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O projeto de reforma nos crimes patrimoniais : análise e perspectivas

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Academic year: 2022

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE DIREITO

Stephanie Leitão Lundgren

O PROJETO DE REFORMA NOS CRIMES PATRIMONIAIS:

ANÁLISE E PERSPECTIVAS

BRASÍLIA 2013

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Stephanie Leitão Lundgren

O PROJETO DE REFORMA NOS CRIMES PATRIMONIAIS:

ANÁLISE E PERSPECTIVAS

Trabalho de Conclusão de Curso submetido à Universidade de Brasília para obtenção de título de bacharel em Direito.

Orientadora: Professora Doutora Ela Wiecko Volkmer de Castilho

BRASÍLIA 2013

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STEPHANIE LEITÃO LUNDGREN

O PROJETO DE REFORMA NOS CRIMES PATRIMONIAIS:

ANÁLISE E PERSPECTIVAS

Monografia apresentada à Banca Examinadora abaixo qualificada em 05/03/2013, aprovada com conceito SS.

Banca Examinadora:

_______________________________________________________

Orientadora: Professora Doutora Ela Wiecko Volkmer de Castilho

_______________________________________________________

Membro: Professora Doutora Beatriz Vargas Ramos Gonçalves de Rezende

_______________________________________________________

Membro: Professora Mestre Carolina Costa Ferreira

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Como não poderia ser diferente, dedico este trabalho aos meus pais, irmãos, marido e Duke.

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AGRADECIMENTOS

À querida Professora Ela, meu especial agradecimento pela disponibilidade, generosidade e paciência. Graças aos seus ensinamentos pude abrir minha mente e enxergar o mundo sob outra perspectiva. Obrigada por ter despertado em mim a visão crítica do Direito Penal e ter voltado a minha atenção às camadas mais vulneráveis da sociedade. Agradeço também pelo incentivo que encontrei em suas palavras ditas nos nossos encontros e nos vários emails trocados. Sua orientação atenta e esclarecedora me deu ânimo e força para a conclusão deste trabalho.

Agradeço também à querida Professora Beatriz, admirável pela disposição em ajudar e pela entrega à profissão. Agradeço igualmente à Professora Carolina, que prontamente se dispôs a integrar a minha banca.

Agradeço ao meu marido, que tem enfrentado ao meu lado, mesmo que distante, os momentos não tão fáceis dessa jornada. Obrigada por todo o apoio paciente e pela compreensão de sempre. Obrigada pelo carinho, pelo amor, por ser exatamente como és.

Agradeço aos meus queridos pais que sempre apostaram no meu sucesso e confiaram na minha capacidade. A influência deles na minha vida nunca me deixou desanimar frente às dificuldades do longo percurso até este momento. Sem vocês, esta vitória não teria o mesmo sabor. Obrigada por tudo!

Agradeço aos meus irmãos, em especial minha irmã Michelle, que tanto me ajudou nesse período, dividindo o seu quarto e seu espaço para me abrigar durante esse último ano.

Agradeço a minha querida avó Bel, que infelizmente não pôde presenciar mais esse evento da minha vida, mas que certamente está vibrando por mim de onde estiver.

Saudades eternas!

Aos meus amigos e amigas agradeço pela compreensão da minha ausência e por acreditarem na minha capacidade de enfrentar os desafios até quando eu mesma tive dúvidas.

À amiga Duda Cintra, toda minha admiração e gratidão. Provavelmente sem saber, com toda sua juventude, ela fez da faculdade um ambiente mais amigo e solidário. Espero poder retribuir algum dia todo o bem que você me fez durante a graduação. Obrigada por tudo!

Aos amigos André Dourado e Luís Magno, que sempre me acompanharam durante a graduação, sempre dispostos a me ajudar e tornar minha vida mais fácil. Vocês são amigos que levarei para a vida toda!

Por fim, agradeço a Deus por essa vitória. Sem Ele, nada disso seria possível.

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RESUMO

No ano de 2012, foram propostos o Projeto de Lei do Senado (PLS) n° 236 e o Projeto de Lei (PL) n° 4.894, de iniciativa da Câmara dos Deputados. O primeiro objetivou a reforma do Código Penal como um todo e o segundo apresentou alterações pontuais para o título dos crimes contra o patrimônio. Nesse contexto, o presente trabalho buscou levantar as principais mudanças normativas apontadas por ambos os projetos em relação aos crimes patrimoniais, em específico aos crimes de furto, roubo, extorsão e extorsão mediante sequestro. Para a referida análise, foram levadas em consideração as justificativas utilizadas pelos idealizadores dos projetos bem como as emendas apresentadas ao texto do PLS 236/2012 pelos Senadores durante o prazo regimental aberto para tal finalidade. Após este levantamento, foi possível identificar as principais tendências em termos de política criminal extraídas dos textos dos dois projetos de lei para os crimes mencionados. Buscou-se, ainda, por meio de entrevistas semi-estruturadas com atores importantes que acompanharam as discussões desse tema no Congresso Nacional, avaliar as perspectivas possíveis para as propostas em comento.

Palavras-chave: Reforma Penal. Crimes Patrimoniais. PLS 236/2012. PL 4894/2012.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 8

1. DA NECESSIDADE DE UMA REVISÃO LEGISLATIVA PARA OS CRIMES PATRIMONIAIS... 10

1.1 O elevado encarceramento resultante da prática de furto e roubo... 10

1.2 O elevado número de presos provisoriamente pelas práticas de furto e roubo 14 1.3 O princípio da insignificância e os crimes patrimoniais... 16

2. A INICIATIVA DA REFORMA DO CÓDIGO PENAL... 18

2.1 A iniciativa do Senado Federal... 19

2.2 A iniciativa da Câmara dos Deputados... 20

2.3 As propostas de reforma legislativa para os crimes patrimoniais... 20

2.3.1 O crime de furto... 20

2.3.2 O crime de roubo... 30

2.3.3 O crime de extorsão... 40

2.3.4 O crime de extorsão mediante sequestro... 42

3. TENDÊNCIAS E PERSPECTIVAS... 47

3.1 Tendência de abrandamento das penas aplicadas aos crimes patrimoniais... 47

3.2 Tendência de fortalecimento da participação da vítima no processo penal... 53

3.3 Perspectivas... 56

CONCLUSÃO... 59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 61

LISTA DE APÊNDICES... 63

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8 INTRODUÇÃO

Neste trabalho de conclusão de curso, pretende-se abordar as mudanças legislativas propostas relacionadas aos crimes contra o patrimônio, no contexto da reforma do Código Penal que se encontra em fase de tramitação no Congresso Nacional.

