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Negligência e abandono de crianças e adolescentes: análise dos casos notificados em município do Paraná, Brasil

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Negligência e abandono de crianças e adolescentes: análise

dos casos notificados em município do Paraná, Brasil

Neglect and abandonment of children and teenagers: analysis

of notified cases in a county in Paraná, Brazil

Negligencia y abandono de la niños y adolescentes: análisis

de los casos comunicados en un municipio del Paraná, Brasil

Christine Baccarat de Godoy Martins

1

, Maria Helena Prado de Mello Jorge

2

1 Doutora em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Docente da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) – Cuiabá, Departamento de Enfermagem, Área Saúde da Criança e do Adolescente.

2 Livre-Docente da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Departamento de

Epidemiologia.

n

Artigo origiNAL

Resumo

Introdução: A negligência e abandono consti-tuem-se uma das formas mais frequentes de maus tratos. No entanto, seu conhecimento ainda está em processo de construção. Objetivo: Analisar as carac-terísticas da negligência/abandono contra menores de 15 anos residentes em Londrina, PR, cujo evento foi notificado aos Conselhos Tutelares e serviços de atendimento, em 2006. Método: Estudo transversal e descritivo, cujos dados foram processados pelo programa Epi Info. Resultados: Foram obtidos 308 casos, cuja notificação se deu, principalmente, por profissionais de saúde (67,2%). As vítimas do sexo feminino predominaram (72,7%) e maiores coefi-cientes foram aos 4 anos (13,8 e 5,0 por 1.000 no sexo feminino e masculino, respectivamente). Os agressores foram mãe (69,5%) e madrasta (22,2%). As questões da maternidade, ou seja, presença de filho não natural (32,8%) e a pouca idade da mãe (20,8%) foram as características mais asso-ciadas. As vítimas sofreram o abuso por 1 a 2 anos antes da notificação (62,7%). Conclusões: O estudo contribui para ampliar o conhecimento acerca da negligência e abandono praticada contra menores.

É preciso que os órgãos competentes trabalhem para a detecção precoce, a fim de possibilitar trata-mento e acompanhatrata-mento adequados que possam reduzir as importantes sequelas decorrentes.

Descritores: Negligência. Abandono. Maus-tratos.

Criança. Causas externas.

Abstract

Introduction: Neglect and abandonment are the most frequent forms of maltreatment. However, the knowledge of such is still being established. Objective: To analyze the characteristics of neglect/abandonment against minors under age 15 resident in Londrina, PR, the occurrence of which was notified to Tutelary Councils and attendance services, in 2006. Method: This study, transversal and descriptive, Data were processed by means of the Epi Info software. Results: 308 cases were obtained, which were mainly noti-fied by health professionals (67.2%). Female victims prevailed (72.7%) and highest coefficients were for the age of 4 (13.8 and 5.0 per 1,000 for female and male gender respectively). The aggressors were the mother (69.5%) and the stepmother (63.1%). Issues

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involving maternity (32.8%) and motherhood at young age (20.8%) were risk situations. Most of the victims had suffered abuse for 1-2 years prior to noti-fication (62.7%). Conclusions: The outcomes add to the knowledge of neglect and abandonment of children and teenagers. The competent authorities need work towards precocious detection in order to enable proper treatment and attendance of the victims as to reduce the devastating sequelae.

Keywords: Neglect. Abandonment. Maltreatment. Child. External causes.

Resumen

Introducción: La negligencia y abandono consti-tuyen una de las formas más frecuentes de malos tratos. Sin embargo, su conocimiento está en proceso de construcción. Objetivo: Estudiar las características de negligencia y abandono contra menores de 15 años, residentes en el municipio de Londrina - Pr, comuni-cados a los Consejos Tutelares y a programas de aten-ción, en 2006. Métodos: Diseño metodológico cuanti-tativo, cuyos datos fueron procesados electrónicamente a través del programa Epi Info. Resultados: Fueron estudiados 308 casos, cuya notificación ocurrió, con mayor frecuencia, por profesionales del salud (67,2%). Las víctimas del sexo femenino predominaron (72,7%) y la faja etaria de mayor riesgo fue la de 4 años (13,8por 1.000 en lo sexo femenino y 5,0 por 1.000 en lo sexo masculino). Los agresores más frecuentes fueron la madre (69,5%) y la madrastra (22,2%). Los conflictos maternales en decurrencia de hijos no naturales (32,8%) y la edad reducida de la madre (20,8%) fueron las características más frecuente. Las víctimas amargaran el abuso por 1 a 2 años antes de la notificación (62,7%). Conclusiones: Los resultados contribuyen para ampliar el conocimiento epidemi-ológico de negligencia e abandono contra menores de 15 años. Ha exigido que los órganos competentes desar-rollo de estrategias y políticas para su detección, para que posan romper las cadenas de determinación, con tratamiento y profilaxis de las consecuencias.

