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Aposentar e viver com saúde : possibilidades e desafios

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA

CAROLINE MARIA SOARES RIBEIRO ALCÂNTARA

APOSENTAR E VIVER COM SAÚDE: possibilidades e desafios

Brasília – DF 2012

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu

Stricto Sensu em Mestrado em Gerontologia

Aposentar e viver com saúde: possibilidades e desafios

Brasília - DF

2012

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CAROLINE MARIA SOARES RIBEIRO ALCÂNTARA

Aposentar e viver com saúde: possibilidades e desafios

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Gerontologia da

Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Gerontologia.

Orientadora: Profª. Drª. Carmen Jansen de Cárdenas

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Ficha elaborada pelo Sistema de Bibliotecas - SIBI/UCB A347a Alcântara, Caroline Maria Soares Ribeiro

Aposentar e viver com saúde: possibilidades e desafios / Caroline Maria Soares Ribeiro Alcântara – 2012.

59 f. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2012. Orientação: Dr.ª Carmen Jansen de Cárdenas

1. Aposentadoria. 2. Aposentadoria - Planejamento. I. Cárdenas, Carmen Jansen de, orient. II. Título.

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AGRADECIMENTOS

Fazer Mestrado em Gerontologia foi uma experiência nova e fascinante. Vários obstáculos foram superados do início ao fim. Em alguns momentos tais obstáculos se mostravam tão gigantescos que pensava serem intransponíveis. E nesses momentos difíceis, em que faltavam força e coragem para continuar, algumas pessoas se fizeram presentes, me incentivando e me dando forças para continuar. A todos vocês, minha eterna gratidão.

Primeiramente, a Deus, minha Força maior e motivo de ter chegado até onde cheguei.

Aos meus queridos pais e irmãs que, mesmo distantes fisicamente, sempre estiveram presentes, com suas orações, incentivo e palavras encorajadoras e fraternas.

As minhas duas “princesas”, dádivas de Deus em minha vida e que, não obstante terem sido por vários momentos privadas da minha atenção e companhia, sempre foram luz na minha caminhada.

Ao Cláudio, companheiro que sempre esteve ao meu lado, pelo apoio e incentivo incondicional.

A eterna professora Carmem, minha querida orientadora, pela paciência e acolhida carinhosa nos momentos em que pensava em desistir, sempre me incentivando com suas sábias palavras.

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RESUMO

ALCÂNTARA, Caroline Maria Soares Ribeiro. Aposentar e viver com saúde: possibilidades e desafios. Brasília, 2012. 59 f. Dissertação (Mestrado em Gerontologia) - Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2012.

Esta pesquisa objetivou analisar as possibilidades e os desafios de se aposentar e viver com saúde. Foram realizadas 3 entrevistas semi-estruturadas, as quais ofereceram dados que subsidiaram o tema. Participaram da pesquisa três policiais civis aposentados: um recém-aposentado, um aposentado há mais de 20 anos e um aposentado por invalidez. A escolha por policiais civis aposentados se deu em função das peculiaridades exigidas pela profissão, entre elas a dedicação exclusiva e a aposentadoria especial, esta última prevista na Lei Complementar nº 51, de 20 de dezembro de 1985. Utilizou-se a abordagem de Bardin destacando-se nos depoimentos dos entrevistados as categorias que se evidenciaram. Os resultados foram discutidos a partir de quatro eixos/categorias: trabalho, aposentadoria, qualidade de vida, emoções e sentimentos. Essas categorias/eixos, por sua vez, foram subdivididas em subcategorias, de acordo com algumas semelhanças ou divergências entre as respostas obtidas sobre um mesmo tema. Os dados obtidos indicaram que, de acordo com as falas dos entrevistados, não houve uma preparação para enfrentar a aposentadoria enquanto uma nova etapa da vida. Assim, espera-se que o presente trabalho possa contribuir para um debate que considere a importância de um trabalho que anteceda a aposentadoria.

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ABSTRACT

This paper analyzes the opportunities and challenges to retire and live healthy. 3 interviews were conducted semi-structured, which provided data that supported the theme. Participants were three retired police officers: a newly retired, a retired more than 20 years and a retired disability. The choice of retired police officers was due to the peculiarities demanded by the profession, including the exclusive dedication and special retirement, the latter provided in Supplementary Law No. 51 of December 20, 1985. We used the approach Bardin standing out in the statements of the respondents that the categories were revealed. The results were discussed from four axes / categories: employment, retirement, quality of life, emotions and feelings. These categories / axes, in turn, were subdivided into subcategories, according to some similarities or differences between the responses of the same theme. The data indicated that, according to the interviews, there was no preparation for facing retirement as a new stage of life. Thus, it is expected that this work will contribute to a discussion that considers the importance of a work that precedes retirement.

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SUMÁRIO

CATÍTULO 1 INTRODUÇÃO...8

1.1 JUSTIFICATIVA ... 10

1.2 OBJETIVOS ... 13

CAPÍTULO 2 REVISÃO TEÓRICA 2.1 O PAPEL DO TRABALHO NA SOCIEDADE ... 14

2.2 TRABALHO X APOSENTADORIA ... 15

CAPÍTULO 3 METODOLOGIA 3.1 O ESTUDO DE CASO COMO MODALIDADE DE PESQUISA ... 18

3.2 A ENTREVISTA ENQUANTO ESTRATÉGIA METODOLÓGICA ... 20

3.3 PARTICIPANTES ... 20

3.3.1 Características sócio-demográficas ... 21

3.4 PROCEDIMENTOS ... 21

CAPÍTULO 4 ANÁLISE DOS DADOS OBTIDOS 4.1 –ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ... 23

4.1.1 Distribuição do gênero dos participantes ... 23

4.1.2 Distribuição da faixa etária dos participantes ... 23

4.1.3 Distribuição do estado civil dos participantes ... 24

4.1.4 Distribuição da escolaridade dos participantes ... 24

4.1.5 Distribuição do tempo de aposentadoria dos participantes ... 24

4.1.6 Distribuição do motivo da aposentadoria dos participantes ... 24

4.1.6 Distribuição da idade em que se deu a aposentadoria dos participantes.. 24

4.2 –CATEGORIAS EVIDENCIADAS ... 24

4.2.1 Categoria trabalho ... 25

4.2.2 Categoria aposentadoria ... 30

4.2.3 Categoria qualidade de vida ... 39

4.2.4 Categoria emoções e sentimentos ... 41

CAPÍTULO 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...47

REFERÊNCIAS...49

APÊNDICE A Roteiro de Entrevistas...56

APÊNDICE B Termo de Consentimento Livre e Esclarecido...58

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresenta-se dividido em 07 (sete) capítulos. A primeira parte apresenta uma breve justificativa do título da pesquisa seguida dos objetivos que a nortearam. Em seguida, na revisão teórica, aborda-se, de forma sucinta, o papel do trabalho na sociedade e a vertente trabalho e aposentadoria. Na sequencia, a metodologia utilizada, a análise e discussão dos resultados e as considerações finais. E, por fim, as referências bibliográficas utilizadas e o apêndice.

Ao falar sobre a aposentadoria nos reportamos automaticamente ao trabalho, enquanto uma fase que a antecede. Carnizares e Jacob Filho (2011) apontam o trabalho enquanto o principal regulador da organização da vida.

Zanelli (2010, p. 30), ao falar da importância do trabalho na vida das pessoas, afirma que “[...] o tempo que nos rege é o cronômetro do trabalho.”

Para França (2002, p. 13-14), a “[...] relação dos indivíduos com o trabalho é bastante diversa: para alguns ele é apenas um meio de sobrevivência, para outros uma fonte de prazer e criatividade.” Com isso observa-se que o trabalho não é somente uma fonte financeira, mas também de identificação pessoal, de status e reconhecimento social.

Já Campos e Chamon (2002, p.13) afirmam que “[...] o funcionário público é visto pelos sujeitos como pessoa detentora de status social, crédito junto a estabelecimentos comerciais e bancários [...]”

Identidade, reconhecimento, status, perdas, ganhos, desafios são terminologias presentes no cotidiano das pessoas que exercem atividades laborais e que, um dia, irão se deparar com o estatuto da aposentadoria. Portanto, esse momento de interrupção da atividade laboral imposta pela aposentadoria requer uma reflexão acerca do que somos enquanto trabalhadores e do que seremos enquanto aposentados, uma vez que a perda do vínculo laboral pode ser um fator de desequilíbrio emocional e social. Para França (2002, p. 29), “[...] refletir sobre a aposentadoria é analisar mais uma etapa do desenvolvimento do homem no seu contexto.”