Ao longo dos últimos anos, percebeu-se a necessidade de mudança legislativa no âmbito do Direito Penal, haja vista seu principal diploma normativo ser datado do ano de 1940, época em que as relações sociais lidavam com dilemas de outra dimensão da dos que são enfrentados hoje. Trata-se, portanto, de um código que não corresponde à realidade atual, pois, mesmo com as alterações que sofreu em seu texto original durante todo o período de sua vigência, não conseguiu acompanhar a evolução da sociedade brasileira.

Além das alterações inseridas no próprio Código Penal brasileiro (CPB), há inúmeras leis esparsas criadas ao longo dos anos que tocam de algum modo a temática criminal. Essa dispersão de normas prejudica a interpretação sistemática do ordenamento penal como um todo, provocando ainda, em muitos casos, a ocorrência de desproporcionalidades entre condutas classificadas como crimes.

Nesse contexto, o Projeto de Lei do Senado n.° 236, de 2012 e o Projeto de Lei n.° 4.894, de 2012, de iniciativa da Câmara dos Deputados, apresentaram alterações legislativas com o fito de modernizar e organizar o Código Penal sob diversos aspectos.

O presente trabalho restringiu o estudo para focar nas mudanças propostas para os crimes patrimoniais de furto, tipificado no artigo 155, roubo, tipificado no artigo 157, extorsão, tipificado no artigo 158 e extorsão mediante sequestro, tipificado no artigo 159, todos do CPB. A escolha desses delitos se deu em razão do fato de que são eles os maiores responsáveis pelo ingresso de indivíduos no sistema de justiça criminal. Hoje, a grande maioria dos encarcerados têm sua liberdade restringida em função da prática de um desses crimes patrimoniais.

Diante dessa informação, as propostas de alteração da legislação referente a estes tipos de crimes mereceram a análise comparativa das efetivas mudanças da legislação atual para as sugeridas nos projetos de lei. Assim, o trabalho foi

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9 redigido com o objetivo geral de destacar as principais modificações propostas pelos projetos de lei supracitados no que tange aos crimes contra o patrimônio.

No primeiro capítulo, buscou-se explorar os motivos que reforçam a urgência necessária para a revisão das disposições relativas aos crimes patrimoniais.

No capítulo segundo, procedeu-se à referida análise comparativa entre a legislação vigente, prevista no Código Penal, e as propostas contidas no PLS 236/2012 e no PL 4.894/2012. Além da comparação, foi realizado um levantamento das emendas apresentadas por Senadores e integrantes da sociedade civil, até a data de 7 de dezembro de 2012, relacionadas aos artigos selecionados para análise.

Com as justificativas encontradas nas emendas, e tendo como pano de fundo a pesquisa realizada por Laura Frade, foi possível empreender uma reflexão acerca das principais tendências detectadas no bojo das proposições em análise.

Tentou-se, ainda, por meio de entrevistas semi-estruturadas1 realizadas com assessores jurídicos do Senado Federal e representante do Ministério da Justiça, traçar as perspectivas de aprovação das referidas propostas e possíveis impactos na política criminal brasileira até então empreendida.

1 Todos os entrevistados consentiram no uso do inteiro teor de suas declarações e na revelação de seus

nomes.

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10 1. DA NECESSIDADE DE UMA REVISÃO LEGISLATIVA PARA OS

CRIMES PATRIMONIAIS

1.1 O elevado encarceramento resultante da prática de furto e roubo

O Decreto-Lei n° 2.848, que instituiu o Código Penal atualmente em vigência, data do ano de 1940. Naquela época imperava no Brasil o regime do Estado Novo, fundado no governo do então Presidente da República Getúlio Vargas. Nesse contexto, em 1938, o Professor Alcântara Marchado idealizou o anteprojeto do Código Criminal brasileiro, submetendo-o a uma Comissão revisora composta por juristas de renome. Este anteprojeto que, em 1940, se tornaria o terceiro Código Penal brasileiro, é hoje o que possui maior período de vigência, somando setenta e dois anos de vida.

É evidente, portanto, que o texto idealizado para aquela época não mais corresponde à realidade atual. Com o passar dos anos, contudo, o texto original tem sido pontualmente modificado na tentativa de adequar-se às demandas impostas pelo dinamismo da vida em sociedade. Dessas alterações legislativas, destaca-se a grande reforma ocorrida no ano de 1984, quando foi publicada a Lei 7.209 que alterou significativamente a Parte Geral do Código Penal e extinguiu os valores das multas previstas na Parte Especial.

Após esse período, verificou-se, nos anos 1990, uma inflação na legislação criminal com a consequente penalização excessiva de condutas muitas vezes já tipificadas ou totalmente alheias à regulação penal. Rodrigo Azevedo, em sua tese

“Tendências do Controle Penal na Modernidade Periférica: as reformas penais no Brasil e na Argentina na última década” 2 fez um levantamento das principais reformas legislativas na seara criminal ocorridas na Argentina e no Brasil, na década de 90.

Nessa pesquisa – referindo-se aqui apenas ao caso brasileiro – o autor pretendeu revelar as tendências dominantes da política criminal do país e o teor das reformas empreendidas. Para tanto, agrupou as leis analisadas em quatro categorias de tendências possíveis: “expansão do Direito Penal”, “Processo Penal de Emergência”,

“proteção a vítimas e testemunhas” e “informalização ou simplificação do processo penal”.

2 Tese de doutorado apresentada no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFRGS, 2003.

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11 A tendência “expansão do Direito Penal” é explicada como “hipertrofia ou inflação de normas penais que adentram área da vida social antes não regulamentadas por sanções penais „em resposta para quase todos os tipos de conflitos e problemas sociais‟” (AZEVEDO, 2003 apud CAMPOS, 2003, p. 102). Exemplo desta fase é reconhecido, segundo Azevedo, com a edição da Lei 8.137, de 1990, que regulamenta os delitos contra a ordem tributária, econômica e as relações de consumo.

