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A VIOLÊNCIA - NO OLHAR DA MULHER IDOSA

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Academic year: 2021

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A VIOLÊNCIA - NO OLHAR DA MULHER IDOSA

Cleusa Helena Rockembach Mazuim1

Luisa Rockembach Mazuim2

A violência constitui um dos fenômenos psicossociais de singular relevância e sua ocorrência não parece sofrer a menor atenuação com o passar dos anos. Filósofos, cientistas, políticos, sociólogos e psicólogos têm-se dedicado ao estudo do comportamento agressivo e violento entre os homens, mas os resultados são desanimadores. Violência tem sido uma palavra muito usada para expressar comportamentos, modos de vida, sociedade e outros fenômenos humanos (Strey, 2001). A violência, em todas as suas manifestações é, sem dúvida, o principal problema que se enfrenta nos dias de hoje. Por ser um fenômeno que afeta a toda a sociedade, este trabalho preocupa-se em fazer um recorte a respeito do que essa questão representa para as pessoas idosas, mais especificamente para as mulheres acima de 60 anos. Sabe-se que o discurso e a prática da violência estão marcados pela subjetividade dos grupos e dos indivíduos, bem como pela emotividade dos envolvidos. A pesquisa teve como objetivo conhecer qual a concepção de violência para mulheres acima de 60 anos de idade, no município de Cachoeira do Sul. Foram entrevistadas 24 mulheres, residentes no município de Cachoeira do Sul. Para a coleta de dados foi utilizada uma pergunta aberta sobre a concepção de violência, para mulheres idosas. A aplicação do instrumento foi feita em três unidades sanitárias de saúde em diversos pontos do município.

1 Assistente Social da Secretaria Municipal da Saúde e Meio Ambiente do município de Cachoeira do Sul

-RS, especialista em Saúde Comunitária, Mestre em Serviço Social pela PUC-RS, Professora e Coordenadora do Curso de Serviço Social da ULBRA – Cachoeira do Sul – RS. Av. dos Imigrantes, 52 – Cachoeira do Sul – RS – Fone (51)37242519. e-mail:cleusamazuim@piq.com.br

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Utilizou-se a análise de conteúdo para a análise dos dados. Das entrevistadas a maioria delas, ou seja, 95,8 % possuem baixo nível de escolarização - até a 5ª série primária, o que corrobora os dados relacionados ao perfil das mulheres idosas do Rio Grande do Sul3. No

que se refere à profissão, a maioria das idosas são do lar (37,5 %), seguindo-se aposentadas como costureira (12,5 %), dona-de-casa e pensionista (8,3 %), faxineira (8,3 %) e doméstica (8,3 %). Dos 41,7 % restantes, fazem parte doceira, agricultora e torneira mecânica aposentadas, e faxineira em auxílio doença. Percebe-se que a maioria das mulheres acima de 60 anos tem suas funções relacionadas a atividades ligadas ao lar, como diz Grossi e Ibias(2001): "a construção da identidade feminina, ao longo dos séculos, se deu através da figura do matrimônio, da construção de família, onde a mulher sempre fora socializada para as tarefas domésticas". No que se refere à idade das entrevistadas, prevaleceu a de 67 anos (25 %), seguida de 68 anos de idade (12,5 %). A menor idade foi 60 anos e a maior, 8l anos de idade. Pesquisas revelam que o alcoolismo é um fator de agravamento das manifestações da violência privada (Faleiros, 1998). Essa idéia retrata a percepção da violência nas relações conjugais, o que ainda se mostra com acentuada invisibilidade, porque "uma mulher vítima de violência nas relações conjugais sofre discriminação não somente pelo que ela é, como um indivíduo, mas pelo que ela se torna enquanto pertencente a um grupo que foi estereotipado de forma negativa" (Grossi, Aguinsky, 2001), o que é reforçado pela seguinte verbalização: “Brigas, agressividade com a mulher, já passei por isso" (76 anos). Outra idosa diz que violência "é a falta de saber e o querer saber onde os filhos estão". Isso demonstra que a excessiva liberdade dada aos jovens nos dias de hoje, e a falta de limites trazem conseqüências muitas vezes desastrosas para a família, muitas vezes desestruturada, tornando-se "família problema, geradora de comportamentos e vínculos viciosos" (Passetti, 2002). A educação dada pelos pais desempenha relevante papel na formação de uma personalidade mais ou menos violenta. A