Palavras-clave: Negligencia. Abandono. Malos tratos. Niño. Causas externas.

Introdução

A negligência e o abandono, definidos pela omissão de cuidados e de atendimento às necessi-dades físicas e emocionais da criança1-3, juntamente

com outros maus-tratos, vêm alarmando diversos setores da sociedade por seus crescentes índices e pelas lesões e traumas decorrentes4, tanto na esfera física (desde pequenas cicatrizes até danos cere-brais permanentes, inclusive a morte), como nas esferas psicológica (baixa auto-estima, desordens psíquicas graves), cognitiva (deficiência de atenção, distúrbios de aprendizado, distúrbios orgânicos cerebrais graves), emocional e comportamental (dificuldade de estabelecer relações interpessoais, comportamentos suicidas e criminosos)5-7, que podem se manifestar a curto, médio e longo prazo8. Neste sentido, é preciso destacar não somente as consequências físicas da negligência e do abandono, mas sua importante repercussão biopsicossocial9.

Há que se considerar, ainda neste contexto, não apenas a negligência praticada no âmbito fami-liar, mas também a negligência estrutural e social, representada pela pobreza, violação dos direitos humanos, fatores raciais, desigualdade social, dimi-nuição do nível de educação, impunidade, inexis-tência de leis de proteção, presença de armas, acesso a drogas e álcool, trabalho infantil, presença de crianças e adolescentes em situação de rua ou de institucionalização, ausência ou precariedade de políticas públicas e de serviços de atenção para as crianças/famílias, desvalorização da criança7, 10-14.

Alguns autores apontam que a negligência se posiciona entre os limites da pobreza e dos maus-tratos, pois a miséria impossibilita a família de prover os requisitos básicos para os cuidados com a criança1-3. Há que se considerar, neste aspecto, que a falta de recursos para moradia e alimen-tação, aliada à baixa escolaridade, ao subemprego, à baixa renda e ao saneamento precário, dificultam a atenção digna à infância. Desta forma, a dificuldade em determinar os limites entre falta de condições e prática abusiva prejudica a real estimativa deste tipo de violência2. Neste sentido, seu conhecimento ainda está em processo de construção em função de sua complexidade15, da relativa inconsistência dos dados, da ausência de registros e do pouco conhe-cimento sobre estes agravos16.

Apesar da negligência e o abandono consti-tuírem uma das formas mais frequentes de maus tratos, alia-se, aos fatores descritos acima, a dificul-dade dos profissionais de saúde em identificar estes casos, cujos sinais podem ser mais subjetivos do que a agressão física que produz lesões visíveis17. Apesar dos maus-tratos contra a criança constituírem um agravo de notificação compulsória em todo o terri-tório nacional desde 200116,18, estudos demonstram

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profissio-nais de saúde quanto ao manejo do problema15,19, cuja grande dificuldade ainda diz respeito ao diag-nóstico20, tendo em vista que a criança pode apre-sentar apenas alterações sutis do comportamento21, e pela própria dificuldade em definir este tipo de maus-tratos contra a criança, principalmente em países em desenvolvimento, onde se torna difícil diferenciar a negligência ocasionada pela falta de políticas públicas da praticada pelos responsáveis pela criança22,23.

Caracterizada como uma violência intrafami-liar24, a negligência praticada pelos responsáveis pela criança pode ser percebida, nos serviços de saúde e nos diferentes segmentos sociais, nos casos de desnutrição, atraso vacinal, infecções repetidas, falta de cuidados essenciais e com a saúde, falta de cuidados escolares, falta de suporte emocional e afetivo à criança, não proteção da criança e expo-sição da mesma a qualquer tipo de perigo. Também por uso de vestimenta inadequada à estação, cresci-mento e desenvolvicresci-mento abaixo dos padrões espe-rados para a idade, ausência dos pais, falta de diálogo e afeto em relação aos filhos, exposição da mesma à violência doméstica, aos acidentes, ao uso de drogas e álcool (sem intervenção), bem como permissão e encorajamento para atos delinquentes3,15,25-28, além dos aspectos emocionais, psicológicos, cognitivos e comportamentais, descritos anteriormente.

Mundialmente, quase 3.500 crianças menores de 15 anos morrem anualmente por maus-tratos (físico ou negligência)12. Pesquisa do LACRI (Laboratório de Estudos da Criança) do Insti-tuto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP/USP), realizada em 16 estados brasileiros e no Distrito Federal, constatou em 2005 que a negligência ocupou o primeiro lugar (40,2%) na violência contra crianças e adolescentes de 0 a 19 anos de idade29. No Rio de Janeiro, pesquisa com crianças e adolescentes vítimas de maus-tratos, atendidos em um hospital público, num período de dez anos, observou que a maioria foi por negli-gência/abandono (43,4%)30.

