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aula Aprofundando o conceito de espaço Organização do Espaço Autoras Eugênia Maria Dantas Ione Rodrigues Diniz Morais D I S C I P L I N A Nome:

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Academic year: 2021

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(1)

Eugênia Maria Dantas

Ione Rodrigues Diniz Morais

Organização do Espaço

D I S C I P L I N A

Aprofundando o conceito de espaço

Autoras

aula

02

VERSÃO DO PROFESSOR

(2)

Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede” Governo Federal

Presidente da República

Luiz Inácio Lula da Silva

Ministro da Educação

Fernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEED

Carlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Reitor

José Ivonildo do Rêgo

Vice-Reitora

Ângela Maria Paiva Cruz

Secretária de Educação a Distância

Vera Lúcia do Amaral

Universidade Estadual da Paraíba Reitora

Marlene Alves Sousa Luna

Vice-Reitor

Aldo Bezerra Maciel

Coordenadora Institucional de Programas Especiais - CIPE

Eliane de Moura Silva

Coordenadora da Produção dos Materiais Marta Maria Castanho Almeida Pernambuco Coordenador de Edição

Ary Sergio Braga Olinisky Projeto Gráfico Ivana Lima (UFRN)

Revisores de Estrutura e Linguagem Eugenio Tavares Borges (UFRN) Janio Gustavo Barbosa (UFRN) Thalyta Mabel Nobre Barbosa (UFRN) Revisora das Normas da ABNT Verônica Pinheiro da Silva (UFRN) Revisoras de Língua Portuguesa Janaina Tomaz Capistrano (UFRN) Sandra Cristinne Xavier da Câmara (UFRN)

Revisor Técnico Leonardo Chagas da Silva (UFRN) Revisora Tipográfica Nouraide Queiroz (UFRN) Ilustradora Carolina Costa (UFRN) Editoração de Imagens Adauto Harley (UFRN) Carolina Costa (UFRN) Diagramadores Bruno de Souza Melo (UFRN) Mariana Araújo (UFRN) Ivana Lima (UFRN) Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)

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2

3

Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede” Governo Federal

Presidente da República

Luiz Inácio Lula da Silva

Ministro da Educação

Fernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEED

Carlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Reitor

José Ivonildo do Rêgo

Vice-Reitora

Ângela Maria Paiva Cruz

Secretária de Educação a Distância

Vera Lúcia do Amaral

Universidade Estadual da Paraíba Reitora

Marlene Alves Sousa Luna

Vice-Reitor

Aldo Bezerra Maciel

Coordenadora Institucional de Programas Especiais - CIPE

Eliane de Moura Silva

Coordenadora da Produção dos Materiais Marta Maria Castanho Almeida Pernambuco Coordenador de Edição

Ary Sergio Braga Olinisky Projeto Gráfi co Ivana Lima (UFRN)

Revisores de Estrutura e Linguagem Eugenio Tavares Borges (UFRN) Janio Gustavo Barbosa (UFRN) Thalyta Mabel Nobre Barbosa (UFRN) Revisora das Normas da ABNT Verônica Pinheiro da Silva (UFRN) Revisoras de Língua Portuguesa Janaina Tomaz Capistrano (UFRN) Sandra Cristinne Xavier da Câmara (UFRN)

Revisor Técnico Leonardo Chagas da Silva (UFRN) Revisora Tipográfi ca Nouraide Queiroz (UFRN) Ilustradora Carolina Costa (UFRN) Editoração de Imagens Adauto Harley (UFRN) Carolina Costa (UFRN) Diagramadores Bruno de Souza Melo (UFRN) Mariana Araújo (UFRN) Ivana Lima (UFRN) Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)

Apresentação

N

a aula passada, foi abordada a discussão do espaço geográfi co a partir da relação homem-natureza. Nesta aula, aprofundaremos a discussão, verticalizando a noção de espaço geográfi co a partir da inter-relação que se estabelece com o tempo. Assim, a aula está dividida em duas partes que se articulam e se complementam. Na primeira, estabelecemos um diálogo entre o espaço e as diversas faces do tempo; na segunda, aproximamos as variáveis espaço e tempo a uma sociedade dada, ou seja, à sociedade capitalista, mostrando a relação entre essência e aparência na leitura da ciência geográfi ca. No enredo da aula, você será levado a refl etir sobre o espaço geográfi co a partir de sua conexão com o tempo em uma sociedade específi ca.