A segunda tendência revelada – “Processo Penal de Emergência” – é definida como uma fase que se distancia do padrão adotado pelo sistema repressivo,

“pois estabelece determinados tipos criminais como graves, junto com a adoção de mecanismos e dispositivos legais para combatê-los” (AZEVEDO, 2003 apud CAMPOS, 2003, p. 102). Clássico exemplo desta tendência emergencial foi a criação da Lei 8.072, de 1990, a qual classificou certos crimes como hediondos.

Já no século XXI, o Código Penal enfrentou nova mudança importante com o advento da Lei 12.015, em 2009, que tratou dos crimes contra a dignidade sexual.

Embora pensada para a década de 90, a classificação ensinada por Azevedo pode ser estendida aos outros períodos temporais, sem prejuízo do conteúdo. Assim, poder-se-ia incluir a referida lei na tendência “Processo Penal de Emergência”, tendo em vista o manifesto recrudescimento penal endereçado aos crimes sexuais.

Em 2012, durante a redação do presente trabalho, foi publicada a Lei 12.737, de 30 de novembro, acrescentando ao Código Penal dois artigos tratando dos delitos informáticos. Mais uma vez, tal lei seria facilmente enquadrada na tendência

“expansão do Direito Penal” em função do alargamento da esfera penal para atingir os delitos informáticos.

Todas essas reformas ocorridas, além dos inúmeros projetos de lei em tramitação que visam alterar algum dispositivo do Decreto-Lei 2.848, reforçam a ideia de que o Código Penal precisa de uma revisão unificada com urgência. Ademais, além das alterações normativas que emendaram o texto original, sabe-se que há uma quantidade elevada de leis esparsas que disciplinam variadas temáticas criminais. Essa dispersão de normas vigentes inviabiliza, portanto, uma interpretação sistêmica e harmônica entre as leis. O que tem se observado, de fato, é a desproporcionalidade entre tipos penais, criando situações em que delitos de menor potencial ofensivo por vezes possuem penas mais severas que crimes de maior reprovação social.

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12 Destarte, assim como ocorreu com o Código Civil em 2002, urge para o Código Penal a obrigação de se adaptar à realidade contemporânea – bastante diversa daquela em que foi editado – para manutenção da sua força normativa. É seguro afirmar, portanto, que há um consenso generalizado, entre os diversos setores da sociedade, de que o Código Penal carece, de fato, de uma revisão significativa de seus dispositivos.

Em relação aos crimes contra o patrimônio, em específico, a necessidade de mudança legislativa se torna ainda mais premente. Ao analisar o Código Penal atual, é possível perceber que a parte da legislação referente a estes crimes não sofreu – ao contrário dos outros dispositivos do Código – alterações normativas significantes, mantendo quase que integralmente a redação original.

Uma alteração que merece destaque refere-se à tipificação do chamado sequestro relâmpago, introduzida pela Lei n° 11.923, de 2009, para incluir modalidade nova de extorsão com restrição de liberdade, com o consequente acréscimo do parágrafo terceiro, do Art. 158, do Código Penal. Embora não existisse o crime específico denominado “sequestro relâmpago”, tal conduta já era abarcada por uma hipótese qualificadora do crime de roubo, prevista no inciso V, do parágrafo segundo, do Art.

157, do Código Penal. Todavia, pressionado pela sociedade através do reforço midiático, o legislador se viu compelido a atuar emergencialmente para satisfazer as pretensões de seus representados – caracterizando, assim, mais um exemplo da tendência “Processo Penal de Emergência”.

Nesse contexto, da forma como se encontram redigidos atualmente, os crimes patrimoniais representam 48% do total de crimes que levaram ao encarceramento até junho de 2012, de acordo com o informativo mais recente divulgado pelo Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN).

O conjunto dos crimes patrimoniais é, portanto, responsável pelo maior número de prisões no Brasil, seguido do tráfico de entorpecentes, que representa 25%

do total de encarceramentos. Do total dos crimes patrimoniais praticados, 84% referem- se apenas aos crimes de furto e roubo.

Não há dúvidas de que essas estatísticas contribuem negativamente para o impacto no sistema penitenciário do país. Da constatação de que os crimes de furto e roubo, nas suas modalidades simples e qualificada, e de extorsão e extorsão mediante sequestro respondem por 42% do encarceramento do Brasil, levanta-se o debate a

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13 respeito da real eficácia da legislação em vigor. Poder-se-ia afirmar, assim, que a frase

“prende-se muito, mas prende-se mal” define com maestria a política criminal adotada até então.

O sistema carcerário brasileiro, segundo os dados de junho de 2012, possui 1.420 estabelecimentos penais, contabilizando 309.074 vagas para um total de 549.577 de presidiários. Esses números revelam um déficit de 240.503 vagas correspondentes a quase 44% do número de presos. Nessa mesma época, no ano de 2011, foram estimados 513.802 encarcerados para 304.702 vagas, distribuídas em 1.237 estabelecimentos penais. Vê-se, então, que de junho de 2011 a junho de 2012, a quantidade de presidiários aumentou em cerca de 7%, enquanto o número de vagas nos estabelecimentos penais apresentou um aumento de apenas 1%.

De fato, conforme os dados apontados pelo 5º Relatório Nacional sobre os Direitos Humanos no Brasil, do Núcleo de Estudos da Violência (NEV), da Universidade de São Paulo, em dez anos (2001-2010) a população carcerária brasileira passou de 233.859 para 496.251, representando um aumento de 112%.

Baseando-se nesses dados, é possível vislumbrar as condições degradantes e desumanas vivenciadas nas cadeias do país. Nesse contexto, uma reforma na legislação dos crimes patrimoniais se mostra indispensável. É necessário que haja uma reavaliação do tratamento penal dado a estes crimes, buscando adaptá-los à realidade criminal brasileira e harmonizá-los com a situação penitenciária existente.

De acordo com Fernando Salla, pesquisador sênior do NEV-USP,

A persistência de uma crônica condição de encarceramento insatisfatória, que em alguns casos chega a ser desumana e cruel, se alimenta de políticas penais e repressivas que promovem a detenção de milhares de pessoas, sobretudo de jovens; combina-se com o desleixo político e administrativo em diversos estados que mantêm o sistema prisional em quase total abandono; e alia-se ainda ao apoio que alguns setores da sociedade dão a práticas ilegais e de violência produzidas nas instituições públicas e por agentes públicos. (p. 150).