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A passagem para a aposentadoria pode representar uma crise de identidade ou a possibilidade de vivenciar outras experiências, principalmente se a pessoa conseguiu construir, ao longo da vida, outras fontes de reconhecimento e de valorização (ZANELLI, 2010).

Aposentar e viver com saúde: é possível? O que é viver com saúde? Silva et al. (2006) alerta que, para alcançarmos um viver saudável, as ações de prevenção e manutenção da saúde são importantes, mas é necessário que se considerem também os aspectos econômicos, políticos, sociais e culturais implicados neste processo.

Portanto, “[...] para haver um processo de viver saudável é importante termos

consciência de que a saúde de todos depende de mudanças sociais, políticas e econômicas associadas com mudanças pessoais, que atinjam hábitos, costumes e modo de vida” (SILVA et al, 2006, p. 176).

Para Porto et al. (2012, p.60),

[...] o conceito de viver saudável envolve uma dinâmica singular e plural. É um processo complexo que envolve tanto determinantes motivacionais internos, quanto determinantes externos. Enquanto, para alguns, viver saudável significa estar em perfeito estado de saúde, para outros significa estar sem doença, e para outros, ainda, significa manter o equilíbrio harmônico entre as contradições da vida.

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1.1 JUSTIFICATIVA

O envelhecimento tem início no nascimento, e trata-se de um processo natural e contínuo, cuja idade cronológica é definida pelo tempo que passa. A Organização Mundial de Saúde considera idosa, em países em desenvolvimento, a pessoa com idade igual ou superior a 60 anos, para os países desenvolvidos a idade de referência é elevada para 65 anos. Tal entendimento também se faz presente no art. 1º da Lei 10.741/2003, que considera idosa a pessoa maior de sessenta (60) anos de idade (BRASIL, 2003).

Segundo Baldessin (2002, p. 492),

[...] começamos a envelhecer no dia em que nascemos. A velhice, no entanto, não se conta só pelo calendário. Não é um processo somente biológico, que transparece nas rugas do rosto, pelo andar mais inseguro, pela vista imperfeita, e assim por diante”. Ainda em suas palavras: “Há quem envelheça biologicamente, mas rejuvenesce interiormente e transmite vitalidade. E há quem aparenta fisicamente ser jovem, robusto e cheio de juventude, mas já é velho, gasto e cansado interiormente. Podemos falar, portanto, de um envelhecimento mental e de um envelhecimento espiritual. A idade, em última análise, mede-se não tanto pelo número de anos que se tem, mas pelo como a pessoa se sente, como vive, como se relaciona com a vida e com os outros. [...] Você é velho não tanto quando tem uma certa idade, mas quando tem certos pensamentos. [...] Você é velho quando lembra as desgraças e ofensas sofridas e esquece as alegrias e os dons que a vida lhe ofereceu [...]

A linha de pensamento adotada por Baldessin nos remete a dois tipos de velhices: a física e a mental.

Fontaine (2000), por sua vez, nos ensina que o envelhecimento ocorre de diversas formas e que para ele existem três tipos de idade: a biológica, a social e a psicológica, que podem ser muito diferentes da idade cronológica.

As idades elencadas por Fontaine, numa primeira análise, têm tudo a ver com a qualidade de vida das pessoas, no que diz respeito à alimentação, ao condicionamento físico e mental, ao acesso à informação e à cultura, ou seja, a longevidade parece estar intrinsecamente ligada aos padrões de vida biológico, social e psicológico.

É sabido, entretanto, que algumas pessoas, devido, entre outros motivos, à competitividade exigida pelos tempos modernos, dificilmente conseguem para si uma qualidade de vida adequada.

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atividade, como a pressão psicológica e as situações de risco a que são diariamente submetidos, além da sobrecarga de trabalho, da dedicação exclusiva e da pressão por resultados a qualquer custo.

No entanto, é preciso dizer que no momento em que a pessoa resolve entrar para a instituição policial, ela passa a conviver com situações jamais imaginadas até então em seu aprendizado, especialmente no que tange ao confronto aberto com a criminalidade, não aquela que ele costumava ver na matinê cinematográfica ou nas séries televisivas, mas a violência nua e crua, impiedosa e desumana.

As afirmações contidas no parágrafo anterior não têm o escopo de concluir que o policial, por conviver tão próximo à criminalidade irá fazer parte dela. Por outro lado, não se pode negar que essa proximidade o leva a deixar de ser aquela pessoa apegada exclusivamente às orientações e ensinamentos de sua infância. A partir desse momento, ele passa a ter certeza de que o mal existe e, algumas vezes, em sua pior forma. Essa dura realidade parece exercer sobre ele uma pressão psicológica, a qual muitas das vezes lhe faz perder o equilíbrio psicológico.

Em função da peculiaridade de seu trabalho, é que a legislação lhe concede o direito à aposentadoria especial, qual seja, a de se aposentar em uma faixa etária abaixa da exigida para os demais servidores públicos.

Vieira e Bachur (2009) afirmam que todo trabalhador que expõe a sua vida ou a sua saúde a algum risco em função de seu trabalho, tem o direito de se aposentar mais cedo, enquadrando-se na chamada aposentadoria especial.

A nossa Carta Magna, ao tratar da aposentadoria de um modo geral, estabelece no § 7º do art. 201 que para a sua concessão deverão ser observadas duas condições específicas: tempo de contribuição e idade cronológica. Neste sentido, é possível inferir que para se aposentar atualmente no Brasil não basta contar apenas o tempo de contribuição, é preciso, concomitantemente, atingir a idade mínima exigida pela legislação, ressalvada a regra de transição instituída pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998. (BRASIL, 1988).

O Supremo Tribunal Federal, com o julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3.817-6 (Acórdão publicado no Diário de Justiça de 03 de abril de 2009), assegurou o direito à aposentadoria especial aos policiais, consoante o que é preconizado na Lei Complementar nº 51, de 20 de dezembro de 1985, cujo art. 1º reconhece a atividade policial como sendo de risco (BRASIL, 2009).

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abaixo inclusive da média exigida para grande parte dos países desenvolvidos, exigindo-lhes apenas o tempo de contribuição. Com isso, é possível encontrar policiais na faixa etária entre 47 e 50 anos já aposentados, ou seja, com o vínculo profissional rompido com a instituição em que trabalhava e isso no auge de sua experiência, adquirida após 20 ou 30 anos de serviços prestados à sociedade.

Diante dessa realidade, é necessário pesquisar se esse policial, que se aposenta tão ‘jovem’, possui equilíbrio emocional suficiente para lidar com as consequências oriundas da interrupção de sua atividade profissional, mesmo porque, enquanto para alguns a aposentadoria é vista como uma oportunidade pessoal de reorganização espaço-temporal, com o estabelecimento de novos pontos de referência, para outros passa a representar o fim de um ciclo de vida, sem perspectivas futuras.

Apesar de já ter mencionado anteriormente que a Organização Mundial de Saúde considera como idosa no Brasil a pessoa com idade igual ou superior a 60 anos, faz-se necessário mencionar que esta proposta de dissertação se insere no contexto da gerontologia, por ser esta uma ciência com características multi e interdisciplinares, que estuda o processo de envelhecimento em suas diversas dimensões, não vislumbrando somente a cronológica. Isto, por sua vez, abre a possibilidade de entender o ser humano enquanto um ser em constante desenvolvimento, sendo o envelhecimento uma fase do processo contínuo da vida.

O interesse pelo tema surgiu da observação, enquanto terapeuta ocupacional, acerca das dificuldades que alguns aposentados encontram para continuar a viver com saúde após a interrupção do vínculo laboral. Em um primeiro momento o “novo” aposentado se depara com a possibilidade da realização dos projetos pensados para serem levados a cabo após a aposentadoria. Em seguida, vem a percepção de que os projetos não possuíam a dimensão que se imaginava, sem contar ainda aqueles que, em face de intempéries diversas, não puderam ser concretizados. Adiante, ele se encontra com a ociosidade, a qual o leva a ter saudade dos tempos idos (profissionais), e não encontrando uma saída imediata para o problema, alguns, inevitavelmente, passam a desenvolver um processo depressivo perigoso, que, por sua vez, compromete as suas defesas imunológicas e o faz contrair doenças que prejudicam a sua saúde e, consequentemente, a sua qualidade de vida.

