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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM SERVIÇO SOCIAL São PauloSP

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A FAMÍLIA COMO CAMPO DE ATUAÇÃO E INVESTIGAÇÃO DO

SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO

PAULO

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS

EM SERVIÇO SOCIAL

São Paulo/SP

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A FAMÍLIA COMO CAMPO DE ATUAÇÃO E INVESTIGAÇÃO DO

SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como

exigência parcial para obtenção do título de MESTRE

em Serviço Social, sob a orientação da Professora

Doutora Maria Lúcia Silva Barroco.

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO

PAULO

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS

EM SERVIÇO SOCIAL

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_____________________________________

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Aos meus pais Marinete e Armindo, grandes incentivadores do meu crescimento intelectual, vida, apoio e estímulo incondicional.

Ao Paulinho, companheiro de todas as horas, que me completa com amor, respeito e carinho.

Aos meus filhos Isa e Flávio, fontes de alegrias, bênçãos da minha vida.

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Agradeço a todas as pessoas que participaram neste processo, com estímulos afetivos e intelectuais.

Aos meus pais, marido, filhos, irmã, cunhado, sobrinhas, parentes e amigos, pela paciência e acolhimento.

À minha orientadora, Professora Doutora Maria Lúcia Silva Barroco, grande mestra, pela sabedoria e compromisso.

Aos companheiros de trabalho, primeiramente na Prefeitura Municipal de Birigüi e atualmente na Prefeitura Municipal de Araçatuba, pela amizade destes anos, ensinando-me tanto no convívio diário.

Aos colegas docentes da UNIJALES, bem como aos alunos e funcionários pelo incentivo, aprendizado e paciência.

Aos queridos professores e amigos do mestrado na PUC/SP que me privilegiaram com seu conhecimento e amizade.

Aos membros da banca de qualificação, Professora Doutora Maria Amália Faller Vitale e Professora Doutora Maria Lucia Martinelli, pelas substantivas críticas e sugestões.

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A presente dissertação trata das transformações ocorridas com as famílias, contempladas na produção teórica do serviço social brasileiro. É uma pesquisa histórica bibliográfica, realizada através do levantamento de alguns clássicos que abordam o assunto, mas, principalmente das Revistas Serviço Social & Sociedade com o título sobre família. Objetivamos conhecer as contribuições teóricas dos assistentes sociais brasileiros sobre a temática, visando a ampliar nosso conhecimento como profissional que atua diretamente com esses usuários. A intenção deste trabalho foi seguramente pontuar indagações que foram sendo alinhavadas no processo de estudo e na proximidade com essa demanda. Sentimos a necessidade de buscar uma maior compreensão da família, que é uma instituição social, problematizando-a em sua complexidade e contradições. Compreendemos que temos que pensá-la em suas configurações atuais e as responsabilidades que lhe são atribuídas. Para entender o que vem ocorrendo na contemporaneidade, iniciamos nossa pesquisa retornando à antiguidade para conhecer concepções de famílias em alguns países e principalmente as transformações ocorridas com elas no Brasil. Estudamos as políticas sociais brasileiras e alguns marcos históricos das gestões de Getúlio Vargas a Luis Inácio Lula da Silva (1930 a 2006). Preocupamo-nos em pensar a política social voltada à família, as relações com o Estado nas últimas décadas, priorizando a questão social, o serviço social e a atuação dos assistentes sociais, junto a essa demanda. Este estudo possibilitou ampliar nosso conhecimento sobre a temática, aprofundando assim o saber para enfrentamento de desafios que demandam a intervenção profissional.

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The present dissertation concerns about the current transformation of families regarded in the theoretical production of the brazilian social service. It is about a historical bibliographer research, accomplisher through the survey of some classic references which approach this subject but mainly through the renowned social service & Society magazines which have brought the word family as title. We have aimed at the acquaintance of theoretical contributions of the brazilian social assistants about the thematic above mentioned and aimed at the widening of our own knowledge as professionals who directly act on those mentioned users, as well. This essay has intended to point out the inquiries that have been outlined during the procedure of the study as well as requires closed to the mainly issue. We have been in need to pursuit an extended understanding of family, which certainly is a social institution, questioning its complexity and its contradictions. It has been realized that family has to be regarded in all of its present configurations and in its imputed responsibilities as well. In order to understand what have been happening in a contemporaneous way, this research started from the antiquity with goal of getting to know the conception of those families in some countries and, mainly, to understand the transformations that took place in those families from Brazil. It has been also studied the brazilian social politics and some historical facts of the government lead by Getúlio Vargas and Luis Inácio Lula da Silva (From 1930 to 2006). It has been concerned, as well, the social politics turned on families, their relations with the state in the past few decades, giving priority to the social claims, to the social service and to the social assistants actuation in regard to the mentioned requirements. This study has helped us in the widening of our knowledge about this thematic, which has allowed us to face the challenges that require professional intervention.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS 12

1.1 – CONCEPÇÕES DE FAMÍLIAS, EM ALGUNS PAÍSES, NA ANTIGÜIDADE

14

1.2 – AS FAMÍLIAS NO BRASIL 24

1.3 – AS POLÍTICAS SOCIAIS: ORIGEM E FUNÇÃO 29

1.4 – ALGUNS MARCOS HISTÓRICOS DAS POLITICAS

SOCIAIS NAS GESTÕES DE VARGAS A LULA (1930 A 2006)

31

2 – POLÍTICA SOCIAL VOLTADA A FAMÍLIA, NA CONTEMPORANEIDADE

49

2.1 – RELAÇÕES ENTRE FAMÍLIA E ESTADO, NAS ÚLTIMAS DÉCADAS

53

2.2 – QUESTÃO SOCIAL, IMPLANTAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL E ATUAÇÃO COM FAMÍLIAS

59

3 – ANÁLISE DA REVISTA SERVIÇO SOCIAL & SOCIEDADE 66

3.1 – BLOCO UM: A DÉCADA DE OITENTA 76

3.1.1 – AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A FAMÍLIA 76

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3.2 – BLOCO DOIS: A DÉCADA DE NOVENTA E O NOVO SÉCULO

79

3.2.1 – TRABALHO E FAMÍLIA 80

3.2.2 – GÊNERO, TRABALHO E POLÍTICAS PÚBLICAS 81

3.2.3 – GÊNERO, VIOLÊNCIA E FAMÍLIA 83

3.2.4 – A FAMÍLIA E A CRIANÇA E O ADOLESCENTE 83

3.2.5 – A FAMÍLIA E O PORTADOR DE TRANSTORNO MENTAL

85

3.2.6 – AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A FAMÍLIA 85

3.3 – AS CONCEPÇÕES SOBRE A FAMÍLIA 89

CONCLUSÃO 91

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INTRODUÇÃO

As inquietações de pesquisadora, após ter concluído três especializações em recursos humanos, serviço social e violência doméstica contra crianças e adolescentes; de mestranda no programa de estudos pós-graduados em serviço social da PUC/SP e da experiência adquirida como assistente social, primeiramente atuando em empresa e, nos últimos anos, em prefeitura municipal, atendendo cotidianamente famílias, foram sem dúvida os elementos propulsores para a escolha do tema.

Assim, a intenção de abordar o assunto é seguramente pontuar indagações que foram sendo alinhavadas no processo de estudo e na proximidade com essa demanda.

Pretendemos pensar a família em suas configurações atuais e as responsabilidades que lhe atribuímos.

Percebemos que a maioria dos profissionais com quem convivemos, tanto assistentes sociais como de outras áreas, esperam das famílias atendidas que elas produzam cuidados, proteção, aprendizado dos afetos, construção de identidade e vínculos relacionais de pertencimento, capazes de promover o convívio saudável de seus membros, sem parar para pensar se elas estão preparadas para assumir esse papel.

O fato de participarmos, no nosso cotidiano, de vivências em família, durante a nossa vida, não significa que conhecemos todos os instrumentos necessários para atuarmos com elas. Há necessidade de um maior aprofundamento teórico-metodológico do tema, para se intervir adequadamente.

