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ISSN: VOLUME:2 NÚMERO:5 jul-dez 2013

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ISSN: 2316-3992

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Centro Universitário da Grande Dourados

COMUNICAÇÃO & MERCADO

Revista Internacional de Ciências

Sociais Aplicadas da UNIGRAN

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Comunicação & Mercado – Revista Internacional de Ciências Sociais Aplicadas / Centro Universitário da Grande Dourados. v. 2, n. 5 Jul-Dez –

Dourados : UNIGRAN, 2013. Semestral

ISSN 2316-3922I

1. Ciências Sociais. 2. Comunicação – marketing. I. UNIGRAN – Centro Universitário da Grande Dourados.

CDU: 659.3

Editora UNIGRAN

Rua Balbina de Matos, 2121 - Campus UNIGRAN

79.824-900 - Dourados - MS

Fone: 67 3411-4173 - Fax: 67 3422-2267

e-mail: bruno@unigran.br

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UNIGRAN Reitora

Rosa Maria D’Amato De Déa Pró-Reitora de Ensino e Extensão Terezinha Bazé de Lima

Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação Adriana Mary Mestriner Felipe

Pró-Reitora de Administração Tânia Rejane de Souza

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Coordenador do Curso de Administração Valdir da Costa Pereira

Coordenador do Curso de Administração de Agronegócios

Josimar Crespan

Coordenador do Curso de Ciências Contábeis Domingos Renato Venturini

Coordenadora do Curso de Comunicação Social Gabriela Mangelardo Luciano

Revista Comunicação & Mercado

EDITOR

Prof. Dr. Bruno Augusto Amador Barreto

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Profa. MSc. Claudia Noda (UNIGRAN) Prof. MSc. André Mazini (UNIGRAN) Prof. MSc. Alceu Richetii (UNIGRAN) Prof. MSc. Josimar Crespan (UNIGRAN)

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Prof. MSc. Luis Angelo Lima Benedetti

Correspondências e informações:

PROF. DR. BRUNO AUGUSTO AMADOR BARRETO UNIGRAN – Centro Universitário da Grande Dourados Rua Balbina de Matos, 2121 – Jd. Universitário CEP 79.824-900 – Dourados/MS - BRASIL (67) 3411-4173 / Fax: (67) 3411-4167

VOLUME 2 NÚMERO 5

jul-dez 2013

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SUMÁRIO

EDITORIAL

CARACTERÍSTICAS DAS FAMÍLIAS EM VULNERABILIDADE SOCIAL NO BRASIL E EM BRASÍLIA: DESMEMBRANDO O CENÁRIO DA POBREZA E EXTREMA POBREZA

Isa Coelho STACCIARINI

A IMAGEM CONTEMPORÂNEA E A CONSTRUÇÃO DO PERSONAGEM POLÍTICO NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS BRASILEIRAS DE 2012

Deysi CIOCCARI

COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL, POLÍTICAS DE COMUNICAÇÃO: CASO FUNDAÇÃO LUTERANA DE DIACONIA

Fernanda HACK e Patrícia Milano PÉRSIGO

A PERSONALIZAÇÃO: UMA “NOVA LINGUAGEM” UNIVERSAL PARA OS CIBERMEIOS? José Milton ROCHA

MCPRODUTOS SAUDÁVEIS: O DISCURSO DA CULTURA FAST FOOD NA SOCIEDADE DE CONSUMO

Jéssica de Cássia ROSSI e Marcelo da SILVA PUBLICIDADE EM SITES

Luis BENEDETTI e Rosangela Sorce CORRÊIA

GESTÃO DA COMUNICAÇÃO COMO FERRAMENTA PARA O EXERCÍCIO PLENO DA JUSTIÇA PELOS CIDADÃOS SUL-MATO-GROSSENSES

Jany Carla Arruda Da SILVA e Hélio ÁVALO

PREÇO, QUALIDADE E COMPRA IMPULSIVA NO CONTEXTO DAS PROMOÇÕES DE VENDAS

Maria Nascimento CUNHA

A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS BLOGUEIROS

Fabiano Correia do NASCIMENTO e Paulo César Nunes da SILVA

06 07 20 34 47 61 76 83 97 111

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EDITORIAL 6

Editada semestralmente pelo Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN, a Revista Comunicação & Mercado (ISSN 2316-3992 – Qualis B3) publica no segundo semestre de 2013 sua 5ª Edição. Grande parte dos ar-tigos publicados aqui foram originariamente submetidos para publicação na 4ª Ed., a mesma obteve um recebimento recorde de textos, oriundos de diversas instituições do país e do exterior. Devido à quantidade, a qualidade e o número de trabalhos aceitos por nossos pareceristas, dividimos, por ordem de recebimento, as pesquisas nas edições 4ª e 5ª.

C&M busca publicar estudos sobre: Comunicação, Marketing, Gestão e Negócios. Neste número publicamos nove estudos de pesquisadores, mestrandos e doutorandos de programas de pós-graduação, do Distrito Federal, Santa Ca-tarina, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Portugal; são eles:

- A responsabilidade Civil dos Blogueiros de Fabiano Correia do Nascimento e Paulo César Nunes da Silva (UFGD) - Características das famílias em vulnerabilidade social no Brasil e em Brasília: desmembrando o cenário da pobreza e extrema pobreza de Isa Coelho Stacciarini (UnB)

- Publicidade em sites de Luis Benedetti e Rosangela Sorce Corrêia (UNIGRAN)

- A imagem contemporânea e a construção do personagem político nas eleições municipais brasileiras de 2012 de Deysi Cioccari (Cásper Líbero)

- Gestão da comunicação como ferramenta para o exercício pleno da justiça pelos cidadãos sul-mato-grossenses de Jany Carla Arruda Da Silva e Hélio Ávalo (UNIGRAN)

- Comunicação empresarial, políticas de comunicação: caso fundação luterana de diaconia de Fernanda Hacki e Patrícia Milano Pérsigoii (UFSM)

- A personalização: uma “nova linguagem” universal para os cibermeios? de José milton rocha (UFMS)

- Mcprodutos saudáveis: o discurso da cultura fast food na sociedade de consumo de Marcelo da Silva e Jéssica de Cássia Rossi (USC)

- Preço, qualidade e compra impulsiva no contexto das promoções de vendas de Maria Nascimento Cunha (Uni-versidade do Porto, Portugal)

Nesta edição os trabalhos são majoritariamente da área da Comunicação Social, com a exceção do trabalho da pesquisadora da Universidade do Porto, Maria Nascimento Cunha, de ciências empresariais. Os artigos tratam desde aspectos legais, do Direito; a temas como Propaganda Política, Comunicação Empresarial, Sociedade do Consumo, Gestão da Comunicação e Publicidade e Jornalismo online.

Dado o crescimento de nossa revista, estamos ampliando o número de pareceristas do Conselho Científico, pes-quisadores doutores que trabalhem com as temáticas discutidas aqui podem enviar-nos uma carta de interesse para participar do nosso quadro de consultores para o e-mail bruno@unigran.br.

Boa leitura!

Prof. Dr. Bruno Augusto Amador Barreto* Editor

*É doutor em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo/ Universidad Pontificia de Salamanca (España),

com MBA em Administração Acadêmica e Universitária, Mestrado e Graduação em Comunicação Social. Atualmente é Diretor de Planejamento de Ensino no Centro Universitário da Grande Dourados/UNIGRAN, bruno@unigran.br.

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ISSN: 2316-3992

CARACTERÍSTICAS DAS FAMÍLIAS EM

VULNERABILIDA-DE SOCIAL NO BRASIL E EM BRASÍLIA: VULNERABILIDA-

DESMEMBRAN-DO O CENÁRIO DA POBREZA E EXTREMA POBREZA

¹ Jornalista e mestranda em Jornalismo e Sociedade pelo Programa de Pós Graduação da Faculdade de Comunicação da

PALAVRAS-CHAVE: cultura; vulnerabilidade social; políticas públicas. Resumo

Esse trabalho apresenta uma reflexão preliminar sobre a cultura, a exclusão social e as famílias em vulnerabi-lidade social. Discute dados estatísticos do Censo 2010 e dados divulgados pela imprensa local sobre o contexto de pobreza e de miséria dessa população. Enfatiza a situação do Distrito Federal sob a ótica da inadequação das moradias e das condições de vida. Também analisa criticamente as políticas públicas para essas famílias e como a ausência do Estado reflete em um contexto social de marginalização.