Estudo de prevalência e incidência de abuso infantil, ao comparar dados nos diferentes países, aponta a negligência, o abuso físico e o sexual entre os mais frequentes na população infantil31. Docu-mento Preliminar do Comitê Nacional de Enfren-tamento à Violência Sexual Contra Criança e Adolescente revela que, de fevereiro a setembro de 2005, 1.942 denúncias de violência contra criança de até 6 anos de idade foram feitas por meio do

Serviço Disque-Denúncia da Sub-Secretaria de Desenvolvimento Humano – Secretaria Geral da Presidência da República. A maior parte dos casos foi de violência física e negligência32. Em Curitiba, um estudo baseado nas notifica-ções de violência contra crianças e adolescentes, emitidas pelos serviços que compõem a Rede de Proteção à Criança e ao Adolescente em Situação de Risco para a Violência, revelou a negligência como a violência mais frequente contra crianças e adolescentes33.

Frente a este contexto, torna-se primordial conhecer as características e circunstâncias que envolvem este tipo de evento, a fim de direcionar medidas específicas de prevenção e controle.

Neste sentido, a presente investigação teve o objetivo de estudar as características da negli-gência e abandono contra menores de 15 anos no município de Londrina, PR, contribuindo para ampliar o conhecimento das circunstâncias que envolvem este tipo de maus-tratos na população infanto-juvenil.

Método

A pesquisa se constituiu em um estudo trans-versal e descritivo a partir das notificações por negligência e abandono, cujo evento foi notificado aos Conselhos Tutelares e serviços de atendimento do município no período de 1 de janeiro a 31 de dezembro de 2006, cujas vítimas foram menores de 15 anos de idade residentes no município de Londrina, PR.

Para identificação dos casos, foi realizada busca manual nos prontuários e fichas de todos os Conse-lhos Tutelares do município (Conselho Tutelar Centro, Conselho Tutelar Norte e Conselho Tutelar Sul) e serviços de atendimento a crianças e adoles-centes vitimizados (Programa Sentinela da Prefei-tura Municipal de Londrina e Projeto De Olho No Futuro da Universidade Estadual de Londrina), cuja notificação de violência contra menores de 15 anos havia sido realizada em 2006. Foram, então, separados e transcritos, para formulário específico, todos os casos referentes à negligência e abandono de menores de 15 anos residentes na cidade. Foi considerado caso positivo para negligência e aban-dono aqueles assinalados como tal pelo profissional que fez a notificação, assim como os casos em que, após leitura das notificações, identificou-se tratar de negligência ou abandono.

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Para a coleta de dados nos prontuários selecio-nados, foi utilizado um formulário contendo ques-tões fechadas, composto por 7 (sete) partes: dados da denúncia (data, denunciante), dados da vítima (nome, filiação, data de nascimento, sexo, idade), dados da violência (data e local em que ocorreu, frequência e tempo de abuso antes da notificação), dados do agressor (sexo, idade, vínculo com a vítima, situações envolvidas), consequências dos maus-tratos (lesão decorrente, internação, óbito, sequelas). Foram consideradas apenas as sequelas registradas em prontuário, com base na avaliação do conselheiro tutelar que acompanhou o caso. Para as situações envolvidas no evento (alcoo-lismo, crise conjugal, desemprego, entre outras), foi considerada a anotação do conselheiro tutelar que preencheu a notificação, com base no relato do denunciante.

O instrumento foi previamente testado com dados dos atendimentos referentes ao ano anterior, no Conselho Tutelar Centro de Londrina. Os dados foram coletados por uma equipe de 30 (trinta) alunos do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual de Londrina, rigorosamente treinados e supervisionados pelas autoras do estudo.

Todos os formulários foram codificados manu-almente pela pesquisadora, a fim de classificar a violência e o tipo de lesão segundo a Classificação Internacional de Doenças, 10ª revisão (CID-10)34. Os dados obtidos foram processados eletronica-mente e tabulados por meio do programa compu-tacional Epi Info – versão 6.04d. Foi realizada exaustiva verificação de inconsistências por meio do cruzamento de várias variáveis, à procura de divergências ou inconsistências de dados.

Foi realizada uma criteriosa verificação (pelo nome, filiação, data de nascimento, idade e sexo da vítima, data da violência, data da denúncia, denun-ciante, lesão decorrente e agressor) com o objetivo de identificar os casos que tiveram atendimento em mais de um serviço em decorrência da mesma notificação. Nestes casos, as informações dos dife-rentes serviços (refedife-rentes à mesma vítima e à mesma ocasião de notificação) foram complemen-tadas em um único registro (uma única ficha no banco de dados), excluindo-se as fichas excedentes (anteriores à complementação dos dados em uma única ficha), a fim de evitar a duplicidade de dados. Desta forma, as informações dos diferentes serviços se complementaram em uma única ficha e, durante todo o processo de tratamento e análise dos dados, os registros no banco de dados corresponderam ao

número de notificações (situações de negligência) e não ao número de crianças, considerando que a mesma criança/adolescente possa ter sido vítima em diferentes ocasiões (circunstâncias), com noti-ficações em diferentes momentos.