Objetivos

Entender a defi nição de espaço como objeto de estudo da ciência geográfi ca.

Saber como criar situações-problema reveladoras da relação entre espaço-tempo e sociedade.

Compreender a relação entre sociedade-tempo na interpretação do espaço geográfi co.

(4)

O espaço e o tempo:

um casamento indissolúvel

Trabalhar o conceito de espaço geográfi co relacionado-o à variável tempo, eis o desafi o inicial desta aula. Para isso, vamos refl etir sobre a seguinte afi rmação de Milton Santos:

“... O espaço é a acumulação desigual de tempo.”

(5)

Não tenho tempo para nada! O tempo está fechado. O tempo parece veloz!

No tempo do meu avô, as coisas eram diferentes!

Esta rua não é mais a mesma, o tempo passou, as coisas mudaram! (Eugênia Dantas e Ione Rodrigues). Uma afi rmação curta e densa de sentidos. Para compreendermos o que ela signifi ca, um bom exercício inicial é identifi car os termos da questão. Nela, encontramos: espaço – acumulação – desigualdade – tempo. Parece ser muita coisa junta. E é mesmo! Então, vamos por parte.

A afi rmação de Milton Santos nos leva a querer entender melhor o espaço geográfi co a partir do diálogo que deve se estabelecer entre os elementos que interferem na sua composição. Nesse diálogo, que sugerimos ser aberto e refl exivo, o tempo assume uma posição central.

Assim, perguntamos: o que é o tempo?

Vejamos, para responder a essa questão, algumas expressões em que esse termo aparece.

Você deve ter percebido nas expressões que a palavra tempo foi empregada em uma linguagem corrente, incorporando-se como uma variável do cotidiano. Na vida diária, há a necessidade de localizar as ações, visões e procedimentos no tempo. Por meio dele, pode-se enxergar os limites e as possibilidades dos fazeres e saberes dos homens.

Partindo da perspectiva de que o tempo está presente em todas as ações humanas, vamos aprofundar a relação espaço/tempo, por meio de um conjunto de análises necessárias à leitura do espaço geográfi co.

A Geografi a, ciência cujo objeto de estudo é o espaço, estabelece com a História um diálogo de confl itos e complementaridades. Desde os primórdios da história do pensamento geográfi co, essa aproximação está rodeada de debates e refl exões, cujos objetivos variam e alimentam a (in) certeza de que a totalidade do espaço se realiza no conteúdo do tempo.

(6)

A partir dessa atividade, você pôde perceber que o tempo não é só companheiro da Geografi a, mas está em diferentes campos de interpretação humana. Ele é uma variável que transversaliza as variadas esferas de representação social.

No entanto, com o desenvolvimento da humanidade e da Ciência, o estudo do tempo passou a ser matriz de refl exão teórica e metodológica de diversas áreas de estudo, como a Física, a Filosofi a, a Biologia, a História. Em cada uma delas, há uma abordagem que pretende se diferenciar da outra, de forma a garantir o seu “quinhão científi co” na interpretação da realidade. No entanto, nessa diversidade há que se encontrar uma unidade, qual seja o eterno desejo humano de revelar as faces da natureza e do homem tecendo a vida na Terra. A Geografi a como a ciência que é responsável pela “escrita da Terra” estabelece com o tempo um casamento indissolúvel

Assim, para você compreender o espaço geográfi co é necessário “treinar” o olhar a fi m de enxergar nas formas espaciais as marcas do tempo, da natureza e do homem.

1

2

Atividade 1

Procure em diversos meios, como literatura, música, jornais ou revistas, imagens que possibilitem revelações distintas do tempo. Escreva no espaço a seguir comentários a respeito do que você encontrou.

Com base no que você encontrou, elabore algumas afi rmações ampliando as noções de tempo até aqui trabalhadas.

sua

resposta

1.

(7)

Figura 2 – As faces do tempo

Para exercitar o olhar, é necessário saber observar, caminhar, parar, registrar e perguntar:

O que vejo?

Como surgiu?

Por que existe?

Desde quando?

Quem o construiu?

A resposta a essas perguntas pode ser dada submetendo-se o que foi visto à variação temporal, social e cultural.