Nesse contexto, no âmbito das políticas penais, percebe-se a necessidade urgente de revisão da legislação que trata dos crimes contra o patrimônio, na tentativa de reduzir a tendência repressora por parte do Estado e contribuir para a minimização dos efeitos nocivos que a carceragem produz.

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14 1.2 O elevado número de presos provisoriamente pelas práticas de furto e roubo

Aliado ao elevado número de encarceramentos provindos da prática de crimes patrimoniais, outro dado que impressiona refere-se à quantidade de presos provisórios no sistema penitenciário brasileiro. De acordo com os dados do DEPEN, quase 38% do total da população carcerária está presa provisoriamente.

Para uma compreensão adequada acerca da relevância deste dado, convém rememorar o conceito de prisão provisória. Em regra, toda privação de liberdade anterior ao trânsito em julgado de um processo criminal deve ser considerada uma prisão provisória. Esta denominação – provisória – se contrapõe ao conceito de definitivo, no sentido de que a prisão provisória “não se trata de prisão-pena, também chamada de prisão definitiva, embora se saiba que não existe prisão por tempo indeterminado (perpétua) no nosso ordenamento jurídico” (BARRETO, 2008, p. 415).

Outra característica da prisão anterior ao trânsito em julgado é a sua cautelaridade. Sua aplicação se dá não como forma de punição pela prática delituosa e sim como uma maneira de proteção a determinados interesses de ordem pública.

Depreende-se, assim, segundo Barreto, que “a prisão que não decorra de sentença passada em julgado será, sempre, cautelar e provisória” (2008, p. 415).

Em pesquisa documental3 realizada em processos de furto de cinco localidades – Belém, Distrito Federal, Porto Alegre, Recife e São Paulo – no período de 2000 a 2004, constatou-se, contrariamente ao que é defendido da teoria, que os princípios norteadores da prisão provisória são sistematicamente violados na prática.

Tem-se observado, nos casos concretos, que a prisão provisória tem atuado como uma forma antecipada da aplicação da pena, fugindo do seu escopo principal, que é a cautelaridade da tutela penal. Em face da realidade, chegou-se à conclusão, na pesquisa, de que a prisão provisória deixou de ser uma medida excepcional e passou a ser a regra na criminalização do furto (BARRETO, 2008, p. 41).

O que se observa, contudo, é que na maioria dos casos de furto, quando da fase de julgamento, os magistrados costumam aplicar sanções restritivas de direito.

Em outras palavras, segundo Barreto, há um paradoxo, pois, “prende-se cautelarmente os autores do delito, sem fundamento de cunho instrumental e, em muitos casos, constata-se ao final do processo, que a pena privativa de liberdade não é aplicada” (p.

3 BARRETO, Fabiana Costa Oliveira.

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15 13). Tal situação reflete um sistema incongruente que carece de uma mudança estrutural na legislação.

Objetivando minimizar as consequências oriundas dessa incongruência, foi editada, em 30 de novembro de 2012, a Lei n° 12.736, que modificou a redação do artigo 387, do Código de Processo Penal, para determinar ao juiz prolator da sentença condenatória a verificação do tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação, cumprida no Brasil ou no exterior, a fim de estipular o regime inicial do cumprimento da pena privativa de liberdade. Esta lei, de autoria do Poder Executivo, faz parte do pacote de projetos de lei elaborado pelo Ministério da Justiça no âmbito do Programa Nacional de Apoio ao Sistema Prisional.

Antes dessa lei, a competência para reconhecimento do cômputo da detração, para fins de progressão de regime, era exclusiva do magistrado da execução penal. Como dito, ocorre que, na prática, muitas vezes o acusado permanece preso durante todo o processo criminal – sob o fundamento acautelatório – e, quando a decisão de condenação é proferida, a penalização imputada ao réu é inferior ao tempo de pena já cumprido provisoriamente. Só que, nesses casos, para que seja efetivada a detração, o processo deveria seguir para o magistrado da vara de execução, que até então era o único competente para fazer o abatimento dessa pena. Acontece que este trâmite leva tempo, podendo perdurar por pelo menos uns 20 dias, caso o acusado tenha uma boa defesa.

Conforme justificativa do Projeto de Lei 2.784, de 2011, que deu origem à referida lei, proposta como essa visa conferir racionalidade e maior celeridade ao sistema de justiça criminal. A situação evitada por esta lei,

Ademais de gerar sofrimento desnecessário e injusto à pessoa presa, visto que impõe cumprimento de pena além do judicialmente estabelecido, termina por aumentar o gasto público nas unidades prisionais com o encarceramento desnecessário. Ademais, atualmente, essa realidade acaba por gerar uma grande quantidade de recursos aos tribunais superiores com a finalidade de se detrair da pena aplicada ao réu o período em que esteve preso provisoriamente.4

4 PL 2.784/2011, disponível em:

<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=855F18C427A3046A9EE3 44BF03152BF1.node1?codteor=943395&filename=PL+2784/2011>

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16 Assim, a lei surge na tentativa de contornar as falhas do sistema jurídico- penal a fim de suprir, de certa forma, a ausência de políticas públicas na esfera da execução criminal. Embora esta medida por si só não consiga resolver todos os problemas, já é um passo importante no caminho para corrigir as desproporções espalhadas pela legislação. Da mesma forma, entende-se que a reforma na legislação dos crimes patrimoniais também contribui para a melhoria do sistema de justiça criminal.

1.3 O princípio da insignificância e os crimes patrimoniais

Outra questão que se apresenta reforçando a necessidade de mudança legislativa para os crimes patrimoniais diz respeito à aplicação do princípio da insignificância. Também conhecido como princípio da bagatela, este princípio, embora sem previsão expressa em diploma normativo, vem adquirindo popularidade por parte do Judiciário e sendo cada vez mais aplicado ao caso concreto. Ao fazer isso, reconhece-se a irrelevância da lesão ao bem jurídico tutelado, na prática de determinado ilícito, justificando o afastamento da tipicidade da conduta.

