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REALIDADE, POSSIBILIDADE OU ILUSÃO?

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Academic year: 2021

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REALIDADE, POSSIBILIDADE OU ILUSÃO?

Um olhar sobre as aprendizagens da Comunidade Educacional de Escolas Públicas a partir da Avaliação Institucional Participativa

Introdução

O tema Avaliação Institucional Participativa, vem ganhando espaço nas discussões de educadores, tanto na academia quanto em redes públicas de ensino.

Num cenário mundial de forte influência neoliberal, sobre as estruturas públicas e num palco nacional pós ditadura, essas discussões fazem mais sentido. Dessa perspectiva, nos sustentamos em Silva (1996), que aponta:

[...] a estratégia neoliberal de deslocar a educação pública para a esfera do mercado depende de um sistema de classificação (ranking) das escolas que, por sua vez, depende de um sistema nacional e centralizado de testagem e avaliação, o qual, finalmente, depende do estabelecimento de currículos e padrões nacionais. (SILVA, 1996, p. 132)

Observando a trajetória das experiências de Avaliação Institucional Participativa iniciadas no âmbito da Educação Superior e experimentada na Educação Básica Pública da Rede Municipal de Campinas em seu Ensino Fundamental, com normatização a partir de 2008, a presente pesquisa, iniciada em 2014, delimitada territorialmente nesse município, pretende imergir na literatura disponível e avançar qualitativamente, investigando escolas públicas pertencentes às duas redes públicas atuantes nessa cidade, municipal e estadual, buscando elementos que permitam discutir sobre as aprendizagens reais ou possíveis da comunidade educacional de escolas públicas, quando de sua participação em processos de responsabilização partilhada.

Investigação que considerará as aprendizagens dos alunos, referenciadas na proficiência expectada em avaliações internas e externas e continuará para além delas, buscando aprendizagens dos diferentes atores que, de alguma forma possam qualificar a educação e a escola. Aprendizagens que poderão, ou não, afetar o fazer docente, sua atuação político-pedagógica e, como numa rede de múltiplos fios entremeados e conectados, refletir-se nas aprendizagens dos alunos, razão de existência da escola.

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Para contribuir com essas colocações, trazemos ao diálogo, Freitas (2009), que nos sinaliza a urgência da reflexão sobre a avaliação:

A avaliação deve estar a serviço de uma qualidade que aponte para um outro futuro mais fraterno, mas exatamente por isso, esta avaliação deve cuidar do presente. Como defender as crianças das consequências de uma escola que convive harmonicamente com resultados pífios do trabalho pedagógico que executa? (FREITAS et al., 42, 2009)

Proposta, a nosso ver, ousada e necessária, uma vez que objetiva contribuir com o aprimoramento dos processos de avaliação institucional de cunho democrático e de responsabilização partilhada.

As perguntas que nos instigam a pesquisar

Considerando a complexidade da educação escolar, em especial na Educação Básica, permeada por relações de poder, pelos processos de democratização da educação e da gestão educacional, pela busca de uma qualidade social que alce status de formação ampla de seus alunos, que considere a proficiência discente - ainda não alcançada – e que avance para uma matriz mais formativa, surge a necessidade de se pensar e de se pesquisar a Avaliação Institucional Participativa numa perspectiva de responsabilização partilhada, onde está e onde não está constituída, buscando possíveis respostas para perguntas que emergem do nosso olhar sobre o cotidiano e se apresentam, cada vez mais, com maior potência.

Em que realmente a Avaliação Institucional Participativa pode contribuir para com as aprendizagens dos alunos? E com as aprendizagens da Comunidade Educacional? De que aprendizagens estamos falando? O que essas reais ou possíveis aprendizagens tem a ver com o que se espera da Educação Escolar como direito e bem social em oposição à idéia dessa mesma educação como bem de consumo e, por isso, direito de quem pode comprá-la?

Estaríamos transitando pelo reino da realidade, das possibilidades ou da ilusão ao pensarmos em aprendizagens advindas de processos avaliativos de responsabilização partilhada?

Em que essas aprendizagens afetam ou podem afetar o fazer político-pedagógico do docente e, como isso está se refletindo ou pode refletir, nas múltiplas aprendizagens dos alunos?