A análise, quantitativa e descritiva, procedeu-se por meio de tabelas e gráficos, em números abso-lutos e relativos, construídos a partir do cruzamento das variáveis de interesse, pelo Programa EpiInfo.

Foi obtida dos responsáveis de cada instituição a autorização para acesso aos prontuários e infor-mações. O projeto de pesquisa foi apreciado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de São Paulo (COEP 315 de 2006).

Resultados

Foram motivo de notificação, no município de Londrina, 308 casos de negligência e abandono contra menores de 15 anos, em 2006. Grande parte dos casos foi notificada por profissionais de saúde (67,2%), seguidos por vizinhos (10,7%), familiares (14,8%), escola (2,6%) e anônimos (4,5%).

As vítimas do sexo feminino (72,7%) predo-minaram em relação ao sexo masculino (27,3%), numa razão de 2,7 meninas para cada menino.

A idade mais frequente das vítimas foi de 4 anos para os meninos (26,1%) e de 2 anos para as meninas (23,2%). A faixa etária de 2 a 4 anos concentrou maior número de casos e houve redução de casos a partir dos 8 anos de idade (Tabela 1).

Calculando-se os coeficientes de incidência com base populacional (considerando no denomi-nador a população infantil residente em Londrina, em cada faixa etária, segundo o sexo), observou-se maior risco na faixa etária de 2 a 4 anos, com coefi-cientes de 13,8 (por 1.000) e de 5,0 (por 1.000) aos 4 anos, no sexo feminino e masculino, respectiva-mente (Figura 1). Observou-se, ainda, que o risco de sofrer este evento é quase três vezes maior no sexo feminino (13,8 por 1.000) em relação ao sexo masculino (5,0 por 1.000).

Quase todos os casos de negligência e aban-dono se deram na residência da vítima (96,4%). Os demais ocorreram na via pública (3,6%) e referem-se a crianças deixadas na rua por longos períodos do dia.

As vítimas de negligência e abandono sofreram o abuso por períodos que variam de 1 a 2 anos (62,7%), 3 a 4 anos (20,5%), 6 a 12 meses (7,8%),

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Tabela 1. Distribuição dos casos de NEGLIGÊNCIA E ABANDONO contra menores de 15 anos segundo o sexo e a idade das vítimas. Londrina, 2006.

Idade da vítima de negligência e

abandono Masculino FemininoSEXO TOTAL

Nº % Nº % No % < 1 ano - - 4 1,8 4 1,3 1 ano 6 7,1 11 4,9 17 5,5 2 anos 13 15,4 52 23,2 65 21,1 3 anos 18 21,4 20 8,9 38 12,3 4 anos 22 26,1 27 12,0 49 15,9 5 anos 8 9,5 15 6,9 23 0,7 6 anos - - 19 8,5 19 0,1 7 anos 2 2,4 6 2,7 8 2,6 8 anos 3 3,6 3 1,4 6 1,9 9 anos - - - -10 anos - - 2 0,9 2 0,6 11 anos 2 2,4 1 0,5 3 1,0 12 anos - - 4 1,8 2 0,6 TOTAL 84 100,0 224 100,0 308 100,0

Tabela 2. Distribuição dos casos de NEGLIGÊNCIA E ABANDONO contra menores de 15 anos segundo a idade e o sexo do agressor, Londrina, 2006.

Idade do agressor de

negligência e abandono Masculino SEXO DO AGRESSORFeminino TOTAL

Nº % Nº % No % < 15 anos - - 2 0,7 2 0,6 15 a 19 anos - - 18 6,0 18 5,8 20 a 24 anos - - 144 48,3 144 46,7 25 a 29 anos 2 20,0 79 26,5 81 26,3 30 a 34 anos 3 30,0 43 14,4 46 14,9 35 a 39 anos 4 40,0 6 2,0 10 3,2 40 e mais anos 1 10,0 6 2,0 7 2,3 TOTAL 10 100,0 298 100,0 308 100,0

mais de 4 anos (6,2%) e menos de 6 meses (2,9%) antes da notificação.

Entre os agressores, o predomínio do sexo femi-nino foi de 96,7% (Tabela 2). Entre as mulheres, a faixa etária predominante foi de 20 a 24 anos (48,3%). Entre os homens, a faixa etária mais comum foi de 35 a 39 anos (40,0%).

Os atos de negligência e abandono foram praticados, em sua grande maioria, pela própria mãe (69,5%) e pela madrasta (22,2%), seguidas por outros parentes (4,1%), pai (3,6%) e padrasto (0,6%).

