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Da Psiquiatria ao Crime: Análise Pormenorizada das Anomalias Psíquicas, Práticas Anti-Ordem Jurídica e o Tratamento Jurídico Moçambicano

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Da Psiquiatria ao Crime: Análise Pormenorizada das

Anomalias Psíquicas, Práticas Anti-Ordem Jurídica e o

Tratamento Jurídico Moçambicano

Autor: Paulo Sandro Aboobacar de Sousa, ISCTAC – Delegação da Beira Jurista e Criminalísta, Mestre em Ciências Jurídicas Público Forense Doutorando em Direito Público, email: paulosandrodesousa@gmail.com

As anomalias psiquicas, seja de indole aparentemente simples à complicadas, são um factor em Moçambique, cuja identificação, estudo, diagnostico para efeitos de correlação de prática criminosa e meios preventivos, estão àquem de serem atendidas, automaticamente a relação destes com o sector da administração da justiça é igualmente deficitário, levando assim a aplicação de responsabilidades e sua prevista sanção ferindo os dispositivos especiais de regulação criminal, Direitos fundamentais e humanos. As politicas de acompanhamento de patologias mentais estão enfraquecidas, pelo desconhecimento, inexistência de especialistas e de vontade.

Introdução

A

dificuldade de prever a perigosidade de uma pes-soa e prevenir o risco de agressão, homicidio, ou sui-cídio, nem sempre é fácil. E isto por ser imprevisível e, muitas vezes, ilógi-ca. Em comportamentos treslouca-dos inesperatreslouca-dos estamos em pleno no dominio da impoderabilidade, isto é, não se chega a colocar a questão de prever e ponderar a perigosidade que cada um transporta em si. E isto porque a maior parte destas situa-ções inesperadas e imprevisíveis acontece em pessoas que não se dis-tinguem em nada da população em geral.

São mesmo, muitas vezes, pacífi-cos cidadãos, bons pais e chefes de família, integrados sociais e profissio-nalmente. O que acontece é que aos longos dos anos, certas pessoas vão acumulando por repressão das suas frustrações, irritações, zangas, uma sobrecarga de violência que poderá acabar por dar origem a um acto violento tresloucado. Todos nós transportamos fortes pulsões agressi-vas e sexuais, potencialmente violen-tas. Mas, só em algumas pessoas o equilibrio se rompe entre aquilo que podemos e o que não podemos fazer, entre o bem e o mal. Não sen-do possivel prever muitos destes actos violentos inesperados podemos, pelo menos, tentar configurar as

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dades que correm mais riscos de per-der o controlo e serem violentas, para os outros ou para si próprios.

A legislação civil assim como cri-minal, traz elementos de tratamento de circunstâncias de falta de saúde mental, como é o caso dos artigos 138º (interdição); 152º (inabilitação) do C.C. dos artigos 46º e 47º do códi-go penal que se refere as inimputabi-lidades, como também o artigo 52º que refere a forma de tratamento dos delinquentes.

Fundamento Teórico: Conceitos Chaves

Antes de entrarmos para o emba-samento teórico, descrição dos diver-sos transtornos que directa ou indirec-tamente levam o indivíduo a cometer crime (s), é importante definirmos alguns conceitos chaves, nomeada-mente: Psiquiatria, Psicopatologia, cri-me e transtornos cri-mentais.

Psiquiatria

Segundo R. Jouvent (dicionário de psicologia) a Psiquiatria é uma especialidade da Medicina que lida com a prevenção, atendimento, diagnóstico, tratamento e reabilita-ção das doenças mentais em huma-nos, sejam elas de cunho orgânico ou funcional, tais como depressão, trans-torno bipolar, esquizofrenia e transtor-nos de ansiedade. A meta principal é o alívio do sofrimento psíquico e o bem-estar psíquico. Para isso, é necessária uma avaliação completa do doente, com perspectivas biológi-ca, psicológibiológi-ca, sociológica e outras áreas afins.