Isa Coelho Stacciarini

¹

Resumen

En este trabajo se presenta una reflexión preliminar sobre la cultura, la exclusión social y las familias social-mente vulnerables. Analiza datos estadísticos del Censo y los datos publicados en el escenário de la pobreza y la miseria de la población de 2010. Además, subraya la situación del Distrito Federal desde la perspectiva de la vivienda inadecuada y condiciones de vida. Por fin, analiza criticamente la política pública para estas familias y cómo la ausencia del Estado se refleja en un contexto social de marginación.

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STACCIARINI, Isa Coelho. 8

INTRODUÇÃO

A situação das famílias em vulnerabilidade social que são vítimas do abandono do Estado, bem como a falta de políticas públicas efetivas, merecem atenção. Em um cenário nacional onde vivem mais de 190 milhões de habitan-tes, cerca de 27 milhões de moradias faltam o básico. A vulnerabilidade social das famílias do Brasil está presente no cotidiano cultural e na história de nosso país, inclusive marcando presença em noticiários locais e nacionais.

A pobreza marca a história de vida de milhares brasileiros e o cenário de todo o país. A luta constante pela sobrevivência causa sofrimento as famílias em vulnerabilidade social. Essa situação tem sido objeto de implantação de políticas públicas. Entretanto, a desigualdade social e a pobreza no Brasil ainda apresentam dados alarmantes. Esse artigo objetiva compreender, com base em dados estatísticos, a situação de pobreza e extrema pobreza no contexto do Distrito Federal. Esta unidade federativa possui a maior renda e é uma das regiões com maior escolaridade do país. Entretanto, a capital federal da república revela um cenário que cresce no mesmo ritmo que o poder aquisitivo da população: aqui é o local com maior desigualdade social do Brasil, de acordo com dados de 2012 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

O trabalho a seguir apresenta conceitos iniciais sobre cultura, exclusão social, vulnerabilidade social, famílias pobres e sofrimento ético-político. Reflete sobre o espaço de moradias dessas famílias, tendo como referência a casa que é um ambiente de compartilhamento, de significação e de modos de vida para a família; um espaço de construção dinâmico e vivo das interações dotado de sentido e valores (GOMES & PEREIRA, 2005; MAIA, 2012). Além disso, procura-se entender sobre a pobreza no noticiário local.

HISTÓRIA, CULTURA E EXCLUSÃO SOCIAL

A cultura cria modos de vida e formas de perceber o mundo. Somos herdeiros de uma cultura que é contex-tualizada e que possibilita distinções quanto ao pertencimento social. Pessoas que vivem um contexto comum compartilham de uma cultura. Nesse sentido, a cultura brasileira é diferente da cultura americana, por exemplo. Essa referência de pertencimento social possibilita a construção de uma identidade cultural, por isso, dizemos “o brasileiro”. Porém, a constituição desse espaço simbólico que caracteriza o sujeito “brasileiro” perpassa a diver-sidade dos milhões de brasileiros e a multiplicidade dos modos de vidas desses cidadãos. A cultura influencia os sujeitos individualmente e também constrói uma representação identitária coletiva (LARAIA, 2001).

O espaço simbólico da cultura é vivo e dinâmico, está acontecendo no dia a dia das pessoas, “é a relação dos humanos com o tempo e no tempo” (CHAUÍ, 2000, p. 373). História e cultura estão intrinsecamente relacionadas tanto com a dimensão temporal, quanto com as lutas de classe, a produção e a reprodução das relações sociais. Para se compreender a cultura é preciso situá-la no tempo e entendê-la como fenômeno histórico (CHAUÍ, 2000). A cultura brasileira é produto de todo o conjunto de fatos ocorridos antes, durante e após a colonização,

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STACCIARINI, Isa Coelho. 9

a industrialização, a globalização. A História abarca histórias de vidas dos sujeitos que vivenciam e constroem a cultura nacional. A subjetividade brasileira encontra-se na miscigenação de valores, ritos e culturas do Brasil indígena, português, afrodescendente, sertanejo, caipira. Segmenta-se a cultura brasileira em culturas brasileiras conforme seu pertencimento espacial, histórico, social e econômico.

O movimento de confronto das lutas de classes, a produção e reprodução simbólica de uma sociedade em relação à maneira como se organiza e significa a produção material influencia a cultura. As relações sociais criam mecanismos de inclusão e exclusão sócio-cultural.

Cabe ressaltar a relação entre cultura e exclusão social. Esse último termo refere-se a um processo complexo e multifacetado que engloba dimensões materiais, políticas, interacionais e subjetivas relacionadas a um pro-cesso sócio-histórico. Esse propro-cesso se configura pelos recalcamentos em todas as esferas da vida social, porém perversamente vivido como necessidade do eu, como sentimentos, significados e ações do sujeito. A exclusão apresenta a dimensão objetiva da desigualdade social, a dimensão ética da injustiça e a dimensão subjetiva do sofrimento (SAWAIA, 2011).

O sujeito excluído não está à margem da sociedade. Ele repõe e sustenta uma ordem social, da qual é su-jeitado e sofre muito com esse processo de inclusão social perversa (SAWAIA, 2009; 2011). Os excluídos ou incluídos perversamente são todos aqueles que são rejeitados pelo mercado material ou simbólico, pelos valores da sociedade. A exclusão social remete a uma relação de abandono, de rompimento dos vínculos sociais, de isolamento, de desfiliação social e de desqualificação do sujeito. Falar sobre exclusão remete tanto a discussão sobre aspectos econômicos, relações de poder e direitos sociais, quanto sobre desejo, temporalidade e afetivi-dade dos grupos excluídos (SAWAIA, 2001).

FAMÍLIAS EM VULNERABILIDADE SOCIAL: ABANDONO E EXCLUSÃO

A família é o grupo primordial do indivíduo e espaço em que se desenvolvem a aliança, filiação e consan-guinidade, além da transmissão de valores estéticos, religiosos, culturais e éticos. A própria Constituição Federal Brasileira de 1988, artigo 226, traz que a família é o núcleo da sociedade. As configurações familiares atuais são muito diversas do modelo tradicional nuclear (mãe, pai e filhos). Têm-se redes complexas de parentesco permea-das por limites que variam de acordo com a cultura, região e classe social (SILVEIRA & YUNES, 2010). O espaço social a que uma família pertence influencia sua forma de existir e perceber o mundo, sua história e cultura.

A família se constrói no universo de experiências reais e simbólicas que são significadas por cada membro constituinte (GOMES & PEREIRA, 2005). Ela é a fonte primária no processo de socialização do sujeito. O indiví-duo se torna membro de determinado conjunto social a partir da aprendizagem de seus códigos, normas e regras básicas de relacionamento. Ele apropria-se dos conhecimentos já sistematizados e acumulados por esse conjunto inicialmente por meio da família.

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STACCIARINI, Isa Coelho. 10

A ambiguidade entre querer e não poder é vivenciada pelas famílias pobres ou em vulnerabilidade social (SARTI, 2009). Essas famílias estão inclusas em uma organização social a qual incita o consumo, porém excluem suas possibilidades. No espaço da família se reproduz os conflitos que refletem essa organização social. Nesse contexto, os problemas macrossociais atravessam o cotidiano dessas famílias, tais como o desemprego, a violên-cia, a ineficácia das políticas públicas, entre outros.

A investigação da experiência das famílias pobres é marcada por viéses que enfatizam o déficit, os problemas e as disfuncionalidades do sistema e que exclui a competência dessas famílias (SOUSA E RIBEIRO, 2005). Constantemente existem preconceitos sociais e julgamentos morais dessas famílias que englobam a cul-pabilização da mãe e/ou do pai, os quais individualmente são responsabilizados por uma tragédia social. Há uma associação entre a pobreza e o fora de ordem - a criminalização da pobreza (NASCIMENTO, 2012).