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capacidade de vislumbrar o futuro, o que propicia o desenvolvimento de problemas físicos e emocionais, onde se destaca a depressão.

Pacheco e Carlos (2006, p. 1391) ao abordarem sobre as relações do homem com o trabalho e o processo de aposentadoria, apontam que:

[...] os aposentados, sem terem consciência do que se passa socialmente com eles, sem terem tido oportunidades de se preparar para se dedicar a outras atividades, sem o trabalho a que se dedicaram durante longos anos de suas vidas, quase sempre desenvolvem sintomas depressivos em face das dificuldade de refazer seus projetos de vida de uma maneira produtiva e socialmente útil. Com a auto-estima diminuída, tendem a debitar a si mesmos esse seu momento social como fracasso pessoal e não conseguem entender que esse é um processo socialmente produzido.

É preciso dizer que isso não é uma regra geral, existem as exceções, sendo importante ressaltar que há aposentados que conseguem se realizar na execução de seus projetos, ou quando não, encontram meios de se inserir na realização de atividades produtivas, seja nas áreas cultural, social, educacional, de lazer e entretenimento. Outros acabam por aprender uma nova profissão e posteriormente se reinserir no mercado de trabalho.

Entretanto, algumas dúvidas merecem esclarecimento, como por exemplo: por que algumas pessoas acabam adoecendo depois que se aposentam? O que representa a aposentadoria na vida das pessoas? O que representa o rompimento com uma rotina profissional de vinte, trinta anos? É possível aposentar e continuar a viver com saúde? Afinal, o que é viver com saúde?

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 OBJETIVO GERAL:

Analisar as possibilidades e os desafios de se aposentar e continuar a viver com saúde.

1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

1. analisar as categorias evidenciadas nas “falas” dos participantes da pesquisa;

2. identificar os fatores promovedores do bem estar e da melhoria da qualidade de vida após a aposentadoria;

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2 REVISÃO TEÓRICA

2.1 O PAPEL DO TRABALHO NA SOCIEDADE

Uma vez que a palavra aposentadoria nos remete, anteriormente, ao trabalho, faz-se necessário entender que papel o trabalho ocupou e ainda ocupa na sociedade, desde a sua origem.

Para França (2002, p.13), “[...] escrever sobre a aposentadoria é também analisar o trabalho e seu significado.”

Pacheco e Carlos (2006, p. 1388) corroboram com essa ideia, ao afirmar que "[...] discutir aposentadoria implica também em discutir o conceito de trabalho no mundo moderno e em fazer uma reflexão sobre a trajetória do indivíduo ao longo de seu ciclo de vida, no contexto da sociedade em que se encontra inserido".

Etimologicamente, a palavra trabalho vem do latim tripalium, estando relacionada a

alguma forma de tortura e sofrimento, assumindo, para muitos, o significado de “[...] pesado fardo”. (ZANELLI, 2010, p.21)

Entretanto, o trabalho assumiu, ao longo da história, várias formas, sendo definido pela maioria dos autores como uma atividade física ou intelectual, com o objetivo de fazer, transformar ou obter algo.

Na literatura, observa-se que na Antiguidade era comum a valorização da ociosidade, uma vez que o trabalho era considerado atribuição dos escravos e estava ligado à servidão e à punição. Na Idade Média, os servos passam a ser os responsáveis pelas atividades braçais. Com o surgimento do capitalismo, o trabalho passou a ser visto como condição dignificante do homem, transformadora da realidade e importante nas relações sociais. E, por fim, na contemporaneidade, finda por ocupar um papel importante e significativo na vida das pessoas, assumindo uma condição de relevância na transformação da humanidade.

Com isso, observa-se que, historicamente, o trabalho sempre ocupou um lugar de grande importância na vida do ser humano, contribuindo para a construção de sua identidade, a percepção de si e do mundo, além de assegurar a sua sobrevivência e a manutenção das relações que estabelece consigo e o ambiente.

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estruturante e a possibilidade de participar de um grupo social: “[...] o trabalho pode representar, por um lado, uma realização em si mesma, a fonte de criatividade; porém, ele pode ser sinônimo de limitação, fadiga, alienação da pessoa. O que quer que ele seja, o trabalho representa um fator de integração e engajamento sociais”.

Enquanto “[...] papel obrigatório e prioritário”, Santos (1990, p. 18) afirma que o trabalho:

[...] tem uma dupla influência sobre o indivíduo. Por um lado, enquanto instituição ele oferece ao sujeito um ambiente estruturante, um sistema de referência. Através das instituições, o sujeito se torna parte de um grupo social, seu status, seus papéis, em resumo, seu engajamento social.

Para Zanelli (2010, p. 23), o trabalho é o “[...] principal ordenador da vida humana”, impondo regras, horários, atividades e interações sociais É o que dá sentido à vida humana. Ainda segundo Zanelli, “[...] é por meio do trabalho assalariado que as pessoas, em expressiva parcela, buscam o atendimento de suas necessidades e o alcance de autonomia”, além da construção da autoestima e da autorrealização.

2.2 TRABALHO X APOSENTADORIA

Uma vez mencionada a importância do trabalho na vida do ser humano, é possível afirmar que o rompimento com a identidade profissional decorrente da aposentadoria traz impactos na vida dos aposentados, que podem ser positivos e/ou negativos. Este pode ser o momento de rever alguns conceitos, valores, talvez até crenças, uma vez que a aposentadoria parece não implicar somente no término da carreira, mas, representa também mudanças de ordem pessoal e social (ZANELLI; SILVA, 1996).

A palavra aposentadoria "[...] vem do latim pausis, parada, de onde derivou pouso e

pausa, que origina a palavra aposento. Tem a conotação de recolhimento, de descanso.” (RIBEIRO, 2009, p.11).

Reportando à legislação vigente, concluímos que o ordenamento jurídico brasileiro estabelece diferentes tipos de aposentadoria, quais sejam: por tempo de contribuição; por idade; por invalidez; e aposentadoria especial, cada uma delas com sua peculiaridade (BRASIL, 1988).

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reais e concretas que ocorrem na vida da pessoa que vivencia essa situação. É o momento de encarar o mundo não laboral, o que, muitas vezes, implica na reorganização da vida familiar, das relações sociais e afetivas e da possível construção de novos espaços de convivência e relacionamentos (SANTOS, 1990).

Para algumas pessoas, esse parece ser um processo normal e natural da existência, mas para aquele trabalhador que mantinha a maior parte de sua vida restrita à atividade profissional, protegido pela estabilidade no emprego e envolvido com a burocracia natural do serviço público, a ruptura com o trabalho formal, devido à aposentadoria, costuma resultar numa forte crise de identidade, onde a angústia e a sensação de perda passam a contribuir efetivamente para exacerbar o vazio adquirido com a aposentadoria. É como se ele tivesse passado a conviver sem o objetivo que até então norteava a sua vida, tendo, por isso, sua autoestima afetada. Para esse trabalhador nada mais parece lhe restar. É como se tudo que o sustentava tivesse perdido o sentido. Esta realidade pode provocar o rompimento entre a subjetividade e a objetividade e, muitas vezes, parece fazer com que ele, nos casos mais severos, se entregue à dependência química, buscando, por meio da qual, suprimir a depressão e outros males. Nesse caso, a desesperança e o sofrimento parecem ser de tamanha proporção que findam por levá-lo a romper todos os laços que permeavam as suas relações pessoais, agravando os prejuízos à sua saúde física e mental.

Nesse diapasão nos ensina a psicóloga Santos (1990, p.11-12), quando afirma que: [...] a aposentadoria significa, no mínimo, um momento de mudança concreta e real na vida dos sujeitos [...] para aquele que sempre confundiu sua identidade pessoal com sua identidade sócio-profissional, a aposentadoria o fará descobrir a sua ausência de sentido fora do trabalho. É justamente para este sujeito que a aposentadoria torna-se-á um momento mais difícil, uma crise mais longa. Ele não terá mais uma identidade reconhecida socialmente, perderá o sentido de sua vida e terá dificuldade em saber por quê e por quem vive.