A palavra Psiquiatria deriva do Grego e quer dizer “arte de curar a alma”. Aparentemente, a Psiquiatria originou-se no século V A.C., enquan-to os primeiros hospitais para doentes mentais foram criados na Idade Média. Durante o século XVIII a Psi-quiatria evoluiu como campo médi-co e as instituições para doentes mentais passaram autilizar tratamen-tos mais elaborados e humanos. No século XIX houve um aumento impor-tante no número de pacientes. No século XX houve o renascimento do entendimento biológico das doenças mentais, introdução de classificações para os transtornos e medicamentos psiquiátricos.

Psicopatologia

Na opinião de Marta Vaz (2002:2), psicopatologia é a ciência que estu-da as anormaliestu-dades psíquicas do ser humano. A psicopatologia pode ain-da ser definiain-da como o ramo ain-da psi-cologia que estuda os fenómenos patológicos ou distúrbios mentais e outros fenómenos anormais. Ela ten-ta, especialmente, estabelecer a diferença entre o normal e o patoló-gico.

Crime

Émile Durkheim citado por Helena Machado (2008:28), define crime como sendo “ todo o acto que, num qualquer grau, determina contra o seu autor essa reacção característica a que se chama pena”. Esta foca-gem na dimensão da resposta oficial surge articulada com a questão do

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consenso social, na medida em que o autor não só define a pena como sendo uma “ reacção passional, de intensidade graduada, que a socie-dade exerce por intermédio de um corpo constituído sobre aqueles dos seus membros que violaram certas normas de conduta” (id, ibid.:29), como acrescenta que “um acto é criminoso quando ofende os estados fortes e definidos da consciência colectiva”.

Na perspectiva durkheimiana, não há crime sem lei, do mesmo modo que não há lei criminal sem existência de dano ou prejuizo. Em suma, para Durkheim o crime consiste numa transgressão em relação ao que é definido ao nível dos estados fortes e definidos da consciência colectiva, suscitando como tal reac-ções intensas que se projectam pelas sanções previstas no direito criminal. Na perspectiva desse autor, a carac-terística comum aos crimes residiria no facto de constituírem actos univer-salmente reprovados pelos membros de cada sociedade.

Transtornos Mentais

Transtornos mentais são altera-ções do funcionamento da mente que prejudicam o desempenho da pessoa na vida familiar, social, pes-soal, no trabalho, nos estudos, na compreensão de si e dos outros, na possibilidade de autocrítica, na tole-rância aos problemas e na possibili-dade de ter prazer na vida em geral. Isto significa que os transtornos men-tais não deixam nenhum aspecto da condição humana intocado.

Sinais de Transtornos Mentais

Um dos principais sinais de trans-tornos mentais é a auto-agressão deliberada que é uma expressão genérica que designa os comporta-mentos de auto-agressão não fatais, (Harrison et al, 2006:82). Muitos actos são uma resposta impulsiva a uma situação que se considera intolerável, ou constituem uma tentativa para influenciar o comportamento de ter-ceiros. A auto-agressão ocorre muitas vezes sob a influência de drogas (álcool e outras drogas ilícitas). A ten-tativa de Suicídio é quando tenha existido uma clara acção para pôr termo à própria vida, (Harrison et all, 2006:83).

Existem vários fenómenos psíqui-cos que compõem a esfera cognitiva com destaque para a percepção definida como sendo a tomada de consciência, pelo indivíduo, do estí-mulo sensorial. (Dalgalarrondo, 2000:81). Podemos concluir que a percepção é organização das infor-mações transmitidas pelas sensações que permite conhecer a realidade. A esfera Cognitiva, nesta organização, intervêm factores externos (movimento, intensidade e contraste do estímulo), factores internos/ biológicos (fome, sono, etc.), e psico-lógicos (motivação, expectativa, etc.). Outro fenómeno que compõe a esfera cognitiva são as alterações da percepção; ilusão que é a per-cepção deformada, alterada de um objecto real e presente. A ilusão pode ser: visual e auditiva.