As questões da maternidade, ou seja, quando a criança vítima não é filho biológico (32,8%) e a idade muito jovem da mãe (20,8%), seguidas pelo alcoolismo (18,8%), foram descritas como as situ-ações mais frequentes que envolveram os casos de negligência e abandono (Tabela 3). Observou-se, ainda, a presença de crise conjugal (processo de separação entre os pais da vítima, sendo um deles o agressor), prostituição e emprego noturno entre as circunstâncias deste tipo de violência.

Quanto às consequências dos maus-tratos, apesar de não se tratar de violência física, foram

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relatadas lesões corporais (83,8%), decorrentes da falta de cuidados com a criança ou exposição da mesma a riscos de acidente, ocasionando doenças e traumas. As lesões registradas foram de abdome (12,8%), membros superiores (26,0%), membros inferiores (12,0%), tórax (9,3%), cabeça (0,8%) e múltiplas regiões (9,7%). Ainda, 29,5% dos pron-tuários não especificavam o segmento corpóreo afetado.

Foi relatada a necessidade de internação em 65,6% dos casos, sendo que 28,2% dos prontuários não traziam esta informação.

Quase a totalidade das vítimas de negligência e abandono apresentou sequela (98,7%). Entre as sequelas, a física foi a mais comum (98,7%), seguida pela psicológica (1,3%). Houve, ainda, a presença de mais de uma sequela (96,4%), sendo a psicológica a segunda sequela em todos estes casos.

Discussão

A maior frequência de profissionais de saúde como notificadores da negligência e abandono pode estar relacionada com a necessidade de

Tabela 3. Distribuição dos casos de NEGLIGÊNCIA E ABANDONO contra menores de 15 anos segundo a situação envolvida, Londrina, 2006.

Situação envolvida na negligência e abandono Nº %

Condições do agressor Alcoolismo 58 18,8 Drogadição 16 5,2 Condições sociais Desemprego 2 1,0 Emprego noturno 8 2,6 Prostituição 2 0,7 Condições familiares Crise conjugal 21 6,8

Mãe muito jovem 64 20,8

Companheiro(a) preso(a) 2 0,6

Não tem quem cuide da criança 1 0,3

Mãe solteira 1 0,3

Maternidade (filho não natural) 101 32,8

Doença ou perda do cônjuge 2 0,7

Condições da criança

Criança especial 1 0,3

Não informado 28 9,1

TOTAL 308 100,0

atenção médica que as vítimas apresentam em decorrência das lesões de pele por má higiene corporal, desnutrição, calendário vacinal desatua-lizado, reincidência de internações por tratamentos inadequados, acidentes domésticos frequentes, entre outros3. Alguns autores apontam que estas crianças frequentemente necessitam de serviço médico ou de saúde1, o que pode justificar um número maior de notificações pelos profissionais desta área, uma vez que, no presente estudo, as notificações por profissionais de saúde foram todas provenientes dos serviços de saúde, o que coincide com a literatura, que aponta os serviços de saúde como os principais responsáveis pelas notificações de maus-tratos contra a criança e o adolescente.

Quanto ao sexo das vítimas, o predomínio do sexo feminino também foi observado por outros estudos acerca da violência contra crianças e adolescentes13,30,33,35-37. Especificamente em relação à negligência, outro estudo observou maior frequência de negligência no sexo masculino37, porém a faixa etária foi similar à da presente casu-ística (1 a 4 anos). O predomínio do sexo femi-nino entre as vítimas de negligência e abandono

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pode estar relacionado com as questões de gênero, que ainda colocam a figura feminina numa posição submissa1, fazendo com que crianças e adolescentes meninas sofram mais determinados tipos de maus-tratos38. Alguns autores relacionam a maior inci-dência de violência no sexo feminino com fatores culturais, que historicamente sempre impuseram a este sexo condições de abuso, exploração e discri-minação socialmente aceitas39.

O maior risco observado na faixa etária de 2 a 4 anos de idade coincide com estudo da área37 e talvez se justifique pela total dependência que as crianças nestas idades têm dos adultos para seus cuidados básicos. Associa-se a isto, o fato das mães trabalhadoras que não têm onde deixar seus filhos pequenos, ainda sem idade escolar. Neste sentido, é preciso destacar que o governo, muitas vezes, não disponibiliza vagas suficientes em creches munici-pais37. Outro fator a ser considerado é o próprio desconhecimento dos pais acerca das necessidades e cuidados a serem dispensados à criança em cada faixa etária. Desta forma, a ampliação de creches municipais e o acompanhamento da criança pelos serviços de saúde, principalmente pelo Programa de Saúde da Família, com ações de orientação e cuidados de saúde, podem contribuir para dimi-nuir, pelo menos em parte, a negligência e o aban-dono sofridos pelas crianças.