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maioria das entrevistas (41 %) concebe a violência como agressão física, em especial o espancamento, o que se percebe pelas seguintes citações: "É bater, espancar, agredir com algum objeto, como facão, pau, beliscões, etc.". Destaca-se como relevante a violência considerada psicológica ou emocional percebida pelas idosas entrevistadas: "É a discriminação com os velhos", "estupro, seqüestro, roubo de seus pertences, estupidez, palavrões"; " as pessoas velhas são mais agredidas". A negligência e o abuso psicológico são tão perigosos e ameaçadores à vida quanto o abuso de ataque físico direto. O estupro, além de ser violência sexual e física, com certeza tem como fator avassalador na vida das pessoas a violência psicológica que traz transtornos emocionais e comportamentais para o ser humano. Faleiros (1998) descreve que "não podemos descartar que as condições econômicas estejam presentes nas disputas violentas", o que também é percebido pelas pessoas idosas quando relatam que a "violência são os assaltos, falta de serviço", "o desemprego, as pessoas não têm o que fazer, ficam tão desesperadas e vão para as drogas". Essas questões nos reportam ao contexto conjuntural que tem levado uma gama de pessoas a ficarem fora do mercado de trabalho, conseqüência do desemprego estrutural que se intensificou a partir das transformações que ocorreram a partir da década de 80. O grande salto tecnológico, que ocorreu naquela ocasião levou um contingente, principalmente de jovens, a ficar alijado do mundo do trabalho. As entrevistadas, ao serem questionadas se conheciam alguém que sofreu algum tipo de violência, preferiram responder que " quando a gente vê, não se mete". Isto demonstra que, de maneira geral, as pessoas preferem silenciar a denunciar tais atos. A tendência das pessoas é no sentido de agir como se a violência sobre o outro não lhe dissesse respeito, reforçando a cumplicidade do silêncio em torno de uma questão pública que permanece no âmbito privado. Observou-se, neste estudo realizado com mulheres idosas entrevistadas, que todas tem uma ou outra concepção sobre o que é a violência. Segundo Rodrigues, Assmar e Jablonski (2000) convém atribuir à

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complexidade do fenômeno em si mesmo a enorme dificuldade em estudá-lo, compreendê-lo ou explicá-compreendê-lo. Esse é o caso particular do fenômeno da violência que, via de regra, é confundido com a agressão humana. Portanto é um desafio para toda a sociedade o engajamento neste processo de busca de alternativas para que se tenha uma sociedade mais justa e igualitária, na busca de reverter o quadro de resultados até então nada animadores. É preciso dar visibilidade ao problema, clarificar esta questão em níveis acadêmicos e no cotidiano, capacitar pessoal para trabalhar com o enfrentamento da violência que cada vez mais preocupa a população brasileira e ameaça não só o presente, não só as pessoas, mas nosso futuro como povo, como nação e como civilização". Sabe-se que a violência é contemporânea do ser humano e, como referencia Passetti, (2002) "a violência é tida como uma característica inerente à espécie humana, um tema com diversas possibilidades de abordagens, uma marca cada vez mais perigosa, alardeada entre as práticas sociais. Falar de violência requer um ponto de vista. Não exige que este seja abrangente, translúcido ou o mais verdadeiro. Apenas que revele miopias, pequenos erros, infortúnios, zonas cinza da sua genealogia, de sua busca desesperada por uma pacificação ainda que superficial". Nota-se que as mulheres idosas percebem as causas que deNota-sencadeiam situações de violência, como o fenômeno do desemprego. Com relação a denunciar atos de violência é acentuada a questão do silêncio para não haver envolvimento no caso. Isso faz com que essa questão seja desafiadora para todos os profissionais que buscam o fortalecimento dos sujeitos e dignidade da pessoa humana como alternativa para minimizar tal quadro tão presente nos dias atuais. Percebe-se, pelas diversas concepções sobre o fenômeno da violência, que as pessoas estão com medo, frente à falta de perspectivas e soluções para o aumento desenfreado da violência. Estudar e pensar a violência implica estudar e pensar a sociedade. Evidencia-se a concepção da violência como a violação da natureza humana, no que tange à integridade física, espiritual, moral e psíquica. Uma idosa, ao ser questionada, diz em tom

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seco: "Violência para mim é a doença" (65 anos). Sem dúvida, "a falta ou perturbação da saúde, moléstia, mal, enfermidade" (Ferreira, 1975) são situações de violência que acometem a vida das pessoas. Conclui-se que as pessoas idosas estão conscientes dos diversos fatores que levam a violência. Essa é uma realidade que afeta a todos nós, portanto deve-se tratar a violência, dando visibilidade a ela, potencializando e canalizando respostas propositivas e coletivas a essa questão. Não se pode estar atrelado somente aos aspectos clínicos da vida das pessoas, mas cada vez mais estar atento aos aspectos sociais que afetam cotidianamente a vida dos seres humanos e conseqüentemente sua situação de saúde. A partir desta pesquisa iniciou-se um trabalho de mobilização das pessoas idosas para o desenvolvimento de atividades preventivas e educativas em algumas unidades de saúde do município.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

STREY, Marlene Neves. Violência e gênero: um casamento que tem tudo para dar certo. In: GROSSI, P. e WERBA, G. Violências e Gênero. Coisas que a gente não gosta de saber. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.

GROSSI, Patrícia Krieger; IBIAS, Clara Isabel. Violência contra a mulher não tem idade. In: P. GROSSI e G. WERBA. Violências e Gênero. Coisas que a gente não gosta de saber. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.

FALEIROS, Vicente de Paula. A questão da Violência. Conferência no IV Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social e Política Social. Brasília. 1998.

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GROSSI, Patrícia Krieger; AGUINSKY, Beatriz Gershenson; Por uma nova ótica e uma nova ética na abordagem da violência contra mulheres nas relações conjugais. In: P.Grossi e G. WERBA Violências e Gênero Coisas que a gente não gosta de saber. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.

RELATÓRIO DE PESQUISA DO CONSELHO ESTADUAL DO IDOSO, 1997. PASSETTI, Edson. Cartografia de violências. In: Revista Serviço Social e Sociedade n. 70. São Paulo: Cortez, 2002.

RODRIGUES, Aroldo. Psicologia Social. Rio de Janeiro: Vozes, 1986.

RODRIGUES, Aroldo; ASSMAR, Eveline Maria Leal; JABLONSKI, Bernardo. Psicologia Social. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.

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