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PROPENSÃO AO MAL: OBSTÁCULO À LEI MORAL (2011) 1

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PROPENSÃO AO MAL: OBSTÁCULO À LEI MORAL (2011)

1 MATZENBACHER, Ramon Alexandre.2

; PORTELA, Bruno Martinez.

3

Bolsistas de Pós-Graduação CAPES

1

Trabalho de pesquisa desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Filosofia(PPGF) da UFSM

2

Aluno do Programa de Pós-Graduação em Filsofia(PPGF) da Universidade Federal de Santa Maria(UFSM), Santa Maria, RS, Brasil

3

Aluno do Programa de Pós-Graduação em Filsofia(PPGF) da Universidade Federal de Santa Maria(UFSM), Santa Maria, RS, Brasil

E-mail:r.matzenbacher@gmail.com; bmportela@yahoo.com.br; RESUMO

O presente trabalho tem por base a obra de Immanuel Kant intitulada a religião nos limites da simples razão. Ao tratar da questão do mal, Kant nos mostra não apenas como o mal moral tem origem no próprio homem, mas também mostra como a lei moral acaba, no que toca ao agir do sujeito moral, não sendo observada segundo o seu espírito. Cabe aqui lembrar que para Kant o mais importante quando se trata de agir moral não é o resultado da ação na empiria, mas sim o princípio subjetivo (universalizável) que leva o sujeito a agir. Por isso, o que deve ser seguido é o espírito da lei e não apenas a sua letra. Explicar de que modo a lei se oferece irresistivelmente e de que modo o homem, enquanto sujeito moral, acaba não conseguindo segui-la é o que buscamos neste trabalho.

Palavras-chave: Lei moral; Sujeito; Propensão ao mal.

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo relacionar duas questões importantes dentro da temática da moral proposta por Immanuel Kant, a saber, a lei moral e o problema do mal, aduzido por Kant na obra A religião nos limites da simples razão. Para realizar tal intento, a ênfase será no conceito de propensão e de que forma este é articulado. A partir do conceito mencionado, buscaremos entender por que o sujeito moral, mesmo sendo consciente da lei da moralidade acaba por não acatar esta na formação de sua máxima.

2. OBJETIVOS

Tendo em vista o que foi dito acima, cabe aqui analisar, mais especificamente, o modo como a propensão para o mal na natureza humana acaba por interferir no

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cumprimento da lei moral. Além deste tópico que é central, vamos reconstruir a argumentação kantiana no tocante à forma como a lei moral, inevitavelmente, se impõe ao sujeito moral e como este, em função da propensão ao mal, acaba por não acatar para si o mandamento imposto pela lei.

Apesar das dificuldades inerentes ao tema, esperamos através de uma abordagem mais detida de questões como lei moral e propensão ao mal compreender como, em um primeiro momento, cada uma delas isoladamente é tratada por Kant. Depois de feita esta análise, buscaremos entender o modo como estas se relacionam entre si dentro da obra kantiana. Desta forma, almejamos obter uma resposta que não seja só negativa no que tange a possibilidade do cumprimento da lei moral, mas também uma resposta positiva, que auxilie o sujeito na luta contra o mal moral.

O objetivo secundário deste trabalho diz respeito ao seu aproveitamento no desenvolvimento de uma dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de Santa Maria, que versa sobre os temas da moral e do mal em Kant. Com o desenvolvimento deste trabalho e a possibilidade de debate que o mesmo abre, tanto com o autor quanto com os comentadores, esperamos poder aproveitá-lo na confecção, desenvolvimento e aperfeiçoamento da dissertação.

3. DESENVOLVIMENTO

Devemos sempre ter em conta que para Kant, a moralidade está sempre associada de modo íntimo com o uso do livre-arbítrio. Este só pode ser julgado bom ou mau de acordo com a avaliação de suas máximas. Disso se segue que o mal moral tem a sua origem na aceitação de máximas deflexivas em relação à lei moral. Nesse caso, a deflexão trata-se do abandono da lei moral enquanto móbil suficiente para reger a ação em favor de outros móbiles que não advém da razão. Kant se vale da noção de propensão para demonstrar porque o homem, mesmo tendo consciência da lei, acaba não tomando esta como móbil suficiente.