A família em vulnerabilidade social também tem competências. Sousa e Ribeiro (2005) realizaram um estudo exploratório com 60 famílias caracterizadas como multiproblemáticas (32 famílias) e não multiproblemáticas (28 famílias). Os autores buscaram identificar a percepção dessas famílias sobre o que funciona no seu agregado, ou seja, as competências dessas famílias. Os resultados desse estudo salientam que nas famílias multiproblemá-ticas a união familiar, o vínculo filial e a ajuda mútua são considerados aspectos positivos. Nessas famílias, os objetivos de vida centram-se na melhoria das condições de habitação e do estado de saúde.

A existência da família pressupõe uma condição primordial: a convivência sob o mesmo espaço – a mora-dia. A casa é um ambiente de compartilhamento, de significação e de desenvolvimento de modos de vida para a família. É um espaço de construção dinâmico e vivo das interações dotado de sentido e valores (GOMES & PEREIRA, 2005; MAIA, 2012). A moradia é um dos direitos fundamentais de todos os indivíduos conforme preconizado no artigo 6 da Constituição Federal (1988). Em contrapartida, milhares de famílias em situação de vulnerabilidade social vivenciam violações desse direito fundamental. A omissão, a insuficiência ou o abandono do Estado em prover os mínimos sociais, bem como condições dignas de vida a essas pessoas refletem uma violência estrutural e um problema macrossistêmico.

Esses problemas correspondem a exclusão social que marca as histórias de vidas de pessoas as quais con-vivem com a desigualdade, injustiça e sofrimento. Trata-se de um sofrimento ético-político, afecções do corpo e da alma que mutilam as pessoas excluídas. Refere-se a uma vivência diária das questões sociais e da dor que surge por ser desvalorizado e ter a subjetividade negada socialmente. Essa forma de sofrimento é decorrente das injustiças sociais, da submissão e opressão a que essas famílias estão submetidas (SAWAIA, 2001).

CENSO 2010 E DADOS OFICIAIS: TERRITÓRIO E ESPAÇO DO BRASIL E DO DF

Retratar e problematizar a realidade das famílias em vulnerabilidade social constitui um desafio importante, uma vez que as condições de pobreza e extrema pobreza atingem uma parcela muito significativa da população

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STACCIARINI, Isa Coelho. 11

brasileira. Dados do Censo 2010 - levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), bem como estatísticas oficiais do Distrito Federal, serão apresentados a fim de contextualizar proble-máticas sociais que atingem essas pessoas. Receberá destaque a falta de condições adequadas de moradia, a pobreza e as suas implicações.

Em pleno século XXI grande parte da população ainda vive num contexto de pobreza ou extrema pobreza. O cenário se repete pelas diversas e variadas cidades brasileiras, inclusive na capital da república. Há poucos metros do centro do poder, existem famílias que moram em barracos improvisados com péssimas condições de habitabilidade e infraestrutura.

Dados nacionais revelam faltar o básico em mais de 27 milhões de moradias de uma população total equiva-lente a 190.755.799 habitantes. O Censo 2010 aponta que apenas 52,2% dos domicílios brasileiros, que repre-senta, em números, 30 milhões de residências, são consideradas adequadas pela pesquisa. O domicílio, para ser classificado como adequado, precisa apresentar abastecimento de água por rede geral, esgotamento sanitário por rede geral ou fossa séptica, coleta de lixo direta ou indireta e, no máximo, dois moradores por dormitório.

O resultado do Censo 2010 apresenta apenas um ligeiro aumento de moradias consideradas apropriadas se comparado há uma década. Em 2000, o percentual das residências brasileiras adequadas era de 43,9%. Mesmo com o aumento em 2010, o índice ainda revela uma situação aquém do ideal. A situação se torna mais agravante nas moradias onde há presença de crianças de até 6 anos. Nesses lares a porcentagem de adequa-ção é menor do que 30%. O cenário se torna mais alarmante na região norte do país em que apenas 8,8% das residências onde vivem crianças nessa idade são consideradas apropriadas.

Os domicílios sem acesso a qualquer um dos serviços básicos de água, esgoto e coleta de lixo com acima de dois indivíduos por dormitório somam 2,1% do total de 1,2 milhão nessas condições. Além da desigualdade social, o Censo 2010 revela uma discrepância relacionada à raça. Os dados apresentam uma melhor condição de moradia dos brancos em comparação aos pretos, sendo um percentual de diferença de 63% contra 45,9%, respectivamente, que moram em lares considerados adequados.

Classe social e renda também afetam esse fenômeno. Quanto menor a renda, mais baixa são as taxas dos domicílios adequados. O rendimento médio dos domicílios adequados era de R$ 3.403,57, enquanto o dos inadequados era de R$ 732,27. A renda média dos lares semiadequados, que são aqueles onde há pelo menos um dos serviços básicos ou no máximo dois moradores por domicílio, estava em torno de R$ 1.616,23.

A situação de pobreza e extrema pobreza das famílias em vulnerabilidade social também assola a capital do país. Índices divulgados no fim do ano de 2011 pelo IBGE apontam que das 6.329 moradias precárias do Brasil, chamadas pelo Instituto de aglomerados subnormais, 36 estão em Brasília. O DF abriga a segunda maior favela do Brasil, a Área de Regularização de Interesse Social Sol Nascente, em Ceilândia. Habitados por 56.483 pessoas, o local só fica atrás da Rocinha, favela do Rio de Janeiro.

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STACCIARINI, Isa Coelho. 12

1990 com a grilagem de terra - apropriação indevida de terras públicas por meio de documentos falsificados. Atualmente, o local está em fase de possível regularização do Governo do Distrito Federal (GDF). Os processos de licenciamento ambiental que estão em andamento permitirão que a população receba as escrituras dos imó-veis. A maioria dos moradores que saíram da sua cidade natal e vieram para a capital em busca de melhores condições de vida se instalaram na região para deixar o aluguel nas demais localidades do DF. Além disso, outra parcela veio atraída pelo preço baixo dos imóveis irregulares. No Sol Nascente há água, mas a energia elétrica, o saneamento básico e a coleta de lixo ainda não existem para muitos dos moradores.

Nos aglomerados subnormais, o esgoto sanitário adequado – ligado à rede geral ou fossa séptica – está presente apenas em 34,8% das residências do Sol Nascente. Em contrapartida, no Plano Piloto, 93,5% das ha-bitações têm tratamento de esgoto compatível de acordo com o levantamento do IBGE. Os dados apresentados denunciam o reflexo da desigualdade social que marca visualmente os espaços da capital da república.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2012) divulgou uma pesquisa sobre a situação social no DF. Os dados comprovam que a unidade federativa é a possuidora de maior renda e uma das regiões com maior escolaridade do país. Ao mesmo tempo, a capital é o local com maior desigualdade social do Brasil.

A pobreza extrema no Distrito Federal cresceu e a desigualdade também ao contrário do que acontece na maioria dos estados. Outro indicador do IPEA (2012) que chama a atenção é a taxa de homicídios masculina que reflete o número de mortes por 100 mil habitantes. Enquanto no Brasil esse índice é de 94,3, no DF a taxa é de 120,9. Já os homicídios de brasileiros entre 15 e 24 anos foram 156% superiores aos do restante da popu-lação no ano de 2012 (INSTITUTO SANGARI, 2012). Em algumas unidades federativas como o Distrito Federal as taxas de homicídios de jovens são três vezes maiores que as do restante da população.

Nos lares do DF onde existem crianças, a situação de vulnerabilidade social se torna ainda mais acentuada. A realidade da infância na capital federal foi estudada pela pesquisa “Retrato da infância e da adolescência no DF” pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (CODEPLAN, 2012). Os dados revelam que cerca de 21,3 mil crianças e adolescentes vivem em extrema pobreza na capital. O quadro se torna mais grave com a falta de vagas em creche e mortes de adolescentes por agressão, além do envolvimento de menores em atos infracionais. A maioria de crianças negras moram nas regiões mais pobres da cidade. Em 2010, 59,9% das crianças do DF eram negras, 38,4% brancas e 1,5% amarelos segundo dados da Codeplan de 2012. Apenas nas regiões com população de melhor poder aquisitivo, como Brasília, Lagos Sul e Norte, Cruzeiro e Núcleo Bandeirante têm núme-ros de crianças brancas maior que de negras. Assim, é possível constatar uma discrepância e uma segmentação de diferenças e desigualdades de gênero, raça e classe social em famílias pobres e extremamente pobres.