Necessitamos buscar uma maior compreensão da família, que é uma instituição social, problematizando-a em sua complexidade e contradições, pois esse é um requisito para uma prática profissional comprometida com os nossos usuários.

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se ela tem acompanhado as mudanças sociais que interferem na configuração das famílias.

Nesse sentido, entendemos ser de suma importância estar pesquisando e registrando o que outros estudiosos, principalmente os assistentes sociais, têm a contribuir sobre a temática, sintetizando essas informações teoricamente e também expondo nossas concepções como profissional que atua cotidianamente com essa demanda.

Temos clareza de que o profissional, para atuar com a população, deve conhecer e compreender a realidade, estudando e decifrando: o movimento de estrutura e conjuntura da história, as contradições internas e externas às classes populares, as possibilidades e os limites históricos com que se defronta.

Acreditamos que o serviço social tem muito a contribuir quanto a fornecer informações sobre o que vem ocorrendo com as famílias brasileiras, pois os assistentes sociais mantêm contacto direto com elas, ouvindo suas dificuldades e conhecendo suas necessidades e expectativas.

Nosso objetivo foi conhecer as contribuições teóricas dos assistentes sociais brasileiros sobre a temática, visando a ampliar nosso conhecimento como profissional que atua diretamente com esses usuários.

A pesquisa foi bibliográfica, realizada através do levantamento de alguns clássicos que tratam do assunto, mas, principalmente das Revistas Serviço Social & Sociedade com o título sobre família.

Este estudo pretendeu ter uma dimensão histórica, expondo algumas concepções de famílias, situando-as em relação às políticas públicas e ao serviço social, mostrando a interdependência da família com a sociedade e com as circunstâncias vivenciadas pelos diversos grupos sociais. Deteve sua atenção para as famílias, e não para uma família específica, principalmente no interior da sociedade brasileira.

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No primeiro capítulo pretendemos expor algumas mudanças ocorridas com as famílias, em outros países, na antiguidade, e no Brasil, na contemporaneidade, uma síntese da política social e dos períodos históricos importantes do país, onde se evidencia que muitas famílias modificaram seu perfil em resposta as transformações por que passou a sociedade brasileira.

No segundo capítulo buscaremos apresentar brevemente a política social brasileira voltada à família, as relações com o Estado nas últimas décadas, a preocupação com a questão social, o surgimento do serviço social no Brasil: as principais transformações ocorridas desde sua origem até a atualidade e a intervenção do assistente social junto a essa demanda.

No terceiro e último capítulo serão expostas as concepções dos assistentes sociais sobre família e como trataram das transformações que ocorreram com as mesmas, na história, através dos artigos publicados nas revistas Serviço Social & Sociedade.

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I

1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O título deste trabalho: a família como campo de atuação e investigação do serviço social brasileiro leva a algumas considerações.

Quando estudamos o tema família, devemos pensar nelas em suas várias configurações e formas de organizações, compreendendo suas particularidades como pertencentes a diferentes camadas sociais.

Apesar das transformações que ocorrem com a configuração da família na sociedade contemporânea brasileira, nos parece que ainda se pauta pelo ideário da família nuclear burguesa, composta por pai, mãe e filhos.

Essa forma de compreender a família foi por muito tempo hegemônica para a maioria dos pesquisadores, sendo referência para os diversos profissionais, entre eles os assistentes sociais, na implementação de programas/projetos sociais.

Ainda há, na contemporaneidade, muita dificuldade em reconhecer os novos arranjos familiares (não convencionais) como famílias.

Qualquer pessoa sabe o que é uma família porque todo mundo tem a sua. Porém, não podemos comparar nosso modelo de relação familiar com aquela com que trabalhamos. Esses estigmas podem nos impedir de perceber as possibilidades e os recursos que as famílias buscam construir.

O discurso social sobre a família ideal ou perfeita, tão sonhada, na maioria das vezes, está muito distante da real.

Também devemos considerar outras questões referentes à convivência entre as pessoas na família, sua relação com a comunidade mais próxima e com a sociedade mais ampla.

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“É também um indicador da multiplicidade de discursos que definem o que é uma família: discursos religiosos, morais, legais, das tradições culturais, das políticas sociais, até a específica tradição de cada família, de cada indivíduo.” (Saraceno, 1992: 11-12)

Assim, embora para o senso comum a representação da família seja sempre compreensível, existe uma infinidade de significados para essa palavra.

As pesquisas têm mostrado as diferenças na sua organização, tanto no que se refere à composição quanto no que diz respeito às formas de sociabilidade que vigoram em seu interior. Essa diversidade de configurações familiares tem sido, na atualidade, objeto de reflexão de alguns estudiosos que pesquisam ou trabalham com famílias. Para Symanski, ela pode ser formada através de vários tipos de laços:

“1) família nuclear, incluindo duas gerações, com filhos biológicos; 2) famílias extensas, incluindo três ou quatro gerações; 3) famílias adotivas temporárias; 4) famílias adotivas, que podem ser bi-raciais ou multiculturais; 5) casais; 6) famílias monoparentais, chefiadas por pai ou mãe; 7) casais homossexuais com ou sem crianças; 8) famílias reconstituídas depois do divórcio; 9) várias pessoas vivendo juntas, sem laços legais, mas com forte compromisso mútuo.” (Symanski, 2002:10)

Concordamos com Heloisa Szymanski que compreende família como uma associação de pessoas que escolhe conviver por razões afetivas e assume um compromisso de cuidado mútuo.

Portanto, é um tema complexo, de difícil problematização porque a família é algo tão próximo que acabamos esquecendo sua dimensão social e histórica.

Abordar o assunto implica levantar algumas questões: de quais famílias estamos falando, de que país, de que estrato social, de que época e outras.

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1.1 – CONCEPÇÕES DE FAMÍLIAS, EM ALGUNS PAÍSES, NA ANTIGÜIDADE

Segundo Friedrich Engels1 (2002), até o início de 1860 não se pesquisava o

tema família. As ciências históricas se embasavam nos Cinco Livros de Moisés. A forma patriarcal exposta se identificava à família burguesa atual. Era como se ela não tivesse evoluído. Apenas cogitava-se que nos tempos primitivos pudesse ter havido um período de “promiscuidade” sexual. Conheciam-se a monogamia e a poligamia no Oriente, e a poliandria na Índia e no Tibete. Em poucos povos do mundo antigo e algumas tribos selvagens, a descendência era contada por linha materna e não paterna, porém ninguém sabia como abordar tais fatos.

O estudo da história da família começa, realmente, em 1861, com o Direito Materno, do pesquisador suíço Jakob Bachofen.

Bachofen escreveu que entre os gregos e os povos asiáticos existiu, antes da monogamia, uma época em que não só o homem mantinha relações sexuais com várias mulheres, mas também o inverso, sem que isso violasse a moral estabelecida e que a validez da filiação feminina se manteve por muito tempo.

John Fergusson Mac Lennan voltou a tocar no assunto em 1865, sem conhecer as idéias de seu antecessor. Foi considerado, pelos ingleses, o fundador da história da família. Expôs que entre muitos povos selvagens, bárbaros e até civilizados, houve uma forma de matrimônio em que o noivo raptava sua futura esposa da casa dos pais, ou seja, os homens de uma tribo roubavam mulheres de outras, pela força.

Para Mac Lennan ocorreram duas situações: uma em que os homens eram obrigados a buscar esposas, e as mulheres, maridos, fora do grupo (exógamas) e outra em que só podiam procurá-las no seio de seu próprio grupo (endógamas). E que, entre as raças exógamas, existiu primitivamente a união da mulher com diversos homens (irmãos ou primos) e que o primeiro sistema de parentesco foi o que reconhecia o vínculo de sangue pelo lado materno.