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Os autores Rodrigues et al. (2005, p. 55), ao abordarem o papel do psicólogo na preparação para a aposentadoria, afirmam que:

[...] a aposentadoria é uma fase que provoca mudanças e pode gerar ansiedade no indivíduo, considerando-se sua história na relação com o grupo ao qual pertence. Sua identidade, como pessoa e como ser social, pode ficar ameaçada. É ainda o período de enfrentamento de outra questão: a de ser considerado velho.

Segundo Stucchi (2003, p. 41), a “[...] aposentadoria é caracterizada pela saída do mundo do trabalho, pela entrada no mundo doméstico e pela passagem de um mundo do poder para um mundo em que o poder está nas mãos de outros.”

Vries (2003, p. 183) também corrobora com a associação da aposentadoria à entrada em um novo mundo e afirma que "[...] a perspectiva de ter que se tornar alguém na multidão é assustadora. A aposentadoria representa esse medo do desconhecido, a incerteza de ficar frente a um mundo novo, deixando para trás um mundo que até então era estabilizado, controlado".

De acordo com os autores acima citados, uma situação que merece ser observada é o fato de a aposentadoria trazer à baila a questão do envelhecimento e da inatividade, além das imagens internalizadas do que existe de pior na velhice e o medo de ser chamado de inativo, que, de acordo com o dicionário significa “[...] que não tem atividade, que não está ativo; que não trabalha, de pouca ação, desocupado, preguiçoso, lento [...]” (DICIONÁRIO HOUAISS, 2001).

França (2002, p. 14) afirma que o afastamento do trabalho em função da aposentadoria talvez seja “[...] a perda mais importante na vida social das pessoas”.

Para os autores Bulla e Kaeler (2003, p. 5),

[...] a sociedade é contraditória. Por um lado considera a aposentadoria como um direito e uma conquista do trabalhador, depois de muitos esforços e anos de trabalho. Por outro lado, desvaloriza o sujeito depois de aposentado, que passa a ser visto como improdutivo e, portanto, inútil.

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3 – METODOLOGIA

Para Demo (1998, p. 101),

[...] a pesquisa qualitativa significa, na esteira de nossa argumentação, o esforço jeitoso de formalização perante uma realidade também jeitosa. Trata-se de uma consciência crítica da propensão formalizante da ciência, sabendo indigitar suas virtudes e vazios. Portanto, o que se ganha e se perde com cada método. Ao mesmo tempo, uma pesquisa qualitativa dedica-se mais a aspectos qualitativos da realidade, ou seja, olha prioritariamente para eles, sem desprezar os aspectos também quantitativos. E vice-versa.

Os métodos qualitativos se baseiam na fenomenologia e compreensão. Analisam o comportamento humano, utilizando a observação naturalista e não controlada; são subjetivos e orientados ao descobrimento; são exploratórios, descritivos e indutivos; assumem uma realidade dinâmica, são holísticos e não generalizáveis (SERAPIONI, 2000).

No entanto, escolher dentre os métodos o mais ideal ou o mais adequado nem sempre é tarefa fácil, uma vez que,

[...] as questões metodológicas devem seguir as pesquisas e não lhes preceder. Isso significa que não existem pressupostos metodológicos dados a priori, independentes da realidade pesquisada; não existe um modus operandi pré-concebido. É na especificidade de cada história que vamos encontrar a via a seguir, o modo de trabalhar (BARROS e SILVA, 2002, p.141).

Krawulsik (2004, p. 46) afirma que:

[...] na perspectiva qualitativa, as estratégias e procedimentos empregados pelos pesquisadores lhes permitem levar em consideração as experiências do ponto de vista do informante. Nessa perspectiva, portanto, pesquisar sobre a vida laboral, a qualidade de vida do trabalhador ou mesmo a respeito de suas experiências nesse papel são atos que requerem do pesquisador necessariamente uma postura de investigação que considere e se aproxime da subjetividade desse trabalhador, implicando, por conseguinte, seu envolvimento ativo no cotidiano e no contexto vivencial dos sujeitos.”

Este estudo tem um recorte exploratório de abordagem qualitativa e, visando alcançar os objetivos propostos, optamos pela utilização do estudo de caso.

3.1 O ESTUDO DE CASO COMO MODALIDADE DE PESQUISA

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áreas de conhecimento, como Psicologia, Direito, Administração, Sociologia, entre outras. No entanto,

[...] teve seu primeiro esforço de estabelecimento de protocolos para uma prática unificada em 1994, quando a obra de Yin veio a público. Desde então, o referido texto vem se tornando referência básica para investigações sob este método. A preferência é justificável não apenas pelo pioneirismo, mas também pela consistência normativa dos procedimentos propostos pelo autor (MARTINS, 2008, p. 11)

Para Gil (1999, p. 72-73), o estudo de caso “[...] é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado, tarefa praticamente impossível mediante os outros tipos de delineamentos considerados”. Segundo o autor, trata-se de um estudo empírico que busca investigar um fenômeno atual em seu contexto de vida real, quando não são claramente definidas as fronteiras entre fenômeno e realidade, utilizando-se fontes de evidências.

De acordo com Yin (2010, p. 22), o estudo de caso torna-se uma ferramenta importante quando, no decorrer da pesquisa, aparecem questões do tipo “[...] como [...] por que[...]”, ou “[...] quando o investigador tem pouco controle sobre os eventos[...]”, ou quando o foco se encontra em “[...] fenômeno contemporâneo no contexto da vida real.”

Para o autor, trata-se de uma “[...] investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo em profundidade e em seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente evidentes” (YIN, 2010, p.39).

Através dos casos relatados, busca-se pesquisar mais de uma realidade, sem perder a característica subjetiva da cada caso, uma vez que o “[...] estudo de caso tem por preocupação principal compreender uma instância singular, especial. O objeto estudado é tratado como único[...]” (MACEDO, 2006, p. 89-90), mesmo quando analisado em um grupo.

Nesta vertente, Krawulski (2004, p. 50) afirma que,

[...] de acordo com as premissas da abordagem qualitativa, o pesquisador vai a campo buscando estudar um fenômeno a partir da perspectiva das pessoas nele envolvidas, considerando que os pontos de vista expressados por essas pessoas constituem retrato e representação, de algum modo, do coletivo onde se inserem.

O autor complementa que, na abordagem qualitativa, não se tem a preocupação com o critério numérico para se definir uma amostra, “[...] uma vez que não se propõe à generalização e sim ao aprofundamento e à abrangência da compreensão do fenômeno em estudo[...]” (KRAWULSKI, 2004, p. 51).

(21)

observação participativa e artefatos físicos. Segundo o autor nenhuma se sobrepõe às outras, sendo complementares na realização de um estudo de caso.

3.2 A ENTREVISTA ENQUANTO ESTRATÉGIA METODOLÓGICA

Neste trabalho, foi utilizada uma entrevista semi-estruturada para a coleta das evidências, buscando-se conhecer a trajetória pessoal e profissional dos participantes, bem como a sua inter-relação entre trabalho e aposentadoria. Segundo Yin, as entrevistas não são “[...] investigações estruturadas[...]”, são “[...]conversas guiadas[...]”, sendo uma importante fonte de informação no estudo de caso. (YIN, 2010, p.133).

Enquanto recurso metodológico, a entrevista ultrapassa a mera coleta de dados, constituindo-se em fonte captadora de representações, ao buscar o “[...] significado social pela narrativa provocada[...]” (MACEDO, 2006, p. 102-104) Ainda segundo o autor:

[...] a entrevista é um rico e pertinente recurso metodológico para a apreensão de sentidos e significados e para a compreensão das realidades humanas, na medida em que toma como premissa irremediável que o real é sempre resultante de uma conceituação [...].

Como dito anteriormente, no presente trabalho optou-se pela utilização da entrevista semi-estruturada, por ser uma estratégia metodológica que permite ao entrevistado falar livremente sobre os temas propostos a partir de um roteiro básico. O contato face a face durante a entrevista oral adquire um caráter importante por ser uma forma privilegiada de comunicação verbal (MINAYO, 2000).

Segundo Mattos (2005, p. 835), “[...] a entrevista é um diálogo. Específico, mas diálogo, algo do gênero, “conversação”, pela qual a linguística se interessa.” O autor fala da importância de se organizar as informações presentes nas entrevistas para, a partir daí, fazer inferências maiores, embasando-se nas teorias pertinentes ao caso.

