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Compreensão de Sertão e Região nos Relatos de José Francisco Thomaz do Nascimento

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Academic year: 2020

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* Recebido em: 31.08.2016. Aprovado em: 20.09.2016.

** Mestranda em História pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO/PR). E-mail: joicebernaski@yahoo.com.br

*** Prof. Dr. no Departamento e no Programa de Pós-Graduação História (UNICENTRO, Irati/PR). E-mail: oseias50@yahoo.com.br

APRESENTAÇÃO DA CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO

N

osso intuito é compreender como as práticas sociais organizaram e constituí-ram o lugar nos Campos de Guarapuava, em 1886, na Província do Paraná no século XIX, por meio dos relatos de José Francisco Thomaz do Nascimento, impressos na Revista Trimensal do Instituto Histórico Geographico e Ethnográfico do Brazil, tomo XLIX, 267-281, Rio de Janeiro: Typographia, Lithogralhia e Encadernação a vapor de Laemment & C. Nesta perspectiva, o trabalho será compartimentado em três momentos, na primeira parte, visamos discutir sobre as concepções de lugar e espaço, na perspectiva de Michelde Certeau. Neste sentido, a compreensão de lugar11, pode ser

imbu-ído no sertão e caracterizado região. Este ainda pode ser compreendido numa perspectiva conceitual de Gilles Deleuze (1995), operando a construção de espaço liso e estriado, que

COMPREENSÃO DE SERTÃO

E REGIÃO NOS RELATOS

DE JOSÉ FRANCISCO THOMAZ

DO NASCIMENTO*

JOICE BERNASKI**, OSÉIAS DE OLIVEIRA***

Resumo: este trabalho fundamenta-se na necessidade de problematizar e compreender as

práticas organizadoras e constitutivas do lugar nos Campos de Guarapuava na segunda metade do século XIX. Podemos ainda destacar, como um dos objetivos, a importância de compreender o que foi o lugar e como as práticas sociais nele puderam estabelecer-se, traçan-do os pontos e as linhas que delinearam e configuram o mesmo, a partir traçan-dos relatos de José Francisco Thomaz do Nascimento que percorreu os sertões de Guarapuava no século XIX.

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contribuirão paracompreendermos como se estabeleceram as práticas sociais que organi-zaram e constituem o mesmo.

Na segunda parte do trabalho, contextualizaremos a problemática, abordando que nosso trabalho trilhará o caminho interpretativo das fontes, e assim, almejamos construir uma reflexão de como podemos analisar os conceitos propostos nesse trabalho, interpretando estes conceitos nos relatos de José Francisco. Para desta forma, produzir uma interpretação teórica das fontes. Desta forma, podemos extrair desses documentos uma construção de pensamento social. Neste sentido, ainda, é possível construir e pensar a História com outras abordagens, visto que esta não é um elemento pronto e acabado, engendrado por personagens do passado, mas sim que fazemos parte da História e nela podemos infiltrar-nos, integrantes do espaço acadêmico que desconstruímos e construímos com pensamentos, ideologias e reflexões que nos possibilitam movimentar o espaço historiográfico.

No terceiro momento, dispomos a interpretar os relatos do viajante José Francisco Thomaz do Nascimento, o à luz dos conceitos já mencionados e, pensar a problemática de compreender como as práticas organizaram e constituíram, nestes desses documentos, os lugares nos Campos de Guarapuava, no século XIX.

CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO NA PERSPECTIVA DOS RELATOS DE VIAGEM, POR MEIO DAS PRÁTICAS SOCIAIS

A concepção de lugar está inserida nos mais variados segmentos sociais. Este con-ceito pode ser utilizado e aplicado nas fontes de forma interpretativa, permitindo uma análise das dimensões tanto sociais quanto econômica, política, religiosa e cultural. O lugar pode ser geográfico, material, social. No entanto, um espaço social pode ser transformado em um lu-gar por meio das práticas sociais. Desta forma, no decorrer do trabalho almejamos distinguir as notórias diferençasexistentesentre estas concepções mencionadas.

Entre espaço e lugar, coloco uma distinção que delimitará um campo. Um ‘lugar’ é uma ordem segundo a qual se distribuem elementos nas relações de coexistência. […] Um lugar é portanto uma configuração instantânea de posições. Implica uma indicação de estabilidade. […] Espaço é um cruzamento de móveis. É de certo modo animado pelo conjunto dos movimentos que aí se desdobram. Espaço é o efeito produzido pelas operações que o orientam, o circunstanciam, o temporalizam e o levam a funcionar em unidade polivalente de programas conflituais ou de proximidades contratuais (CERTE-AU, 1994, p. 201-2).

O espaço pode ser compreendido despido de uma ordem, de uma imposição arbi-trária, ele se caracteriza de forma subjetiva. Um exemplo para nossa compreensão se baseia no itinerário de uma viagem, no percurso da mesma. No vai e vem de uma estrada, de um cami-nho, na qual várias pessoas passam por esse trajeto, operando ações individuais e subjetivas. À medida que um espaço passa a ser pontilhado por normas, regras que delimitam fronteiras, que constroem hierarquia, ele deixa de ser um campo livre e subjetivo e, gradativamente, é convertido em lugar por meio das práticas sociais.

Pensar a concepção de espaço imbuído nos relatos de viajantes significa entender que, os campos de Guarapuava eram um espaço para o indígena, anterior a presença do

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não-indígena naquele local. Visto que, os ameríndios neste momento estavam livres das imposições sociais arbitrárias dos europeus.

Segundo Certeau (1994, p. 202) “o espaço é o lugar praticado”. À medida que o mesmo passa a ser praticado por meio das ações humanas, o mesmo se transforma em lugar na perspectiva de Certeau, como exemplo temos as várias cidades e vilas do Brasil, que nos percursos trilhados para o desenvolvimento da economia brasileira, obtiveram certidão de nascimento, entre elas está Guarapuava.

O lugar se configura no praticar das ações, se caracteriza de forma objetiva no deli-mitar das fronteiras, que podem ser entendidas como físicas e sociais, no configurar de um es-tado, país, etc; no estabelecimento de uma hierarquia social, que indica ordem, que organiza a vida cotidiana de uma cidade, de forma a estabelecer o funcionamento de mesma, marcada por imposição das normas à serem seguidas. Assim, organizam a convivência em sociedade. Esta compreensão de lugar está atrelada as várias regiões, que se findam e que produzem fronteiras sociais, que constroem os valores morais presentes em cada dimensão da sociedade.

Neste sentido, os relatos nos auxiliram na compreensão de espaço e lugar que estão imbuídos nas fontes documentais, propostas para esse trabalho, e que nos revelam as várias possibilidades de interpretações da história, dos campos de Guarapuava, estabelecidos na temporalidade mencionada.