1 Engels, em seu livro,

A origem da família, da propriedade privada e do estado, trata do tema com

(16)

John Lubbock, também inglês, em 1870, em seu livro A Origem da

Civilização, reconheceu como fato histórico o casamento por grupos, escrevendo

que entre povos mais desenvolvidos ocorreram outras formas de famílias, nas quais vários homens tinham em comum várias mulheres.

O americano Lewis Henry Morgan, em 1871, apareceu com novas informações, no seu livro Sistema de Consangüinidade e Afinidade da Família

Humana, levando a discussão para um campo mais amplo. Tomou como ponto de

partida os sistemas de parentesco e reconstituindo as formas de família a eles correspondentes, possibilitou enxergar mais longe, a pré-história da humanidade. A aceitação desse método acabou com as construções de Mac Lennan.

Morgan, em 1877, lançou o livro A Sociedade Antiga, onde informou que a

existência de tribos exógamas não foi provada. Colocou que, na época em que dominava o matrimônio por grupos, a tribo dividiu-se num certo número, de gens consangüíneas por linha materna, onde era proibido o casamento, embora os homens de uma gens pudessem conseguir suas mulheres dentro da própria tribo, o que acabavam fazendo. No entanto, tinham de consegui-las fora de sua gens. As gens grega e romana que eram um enigma para os historiadores, acabaram sendo entendidas, dando nova base ao estudo de toda a história primitiva.

Morgan pesquisou por muito tempo os iroqueses (estabelecidos no Estado de Nova York) sendo adotado por uma de suas tribos (a dos Senekas). Identificou um sistema de consangüinidade diferente dos seus reais vínculos de família, na qual o matrimônio era facilmente dissolúvel, por ambas as partes, e chamado, por ele, de família sindiásmica.

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modificação, entre os Aborígenes da Índia, as tribos Dravidiana do Dekan e as Gauras do Indostão.

As designações pai, filho, irmão, irmã, não eram simples títulos, mas, ao contrário, implicavam deveres definidos e cujo conjunto formou uma parte essencial do regime social desses povos.

Já no Havaí, na primeira metade do século XIX, todos os filhos de irmãos e irmãs eram irmãos e irmãs, considerados filhos comuns.

Ao estudar a história da família, Morgan chegou à conclusão, como vários outros historiadores, de que existiu no seio da tribo, em uma época primitiva, o comércio sexual “promíscuo”, no qual cada mulher pertencia igualmente a todos os homens e vice-versa. Porém, poucos estudiosos tocaram nesse assunto.

Morgan acreditava que desse estado primitivo de “promiscuidade” formou-se: 1 - família consangüínea, na qual os grupos conjugais classificavam-se por gerações: todos os avôs e avós eram maridos e mulheres entre si. O mesmo acontecia com seus filhos, isto é, com os pais e mães; os filhos desses são o terceiro círculo de cônjuges comuns, e seus filhos, os bisnetos, o quarto círculo. Os pais e filhos não tinham relações sexuais recíprocas (primeiro progresso da organização da família). Irmãos e irmãs, primos e primas em todos os graus eram todos, entre si, irmãos e irmãs, e por isso mesmo maridos e mulheres uns dos outros (com relação carnal mútua). Essa família desapareceu, e o que indica que ela deve ter existido é o sistema de parentesco havaiano.

2 - família punaluana, na qual aconteceu o segundo progresso na organização familiar, ou seja, a exclusão dos irmãos nas relações sexuais recíprocas. Uma vez proibidas essas relações sexuais, o grupo se transforma numa gens, constituindo-se num círculo fechado de parentes consangüíneos por linha feminina, distinguindo-se de outras gens da mesma tribo. A família punaluana explicou o sistema de parentesco entre os índios americanos e foi também a base para a dedução da gens do direito materno.

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recebiam castigo por prática de adultério. O vínculo conjugal podia ser facilmente quebrado por qualquer parte, e os filhos pertenciam à mãe.

4 - família monogâmica, baseava-se no poder do homem que tinha por finalidade procriar filhos, e cuja paternidade era indiscutível. Nessa época, só o homem podia romper os laços conjugais. Somente ele podia ser infiel, desde que não trouxesse a concubina ao domicílio conjugal. Quanto à mulher legítima, exigia-se que ela aceitasse tudo e guardasse uma fidelidade rigorosa. A esposa era apenas a mãe dos filhos, a que cuidava da casa. Na verdade era monogamia apenas para a mulher. Foi a primeira forma de família que não se baseava em condições naturais, mas econômicas.

Um pesquisador que também contribuiu com esse tema foi o missionário inglês Lorimer Fison, que durante anos, estudou essa forma de família (matrimônio por grupos), na Austrália.

Fison identificou que entre os negros australianos do monte Gambier, no sul da Austrália, a tribo inteira dividia-se em duas grandes classes: os Krokis e os Kumites. Eram proibidas as relações sexuais dentro de uma dessas classes, porém todo homem de uma delas era marido nato da mulher da outra e vice-versa. Não havia nenhuma restrição de idade ou de consangüinidade, salvo a determinada pela divisão em duas classes exógamas.

Esse sistema também foi identificado nas margens do Rio Darling, mais a leste, e em Queensland, no nordeste, demonstrando ser bastante difundido. Excluía apenas os matrimônios entre irmãos e irmãs, filhos de irmãos e filhos de irmãs por linha materna, porque esses pertenciam à mesma classe.

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Percebeu-se que a tendência de impedir o matrimônio entre consangüíneos manifestou-se, mas de maneira espontânea, sem consciência clara dos fins objetivados.

O casamento por classes inteiras, como ocorreu na Austrália, foi considerado a forma mais primitiva de matrimônio por grupos. Já a família punaluana permeou o que conduziu ao grau imediatamente superior de desenvolvimento. Provavelmente devem ter existido outros graus intermediários.

Porém, ainda continuou acontecendo, em algumas tribos, a união por grupos. Exemplo disso foram as quarenta tribos da América do Norte, nas quais o homem que se casasse com a moça mais idosa tinha direito de tomar, igualmente como mulheres, todas as irmãs dela, logo que chegassem à idade própria.

Entre habitantes da Península da Califórnia, em certas festividades, aconteciam de se reunirem várias tribos para praticar sexo. O mesmo costume também ocorreu na Austrália.

Nas Ilhas Baleares, entre os Augilas Africanos e entre os Báreas, na Abissínea, na antiguidade, os amigos e parentes do noivo, ou os convidados, exerciam durante o casamento, o direito à noiva, por costume; e ao noivo só chegava a vez por último, depois de todos.

Em outros povos, um personagem oficial, chefe da tribo ou da gens, fosse cacique, xamã, sacerdote ou príncipe aquele que representasse o grupo, era quem exercia com a mulher que se casava o direito da primeira noite. Igualmente aconteceu entre a maioria dos habitantes do território do Alasca e os Tanus do Norte do México.

Ao introduzirem a criação do gado, a elaboração dos metais, a arte do tecido e, por fim, a agricultura, as coisas mudaram, principalmente depois que os rebanhos começaram a ser propriedade de algumas famílias. Passando essas riquezas em propriedade particular, e aumentadas depois rapidamente, influenciaram a sociedade alicerçada no matrimônio sindiásmico.

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herdar bens do pai. Anteriormente, esse fator não teve importância porque praticamente nenhuma das partes tinha o que dividir, mas depois que o homem começou a adquirir riquezas, isso influenciou na organização familiar.

Ao possuir valores, o homem foi ganhando uma posição mais importante que a da mulher na família e, por outro lado, fizeram que nascesse nele a idéia de se valer dessa vantagem para modificar, em proveito de seus filhos, a ordem da herança anteriormente estabelecida. Porém, isso não poderia ocorrer se continuasse prevalecendo o direito materno. Foram abolidas então a filiação feminina e o direito hereditário materno, sendo substituídos pela filiação masculina e o direito hereditário paterno. Passou-se assim ao patriarcado. Isso ocorreu entre os povos cultos, ainda nos tempos pré-históricos.

O homem também começou a mandar na casa em domínio e a mulher a ser servidora (instrumento de reprodução).