Assim, veja: tomando uma realidade espacial qualquer, você pode ampliar as questões anteriores interrogando:

Isto é novo?

Isto é velho?

Isto é atual?

Isto é natural?

(8)

As perguntas feitas levam você, impreterivelmente, a colocar na interpretação geográfi ca o tempo perpassando as ações humanas. No espaço, revelam-se as marcas do tempo. Temos, simultaneamente, o registro do que foi o passado, das deformidades do presente, do que é atual e real, do imbricamento entre o natural e o artifi cial na tessitura do ser e do cotidiano, construindo a vida no ambiente terrestre.

Figura 3 – Entre o natural e o artifi cial, o fazer cotidiano

Para dar mais substância as nossas discussões, leia um trecho de Milton Santos (1986, p. 10) a seguir.

O passado passou, e só o presente é real, mas a atualidade do espaço tem isto de singular. Ele é formado de momentos que foram, estando agora cristalizados como objetos geográfi cos atuais; dessas formas-objetos, tempo passado, são igualmente tempo presente, enquanto formas que abrigam uma essência, dada pelo funcionamento da sociedade atual.

(9)

Agora, exercite mais um pouco.

a)

Observe a escola. O seu ambiente de trabalho é a escola que você leciona e o seu entorno. Submeta o espaço observando aos questionamentos anteriormente apresentados.

b)

Procure identifi car a variável do tempo a partir da aplicação das perguntas.

c)

Elabore uma descrição do ambiente observado, articulando as idéias colocadas por Milton Santos.

Atividade 2

sua resposta

a

.

b

.

(10)

Voltemos agora à afi rmação inicial desta aula.

“... O espaço é a acumulação desigual de tempo.”

Vamos submeter está frase a pergunta “por quê?” Para responder a essa pergunta, é necessário considerarmos o que foi dito até agora e acrescentarmos à palavra tempo a designação social. Assim, o tempo para a Geografi a é uma construção social. O que nos remete a condição de que no tecido espacial a ação humana institui-se como tempo social. O que isso signifi ca? Signifi ca que quando nos referimos ao espaço estamos considerando o registro de tempos em sucessões desiguais, que se acumulam em formas ou feições distintas. Isso ocorre a partir de interesses, saberes, fazeres, técnicas, conhecimento e trabalho que variam, fazendo coexistir feições fragmentadas de tempos distintos em ambientes também distintos, porém complementares.

Henri Lefbvre nos ajuda a pensar sobre essa coexistência de tempo no espaço, ou no espaço como uma memória ampliada do tempo. Leia a seguir o que ele afi rma.

Consideramos a relação entre o espaço e o tempo. Os dois infi nitos simultâneos e atuais se diferenciam e se cruzam na representação. Cada um se representa no outro e somente se representa através desse encontro. (LÉFBVRE apud SANTOS, 2002, p. 26/27).

A afi rmação do geógrafo nos sugere que há “uma cumplicidade” entre estrutura espacial e estrutura social. Assim, o desenvolvimento social marca o desenvolvimento espacial, que por sua vez, condiciona o próprio desenvolvimento social. Temos a forma espacial sendo organizada em um movimento espiralado que se alimenta da dinâmica sócio-espacial que une e separa, dialogicamente, homens e coisas.

(11)

Para ampliar a nossa problematização no sentido de se compreender da afi rmação que movimenta esta aula, vamos a mais um exemplo.

Tomemos a cidade como uma forma sócio-espacial e procuremos encontrar em sua organização as variáveis postas na afi rmação (espaço, tempo, desigualdade, acumulação). O que você tem diante de seus olhos e sob os seus pés? A expressão máxima dessa afi rmação. Na cidade, encontram-se de forma imbricada os termos propostos na máxima de Santos.

Atividade 3

Faça você um exercício. Tome a sua cidade como forma espacial. Caminhe por suas ruas, praças, bairros... Observe o que ela é. Registre as diferentes imagens que você encontrou e monte um quadro, procurando aproximar imagens do passado a imagens do presente. Encontre o que une e separa os homens no tecido urbano visitado. Responda a questão: o que é a cidade em termos sócio-espaciais?

(12)

Agora, vamos aprofundar o que institui e é instituinte da “cumplicidade” entre estrutura espacial e estrutura social.