Os relatos também foram produzidos nas grandes viagens, aqueles que circundaram imensas áreas em busca de riquezas, poder, dominação de outros territórios, povos e culturas e transformavam esses espaços em lugares. As mesmas descreviam as práticas cotidianas. Os re-latos poderiam conter inúmeros objetivos, sejam eles de identificar um território, reconhecer a fauna, a flora ou as potencialidades de uma região. Os relatos foram responsáveis por contri-buir para construir um imaginário de espaço distante da percepção visual de muitos, hoje eles são fontes de fundamental importância para a compreensão de espaço configurado em lugar. Certeau (1994) é fundamental para a compreensão dos lugares. Segundo seus re-latos: “atravessam e organizam lugares; eles os selecionam e os reúnem num só conjunto; fazem frases de itinerários. São percursos de espaço” (CERTEAU, 1994, p. 199). Eles podem indicar sentido, como por exemplo, as ruas de uma cidade que se encontram entrelaçadas, mas estão organizadas de forma que podem ser percorridas por todos, sobre direções que apontam sentidos, para direita ou esquerda, norte ou sul, sobre orientações das placas e que possibilitam a organização deste lugar.

Lugar não é um local de inércia, não apresenta estabilidade. Ele está em constan-te movimento, palco das práticas sociais ou, como enconstan-tendido por Cerconstan-teau, um cenário das operações espacializantes. Desta forma, os relatos são fontes importantes para mostrar como os lugares são construídos por meio desses relatos e se transformam gradativamente. Para Certeau (1994, p. 200): “todo relato é um relato de viagem – uma prática do espaço”. Os mesmos são construídos, por meio de discursos que delegam limites, demarcam fronteiras e constroem regiões em lugares distantes, que podem ser entendidos como sertão.

Podemos pensar o espaço na perspectiva de Certeau (1994, p. 201) sobre uma semântica da sociolinguística como “descrições de lugares, uma fenomenologia dos compor-tamentos organizadores de “territórios”. Ou seja, se ocupa do exercício de compreender as várias relações sociais que ocorrem num determinado lugar. Estas relações sociais produzem conflitos, imposição de poder, recepção ou recusa de povos pertencentes a outras culturas, que promovem movimento no espaço. Este movimento transforma o espaço em lugar regido

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por regras e normas sociais, isto é, imposição arbitrária, percebida nas várias dimensões sociais como, político, econômico, religioso, ideológico, etc; podendo ser compreendidos e concei-tuados como regional.

Estas dimensões estão configuradas e estabelecidas na categoria de lugar. Visto que, espaço é subjetivo e lugar é objetivo caracterizado como a centralização de poder. O lugar polí-tico pode ser definido por partidos polípolí-ticos e pela imposição do poder dos mesmos, presentes numa região. Além do mais, a dimensão política pode estar centralizada nas mãos de poucos.

A economia também é uma dimensão que se estabelece nos mais variados lugares sociais, sendo concentrada por pequenos grupos, principalmente, por países considerados como desenvolvidos, gerando pobreza e desigualdade social em outras localidades do globo. A dimensão religiosa em suas mais diversificadas crenças, podem se fazer presente num mes-molocal, engendrando conflitos e repulsa às outras manifestações religiosas.

Estes são os mais diversificados lugares sociais que podemos identificar inseridos socialmente, em vários contextos estabelecidos no decorrer das sociedades e se encontram em constante movimento, de retrocessos e avanços, delimitados por fronteiras, palco das dispu-tas, conflitos e adaptações, etc. Em meio a todos os esforços para se compreender as dinâmicas do espaço, uma definição mais esclarecedora menciona que:

O espaço é um lugar praticado. Assim a rua geometricamente definida por um urbanismo é transformada em espaço pelos pedestres. Do mesmo modo, a leitura é o espaço produzido pela prática do lugar por um sistema de signos – um escrito (CERTEAU, 1994, p. 202). São as ações cotidianas praticadas pelos sujeitos que configuram o lugar. O espaço praticado, também pode se fazer presente nos relatos por meio dos discursos que legitimam e delegam poder, demarcando território, e desta forma impondo suas formas de entendimento do mundo.

Os mapas são elementos que permitem a interpretação de uma concepção de lu-gar, pois eles delegam e apontam uma hierarquia social, seja quando se divide um mapa em hemisfério norte e hemisfério sul, ou seja, quando se organizam os estados confederados em uma nação, estes exemplos revelam uma ordem de lugar hierarquizados geograficamente, politicamente e economicamente.

Ainda analisando a concepção de lugar que permeia os mapas, podemos perceber que a configuração de uma cidade, também delega uma hierarquia social, imposição das or-dens e regras, na qual a elite se concentra no centro e os bairros vão ganhando significações classificatórias de ordem econômica e social. Os bairros periféricos são designados com ad-jetivos pejorativos, sendo construídos, desta forma, um local discriminatório, segregado, no qual habita a população pobre, negra, onde se produz criminosos, ou seja, se constrói um ambiente excludente e criminal.

Neste entendimento de lugar percebemos que ele se organiza na escala social, esta-belecendo linhas e pontos que se cruzam. Podemos localizar as linhas nas ordens, nas regras e hierarquias sociais. E denominar de pontos as várias dimensões sociais que pontilham o espaço, ou seja, pontilhar um espaço, segundo Certeau (1994, p. 204), “é um conhecimento da ordem dos lugares, ou ações espacializantes”.

Em regras gerais, podemos compreender como se organizam os vários lugares e as dimensões sociais, presentes na sociedade que se encontra divida em vários segmentos ou

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órgãos que fundamentam a mesma. Cada órgão está imbuído e construído dentro de um recinto da dimensão material e ideológico. Este está para além da estrutura física, tal como o prédio público administrativo municipal, que na maioria das vezes se localiza no centro da cidade, é um espaço material, mas ideologicamente seus poderes se disseminam em todos os espaços de sua administração demarcados na fronteira de seu limite.

Podemos citar a dimensão cultural como outra que pontilha o lugar e constrói regiões, pois uma determinada etnia pode apresentar aspectos culturais diferenciados, e se localizar em um espaço geográfico diferente; a cultura se movimenta e se transforma. E como exemplo podemos citar os descendentes de ucranianos habitantes do Brasil, os quais possuem aspectos culturais diversificados dos povos da Ucrânia, mas que também são pertencentes a uma mesma etnia, que está em movimento.

Como já mencionamos, esses espaços são pontilhados gradativamente e constroem os lugares das mais diversificadas dimensões da sociedade. O lugar é o local no qual aconte-cem as operações espacializantes e, neste sentido, são as práticas sociais que se desenvolvem no mesmo, como as mudanças, os movimentos, os conflitos, as festas, e tudo que indica as relações sociais, etc.