Essa forma de família assinala a passagem do matrimônio sindiásmico à monogamia.

Porém, em vários países do mundo, continuaram existindo comunidades familiares (onde moravam várias gerações da mesma família).

Os gregos diziam que os únicos objetivos da monogamia eram a preponderância do homem na família e a procriação de filhos que só pudessem ser seus, para herdar. O casamento, para eles, era uma carga, um dever para com os deuses, o Estado e seus antepassados.

A antiga liberdade de relações sexuais não desapareceu completamente com o matrimônio sindiásmico, e nem mesmo com a monogamia.

Bachofen afirmou que a passagem do heterismo à monogamia realizou-se essencialmente graças às mulheres.

Morgan falou do heterismo (no período da monogamia) que eram as relações extra-conjugais de homens com mulheres não casadas, ocorridas em todas as épocas da civilização e que se transformaram em prostituição.

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É dúbia a herança que a união conjugal por grupos legou à civilização: de um lado a monogamia, de outro o heterismo, incluída a sua forma extrema, a prostituição.

Na monogamia desenvolveu-se uma outra contradição: como o marido apelava para o heterismo, a esposa ficava abandonada. O adultério passou a ser uma instituição social inevitável. Foi uma forma de a mulher se rebelar contra o domínio do homem.

A família monogâmica não foi igual em todos os lugares e épocas. Entre os romanos a mulher era mais livre e considerada. Lá elas podiam romper o vínculo matrimonial.

Só na monogamia que se pôde desenvolver o amor sexual, porém, não se sabe se esse amor era mútuo entre os cônjuges.

Segundo Engels (2002), em todas as classes históricas dominantes, do período monogâmico, o matrimônio continuou sendo de conveniência, arranjado pelos pais.

O casamento burguês assumiu duas feições:

1 – nos países católicos, os pais proporcionavam ao jovem a mulher que lhe convinha, do que resultou naturalmente o heterismo por parte do homem e o adultério por parte da mulher.

2 – nos países protestantes, o filho teve mais ou menos liberdade para procurar esposa dentro da sua classe. Assim, o amor pôde ser, até certo ponto, a base do casamento, pelo menos aparentemente, ou seja, o marido não praticava o heterismo sempre e a infidelidade da mulher foi mais rara.

Mas nos dois casos, o matrimônio baseava-se na posição social dos contraentes e, assim, uma união de conveniência. Essas situações só ocorreram para as classes burguesas.

Para o proletariado foi diferente, principalmente quando a mulher ingressou no mercado de trabalho, pois, como ela também era colaboradora nos rendimentos da casa, passou a ter direito nas decisões familiares.

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Gueiros, em breve retrospectiva histórica, expõe que, antes do século X, a família não tinha expressão. A partir daí e com as oscilações do Estado, a concepção de linhagem ganha forças tendo como uma das preocupações a não divisão do patrimônio.

“No século XIV, começam a se operar mudanças na família medieval, que vão se processar até o século XVII. Neste período, a situação da mulher é também alvo de mudanças, caracterizadas pela perda gradativa de seus poderes, o que culmina, no século XVI, com a formalização da incapacidade jurídica da mulher casada e a soberania do marido na família. Assim, a mulher perde o direito de substituir o marido em situações nas quais ele se ausenta ou é considerado louco e qualquer ato seu tem efeito legal apenas se autorizado pelo marido.” (Gueiros, 2002: 106)

Segundo Ariès (1978), na Idade Média, a transmissão de conhecimentos, entre as gerações ocorria pela participação das crianças na vida dos adultos, através do contato diário. Por volta dos sete anos, ou seja, depois que desmamavam, essas tornavam-se companheiras naturais daqueles.

“... A criança desde muito cedo escapava à sua própria família, mesmo que voltasse a ela mais tarde, depois de adulta, o que nem sempre acontecia. A família não podia portanto, nessa época, alimentar um sentimento existencial profundo entre pais e filhos. Isso não significava que os pais não amassem seus filhos: eles se ocupavam de suas crianças menos por elas mesmas, pelo apego que lhes tinham, do que pela contribuição que essas crianças podiam trazer à obra comum, ao estabelecimento da família. A família era uma realidade moral e social, mais do que sentimental....” (Ariès, 1978: 221)

Naquela época a família assegurava a transmissão da vida, dos bens e dos nomes, porém não penetrava na sensibilidade.

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“A idéia essencial dos historiadores do direito e da sociedade é que os laços de sangue não constituíam um único grupo, e sim dois, distintos embora concêntricos: a família ou mesnie, que pode ser comparada à nossa família conjugal moderna, e a linhagem, que estendia sua solidariedade a todos os descendentes de um mesmo ancestral. Em sua opinião haveria, mais do que uma distinção, uma oposição entre a família e a linhagem: os progressos de uma provocariam um enfraquecimento da outra, ao menos entre a nobreza. A família ou mesnie, embora não se estendesse a toda a linhagem, compreendia, entre os membros que residiam juntos, vários elementos, e, às vezes, vários casais, que viviam numa propriedade que eles se haviam recusado a dividir, segundo um tipo de posse chamado frereche ou fraternitas. A fereche agrupava em torno dos pais os filhos que não tinham bens próprios, os sobrinhos ou os primos solteiros. Essa tendência à indivisão da família, que aliás não durava além de duas gerações, deu origem às teorias tradicionalistas do século XIX sobre a grande família patriarcal. A família conjugal moderna seria portanto a conseqüência de uma evolução que, no final da Idade Média, teria enfraquecido a linhagem e as tendências à indivisão.” (Ariès, 1978: 211)

Com o decorrer do tempo, alguns estudiosos começaram a perceber que as crianças não estavam preparadas para o mundo dos adultos e sim deviam ser ensinadas em escolas.

Somente a partir do século XV que poucas famílias começam a sentir a necessidade de maior entrosamento entre pais e filhos, principalmente quando o conhecimento começou a ser transmitido pela escola, pois essa passou a ser, juntamente com a família, um instrumento de iniciação social, da passagem do estado da infância ao do adulto.

A escola era importante por vários motivos, e entre eles, por isolar os jovens do mundo dos adultos, para mantê-los “inocentes” e concorria para despreocupar os pais de vigiar seus filhos mais de perto. A partir daí, ocorre uma aproximação da família e da criança. Segundo Ariès (1978), começa a existir o sentimento de pertencimento à família.

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Houve um período em que se tinha o costume de beneficiar com riquezas um dos filhos, geralmente o mais velho. Temiam que, se dividissem seus bens, diminuiriam seus prestígios. Porém, a partir da segunda metade do século XVII, esse hábito começa a ser questionado.

O cuidado dispensado às crianças começou a inspirar uma afetividade, o sentimento moderno da família. Os pais já não se satisfaziam mais em por filhos no mundo, em privilegiar apenas alguns deles, esquecendo dos outros. A moral da época estabelecia proporcionar a todos, e não apenas aos mais velhos, os mesmos direitos, inclusive às meninas.

A família e a escola retiraram a criança da sociedade dos adultos. Porém, a escola, num primeiro momento, confinava esses jovens num regime disciplinar rigoroso que nos séculos XVIII e XIX resultou no internato.

Antes do século XVIII, o sentimento da família existia para poucos. Só a partir daí ele estendeu-se a todas as camadas sociais.

No século XVIII a família começou a se isolar da sociedade. A organização da casa era uma defesa para o mundo externo. Essa se tornou uma sociedade fechada.

A experiência familiar apesar de parecer ser comum a todos os indivíduos depende das várias culturas e vai se modificando conforme as transformações sociais que vão ocorrendo com o tempo.

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1. 2 – AS FAMÍLIAS NO BRASIL

No Brasil, no início dos séculos XVI e XVII, a economia da colônia esteve praticamente assentada nas plantações de cana, localizadas no Nordeste. Nos engenhos, as famílias nobres viviam nas mansões, cercadas de escravos. O poder de decisão, na maioria delas, pertencia ao marido, como protetor e provedor da esposa e dos filhos. A mulher tinha como responsabilidade o controle dos afazeres domésticos e a orientação moral da prole. Apesar de, na lei, essas uniões serem consideradas legítimas e modelos, nas quais o papel dos sexos estava bem definido por costumes e tradições, na realidade isso não acontecia em todas famílias, com tanta rigidez.