Estudo realizado no Conselho Tutelar de Ribeirão Preto, SP14, verificou frequência similar ao do presente estudo quanto ao número de

notificações de negligência (941 casos num período de dois anos), o que representou 12,9% de todas as notificações envolvendo crianças e adolescentes. O Conselho Tutelar de Caruaru, PE, também regis-trou 393 casos de negligência de crianças e adoles-centes (49,2% de todos os casos de violência noti-ficados, num período de dois anos)40. A negligência como um dos tipos mais comuns de violência contra menores também foi registrada por outros estudos13, 30, 35-37, 41,42.

Pesquisa realizada no município do Rio de Janeiro, RJ43, verificou taxa de incidência de 3,8 (por 100.000 habitantes) de negligência e abandono, na faixa etária de 0 a 19 anos. Porém, trata-se de ocor-rências registradas em delegacias do município, o que pode ter diferido um pouco dos presentes resultados, uma vez que, geralmente, trata-se de casos mais graves. Dentre as notificações feitas aos CRAMIs (Centros Regionais de Atenção aos Maus-Tratos na Infância), no Estado de São Paulo, as negligências representaram 23,5% dos maus-tratos contra crianças e adolescentes44. Entre os menores atendidos no SOS Criança de Curitiba, a negligência ocupou a segunda colocação, com um porcentual de 41,7%37. Já em estudo realizado em Curitiba, PR33, a negligência ocupou o primeiro lugar entre os maus-tratos infantis, com 51,8% de 2.326 notificações, em 2004. Somente de fevereiro a setembro de 2005, 1.942 denúncias de violência contra criança de até 6 anos de idade foram feitas pelo Serviço Disque-Denúncia da Sub-Secretaria

Coeficientes de incidência de violência por negligência e

abandono (por 1000) 16,0 14,0 12,0 10,0 8,0 6,0 4,0 2,0 0,0 Menor 1 ano 1

ano 2 anos 3 anos 4 anos 5 anos 6 anos 7 anos anos8 9 anos 10 anos 11 anos 12 anos 13 anos 14 anos

0,0 1,5 3,0 4,2 5,0 1,8 0,0 0,5 0,7 0,0 0,0 0,4 0,0 0,0 0,0 1,0 2,8 12.8 12,5 13,8 3,4 4,6 1,5 0,7 0,0 0,5 0,2 0,5 0,0 0,4 0,5 2,1 7,8 8,2 9,3 2,6 2,3 0,9 0,7 0,0 0,2 0,3 0,2 0,0 0,2

– l– –

---n---



Coef. Masc. Coef. Fem. Coef. Total Idade

Figura 1. Coeficientes de incidência da negligência e abandono contra menores de 15 anos segundo o sexo e a idade das vítimas, Londrina, 2006.

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de Desenvolvimento Humano – Secretaria Geral da Presidência da República, sendo a maior parte dos casos de violência física e negligência32. As significativas proporções e incidências da negli-gência chamam a atenção para a necessidade de enfrentamento desta importante causa na popu-lação infanto-juvenil.

Tendo em vista que as maiores autoras da negli-gência foram a madrasta e a mãe, é coerente que estes abusos tenham ocorrido em grande parte no lar. Muitos são os estudos que trazem resultados semelhantes aos da presente investigação45,46. Mas é preciso lembrar que a prática da negligência não se resume na ausência do cuidador. O fato de ela ser exercida na residência da vítima não a simpli-fica deste modo. Ao contrário, denota o que muitos autores discutem, de que a família, atualmente, é vista como lugar de muitas contradições, configu-rando maus-tratos aos seus componentes47. Estu-diosos27,30 destacam o lar como o local privilegiado para a prática da violência contra a criança, o que para alguns autores38,39 tem íntima ligação com os limites impostos pela privacidade que acabam por isolar a família da visão social, propiciando um ambiente sem testemunhas e encoberto pela cumplicidade familiar. É preciso lembrar, ainda, a discussão acerca das mães que trabalham e deixam seus filhos sozinhos em casa ou até mesmo na rua.

Neste sentido, destaca-se que as medidas de prevenção, enfrentamento e intervenção precisam, acima de tudo, contemplar o âmbito familiar27,48, no sentido de fortalecer e estruturar as famílias, pois são elas que desempenham o papel de proteger as crianças.

O longo período com que a negligência veio sendo praticada antes da notificação denota o aspecto silencioso e crônico que caracteriza a maioria dos atos violentos praticados contra a criança, os quais são mantidos dentro dos lares sob o medo e o constrangimento47.