Da aparência à essência

A cidade que você viu pode ser considerada uma forma espacial. O que você registrou pode ser lido de maneira metafórica, a casca do ovo, o invólucro, o papel que embrulha um presente. Ela constitui a primeira impressão sobre algo, podendo ser considerada a

aparência das coisas. É uma parte de um todo. Assim, no que vemos existe um conjunto de

elementos que não vemos e que são fundamentais para que aquilo que se vê possa existir. É a incorporação ou incrustação de idéias, procedimentos, técnica, trabalho e meios utilizados para a produção de um determinado objeto ou forma espacial. O que não se vê, mas que está lá constitui a essência do que foi visto. É a outra parte da totalidade espacial.

O espaço geográfi co como acumulação desigual de tempo contém o conjunto das forças produtivas que foram responsáveis para uma organização espacial específi ca. Nela, estão a força de trabalho, o valor de uso e de troca, os desejos e as necessidades humanas, as realizações e frustrações de uma sociedade, que ao longo do tempo submeteu a natureza a uma transformação de físico-natural para humano-artifi cal. O motor dessas transformações está preso às diferentes formas dos homens produzirem e acumularem riquezas. Na sociedade capitalista, os desejos estão enredados na teia do fetiche e da mercadoria. Nesta, não sabemos distinguir o que é necessário do que é supérfl uo. Tudo é, simultaneamente, supérfl uo e necessário para fazer girar a roda do capitalismo.

(13)

Epa, agora complicou! Quantas palavras difíceis apareceram! Forças produtivas, força de trabalho, valor de uso e de troca, fetiche, mercadoria. É possível simplifi car?

Não! Mas, para entender melhor, vamos defi nir e caracterizar o capitalismo?

O capitalismo é uma estrutura que se enraíza sócio-econômica e culturalmente, cuja mola propulsora é a acumulação de riquezas em fatias específi cas da sociedade. A maneira como essa estrutura realiza-se parte da relação que se estabelece entre o trabalho e a capacidade de criar excedentes, ampliando em proporções geométricas a possibilidade de consumo da população.

Como funciona essa estrutura? De maneira resumida, pode-se dizer que há a propriedade privada dos meios de produção (máquinas, utensílios, ferramentas,

matérias-primas etc.) nas mãos de uma parcela da sociedade denominada de capitalista, a qual é capaz de assegurar o funcionamento desses meios comprando força de trabalho humano, cuja remuneração se dá por pagamento de salários. O que temos como síntese primeira e básica dessa estrutura: uma divisão social do trabalho e a concentração dos meios de produção. Há muitos aspectos a serem debatidos, mas vamos nos ater apenas às características relativas à propriedade privada (já defi nida anteriormente), à divisão social do trabalho e à capacidade de trocar, típica de uma sociedade produtora de mercadorias.

A divisão social do trabalho refere-se à incapacidade que os indivíduos têm de

assumirem todas as profi ssões necessárias para suprir as suas necessidades. Vejamos como exemplo: todos nós temos necessidade de estudar, de comer, de vestir... Mas, não temos a condição de sermos, simultaneamente, professores, agricultores, costureiros. Por isso, na sociedade capitalista, há ocorrência de muitas profi ssões, por que os indivíduos passam a ser vistos como “máquinas” capazes de transformar matéria-prima em produtos diversos através da sua força de trabalho. Como “máquina”, o homem está condicionado a uma capacidade produtiva relativa ao tempo necessário para produzir um equivalente que será recompensado em salário. O trabalho é uma força motriz que se introduz no mercado de trocas material e simbólica.

A capacidade de trocar os produtos, resultantes de diferentes especialidades, constitui

a condição básica que alimenta a teia sócio-econômica e cultural dessa sociedade. O produto a ser trocado denomina-se mercadoria.

(14)

De maneira geral, precisamos compreender o que é mercadoria.