A descoberta de minas de ouro, na década de 1690, provocou alterações, deslocando o eixo econômico, antes localizado no nordeste, para o sul.

As populações mais pobres começaram a migrar para a região mineira em busca do enriquecimento, provocando uma vida urbana mais intensa. Aumentaram os concubinatos e os filhos ilegítimos. Mais mulheres passaram a exercer atividades econômicas fora do âmbito doméstico e as mães solteiras ou viúvas, a chefiarem. A sociedade que estava se formando era uma mistura de raças e origens diversas, muito difícil de ser controlada pela igreja e coroa portuguesa, principalmente a dos escravos.

Com essas transformações econômicas se processando vai ocorrendo a modernização das relações familiares, enfraquecendo também as obrigações mútuas entre gerações.

Como a mulher, com todas essas modificações, passa a ter maior controle sobre suas decisões pessoais, alguns homens passam a se desobrigar das responsabilidades familiares.

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No meio urbano, uma gama variada de serviços ligados ao abastecimento foi surgindo, favorecendo assim a atuação das mulheres trabalhadoras que, pouco a pouco, vão ocupando os espaços deixados pela migração masculina e a falta de escravos.

Essas mudanças se acentuam ao longo do século XIX, com o desenvolvimento econômico no sul do país, provocado pela cafeicultura.

Existiram também modificações políticas importantes, entre elas: a abolição da escravatura em 1888, a proclamação da república em 1889 e a entrada de imigrantes.

Especialmente na segunda metade do século XIX, abriram-se novas oportunidades de empregos e as mulheres passaram a ocupar uma fatia desse mercado, principalmente na indústria têxtil, porém num nível de trabalho não qualificado. Mesmo com algumas delas passando a trabalhar fora, elas continuaram exercendo suas funções básicas de mãe e de donas de casa, para as quais tinham sido socializadas e educadas.

A tendência da chefia familiar feminina está associada à história da colonização; com a crescente ruptura da sobrevivência baseada na economia familiar e a transição para o assalariamento individual. Assim, a sobrevivência dos membros da família passa a depender do trabalho e rendimento individual, fora do ambiente familiar.

No final do século XIX inicia-se o curso da industrialização. Esse fator também ocasionou a precipitação da urbanização. Vários acontecimentos concorreram para o início desse processo: a agricultura que se modernizou exigindo novas técnicas, a disposição de um grande contingente de população por um território amplo, a criação e desenvolvimento das cidades maiores, pois novas atividades estavam surgindo e principalmente a expansão das atividades públicas governamentais.

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“Com a adoção do sistema capitalista como sistema produtivo em substituição a outras formas de produção, a família foi perdendo a posse dos meios de produção. Se inicialmente era necessário haver famílias numerosas (o que implicava uma alta taxa de fertilidade, uma vez que a unidade principal de produção era o grupo familiar), o desenvolvimento para a forma capitalista determinou que a família perdesse sua característica de unidade produtiva, fazendo com que cada membro desta se transformasse em vendedor de sua força de trabalho.” (Hermácula et al., 1982: 144)

O aumento da participação feminina no mercado formal foi se acentuando ao longo do século, porém também estava inserida nos setores informais, principalmente através do trabalho domiciliar que reforçava ou mantinha o orçamento.

O rápido crescimento da população, no mesmo espaço, em tão pouco tempo, não poderia deixar de causar um desequilíbrio dos serviços de infra-estrutura e equipamentos, ou seja, deficiências nas condições de habitação, saneamento básico, transporte, lazer, saúde etc.

Muitos passaram a dirigir-se para a cidade porque verificaram que os moradores dos centros urbanos tinham várias facilidades como assistência médica, educação e outros benefícios. Isso fez com que a população do campo almejasse ter acesso a esses serviços, além do sonho de obter um emprego estável com melhor salário. Porém, ao chegar à cidade, esses contingentes populacionais deparavam com a inexistência de emprego para tanta mão-de-obra, tendo que se sujeitar às precárias condições de vida, se quisessem continuar sobrevivendo na zona urbana.

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aceleração da acumulação. É nesse período que é criada a Legião Brasileira de Assistência (LBA) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) que surge em 1942 para qualificar a força de trabalho necessária à expansão industrial.

“A desmoralização dos Círculos Operários e de outras formas de intervenção no movimento operário, assim como o crescimento da organização e combatividade desse movimento, são fatores que contribuem fortemente para o surgimento e orientação de instituições assistenciais atualmente de relevo, como por exemplo o SESI. Da mesma forma, as primeiras experiências de eleições democráticas (1945 e 1946), (...), contribuirá para o aparecimento de outras instituições, como a Fundação Leão XIII, no Rio de Janeiro. “ (Iamamoto e Carvalho, 1986: 254-255)

Na década de sessenta, ocorreram várias acontecimentos que influenciaram nas formas de ser da família, dentre eles, os movimentos de conquistas de direitos, onde ganham destaque os das mulheres, que lutaram pela sua emancipação.

“As mulheres eram consideradas colaboradoras da eficientização dessas medidas, no âmbito privado da família, cabendo a elas ajudar a reproduzir a força de trabalho efetiva e futura e, quando muito, receber uma atenção vinculada às contingências da maternidade, da viuvez, da separação, da filiação etc., que sua relação de dependência com o pai e depois, com o marido implicava. Isso ensejou, de certa forma, uma recusa do casamento por parte de muitas mulheres.” (Pereira, 1995: 108)

O movimento feminista contribuiu, a partir de seus questionamentos e críticas, para demonstrar que a emancipação da mulher só seria possível se ela fosse titular de direitos civis, políticos e sociais.

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separações, divórcios e os novos acordos sexuais. Como conseqüência do divórcio e dos recasamentos, surgiu outra configuração que vem sendo chamada “família reconstituída”. Observou-se o crescimento da família monoparental, ou seja, aquela geralmente chefiada por mulheres.

Mais tarde, a partir dos anos 80, as novas tecnologias reprodutivas (inseminações artificiais, fertilizações in vitro) dissociaram a gravidez da relação sexual entre homem e mulher, determinando alterações nas estruturas familiares.

Na década de 90, passa a ser possível o exame de DNA. A comprovação da paternidade possibilita a sua reivindicação, tanto pela mulher como pelo filho, forçando o homem a assumir sua responsabilidade, pelo menos legalmente, em relação ao filho.

Segundo Maria Amália Faller Vitale, nos segmentos da classe média:

“A inserção da mulher no mercado de trabalho e o controle da reprodução são fatores fundamentais para a emergência de um rearranjo sobre os papéis e funções femininas, com repercussão direta no padrão de relacionamento familiar. As novas representações sobre o papel feminino decorrente destes aspectos gestam a necessidade de novos acordos que podem ser explícitos ou, por vezes, implícitos quanto à estrutura de poder, quanto à forma de expressão da sexualidade e do afeto na família. Como dinâmica complementar, há um redimensionamento (pelo menos parcial) do papel de marido e pai. O desenvolvimento da condição feminina e suas implicações no relacionamento da família não ocorre, no entanto, de forma linear mas sim contraditória. Coexistem, no mesmo espaço familiar, modelos de relação calcados no papel feminino de ordem tanto tradicional quanto modernizante. A mulher considerada sede e esteio do mundo, da casa, convive com a mulher que ao trabalhar, faz parte do mundo da rua. Em contrapartida, o homem passa a agir de forma mais expressiva em esferas que eram, antes, pertinentes ao universo feminino, aproximando-se da intimidade com os filhos e participando de novas formas na socialização destes.” (Vitale, s.d.: 285–286)

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1.3 – AS POLÍTICAS SOCIAIS: ORIGEM E FUNÇÃO

As políticas sociais vinculam-se, em sua origem, ao enfrentamento da questão social, no contexto do processo de industrialização que provocou inúmeras transformações, como a migração acelerada do campo para as cidades, fato esse gerador de inúmeros problemas sociais no meio urbano, entre outros.