A situação socioeconômica é o fator que mais contribui para a desestruturação da família (GOMES & PEREIRA, 2005).

A pobreza, a miséria, a falta de perspectiva de um projeto existencial que vislumbre a melhoria da qualidade de vida, impõe a toda a família uma luta desigual e desumana pela sobrevivência. As conseqüências da crise econômica a que está sujeita a família pobre

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pre-STACCIARINI, Isa Coelho. 13 cipitam a ida de seus filhos para a rua e, na maioria das vezes, o abandono da escola, a fim de ajudar no orçamento familiar. Essa situação, inicialmente temporária, pode se estabelecer à medida que as articulações na rua vão se fortalecendo, ficando o retorno dessas crianças ao convívio sócio-familiar cada vez mais distante. (GOMES & PEREIRA, 2005, p. 360)

INFRAESTRUTURA E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA FAMÍLIAS EM VULNERABILIDADE SOCIAL

A família tem sido sujeito de destaque para as políticas públicas de saúde, assistência social e habitação. Inclusive a própria imprensa brasileira vem noticiando com destaque os atuais seios familiares. Essa centralida-de é preconizada pela Constituição Fecentralida-deral centralida-de 1988 no artigo 226, o qual nos traz que a família é a base da sociedade e tem especial proteção do Estado. O Estado não consegue, no entanto, promover a igualdade de direitos promulgada no artigo 5° da carta magna, haja vista que o acesso aos direitos fundamentais das famílias em vulnerabilidade social, na prática, não obedece a tal igualdade.

Altos indíces de desigualdade social no Brasil decorrem de profundas transformações da política econômica nacional. Essas mudanças impactam a vida econômica, social e cultural da população. O reflexo dessa estrutura de poder acentua as desigualdades sociais e de renda das famílias e afeta suas condições de sobrevivência. Essas famílias vivenciam a diminuição de suas expectativas relacionadas a superação do estado de pobreza e reforça sua submissão aos serviços públicos disponíveis (GOMES & PEREIRA, 2005).

O fosso da desigualdade social distancia os mais ricos dos mais pobres. A segmentação da população rica em regiões administrativas luxuosas em confronto com moradores de extrema pobreza em locais onde há intensa precariedade constitui uma das realidades mais presentes no solo do Distrito Federal. Dados do IPEA (2012) apontam que aproximadamente 52 mil brasilienses vivem na pobreza extrema. Pelo menos 2% dos moradores do DF passam o mês com menos de R$ 70,00. Por outro lado, 72,8% dos cidadãos do DF recebem cinco salá-rios mínimos e 30% têm renda de 10 salásalá-rios mínimos (CODEPLAN, 2013). Os trabalhadores do setor privado ganham aproximadamente R$ 1.560, o que representa 30% do que ganham os funcionários públicos: R$ 5.092. No governo federal, a média é de R$ 5.673 e no Governo do Distrito Federal (GDF), R$ 4.534.

Na última década, o número de pessoas na capital em situação de extrema pobreza apresentou um recuo de 5,3% para 2%. Entretanto, esse dado pode mascarar outras variáveis que impactaram essas porcentagens, como por exemplo o rendimento do funcionalismo público, o qual apresentou um crescimento a partir de 2006.

O cenário social da capital da república tem sido objeto de preocupação do GDF. Esse governo adotou uma série de políticas públicas sociais como a criação da estratégia Busca Ativa. A Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (SEDEST) por meio desse mecanismo oferece o recurso de inserção das famílias no Cadastro Único e, com isso, elas podem receber benefícios dos programas sociais, entre os quais o DF Sem Miséria e Minha Casa, Minha Vida, que integra o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Habitação, do Governo Federal. A inclusão, no entanto, está condicionada ao procedimento dos governos federais e do DF.

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STACCIARINI, Isa Coelho. 14

básicos para ser incluído no processo.

Políticas públicas sociais não são universalistas. Elas criam critérios de acesso aos serviços reproduzindo, portanto, formas de exclusão social. As políticas voltadas para a Assistência Social selecionam os mais pobres dos mais pobres para acessar os benefícios de transferência de renda. O Programa Bolsa Família, por exemplo, seleciona famílias em extrema pobreza, que vivem com renda per capta de até R$70,00 ou em situação de po-breza, famílias com renda per capta de até R$140,00. O valor máximo percebido por esse programa é de R$ 300 por família. Há também programas habitacionais oferecidos pela Secretaria de Habitação, Regularização e Desenvolvimento Urbano (SEDHAB) e pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional (CODHAB) cujo candi-dato necessita ter renda familiar de até doze salários mínimos. Os órgãos lançaram o Programa Morar Bem, que oferece a oportunidade da casa própria às famílias em condições de pobreza e extrema pobreza. A apresentação do primeiro pacote de habitações de interesse social com 10 mil unidades habitacionais ocorreu em 2012.

Entre os cadastros aceitos no programa em agosto de 2012, 80,2% das pessoas possuem faixa de renda de até R$ 1.600, sendo este o menor valor pelas regras do programa. Já 73,2% das pessoas têm renda entre R$ 1.601 a R$ 3.100. Esse dado contrasta com a renda do Programa Bolsa Família. Podemos perceber que as famílias extremamente pobres, de acordo com o critério descrito no Programa Morar Bem, não se enquadram no perfil destinado. O público feminino é maioria nos novos cadastros do Programa Morar Bem, sendo 55,8% mu-lheres e 44,2% homens. Além disso, os solteiros são 65,7% dos inscritos no programa, enquanto apenas 25,3% dos inscritos são casados.

Existem hoje 180 mil famílias com demanda real de habitação de acordo com a SEDHAB. Elas são definidas pelo número de dependentes atrelado ao tempo de espera no cadastro. Quesitos como idade entre 30 e 40 anos, casamento, tempo de moradia no DF, renda familiar bruta e pessoas com deficiência ou idosos são outros itens de relevância do programa. No novo cadastro, 35% estão dentro da faixa etária considerada ideal para ter a condição real de habitação, seguida de 20,9% das pessoas que têm entre 25 e 30 anos. Já 48,4% dos candi-datos não têm dependentes na família e 25,6% possuem apenas um dependente. Além disso, 54,5% dos inscrito aguardam de dois a três anos para serem beneficiados e 20,7% esperam de três a quatro anos.

As iniciativas do governo local e federal na implementação de políticas públicas para famílias em vulnera-bilidade social são insuficientes e deficitárias conforme se pode observar nos dados apresentados anteriormente. As políticas sociais muito pouco têm contribuído para amenizar as condições de vulnerabilidade da família pobre (GOMES & PEREIRA, 2005). O Estado deve pensar em políticas públicas de caráter universalistas, que assegurem proteção social e que reconheça a família como sujeito de direito, capaz de potencializar as ações propostas.

INFRAESTRUTURA E POLÍTICAS PÚBLICAS DAS FAMÍLIAS: VIOLÊNCIA URBANA E ABANDONO

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regiões administrativas luxuosas em confronto com moradores de extrema pobreza em locais onde há intensa precariedade. Dados do IPEA apontam que aproximadamente 52 mil brasilienses que vivem na pobreza extrema. Pelo menos 2% dos moradores do DF passam o mês com menos de R$ 67. Na última década, o número de populações em situações mais agravantes do que pobres apresentou um recuo de 5,3% para 2%, contudo, em contrapartida, o rendimento do funcionalismo público apresentou um avalanche a partir de 2006.

No entanto, Mônica Gomes e Maria Lúcia Pereira ressaltam que as políticas sociais muito pouco têm contribuído para amenizar as condições de vulnerabilidade da família pobre. Segundo as autoras, o Estado deve pensar em políticas públicas de caráter universalistas, que assegurem proteção social e que reconheça a família como sujeito de direitos, capaz de potencializar as ações propostas.