No caso específico, a entrevista foi centrada em temas referentes ao trabalho, a aposentadoria, qualidade de vida, identidade e família.

(22)

Foram convidados a participar da pesquisa três policiais civis aposentados, sendo um recém-aposentado, um aposentado por invalidez e outro com mais de vinte anos de aposentadoria. A escolha pelos policiais aposentados se deu em função de ter a carreira policial algumas peculiaridades, como dedicação exclusiva (o que impede outro vínculo empregatício) e por serem contemplados pela aposentadoria especial, esta última prevista na Lei Complementar nº 51, de 20 de dezembro de 1985 (o que lhes permite aposentar numa faixa etária abaixa da exigida para os demais trabalhadores).

Primeiramente foi feito o convite pessoal para que eles participassem da pesquisa e posteriormente, por telefone, foram agendadas as entrevistas. Uma vez agendadas, as mencionadas entrevistas foram realizadas nas residências dos participantes.

3.3.1 Características sócio-demográficas

Os nomes reais dos participantes foram preservados, sendo utilizadas as iniciais S, M

e T para caracterizá-los, os quais apresentam as seguintes características sócio-demográficas:

S: sexo masculino, 72 anos de idade, casado, escolaridade 2º grau, tempo de aposentadoria 21 anos, aposentou-se aos 51 anos de idade, tendo como motivo da aposentadoria o tempo de serviço, após ter trabalhado 30 anos na instituição em que se deu a aposentadoria;

M: sexo feminino, 47 anos de idade, casada, escolaridade superior completo, tempo de aposentadoria 1 mês completo, quando da entrevista, aposentou-se aos 47 anos de idade, tendo como motivo da aposentadoria o tempo de serviço, aposentadoria esta que ocorreu após ter trabalhado 20 anos na instituição em que se deu a aposentadoria e mais 10 anos em outra instituição, totalizando 30 anos de tempo de serviço;

T: sexo masculino, 47 anos de idade, casado, escolaridade superior completo, tempo de aposentadoria 17 anos, aposentou-se aos 30 anos de idade, tendo se aposentado por invalidez após ter trabalhado 8 anos na instituição em que se deu a aposentadoria.

(23)

Os dados foram coletados através de uma entrevista semi-estruturada e da observação direta, após realizadas a leitura e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido.

Para as entrevistas foi utilizado um roteiro com os dados que permitiam a caracterização dos entrevistados, como gênero, idade, estado civil e escolaridade. Além dos dados acima citados, o roteiro contemplava dados referentes ao trabalho, à aposentadoria, à qualidade de vida, à identidade e à família, além da observação direta. A coleta de dados e a observação foram realizadas pela pesquisadora.

Tais entrevistas foram conduzidas pela pesquisadora de forma não-estruturada, cabendo ao entrevistado a decisão sobre a forma de construir a sua resposta (MATTOS, 2005).

(24)

4 ANÁLISE DOS DADOS OBTIDOS

Os dados obtidos nas entrevistas foram analisados seguindo a proposta de Bardin (2009), no tangente ao grupamento do conteúdo, buscando-se destacar no discurso dos entrevistados as categorias que se evidenciaram.

Segundo Bardin (2009, p. 44), a análise de conteúdo constitui-se em

[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.

Neste sentido, a análise de conteúdo “[...] procura conhecer aquilo que está por trás das palavras sobre as quais se debruça [...] é uma busca de outras realidades através das mensagens” (BARDIN, 2009, p. 45).

Mattos (2005, p. 837) afirma que no “[...] momento da interpretação, o entrevistador não pode ‘sumir’ de cena [...]” e que a interpretação deve iniciar já durante a entrevista. Para o autor acima citado,

[...] toda interpretação é uma recriação. Cada pesquisador-autor tem sua ótica e seus objetivos para a peça que pretende produzir. Haverá, em certo momento, um ‘desprender-se’ do texto do entrevistado. Tudo o que se pode exigir é que isso se faça com evidência argumentativa plenamente objetiva e justificável.

4.1 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

A seguir, tabulamos as características dos participantes conforme o gênero, idade, estado civil, escolaridade, tempo de aposentadoria, motivo da aposentadoria, idade em que se aposentou, sendo os resultados demonstrados abaixo.

4.1.1 Distribuição do gênero dos participantes

Quanto ao gênero dos participantes da pesquisa, dois são do sexo masculino e um do sexo feminino.

(25)

Na data da realização da entrevista, dois dos entrevistados contavam com a mesma idade, 47 anos e um com 72 anos.

4.1.3 Distribuição do estado civil dos participantes

Quanto ao estado civil, os participantes da pesquisa responderam serem casados.

4.1.4 Distribuição da escolaridade dos participantes

O grau de escolaridade dos participantes mostrou que dois deles concluíram o ensino superior e um o 2º grau.

4.1.5 Distribuição do tempo de aposentadoria dos participantes

Quando da realização da pesquisa, um contava com 21 anos de aposentadoria, um com 17 anos e um com 1 mês. Se nos reportarmos ao item 4.1.2, vemos que dois dos participantes têm a mesma idade (47 anos), porém não coincide com o tempo de aposentadoria.

4.1.6 Distribuição do motivo da aposentadoria dos participantes

Quanto ao motivo da aposentadoria, dois dos participantes se aposentaram por tempo de serviço e um por invalidez.

4.1.7 Distribuição da idade em que se deu a aposentadoria dos participantes

Um dos participantes se aposentou aos 51 anos, um com 47 anos e um com 30 anos.

4.2 CATEGORIAS EVIDENCIADAS

(26)

criadas categorias e subcategorias a partir do conteúdo das mensagens que se evidenciaram no discurso.

Os nomes reais dos participantes foram preservados, sendo utilizadas as iniciais S, M

e T, conforme as características sócio-demográficas já mencionadas.

As mensagens que se evidenciaram no discurso foram enumeradas utilizando as iniciais acima mencionadas e agrupadas de acordo com algumas semelhanças ou divergências entre as respostas obtidas sobre um mesmo tema.

Quadro 1: Categorias e suas subcategorias

Categorias Subcategorias

Trabalho

Dedicação Amizade

Qualificação/desqualificação profissional

Aposentadoria

Ociosidade

Preparação pré-aposentadoria Saúde x doença

Outra ocupação

Relacionamento familiar

Qualidade de vida Suporte financeiro Bem-estar

Emoções e Sentimentos Saudade Gratidão

Decepção/ ressentimento

4.2.1 Categoria TRABALHO

Esta categoria busca mostrar, na fala dos entrevistados, os pontos que mais se evidenciaram com relação à vida profissional, as atividades realizadas e a percepção do trabalho antes da aposentadoria.

(27)

A subcategoria dedicação foi um ponto presente na fala de todos os entrevistados, conforme alguns fragmentos abaixo:

“[...] minha vida profissional foi boa porque eu sempre gostei do que eu fazia desde que eu entrei.

Então eu trabalhei sempre com amor ao serviço, ao trabalho aos colegas e eu sempre gostei do

que eu fazia. Foi muito bom [...]” (S)

“[...] bem, eu tinha assim o meu trabalho, quer dizer sempre tive mesmo hoje após a

aposentadoria eu sempre tive o meu trabalho em primeiro lugar, não frente a minha família, mas

o primeiro lugar das minhas atividades profissionais (...) sempre me dediquei, sempre senti assim

uma troca entre o que eu oferecia para o trabalho e o que eu recebia do trabalho (...) assim eu

sempre exerci com muito afinco com muito gosto me dediquei muito ao meu trabalho com

exclusividade [...]” (M)

“[...] eu desempenhava o meu trabalho, a minha obrigação, me adaptei perfeitamente ao

serviço” (T)

Nota-se nas falas de S e M, além da dedicação, um prazer em relação ao trabalho, já na fala de T aparece os significantes “obrigação” e adaptação. Mas em todas as falas observa-se que a dedicação aparece no sentido de desempenhar a contento o trabalho, alguns com prazer.