O espaço é o lugar no qual um conjunto de operações podem ser produzidas por meio de relatos, ou seja o relato tem o papel de fundar um espaço, legitimar, demarcar e esta-belecer suas fronteiras. Para Certeau (1994, p. 211), o espaço: “cria um campo que autoriza as práticas sociais”. Numa região pode ser encontrado os mais diversificados resíduos e heranças culturais que se estabeleceram numa temporalidade, pois como concebe Braudel (1998, p. 134):

Cada civilização deixou sua herança urbana, contribuindo para a definição do contexto em que os homens continuaram a viver ainda hoje, em meio às restrições do passado, mesmo quando as condições que presidiram a sua criação deixaram de interferir. Num determinado período na história, podiam se fazer presente em uma localida-de uma cultura e seus valores morais e com o processo das viagens que circundaram a terra ocorreu a inserção de outras culturas no mesmo território, promovendo confronto, conflito, domínio, imposição de poder que levaram aos choques culturais entre as mesmas. A deriva-ção desse processo resultou numa nova construderiva-ção e definideriva-ção de lugar, por meio das práticas sociais interculturais, que configuraram e produziram uma nova região, visto que, o mesmo é móvel e como abordou Braudel (1988, p.151), “o espaço é sempre frágil”.

Nesta perspectiva, a presença de diversas culturas traçam as linhas gerais que permi-tem compreender a constituição dos espaços em lugares nas várias permi-temporalidades, uma vez que, com o devir de acontecimentos, eles movimentam a história, desconstroem e constroem novas formas de sobrevivência e necessidades de compor a vida que se mistura em uma mesma região. CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO DA FRONTEIRA E REGIÃO

Ainda, é de fundamental importância abordar as fronteiras que criam e delimitam os lugares como o do sertão e da região, e as divisões promovidas entre os dois. Para Certeau estas divisões são importantes porque : “ tem um papel mediador, a fronteira faz falar Pará!” (1994, p. 213); neste sentido estabelece um limite, uma separação. As fronteiras criam um lugar, que também pode ser caracterizado como região, pois:

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A “região” vem a ser portanto o espaço criado por interação. Daí se segue que, num mesmo lugar, há “regiões” quantas interações ou encontros entre programas. […] de um lado, o relato não se cansa de colocar fronteiras. Multiplica-se, mas em termo de interações entre personagens-coisas, animais, seres humanos (CERTEAU, 1994, p. 212).

A região está imbuída amplamente na sociedade, e que podemos identificar a for-mação de várias regiões. Neste sentido, dentro dos limites de uma cidade se configuram inú-meras regiões como a política, econômica, religião, festas, entre muitas outras. Estas regiões demarcam fronteiras e promovem a divisão social. Estas fronteiras podem ser estabelecidas para além do espaço físico. Construída também por meio de discursos.

Ela pode ser encontrada também na economia mundial, na qual classifica os países desenvolvidos e subdesenvolvidos, que teve esse processo acirrado após a Revolução Indus-trial. E desta forma, consolidou o modo de produção capitalista, produzindo as regiões de concentração de capital e riqueza e regiões da miséria, fome e desigualdade, segregação social. Região é um lugar construído, por meio de vários elementos, entre eles, segundo Bourdieu (1980, p. 83), “os relatos são discursos que vão legimando a região […] pela im-posição arbitrária”. Estes discursos que demarcam as fronteiras de países, estados, cidades, etc. E estão impressos nos relatos de viagem, a medida que o não-indígena percorria o espaço subjetivamente, construía o lugar paulatinamente e objetivamente, de acordo com seus inte-resses, por meio da dominação, usurpação e imposição da sua verdade e dos valores sociais. Segundo Bourdieu (1980, p. 83), “toda imposição é uma delegação de poder, o jogo é o poder de impor uma visão do mundo social por meio dos princípios de di-visão”. Este jogo de poder pode ser compreendido pelos elementos que são usados para demarcar, dominar uma região, como restringir, subtrair e eliminar valores culturais pertencentes à cul-tura dominada, impostas pela culcul-tura dominante, para a imposição da sua “verdade”. Dessa forma, podemos abordar que, na constituição de lugar, estes podem ser estabelecidos pelo jogo do poder, demarcados regionalmente, delimitados por fronteiras, produzidos por meio de relatos imbuídos de discursos, e discursos impregnados de poder simbólico o legitimam juridicamente. Bourdieu (1980, p. 84) ainda considera que:

O discurso regionalista é um discurso performativo, que tem em vista como legitimar uma nova definição das fronteiras e dar a conhecer e fazer reconhecer a região assim delimitada e, como tal, desconhecida contra a definição dominante.

Como veremos na sequência que José Francisco Thomaz do Nascimento, ao per-correr os Campos de Guarapuava, produzia relatos de viagens, e nos quais estavam impressos discursos regionalistas e eram publicados na Revista Trimensal do Instituto Histórico Ge-ographio e Ethnográfico do Brazil no Rio de Janeiro. Desta forma, o Governo Imperial, ao disseminar esse discurso na população e, principalmente, para a vizinha Argentina, estava consolidando, delimitando as fronteiras que ainda nesse momento eram frágeis e integrando os espaços e lugares trilhados por Nascimento ao domínio de seu território. À medida que Nascimento percorria os Campos de Guarapuava, praticava o espaço e gradativamente o transformava em lugar.

Este processo ocorre com a infiltração de forma “pacífica” e também agressiva, con-flituosa, na qual submete indivíduos pertencentes a outras culturas, a adquirirem

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caracterís-ticas culturais do povo que está dominando, isto é, a cultura dominante impõe sua verdade, delegando ser portadora de aspectos culturais superiores. Desta forma, se estabelece uma nova ordem social, “batendo as estacas”, demarcando sua fronteira com a construção das primeiras estruturas físicas, por meio de ideologias construídas em relatos de viajantes que se aventuram a adentrar nestes lugares. E estes relatos contribuem para legitimar juridicamente e consolidando os lugares oficialmente. Pois os discursos presentes nos relatos se encontram recheados de poder.

Podemos encontrar este poder impresso na sociedade desde os tempos mais remo-tos até os tempos atuais, como guerras, batalhas físicas e guerras ideológicas, que produzem resultados catastróficos na disputa pelo poder. Segundo Bourdieu (1980, p.125): “o poder que está em jogo é o poder de se apropriar, se não de todas as vantagens simbólicas associadas à posse de uma identidade legítima [...] suscetível de ser publicamente e oficialmente afirma-da e reconheciafirma-da de identiafirma-dade nacional”. Este poder projeta as fronteiras, constrói as regiões e aponta os sertões; ele está em todos os espaços, o mesmo pode consagrar e tornar legítimo juridicamente um país, estado, região, etc.

Segundo Albuquerque (2008, p. 65): “A região aparece como um dado prévio como um recorte espacial naturalizado, a-histórico, [...] ora como recorte dado pela natureza, po-lítico-administrativo, ora como recorte natural”. Neste sentido, podemos entender que o regional foi construído ao longo da história, estabelecido em uma temporalidade, ou seja, o homem delimitou as fronteiras que constitui o lugar regional, que pode corresponder aos anseios políticos, econômicos, religiosos, culturais, ideológicos, literários, etc.