[...] a mercadoria é concebida, em primeiro lugar, como uma coisa ou um objeto que satisfaz uma necessidade qualquer do homem; em segundo lugar, como uma coisa que se pode trocar por outra. A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso, isto é, tem utilidade específi ca para o seu consumidor. Conseqüentemente, pode-se afi rmar que as mercadorias diferenciam-se umas das outras pelo seu valor, uma vez que a cada necessidade específi ca corresponde uma mercadoria com características específi cas. Por sua vez o valor de troca (ou simplesmente valor) poderia ser caracterizado como sendo a relação ou a proporção na troca de um certo número de valores de uso de uma espécie contra um certo número de valores de uso de outra espécie. (CATANI, 1983, p. 22) A capacidade de trocar o valor que a mercadoria assume no mercado é relativo à variável força de trabalho, sofi sticação dos meios de produção, valor de uso e valor de troca. Para que se realize enquanto mercadoria, os produtos são revestidos de um conjunto de atributos que os tornam essenciais no viver cotidiano. Esses atributos precisam ser veiculados e consumidos como necessidades sociais, que ultrapassam as fronteiras espaciais, transformando-se em desejos e necessidades sociais. A mercadoria, para se realizar no mercado de trocas, tem agregado um valor simbólico que ilude e que recria o sentido do que é necessário para se viver. Essa idealização do objeto a ser consumido é o que se chama fetiche da mercadoria.

Figura 6 – O fetiche da mercadoria

Nesses termos, a realização do capitalismo ocorre na medida em que se ampliam as oportunidades de produção de mercadorias para serem consumidas em um mercado ávido por novidades. Nele, as fronteiras são obstáculos a serem transpostos, desafi os mercadológicos que instigam a criação de meios técnicos capazes de dominar as difi culdades existentes. As distâncias, as intempéries físico-ambientais, as disparidades regionais se, por um lado, podem ser empecilhos ao motor do capitalismo, por outro, se constituem “reserva de valor” a ser incorporado à dinâmica das trocas comerciais e simbólicas. O que não pode ser transformado em mercadoria, hoje, não está descartado para o amanhã.

(15)

O espaço e o tempo para esse modelo de organização social não se revelam de maneira linear, mas apresentam uma composição complexa. O que isso quer dizer? “Que o homem trabalha sobre herança”. O que ele vive e constrói é sempre um acoplamento entre as forças do passado e as do presente, reorganizando as relações sócio-espaciais. “Através do espaço, a história se torna, ela própria estrutura, estruturada em formas”.

Para isso, é necessário termos claro que estamos tratando da organização espacial em um contexto sócio-histórico, ou seja, a criação do espaço geográfi co está atrelada ao processo de produção social do tempo.

Para ampliar o nosso entendimento, vamos ler o que Milton Santos diz:

Produzir signifi ca tirar da natureza os elementos indispensáveis à reprodução da vida. A produção, pois, supõe uma intermediação entre o homem e a natureza, através das técnicas, dos instrumentos de trabalho inventados para o exercício desse intermédio. O homem começa a produzir quando, pela primeira vez, trabalha junto com outros homens em um regime de cooperação, isto é, em uma sociedade, a fi m de alcançar os objetivos que haviam antecipadamente concebido, antes mesmo de começar a trabalhar. A produção é a utilização consciente dos instrumentos de trabalho com um objetivo defi nido, isto é, o objetivo de alcançar um resultado preestabelecido. Nenhuma produção, por mais simples que seja, pode ser feita sem que se disponha de meios de trabalho, sem vida em sociedade, sem divisão do trabalho. [...] Cada atividade tem um lugar próprio no tempo e um lugar próprio no espaço. Aquilo que é criado pela vida não pode ser morto ou imóvel. As maneiras de produzir mudam; as relações entre o homem e a natureza mudam; a distribuição dos objetos criados pelo homem para poder produzir e assim reproduzir a sua própria vida podem igualmente mudar. (SANTOS, 1978, p 162/163).

Para exemplifi car a relação existente entre sociedade e organização do espaço, vejamos as seguintes fi guras:

(16)

Se perguntarmos o que vemos, somos capazes de responder sem vacilar: um carro, uma cadeira. Mas, se perguntarmos como eles são feitos, para que eles são feitos, em que período foram fabricados, quais os materiais utilizados, vamos precisar de mais elementos para chegar próximos de uma resposta plausível. Assim, sobre o visível, encontra-se uma enorme quantidade de informações que não aparecem de imediato, pois estão incrustadas nos objetos.