Com o passar dos anos, o termo social, antes compreendido como ligado à caridade, deixou de ser entendido como tal e passa a ser pensado em relação ao indivíduo pertencente a uma sociedade e também à melhoria das condições de vida da população urbana notadamente aquela trabalhadora de baixa renda, a quem restava viver nas cidades que, inchadas com esse novo contingente, oferecia apenas condições sub-humanas de vida.

A expressão “Estado – Providência” aparece na língua francesa em torno de 1860, e “Estado Social”, na língua alemã, por volta dos anos de 1880; já a expressão inglesa “Welfare State” ou “Estado de Bem-estar” é bem mais atual, firma-se na década de 1940 e é desse tipo de Estado que emerge a preocupação mais formal com o social.2

São muitas as concepções desse século a respeito das funções da política social, legitimação do Estado, regulação social, correção das imperfeições do mercado, eliminação das injustiças sociais e outras. Essa variação na forma de conceber as políticas sociais se dá em conseqüência das várias correntes teóricas existentes e que explicam historicamente o movimento, a aplicabilidade e a efetividade dessas medidas.

Em termos da teoria política existem três matrizes que influenciaram as concepções de política social: a liberal, a marxista e a social-democrata.

A visão liberal destaca que a competição é o caminho para o progresso econômico, gerando o bem-estar coletivo. Assim os serviços prestados pelo Estado devem atender apenas aqueles que têm alta prioridade social. O gasto social é considerado uma carga que prejudica o crescimento econômico, daí porque a

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destinação de recursos para a esfera social sofre restrições e cortes que não permitem o atendimento efetivo das necessidades sociais da população carente.

Para a marxista, a política social do estado capitalista visa a assegurar a reprodução das relações sociais, ou seja, é uma resposta do estado às contradições de classe. Nesse sentido, a política social tem uma dupla dimensão: é, ao mesmo tempo, uma resposta às necessidades sociais dos trabalhadores e, por outro lado, uma forma de ocultar as contradições de classe.

Na social democrata, os problemas sociais resultam de falhas de funcionamento do mercado que distribuem mal seus recursos. Cabe à intervenção estatal acabar com a injustiça e a pobreza que terminam compensando os problemas existentes pelas falhas do mercado. O gasto social é um instrumento auxiliar no processo de desenvolvimento econômico, contribuindo para o crescimento da economia.

A configuração política do estado brasileiro está vinculada ao desenvolvimento do capitalismo, com a industrialização, a mudança de poder da oligarquia agrária agro-exportadora para a nascente burguesia industrial. O governo Vargas marca a origem das políticas sociais no Brasil, configurando uma resposta do estado “populista” à questão social, tendo em vista a regulação da força de trabalho da classe operária que se formava nos grandes centros urbanos e que vinha de forma crescente e expressiva manifestando sua insatisfação diante das condições de trabalho.

Foi a partir do ângulo das relações de trabalho que o governo começou a intervir na questão social, por meio de políticas sociais, demonstrando que o mesmo muda sua concepção sobre seu papel frente às questões sociais emergentes passando a intervir através de ações ditas “populistas” junto a essa nova classe a do operariado.

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Após o término da segunda guerra mundial, o Estado alargou sua intervenção no campo econômico e social. É interessante destacar que a direção das transformações de atitudes da classe dominante depende basicamente do jogo das forças sociais, particularmente da pressão dos movimentos trabalhista.

“Não tem havido, pois, política social desligada dos reclamos populares. Em geral, o Estado acaba assumindo alguns destes reclamos, ao longo de sua existência histórica. Os direitos sociais significam, antes de mais nada, a consagração jurídica de reivindicações dos trabalhadores. Não significam a consagração de todas as reivindicações populares, e sim a consagração daquilo que é aceitável para o grupo dirigente do momento. Adotar bandeiras pertencentes à classe operária, mesmo quando isto configure melhoria nas condições humanas, patenteia também a necessidade de manter a dominação política.” (Vieira, 1992: 23)

Assim, vê-se que no caso brasileiro as políticas sociais expressam um conjunto de medidas que buscam o atendimento a reivindicações populares, mas, ao mesmo tempo, contraditoriamente, se configuram como instrumentos de manutenção do poder. Isso é percebido quando analisamos a trajetória dessas políticas ao longo da história.

1.4 – ALGUNS MARCOS HISTÓRICOS DAS POLÍTICAS SOCIAIS NAS GESTÕES DE VARGAS A LULA3 (1930 A 2006)

Utilizaremos os marcos da década de 30 para iniciar nossa periodização porque nesse período também foi implantado o serviço social no Brasil.

Getúlio Vargas exerceu seu primeiro mandato como Presidente da República durante o período compreendido entre 1930 a 1945. Apesar de assumir um governo provisório, deixou clara sua intenção de deter em seu poder tanto as decisões políticas quanto as econômico-financeiras.

3Os dados históricos e comentários nesta parte do trabalho além de constarem na bibliografia citada anteriormente e nas Constituições Brasileiras, também estão embasados em Renato Francisco dos Santos Paula. Trabalho, família e ser social: elos que unem a centralidade do trabalho às relações

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Como o café era a base da economia nacional e essa passava por uma crise de superprodução em conseqüência da crise mundial de 29, provocando vários problemas para outros setores econômicos como o comércio e a indústria, Getúlio institui uma nova política cafeeira no país. Em 1931, cria o Conselho Nacional do Café (C.N.C.) que foi substituído em 1933 pelo Departamento Nacional do Café (D.N.C.). As oligarquias cafeeiras opuseram-se à política agrária de Vargas por estarem sentindo-se prejudicadas com essa nova política cafeeira, pelo fato de terem que se submeter às decisões econômicas do governo federal, além de perderem o poder político.

Getúlio Vargas também teve que lutar contra a revolução de São Paulo que pretendia a constitucionalização imediata do país.

“Entretanto, se a Revolução Paulista de 1932 foi um fracasso do ponto de vista militar, foi um sucesso do ponto de vista político, pois em 1933 Getúlio Vargas promoveu eleições para a Assembléia Constituinte, que se instalou a 10 de novembro, sendo responsável pela elaboração de uma nova Constituição, promulgada em 1934.” (Silva e Bastos, 1989: 261)

A Constituição promulgada a 16 de julho de 1934, em pleno governo Vargas, foi a terceira Constituição do Brasil e a segunda da República, considerada de inspiração liberal e centralizadora. Consta dessa Constituição: a estrutura federativa do país; eleições diretas para presidente; mandato presidencial de 4 anos; extinção do cargo de vice-presidente; instituição da Justiça do Trabalho; salário mínimo; jornada de trabalho de oito horas diárias; repouso semanal remunerado; férias remuneradas; indenização por dispensa semjusta causa; criação do mandato de segurança, limitação do hábeas-corpus; voto secreto e feminino; voto aos 18 anos; ensino primário gratuito e obrigatório; autonomia dos sindicatos; obrigação de as empresas estrangeiras manterem no mínimo dois terços de seus empregados brasileiros e outras. Vemos aí, pelo menos de forma oficial, a preocupação do

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Quanto à família consta nessa Constituição, título V, capítulo I:

“Art. 144. A família, constituída pelo casamento indissolúvel, está sob a proteção especial do Estado.

Paragrapho único. A lei civil determinará os casos de desquite e de annulação do casamento, havendo sempre recurso ex officio, com effeito suspensivo.

Art. 145. A lei regulará a apresentação pelos nubentes de provas de sanidade physica e mental, tendo em attenção as condições regionaes do paiz.