Espera-se, portanto, que a família seja enfocada de forma concreta na agenda política dos governos para que ela possa prover sua autonomia e para que seus direitos sejam respeitados. É necessário que as políticas públicas venham em apoio à família pobre não apenas em relação à renda, mas também em relação ao acesso a bens e serviços sociais. (GOMES & PEREIRA, 2012, p. 362)

Diante da falta de infraestrutura e de políticas públicas, a violência se torna mais incidente nas regiões menos favorecidas. Sentimentos de insegurança, impunidade ou mesmo medo por parte do público alvo são as respos-tas às diferentes formas de violência que ocorrem e são retratadas diariamente na mídia brasileira, principalmen-te em locais onde as condições de moradia, acesso à saúde, educação, saneamento básico e estrutura famílias são mais vulneráveis. Devido ao grande número de noticiários que envolvem criminalidades, casos bárbaros des-pertam a atenção da sociedade e promove de certa forma uma grande noticiabilidade realizada pela imprensa. Geralmente o publico alvo dos jornais populares e sensacionalistas são leitores de baixa renda, muitos deles sem alto grau de escolaridade. Angrimani explica que o público de jornais populares tem uma formação cultural precária e, por isso, estão mais próximos dos instintos e manifestações da criminalidade. Já o público de conheci-mento elevado e de formação intelectual superior, de acordo com o jornalista, teria os instintos mais controlados e, por isso, sua opção geralmente é pelos jornais mais moderados e racionais.

Espera-se, portanto, que a família seja enfocada de forma concreta na agenda política dos governos para que ela possa prover sua autonomia e para que seus direitos sejam respeitados. É necessário que as políticas públicas venham em apoio à família pobre não apenas em relação à renda, mas também em relação ao acesso a bens e serviços sociais. (GOMES & PEREIRA, 2012, p. 362)

Entretanto, o jornalista destaca que notícias sobre morte e violência interessam a todos, independentemente do nível econômico e cultural de cada leitor. Assim, a violência também é outro ponto de destaque e valorizado pelos jornais populares. Assassinato, brigas, confusões, vingança, suicídio, estupro são noticiados com destaque,

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o que acaba por gerar sentimentos de medo, angústia ou mesmo sensação de insegurança.

Já nos noticiários onde a ação da polícia é retratada com maior ênfase, como prisões em flagrante, identi-ficações de suspeitos, patrulhamentos, recuperação de objetos roubados, podem ocasionar uma impressão de maior segurança e um trabalho mais ágil da Polícia Militar, Polícia Civil, Federal e até mesmo do Batalhão de Operações Especiais (BOPE).

De acordo com dados Ministério da Saúde, das 241 crianças e adolescentes mortos no Distrito Federal por causas externas em 2010, 190 perderam a vida por agressões. Já o número de adolescentes internados por envolvimento em prática de assassinatos fica à margem de 122 mensais. Assim é possível constatar o aumento da criminalidade entre adolescentes em função das condições de pobreza e falta de políticas públicas. Diante da situação, o Governo do Distrito Federal criou a Secretaria da Criança. Segundo a pasta, a construção de cinco novas unidades de internação para substituir o Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje) é uma forma de tentar diminuir a reincidência dos jovens infratores.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Cultura, desigualdade social e políticas públicas são dimensões que possibilitam a compreensão da situa-ção das famílias em vulnerabilidade social. A ótica de que o abandono do Estado em relasitua-ção à essas famílias impacta no modo como essas pessoas vivem ou sobrevivem em condições muitas vezes desumanas e precárias foi apontada nesse trabalho como aspecto que dificulta a autonomia e a promoção social das famílias pobres.

Os dados do Censo 2010 evidenciaram a desigualdade social. A fragmentação da sociedade em classes ricas e extremamente pobres, cultura culta e inculta mantém uma luta de classes. Os mecanismos de exclusão influenciam em maneiras distintas de pertencimento social e pode afetar o acesso dos indivíduos e famílias às políticas públicas. Portanto, a exclusão social deve ser debatida e analisada por meio da perspectiva macrossis-têmica (políticas públicas) e microssismacrossis-têmica (famílias).

A família em vulnerabilidade social ganhou espaço nas agendas políticas e no noticiário brasileiro. No entan-to, constatou-se a precarização dos serviços, os quais tentam garantir os mínimos sociais (alimentação, renda, moradia). Esses serviços não contemplam expressivamente condições dignas de vida para esses cidadãos.

Essas reflexões preliminares apontam a necessidade de estudos com as próprias famílias em situação de vulnerabilidade social, a fim de compreender mais acuradamente como elas percebem seu contexto. É preciso compreender quais as significações referentes ao espaço urbano, a violência e ao processo de exclusão social a partir da ótica de quem as vivenciam.

Além de ampliar o conhecimento dessas realidades, é necessário promover o debate político referente aos serviços voltados especificamente para as famílias em vulnerabilidade social. O processo de transformação social requer ações variadas e intersetoriais que visem minimizar sofrimento ético-político, aquele que está nos sujeitos, mas o transcende, pois reflete o processo de exclusão social e pobreza que atinge milhares de famílias.

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ISSN: 2316-3992

A IMAGEM CONTEMPORÂNEA E A CONSTRUÇÃO DO

PERSONAGEM POLÍTICO NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS

BRASILEIRAS DE 2012

1 Mestranda em Produtos Midiáticos: Jornalismo e Entretenimento pela faculdade Cásper Líbero / SP.

Palavras-chave: Fotojornalismo, Construção de Identidade, Comunicação. Resumo

O objetivo do presente artigo é verificar o papel das imagens fotográficas jornalísticas na construção dos personagens políticos na campanha eleitoral de 2012. Desenvolvemos a ideia de que independentemente da estética imagética existe relevância tanto no processo de construção da imagem fotográfica quanto na sua re-cepção, baseado nas teorias de François Soulages. Utilizamos ainda o pensamento sobre a Sociedade do Espe-táculo proposto por Guy Debord. Escolhemos como objeto de estudo as eleições municipais brasileiras de 2012 ocorridas em São Paulo e Porto Alegre. Analisamos as imagens fotográficas nos jornais mais lidos destas capitais: Folha de S. Paulo e Zero Hora, respectivamente.

Deysi Cioccari¹

Resumen

El propósito de este artículo es verificar el papel de las imágenes en la construcción de figuras políticas perio-dísticas en la campaña electoral de 2012. Desarrollamos la idea de que, independientemente de la imaginería estética es relevante tanto en la construcción de la imagen fotográfica como la recepción, sobre la base de las teorías de François Soulages. También utilizamos pensando en la sociedad del espectáculo de Guy Debord pro-pone. Elegido como el objeto de estudio de las elecciones municipales brasileñas en 2012 tuvo lugar en São Paulo y Porto Alegre. Se analizaron las imágenes en los periódicos más leídos estos capitales: Folha de S. Paulo y de la hora cero, respectivamente.

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Introdução

As eleições majoritárias constituem-se hoje num grande show midiático. Pesquisas de opinião, análises edi-toriais nas pré-campanhas, o espetáculo de divulgação de agendas e tantas outras atividades que buscam unicamente a visibilidade pública e o interesse do eleitor através dos meios de comunicação. Nessa disputa, as campanhas precisam ser atrativas, os discursos, de fácil assimilação e os candidatos devem conquistar o elei-torado. Em busca da visibilidade, a disputa política mune-se de elementos da sedução onde o objetivo é que o eleitor (consumidor) decida qual político (produto) está mais de acordo com suas necessidades (KLEIN, 2002). E, o consumidor não quer apenas suprir uma necessidade real: ele quer um produto que tenha a sua “cara”.

Nessa perspectiva, inicia-se uma série de estratégias a fim de estreitar esse vínculo político-eleitor (produto-consumidor). O eleitor adquire um novo perfil, de um cidadão consumidor, mais subjetivo e emocional e menos consciente de suas escolhas racionais. E, políticos, para difundir seus conceitos, conquistar e manter seus poderes junto a essas pessoas utilizam os meios de comunicação de massa promovendo um grande show.

Nesta linha, Guy Debord (1997), a sociedade busca constantemente a produção de imagens, embora não saiba, muitas vezes, o que fazer com elas. Para Debord, essa é a sociedade do espetáculo onde as imagens seriam a concretização de uma alienação. As imagens recebem novos atributos, além de se tornarem o meio de propagação e construção de discursos ideológicos. “Quando o mundo real se transforma em simples imagens as simples imagens tornam-se seres reais (...) o espetáculo como tendência de fazer ver (...) o mundo que já não se pode tocar”. (1994, p.18).