Benevides-Pereira (2002, p.13) aponta que:

[...] o trabalho tem importância essencial na vida de um indivíduo. Investe-se grande parte da existência na preparação (estudos, estágios) e na dedicação ao trabalho. Subtraindo-se a fase preliminar de instrução e instrumentação, tem-se que, de forma geral, despende-se ao menos 8 horas diárias, isto é, mais de 1/3 do dia, durante 30, 35 anos ou mais, sem computar-se o tempo utilizado com locomoção.

4.2.1.2 Subcategoria amizade

Nesta subcategoria buscou-se avaliar as relações de amizade que porventura foram estabelecidas enquanto ainda trabalhavam.

“[...] ainda tenho amizade com vários colegas, inclusive alguns ainda estão trabalhando, eu ainda

(28)

“[...] eu me mantenho ainda muito próxima de todos os colegas, dos amigos, mesmo os últimos

que eu estava trabalhando com eles e até alguns de outras seções em que eu trabalhei. Então por

enquanto eu ainda estou muito próxima de todos eles[...]” (M)

“[...] quando eu trabalhava eu tinha uma relação profissional e eu acreditava que tinha também

uma relação de amizade com muitos colegas da instituição, pode-se dizer que eram colegas, não

eram amigos [...] hoje eu não tenho contato com ninguém da minha época (T)

Nesta subcategoria observa-se que S e M, mesmo aposentados, ainda mantém amizade com os colegas. Já na fala de T observa-se que o vínculo com os colegas foi completamente desfeito.

Feist (2009, p. 140) no livro História da vida privada: da Renascença ao Século das Luzes, diz que:

[...] o indivíduo acumula experiências e laços, que em parte serão esquecidos e desfeitos quando se estabelecer, em parte o acompanharão pela vida afora, estruturando ou animando seu espaço pessoal e social, mesmo que não haja cartas, lembranças ou escritos íntimos para atestá-los. Tais laços se conjugam com os da família e do parentesco para criar ao redor de cada indivíduo um conjunto de relações horizontais — com equivalência de idade, sexo ou situação social — ou verticais; em outras palavras, simétricas ou assimétricas, tranquilas ou conflituosas."

Sousa e Santos (2011) afirmam que os seres humanos são sociais por natureza, vivendo rodeados de outras pessoas, sejam familiares, colegas de trabalho, vizinhos, amigos, sendo impossível pensar a vida sem a participação de outras pessoas. Para os autores, os relacionamentos de amizade ocupam um espaço importante nas redes sociais.

Para Souza e Hutz (2008), a amizade constitui-se num relacionamento entre pessoas que não são familiares, o que a torna um relacionamento privado e pessoal, prescindindo a imposição de valores ou normas culturais.

4.2.1.3 Subcategoria desqualificação profissional

Esta subcategoria procurou evidenciar o nível de qualificação ou desqualificação profissional.

“(...) algumas pessoas usavam muita bebida no trabalho, bebiam na rua e chegavam ao serviço

(29)

Esta fala evidencia o provável uso da bebida alcoólica enquanto um paliativo para lidar com o estresse advindo da atividade profissional.

Nascimento e Justo (2000) falam do uso do álcool enquanto um mecanismo de fuga, em função do sentimento de inadequação social do indivíduo.

Quanto ao uso do álcool no trabalho, Vaissman (2004, P. 29) afirma que:

[...] fatores de risco ligados ao trabalho podem ser inerentes à especificidade da ocupação, às condições em que um determinado trabalho é efetuado, ao tipo de agente estressores e como eles atual física e psicologicamente no trabalhador. Por outro lado, as características e a vulnerabilidade daquela personalidade diante do ambiente de trabalho favorecerão ou não o consumo abusivo de álcool e drogas como forma de atenuar conflitos, tensões ou mesmo como uma estratégia de sociabilidade entre seus pares.

Para Fonseca (2007, p. 601), as profissões de maior risco são aquelas em que os indivíduos trabalham por muitas horas seguidas, em trabalhos noturnos ou que exijam constante vigilância, e em que os profissionais atuam em ambiente de grande estresse. Segundo ele:

[...] de acordo com o Programa Nacional Antidrogas (PNAD), no ambiente de trabalho, as doenças relacionadas com o uso e abuso de álcool e drogas trazem como consequência o absenteísmo, custos diretos e indiretos decorrentes do uso dessas substâncias, acidentes e/ou aumento do risco de acidentes, diminuição da produtividade, aumento de conflitos de grupo e problemas interpessoais com os companheiros de trabalho. Esta realidade complexa em que, de um dia para o outro, o trabalhador é incapacitado ou limitado por um acidente ou por outros motivos de saúde para desempenhar suas funções na empresa, torna-se uma questão de grande relevância.

Fonseca (2007) fala da importância de se desenvolver programas voltados ao atendimento aos trabalhadores que fazem uso abusivo de álcool, bem como da necessidade de prevenção daqueles que não fazem uso da bebida alcoólica. Para ele,

[...] estes programas devem ser criados sob um olhar amplo, de forma que sejam analisados os fatores multicausais que podem levar ao alcoolismo. Através desse olhar, serão mais fáceis a compreensão da doença e a adesão do paciente aos programas, tornando a prevenção do risco de acidente de trabalho uma meta a ser alcançada mais facilmente (FONSECA, 2007, P. 601)

(30)

Quadro 2: Detalhamento da categoria TRABALHO

Categoria Subcategoria Fala

Trabalho

Esta categoria busca mostrar, na fala dos entrevistados, os pontos que mais se evidenciaram com relação à vida

profissional, as atividades realizadas e a percepção do trabalho antes da

aposentadoria

Dedicação

A subcategoria dedicação foi um ponto convergente presente na fala de todos os entrevistados, conforme alguns fragmentos nas falas dos entrevistados.

“[...] minha vida profissional foi boa porque eu sempre gostei do que eu fazia desde que eu entrei então eu trabalhei eu trabalhava sempre com amor ao serviço, ao trabalho aos colegas e eu sempre gostei do que eu fazia, foi muito bom” (S)

“[...] bem eu tinha assim o meu trabalho, quer dizer sempre tive, mesmo hoje após a aposentadoria eu sempre tive o meu trabalho em primeiro lugar, não frente a minha família, mas o primeiro lugar das minhas atividades profissionais [...] sempre me dediquei, sempre senti assim uma troca entre o que eu oferecia para o trabalho e o que eu recebia do trabalho [...] assim eu sempre exerci com muito afinco com muito gosto me dediquei muito ao meu trabalho com exclusividade” (M)

“[...] eu desempenhava o meu trabalho, a minha obrigação, me adaptei perfeitamente ao serviço” (T)

Amizade

Nesta subcategoria buscou-se avaliar as relações de amizade que porventura foram estabelecidas

enquanto ainda trabalhavam, podendo-se observar pontos divergentes nas falas dos entrevistados.

“[...] eu me mantenho ainda muito próxima de todos os colegas, dos amigos, mesmo os últimos que eu estava trabalhando com eles e até alguns de outras seções em que eu trabalhei, então por enquanto eu ainda estou muito próxima de todos eles” (M)

“[...] quando eu trabalhava eu tinha uma relação profissional e eu acreditava que tinha também uma relação de amizade com muitos colegas da instituição, pode-se dizer que eram colegas, não eram amigos [...] hoje eu não tenho contato com ninguém da minha época (T)

“[...] ainda tenho amizade com vários colegas, inclusive alguns ainda estão trabalhando, eu ainda encontro com eles, a gente conversa [...] (S)

Des/qualificação profissional

Esta subcategoria procurou evidenciar o nível de qualificação ou

desqualificação profissional, sendo que na fala de S pode-se evidenciar o relato do uso de bebida alcoólica no serviço, provavelmente enquanto paliativo para lidar com o estresse advindo da atividade

profissional.profissional

“[...] algumas pessoas usavam muita bebida no trabalho, bebiam na rua e chegavam no serviço bêbado [...] (S)

(31)

4.2.2 Categoria APOSENTADORIA

Esta categoria busca mostrar, na fala dos entrevistados, os pontos que mais se evidenciaram com relação à aposentadoria, no tangente ao tempo livre, à preparação para a aposentadoria, a saúde versus doença, a outra ocupação após a aposentadoria e ao

relacionamento familiar.