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São essas algumas das instigantes perguntas que nos provocam a olhar, com afinco e insistência, sobre a realidade de escolas públicas. Questões que pretendem ganhar espaço na busca por possíveis respostas, no desenvolvimento dessa pesquisa.

Acreditamos que os processos de avaliação participativa na perspectiva da responsabilização partilhada, que visam à qualificação da escola, do fazer docente e das aprendizagens discentes podem promover, ainda, outras aprendizagens nos diferentes segmentos que atuam nesse tipo de processo, ligadas ao trabalho coletivo, à ação para a inclusão ampla dos alunos no universo do conhecimento e à qualificação da própria capacidade de participar.

Essas hipóteses serão confirmadas, como realidade ou como possibilidade, nas escolas municipais investigadas ou serão refutadas, na observação dessas mesmas escolas cotejadas às escolas da rede estadual que, como premissa, não possuem ainda, este investimento como política pública, de implementação de processos avaliativos de responsabilização partilhada.

Os propósitos que justificam pesquisar aprendizagens da Comunidade Educacional em contextos de Avaliação Institucional Participativa

Uma boa avaliação Institucional terá consequências positivas para o nível da avaliação da aprendizagem em sala de aula, cuja prática é de responsabilidade da professora. [...] Espera-se que o coletivo escolar, parceiro, possa ser o local para a análise das dificuldades dos professores com seus alunos, em busca de reflexões que contribuam para a prática pedagógica de cada professor. (FREITAS et al., pp.44-45, 2009)

Provocados por Freitas, observamos que no campo da Educação Escolar, a Avaliação Institucional Participativa tem avançado, mas avançado pouco. Na Educação Básica tem avançado menos e, como são poucas as experiências nacionais observadas em redes públicas de Educação Básica, urge enfrentarmos essa questão, uma vez que não entendemos ser coerente com os princípios da educação aqui anunciados, retardar os processos de Avaliação Institucional Participativa nas escolas públicas de educação básica. Como nos alerta Sordi, Souza, [...] Importa começar e para isso são bem vindas todas as experiências de avaliação institucional que assumam os princípios da participação e da emancipação. (2009, pp10-11)

No município de Campinas, no estado de São Paulo, desenvolve-se uma experiência que, guardadas suas singularidades, pode contribuir com os esforços de

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outras agências de Educação Pública para a elaboração e implementação de Políticas Públicas Educacionais que sejam norteadas pelos princípios da democratização e da responsabilização partilhada, que conduzam a uma educação pública com qualidade social.

Essa mesma experiência, pesquisada, pode contribuir com a própria política de avaliação na e da educação do município de Campinas, uma vez que ao olhar para seus entraves, resistências, avanços, equívocos e contradições, intentaremos evidenciar as reais ou possíveis aprendizagens da comunidade educacional – ou mesmo as não aprendizagens - quando da atuação em processos avaliativos de responsabilidade partilhada. Para corroborar nossa justificativa, recorremos à Sordi (2009):

Avaliar a avaliação que fazemos da escola e de seu projeto educativo é questão de interesse público e que exige transparência valorativa, para firmar um pacto de qualidade negociada (Bondioli, 2004, Freitas; Sordi; Malavasi; Fretas,2004) capaz de orientar os múltiplos atores envolvidos no processo de qualificação do ensino em que se engajaram. (SORDI, SOUZA, p.4, 2009)

Trata a pesquisa, em menor ou maior medida, de um elemento para “a avaliação da avaliação” com possibilidades de ser considerada, a fim de se confirmar ou de se redefinir os rumos dessa política, a partir das relações sinalizadas entre esse processo avaliativo e as aprendizagens dos diferentes seus atores.

Caminhando por essas reflexões, pretendemos entrar em campo para observação e levantamento de dados em duas unidades educacionais municipais que tenham os processos avaliativos de responsabilização partilhada em construção e, em duas unidades educacionais da rede estadual de educação do mesmo município, situadas, preferencialmente nos mesmos bairros das escolas anteriormente citadas, a fim de se estabelecer cotejamentos entre as aprendizagens da comunidade educacional em unidades em que há e naquelas em que não há processos avaliativos de responsabilização partilhada em curso.