Por propensão Kant entende, em um primeiro momento, “o fundamento subjetivo da possibilidade de uma inclinação (desejo habitual, concuspiscentia) na medida em que é contingente para a humanidade em geral” (KANT, p.34). Por ser considerada um

fundamento subjetivo, se segue que esta deve ser admitida no arbítrio e que não pode ser

detectada através da experiência. A possibilidade de uma inclinação diz respeito aos sentimentos de prazer e desprazer. O fato de essa propensão ser contingente não é contraditório com a presença da mesma na humanidade em geral. Ela deve ser considerada

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deste modo, pois do contrário, acarretaria uma explicação da espécie humana pelo mal. Conforme o que nos diz Kant, ela deve, mesmo sendo contingente, estar em todos os homens, pois uma vez que se trata aqui da moralidade, não é possível admitir que um certo indivíduo tenha a propensão para o mal e outro não. Já em um segundo momento, Kant entende que propensão “é, em rigor, apenas a predisposição para a ânsia de uma fruição; quando o sujeito faz a experiência desta última, a propensão suscita a inclinação para ela” (KANT, p. 34 n. 9).

Nesses termos a propensão é a aptidão para a busca de um prazer, e, ao se concluir esta busca, a propensão dá origem à inclinação para o prazer que é buscado. Esta última, por sua vez, sempre pressupõe o conhecimento do objeto do apetite. A propensão pode ser concebida também como adquirida, quando é boa e contraída quando é má. Por adquirida entende-se que a possuímos mediante o cultivo de algo bom e por contraída compreende-se que esta foi apanhada através do contato com algo mau. A partir dessa definição, Kant nos mostra que a propensão pode ser boa e está ligada a algo que se conquista, e ao mesmo tempo, por ser adquirida ou contraída, ela não é fruto de uma determinação natural.

Em a Religião nos limites Kant aponta que há três graus de propensão, a saber, “a debilidade do coração humano na observância das máximas adotadas em geral ou a

fragilidade da natureza humana”. Em segundo lugar “a inclinação para misturar móbiles

imorais com morais, i.e. a impureza” e por fim, “a inclinação para o perfilhamento de máximas más, i.e. a malignidade da natureza humana ou do coração humano” (KANT, p.35).

Ao tratar da debilidade do coração humano no tocante à observação das máximas, Kant pretende dizer que a lei moral é adotada na máxima enquanto móbil suficiente, entretanto, no momento da observância da máxima, ocorre um descompasso e o sujeito acaba se valendo de móbiles exteriores à lei moral. Segue na argumentação kantiana que, o homem, devido a sua disposição originária para o bem possui consciência do caráter absoluto e incondicional da lei da moralidade. Entretanto, devido a uma fragilidade da sua natureza o homem tem dificuldades em reconhecer tal caráter como móbil suficiente para a ação. A fragilidade residiria então, não na máxima propriamente dita, mas sim na sua efetivação na ação.

Este é um ponto um pouco confuso na argumentação kantiana. Uma vez que este se vale da ação para justificar a corrupção pelo mal. Sendo que esta se dá no nível do arbítrio, a fragilidade acaba não sendo plenamente justificada. Então, se o homem reconhece genuinamente o caráter absoluto e incondicional da lei moral em sua máxima, a sua

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realização na ação se torna mais provável. Com isso pode-se dizer que quanto ao grau da fragilidade não há uma admissão total da lei moral como móbil suficiente. Pode se dizer que o problema se manifesta na consolidação da máxima a não na sua efetivação na ação.