Para além disso, temos a alucina-ção que é a percepalucina-ção clara e

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nida de um objecto (voz, ruído, ima-gem) sem a presença do objecto estimulante real. Os tipos de ções mais frequentes são: alucina-ções auditivas, musicais, visuais, tác-teis, olfactivas e gustativas. Alucinose: é o fenómeno pelo qual o paciente percebe tal alucinação como estra-nha à sua pessoa. Na alucinose, embora o doente veja a imagem ou ouça o ruido ou a voz, falta a crença de que comumente o alucinado tem em sua alucinação. Diz-se que a alu-cinose é um fenómeno “periférico ao eu”, enquanto a alucinação é “central ao eu”. Uma forma comum de alucinose auditiva é a denomina-da alucinose alcoólica. Ela ocorre geralmente em alcoolistas crônicos e consiste em vozes que falam do paciente na terceira pessoa. Ex: “olha como o João está sujo hoje”.

Outro destaque vai para desreali-zação, onde o sujeito que percebe veridicamente o objecto não tem consciência de que sua vivência é o reflexo de uma realidade. O pacien-te manifesta esta alpacien-teração da per-cepção dizendo que percebe as coi-sas com precisão e claridades mas que apesar disso não pode saber se são reais. Para além deste, temos a despersonalização que é alteração da compreensão dos fenómenos psí-quicos que se desenrolam no seu pró-prio corpo. O paciente acha que seus fenómenos psíquicos pertencem a outra pessoa. Apesar de expressar verbalmente suas vivências, não as reconhece como próprias, como se não fosse ele que percebe, pensa, sente ou actua.

Finalmente, temos a

transforma-ção como um dos fenómenos psíqui-cos que compõem a esfera cognitiva que consiste na percepção do sujeito como referente a outra pessoa. Ele não é ele mesmo é outra persona-gem distinta. O paciente com altera-ções da percepção pode cometer vários crimes, como por exemplo, rou-bo, furtos, agressão física, homicídios, etc.

Alterações do Pensamento

O pensamento é um processo mental que permite aos seres mode-larem o mundo e com isso lidar com ele de uma forma efetiva e de acor-do com suas metas, planos e desejos. O fenómeno psíquico consciente que reflete as relações internas e externas do objecto do mundo real. As altera-ções do pensamento podem ser: quanto a origem, ao curso e ao con-teúdo. Achamos pertinente falar apenas, das alterações do pensa-mento quanto ao conteúdo que podem ser: Ideia sobrevalorada: ima-gem psíquica que reflete um fenóme-no real mas que ao paciente atribui uma importância que realmente não tem. (fica alarmado sem razão); Ideia fixa: aquela que se repete na mente do paciente sem intervenção e con-tra a vontade; Ideia fóbica: é a ideia fixa que expressa medo ou temor. (de contaminar uma doença); Ideia obsessiva: tem característica da ideia fixa e que muitas vezes se acompa-nha de actos motores ou rituais que se denominam compulsivos ou ceri-moniais; Ideia delirante: falsa imagem de um fenómeno que não há produ-zido, ou é a imagem deformada de

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acontecimento que realmente teve lugar.

A característica fundamental da ideia delirante é: irritabilidade por meio da demostração lógica. As ideias delirantes classificam-se em: ideias delirantes de acordo com os mecanismos de produção: ideia deli-rante indutiva ou primária – estado de ansiedade e angustia em que o indivíduo não sabe, mas pressente que algo de ruim vai acontecer; ideia delirante interpretativa – base intelec-tual ilusoria ou alucinatória. (o paciente deduz que os amigos estão fazendo complo contra ele enquanto não); ideia delirante dedutiva – facto real em que tem uma interpretação lógica torcida. (colegas saindo juntos do cinema).

Esfera Afectiva

A afectividade, sinónimo de emo-cionalidade, humor, designa o con-junto dos sentimentos (estado de humor) da pessoa, de acordo com as suas características mais evidentes (estado de humor base), com suas intensidades, expressividade e dura-ção. A vida afectiva é a dimensão psiquica que dá cor, brilho e calor a todas as vivências humanas. Paulo (2000:100) afirma que sem afectivida-de a vida mental torna-se vazia, sem sabor.