François Soulages (2010) defende que fotos são objetos enigmáticos que habitam nossa imaginação e nosso imaginário. Se a fotografia for assumida como um “vestígio” para percepção, então cabe ao receptor elaborar as conexões entre o passado e o presente, o antes e o depois, o efêmero e o permanente. Soulages afirma que nem sempre a foto promove uma relação entre o objeto fotografado e o real. Nesse ponto, o autor alerta para algo comumente visto na política, o “isso foi encenado”, mostrando que “a cena foi encenada e representada diante da máquina e do fotógrafo; que não é o reflexo nem a prova do real; o isto se deixou enganar: nós fomos enganados.” (SOULAGES, 2010, p. 26). Para o autor, a fotografia está aberta às trucagens, aos filtros criando ilusões obtidas de um negativo.do negativo obtido. A fotograficidade2 abre, então, inúmeras produções em potencial, inúmeras

ilusões e encenações. (SOULAGES, 2010, p. 74). Toda foto é recebida não só pelos olhos, pela razão e pela consciência, mas também pela imaginação e pelo inconsciente. É por isso que a foto informativa (de jornal, por exemplo)é sempre interpretada; é por isso que a foto doméstica tem várias recepções; é por isso que a publicidade usa a fotografia; é por isso que a arte encontra obrigatoriamente a fotografia. (SOULAGES, 2010, p. 259-260)

Some-se a isso a intenção da mídia de tornar a política mais “interessante” criando fatos de interesse público, seja através de imagens ou de textos. Criando o espetáculo. Quando em associação a um desejo, as imagens

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passam a possuir uma intenção modificadora e, portanto, portadoras de enunciados transformadores, que não deixam de ter seu papel ideológico na criação de arquivos do imaginário, através de imagens que são represen-tativas e comprobatórias.

A construção do espetáculo é uma forma de separação, de alienação e de dominação na sociedade para produzir uma falsa consciência de existir, na tentativa de se criar a ideia de uma sociedade unificada. Dentro desta configuração social, o espetáculo é uma espécie de “catalisador” da dominação. Esta alteração se estabeleceu ainda na época da Revolução Industrial, quando as relações de trabalho se alteraram junto com a necessidade de uma produção em massa que modificou a vida social. A mercadoria foi o produto desta alteração. Wolfgang Haug (1996) afirma que as sensações humanas são moldadas pela estética da mercadoria e interagem com as necessidades e impulsos do homem submetendo-se ao seu grau de satisfação. Haug ressalta que há um domínio sobre as pessoas exercido pelo fascínio das aparências artificiais. Esse fascínio, vemos comumente a serviço do domínio político, quando os mesmos lêem nos olhos do outro o seu desejo e assim se apresentam. “A aparência na qual caímos é como um espelho, onde o desejo se vê e se reconhece como objetivo.” (HAUG, 1996, p. 77)

Porém, a coerência na imagem do ator político é importante, caso contrário o eleitor não se identificará com o que vê. Para Roger-Gerard Schwartzenberg (1978, p. 4-5), “muitos dirigentes são prisioneiros da sua própria imagem. (…) O homem político deve, portanto, concordar em desempenhar de uma maneira duradoura o personagem em cuja pele se meteu”. Ainda de acordo com o autor, o esforço do ator político em construir uma imagem se dá por dois motivos: para ser consolidado um “símbolo visível e tangível” que atraia a atenção do cidadão e para que a imagem seja usada como rótulo do “produto ou marca políticos, de modo que não é exagerado falar em imagem da marca” (p. 4). Os slogans e logotipos de candidatos políticos em campanhas eleitorais são exemplos de como ajudar os cidadãos a identificá-los como produtos. O autor afirma que “o ‘pal-co políti‘pal-co’, que é realmente um pal‘pal-co para estabelecer uma relação face a face teatral ‘pal-com o públi‘pal-co. (…) Este fazedor de espetáculo é igualmente um provador de sonhos” (p.14-15).

É nesse contexto que analisamos as eleições municipais brasileiras de 2012 em três capitais: São Paulo e Porto Alegre. Analisamos as imagens fotográficas nos jornais mais lidos destas capitais: Folha de São Paulo e Zero Hora, respectivamente buscando entender a relação entre imagem fotográfica, espetáculo, comunicação, política e poder.

Análise das imagens fotográficas nas campanhas eleitorais de Porto Alegre e São Paulo:

Caso bem representativo ocorreu nas eleições municipais de 2012 em São Paulo. Influenciado pelo ex-pre-sidente Lula, Fernando Haddad (PT) tentou construir uma aliança com os partidos da base do governo federal, mas só conseguiu fechar apoios com a intervenção direta do ex-presidente. A necessidade de garantir tempo su-ficiente de TV para apresentá-lo ao eleitorado fez com que Haddad se aliasse até mesmo ao adversário histórico

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do PT paulista, o Partido Progressista, do deputado federal Paulo Maluf.

A fotografia de Moacyr Lopes Junior, da FolhaPress, de 19 de junho de 2012, que mostra Fernando Haddad ao lado do ex-presidente Lula e do deputado Paulo Maluf demonstra claramente essa quebra. Vimos nessa cam-panha esquerda e direita juntas. No Rio Grande do Sul, caso semelhante de quebra de ideologias foi visto com a foice da comunista Manuela D’Ávila e a direita sendo representada pelo seu vice, do PSD.

É o espetáculo na sua forma mais pura. Pelo tempo de televisão a “mercadoria ocupou totalmente a vida social’’ (DEBORD, 1997, p. 30).

Fonte 2: Jornal Folha de São Paulo / 19 de junho 2012

Hoje em dia, o espetáculo está no poder. Não mais apenas na sociedade. De tão enorme que foi o avanço do mal. Hoje, nossas conjecturas já não têm como único objeto as relações do espetáculo e da sociedade em geral. Como as tecia Guy Debord em 1967. Agora é a superestrutura da sociedade, é o próprio Estado que se transforma em empresa teatral, em “Estado espetáculo”. (SCHWARTZENBERG, 1978, p. 1)

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Para Guy Debord (1997) o Estado se transforma em produtor de espetáculos e a política se faz encenação. Um quê de entretenimento é o principal produto oferecido pela cultura da mídia que espetaculariza o cotidiano de modo a seduzir suas audiências e levá-las a identificar-se com as representações sociais e ideológicas nela presentes.

Na interpretação de Fredric Jameson (1994), o destaque que as imagens provocam na nossa sociedade de-ve-se ao fato de elas terem se convertido em um campo cultural profundamente autônomo e, em essência, arre-batador. Para o crítico literário e teórico marxista, no momento pós-moderno a imagem toma parte da ilusão de uma nova naturalidade. A própria imagem se cotidianiza, tornando-se elemento constitutivo de nosso dia-a-dia. Com a estetização da realidade as fronteiras que confeririam especificidade ao estético tendem a desaparecer. A produção em larga escala de representações visuais tecnicamente mediadas responde a uma estratégia histo-ricamente articulada de controle social, atualmente expressa na generalização das dinâmicas de televigilância e fundada em uma verdadeira cultura da suspeição.

Na campanha eleitoral em Porto Alegre, dois candidatos polarizaram a disputa do início ao fim. José Alberto Reus Fortunati (PDT) com a renúncia de José Fogaça em março de 2010 para concorrer ao governo do estado assumiu a prefeitura até o final do mandato, em 31 de dezembro de 2012.

Em 7 de outubro de 2012 é reeleito prefeito de Porto Alegre no primeiro turno das eleições. Com 517.969 votos, representando 65,22% dos votos válidos. Em segundo lugar ficou Manuela D ‘ Ávila com 141.073, 17,76% dos votos válidos.

Manuela Pinto Vieira d’Ávila (PC do B) foi a vereadora mais jovem de Porto Alegre, sendo eleita aos 23 anos. É deputada federal desde 2007, tendo sido a candidata mais votada para o cargo no Rio Grande do Sul. Foi candidata pela segunda vez à prefeitura de Porto Alegre em 2012 pela coligação “Juntos por Porto Alegre” sendo derrotada no primeiro turno pelo candidato à reeleição José Fortunati3, da coligação Por Amor a Porto Alegre.

Chegou a ameaçar a reeleição do pedetista num primeiro momento, mas não sustentou-se por muito tempo. Manuela surgiu na política com o bordão “E aí, beleza?” dentre muitas outras gírias e com a concepção de mu-lher-jovem-comunista-lutadora.