O segundo grau da propensão se situa na impureza do coração humano, isto é, a lei moral não foi acolhida enquanto móbil suficiente e há a necessidade de outros móbiles além da própria lei para determinar aquilo que o dever exige. Neste ponto, vê-se que ao se ter consciência da lei moral enquanto móbil suficiente e, ainda assim se admitir outros móbiles junto a este, ocorre então uma mistura de móbiles morais com imorais.

A máxima é decerto boa segundo o objeto (o seguimento intentado da lei) e, porventura, também assaz forte para a execução, mas não puramente moral, i.e., não acolheu em si, como deveria ser, a mera lei como móbil suficiente (KANT, pp.35-36).

O terceiro grau da propensão diz respeito à “malignidade da natureza humana ou do coração humano (Rel, VI, p.35)”. Segundo Kant, trata-se de um estado de corrupção do coração humano onde o arbítrio adota máximas que dão preferências a outros móbiles em detrimento da lei moral. Tal propensão também pode ser chamada de perversidade do coração humano uma vez que ocorre uma inversão dos valores dos móbiles que determinam o arbítrio.

O que temos que ter em consideração é que a propensão para o mal, na medida em que está presente no arbítrio através da adoção da máxima suprema, acaba por se constituir uma disposição de ânimo inerente à natureza humana. É preciso salientar que esta máxima suprema, ou seja, fundamento do agir, orienta todas as máximas e está, dessa forma, presente nelas. Ainda tratando desta questão, Kant trata a propensão como sendo inata. Com isso ele quer dizer que ela é considerada

inata, porque não pode ser extirpada (para tal a máxima suprema deveria ser a do bem, a qual, porém, nessa própria propensão, é acolhida como má); mas, sobretudo pela razão seguinte: em relação a porque em nós o mal corrompeu precisamente a máxima suprema, embora tal seja um ato próprio nosso, tampouco podemos indicar uma causa como acerca de uma propriedade fundamental inerente à nossa natureza (KANT, pp. 37-38).

Como já foi dito acima, para Kant, uma vez que a propensão age sobre a máxima suprema, ela acaba por corromper todas as demais máximas que se originam a partir dela. É justamente por isso que Kant diz que a propensão não pode ser extirpada, pois para isso

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o fundamento do agir deveria ser bom e não mau. Para extirpar a propensão deveria ser possível uma nova adoção de uma máxima suprema, sendo que esta então deveria ser boa. Somente desta forma é que a propensão poderia ser extirpada da natureza humana. Tendo-se em conta o que foi dito até aqui, podemos ver que Kant reconhece que embora essa adoção seja um ato do nosso arbítrio, não é possível indicar uma causa presente em nossa natureza a partir da qual o mal se origina. Por isso, segundo ele, tratou-se de procurar

as fontes do mal moral unicamente naquilo que, segundo leis da natureza da liberdade, afeta o fundamento supremo da adoção ou seguimento das nossas máximas; não no que afeta a sensibilidade (como receptividade) (KANT, p.38).

Mas se não podemos extirpar a propensão para o mal, o que nos resta fazer? De acordo com Kant, é possível um progresso moral da humanidade. Em um primeiro momento, ele trata a questão da seguinte forma: é possível um progresso moral porque deve ser assim. "Pois se a lei moral ordena que devemos agora ser homens melhores, segue-se de modo ineludível que devemos também poder sê-lo" (Rel, p.56). Kant pressupõe que é possível ao homem ter uma boa conduta moral, pois na ideia de dever já está implícita a noção de que se pode fazer.

No que concerne ao progresso moral da humanidade, Kant trata a questão do mal na natureza humana como um obstáculo que pode ser superado uma vez que o dever nos ordena a fazer isso. Dessa forma, ele afirma que independente do estágio em que o mal se encontra na natureza humana, o homem tem o dever de lutar por sua reabilitação. Esta luta do homem por sua progressão moral não resultará na extirpação do mal, mas sim em um domínio sobre este.