Neste sentido, podemos afirmar que a afectividade, juntamente com a actividade básica é característica da personalidade. O estado de âni-mo é variável entre os limites da ale-gria e tristeza e mantêm-se durante muito. Tempo em níveis mais ou

menos constantes e é uma das expressões de adaptação entre o indivíduo e o meio em que circunda. Enquanto, as emoções são as mudanças bruscas do estado de âni-mo com inicio e fim bruscos em que suas reacções dependem de pessoa a pessoa e são acompanhadas de elementos neurovegetativos e visce-rais, os sentimentos são estados afec-tivos brandos, calmos, serenos de prazer, desprazer ou indiferença e relacionam-se com as necessidades sociais e não apresentam mudanças viscerais.

Transtornos da Afectividade ou Humor

Os transtornos da afectividade ou humor quantitativos podem ser estru-turados em hipotimia ou Distimia que é a diminuição do estado afectivo ou ainda pode dizer-se que é a quebra súbita da tonalidade de humor ou que é o estado de ânimo triste em que o individuo muita das vezes não sabe a causa da sua quebra de humor; a angústia que é um senti-mento desagradável que se acom-panha de pequenos movimentos repetitivos, tremor e de violentas reacções vegetativas e que geral-mente é de carácter desconhecido; a ansiedade que é o grau mais leve da angustia onde ocorrem mudan-ças neuro vegetativas e tem uma causa conhecida (sabemos o que nos causa tal irritabilidade); a indife-rença que é a falta de reação emo-cional aos estímulos que habitual-mente a produzem; a ambivalência afectiva que é a vivência simultânea de duas reações afectivas

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tas causada pelo mesmo objecto (amor e odio); ou o afecto discordan-te ou dissociação ideio-afectiva que é a roptura de correspondência entre o pensar e sentir ou ainda é a rela-ção afectiva de carácter contrapos-to ao estímulo dado.

Transtornos da Conduta de Comporta-mento

Em relação ao comportamento alimentar, pode-se encontrar os seguintes transtornos de comporta-mento: anorexia é a perda ou a dimi-nuição da necessidade de se alimen-tar. Os sintomas oscilam entre a dimi-nuição do apetite ou até mesmo a repulsão dos alimentos quando inge-ridos; bulimia designa a ingestão maciça e descontrolada dos alimen-tos. É o contrário da Anorexia.

Em relação ao comportamento Sexual, o destaque vai para a frigidez que é a diminuição ou perda do desejo sexual, apesar de ter estímulos adequados para causar o desejo; o hipererotismo que é o aumento dos desejos sexuais acompanhado de hiperexitabilidade genital. Por vezes acompanha-se por impotência na hora do coito e pode ser de origem cultural; o masoquismo que é a exci-tação e satisfação sexuais na expe-riência da dor, auto-humilhação, auto-abandono, o sadismo que con-siste na excitação e satisfação sexuais infligindo dor e ou humilhação entrega do parceiro; o exibicionismo que é a excitação e satisfação sexuais através de exibição de órgãos das zonas erógenas na pre-sença de outras pessoas; o

voyeuris-mo que é sinónivoyeuris-mo de escoptofilia em que o individuo atinge o prazer sexual olhando para outras pessoas quando estão se despindo, no banho e especialmente durante a activida-de sexual; o frotteurismo que consiste na excitação e satisfação sexuais através do apalpar, do roçar, do empurrar praticados sobre outras pes-soas produz-se sempre em aglomera-ções (Cinema, transportes públicos, reuniões etc.). E com frequência está combinado com outras perversões tais como o exibicionismo e o fetichis-mo; o travestismo que é o prazer sexual obtidos pelo uso de roupas do sexo oposto; a pedofilia que é o ape-tite sexual para e satisfação sexual no contacto sexual com indivíduos sexualmente imaturos (crianças); a gerontofilia que é o apetite sexual por pessoas idosas e eventualmente satisfação sexual através do contac-to com elas; a zoofilia que é a utiliza-ção de um animal como objecto sexual; a necrofilia que é a utilização de cadáveres como objecto sexual; o fetichismo que é a excitação e satisfação sexuais através de objec-tos substituobjec-tos. Trata-se de partes do corpo extragenitais (pés, cabelos etc) e de diversos objectos roupa interior, peças de vestuário, meias sapatos, peles, chupetas, perucas, etc. ou ain-da a coprofilia que é a excitação e prazer sexual na manipulação de fezes e urofilia excitação e prazer sexual na manipulação de urina.