O mesmo exercício vale para o espaço geográfi co. Quando olhamos, somos capazes de identifi car formas, contornos, sinais... Adentramos suas formas como se fossem portas abertas para um universo complexo de informações, sentidos, simbologias, técnicas, idéias. Sob um objeto fi xo, subjaz um conjunto de informações que não aparecem de imediato e que o põe em movimento, dando fl uxo e vida a sua existência. O ato de criar espaço está submetido às regras dialógicas que satisfazem as distintas maneiras de (dês) organização de uma sociedade. Quando construímos uma casa, um bairro, uma cidade, é uma sociedade que se revela em fragmentos.

Figura 8 – “Tá vendo aquele edifício, moço, ajudei a levantar...” (Lúcio Barbosa).

O espaço é a movimentação geral da sociedade edifi cando uma massa heterogênea de formas que se impõem ao cotidiano, ao trabalho, ao lazer. Essas formas, por vezes, seduzem, por vezes, aprisionam. Em alguns momentos são reais, em outros, imaginárias. Ao assumir as diferentes faces de uma mesma realidade, pode engana o leitor desavisado.

Em verdade, todas essas faces do espaço são cunhadas na fetichização de um processo de criação que é sempre histórico, gravado com as marcas indeléveis do tempo, em que a natureza primeira se transforma em uma segunda natureza, que por sua vez se transforma novamente. Assim, podemos dizer que a natureza do espaço está em revelar as distintas faces da natureza humana em sua trajetória pela Terra. Nessa trajetória, encontramos no espaço a acumulação desigual dos tempos.

(17)

Resumo

Nesta aula, abordamos a relação existente entre espaço e tempo, contextualizados em uma sociedade capitalista. Mostramos a interdependência existente entre a organização social e a interpretação do espaço geográfi co. Demonstramos como se realiza a acumulação desigual do tempo a partir da relação de coexistências e complementaridade que se realiza entre homem e natureza, mediatizados pelas relações técnicas e de trabalho, as quais variam com o desenvolvimento social. Por fi m, concluímos que a organização espacial é uma criação histórica que sintetiza a transformação de uma natureza natural em uma natureza transformada, alimentando um ciclo de trocas mútuas e dependentes.

Auto-avaliação

a)

A partir do que você estudou e realizou ao longo desta aula, defi na o que é o espaço geográfi co como objeto de estudo da Geografi a.

b)

Crie uma situação-problema de caráter geográfi co em que estejam presentes as variáveis espaço, tempo e sociedade.

c)

Explique a situação criada por você utilizando os conhecimentos discutidos nesta aula a respeito do espaço, do tempo e da sociedade.

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Anotações

Referências

CATANI, Afrânio Mendes. O que é capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1983. DOWBOR, Ladislau. O que é capital. São Paulo: Brasiliense, 1985.

MENDONÇA, Francisco; KOSEL, Salete (Org.). Elementos de epistemologia da geografi a

contemporânea. Curitiba: UFPR, 2004.

SANTOS, Douglas. A invenção do espaço: diálogos em torno do signifi cado de uma categoria. São Paulo: UNESP, 2002.

SANTOS, Milton. Por uma geografi a nova: da crítica da geografi a a uma geografi a crítica. São Paulo: HUCITEC, 1978.

______. Pensando o espaço do homem. São Paulo: HUCITEC, 1986.

______. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: HUCITEC, 1996.

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EMENTA

n Eugênia Maria Dantas n Ione Rodrigues Diniz Morais

Objeto de estudo da geografia; as correntes filosóficas que embasam o pensamento geográfico; espaço, território,lugar, região e paisagem nas diversas abordagens geográficas; a importância das redes no estudo geográfico do mundo globalizado; a ciência geográfica na sociedade pós-moderna:paradigmas, perspectivas e dificuldades; as formas de abordagens dos temas geográficos no Ensino de geografia; atividades práticas voltadas para a resolução de problemas referentes ao espaço geográfico em situações de ensino

Organização do Espaço – GEOGRAFIA

AUTORAS

AULAS

Impresso por:

Gráfica

01 Despertando para a leitura do espaço

02 Aprofundando o conceito de espaço

03 A Organização do Espaço: um desafio inter-trans-disciplinar?

04 A dinâmica entre o global e o local na globalização

05 Paisagem como categoria da análise geográfica

06 Lugar e (des) identidade

07 Território e territorialidade: abordagens conceituais

08 Território e territorialidade: abordagens conceituais (parte II)

09 Por entre territórios e redes: múltiplas leituras

10 Região e a Geografia tradicional

11 Região no contexto da renovação da geografia

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