Os achados coincidem com estudos que iden-tificaram a mãe como a principal autora da negli-gência37,49, envolvendo, na maioria das vezes, mães jovens, sem maturidade para a maternidade, cuja gestação não era desejada ou que encontram-se encontram-separadas do parceiro. Há que encontram-se considerar também a função de cuidadora culturalmente atri-buída à mulher, pela sua própria condição natural e social, além da responsabilidade de criação dos filhos em caso de separação ou ausência do compa-nheiro, o que a responsabiliza pela negligência dos filhos. Em 35,7% dos casos de negligência

estudados junto ao SOS Criança de Curitiba37, a criança morava somente com a mãe, o que caracte-riza uma das situações mais comuns de negligência, na qual a mãe é separada49 e, portanto, necessita trabalhar e cuidar sozinha da criança. A presença da mãe e madrasta como as principais agressoras desperta para a necessidade de se trabalhar as rela-ções familiares. Alguns autores ainda destacam que nem sempre os pais ou responsáveis têm consci-ência desta forma de maus-tratos, que se dá por meio da pouca valorização, da menor importância, da falta de tempo, da atenção que nunca aparece, do carinho que nunca chega, da indiferença, da rejeição, da não oferta do necessário ao pleno desenvolvimento físico e emocional da criança ou do adolescente50. Há que se destacar, desta forma, que a negligência proveniente da falta de recursos para o sustento da família e a advinda da intencio-nalidade da desproteção e desafeto merecem abor-dagens diferenciadas.

Diferentemente das agressões físicas, em que o alcoolismo é apontado como a principal situ-ação envolvida por parte do agressor13,35,46,51,52, na negligência e abandono outras situações predomi-naram e são referentes às características maternas. A pouca idade das mães, bem como as questões da maternidade (presença de filho não natural), também são descritas por outros trabalhos como condições associadas à ocorrência de negligência49. Neste sentido, acrescenta-se a necessidade de acompanhamento efetivo das mães jovens durante o pré-natal, parto e puerpério, além do acompa-nhamento da criança por meio da puericultura e programas de saúde.

O alcoolismo, por sua vez, é apontado pelos autores28 como fator associado à negligência dos filhos, além do uso de drogas, famílias numerosas, desemprego e desestruturação familiar. Alguns autores discutem que a violência doméstica pode estar associada a variáveis do ambiente familiar, como psicopatologia dos pais, discórdia conjugal, baixa renda familiar, pobreza e outros eventos de vida, como a experiência de separação e perda53. Já a prostituição e o trabalho noturno que aparecem entre as condições levantadas, apesar de sua pouca proporção, chamam a atenção pelos aspectos sociais que envolvem tais situações e que não se restringem aos limites do lar. Neste sentido, torna-se fundamental analisar as circunstâncias geradoras desta negligência, a fim de determinar as condições que contribuíram para este evento.

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194 Frente a este complexo contexto e às

impor-tantes consequências que a negligência e o aban-dono trazem para a saúde física e psicológica de suas vítimas, torna-se indiscutível a necessidade de enfrentamento deste agravo por meio de atenção intersetorial e multiprofissional, além de melhoras nas condições de vida.

Quanto à presença de lesão corporal como consequência, Marmo1 refere que, nos casos de negligência, é comum estas crianças chegarem ao serviço de saúde apresentando desnutrição, infec-ções repetidas ou vítimas de acidentes como quei-maduras e fraturas decorrentes da indiferença e omissão dos pais.

Neste sentido, os profissionais de saúde neces-sitam estar atentos e capacitados para identi-ficar situações de negligência, cujos sinais podem ser mais subjetivos do que a agressão física. Para Minayo27, a negligência se expressa na falta de alimentação, de vestimenta adequada à estação, de cuidados escolares e com a saúde. Pires & Miya-zaki28 ampliam este conceito acrescentando, entre os sinais, a falta de suporte emocional, afetivo e de atenção à criança, além da exposição da mesma à violência doméstica, aos acidentes, ao uso de drogas e álcool (sem intervenção), bem como permissão e encorajamento para atos delinquentes. Portanto, a negligência inclui tanto a física (pela falta de cuidados), como também a emocional e a educa-cional para as quais os profissionais que lidam dire-tamente com crianças devem estar alertas.

Não foram encontrados estudos que analisassem o segmento corpóreo afetado pela negligência, impossibilitando a comparação de resultados. Todavia, observa-se que, praticamente, todas as regiões corpóreas foram afetadas pela negligência, demonstrando que não é somente a violência física que gera lesões. A importância da negligência neste aspecto mostra-se crucial, trazendo sofri-mento físico, além do sofrisofri-mento imposto pela indiferença e omissão de seus responsáveis.

Apesar das internações referidas, dados oficiais54 não mostram internações por negligência em 2006, no município de Londrina. Talvez isto se deva à codificação baseada na lesão ou, até mesmo, como causa acidental. Outra questão a considerar é que, normalmente, os casos de negligência são enco-bertos por uma patologia orgânica47, dificultando o seu real registro.

Além das sequelas físicas, quando não ocasionam a morte, as sequelas psicológicas se revelam como as mais perigosas para as vítimas de maus-tratos,

pois se estendem por longos anos e, talvez, por toda a vida. Os efeitos perversos da violência podem comprometer permanentemente as crianças e os adolescentes, prejudicando o aprendizado, as rela-ções sociais e o pleno desenvolvimento48.