Mania

A mania pode ser ligeira que con-siste na alegria e vontade de viver

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que excedam o normal. A rotina diá-ria pode ser mantida, embora com menos necessidade de dormir e mais actividades noturnas; embora subjec-tivamente a produtividade possa aumentar, as tarefas raramente são completadas. A alegria contagiante muda facilmente para irritabilidade. Ela também pode ser uma mania moderada e grave, quando os pro-cessos de pensamento tornam-se desorganizados e mudam frequente-mente (fuga de ideias). Podem surgir sistemas psicóticos congruentes com humor de grandeza: o individuo pode julgar que lhe forma conferidos poderes especiais, (que pode voar, ou que foi enviado para salvar o mundo). Pode ouvir vozes que apoiam a sua crença. Pratica actos que mais tarde lamentam; o exemplo que ser pode dar tem que ver com a promiscuidade ou contrair enormes dívidas.

Tratamento Jurídico: Âmbito de aplicação

Olhando para os critérios de pre-venção, identificação e tratamento de qualquer doença mental cuja referência é legal, ou seja, esta tipifi-cada, poderá dizer-se de viva voz que ainda estamos à quem de tornar essas normas jurídicas eficazes, ou seja, o tratamento jurídico na esfera da saúde mental no ordenamento jurídico moçambicano é patologica-mente grave e, necessita duma urgente intervenção de todos nós em face desta problemática. Vezes há em que a análise da saúde mental de um indivíduo, eventualmente em

confronto com a lei é requerida ou solicitada, ignorando-se na eventuali-dade o infractor e colocando todas as atenções a vítima.

Órgãos com Forte Intervenção na Identi-ficação Patológica e com Poder de

Requerer Prova Científica Policia

É um dos principais agentes que participa activamente no processo da administração da justiça. Incumbi-da a função de garantir lei, a ordem e tranquilidades pública, por via da Constituição da República de Moçambique, e a observância dos direitos fundamentais dos cidadãos conforme preceitua o artigo 254º des-ta, a Policia é o primeiro agente cha-mado a lidar com casos de natureza criminais, e a lidar activamente com o acusado, delinquente, ou agente do crime.

No princípio de uma relação jurí-dica entre a polícia e o delinquente acusado/suspeito, se deve observar a necessidade de existência de acompanhamento com psicólogo, ou agentes de saúdes afins, em todas as fazes da investigação por estes levado a cabo, como o caso de Interrogatório. Logo do princípio, as realidades científicas e psicológicas, mostram que, as condutas ligadas a saúde mental podem variar de indiví-duo para indivíindiví-duo, dependendo da natureza do caso ou da gravidade da situação. Assim sendo, a psicolo-gia, revela que, os indivíduos podem manifestar condutas anormais logo em estabelecimentos policiais,

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mo antes da chegada deste ao tribu-nal para que os outros trâmites legais se possam seguir.

Ministério Público

O ministério público, representa o Estado junto dos tribunais, e defende os interesses que a lei determina, e controla a legalidade, os prazos das detenções, dirige as instruções pre-paratórias dos processos-crime, e exerce a acção penal, e assegura a defesa jurídica dos menores, ausentes e incapazes (CRM, 2004;84). “Contudo, o Ministério Público, lida igualmente na instrução de proces-sos, com indivíduos e nem se da o cuidado de procurar entender o por-que da pratica de um determinado crime ou de existência de uma deter-minada conduta aparentemente anormal, porque a sua função só resi-de na investigação para sustentar a acusação, mais beneficiando a viti-ma e se importando menos com o acusado”.