Não obstante a inexistência de positivação do princípio, a jurisprudência tratou de estabelecer os critérios norteadores para o reconhecimento da insignificância nas condutas delitivas. O acórdão paradigmático, cuja relatoria pertence ao Min. Celso de Mello (Habeas Corpus nº 84.412, DJ. 19.11.2004), lista quatro quesitos que precisam ser preenchidos para a configuração da irrelevância penal, a saber, (i) a mínima ofensividade da conduta do agente, (ii) nenhuma periculosidade social da ação, (iii) reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e (iv) inexpressividade da lesão jurídica provocada.

Inspirado na jurisprudência, o PLS 236, de 2012, incluiu em um dos seus dispositivos a normatização do princípio da insignificância, considerando apenas três dos quatro requisitos apontados pelo Min. Celso de Mello. Não se sabe ainda se tal dispositivo prosperará até o final do trâmite legislativo. Entretanto, por ora já ensejou o debate a respeito das conseqüências oriundas da positivação do princípio no Código Penal.

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17 Pesquisa5 realizada pelo Departamento de Direito Penal, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, revelou – a partir do levantamento dos julgados que chegaram ao Supremo Tribunal Federal, no período de 2005 a 2009 – que tem sido aplicado progressivamente o referido princípio nos casos de crimes contra o patrimônio e contra a ordem econômica.

Em relação aos crimes fiscais e a alguns crimes contra a administração pública, como o contrabando e o descaminho, é possível perceber uma aplicação mais consolidada do princípio da insignificância ao caso concreto. Isso se deve ao fato de que, em 2004, foi editada a Lei 11.033 que modificou a redação do art. 20, da Lei n°

10.522, de 2002, que trata do cadastro informativo dos créditos não quitados, para determinar o arquivamento dos autos da execução fiscal de débitos inscritos na dívida ativa da União de valor consolidado igual ou inferior a R$10 mil.

A partir dessa mudança na legislação fiscal, o STF passou a utilizar-se deste parâmetro para afastar a incidência da norma penal aplicada aos débitos inscritos dentro dessa faixa de valor, sob o argumento da insignificância da lesão jurídica. O que se nota, todavia, é que, a inexistência de previsão legislativa para os crimes patrimoniais inviabiliza a adoção de critério semelhante nesses casos, evidenciando a diferença entre os critérios escolhidos para reconhecer a aplicação do princípio nos crimes analisados.

Ao final da pesquisa, portanto, constatou-se que nos crimes contra o patrimônio o principio foi reconhecido em 52,2% (24 casos), enquanto que nos crimes fiscais/administração o principio foi reconhecido em 72,4% (21 casos). Na perspectiva diversa, o princípio não foi reconhecido em 45,7% dos casos (21) de crimes patrimoniais e em 27,6% (8 casos) dos casos dos crimes fiscais/contra administração pública.

Dados como esses propiciam uma reflexão acerca das razões que levam os julgadores a reconhecerem a insignificância com maior freqüência em certos crimes em detrimento de outros. Em princípio, uma primeira resposta envolveria a normatização do princípio na legislação penal. Seria a positivação do princípio a explicação para as diferenças reveladas nos julgados do STF?

5 BOTTINI, Pierpaolo Cruz; SADEK, Maria Tereza; OLIVEIRA, Ana Carolina C. Princípio da Insignificância nos crimes contra o patrimônio e contra a ordem econômica: análise das decisões do Supremo Tribunal Federal. Faculdade de Direito, USP. São Paulo, 2011.

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18 2. A INICIATIVA DA REFORMA DO CÓDIGO PENAL

2.1 A iniciativa do Senado Federal: o PLS 236/2012

Ciente da necessidade evidente de atualização e sistematização do Código Penal, o Senador Pedro Taques propôs, amparado no art. 374, parágrafo único, do Regimento Interno do Senado Federal (RISF), o Requerimento n° 756, de 17 de junho de 2011, solicitando a composição de uma Comissão Especial de Juristas com o fito de elaborar um anteprojeto de Código Penal.

Após a aprovação do referido Requerimento, instalou-se, no dia 10 de agosto de 2011, a Comissão de Reforma – composta por membros de diversos ramos jurídicos, sob a Presidência do Ministro do Superior Tribunal de Justiça Gilson Dipp – que proporcionou um amplo debate na elaboração do anteprojeto de Código Penal. Ao final de oito meses de trabalhos intensos e discussões realizadas em audiências públicas em várias regiões do Brasil, foi apresentado o relatório final da Comissão Especial condensado em 543 artigos do anteprojeto de lei.

Depois da assinatura do Presidente do Senado Federal, o Senador José Sarney, o anteprojeto tornou-se projeto de lei e foi submetido à análise dos demais Senadores, na forma de Projeto de Lei do Senado (PLS) n° 236, de 2012. Seguindo o trâmite previsto no Regimento, criou-se uma Comissão Temporária, composta por onze titulares e mesmo número de suplentes, responsável pela análise e deliberação do PLS n° 236, de 2012.

De acordo com o cronograma inicial de tramitação do PLS, foi aberto prazo de 20 dias úteis para apresentação de emendas ao projeto, o qual teria fim no dia 5 de setembro de 2012. No dia 29 de agosto, porém, foi aprovado o Requerimento n° 772, que solicitou a duplicação do prazo para a conclusão dos trabalhos da Comissão, ao argumento de que a reforma de um Código demanda grande esforço de deliberação por parte dos parlamentares, sobretudo em um ano de eleições municipais, justificando, assim, a dilatação do prazo.

Da mesma forma, no dia 25 de setembro foi aprovado o Requerimento n°

859, o qual solicitou novamente a duplicação do prazo, pelos mesmos motivos anteriormente apresentados. Mais uma vez, no dia 30 de outubro foi aprovado o

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19 Requerimento n° 903, que prorrogou o prazo para apresentação de emendas, tendo como previsão de término o dia 3 de dezembro de 2012.

No dia 29 de novembro de 2012, contudo, foi apresentado o Requerimento n° 1.034, de autoria do Sen. Tomás Correia (PMDB/RO), solicitando a suspensão do prazo para apresentação de emendas a fim de que haja tempo hábil para a realização de todas as audiências públicas previstas para o debate do texto do projeto.

Então, até o dia 7 de dezembro de 2012, foram juntadas inúmeras emendas relativas a diversos dispositivos do projeto de Código, em especial àqueles que provocaram maior repercussão como os que tratam do crime de aborto e do crime de tráfico de entorpecentes.