Loureiro (2000, p. 76) fala que:

[...] depois da infância, na adolescência e na idade adulta, o trabalho sempre esteve como sinônimo de dignidade a condicionar o orgulho que abafou o cansaço e impediu o lazer. A abundância, agora, de tempo livre pode trazer embutido o germe do desencanto, da depressão e da angústia [...] e eis o elemento trabalho que passou a ser, nesta sociedade da produção, do lucro e das máquinas, confundido com a própria vida, como respeitabilidade imputada. O lazer é estereotipado como sinônimo de preguiça e o sentimento de culpa, dele resultante, expande-se no momento do descanso ou da desaceleração na aposentadoria [...]

4.2.2.1 Subcategoria ociosidade

A subcategoria ociosidade foi um ponto presente na fala de todos os entrevistados, os quais mostram pontos divergentes entre quem acabou de se aposentar e quem já está há 17 e 21 anos aposentado, conforme alguns fragmentos abaixo:

“[...] quando você aposenta nos primeiros meses você se sente meio perdido, porque você estava

acostumado a levantar cedo e sair para o trabalho, vai e volta e quando você aposenta você não

tem para onde ir [...]” (S)

“[...] eu não me sinto aposentada, para mim eu ainda continuo em exercício porque como tem

pouco tempo que eu me aposentei eu estou sentindo ainda que eu estou de férias e que logo eu

possa retornar às atividades normais, né? [...] bem, pra dizer a verdade eu ainda não posso

definir uma diferença assim após a aposentadoria porque um mês só de aposentada então eu me

sinto como se estivesse de férias, ainda estou descansando, curtindo, como se fosse assim os 30

dias de férias [..])” (M)

“[...] depois da aposentadoria eu me senti meio perdido, meio deslocado” (T)

(32)

lidar com outras perdas, seja dos laços afetivos estabelecidos, do reconhecimento, da auto-valorização. Isso aparece de forma mais clara nas falas de S e T.

Já na fala de M, observa-se uma dificuldade em aceitar a aposentadoria enquanto um novo ciclo de vida. Santos (1990, p. 35) fala da “[...] aposentadoria-recusa [...]” caracterizada pela “[...] não-aceitação da condição de aposentado e pela ausência de projetos de vida fora do trabalho [...]” É como se o“[...] continuum [...]” da vida estivesse sido rompido com a

aposentadoria. "O sujeito teme perder uma das dimensões que o identificam socialmente e que fazem parte de sua auto-imagem”. Em função da dificuldade de assumir a “[...] nova condição que lhe é imposta pela sociedade, ele tenta manter sua antiga identidade".

Ainda de acordo com Santos (1990), a maioria dessas pessoas advém de categorias sócio-profissionais superiores, tendo passado a maior parte da vida dedicando-se apenas ao trabalho e à família.

Na fala de M, observa-se que o trabalho sempre ocupou um lugar de grande importância em sua vida, conforme fragmento abaixo.

“[...] comecei a trabalhar aos 16 anos e aos 18 passei em um concurso público [...] nestes mais de

30 anos trabalhando no serviço público nunca cheguei atrasada ao trabalho, nem mesmo quando

estava prestes a me aposentar [...] acho que sempre fui uma "caxias" [...] eu sempre tive o meu

trabalho em primeiro lugar, não frente a minha família, mas o primeiro lugar das minhas

atividades profissionais [...]” (M).

Nas falas de S e T aparecem as expressões que expressam sensações de “estar perdido”, “deslocado”. Para Zanelli (2010, p. 96), “[...] o sentimento de vazio é explicado pelo desaparecimento de referências de tempo e espaço, que o trabalho até então vinha proporcionando às suas vidas.”

França (2002, p. 30), fala da diferença de adaptação à aposentadoria para o homem e a mulher:

[...] geralmente, a mulher parece se dividir melhor entre as suas várias funções na sociedade (como esposa, avó, mãe e filha) e a ausência do trabalho poderá não ser tão significativa. Entretanto, quando se refere a um trabalho que envolva realizações intelectuais, a perda pode ser tão drástica para a mulher quanto para o homem.

(33)

4.2.2.2 Subcategoria preparação pré-aposentadoria

A subcategoria preparação pré-aposentadoria buscou avaliar se os entrevistados em questão passaram por algum momento de preparação para lidar com a situação de aposentados. Os fragmentos abaixo mostram o seguinte:

“[...] você se aposentava e ia embora e não tinha nenhum trabalho pré-aposentadoria [...] ” (S)

“[...] talvez se eu tivesse mais condição ou uma melhor atenção, sei lá, talvez um

acompanhamento mais de perto, psicológico, alguma coisa assim, talvez eu tivesse ficado mais na

instituição [...]” (T)

As falas acima mostram que os entrevistados não passaram por uma preparação pré-aposentadoria. A própria recusa de M em aceitar a situação de aposentada também parece caracterizar uma falta na preparação pré-aposentadoria.

Observa-se que a aposentadoria se apresenta como uma experiência subjetiva e o ingresso nesta nova fase da vida parece trazer sentimentos muitas vezes ambivalentes, tais como ansiedade, temores, sonhos, muitas vezes gerados pela necessidade premente de mudança na rotina e no ritmo de vida, bem como o desapego a hábitos cotidianos assumidos durante os últimos anos.

Stucchi (2003, p. 40-41) afirma que:

[...] a perda do poder, o status dele como trabalhador, seja em que área for (...) cada pessoa na sua área detém algum poder, por mínimo que seja. O poder de chegar todo dia na minha sala e abrir uma janela, esse é meu, ninguém vem aqui e faz isso. E ele depois se vê destituído de tudo isso e tem que reconquistar um outro espaço na sociedade, na comunidade, na família [...]

Segundo o autor, no trabalho, o servidor "[...] tem todo um status, uma responsabilidade, uma série de coisas que lá na casa dele não tem o menor valor, lá ele não é doutor ninguém, não é senhor ninguém, não abona falta de ninguém, os filhos vão, entram e saem à hora que bem entendem [...]" (STUCHHI, 2003, p.41).

(34)

vida, além do possível resgate de sonhos passados “[...] a fim de transformá-los em novos projetos [...]”.

Pereira e Guedes (2012, p. 158) falam que:

[...] os momentos que antecedem à aposentadoria se constituem em um processo único e diferenciado para cada pessoa. Porém, o fato de estarmos inseridos em uma sociedade que supervaloriza o trabalho e o papel profissional e que não nos prepara para uma vivência satisfatória do tempo livre, tem concorrido para transformar a hora do desligamento da atividade laboral em momentos de angústia, que mobilizam medos, dúvidas e muitas inquietações.

França e Soares (2009), na abordagem sobre a importância da preparação para a aposentadoria enquanto parte da educação ao longo da vida, afirmam que a nível psicossocial é importante analisar as atitudes das pessoas diante das perdas e ganhos que acompanham esse momento de transição, de modo que os ganhos possam ser reforçados e o impacto gerado pelas perdas possa ser contornado através do planejamento.

O psiquiatra Mauro Moore Madureira (2012), no artigo onde trabalha a vertente aposentadoria e auto estima, fala do risco que as pessoas correm ao terem sua atividade profissional interrompida sem uma preparação adequada. Para ele a palavra aposentado apresenta a fusão de duas outras palavras: “[...] após e sentado [...]”, sendo que a palavra sentado tem a conotação de estar “[...] sentado no banco [...]”, “[...] fora do jogo [...]” ou “[...] sem utilidade [...]” e a palavra após remete à chegada da morte “[...] bem antes do fim da vida [...]”. Para o autor o “[...] sossego [...]” adquirido com a aposentadoria nem sempre é sinônimo de bem-estar, uma vez que este é alcançado através do equilíbrio entre trabalho, descanso e lazer.

Para França (2002, p. 24),

[...] a insegurança causada pela perda de status, do ambiente, do convívio com os colegas de trabalho e mesmo do prazer de algumas atividades inerentes à função desempenhada, levam o indivíduo a retirar-se não só das atividades produtivas, mas também do fluxo coletivo da existência.

4.2.2.3 Subcategoria saúde x doença

Nesta subcategoria a saúde e a doença se evidenciaram nas falas dos entrevistados dentro do tema aposentadoria.