De acordo com Albuquerque (2008, p. 57): “a palavra região remete, pois a coman-do, a domínio, a poder”, ou seja, o regional pode ser compreendido no exercício de poder entre vencedores e vencidos, estabelecidos por meio conflituoso, travado dentro dos limites que configura a região; a mesma não se encontra como lugar de imobilidade, é permeada por movimento da transformação, conforme os padrões e valores morais, culturais engendrados a cada período construído na história.

As regiões, portanto, não pré-existem aos fatos que as fizeram emergir, as regiões são acontecimentos, estratégia, acontecimentos militares, diplomáticos, são produtos de afrontamento, de disputas, de conflitos, de lutas, de guerras, de vitória e de derrotas (ALBUQUERQUE, 2008, p. 58).

As regiões são construções humanas, que nascem por meio de discursos, de resis-tência, de subjetividade individual ou objetividade coletiva, na busca pelo resgate tradicional, pela imposição de uma verdade absoluta, por diversificadas versões, que anseiam satisfazer as vontades humanas.

A região pode ser definida e sintetizada como unidade definível no espaço, que caracteriza por uma relativa homogeneidade interna com relação a certos critérios. Pode ser compreendido como um sistema de movimento interno ou como unidade que apresenta uma lógica interna ou padrão que a singulariza, e que pode ser vista como unidade a ser inseri-da, confrontada em contextos mais amplos. Portadora de uma história, estabelecida numa temporalidade e espacialidade engendrada pelo homem, produzido por meio de discursos, legitimação e imposição de poder, a qual também pode ser delegadas ou demarcadas huma-namente.

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COMPREENSÃO DE SERTÃO

É pertinente fazer o questionamento: o que é sertão? Segundo Amaral (1947, p. 476-81) “sertão é um grande deserto, [...] o sentido mais ajustável de sertão é o de interior”, ou ainda, local distante dos grandes centros. Etimologicamente, a palavra sertão abrigava ou-tro significado, com outra construção social da palavra, segundo Amaral (1947, p. 476-81), “empregada como sertã”, que significava frigideira etc; e, assim, denotava o sentido de algo quente. Desta forma, o sentido das palavras se transforma com tempo, e a este conjunto são incorporados novas palavras, ou atribuídos outros significados as palavras que já existiam.

Diante disso, podemos perceber que sertão possuía outro significado e o termo sertão foi adaptado para compreender os lugares distantes, longínquos, estabelecidos como interior. É oportuno abordar que sertão era utilizado pelos portugueses, para denominar parte das terras ultramarinas, sobre seus domínios estabelecidas na África, Ásia e na América, visto que as mesmas se localizavam numa região quente. Nesta perspectiva, Amaral (1947, p.476-81) concebeu a ideia de que alguns europeus, nos primeiros contatos com o calor das terras do interior da África e da Ásia, não podiam, um dia, terem relacionado a forma sertão com a ideia desse calor sentido? Sertão, ainda, pode ser pensado como uma categoria social, atrelada há um lugar distante dos grandes centros, no qual podem ser identificadas as várias regiões que se configuram naquele local.

Na perspectiva das classes mais “desenvolvidas” intelectualmente, estas atribuíram que os povos que habitavam no sertão, eram classificados pejorativamente como povos selva-gens, bárbaros, não civilizados, desprovidos de traços intelectuais, e ainda podiam ser carac-terizados como caipiras, caboclos, bugres etc.

Desde o século XVI, os viajantes portugueses descreviam em seus relatos, sobre a imensidão das terras encontradas no Brasil e, gradativamente, foram construindo uma ideia de sertão, que permeava os relatos documentais dos mesmos. O sertão foi definido pelos europeus como área desabitada, de distância longínqua, lugar que necessitava ser habitado e ocupado pelo “progresso”, numa perspectiva europeia. Os povos autóctones, que residiam nos sertões, eram considerados como bárbaros, desprovidos de rei, lei e organização social.

O sertão, então, foi localizado nos limites das fronteiras, moveu-se do litoral, do es-paço habitado ao desabitado; foi concebido após os limites do litoral. Desde o início da colo-nização, foi identificado em uma dualidade, pois o litoral era a faixa de terra que manifestava suas primeiras habitações, ao contrário do interior ou sertões, que encontrava-se desprovidos de núcleos populacionais (AMADO, 1995).

Desde o início da construção da história do Brasil, os sertões permeavam a construção de uma identidade nacional. De norte a sul do país podemos identificar esta construção. Como nos diz Amado (1995, p. 15): “desde o início da história do Brasil, portanto, sertão configurou uma perspectiva dual, contendo em seu interior uma virtualidade: a da inversão. Inferno e para-íso, tudo dependeria da pesrpectiva de quem fala”. Neste sentido, sertão poderia ser concebido como paraíso para os degredados, escravos fugitivos, hereges, indígenas, os mesmos encontra-vam neste lugar um refúgio. Estes grupos estariam protegidos das repressões, escravizações, e genocídios empregados pelos europeus em detrimento desses povos embrenhados nos sertões. Do lado oposto, para os bandeirantes, colonizadores europeus, indicou o inferno.

O sertão pode ser compreendido culturalmente, de forma a identificar a cultura in-dígena nas suas mais variadas diversidades culturais representadas nas diversas regiões

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espalha-dos pelo Brasil. Podendo ser entendido, nos espaços de conflitos, guerras, genocídios, na qual foram travadas inúmeras batalhas. Dois mundos opostos encontraram-se neste ambiente, de um lado os indígenas defendendo suas terras, culturas, e do outro a infiltração do europeu, que dominavam, exploravam, impondo suas regras, cultura.

Portanto, sertão é uma categoria que pode ser pensada e inserida nas fontes, que contribui para a construção da historiografia de forma diferenciada. A Região pode estar inse-rida no sertão, demarcado e delimitado por fronteiras, legitimados por discursos estampados em relatos de viagens, tal qual se estabelecem as práticas sociais.

ESPAÇO LISO E ESTRIADO

As noções de liso e estriado são conceitos criados por Gilles Deleuze e Félix Gualtari que nos servem para compreender a concepção e a construção do espaço e das práticas so-ciais que constituíram e organizaram os Campos de Guarapuava, no período do século XIX. Pode-se afirmar que o liso e estriado tem algo em comum, os dois são móveis, não são fixos e se estabelecem dentro de um espaço que molda, delineia e configura o mesmo. Embora ocupem posições contrárias. Para Deleuze (1925, p. 187): “O liso e o estriado se distinguem em primeiro lugar pela relação inversa do ponto da linha (a linha entre dois pontos no caso do estriado, o ponto entre duas linhas no caso do liso)”.