Entretanto, conforme dito anteriormente, o foco deste trabalho se restringe às alterações propostas para os crimes contra o patrimônio, especificamente os crimes de furto, roubo, extorsão e extorsão mediante sequestro. Durante o período em que o PLS esteve submetido à apresentação de emendas, foram contabilizadas dezenas de emendas relacionadas aos artigos 155, 157, 158 e 159 do Código Penal, os quais serão objeto de análise no tópico pertinente.

2.2 A iniciativa da Câmara dos Deputados

No mesmo período em que se discutia no Senado Federal a necessidade de reforma do Código Penal, a Câmara dos Deputados também se engajou neste propósito a partir do Requerimento apresentado pelo Dep. Alessandro Molon (PT/RJ) com a finalidade de modernizar, harmonizar bem como conferir maior proporcionalidade às penas previstas na Parte Especial do Código Penal e na legislação extravagante.

Em decorrência do referido Requerimento, instalou-se no dia 10 de agosto de 2011, no âmbito da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ), a Subcomissão Especial de Crimes e Penas, criada exclusivamente para a propositura de nova organização e uniformização da legislação brasileira no que tange aos crimes e às penas.

Presidida pelo Dep. Mendonça Filho (DEM/PE), a Subcomissão atuou em conjunto com um Grupo de Trabalho formado por representantes de variados setores jurídicos a fim de possibilitar o debate entre os parlamentares e os especialistas em

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20 Direito Penal e Ciências Humanas. Os trabalhos foram desenvolvidos nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Curitiba e Brasília.

Ao contrário do Senado Federal, o objetivo da Câmara dos Deputados não foi o de oferecer à sociedade um novo Código Penal. Tampouco teve como objetivo a criação de novos tipos penais. Em verdade, com o fito de eliminar contradições e desproporcionalidades, buscou-se reformar o texto já existente, adaptando-o à realidade da sociedade brasileira.

Assim, por não se tratar de uma nova codificação, a proposta de reforma da Subcomissão se consolidou em nove projetos de lei distintos separados por temas, que seguirão o trâmite legislativo ordinário. Nesse contexto, em relação aos crimes patrimoniais, foi apresentado pela CCJ o Projeto de Lei (PL) n° 4.894, de 2012, que alterou diversos artigos do Código Penal, incluindo o Art. 155, que trata do furto, e o Art. 157, que trata do roubo, ambos analisados a seguir. O referido projeto encontra-se na fase inicial do trâmite legislativo, aguardando despacho do Presidente da Câmara dos Deputados.

2.3 As propostas de reforma legislativa para os crimes patrimoniais

2.3.1 O crime de furto

O crime de furto, em sua redação atual, encontra-se assim descrito:

Art. 155 – Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:

Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.

No PLS n° 236, de 2012, o crime de furto, apesar de manter a redação original, apresenta penalidade distinta.

Art. 155 – Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:

Pena – prisão, de seis meses a três anos.

A primeira diferença que pode ser observada refere-se à opção do legislador em denominar a pena privativa de liberdade cominada ao tipo de prisão e não mais reclusão. De fato, por entender que referida distinção é artificial, Comissão de

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21 Reforma buscou unificar as penas de reclusão e detenção para chamá-las apenas de prisão.

No sistema atual, dá-se o nome de reclusão à pena privativa de liberdade cujo cumprimento tenha início no regime fechado. A pena de detenção, por sua vez, é aquela em que o regime inicial para cumprimento é o semi-aberto ou aberto. Todavia, o critério determinante para a estipulação do regime é a duração da pena a ser cumprida.

Ademais, reclusão e detenção não se diferenciam no cumprimento da pena, que ocorre no mesmo tipo de estabelecimento. Na prática, portanto, inexistem diferenças entre os dois tipos de pena, prevalecendo a diferenciação apenas no campo teórico.

No que tange às penas, percebe-se a intenção inicial, por parte dos juristas idealizadores do novo Código Penal, em reduzir a pena privativa de liberdade para seis meses a três anos, além de excluir a possibilidade de cominação da pena de multa para a prática de furto simples.

A proposta de “descarceirização do furto” foi pensada pela Comissão de Reforma ante a constatação de que este delito responde por um elevado número de encarceramentos. Destarte, foram adotados, no texto do projeto, mecanismos capazes de afastar a pena de prisão para o crime de furto simples, com exceção das variações de maior gravidade.

Essa proposta de alteração, todavia, tem sido alvo de emendas de duas espécies: as que sugerem a manutenção da pena de prisão de um a quatro anos, excluindo-se a multa; e aquelas que propõem uma redução ainda maior na pena privativa de liberdade.

Ao analisar as emendas que tratam deste artigo, é possível observar que o Senador Magno Malta, do Partido da República (PR), do Espírito Santo, e o Senador Aloysio Nunes Ferreira, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), do estado de São Paulo, convergem no sentido de que a redução da pena privativa de liberdade aplicável aos crimes patrimoniais – aliada às outras mudanças propostas nesse mesmo viés – terminaria por estimular a prática de tais delitos.

Nas palavras do Sen. Magno Malta (PR/ES), o delito de furto “além de representar a iniciação do agente no mundo do crime, presta-se, justamente a viabilizar a execução de delitos mais graves, a exemplo do tráfico de drogas”. (Emenda modificativa, Senado Federal, 29.11.2012). O Senador Aloysio Ferreira (PSDB/SP), por sua vez, questionou a respeito dos desdobramentos decorrentes da redução das

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22 penas, que, segundo ele, seriam um “prêmio” àqueles que “optaram pela criminalidade”, com a libertação e progressão imediata de milhares de presos para regimes mais brandos.

Por outro lado, ainda em referência às penas, os Senadores José Pimentel, do Partido dos Trabalhadores (PT), do Ceará, e Sérgio Souza, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), do Paraná, propuseram redução ainda maior da pena privativa de liberdade, chegando, em uma das propostas de emenda, à pena máxima cominada ao furto de um ano. O argumento central para justificar a diminuição da reprimenda seria para adequá-la à gravidade da conduta, que, além de sua natureza patrimonial, não é praticada com violência ou grave ameaça.