4. METODOLOGIA

Buscaremos nas ideias do próprio Kant o fio condutor para a nossa pesquisa, neste caso, especificamente na obra supracitada. Mas o diálogo com comentadores é de vital importância para o desenvolvimento do presente trabalho. Portanto, utilizaremos o artigo de Letícia M. Pinheiro, intitulado de Kant e o mal moral: a insuficiência da lei como móbil para o

arbítrio como contraponto para a criação de um diálogo entre o autor moderno e a pesquisa

desenvolvida contemporaneamente.

Com isso buscamos inserir as ideias do autor moderno dentro de um contexto de debate contemporâneo. Confrontar as ideias de Kant com a interpretação de comentadores

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contemporâneos nos permite refletir, compreender e reconstruir de modo mais correto o pensamento kantiano e com isso diminuir nossas chances de equívocos. Além disso, o trato com um autor clássico como Kant, especificamente nas questões da moral e do mal, mostra

ser de vital importância para a compreensão de vários temas debatidos

contemporaneamente e que vão muito além do campo filosófico.

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Kant afirma que a lei moral impõe-se de modo irresistível ao homem em função da disposição moral deste. Isso nada mais quer dizer: O homem tem consciência da lei moral e isso é algo natural (no sentido de ser uma disposição de sua natureza). Mas só a consciência da lei moral é o suficiente para que o homem venha a agir moralmente bem?

Não é redundante lembrar aqui que as ações morais que seguem o espírito da lei são sempre ações incondicionadas, isto é, são ações que tem em sua base uma regra que o próprio arbítrio institui para si, a saber, uma máxima (subjetiva do sujeito, mas que deve ser universalizável) que orienta o uso da liberdade do sujeito moral.

Queremos com isso tão somente apontar que o homem, tendo consciência da lei moral e do seu caráter e, sendo livre para determinar seu arbítrio, é capaz de observar a lei moral na formação de sua máxima e com isso agir com correção, de modo a cumprir o dever.

Mas mesmo com essas “condições favoráveis” ao agir moral, o homem, na grande maioria dos casos, acaba por não conseguir agir de modo a cumprir a lei moral. Sendo assim, com base no que foi dito até aqui, cabe perguntar: Por que, mesmo sendo consciente da lei moral e, sendo apto a determinar livremente o seu arbítrio, o homem acaba não sendo capaz de cumprir a lei moral?

Uma possível resposta a esta questão é a seguinte: o homem não consegue cumprir o mandamento da lei moral em função de algo que também está presente na sua natureza ao lado de sua disposição para a moralidade, a saber, a propensão ao mal. Não queremos aqui estabelecer a propensão ao mal como único obstáculo ao cumprimento da lei moral. Entretanto, fica claro, a partir dos resultados obtidos, que esta é uma possibilidade de resposta à questão supracitada.

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A conclusão que nos permitimos chegar é que a lei moral, ao se impor necessariamente ao sujeito moral, o faz de modo imperativo. Conforme Kant, para agirmos de modo livre, devemos nos submeter ao mandamento da lei (moral). Mas segundo o autor isso não acontece.

Uma possibilidade de resposta a este problema, da relação entre o mandamento da lei e o seu cumprimento, seria a propensão ao mal. Esta se apresentaria em três graus distintos, que já foram apresentados acima. Portanto, a propensão ao mal pode ser considerada como o principal obstáculo que o sujeito enfrenta para o cumprimento da lei moral. Entretanto é sempre bom lembrar que todo ato moral é sempre um ato livre, ou seja, a partir da liberdade do sujeito. Com isso fica claro que, se o sujeito acaba incorrendo no mal, é sempre por sua própria causa.

REFERÊNCIAS

KANT, Immanuel. A Religião nos Limites da Simples Razão. Tradução de Artur Morão. Lisboa: Edições 70.

PINHEIRO, Letícia Machado. Kant e o mal moral: a insuficiência da lei como móbil para o

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