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O HOMEM E A TERRA: O USO E A OCUPAÇÃO DE NEOSSOLOS QUARTZARÊNICOS (RQ) EM SERRANÓPOLIS-GO, BRASIL

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Academic year: 2021

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O HOMEM E A TERRA: O USO E A OCUPAÇÃO DE NEOSSOLOS

QUARTZARÊNICOS (RQ) EM SERRANÓPOLIS-GO, BRASIL

Dimas Moraes Peixinho; Iraci Scopel; Marluce Silva Sousa

Universidade Federal de Goiás

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás

dimaspeixinho@yahoo.com.br; iraciscopel@gmail.com; mss_geo@hotmail.com

1 - INTRODUÇÃO

O Cerrado brasileiro atravessou diferentes fases em sua formação e transformação e revela, por meio de sua configuração atual, as marcas dos processos passados. Abrigando uma vegetação muito antiga, relicto das amplas paisagens dominadas por cerrados representantes do período mais seco da última glaciação quaternária, o Cerrado é considerado a especificidade brasileira da zona mundial das savanas. A apropriação deste conjunto morfoclimático e fitogeográfico característico de cerca de 2 milhões de Km² no centro do Brasil também é antiga. O Cerrado foi ocupado por grupos indígenas há milênios; no período do Brasil colônia explorou a mineração, depois a pecuária extensiva; posteriormente passou pela chamada “modernização agropecuária” e hoje constitui um dos pólos mais avançados no setor agropecuário e agroindustrial do país, destacando-se a produção de soja. Estas fases de apropriação constituem parte de processos sociais (políticos, econômicos, culturais) que, a partir da relação sociedade/natureza, modificam a ocupação do sudoeste do estado espaço e estabelecem novos arranjos espaciais e novas funções e formas para a paisagem.

Este trabalho pretende tratar, sinteticamente, sobre o processo histórico de apropriação no Cerrado brasileiro, especialmente em áreas frágeis com Neossolos Quartzarênicos, que determinou a transformação da paisagem natural e a alteração dos processos naturais ou físico-ecológicos, gerando impactos como a arenização/desertificação, bem como alternativas que estão sendo desenvolvidas para a reabilitação ou recuperação de algumas destas áreas.

A área de pesquisa é o município de Serranópolis, no sudoeste do estado de Goiás (Figura 1), cuja população é de cerca de 8 mil habitantes, numa área de aproximadamente 5.500 km² com as seguintes características predominantes: presença de arenitos, especialmente Botucatu (Juro-cretáceo) em chapadas penetradas por depressões de relevo suave-ondulado a ondulado, sobre os quais aparecem solos arenosos, sendo os Latossolos de textura média e os Neossolos

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2 Quartzarênicos os predominantes em 90% da área do municípios. A agricultura predomina nas raras chapadas de solos argilosos, enquanto a pecuária, resquícios de vegetação de cerrado florestal, arbustivo e campestre, bem como lavoura de cana-de-açúcar, dividem as áreas muito frágeis de solos arenosos e vertentes de alta declividade.

Figura 1 – Localização da área de pesquisa no Cerrado brasileiro.

O processo de degradação em forma de areais, objeto principal deste trabalho, predomina em áreas nas pastagens, entretanto são mais intensos em áreas que foram cultivadas com cana-de-açúcar e, posteriormente, implantadas pastagens sem manejo conservacionista.

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2 – A APROPRIAÇÃO DO CERRADO E AS TRANSFORMAÇÕES ESPACIAIS

A ocupação humana na área do Cerrado e no sudoeste de Goiás remonta há cerca de 11000 anos, quando a área nuclear de Serranópolis foi ocupada por povos autóctones, chamados pelos brancos de indígenas. Existem vários sítios arqueológicos nesta região. O domínio técnico dos grupos autóctones não era suficientemente capaz de promover uma modificação substancial na paisagem natural em razão da escassez de instrumentos artificiais, caracterizando o chamado “meio natural” (SANTOS; SILVEIRA, 2002). Era, antes, uma forma de adaptação ao meio buscando a sobrevivência.

Os povos autóctones viveram na região, ainda que pouco se saiba sobre sua cultura, até o século XVIII, quando a ocupação recente do Cerrado, pelos colonizadores portugueses, processou-se a partir da economia mineradora. Já no período da mineração, a necessidade de abastecimento das regiões mineiras incentivou a entrada de pecuaristas.

Mas foram os processos econômicos que ocorreram no Cerrado a partir de 1970 os responsáveis pela transformação drástica da paisagem do Cerrado brasileiro e do sudoeste de Goiás. Isso foi resultado da criação de políticas públicas de fomento para a agricultura brasileira, com contribuição fundamental de recursos públicos, como políticas de crédito rural, extensão, pesquisa e política de seguro; o desenvolvimento da infra-estrutura de transporte, principalmente o rodoviário, que facilitou o escoamento da produção regional; a diversificação da pauta de exportação; a adaptação de variedades de plantas para as condições de clima e solos no Cerrado; mudança no padrão alimentar da população, como a substituição do consumo de gordura de porco pelo consumo de óleos vegetais, principalmente de soja, etc. (FERREIRA, 2001).