O espaço estriado, segundo Deleuze é (1925 , p. 80): “o tecido que pode ser infinito em comprimento, mas não na sua largura, definida pelo quadro da urdidura; a necessidade de um vai-e-vem implica um espaço fechado”. Este é um espaço bordado, no qual as linhas são traçadas horizontalmente e verticalmente, demarcando seu lugar, impondo suas regras e normas. Para Deleuze (1925, p. 81): “o espaço estriado é o que entrecruza fixos e variados, ordena e faz suceder-se formas distintas, organiza as linhas melódicas horizontais e verticais”. Em virtude dos apontamentos citados acima, entende-se como estriado, o espaço de uma cidade, a qual está demarcada e organizada sob as ordens e regras que regem a mesma. As ruas da cidade, estão organizadas de maneira em que todos obedecem uma ordem, uma direção que foi construída num longo processo histórico. A administração pública está orga-nizada de forma compartimentada em setores, de forma que constitui o tecido da adminis-tração, onde se cruzam as linhas que bordam o espaço social, das regras, normas, imposições arbitrárias; de maneira que o cidadão que habita as fronteiras de um país, é coagido a seguir as regras, se desejar não ser penalizado, pagando obrigatoriamente impostos entre outras ar-bitrariedades.

Em outro sentido, temos o conceito de espaço liso que permite compreender as práticas sociais de forma contrária. Este enfatiza a liberdade, subjetividade, autonomia na qual há um despreendimento de valores sociais, desse modo, as linhas não estriam o espaço, e, por isso, é caracterizado como espaço liso sem imposição de regras e ordens. No espaço liso, segundo Deleuze (1925, p. 185): “a linha é um vetor, uma direção e não uma dimensão ou uma determinação métrica”, ou seja, é o lugar no qual as linhas não passam, não cruzam, é tecido liso, pensado num espaço em sua dimensão não homogênea.

Portanto, até este momento do trabalho discutimos alguns conceitos como espaço, lugar, região, sertão, liso e estriado. E na sequência, os mesmos contrubuírram para com-preensão das práticas sociais que construíram e organizaram os Campos de Guarapuava no século XIX, por meio dos relatos de viagem de José do Nascimento.

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CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA JOSÉ FRANCISCO THOMAZ DO NASCIMENTO

Antes de interpretar os relatos de viagem, é necessário contextualizar o período esta-belecido para trabalho, e esboçar alguns fatos ocorridos na História que levaram ao processo de ocupação dos Campos de Guarapuava no século XIX, pelos descendentes de europeus. Este era um momento conturbado no Brasil, segundo Franco Neto (2011, p. 24): “foi um período em que grandes transformações estavam ocorrendo em nível conjuntural e estrutu-ral”. Naquele momento, aboliu-se o tráfico de escravos internacional, embora a escravidão continuasse e ainda estava próximo a mudança dos regimes políticos à passagem da Monar-quia para a República.

As grandes viagens empregadas pelos europeus empreendidas na América, Ásia no processo do mercantilismo à procura por matérias-primas, iniciaram este processo de colo-nização, dominação, usurpação em outros territórios do planeta. Também tivemos no início do século XVIII, o processo da Revolução Industrial que também contribuiu em larga escala para apropriação de outros territórios em busca de matéria-prima. O fato de a Inglaterra extinguir em 1850 o tráfico de escravos a nível internacional, gerou resultados no Brasil, visto que a mão-de-obra era escravista e desequlibrou a economia. Desta forma, o tráfico de escravos tornou-se intenso entre as provínias no Império do Brasil. Assim, com a escassez da mão-de-obra escravista de africanos foi utilizada a mão-de obra escrava indígena nos Campos de Guarapuava naquele período.

As relações de produção também estavam baseadas na utilização de mão-de-obra, tanto que com o seu desenvolvimento e o fim do tráfico internacional de escravos, sua estru-tura apresentaria problemas sérios de abastecimento, estimulando intensamente o tráfico interprovincial [...]. Seu abastecimento se fez com a compra de escravos, principalmente do Nordeste brasileiro. O preço dos escravos se eleva em função da escassez de braços para a lavoura (FRANCO NETO, 2011, p. 91).

A mão-de-obra escrava indígena contribuiu para subsidiar a economia naquele pe-ríodo, segundo Franco Neto (2011, p.44), “a utilização do trabalho escravo indígena fez parte do processo produtivo implantado na colônia, pelos portugueses”. Para este estudo é impor-tante abordar a questão do trabalho escravo indígena, para apresentar alguns fatos que con-tribuíram para o processo de colonização deses Campos. As etnias indígenas com o processo de colonização estiveram inserida em várias situações. Alguns ameríndios foram introduzidos no trabalho escravo, outros foram aldeados e ainda muitos indígenas se encontravam “livres” pelas matas que abrangiam vasto espaço dos Campos de Guarapuava.

É nesse contexto que ocorerram as viagens, por meio de pessoas enviadas pelo Go-verno do Império, para percorrer aqueles vastos Campos, entre eles tivemos José Francisco Thomaz do Nascimento, que, segundo Franco Neto (2011, p.28), “a apropriação desses lu-gares ocorrerram objetivados com “a política de ocupação [...] foi determinada pelo Governo Imperial com finalidades militares, políticas e econômicas”. E assim, paulatinamente, esses discursos impressos nos relatos, contribuíram para consolidar esta região, que futuramente se tornaria parte da nação do Brasil, resultantes dos conflitos travados na História entre Portugal e Espanha, para definir as fronteiras entre Brasil e Argentina. E, desta forma, podemos

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inter-pretar e conceituar aqueles Campos, imbuíndo-os na categoria de região imersos no sertão, que ainda naquele período apresentavam certa “dificuldade” no processo de colonização.

O processo de colonização em Guarapuava, no século XIX foi iniciado pela vinda de europeus de várias etnias, até mesmo degredados. Neste período, já era contemplada com Igrejas, pequeno comércio, Subdelegacia, Escrivão, Delegado, Juiz de Direito, entre outros; mas apesar desses aspectos político-administrativos, os sertões ainda estavam “ocultos” para os não-indígenas e naquele contexto, destacaram-se os relatos da viagem que José Francisco Thomas do Nascimento, realizados pelos Campos de Guarapuava em 1886.