Tribunais

Criados com objectivo de garan-tir e reforçar a legalidade como fac-tor de estabilidade jurídica, garantir o respeito pelas leis, assegurar os direi-tos e liberdade dos cidadãos, assim como os interesses jurídicos dos dife-rentes órgãos, e entidades com exis-tência legal, penalizando as viola-ções da legalidade e decidindo plei-tos de acordo com os estabelecidos na lei, conforme preceituado no arti-go 212º da Constituição da Republi-ca de Moçambique de 2004, os

tribu-nais são outros intervenientes proces-suais que lidam de forma activa e categórica com indivíduos. Todavia, os indivíduos por vezes são condena-dos pelos tribunais, pela prática de um determinado delito, não havendo o que se chama de assistência psico-lógica deste indivíduo, que em virtu-de da sua condição psicológica e em virtude da lei, não deveriam estar sujeitos a sanções criminais, conforme se refere nos artigos outrora citados.

Sistemas Penitenciários

Nos sistemas penitenciários, ocor-re o cumprimento efectivo da pena determinada pelos tribunais por força da lei. Todavia acontece entretanto, que, existem indivíduos a cumprirem as suas penas cujos encontram-se num estado de consciência anormal, que outrora teria resultado da falha cometida pelo Ministério Público ou mesmo o julgador na altura da apli-cação da pena. Entretanto, pairam muitas questões em torno da respon-sabilidade dos sistemas penitenciário em relação a estes indivíduos e o tra-tamento adequado a ser dado para estes tendo em conta que aqueles que são incumbidos a aplicar a lei e a fiscalizar a legalidade cometeram anteriormente “erros ou lacunas”.

Quid júris?

Atendendo o facto de que estes indivíduos do princípios são inimputá-veis, por força do artigo 46º e 47º DO CP, e de outras legislações extrava-gantes, a lei penal consagra o meca-nismo de tratamento jurídico, em caso de existência de uma infracção criminal por estes cometidos, que se

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traduzem em medidas de seguran-ça, cujo objectivo visa necessaria-mente a atribuição de um trata-mento especifico a estes não em cadeias como tal, mas em unida-des hospitalares especializados ou mesmo junto a sua família. Assim sendo, por interpretação lato sensu deste conjunto de normas, deduz-se a interrupção da execução contí-nua da pena por doenças de índo-le física e psicológica cuja caracte-rística e natureza exige um atendi-mento hospital.

Este dispositivo, vem do princípio a responder em parte os problemas existentes nos sistemas penitenciá-rios, ligados a existência de indiví-duos cuja sanidade mental reza-se patológica. Este mesmo dispositivo, responde a inquietação já levanta-da anteriormente, em relação aos indivíduos que vão adquirindo a perturbação de índole mental mes-mo após a condenação e no momento do cumprimento efectivo da pena. Mas a este tipo de inquie-tação, não se vê totalmente res-pondido, pelo facto de que, não basta só ter o dispositivo legal, mas o Estado deve encontrar mecanis-mos concretos para efectivação absoluta deste dispositivo sob forma a alcançar-se a eficácia absoluta da norma jurídica.

Existem factores que podem levar a comportamentos anormais de indivíduos que mesmo, sendo condenados padecendo de uma sanidade mental saudável, existem alguns factores que se passam des-percebidos, que podem levar a alteração do comportamento

men-tal a nível das penitenciárias, e pas-samos a citar alguns:

Condenação de um Inocente. O que se pode esperar pelo com-portamento ou bem-estar da saú-de mental saú-de um indivíduo, cuja condenação, resulta dos erros de cálculos, erro na investigação criminal, torturas nas Esquadras, em suma por ironia do destino? Leva por sua vez a depressão, Insatisfação, inconformidade, e poderá por ventura conduzir a Anorexia ou seja a perda ou a diminuição da necessidade de se alimentar. Os sintomas oscilam entre a diminuição do apetite ou até mesmo a repulsão dos ali-mentos quando ingeridos. Bulimia - designa a ingestão maciça e descontrolada dos alimentos. Não cumprimento de prazos de prisão preventiva, o que leva a ansiedade e Stress Hipotimia ou Distimia – é a diminuição do esta-do afectivo ou ainda pode dizer-se que é a quebra súbita da tona-lidade de humor ou que é o esta-do de ânimo triste em que o indi-viduo muita das vezes não sabe a causa da sua quebra de humor.