No mesmo sentido, o PL 4894/2012, apresentado pela Câmara dos Deputados, propôs redução da pena aplicada ao furto simples, para os limites de seis meses a dois anos de reclusão, incluindo a multa como pena alternativa. Dessa forma, o crime passaria a ser considerado de menor potencial ofensivo, recebendo disciplina pela Lei 9.099, de 1995. Com isso, seria possível a lavratura de um termo circunstanciado, no lugar de uma prisão em flagrante do agente.

O parágrafo terceiro do Código Penal, que trata da equiparação à coisa móvel, passou a ser disciplinado no parágrafo primeiro do PLS 236/2012, como se observa abaixo. Na vigente redação penal:

§ 3º Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.

No PLS 236/2012:

§ 1º Equipara-se à coisa móvel o documento de identificação pessoal, a energia elétrica, a água ou gás canalizados, o sinal de televisão a cabo ou de internet ou item assemelhado que tenha valor econômico.

É possível observar que houve uma preocupação do legislador em ampliar as equiparações à coisa móvel, passando a classificar como tal, além da energia elétrica, a água ou gás canalizados, o sinal de televisão a cabo ou de internet, ou item assemelhado que possua valor econômico.

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23 Nesse particular, ao equiparar o documento de identificação pessoal à coisa móvel, a Comissão de Reforma reconheceu a frustração das vítimas que, muitas vezes, padecem mais com a subtração de documentos pessoais do que com objetos ou valores que perderam. No entanto, o Grupo Candango de Criminologia (GCCRIM) manifestou-se no sentido de generalizar a equiparação à coisa móvel para quaisquer documentos, ampliando, assim, o rol de documentos passíveis de serem furtados, não só os documentos pessoais.

Ainda em relação ao parágrafo primeiro, foi proposta uma emenda por parte da associação Liga Humanista Secular do Brasil, sugerindo a redução da pena cominada a estes tipos de furto ao argumento de que “a energia elétrica, a água e o gás canalizados são serviços essenciais, e que a utilização sem pagamento de sinal de TV a cabo e de internet não lesiona o patrimônio da companhia que os transmite, pois ele não é diminuído” (Senado Federal, 2012).

Além dessa emenda, o GCCRIM também se posicionou contra a equiparação à coisa móvel do sinal de televisão a cabo ou de internet. Segundo o entendimento do Grupo, esses serviços não podem ser equiparados à coisa móvel em virtude da própria natureza deles, daí a impossibilidade de serem considerados objetos do crime de furto.

Com posicionamento diverso, a proposta da Câmara dos Deputados sugeriu a criação de um tipo autônomo para tratar do furto de “TV a cabo” – o artigo 156-A – restringindo o parágrafo terceiro de modo a contemplar apenas a equiparação da energia elétrica à coisa móvel.

O parágrafo seguinte representa uma inovação do projeto do novo Código Penal ao reunir em um único dispositivo as causas de aumento de pena para o crime de furto, razão pela qual não encontra parágrafo similar na legislação em vigor.

No PLS 236/2012:

Causa de aumento de pena

§ 2º A pena aumenta-se de um terço até a metade se o crime é cometido:

I – com abuso de confiança ou mediante fraude;

II – com invasão de domicílio;

III – durante o repouso noturno;

IV – mediante destreza; ou

V – mediante o concurso de duas ou mais pessoas.

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24 Apesar de representar uma novidade no aspecto sistematizador, este dispositivo do projeto de lei recebeu, até o presente momento, apenas duas emendas. A primeira emenda, proposta pelo Sen. José Pimentel (PT/CE), refere-se ao inciso III, que trata da causa de aumento de pena para os casos em que o crime é cometido durante o repouso noturno. De acordo com o parlamentar, o referido inciso deve ser suprimido, pois, em virtude da “maciça ampliação da rede elétrica”, não mais se amoldaria à realidade brasileira, tornando-se desproporcional quando comparado com a realidade da época em que foi editado, ano de 1940. A segunda emenda referente a este parágrafo foi de autoria do Sen. Aloysio Nunes Ferreira (PSDB/SP), a qual acrescenta ao rol de causas de aumento de pena a destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa.

O parágrafo terceiro do art. 155, do PLS 236, de 2012, organizou em três incisos disposições gerais a serem aplicadas, conforme o caso concreto, nas circunstâncias previstas neste artigo. Assim como o parágrafo anterior, este também não encontra dispositivo parecido no Código Penal vigente, estando redigido como se pode ver abaixo:

§ 3º No caso do caput e dos parágrafos anteriores:

I – se o agente é primário e for de pequeno valor a coisa subtraída, o juiz aplicará somente a pena de multa;

II – se houver reparação do dano pelo agente, aceita pela vítima, até a sentença de primeiro grau, a punibilidade será extinta;

III – somente se procederá mediante representação.

Encontram-se no parágrafo acima as duas alterações de maior impacto para a legislação dos crimes patrimoniais: 1) a possibilidade de extinção da punibilidade do agente em razão da reparação do dano desde que com o consentimento da vítima e 2) a mudança de ação penal pública incondicionada para ação penal pública condicionada à representação do ofendido. Conforme justificação da Comissão de Reforma,

A coisa furtada não implica para a vítima, necessária ou exclusivamente, prejuízo material, pois ela pode ser infungível.

O porta-retrato de ouro pode valer-lhe menos do que a foto nele contida. Desta forma, embora se trate o furto de crime contra o patrimônio, não é razoável dar a este exclusiva dimensão monetária. A extinção da punibilidade pela reparação do dano é medida de justiça restaurativa e não se pode deixar a vítima de

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25 fora do procedimento. Note-se, ademais, que a proposta fala em reparação do dano e não na singela devolução da coisa.6

É importante notar que a Câmara dos Deputados, no PL 4.894, de 2012, atendendo a proposta enviada pelo Conselho Nacional de Secretários de Estado da Justiça, Cidadania, Direitos Humanos e Administração Penitenciária (CONSEJ), posiciona-se no sentido de tornar o crime de furto simples, previsto no caput, de ação penal pública condicionada à representação do ofendido. Ao contrário da proposta do Senado, a Câmara exclui desta alteração as demais modalidades de furto previstas nos parágrafos do Art. 155. Registre-se ainda que a Câmara não se manifestou a respeito da possibilidade de reparação do dano como causa extintiva de punibilidade.