Os relatos são importantes porque sustentam a compreensão das práticas organiza-doras do lugar, e esclareceram por que Nascimento percorreu os sertões, pois tinha autoriza-ção do Governo Imperial, para percorrer aqueles campos:

Attendendo um requerer de José Thomaz do Nascimento hei por bem prorrogar por mais dous anos o prazo estabelecido pelo Decreto nº 9261 de 16 de Agosto de 1884, para exploração de chumbo, ouro, sal gemma e outros minerias nos terrenos devolutos existentes entre o Rio Iguassú, os limites Norte de Tibagy e Campos de Guarapuava até encontrar no Rio Paraná, na Província do mesmo. Antônio da Silva Prado, do meuo Conselho. Ministro e secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, commercio e Obras Públicas, assim o tenha entendido e faça executar. Palácio do Rio de Janeiro em 11 de novembro de 1886, da Independência do Império (NASCIMENTO, 1886, p. 267-81). Para esta viagem, o Governo Imperial destinou subsídios financeiros na quantia que: “Importam (em réis) um conto trezentos e oitenta e dous mil e vinte réis (1:382$320), […]. Pelo Ministério da agricultura fui auxiliado, em Dezembro de 1884, com a quantia de setenta e dous mil e trezentos e vinte reis (702$320) e tudo mais foi feito à minha custa” (NASCIMENTO, 1886, p. 267-81).

O objetivo de José Francisco Thomaz do Nascimento, consistia em explorar as ri-quezas naturais existentes naqueles terras e também segundo Antônio Marcos:

O viajante ao em por prática a ideia de abrir uma picada partindo do Chagú rumo ao rio Paraná, e na margem esquerda desse rio em edificar e um porto, tinha a intenção de lucrar com tal façanha na medida em que o porto torná-lo um grande comerciante ao intermediar a venda de produtos brasileiros no mercado platino e vice-versa (MYSKW, 2008, p. 169).

Os sertões de Guarapuava eram alvo de interesses dos viajantes naquele momento, de-vido o Brasil e a Argentina estarem em litígio, na demarcação de suas fronteiras. A Argentina rei-vindicava os territórios da região Oeste do Paraná e de Santa Catarina, que pretendia as fronteiras pelo rio Chapecó e Chopim, supostamente com base no Tratado de Madri 1750, que substituía os antigos tratados entre Portugal e Espanha. Então, segundo Myskiw (2008, p. 165): “o litígio entre a Argentina contribui significativamente para relegar maior atenção do Governo Imperial e da Província do Paraná à exploração e ocupação da região oeste e sudoeste do Paraná”.

Desta forma, os viajantes que percorriam aos sertões auxiliavam o Governo Impe-rial a demarcar e legitimar suas fronteiras e, consequentemente, configuravam o recinto social de Guarapuava.

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Sobre os lugares percorridos pelo José Francisco Thomaz do Nascimento declara que: No dia primeiro de maio do anno findo cheguei aos campos de Juquiá, distante da cidade de Guarapuava umas dezoito léguas para o Oeste. […] No dia oito do mesmo mez pidi a Nhon-nhon para fazer uma picada do Chagú ao rio Paraná […]. A 13 de maio entramos no Chagú ao rumo de 78 grãos noroeste, e depois de 26 dias […] conseguimos com dificuldade abrir 9 leguas de picada, […] No dia 10 de Junho daquele anno cheguei ao Janquiá, e no dia 14 chegou o capitão Janguió com 25 pessoas, entre homens, mulheres e crianças. No dia vinte segui com cinco camaradas viajando umas duas leguas, encontra-mos um toldo feito de folhas de Xaxim, […]. A 30 seguiencontra-mos e passaencontra-mos rio Paquerê ou Paquery, […] e chegamos ao Pary no dia 15 […], pois preparados íamos para a viagem que tencionamos fazer até as Sete Quedas. […], e novembro cheguei a Villa Tibgy, passando por Guarapuava e Therezina. […] no dia seguinte partimos para os toldos indígenas. […] abriram uma picada até a frente da abandonada Villa Rica do Espírito Santo, situada a margem esquerda do rio Ivahy (NASCIMENTO, 1886, p. 267-81).

Entretanto, esta citação nos possibilita interpretar que José do Nascimento com sua comitiva ao percorrer os Campos de Guarapuava, paulatinamente, estavam contribuindo para construção daquele lugar “apoiados” pelo Governo Imperial. Desta forma, estes Campos dos quais tratamos no trabalho, mais tarde com a passagem da Monarquia para a Repúbli-ca no decorrer do século XX, além de Guarapuava já emancipada no século XIX, seriam emancipados outros municípios como Turvo, Pinhão, Laranjeiras do Sul, Nova Larangeiras, Guarianiaçu, Ivaí, etc. Antes da presença do não-indígena, aqueles Campos contemplavam somente a presença de etnias indígenas (Coroados, Guaranis), com a entrada dos descenden-tes de europeus, o mesmo passou a configurar um novo cenário cultural entre indígenas e não-indígenas.

O Brasil, já vinha sendo explorado desde o século XVI, e cada região teve suas estratégias de dominação e apropriação por povos europeus das mais variadas etnias, ora de forma pacífica, ora conflituosa. Na década de 1880, tivemos viajantes que adentraram no sertão de Guarapuava, para dominar e explorar este espaço do Brasil. No fragmento de relato citado está explícito todos os pontos e lugares empreendidos na viagem. Conforme Certeau (1994, p.199): “os relatos atravessam e organizam lugares, eles os selecionam e os reúnem num só conjunto, fazem frases itinerários. São percursos de espaço”. Então José Francisco Nascimento foi construindo um percurso por todos os lugares percorridos; de modo que, ao atravessar os lugares foi organizando e selecionando e construindo as regiões não-indígenas, num processo de apropriação da mesma, na medida que se deslocava de um lugar para outro. Desde os campos de Juquiá até a abandonada Villa Rica do Espírito Santo, na margem esquerda do rio Ivahy, ou seja, José foi demarcando e delineando o lugar, que antes pertencia ao indígena e que, gradativamente, deixa de ser o reduto de domínio do nativo e passa a ser o lugar do não-indígena, ou seja, houve, desta forma, um estriamento do espaço.

Segundo Bourdieu (1980, p. 84), “os relatos são discursos que vão legitimando uma região, […] pelo poder mágico das palavras”, tais palavras estavam contempladas no discurso proferido por José Francisco Nascimento redigido em seus relatos, delegado de poder, auto-rizado pelo Governo Imperial, demarcaram, legitimaram e construíram o espaço na perspec-tiva não-indígena de dominação.

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Nos relatos dos locais percorridos por José Francisco Nascimento, concebeu-se uma ideia de região, visto que, conforme abordou Bourdieu, os discursos legitimam um lu-gar e a viagem de José do Nascimento contribuiu para construir a região do não- indígena. O conceito de região é profícuo para refletir sobre a presença não-ndígena nos Campos de Guarapuava, pois:

Aos da sua tribu reartir-lhes os mesmo objetos, com exceção do chapéo enfeitando as […] e me diziam pelo interprete que aqueles toldos eram de indios Guaranys, e que eles eram muito valentes e os Coroados tinham muito medo deles (NASCIMENTO, 1886, p. 267-81).