A angústia é um sentimento desagradável que se acompanha de pequenos movimentos repetiti-vos, tremor e de violentas reacções vegetativas e que geralmente é de carácter desconhecido. Ansiedade é o grau mais leve da angústia onde ocorrem mudanças neuro vegetativas e tem uma causa conhecida (sabemos o que nos causa tal irritabilidade). Indiferença – falta de reacção emocional aos estímulos que habitualmente a pro-duzem. Ambivalência afectiva – é a vivência simultânea de duas

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ções afectivas contrapostas causada pelo mesmo objecto (amor e ódio). Ainda assim, estes indivíduos, vivem num estado de espera, e sem motiva-ção.

Principais Recomendações

Existência de psicólogos, agentes psiquiátricos e agentes de Saúde especializados em cada tipo de patologia mental em cada grau de evolução nas Esquadras de Policia. Este facto ira facultar que, na medida me que ocorre os processos de “Interrogatórios”, os indivíduos pos-sam ter um acompanhamento com estes agentes de saúde, e no fim des-te processo que esdes-tes façam por escrito um laudo médico em torno da saúde mental, ou da existência ou não de uma determinada patologia.

Existência de psicólogos, agentes psiquiátricos e agentes de saúde especializados em cada tipo de patologia mental em cada grau de evolução, nas procuradorias com a função clara de acompanhar a for-mação do corpo de delitos. Existên-cia de psicólogos, agentes psiquiátri-cos e agentes de Saúde especializa-dos em cada tipo de patologia men-tal em cada grau de evolução, nos Tribunais, com o claro objectivo de auxiliar o julgador a interpretar o comportamento a ser tomado por cada um destes indivíduos na sede do tribunal, para evitar a situação da condenação de cidadãos inimputá-veis. Porém, nada obsta que o julga-dor possa ser capacidade em maté-ria de saúde mental. Existência de psicólogos, agentes psiquiátricos e

agentes de Saúde especializados em cada tipo de patologia mental em cada grau de evolução no estabele-cimento penitenciário com vista a identificar indivíduos que manifestem alguma anomalia.

Criação de Manicómio Judicial para o tratamento destes indivíduos. Este estabelecimento funcionara em duas vertentes, primeiro, na aglutina-ção dos reclusos que se encontram em prisões civis, e por outro lado, dos que em pleno julgamento ou instru-ção do processos criminal manifes-tem algum comportamento fora da esfera normal, e por conseguinte, serão encaminhados para a referida instituição com vista o tratamento das suas patologias e assegurando a integridade física de terceiros.

Principais Conclusões

É importante analisar ou estudar anomalias psíquicas ou patologias e trazer para esfera do Direito, pois, elas não só ajudam na interpretação das circunstâncias de inimputabilidades (sejam relativas ou absolutas) como também, leva-nos a entender a con-duta presente de um certo indivíduo, leva-nos a prever, remediar ou ate a sanar tendências criminosas ou con-tra a legalidade.

No nosso ordenamento jurídico pouco se faz para verificação e acompanhamento desta área do saber. Uma leitura, estudo, um diag-nóstico psicológico com conjugação psiquiatra a um certo indivíduo é essencial, logo, há necessidade de intensificar-se estudos nestas áreas e prover sempre que necessário

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espe-cialistas ou pessoas formadas nestas áreas para fazerem-se presentes nos tribunais, cadeias, grupos familiares e outros.

Referências Bibliográficas

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Referências

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