Art. 146. O casamento será civil e gratuita a sua celebração. O casamento perante ministro de qualquer confissão religiosa, cujo rito não contrarie a ordem publica ou bons costumes, produzirá, todavia, os mesmos effeitos que o casamento civil, desde que, perante a autoridade civil, na habilitação dos nubentes, na verificação dos impedimentos e no processo de opposição, sejam observadas as disposições da lei civil e seja elle inscripto no Registro Civil. O registro gratuito e obrigatório. A lei estabelecerá penalidade para a transgressão dos preceitos legaes attinentes a celebração do casamento.

Paragrapho único. Será também gratuita a habilitação para o casamento, inclusive os documentos necessários, quando o requisitarem os juizes criminaes ou de menores, nos caso de sus competência, em favor de pessoas necessitadas.

Art. 147. O reconhecimento dos filhos naturaes será isento de quaesquer sellos ou emolumentos, e a herança, que lhes caiba, ficará sujeita a impostos iguaes aos que recáiam sobre a dos filhos legítimos.” (Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, 1934: 46–47)

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O Estado dedicou-se ao urbano com intuito de encontrar mecanismos que demonstrassem seu interesse em amenizar os problemas existentes na sociedade. Essa intervenção de natureza política fez criar um conjunto de órgãos e entidades cuja finalidade seria a de formular a política das cidades. Ao fazê-lo, deveria levar em conta as exigências técnicas e econômicas do capital e também propiciar soluções para as necessidades de reprodução da força de trabalho.

O governo passa a promover os serviços coletivos urbanos e também a infra-estrutura básica para a produção do capital, porém a maior beneficiada foi a iniciativa privada que teve acesso a esses bens coletivos de maneira diferenciada, acompanhando os interesse políticos reinantes. O Estado deveria, além de dirigir-se à iniciativa privada, voltar-se ao atendimento dos anseios da população, cujas necessidades estão ligadas diretamente à reprodução da força de trabalho.

O período foi marcado pelo choque de duas correntes ideológicas: a Ação Integralista Brasileira (A.I.B.) e a Aliança Nacional Libertadora (A.N.L.). Getúlio Vargas aproveitou-se do confronto desses dois grupos para demonstrar a população os perigos de uma política aberta.

Em 10/11/37 Vargas com o apoio da forças armadas, deu um golpe de Estado utilizando-se do pretexto de os comunistas estarem preparando uma nova revolução. Dissolveu o Congresso Nacional, as Assembléias Legislativas e as Câmaras Municipais. Os governadores dos Estados foram substituídos por interventores. Outorgou uma nova Constituição em 10/11/37, criando o “Estado Novo”.

A constituição estabelecia a ditadura, ou seja, um Estado Autoritário que permitia ao chefe do governo controlar os poderes Executivo, Legislativo e também o Judiciário. Getúlio acabou com a independência dos sindicatos, além de proibir as greves. Extinguiu todos os partidos políticos, regulamentou a pena de morte no Brasil, exilou vários políticos, criou o Ministério da Aeronáutica. Destacava que sua política econômica caracterizava-se pelo nacionalismo, intervencionismo estatal e protecionismo.

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Promoveu a diversificação agrária, incentivando a policultura.

A industrialização sofreu grande impulso a partir de 1940, em conseqüência de vários fatores: diminuição das importações, aumento das exportações de produtos industrializados e outros, tudo em virtude da segunda guerra mundial.

“Dentro do âmbito da Assistência Social, distinguia-se a atuação do Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS), da Legião Brasileira de Assistência (LBA), do Serviço Social da Indústria (SESI) e do Serviço Social do Comércio (SESC), embora Vargas apresentasse também a expansão de uma forma de assistência onde não havia necessidade de contribuição por parte do beneficiário. Tratava-se do que ele denominava de ‘abono familiar’, destinado às famílias numerosas, a fim de estimular a natalidade e de proteger os filhos ...” (Vieira, 1985: 55)

Porém, a opinião pública exigia a redemocratização do país.

Por decreto-lei de 02/02/45, foi designado o dia 02/12/45 para realização das eleições para Presidente da República e para membros do Congresso. Assim foram realizadas as eleições no dia marcado.

Eurico Gaspar Dutra foi eleito Presidente da República em dezembro de 1945 e tomou posse em 31/01/46.

Declarando-se “representante de todos os brasileiros”, inicia seu mandato juntamente com a abertura da Assembléia Nacional Constituinte. Considera-se que o fato mais importante ocorrido em sua gestão foi à promulgação da nova Constituição (18/09/46).

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Quanto à família, consta nessa Constituição, título VI, capítulo I:

“Art. 163. A família é constituída pelo casamento de vínculo indissolúvel e terá direito à proteção especial do Estado.

1.º O casamento será civil, e gratuita a sua celebração. O casamento religioso equivalerá ao civil se, observados os impedimentos e as prescrições da lei, assim o requerer o celebrante ou qualquer interessado, contanto que seja o ato inscrito no registro público.

2.º O casamento religioso, celebrado sem as formalidades deste artigo, terá efeitos civis, se, a requerimento do casal, fôr inscrito no registro público, mediante prévia habilitação perante a autoridade competente.

Art. 164. É obrigatória, em todo o território nacional, a assistência à maternidade, à infância e à adolescência. A lei instituirá o amparo das famílias de prole numerosa.

Art. 165. A vocação para suceder em bens de estrangeiro existentes no Brasil será regulada pela lei brasileira e em benefício do cônjuge ou de filhos brasileiros, sempre que lhes não seja mais favorável a lei nacional do de cujus.” (Constituição dos Estados Unidos do Brasil, 1946: 45)

Praticamente sem oposição, o governo completou a institucionalização do regime, organizando o Conselho Nacional da Economia, o Tribunal Federal de Recursos e as Comissões de Planejamento Regional.

Intensificou as relações com os norte-americanos. Dessa amizade nasceu o plano SALTE (Saúde, Alimentação, Transporte e Energia que constituíram os objetivos do projeto, executado apenas em parte).

Dutra seguia as tendências liberais, seu governo foi considerado conservador e sem muitas iniciativas. Desenvolveu seu mandato em ambiente de paz e tranqüilidade.

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Dizia retomar a liderança das massas populares, deixada pelo seu afastamento em 1945. Surge como “porta-voz de todos os trabalhadores brasileiros”.

Getúlio buscava a conciliação de forças diferentes que sobressaíam na luta pelo poder, ou seja, acreditava ser um intermediário entre as massas populares e o próprio governo. Não se descuidava da manutenção da ordem social vigente, aconselhando as pessoas a limitarem seus movimentos e protestos.

Em 1951 foi criada a Comissão Nacional de Bem-estar Social, com a finalidade de promover os estudos e as providências indispensáveis à estruturação de uma política tendo por meta a melhoria das condições de vida do povo brasileiro. Essa comissão estava vinculada ao Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio.

“ ... No segundo governo de Vargas, ele ofereceu resistência à derrubada de seus anseios de emancipação da economia brasileira. De um lado, o radicalismo conservador se agitava com as formulações e com as realizações nacionalista do Presidente da República. De outro, temia a participação das massas populares no jogo político, mesmo através da mobilização controlada por Vargas e pela máquina estatal. A política econômica de caráter nacionalista correspondia à política social de natureza trabalhista. Assim, a política social do segundo governo de Getúlio Vargas reduziu-se a um conjunto de deliberações predominantemente setoriais na Educação, na Saúde Pública, na Habitação Popular, na Previdência Social e na Assistência Social. Não houve transformações gerais e essenciais da política social, mas decisões particulares a cada questão importante e urgente.” (Vieira, 1985: 230)

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Em 03/10/55 Juscelino kubitscheck foi eleito Presidente da República e João Goulart, vice. Tomaram posse em 31/01/56.

Juscelino não tentava comparar-se a Vargas a nível dos compromissos com as massas populares, principalmente no que diz respeito à Política Social. Agia através de intervenções de cunho setorial, conforme as carências do momento.

Declarava-se “protetor dos trabalhadores” em suas conquistas. Porém não conseguiu levar a cabo providências inovadoras voltadas para o atendimento das carências da população.