Podemos interpretar tribo ou toldo indígena no conceito de região, visto que a mes-ma é um padrão que singulariza, borra e ultrapassa os aspectos físicos e geográficos, delimi-tados pelas fronteiras que a constroem. Estes limites são imaginários, mas são características pertencentes a uma região. Como mencionado na citação, viviam nos Campos de Guarapu-ava naquele momento duas etnias indígenas, os Guaranis e os Kaingangs, chamados muitas vezes de Coroados. Porém, cada um ocupava um local estabelecido conforme seus valores culturais, seu modo de organização social, seus aspectos políticos e religiosos. É pertinente destacar que, os aborígenes possuíam uma identidade que os integravam a uma tribo, e assim imbuiam-os em uma região, que os definiam como Coroados, Guaranis, entre outras etnias indígenas que ali se manifestaram.

Diante disso, a região não se estabelece somente dentro dos limites geográficos, ela se dispersa e se infiltra para além do espaço físico, ela é construída por fronteiras imaginárias que estabelecem os limites. Ora os Guaranis trilhavam caminhos pelos Campos de Guara-puava objetivando atingir suas necessidades físicas e culturais, ora os Kaingangs cruzavam o mesmo espaço com vista à sua manutenção física e cultural. Desta forma, estes grupos iden-tificados, como regiões, se misturam num mesmo território.

Para compreendermos mais significativamente a região inserida no lugar indígena, vamos abordar mais um pouco sobre a organização política nessa sociedade, que não compre-ende limites geográficos, mas sim aqueles que se estcompre-endem para além da espacialização da ma-terialidade física. Os aspectos e elementos culturais que singularizaram a etnia dos Kaingangs, indicavam que estes pertenciam àquela etnia, construindo um limite que define região nesta modalidade. E que por mais que um integrante da mencionada etnia estivesse fora dos limites de seu grupo, o mesmo seria identificado como Kaingang pelos Guaranis, e com dificuldade de aceitação pelo outro. Enfim, cada etnia possui características que as definem, singularizam, identificam como pertencentes àquela cultura.

Então, na compreensão de região, o espaço deve ser entendido como algo pratica-do, pois é o palco das operações espacializantes, que envolvem tanto as regiões que abrangem a etnia Guarani e a dos Kaingangs, quanto a cultura do não-indígena, postulante de espaço nesta região, estabelecida pelo processo da colonização.

Os relatos de viagens estão imbuídos de discursos que emergem poder, como tam-bém os relatos redigidos pelo José Francisco Thomaz do Nascimento, autorizado pelo pelo Governo Imperial, que visava estabelecer completo domínio nesses sertões, na qual uma nova cultura estava sendo introduzida, em detrimento das culturas indígenas, que já tinham suas raízes consolidadas neste local.

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Esses viajantes que também possuíam objetivos individuais, como a exploração de riquezas naturais, auxiliavam o Governo Imperial na consolidação de seus domínios, com a introdução dos não-indígenas por diversos meios. Um desses mecanismos eram os relatos que contribuíram para consolidar estas regiões, deixando em cada lugar que passavam a marca de sua cultura:

Vesti-lhe uma coisa (pois eles vinham semi-nus) calça de algodão riscado nacional, uma fara de baetão azul, forrado de baetão vermelho, com galão de capitão, botões de latão, bonet agaloado, um fio de contas vermelhas ao pescoço, gravatas, lenço da mesma cor, machado […] Aos da sua tribu repartilhes os mesmos objetos, pratos, caneco e colher, e os homens, pistolas, pólvoras, chumbo espoletas, pentes, espelhos, tesouras […] faziam em todos os lugares pousos, é preciso notar-se que as mulheres cortam o cabelo como podia ellas que não mais cortassem os cabelos e nem em mais corôas, alegres prometeram que sim (NASCIMENTO, 1886, p. 261-81).

Ainda é possível perceber como o viajante José Nascimento vai deixando marcas, elementos de sua cultura para as etnias indígenas, num processo arbitrário; ao distribuir pre-sentes para os ameríndios, induzia os indígenas a entrarem no “progresso civilizatório”, de modo que ao vê-los nus (selvagens), acreditava que precisava vestí-los. Visto que, o modo de se vestir, andar ou ainda, se representar socialmente, inclusos à uma etnia, inserem-os dentro de uma região. José Francisco impôs as mulheres que cortassem seus cabelos conforme a cul-tura não-indígena, pois, desta forma, passariam a apresentar características dos povos euro-peus. Neste sentido, interpretamos, que o modo de se pôr em sociedade dos ameríndios, foi considerado como selvagem pelos não-indígenas, e os mesmos deveriam passar pelo processo civilizatório dos não-indígenas, para desta forma, pertecerem a região dos europeus.

Nos Campos de Guarapuava, desde o início do século XIX os não-indígenas já haviam fixado moradia e, desta forma, em 1886 existiam muitos habitantes. Nesse sentido, estes habitantes podiam ser caracterizados e entendidos como pertencentes a uma região, por serem caracterizados dentro de um padrão que os singularizava como não-indígenas.

A respeito das práticas sociais que organizam um espaço, Albuquerque (2008, p. 4) salienta que elas estão “em constante movimento”. Os lugares que antes pertenciam a so-ciedade indígena transformaram-se nos Campos de Guarapuava, mas que por vários motivos, ocorridos dentro deles e exterior à eles, provocaram mudanças colocando o espaço em movi-mento. Por meio das práticas sociais que constroem e desconstroem o lugar, e este deixa de ser um para ser outro, ou seja, deixou de ser somente dos grupos indígenas para ser também do não-indígena, fixados por meio de conflitos, dominação e exploração. Então, a construção dessas regiões foi estabelecida, segundo Albuquerque (2008, p. 57) “por imposição de poder”. Na perspectiva conceitual liso e estriado, os mesmos podem ser imbuídos na inter-pretação dos relatos de viagem de José Francisco Thomaz do Nascimento, pelos Campos de Guarapuava. Estes conceitos na perspectiva de Certeau andam juntos, e podem ser identifica-dos num mesmo lugar. Eles podem ser interpretaidentifica-dos como engrenagens sociais, por meio das práticas sociais, empreendidas pelas ações humanas que desconstroem e constroem lugares, isto é, ora é possível um alisamento do espaço, ora um estriamento do lugar.

O espaço liso se refere a liberdade ao despreendimento dos valores sociais, a auto-nomia subjetiva, a não-submissão da imposição da verdade de uma cultura em detrimento da

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outra. Segundo Deleuze (1925, 185) “as linhas não se cruzam”. O espaço estriado segundo Deleuze (1925, p. 81), “[...] organiza as linhas melódicas horizontais e verticais”, ou seja, bor-da o tecido social, impõe as regras, ou seja, estria o espaço por meio bor-da imposição dos valores morais culturais pertencentes à outra cultura.