Dessa perspectiva, nos propomos investigar e discutir em que realmente a Avaliação Institucional Participativa pode contribuir para com as aprendizagens dos alunos e da Comunidade Educacional de escolas públicas, em especial dos professores, identificando reais ou possíveis aprendizagens num contexto de formação ampla da pessoa.

Para tanto, entendemos que será necessário:

- identificar, descrever e discutir o universo possível de aprendizagens da Comunidade Educacional de escolas públicas;

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- relacionar essas aprendizagens à concepção de educação como bem social;

- relacionar essas aprendizagens aos sentidos de participação e investigar a qualidade dessa participação;

- relacionar as aprendizagens à inclusão, em seu sentido mais amplo;

- relacionar as aprendizagens às ações dos atores da Comunidade Educacional na busca pela qualificação da educação desenvolvida na escola e das aprendizagens de seus alunos, tanto quanto à proficiência quanto à formação humana ampla pra a convivência comunitária e social.

- sinalizar possibilidades para que as potenciais aprendizagens possam se constituir em reais aprendizagens.

- identificar reais ou potenciais aprendizagens dos docentes, relacionando-as ao seu fazer político-pedagógico e seus reflexos nas aprendizagens dos alunos, como elemento fundamental da qualidade social da educação.

Nesse sentido é que buscamos nos amparar na literatura atual para analisar e interpretar os dados coletados durante as investigações.

Andando pelos caminhos da literatura

Pensar a escola a partir da própria escola é recolocar ao atores em situação de protagonismo, assumir sua condição cidadã de posicionamento no processo decisório que afeta a vida da instituição, dar-lhes fala governante sobre seus processos e contextos. (SORDI, SOUZA, p.4, 2009)

A primeira discussão dessa pesquisa precisa trazer os conceitos de avaliação, avaliação institucional e de participação para se chegar ao diálogo sobre a Avaliação Institucional Participativa. Sustentar-nos-emos em autores que têm se dedicado à pesquisa e discussão da questão como AFONSO, BONDIOLI, CANÁRIO, FREITAS, SORDI, MALAVASI, dentre outros.

Outra construção necessária será a retomada da trajetória histórica do que se construiu em Avaliação Institucional Participativa até aqui, de forma mais introdutória em relação à Educação Superior e, de forma mais detida, nas construções acerca desses processos avaliativos na Educação Básica. Ainda, pertinente se fará a conversa com as concepções de Projeto Político Pedagógico uma vez que esse documento se constitui em objeto da Avaliação Institucional. Dessa perspectiva, trazemos à discussão, Silva(2010).

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[...] o projeto pedagógico não é uma peça burocrática e sim um instrumento de gestão e de compromisso político e pedagógico coletivo. Não é feito para ser mandado para alguém ou algum setor, mas sim para ser usado como referência para as lutas da escola.(SILVA, 2010)

Em continuidade ao presente estudo, trazemos para a pesquisa as discussões acerca dos coletivos educacionais e de sua importância nos processos de se pensar a escola, de dentro para fora.

[...] há muitas razões práticas, inúmeras razões políticas, e há inclusive, razões legais para avaliar a qualidade de nossas escolas. Mas, indubitavelmente, há razões éticas que determinam que estes processos de avaliação da qualidade não possam mais ser postergados. As crianças precisam de uma escola pública de boa qualidade. E a resposta a este chamamento social não pode prescindir da participação dos atores da escola. A saída é aprender a avaliar de uma modo que nos faça sentido e assim, desestabilizar a cultura avaliativa que nos desconforta, pela proposição de uma outra alternativa. (SORDI, SOUZA, p.4, 2009)

Ainda, face aos propósitos e interfaces anunciadas, entendemos como fundamental para o desenvolvimento da pesquisa que se dá no campo das relações educativas, práticas pedagógicas que se inspiram no ideal democrático participativo e refletem o espírito da avaliação a serviço das aprendizagens. Dessa perspectiva ganham realce duas dimensões: 1) Inclusão; 2) Participação.