“ ... O governo juscelinista delimitara o espaço consentido para a mobilização dos trabalhadores, embora chegasse a admitir suas reclamações e até a concordar com a influência deles sobre as alianças partidárias. A política econômica preponderou sempre, no tempo de kubitschek, sobre a política social. O desenvolvimento vinha para acabar com as precárias condições de vida. Mas, em certo sentido, às vezes terminava por agravá-las e daí, dizia o Presidente da República, tornava-se imperioso maior desenvolvimento. A política social vivia unicamente de uma série de decisões apenas setoriais na Educação, na Saúde Pública, na Habitação Popular, na Previdência e na Assistência Social. Não aconteceram transformações mais profundas, capazes de alterar substancialmente a política social. Kubitschek orientou suas decisões para os casos de emergência. Indicam-se a Lei Orgânica da Previdência Social e sua Regulamentação como atos de maior importância, realizados por ele no âmbito da política social. Durante o governo juscelinista, desenvolveu-se em grande parte a Campanha em Defesa da Escola Pública, como resposta autêntica ao projeto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.” (Vieira, 1985: 230–231)

Em 03/10/60 Jânio Quadros elegeu-se Presidente da República, substituindo Juscelino. Tomou posse em 31/01/61.

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irracionalismo dos trabalhadores, ofertou uma política antiinflacionária que, enfim, vinha prejudica-los.” (Vieira, 1985: 231)

Em 25/08/61 Jânio Quadros renuncia. Essa decisão surpreendeu toda população brasileira. De acordo com a Constituição, quem deveria assumir o governo com a renúncia de Jânio era seu Vice-presidente João Goulart. Porém os militares, visando a propor um golpe, não concordavam, acusando-o de comunista, haja vista que Goulart fez carreira graças a Vargas, por isso era tão odiado por setores direitistas da sociedade e das Forças Armadas. Entretanto outros grupos levantaram-se em defesa da Constituição.

“O Congresso Nacional propôs, então, uma solução negociada para a crise e foi promulgado um Ato adicional que estabelecia o parlamentarismo no Brasil. No dia 07 de setembro de 1961, depois de doze dias de ameaça de uma guerra civil, Jango assumiu o poder.” (Silva e Bastos, 1989: 289)

Por ocasião da renúncia de Jânio, Goulart encontrava-se no exterior, na China Comunista; quem ocupou o cargo interinamente foi o Presidente da Câmara dos Deputados Sr. Ranieri Mazzili.

João Goulart tomou posse no dia 07/09/61, indicando Tancredo Neves como primeiro ministro. Sua posse foi tumultuada, pois havia um conjunto de obstáculos impostos pelos opositores.

O sistema parlamentarista de governo manteve-se até 06/01/63, quando o plebiscito trouxe de volta o presidencialismo. Foi a partir daí que Goulart começou realmente exercer as funções de Presidente da República.

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eventos de 1964 eliminaram o projeto de reformas de base do período janguista, acabando igualmente com a política de massas, presente até então no Brasil. As reformas propostas por Goulart, de resultados parciais e acanhados em termos de conquistas para os trabalhadores, conseguiram encontrar condições para pôr-se em prática .... ” (Vieira, 1985: 231)

Como Jango pendia para reformas populares consideradas radicais como desapropriações de terras e outras, exigindo para tanto uma nova carta constitucional, muitos conservadores derrubaram-no com uma intervenção militar. Assim, depois de fugir para o Rio Grande do Sul, ele asilou-se no Uruguai.

Estando João Goulart exilado, em 02 de abril, o cargo de Presidente da República foi entregue ao deputado Ranieri Mazzilli. Ainda no dia 09 do mês de abril, o denominado Supremo Comando Revolucionário (composto por três ministros militares: Marechal Arthur da Costa e Silva, Brigadeiro Francisco de Assis Correia de Mello e Vice-almirante Augusto Hamann Rademaker Guinewald) publicou o ato institucional nº 1. O ato institucional concedeu o privilégio de retirar os direitos de vários políticos por 10 anos, inclusive cassando mandatos legislativos federais, estaduais e municipais, sem qualquer exame judicial dessas medidas. Ficou mantida a Constituição de 1946 e as Constituições Estaduais com suas emendas. Posteriormente, propôs-se a eleição do novo Presidente e Vice-presidente da República pela maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional.

Foi indicado como candidato único o Marechal Castelo Branco, escolhido pelo Supremo Comando Revolucionário e apoiado por várias entidades como a cúpula militar, pelos governadores e, sobretudo, por grupos da burguesia.

Em 11/04/64 foi eleito, por eleições indiretas, pelo Congresso Nacional, para o cargo de Presidente da República o Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco e José Maria Alkimim, seu Vice-presidente. Assumiram o governo em 15/04/64.

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A publicação do ato nº 2 normatizou a nova formulação partidária brasileira. Em fevereiro de 1966 foi decretado o ato institucional nº 3, regulando as eleições indiretas pelas Assembléias Legislativas e ainda em dezembro de 1966, saiu o ato institucional nº 4 estabelecendo as condições de votação pelo Congresso Nacional da nova Constituição.

A sexta Constituição do Brasil foi promulgada em 24 de janeiro de 1967, a qual conservava o federalismo e reforçava o regime presidencial, determinando que as eleições do Presidente e Vice-presidente da República fossem indiretas, por meio de um colégio eleitoral, composto pelo Congresso Nacional e de delegados das Assembléias Legislativas dos Estados.

Quanto à família, consta nessa Constituição, título IV:

“Art. 167 - A família é constituída pelo casamento e terá direito à proteção dos Poderes Públicos.

Parágrafo 1.º - O casamento é indissolúvel.

Parágrafo 2.º - O casamento será civil e gratuita a sua celebração. O casamento religioso equivalerá ao civil se, observados os impedimentos e as prescrições da lei, assim o requerer o celebrante ou qualquer interessado, contanto que seja o ato inscrito no registro público.

Parágrafo 3.º - O casamento religioso celebrado sem as formalidades deste artigo terá efeitos civis se, a requerimento do casal, for inscrito no registro público, mediante prévia habilitação perante a autoridade competente.

Parágrafo 4.º - A lei instituirá a assistência à maternidade, à infância e à adolescência.” (Constituição do Brasil, 1967: 63)

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Na gestão de Costa e Silva houve inúmeros conflitos, não só entre policiais e estudantes, como entre universidades. Por causa dessa situação que se agravava a cada dia, o governo decretou o ato institucional nº 5, o mais rigoroso do que todos aumentando os poderes do Executivo que assim poderia intervir nos Estados.

Em 1969 foi outorgada outra Constituição. Quanto à família, consta nessa Constituição, título IV:

“Art. 175. A família é constituída pelo casamento e terá direito à proteção dos poderes públicos.

1.º O casamento é indissolúvel.

2.º O casamento será civil e gratuita a sua celebração. O casamento religioso equivalerá ao civil se, observados os impedimentos e prescrições da lei, o ato for inscrito no registro público, a requerimento do celebrante ou de qualquer interessado.

3.º O casamento religioso celebrado sem as formalidades do parágrafo anterior terá efeitos civis, se, a requerimento do casal, for inscrito no registro público, mediante prévia habilitação perante a autoridade competente.

4.º Lei especial disporá sobre a assistência à maternidade, à infância e à adolescência e sobre a educação de excepcionais.” (Constituição da República Federativa do Brasil, 1969: 73)

Em fins de agosto de 1969, impedido por doença, Costa e Silva foi substituído pela junta militar, não passando a Presidência da República a seu Vice-presidente Pedro Aleixo, tolhido por um golpe de Estado dirigido por três Ministros militares: General Aurélio de Lira Tavares (Exército), Brigadeiro Márcio de Sousa e Melo (Aeronáutica) e Almirante Augusto Hamann Rademaker Grienewald (Marinha). Ao Congresso Nacional coube a função de abrir suas portas para eleger o candidato indicado pelas forças armadas: General Emílio Garrastazu Médici.

Referências

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