Pensando especificamente em relação à negli-gência, agressão de difícil diagnóstico pela subjeti-vidade dos sintomas, a presença de sequela psicoló-gica adquire dimensão importante em decorrência do tempo de exposição, resultado já apresentado anteriormente. Portanto, refletir sobre formas de prevenção, detecção e tratamento adequados torna-se essencial.

Conclusão

Este estudo pretendeu trazer algumas carac-terísticas sobre a negligência e abandono prati-cados contra menores de 15 anos no município de Londrina. Por se tratar de um estudo transversal, as características aqui apresentadas se referem a um momento específico, podendo sofrer modificações na medida em que intervenções vão sendo implan-tadas. Portanto, há que se destacar a importância do monitoramento destes eventos e de novos estudos que aprofundem o conhecimento do tema e contribuam para a sua prevenção e tratamento.

Faz-se oportuno ressaltar que, pelo estudo ter se restringido aos casos de negligência notificados aos Conselhos Tutelares e programas e projetos de atendimento, certamente os resultados subes-timam a real incidência destes eventos na popu-lação. Entretanto, acredita-se que esta limitação não seja suficientemente importante para compro-meter a interpretação dos resultados apresentados. A negligência contra menores de 15 anos cons-titui causa importante de notificações aos Conse-lhos Tutelares e serviços afins no município de Londrina.

Considerando que este tipo de maus-tratos ocorre, predominantemente, no ambiente domés-tico e que os principais agressores são os próprios pais, pode-se compreender que a atuação junto às famílias constitui uma forma importante de tratamento e prevenção. Medidas de orientação em espaços como escolas, comunidades, grupos e sociedade, em geral, são essenciais para debater a questão da negligência, promovendo sua prevenção a partir da conscientização e da melhora nas rela-ções interpessoais. O engajamento de programas que tenham a família como alvo de intervenção nas estratégias de ação também deve ser considerado.

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195

O longo período de exposição verificado no presente estudo, assim como as relevantes conse-quências físicas e psicológicas para a criança, revelam a necessidade urgente da implementação de redes de atendimento que integrem os serviços existentes, priorizem políticas para enfrentamento e redução do evento, viabilizem recursos e possi-bilitem melhorar a qualidade do atendimento e tratamento, proporcionando meios e estratégias que realmente sejam capazes de identificar e inter-romper os maus-tratos praticados contra a criança e o adolescente, além de oferecer tratamento digno e eficaz.

Considerando que o desenvolvimento cogni-tivo, social e emocional da criança depende dos cuidados e estímulos que recebe, e considerando, ainda, os aspectos multifatoriais da negligência, é preciso que os investimentos na atenção a este agravo englobem os diversos setores sociais e políticos, na busca de melhores condições socio-econômicas, profissionalização e capacitação em vista de melhores condições de trabalho e remu-neração, condições de moradia, disponibilidade de serviços de saúde, principalmente para crianças com necessidades especiais, maior oferta de vagas e qualidade nas creches públicas, a fim de permitir que a mãe trabalhe e tenha onde deixar seus filhos, ações no pré-natal e parto para que se possa iden-tificar e prevenir situações de risco para os maus-tratos, acompanhamento da criança e orientação aos responsáveis nas suas diferentes fases de cres-cimento e desenvolvimento, além de ações que auxiliem efetivamente o planejamento familiar, evitando a gravidez indesejada e o número exces-sivo de filhos. Tais ações podem contribuir para a prevenção, diminuindo o sofrimento físico, moral, emocional e psicológico das crianças e adolescentes vítimas de negligência. Ações conjuntas entre a saúde, setores públicos e sociedade civil também são importantes no enfrentamento deste tipo de violência.

Tendo em vista a grande participação dos profissionais de saúde entre os denunciantes, é preciso destacar a importância de estes profissio-nais estarem alertas para os siprofissio-nais de negligência, a fim de melhorar a identificação e notificação deste agravo. Ressalta-se a necessidade de investimentos no preparo técnico e científico de tais profissionais, no sentido de aprimorar conhecimentos e habili-dades, o que pode contribuir para a melhor identi-ficação dos maus-tratos.

Sugerem-se, ainda, novos estudos que venham contribuir para o conhecimento da negligência e abandono praticados contra crianças e adoles-centes, subsidiando ações preventivas e de controle. Há ainda que se pensar na articulação das infor-mações geradas pelas pesquisas com a ação polí-tica e com a prápolí-tica do setor saúde na atenção e prevenção deste importante agravo.

Agradecimentos

Agradecemos à CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvi-mento Científico e Tecnológico), pela concessão de bolsas de estudo.

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Endereço para correspondência:

Christine B G Martins

Rua Fortaleza, 70, Jardim Paulista, Cuiabá (MT), CEP 78065-350.

E-mail: leocris2001@terra.com.br

Submissão: 27/6/2009

Aceito para publicação:

28/8/2009

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