Entendida a inclusão em seu sentido mais amplo, que extrapola a idéia de colocar aprendentes para dentro da escola, nos sustentamos em Sordi e Ludki para ressaltar que:

O direito à educação não pode ser confundido com o direito ao acesso à escola, traduzido pelo aumento das estatísticas desses alunos matriculados apenas. Este acesso precisa vir acompanhado do compromisso com a aprendizagem dos estudantes e com o seu direito de acesso ao conhecimento acumulado. (SORDI, LUDKI, in SORDI, SOUZA, p.27, 2009).

Incluídos e participantes, corresponsáveis pelo projeto político pedagógico que se tem nas mãos. Pensando a qualidade da participação como aprendizagem, retornamos às vozes das mesmas autoras, enriquecidas por Padilha:

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A aprendizagem da Avaliação Institucional implica aprender a participar, aprender a se vincular com o projeto coletivo [...] (SORDI,LUDKI, in SORDI, SOUZA, p.26, 2009).

A participação aumenta o grau de consciência política, reforça o controle e também revigora o grau de legitimidade do poder – serviço. Sabemos que quanto maior a participação na elaboração, maior a probabilidade de que as coisas planejadas venham de fato a acontecer. (PADILHA, 2002)

Certamente, no curso da investigação, outras vozes se somarão, na intenção de compreender melhor as aprendizagens daqueles e daquelas que protagonizam esses processos avaliativos.

Construindo os caminhos da pesquisa

Por onde caminhar? As perguntas e o universo da pesquisa aqui anunciados nos levam a planejar um caminho metodológico que contará com uma imersão bibliográfica, quando o pesquisador se debruçará sobre as dimensões etimológica, da literatura e históricas da Avaliação Institucional Participativa, avançando para o estudo dos documentos legais acerca da Avaliação Institucional nas Redes de Educação Municipal de Campinas e Estadual de São Paulo.

Em continuidade, serão objetos de pesquisa os documentos produzidos na unidade, com destaque para os Projetos Político Pedagógicos dessas escolas, dados de avaliações externas e de avaliações internas.

Em momento posterior, a pesquisa, qualitativa que é, avançará para as observações de campo dos espaços, das pessoas e dos espaços de exercício dos coletivos.

Ouvindo as diferentes vozes, a investigação se sustentará na elaboração e aplicação de questionários semiestruturados e entrevistas junto aos diferentes atores/autores dos processos de Avaliação Institucional Participativa, de forma que possamos identificar e interpretar as reais e as possíveis aprendizagens da comunidade educacional.

Destaque necessário se faz para as entrevistas com alunos e professores, buscando estabelecer relação entre as aprendizagens docentes, seu fazer político-pedagógico e as aprendizagens discentes.

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Para continuar o debate

Para deixar as portas abertas ao debate, concluímos entendendo ser este projeto de pesquisa uma proposta provocativa que pode contribuir para com as discussões e conduções das políticas públicas de avaliação, numa perspectiva de se equilibrar as diferentes dimensões da avaliação educacional de forma a se construir para a educação uma qualidade que esteja a serviço da emancipação e da formação ampla da pessoa e dos povos, já anunciada constitucionalmente e que espera concretização no fazer das escolas e dos sistemas educacionais.

Referências

FREITAS, Luiz Carlos de.

et al. Avaliação Educacional - Caminhando pela contramão.

Editora Vozes, Petrópolis, 2009.

PADILHA, Paulo Roberto. Planejamento dialógico: como construir o projeto político pedagógico da escola. 3ª edição. São Paulo: Cortez, 2002.

SILVA, Tomaz Tadeu . O projeto educacional da nova direita e a retórica da

qualidade total. In SILVA, Tomaz Tadeu; GENTILI, Pablo. Escola S. A

– quem

ganha e quem perde no mercado educacional do neoliberalismo.

Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação

– CNTE e

Organizadores, 1996.

SILVA. Janssen F. da . HOFFMANN. Jussara. ESTEBAN. Maria Teresa.

Práticas Avaliativas e aprendizagens significativas em diferentes áreas do

currículo, 8ª ed. Editora Mediação, Porto Alegre, 2010.

SORDI, Mara Regina; SOUSA, Eliana da Silva (orgs.). A avaliação como instância mediadora da qualidade da escola pública: a Rede Municipal de Campinas como espaço de aprendizagem. Secretaria Municipal de Educação. Campinas: Millenium Editora, 2009.

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