenças estatisticamente significativas. No entanto, em todas as estratégias de coping são os adultos que apresentam valores superiores – cf. Quadro 3.

Quadro 3

Análise de diferenças de médias no que respeita aos fatores de humilhação e estratégias de coping, consoante a idade.

Jovens Adultos (18-30 anos) Adultos (31-65 anos)

Média DP IC Média DP IC t HC 36.2 13.3 [35.1; 37.4] 36.9 13.5 [25.0; 27.2] -0.82 RH 26.1 12.7 [25.0; 27.2] 24.2 13.1 [23.1; 25.3] 2.48* PH 22.1 10.3 [21.3; 22.9] 19.6 10.2 [18.6; 20.5] 4.02*** CFP 12.0 2.8 [11.8; 12.3] 12.2 2.6 [12.0; 12.4] 0.21 CFE 15.9 4.4 [15.6; 16.4] 16.3 4.4 [15.9; 16.7] 0.23 CD 13.5 4.1 [13.2; 13.9] 13.8 4.1 [13.5; 14.2] 0.19

Nota.*p< .05; **p< .01; ***p <. 001. HC = Humilhação cumulativa; RH = Receio de humilhação; PH = Preocupação relativa à humilhação; CFP = Coping focalizado no problema; CFE = Coping focalizado na emoção; CD = Coping disfuncional.

Efeito de Predição dos Fatores Humilhação Cumulativa, Receio de Humilhação e

Preocupação Relativa à Humilhação sobre o Bem-Estar Psicológico

Efetuámos uma regressão linear múltipla univariada com recurso ao software estatístico AMOS (v.22, SPSSinc, Chicago, IL), considerando como variável dependente contínua o somatório total da escala de bem-estar psicológico e como variáveis independentes a HC, o RH e a PH. Optámos por, apenas, considerar, nas análises estatísticas, o somatório da

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escala total da EMMBEP por este se correlacionar fortemente com as subescalas que compõem o inventário (rEquilíbrio = .47 e rFelicidade = .95).

Realizámos testes preliminares para verificar a assunção dos pressupostos para a realização dos procedimentos estatísticos: Nenhuma variável apresenta valores de Sk e Ku indicadores de violações severas à distribuição normal univariada (/Sk/<3 e /Ku/<7) e o coeficiente de mardia obtido (0.86) permitiu concluir que existe os dados seguem a distribuição normal multivariada (Maroco, 2010) – cf. QuadroE1 em Anexo E; através das D2 verificaram-se 22 valores extremos, pelo que foram eliminados1; e nenhuma variável apresenta indicadores de multicolinearidade, de acordo com os valores de referência sugeridos por Maroco (2010) - VIFHC= 1.36; VIFRH = 4.16; e VIFPH = 3.99. A significância dos coeficientes de regressão foi avaliada após a estimação dos parâmetros pelo método da máxima verosimilhança.

Todas as trajetórias são siginificativas – cf. Quadro 4. O modelo ajustado ao somatório da escala total de EMMBEP em função da HC, RH e PH explica apenas 26% da variabilidade do bem-estar psicológico – cf. Figura 2 (Maroco, 2010).

Quadro 4

Efeito preditivo dos fatores de humilhação sobre o bem-estar psicológico.

b SE Z

HC – Bem-estar psicológico -0.208*** 0.048 -4.303

RH – Bem-estar psicológico -0.201** 0.068 -2.965

PH – Bem-estar psicológico -0.449*** 0.084 -5.359

Nota.*p < .05; **p < .01; ***p <.001.HC = Humilhação cumulativa; RH = Receio de humilhação; PH = Preocupação relativa à humilhação.

1

Questionários eliminados: 575, 787, 1070, 829, 232, 826, 31, 464, 13, 315, 529, 205, 810, 508, 805, 1021, 602, 827, 704, 780, 574 e 1116

(41)

Figura 2. Modelo linear do efeito de predição dos fatores de humilhação sobre o somatório da Escala de Medida de Manifestação de Bem-Estar Psicológico.

Nota. CHS = Humilhação Cumulativa; FHS = Receio de Humilhação; PHS = Preocupação Relativa à Humilhação; EMMBPTotal = Bem-estar psicológico.

Análise do Modelo Linear dos Fatores de Humilhação sobre o Bem-Estar Psicológico,

Mediado pelas Estratégias de Coping

Analisámos o efeito de mediação das estratégias de coping na relação da humilhação sobre o bem-estar psicológico através de um modelos de equação estrutural. Todos os pressupostos para a realização das equações estruturais se verificaram: Nenhuma variável apresentou valores de Sk e Ku indicadores de violações severas à distribuição normal univariada (/Sk/ < 3 e /Ku/ < 7, cf. Maroco, 2010) ou multivariada (coeficiente de Mardia = 3.77) cf. Quadro E2 em Anexo E; e não foram encontrados valores extremos nem indicadores de multicolinearidade, de acordo com os valores de referência sugeridos por Maroco (2010) – VIFCFP= 1.40, VIFCFE= 1.39 e VIFCD = 1.02. A significância dos coeficientes de regressão foi avaliada após a estimação dos parâmetros pelo método da máxima verosimilhança.