Em decorrência desse processo verificou-se a ampliação da área plantada e da produção regional, introdução de novas culturas, migração de agricultores experientes com o uso de tecnologias avançadas, instalação de agroindústrias e projetos agropecuários, melhoria na infra-estrutura regional e instalação de centros de pesquisas na região para desenvolvimento de tecnologias adaptadas às condições de solo e clima regionais. O aumento populacional, a urbanização e os problemas ambientais também são resultantes deste processo. O índice de pressão antrópica, nas áreas de Cerrado, quadruplicou nas três últimas décadas.

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3 – OS PROBLEMAS AMBIENTIAIS

Este processo de transformação recente, também chamado de modernização da agricultura, representou um processo altamente impactante em toda a área do Cerrado brasileiro, modificando a dinâmica da paisagem: diminuição ou quase extinção da fauna e da flora, degradação em áreas de mineração, assoreamento e diminuição do volume dos cursos d’água e o processos de arenização/desertificação, como poder ser observado na figura abaixo:

Figura 2 – Áreas degradadas em Neossolos Quartzarênicos: areais e voçoroca.

O município de Serranópolis apresenta áreas muito frágeis, caracterizadas pela presença de arenito friável, vertentes muito longas e com médios e altos valores de declividade e, principalmente, Neossolos Quartzarênicos. Estes, têm grande capacidade de infiltração e movimentação da água em subsuperfície, assim como de lixiviação; baixa retenção de umidade e deficiência de água; baixa fertilidade natural (distróficos) e alta saturação por alumínio; baixos teores de matéria orgânica; desgaste rápido com o uso agrícola; alta suscetibilidade à erosão e excessiva desagregação (friabilidade). Portanto, são solos considerados frágeis, cujo manejo inspira cuidados e práticas conservacionistas.

Todavia, seja pela falta de conhecimento, de interesse, de capital ou pela ânsia de lucro imediato, as práticas nestas áreas têm sido o oposto do que deveriam ser. Por serem, em geral, inaptas à agricultura, muitos produtores desmatam para vender a madeira e abandonam a áreas, deixando o solo exposto aos processos erosivos. Outros, utilizam a terra de modo intensivo, aplicando uma pressão de pastejo acima da capacidade de suporte das pastagens, degradando-as de modo acelerado.

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4 – USO DE TERRAS FRÁGEIS E REABILITAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

EM SOLOS ARENOSOS

A Universidade Federal de Goiás (UFG) tem desenvolvido projetos para caracterizar, mapear e diagnosticar as áreas degradadas, realizando também experimentos visando às sua recuperação ou reabilitação no município de Serranópolis. Na figura abaixo, uma área degradada com experimento de culturas anuais (arroz, milho, soja, sorgo), cana-de-açúcar, cobertura do solo e pastagem, sob vários tratamentos agronômicos.

Figura 3 – Experimento em áreas degradadas sobre Neossolos Quartzarênicos no município de Serranópolis.

Os experimentos mostram que muitas áreas são tecnicamente não indicadas para o uso com agricultura, não só devido ao baixíssimo rendimento de culturas anuais, como ao elevado custo de produção. Com isso, aponta-se para a necessidade de conservação da vegetação de cerrado original.

Todavia, pelo conhecimento sócio-econômico da área, sabe-se que muitos proprietários precisam utilizar economicamente as áreas, de onde tiram sua sobrevivência. Neste sentido, procura apontar as alternativas para a utilização da terra nestas áreas, seja em áreas de dasmatamento recente, mas que apresentam grande potencial para degradação, assim como áreas já degradadas. No que se refere a este último caso, a recuperação das áreas pode ser inviável, desejando-se a reabilitação das mesmas.

4.1 Alternativas dos produtores locais

Visitas foram realizadas e questionários e entrevistas aplicados aos produtores rurais, com pequenas, médias e grandes propriedades, capitalizados ou não, pecuaristas e agricultores da região de áreas degradadas em Serranópolis. Muitos

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6 deles estão desenvolvendo técnicas que possibilitaram a melhoria da qualidade da terra, do solo e das pastagens e a reabilitação de áreas degradadas.

Abaixo se pontuam algumas destas técnicas e os seus resultados:

a) Uso de adubação química e calagem

Os solos do Cerrado são bastante profundos e intemperizados, apresentando deficiência de nutrientes (Ca, Mg, K, P, etc) para o desenvolvimento de pastagens e agricultura. Além disso, em geral são ácidos e contém um baixo teor de matéria orgânica. Os solos arenosos possuem estas características ainda mais acentuadas e, quando degradados por atividades antrópicas e manejo inadequado, não oferecem suporte para o desenvolvimento das plantas.