Na disputa eleitoral para prefeitura da capital gaúcha em 2008, Manuela começou um processo que atingiu seu ápice na campanha municipal de 2012, em que a candidata aposta num eleitorado conservador e deixa para trás sua imagem jovial, bordões e postura. A jovem comunista de camiseta vermelha fica no passado junto com os discursos radicais, duros e, por vezes, até furiosos. Isso é intensificado através das imagens divulgadas pela mídia durante a cobertura eleitoral.

3 Eleito vereador em 2000. De 2003 a 2006, foi secretário Estadual da Educação e, em 2006, secretário municipal do

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Fonte 3: Jornal do Comércio/ 25 setembro 2008

Fonte 1: Jornal Zero Hora/ 28 de agosto 2012

Manuela D’Ávila aliou-se, em 2012, ao “novo”4 Partido Social Democrático (PSD) chamado também de “a

nova direita brasileira” tendo como vice o vereador porto-alegrense Nelcir Tessaro. A união da foice e da direita. A ausência de líder com ideologia definida (DEBORD, 1997) demonstra pontos de convergência entre partidos que, em sua base, deveriam ser opositores. Em alguns casos, ajustam-se localmente, conforme a necessidade.

O jeans e a camiseta vermelha, sua marca registrada nas campanhas para vereadora e deputada federal são substituídas por tons neutros e sóbrios. A Manuela vinculada fortemente à juventude dá segmento a um processo que iniciou em 2008 quando também na disputa pela prefeitura, a comunista busca outros segmentos da sociedade. Nessa sociedade cada vez mais fragmentada, marcada pelo declínio da política ideológica e da identidade partidária sobrepondo-se à figura única do político, os eleitores passaram a definir seu voto basi-camente levando em conta as questões colocadas em jogo em cada eleição específica. Cada cena, um novo espetáculo à procura da identificação com o eleitor. A aparência e a maneira como se veste, preocupada com o cenário tornam-se mais relevantes. (SCHWARTZENBERG, 1977,p. 193) . Debord (1997) afirma que vive-se muito mais as representações do que a realidade. Na sociedade do espetáculo, a realidade passa a ser vivida

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no reino das imagens e não no realismo concreto, levando os indivíduos a abdicar o real e assumir um mundo movido pelas aparências e pelo consumo permanente de fatos, notícias, produtos e mercadorias. Isso se dá pela mediação das imagens e mensagens dos meios de comunicação de massa, que são a manifestação superficial mais esmagadora da sociedade do espetáculo.

Em 10 de setembro José Fortunati aparece numa imagem cumprimentado cavalarianos na rua, uma cena comum no Rio Grande do Sul. Mais uma vez o candidato apela para o sentimentalismo e a simplicidade, como o fez improvisando um palanque simples. Agora, caminha pelas ruas de Porto Alegre e conversa com as pessoas. O aspecto selecionado também atrai a atenção sobre o que não é escolhido (Peter Burke, 2004), como nesse caso: o candidato em contato com o gaúcho pilchado5. “Outro aspecto do enfoque estruturalista merece ser

comentado aqui. A preocupação com o ato de selecionar de um repertório não somente destaca a importância das fórmulas visuais e temáticas, mas também atrai a atenção sobre o que não é escolhido, o que é excluído, um tema que foi particularmente apreciado por Foucalt.” (2004, p.220) A política é um jogo (SCHWARTZENBERG, 1977) e, em alguns casos, quase um jogo bélico, onde vale metamorfosear-se e, novamente, perceber o que o eleitor quer e transformar-se naquilo (KLEIN,2002; BAUDRILLARD, 1997).

Em 14 de setembro, José Fortunati faz um tradicional passeio de barco no Rio Guaíba, em Porto Alegre, com a imagem da Usina do Gasômetro (ponto turístico) ao fundo. Fortunati novamente associa-se ao imaginário porto -alegrense. Nas imagens em que José Fortunati está em primeiro plano, há sempre uma “verdade” escondida, um simbolismo gaúcho presente, que no primeiro momento pode não ser tão perceptível, mas que, como explica André Rouillé, estabelece-se: “A verdade está sempre em segundo plano, indireta, enredada como um segredo. Não se comprova e tampouco se registra. Não é colhida à superfície dos fenômenos. Ela se estabelece.” (2009, p. 67)

Em Manuela D’Ávila a mudança de discurso é evidente. Antes, furioso, hoje ela fala para o eleitor mediano e, como os outros candidatos, afirma que irá “cuidar das pessoas”6. Jean Baudrillard (1989) afirma que essa é

a crença na publicidade e não no objeto. “Todavia, sem “crer” neste produto, creio na publicidade que me quer fazer crer nele.” Ou, como Wolfgang Haug (1996, p.77) preconizou: a aparência descobre alguém, lê os desejos em seus olhos e mostra-os na superfície da mercadoria. Manuela muda imagem e discurso e cria um novo real.

A “mercadoria ocupou totalmente a vida social” (DEBORD, 1967: 30). Com o intuito de vender a “nova” Manuela percebe-se a total ausência de símbolos, como a foice, o martelo e o vermelho, numa clara tentativa de aproximar-se do eleitor médio. Esse cenário fica evidente na imagem fotográfica da Página 10 de Zero Hora de 29 de setembro em que a candidata aparece no comício e a cor predominante é o lilás. O vermelho e a foice, símbolos do PC do B inexistem na imagem. O PDT de Fortunati, mais uma vez prioriza a capital com uma faixa “Por amor a Porto Alegre”.

5 Pilcha é uma indumentária gaúcha tradicional utilizada por homens e mulheres. Constitui-se basicamente de bombacha,

camisa, lenço e bota.

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Fonte 5: Jornal Zero Hora/ 29 de setembro de 2012

Nas eleições municipais para prefeitura de São Paulo no ano de 2012 a religião roubou a cena do debate político. Se antes as convicções religiosas diziam respeito à esfera privada dos grupos e indivíduos, ou mesmo ainda, o tema era restrito à peregrinação de candidatos em busca de apoio dos fieis, de qualquer que fosse a religião, nessa disputa verificou-se uma midiatização e espetacularização do assunto. A religião tornou-se de-bate da esfera pública. Para Jürgen Habermas (2003 a), a esfera pública seria a esfera de legitimação do poder público:

Esses juízos interditados são chamados de “públicos” em vista de uma esfera pública que, indubitavelmente, tinha sido considerada uma esfera de poder público, mas que agora se dissociava deste como o fórum para onde se dirigiam as pessoas privadas a fim de obrigar o poder público a se legitimar perante a opinião pública. O pu-blicum se transforma em público, o subjectum em sujeito, o destinatário da autoridade em seu contraente. (p. 40) Ainda para Habermas (2003 a, p. 103), o modelo inicial tratava da esfera privada composta pelo espaço ín-timo da família e pela sociedade civil burguesa, atrelada ao trabalho e a troca de mercadorias; a esfera pública, que era composta por uma esfera pública política e uma esfera pública literária da qual a primeira se originava. Dessa maneira, a esfera pública política teria a função fundamental de, através da opinião pública, intermediar as relações entre o Estado e as necessidades da sociedade. Ambas as esferas seriam garantidas pelos direitos fundamentais, porque através destes estaria assegurada a autonomia privada, principalmente da família e pro-priedade, as instituições públicas como partidos, a imprensa, as funções políticas e econômicas do cidadão e, ainda, as funções relacionadas à capacidade de comunicação dos indivíduos enquanto seres humanos, como exemplo, o princípio de inviolabilidade de correspondência.