(35)

“[...] uma coisa que eu acredito que me fez chegar nesta idade com muita força, com muita garra

foi primeiro o amor pelo que faço então eu acredito que isso é o mais importante pra gente, se

você faz, trabalha com amor, com dedicação, com gosto mesmo você não se sente cansada, você

não adoece, você não fica triste, quando você vê aquela sua função como uma coisa saudável,

uma coisa gostosa, isso faz com que você cada vez goste mais, se dedique mais e automaticamente

reflete pra você só coisas boas [...]” (M)

“[...] depois de alguns anos de trabalho, uns 6 anos, eu comecei a desenvolver uma doença

degenerativa, ela foi me trazendo algumas sequelas, fraqueza muscular, atrofia muscular e aí eu

já estava em processo de tratamento e depois que foi diagnosticado o problema eu tive que

abandonar o que eu fazia e comecei a trabalhar no serviço mais burocrático e quando eu descobri

o problema já estava com 5 ou 6 anos de trabalho e acho que depois de mais um 2 ou 3 anos

estava aposentado [...] eu lamento muito o que eu fazia quando eu tinha plena saúde [...]” (T)

Segundo Raffa (2006, p. 9) "[...] o aposentado encontra-se duplamente em situação de risco. O envelhecimento de seu físico e a perda de identidade, reflexo da aposentadoria, deixa-o vulnerável adeixa-o desenvdeixa-olvimentdeixa-o de ddeixa-oenças em geral, e particularmente das psicossomáticas".

Para Muniz (1996, p. 199),

[...] a aposentadoria representa, sob o ponto de vista psicológico e social, um momento estressante e de muita expectativa na vida do indivíduo, que suscita reações muito ambivalentes, desde uma sensação de liberdade até um sentimento de exclusão. As mudanças advindas com a aposentadoria requerem uma adaptação, nem sempre atingida pela maioria das pessoas. Caso não haja essa adaptação, os resultados negativos deste novo período podem ser muito sérios, manifestando-se através de depressão, isolamento, dificuldades de relacionamento com a família, etc.

Esta idéia é corroborada por Carnizares (2011), ao afirmar que a aposentadoria representa um processo gradativo de perdas e que raramente é estudada enquanto um fator de risco à saúde, no sentido de que, muitas vezes, não recebe a necessária atenção quanto às intervenções que poderiam minimizar os efeitos dos fatores de risco que se fazem presentes nesta nova fase da vida.

4.2.2.4 Subcategoria outra ocupação

(36)

“[...] hoje eu administro uma área de assistência social que toma muito o meu tempo [...]” (S)

“[...] pra mim eu ainda continuo em exercício porque como eu falei há pouco tempo eu estou

sentindo ainda que eu estou de férias e que logo eu possa retornar às atividades normais,

né?[...]” (M)

“[...] mesmo antes de aposentar eu já estava procurando fazer alguma coisa para que eu não

ficasse muito tempo só pensando no meu problema e depois que eu me aposentei eu comecei a

desenvolver outras atividades e aí eu fui ocupando meu tempo dessa forma, não podia

desempenhar o trabalho para o qual eu fui contratado mas por outro lado eu aproveitei esse

tempo e fui fazer outras coisas eu acho que é isso aí [...]” (T)

A aposentadoria é uma situação de mudança, uma vez que os laços laborais estabelecidos durante muitos anos foram rompidos, implicando, em alguns casos, na perda do lugar de reconhecimento e de valorização. No entanto, a pessoa pode construir, após a aposentadoria, “[...] outras fontes de reconhecimento e de valorização [...]”, neste caso “[...] a perda do papel profissional e as mudanças que daí decorrem serão vividas de modo menos problemático e o sujeito encontrará mais facilmente outros meios de reestruturar sua identidade.” (SANTOS, 1990, p. 29).

França (2002, p. 30-31) afirma que “[...] as atividades na aposentadoria representam verdadeiros antítodos contra a depressão, pois favorecem a incorporação de novas opções de identidade social e de reforço na auto-imagem e auto-estima.”

(37)

Para Lafin, Souza e Barbosa (2006, p. 1420-1421),

[...] a aposentadoria, quase sempre, é uma transferência para a terra de ninguém, tremendamente inadequada para a cultura contemporânea, produzindo, repentinamente, uma pessoa sem trabalho e sem uma missão que, no entanto, pode ser estimulada ao trabalho voluntário em instituições comunitárias. Dessa forma, ser voluntário na sociedade atual pode significar o momento de tomada de consciência do poder transformador do ser humano, da valorização do seu conhecimento, da capacidade solidária de se colocar a serviço do outro e da habilidade silenciosa de se contrapor à ideologia dominante que transformou o trabalho em um bem de compra e venda.

4.2.2.4 Subcategoria relacionamento familiar

Esta subcategoria mostra que, nas falas dos entrevistados, este foi um ponto em comum, conforme os fragmentos abaixo:

“[...] depois que você aposenta você fica mais em casa, fica mais com a família, tem mais tempo

de se relacionar com a família e quando você está trabalhando você não tem então você melhora

a relação com a família” (S)

“[...] estou curtindo bastante os filhos, o marido, a família, o familiar completo, a família em si,

então ainda está aquela proximidade, aqueles passeios, aquelas comemorações [...] parecendo

que nós estamos de férias, então o relacionamento está assim, familiar mesmo, aquela curtição de

férias” (M)

“[...] a minha vida melhorou em todos os aspectos depois que eu aposentei, financeiro, familiar

[...] eu tive que mudar o foco da minha vida, eu deixei de ser uma pessoa que cumpria horários,

então eu passei a ter mais tempo pra ficar em casa pra estar junto da minha filha e da minha

mulher” (T)

Nesta subcategoria parece ter sido unânime nas falas dos entrevistados o fato de que, com a aposentadoria, passaram a ter mais tempo para se dedicar à família.

França (2002, p.33) afirma que “[...] família talvez seja a rede de suporte mais importante na aposentadoria.” É o momento de se dedicar um tempo maior, seja ao lado dos filhos ou esposo/esposa. Para a autora acima citada, “[...] a aposentadoria representa um teste para o casamento e pode significar uma mudança de rotina para quem fica em casa.”

(38)

Quadro 3: Detalhamento da categoria APOSENTADORIA

Categoria Subcategoria Fala

Aposentadoria

Esta categoria busca mostrar, na fala dos

entrevistados, os pontos que mais se evidenciaram com relação à aposentadoria.

Ociosidade

A subcategoria ociosidade foi um ponto presente na fala de todos os

entrevistados, onde se observam pontos divergentes entre quem acabou de se aposentar e quem já está há 17 e 21 anos aposentados.

“[...] quando você aposenta nos primeiros meses você se sente meio perdido, porque você estava acostumado a levantar cedo e sair para o trabalho, vai e volta e quando você aposenta você não tem para onde ir [...]” (S)

“[...] eu não me sinto aposentada, para mim eu ainda continuo em exercício porque como tem pouco tempo que eu me aposentei eu estou sentindo ainda que eu estou de férias e que logo eu possa retornar às atividades normais, né?” “[...] bem, pra dizer a verdade eu ainda não posso definir uma diferença assim após a aposentadoria porque um mês só de aposentada então eu me sinto como se estivesse de férias, ainda estou descansando, curtindo, como se fosse assim os 30 dias de férias [...]” (M)

“[...] depois da aposentadoria eu me senti meio perdido, meio deslocado” (T)

Preparação pré-aposentadoria

A subcategoria preparação pré-aposentadoria buscou avaliar se os entrevistados em questão passaram por algum momento de preparação para lidar com a situação .

“[...] você se aposentava e ia embora e não tinha nenhum trabalho pré-aposentadoria (...) ” (S)

“[...] talvez se eu tivesse mais condição ou uma melhor atenção, sei lá, talvez um acompanhamento mais de perto, psicológico, alguma coisa assim, talvez eu tivesse ficado mais na instituição [...]” (T)

Saúde x Doença

Nesta subcategoria a saúde e a doença se evidenciaram nas falas dos entrevistados dentro do tema

aposentadoria.

“[...] me sinto bem porque eu continuo saudável, com saúde [...] (S)

“[...] uma coisa que eu acredito que me fez chegar nesta idade com muita força, com muita garra foi primeiro o amor pelo que faço então eu acredito que isso é o mais importante pra gente, se você faz, trabalha com amor, com dedicação, com gosto mesmo você não se sente cansada, você não adoece, você não fica triste, quando você vê aquela sua função como uma coisa saudável, uma coisa gostosa, isso faz com que você cada vez goste mais, se dedique mais e automaticamente reflete pra você só coisas boas [...]” (M)

Referências

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