A adubação química convencional e a calagem do solo para diminuir sua acidez (elevado pH) é bastante utilizada em áreas de solos argilosos e relevo plano, ocupada com agricultura. Ela repõe os nutrientes necessários ao bom desenvolvimento das plantas. Já nas áreas de solos arenosos, relevo suave-ondulado a ondulado e com pastagens, a adubação convencional e a calagem são pouco utilizadas, embora apresentem ótimos resultados. Esta técnica apresentada elevado valor, o qual não pode ser arcado pela maioria dos produtores rurais de Serranópolis e, em solos arenosos, devido à elevada taxa de lixiviação, é necessário um frequência de aplicação maior, o que aumenta ainda mais o seu custo. Esse processo provoca um empobrecimento nos produtores, pois com o aumento da degradação, os seus rendimentos são reduzidos, e ao mesmo tempo, requer um maior investimento para recuperar as condições de produção.

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7 b) Uso de adubo orgânico

Como alternativa ao uso de adubação convencional, tem-se usado o adubo orgânico, cujo custo é menor. A matéria orgânica melhora a qualidade do solo, atuando:

- em sua biologia, alimentando os microorganismos, que desempenham papel importante na nutrição das plantas;

- em suas características físicas, pois ela auxilia na agregação, na permeabilidade, na porosidade e na retenção de água e,

- em sua qualidade química, uma vez que a matéria orgânica tem nutrientes e alta CTC que, por sua vez, atua na adsorção dos nutrientes.

Desse modo, a utilização sustentável dos solos arenosos no Cerrado e das áreas degradas passa, certamente, pelo aumento e reposição da matéria orgânica do solo através da aplicação de adubo orgânico, conhecido como “cama de frango”, que são os dejetos de aviários muito comuns na região. Os proprietários tem utilizado muito e com bons resultados.

c) Consórcio braquiária e estilosante

É uma tecnologia desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) que tem sido largamente incorporada como alternativa de recuperação de pastagens no Cerrado. As diferentes espécies de braquiárias, gramíneas de origem africana, de excelente adaptação nos solos pobres em nutrientes do Cerrado e os estilosantes SSP são leguminosas originárias da América Central e do Sul. Os dois podem ser plantados juntos ou o estilosante semeado na pastagem já formada. O estilosante é bem aceito pelo gado e tem alto teor de proteínas, além disso ele fixa nitrogênio (média de 150 a 180kg/ ha/ano), o que colabora para o desenvolvimento da gramínea.

Tanto para áreas onde foi retirada a vegetação recentemente e incorporado o consórcio, como para áreas utilizadas há muitos anos, degradadas, esta parece ter sido a técnica de cobertura da terra para a atividade pecuária mais barata e com melhores resultados. A otimização no uso desse consórcio está na adaptação dessas plantas às condições dos solos arenosos.

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Figura 5 – Consórcio de braquiária com estilosante em áreas de solos arenosos degradados.

d) Manejo de pastagens

O manejo adequado das áreas frágeis ou degradadas é imprescindível para o seu uso. Uma vez que a maior parte destas áreas está sendo utilizada com pastagem, o estabelecimento de parcelas de terra, chamados de piquetes, e a rotação das pastagens têm sido utilizados por muitos produtores. O custo refere-se à elaboração de manutenção de cercas convencionais ou elétricas. A rotação das pastagens permite o “descanso” dos pastos e é preemente observar a sua capacidade de suporte para evitar a degradação por superpastoreio, sendo recomendável 1 cabeça a cada 2 ha.

5 – CONCLUSÕES

Os processos econômicos recentes, da chamada modernização da agricultura, atingiram o Cerrado nas últimas décadas e promoveram impactos, alguns deles negativos.

A indicação de uso da terra para as áreas potencialmente frágeis em Serranópolis é para preservação da fauna e flora do Cerrado.

Para as áreas já degradadas, é necessário um esforço de recuperação ou reabilitação, seja para também preservar ou para utilizar com manejo conservacionista. Algumas práticas têm se mostrado tecnicamente e economicamente viáveis para muitos proprietários e, quando utilizadas em conjunto apresentam ainda melhor resultado. Por exemplo: adubação orgânica, pastagem com braquiária e estilosante e manejo das pastagens. Essas práticas podem alterar a tendência de saída do campo em função do processo de empobrecimento dos produtores e do aceleramento da degradação ambiental nas áreas do Cerrado.

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6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Ferreira, D. F. Análise das transformações recentes na atividade agrícola da região Sudoeste de Goiás, 1970/1995-96. Uberlândia: UFU, 2001. 145 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Econômico). Universidade Federal de Uberlândia, 2001.

Santos, M.; Silveira, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2001.

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