Mas os candidatos na busca pelo apoio buscaram negociações diretas e declarações formais às suas can-didaturas. O que se passa é uma mudança na definição do que seja política ou religião. De um lado, os limites do político extrapolam o estado, o que atesta a insuficiência do neutralismo e da separação entre igreja e es-tado para disciplinar a relação religião/política. Também não faltaram ânimos acirrados. Russomanno se filiou ao PRB em 2011 para disputar a Prefeitura de São Paulo, depois de deixar o Partido Progressista (PP). Manteve um programa de televisão em que falava diretamente ao consumidor e se auto-intitulou seu defensor. Mantinha uma forte ligação com o eleitor, desde muito antes da campanha municipal 2012. A cultura do consumo

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ce satisfações falsas e necessidades reais geradas pelo poder subjetivo da sociedade moderna e também pela incapacidade das relações nessa sociedade. As necessidades por sua vez tornam-se falsas quando vivenciadas como necessidades de mais mercadorias e não de menos alienação. Como diz Wolfgang Haug (1996), uma série de imagens é imposta ao indivíduo, como espelhos, aparentemente empática e traz seus segredos para a superfície e ali os mostra. Essas imagens mostram constantemente para as pessoas os aspectos de suas vidas não realizados. A ilusão promete satisfação: lê desejo nos olhos das pessoas e traz para a superfície da mercadoria. Celso Russomanno intitulou-se nosso defensor como se precisássemos de verdade de um defensor. Criou uma necessidade.

Tendo sido fundado em 2003, por partidários do ex-vice-presidente do Brasil José de Alencar, o PRB já tinha parceria firmada com a IURD: todos os deputados ligados a essa igreja migraram para o partido desde o creden-ciamento, e levou à eleição, em 2008, do bispo Marcelo Crivella (PRB/RJ) como o seu primeiro Senador. O PRB ficou conhecido como o braço político da IURD. Um dos nomes que apareceram frequentemente na campanha 2012 foi o de Marcos Pereira, presidente nacional da sigla, ex-executivo da Record e bispo licenciado. Um post publicado em seu blog, em maio de 2011, motivou o capítulo mais tenso da “Guerra Santa” em São Paulo. O texto criticava o então Ministro da Educação Fernando Haddad e seu projeto do “kit anti-homofobia” (que ficou conhecido como “kit-gay”) para as escolas e também recriminava a Igreja Católica por ter apoiado tal projeto e por influenciar o ensino público. O artigo voltou a circular pela internet logo no início da campanha eleitoral. Esse fato originou uma nota em setembro de 2012, em que a Igreja Católica declarava somente então ter tido conhecimento sobre o texto. Na nota, a Igreja acusa Pereira de promover intolerância religiosa e acrescenta a acusação de ser o PRB “manifestadamente” ligado à IURD.

Some-se a isso a liderança nas intenções de voto de Russomanno durante todo o primeiro turno da disputa em São Paulo. Em pesquisa Datafolha divulgada no final de agosto, Russomanno já apareceu com 31% das intenções de voto, contra 22% de José Serra (PSDB) e 14% de Fernando Haddad (PT). Esses números transfor-maram a polarização paulistana PT vs. PSDB em Russomanno vs. Serra/Haddad. Russomanno passou a ser apresentado como “o” candidato da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), com compromissos com esse grupo. Unido ao apoio de uma grande corrente evangélica o crescimento do candidato do PRB foi diretamente associado à sua escalada nas pesquisas.

Sua ligação com a Universal proporcionou uma espetacularização do tema religioso. O candidato foi cons-tantemente questionado sobre o assunto, em algumas ocasiões mostrando irritação. Há de se ressaltar uma cena complexa em torno do debate da religião no cenário político de São Paulo. A força política da IURD, que estabeleceu metas políticas claras no cenário brasileiro, fazendo até mesmo com que a Igreja Católica entras-se na “guerra,” demonstra uma midiatização do cenário que até então era relegada à entras-segundo plano. Por um lado, à postura e deslocamento do lugar dos partidos políticos, que na busca de votos adaptam seus discursos para atingir o maior número de adeptos, das mais variadas classes sociais, se aproximam do centro político do

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eixo ideológico. Por outro lado, o eleitor busca a diferença nas personalidades políticas, através de posturas diferenciadas, e das características pessoais dos candidatos. Nesse contexto, parece que um dos fundamentos da democracia moderna, a separação entre a Igreja e o Estado e a garantia de que o exercício da cidadania política independe das crenças religiosas de cada um, foi esquecido. Em contrapartida, o Estado deveria garantir a imparcialidade no trato com as diferentes Igrejas e a liberdade religiosa. A política deixou de ser feita somente por políticos e passou a ser uma atividade que se faz em espaços institucionais. A religião passou a fazer parte do sistema político ajustando-se às demandas dos meios de comunicação.

Hoje, espetáculo, mercadoria e capitalismo estão ligados. Neste caso, o espetáculo impõe a expressão de uma situação histórica em que a mercadoria parece ter tomado totalmente a vida social. Nesta nova perspectiva, a fotografia rompe os conceitos – antes unificados – de real e representação. Tal cisão, consumada na con-temporaneidade, inaugura a possibilidade da sociedade do espetáculo. “Nela, as imagens passam a ter lugar privilegiado no âmbito das representações” (RUBIM, 2002, p. 2). A fotografia tem um papel fundamental nesse processo. Mesmo não representando o real, ela fabrica mundos que nós consumimos incessantemente. E, a partir daí, elegemos os governantes.

Nas campanhas, os partidos, situados em seu papel “secundário”, apresentam suas “personalidades”, por vezes transfiguradas através do marketing de imagem para que apareçam da maneira mais adequada aos ideais dos eleitores. A estratégia da comunicação pela imagem, da linguagem da sedução das mensagens publicitárias do mercado de consumo é, a partir da década de 80, aplicada estrategicamente e de maneira particular à comuni-cação política. Neste sentido, o eleitor assume um lugar de consumidor de imagens que por meio da subjetividade seduzem, provocam, emocionam. O discurso político segue a tendência do discurso publicitário impetrando o elo de identificação com o eleitor através do apelo emocional. Entra em declínio a atividade política tradicional, o engajamento direto através de partidos e entram em cena as “personalidades”, as “estrelas” do show da política de imagem. Fernando Haddad (PT) passou a maior parte do pleito eleitoral em terceiro lugar. Celso Russomanno (PRB) manteve a primeira colocação em boa parte do primeiro turno, vindo a cair somente na última semana de campanha. Para Haddad, até este momento, ficou o papel de coadjuvante. A Folha de São Paulo noticiava em 5 de setembro de 2012 que a busca do eleitor era por um “anti-kassab” e que o candidato do PRB seria a alternativa. Nesse período Celso Russomanno aparecia com 35% das intenções de voto, José Serra (PSDB) com 21% e Fernan-do Haddad, terceiro colocaFernan-do com 16%. Dezenove pontos o separavam Fernan-do primeiro colocaFernan-do.

Em 14 de setembro, a Igreja Católica manifesta-se pela primeira vez e faz um “duro ataque” à campanha de Celso Russomanno, conforme informa o jornal. Em nota, a Arquidiocese de São Paulo declarou que uma eventual vitória do candidato do PRB seria uma “ameaça à democracia”. “Se já fomentam discórdia, ataques e ofensas sem o poder, o que esperar se o conquistarem pelo voto? É para pensar.”, dizia a nota. A nota seria uma resposta da Arquidiocese ao texto do bispo e coordenador da campanha de Celso Russomanno Marcelo Pereira, no qual ele criticava o kit anti-homofobia proposto pelo candidato do PT, Fernando Haddad, enquanto

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tro da Educação. Mesmo com matéria na mesma página afirmando que “Engajamento religioso não alavanca candidatos em SP”, no dia seguinte, a Folha abre espaço para Russomanno, que diz ser “alvo de jogo sujo”. As emoções extrapolam o campo político. As emoções devem ser entendidas como resultado de interações sociais e entendimentos culturais e que, ao trazerem para os discursos os desejos e histórias de vida, elas possuem uma chance maior de criar conexão com os outros. A religião faz parte dos entendimentos culturais, portanto, pode não alavancar candidato, mas o torna mais próximo do cotidiano extra-palanque. A Igreja torna-se um espaço de discussões, como se fosse um debate preparado por um canal de televisão.

Com Celso Russomanno fora do segundo turno, Haddad chama para si o papel de protagonista da campa-nha. A imagem do ex-presidente Lula segue associada ao candidato, que a partir de agora conta com a asso-ciação de imagem à presidente Dilma Rousseff. Haddad evidencia sua postura de pai de família, enquanto José Serra insiste na imagem mais jovem. O político-produto apresentado ao eleitorado deve buscar encontrar os anseios das massas ou o segmento alvo que muitas vezes têm base nas relações entre insegurança e narcisismo (LASCH, 1986) e colocam o político como um herói.

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