Entretanto, antes da presença do não-indígena, os Campos de Guarapuava já eram estriados. Cada etnia possuía sua forma de organização social e haviam conflitos étnicos entre os ameríndios que estriaram o espaço, assim como consta no relato de viagem (NASCIMEN-TO, 1886, p. 269) “me diziam pelo intérprete que aquelles toldos eram de indios Guaranys, e que elles eram muito valentes e os Coroados tinham medo delles”.

Como mencionado, um lugar está em constante movimento. Neste sentido, com a presença do não-indígena nos Campos de Guarapuava, houve então, um alisamento do lugar indígena e um estriamento do espaço europeu. No qual, o não-indígena desconstruiu o ambien-te do ameríndio e construiu o seu lugar social, por meio das práticas sociais, ao percorrer delimi-tar, demarcar aqueles Campos, com a imposição de ações e valores sociais culturais arbitrárias. Estas práticas são perceptíveis nos relatos, como podemos perceber na seguinte citação que os não-indígenas submeteram os indígenas ao trabalho,

Que os enviem ao trabalho, bem assim a lavoura, para que eles mostrem sua propensam […] aberta que seja aquella picada, fácil será formar-se muitas colônias aquelles lugares (NASCIMENTO, 1886, p. 267-81).

Tanto quanto os primeiros habitantes, os relatos de José Thomaz do Nascimen-to, gradativamente, estriavam o espaço dos sertões de Guarapuava, em uma execução objetiva do Governo Imperial, preocupado em colonizar aqueles sertões e dominar aque-la região, para demarcar e proteger as fronteiras do interesse argentino. Pauaque-latinamente, o desejo do governo vai se infiltrando e percorrendo os espaços, no cruzar das linhas, no abrir das “picadas”, para bordar as fronteiras e construir o espaço não-indígena, com características e valores diferentes das culturas ameríndias. Do espaço liso ao estriado, no qual o indígena conheceu valores morais diferentes dos seus, teve seus domínios territo-riais transformados.

Na construção de lugar, ainda cabe a reflexão da transformação do sertão em Cam-pos de Guarapuava, visto que, o mesmo é uma categoria social, construída há mais de qui-nhentos anos pelos portugueses. A priori, esta categoria foi construída para denominar as terras dos países do continente africano, asiático que eram possessões coloniais dos portu-gueses. Sendo também introduzida no meio social brasileiro, para pensar e construir, os mais diversificados espaços sociais. Intensamente utilizado pelos cronistas, o sertão também se fez presente na literatura. Muitas vezes foi usado pela classe mais favorecida, com o adjetivo pe-jorativo para identificar as pessoas.

Esta categoria se disseminou pelo Brasil e encontra-se presente na historiografia atual e, desta forma, podemos utilizá-la em nossa pesquisa num processo interpretativo que possibilita aplicá-la nos relatos de José Francisco Thomaz do Nascimento.

Sou da opinião de que aqueles sertões, não só com os indíos catechisados como com gente nossa, pois há muitos que para lá desejam ir morar, se o Governo Imperial lhes conceder terras (NASCIMENTO, 1886, p. 267-81).

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Assim a categoria do sertão permite compreender as formas como eram concebidos os Campos de Guarapuava, no século XIX, uma vez que este está localizado distante do litoral e dos grandes centros. O sertão de Guarapuava era entendido como um espaço desabitado, monstruoso, e que necessitava ser colonizado pelo não-indígena, o que levou, sob a autoriza-ção do Governo Imperial, localizado distante da Província do Paraná, desenvolver operações espacializantes para a sua transformação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As transformações da História, desde a década de 1970, conceberam as possibilida-des para o uso de novas fontes, com novas abordagens históricas. Neste sentido, encontram-se os relatos de viajantes, em condições de serem entendidos por meio de uma categoria inter-pretativa que visa problematizar a concepção da construção dos Campos de Guarapuava e, ainda, compreender as práticas que o organizam.

Diante disso, identificamos um espaço praticado por ações cotidianas que, paulati-namente, transformaram-no em lugar, imbuído num sertão permeado por várias regiões, nas quais se estabeleceram práticas culturais e interculturais. Podemos afirmar que essas práticas sociais colocaram o espaço em movimento, visto que, os Campos de Guarapuava, antes da presença não-indígena, também estava em movimento, efetuado por várias etnias indígenas que nele se faziam presentes; já era palco de disputas e rivalidades entre os ameríndios.

É possível conceber que as fronteiras étnicas já existiam, e se revelavam nas caracte-rísticas e traços culturais, que organizavam o modo de viver e definiam a construção daquele lugar de forma divisória. Com a manifestação do não-indígena, naqueles campos, outras práticas sociais-culturais foram atribuídas e de forma transformadora empregada contra a cultura indígena.

Como apontam os referenciais utilizados, todas as práticas de organização de es-paço praticado se estabelecem por meio de dominação, exploração, imposição de verdade “legítima”. Esses referenciais nos levam à uma compreensão de que as práticas sociais, que or-ganizaram os Campos de Guarapuava, foram práticas arbitrárias, e os mecanismos utilizados contribuíram e expressaram essa arbitrariedade.

Ainda podemos compreender que as práticas arbitrárias permearam o lugar das etnias indígenas antes da entrada do não indígena. De forma que com a presença do europeu, as prá-ticas que organizaram o lugar naquele momento foram de maior intensidade e exterminadoras. Visto que, os não-indígenas colonizaram aqueles sertões, levaram a “civilização”, sua verdade e seus valores morais ao indígena. E ainda, essas práticas de domínio, disputa, entre o Brasil e Argentina, motivo pelo qual os viajantes que percorreram aqueles Campos, contribuíram para consolidar as fronteiras do Brasil, que a Argentina almejava, pois ela queria estender seu territó-rio no oeste da Província do Paraná e de Santa Catarina.

Portanto, podemos compreender que as práticas sociais que organizaram o espaço dos Campos de Guarapuava, foram estabelecidas de forma arbitrária, por meio dos relatos do viajante José Francisco Thomaz do Nascimento, conceituadas e imbuídas numa categoria interpretativa, que permitiu a construção de uma outra perspectiva histórica. E, sobretudo, esta compreensão, pode ser disseminada em todos os meios intelectuais, contribuindo para ampliar o conhecimento de quem ainda não oportunizou entrar em contato com a história nesta perspectiva.

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UNDERSTANDING HINTERLAND AND REGION

THE REPORTS OF JOSÉ FRANCISCO THOMAZ NASCIMENTO

Abstract: this work aims to understand the practices and organize que Constitute the social space

in Guarapuava Fields in the second half of the nineteenth century. Also we can mention the one of the goals, The Importance of understanding what is space and social practices it can be established; Also tracing the elements and the que lines make up the same. This understanding will be through reports of traveler Francisco José Thomaz do Nascimento, who toured the hinterlands Guarapuava.

Keywords: Fields-Guarapuava. Place. Region. Hinterland. Nota

1 Lugar é um conceito utilizado por Michel de Certeau para conceituar a diferenciação entre espaço e lugar. Referências

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