Considerámos as estratégias de coping focalizado no problema, coping focalizado na

emoção e coping disfuncional como variáveis mediadoras; a HC, o RH e a PH como

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Quadro 5

Modelo linear dos fatores de humilhação sobre o bem-estar psicológico, mediado pelas estratégias de coping. b SE Z HC - CFP -0.008 0.009 -0.937 HC – CFE -0.017 0.014 -1.205 HC - CD 0.062*** 0.013 4.931 RH – CFP -0.024 0.013 -1.879 RH - CFE -0.028 0.020 -1.408 RH - CD 0.047** 0.018 2.678 PH – CFP -0.012 0.016 -0.789 PH - CFE -0.054* 0.025 -2.146 PH - CD 0.064** 0.022 2.911 HC – EMMBEP -0.118** 0.038 -3.906 RH – EMMBEP -0.086 0.053 -1.621 PH – EMMBEP -0.310*** 0.066 -4.708 CFP - EMMBEP 2.672*** 0.128 13.091 CFE - EMMBEP 1.145*** 0.080 14.390 CD - EMMBEP -0.897*** 0.091 -9.843

Nota. *p< .05; **p< .01; ***p <.001.HC = Humilhação cumulativa; RH = Receio de humilhação; PH = Preocupação relativa à humilhação; EMMBEP = Bem-estar psicológico.

As estratégias não significativas foram então eliminadas. O modelo ajustado final explica 49% da variabilidade do bem-estar psicológico. A variável HC apresenta um efeito total de -.13 sobre o bem-estar psicológico, sendo o efeito direto de -.08 e o efeito indireto, mediado pelas estratégias de coping disfuncional, de -.04 (∆β = .04; efeito = 34.11%). O efeito indireto através da análise de bootstraping com intervalo de confiança a 95%, situa-se entre -.06 e -.03 (bootstrap = .009; p = .001). A variável PH, por sua vez, apresenta um efeito total de -.42 sobre o bem-estar psicológico, sendo o efeito direto de -.25 e o efeito indireto, mediado pelas estratégias de coping focalizado na emoção e coping disfuncional, de -.17(∆β= .09;efeitoTotal = 39.81%; efeitoCD = 27.78%; efeitoCFE = 17.60%). O efeito indireto através da análise de bootstraping com intervalo de confiança a 95%, situa-se entre -.20 e -.13

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(bootstrap = .02, p = .001). A Figura 3 apresenta o modelo com as estimativas estandardizadas dos coeficientes de regressão e o R² do bem-estar psicológico.

Figura 3. Modelo de mediação das estratégias de coping na relação entre humilhação e bem-estar psicológico. Nota. CHS = Humilhação Cumulativa; PHS = Preocupação Relativa à Humilhação; CFE = Coping focalizado na Emoção; CD = Coping Disfuncional; EMMBPTotal = Bem-estar psicológico.

Com o objetivo de compreender que subescalas específicas do Brief Coping medeiam a relação entre a humilhação e o bem-estar psicológico, realizámos regressões lineares múltiplas multivariadas. Uma vez que a variável RH, quando se consideram as estratégias de

coping na equação, deixa de exercer qualquer efeito sobre o bem-estar psicológico e a

variável coping focalizado no problema não têm qualquer efeito significativo sobre os fatores de humilhação, não serão consideradas na equação.

Num primeiro bloco, explorámos quais as subescalas pertencentes ao coping

disfuncional que medeiam a relação entre a HC e a PH e o bem-estar psicológico.

Considerámos como variáveis mediadoras as subescalas negação, desinvestimento comportamental, uso de substâncias, autoculpabilização, expressão de sentimentos e autodistração; como variáveis independentes a HC e a PH e como variável dependente o bem-estar psicológico.

Realizámos testes preliminares para verificar a assunção dos pressupostos para a realização dos procedimentos estatísticos: Nenhuma variável apresentou valores de Sk e Ku

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indicadores de violações severas à distribuição normal univariada (/Sk/<3 e /Ku/<7 -cf. Maroco, 2010), no entanto, mesmo após as sucessivas eliminações de outliers a distribuição normal multivariada não se verificou (coeficiente de Mardia = 7.06 – cf. Quadro E3 Anexo E); através das D2, verificáram-se 45 valores extremos2que, consequentemente, foram eliminados; nenhuma variável apresenta indicadores de multicolinearidade, de acordo com os valores de referência sugeridos por Maroco (2010), sendo que os valores de VIF variam entre 1.03 (VIFExpressãoSentimentos) e 1.21 (VIFNegação). A significância dos coeficientes de regressão foi então avaliada após a estimação dos parâmetros pelo método ADF, por ser o mais apropriado para amostras superiores a1000 indivíduos que não seguem a distribuição normal (Maroco, 2010).

Em ambos os fatores de humilhação apenas as subescalas autoculpabilização, autodistração, desinvestimento comportamental e uso de substâncias medeiam a relação com o bem-estar psicológico – cf. Quadro 6.

2Questionários eliminados da amostra: 1030, 661, 698, 88, 221, 469, 700, 1099, 439, 1078, 256, 972, 278, 592, 1012, 246, 590, 605, 345, 291, 39,1063, 553, 110, 327, 165, 136, 715, 534, 569, 1073, 862, 803, 705, 421, 964, 237, 624, 916, 235, 716, 809, 762 e 26

Imagem

Figura  1.  Modelo  concetual  do  possível  efeito  mediador  da  estratégias  de  coping,  idade  e  género  na  relação  entre humilhação e bem-estar psicológico
Figura 2. Modelo linear do efeito de predição dos fatores de humilhação sobre o somatório da Escala de Medida  de Manifestação de Bem-Estar Psicológico
Figura 3. Modelo de mediação das estratégias de coping na relação entre humilhação e bem-estar psicológico
Figura  4.  Modelo  de  mediação  das  estratégias  de  disfuncional  na  relação  entre  humilhação  e  bem-estar  psicológico
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Referências

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