No tocante às emendas, a primeira a ser observada relativa a este parágrafo foi a de autoria do Sen. Magno Malta (PR/ES). Demonstrando uma tendência repressiva, o Senador propôs que o referido parágrafo não fosse aplicado aos casos expostos no parágrafo segundo, que trata das causas de aumento de pena. Estas disposições gerais, segundo a emenda, deveriam se restringir apenas à prática do furto simples, disciplinado no caput do Art. 155, e às situações previstas no parágrafo primeiro, que trata dos bens equiparados à coisa móvel. A justificativa do parlamentar baseia-se no argumento de que as hipóteses descritas no parágrafo segundo – aquelas que incidem causas de aumento de pena – demonstram “um maior desprezo do agente em relação à norma”, não justificando, assim, o “tratamento privilegiado” disposto neste parágrafo.

Na mesma emenda proposta, contudo, o Sen. Magno Malta (PR/ES) apresenta alteração diversa da apresentada acima, demonstrando claramente uma mudança de opinião acerca do dispositivo analisado. Afirma o parlamentar que a redação do parágrafo terceiro carece de revisão “já que seriam evidentemente ineficazes as três alterações propostas: aplicação unicamente da pena de multa, extinção da punibilidade pela reparação do dano e condicionamento da ação penal pública à representação do ofendido”. Assim, propõe redação semelhante à atualmente prevista no parágrafo segundo do Art. 155, do Código Penal, estipulando como causa de diminuição

6 Relatório Final da Comissão de Juristas do Senado Federal para a Elaboração de Anteprojeto de Código

Penal. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=110444&tp=1>

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26 de pena a primariedade do agente e o pequeno valor da coisa furtada, com a diferença da impossibilidade de aplicação da pena de multa unicamente.

Em relação ao inciso primeiro, proposta de autoria do Ministério Público de Minas Gerais destacou a importância de se deixar definido, já no tipo penal, o que seria pequeno valor, dando como sugestão o limite de até um salário mínimo. Essa emenda se justifica, pois evitaria a manutenção da prisão do réu durante o processo, sem deixar ao arbítrio do juiz sobre o que seria pequeno valor ou não.

Como dito, uma das alterações mais repercutidas se encontra no inciso segundo, do parágrafo terceiro, do art. 155, do PLS 236, de 2012. Ao estabelecer a possibilidade de reparação do dano pelo agente como causa de extinção de punibilidade, desde que com o consentimento da vítima, gerou controvérsia quanto ao momento até quando essa atitude seria cabível e quanto à real necessidade da aceitação da vítima como condição.

A proposta original é clara ao afirmar que a reparação somente seria possível se realizada até a sentença de primeiro grau. O Senador Gim Argello, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), do Distrito Federal, propôs emenda acrescentando a expressão “acórdão ou”, logo antes de “sentença de primeiro grau”, para incluir os casos em que a decisão condenatória surge, pela primeira vez, perante um Tribunal, seja em grau recursal ou em razão de competência originária. Por sua vez, o Senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB/SP), na emenda proposta, optou por limitar a possibilidade de reparação do dano pelo agente até o momento do recebimento da denúncia. Neste caso, o indivíduo teria um curto espaço temporal, correspondente à fase pré-processual, para “se arrepender” e devolver o bem objeto do furto.

Outra questão levantada pelo Sen. Gim Argello (PTB/DF), ainda a respeito deste dispositivo, refere-se à necessidade de aceitação da vítima para que o agente possa reparar o dano e ter, por conseguinte, sua punibilidade extinta. Segundo o Senador, tal condição deve ser excluída do inciso II em nome da preservação de um tratamento proporcional ao jurisdicionado, devendo constituir-se verdadeiro direito subjetivo do acusado. Nas palavras do parlamentar,

A sujeição do benefício à vontade da vítima pode gerar uma série de desigualdades para crimes análogos. Neste sentido, a modificação proposta tem o condão de excluir qualquer elemento de subjetividade, promovendo maior segurança jurídica, além de reforçar o incentivo para que haja o

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27 ressarcimento do dano sem a necessidade de repressão estatal.

(Emenda modificativa, Senado Federal, 21.11.2012).

O inciso III, do parágrafo terceiro, do Art. 155, também representa mudança importante para os crimes de furto. De acordo com o dispositivo, o delito deixará de ser considerado de ação penal pública incondicionada para tornar-se de ação penal pública condicionada à representação do ofendido. Por esta razão, suscitou emenda por parte do Sen. Magno Malta (PR/ES), o qual propôs ressalvas à regra da necessidade de representação, com o objetivo de proteger os casos em que o crime se der contra idosos e mulheres em situação de violência doméstica e familiar.

Segundo o parlamentar, a redação conforme se encontra redigida no projeto de lei representa uma grave afronta ao Estatuto do Idoso e à Lei Maria da Penha, revelando uma incoerência interna ao ordenamento jurídico. Nas palavras do Senador,

Muitos idosos e mulheres em situação de violência doméstica e familiar padecem com os crimes contra o patrimônio perpetrados por seus familiares e afins, pessoas que deveriam merecer sua confiança e protegê-los. Condicionar tais crimes a representação das vítimas é negar efetivamente proteção estatal aos mesmos, que padecem de toda forma de pressão para não denunciarem seus agressores. (Emenda modificativa, Senado Federal, 22.08.2012).

O parágrafo quarto do Art. 155, do PLS 236/2012, tratou de reunir as hipóteses qualificadoras do crime de furto. Como o dispositivo apresenta situações diversas das que são elencadas no mesmo artigo do Código Penal, vale destacar as principais alterações propostas.

Na legislação vigente, o furto qualificado é assim definido:

Furto qualificado

§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:

I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;

II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;

III - com emprego de chave falsa;

IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.

No PLS 236/2012:

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28 Furto qualificado

§ 4º A pena será de dois a oito anos se a subtração:

I – for de coisa pública ou de domínio público;

II – ocorrer em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou calamidade pública; ou

III – for de veículo automotor com a finalidade de transportá-lo para outro Estado ou para o exterior.

Mais uma vez, a primeira mudança percebida é em relação à pena cominada ao tipo. Embora a Comissão de Reforma tenha mantido a pena de prisão de dois a oito anos, optou-se por excluir a possibilidade de aplicação da pena de multa ao furto qualificado, assim como se excluiu a aplicação desta espécie de pena à prática do furto simples. Não foi apresentada justificativa específica para manutenção da pena imputada ao furto qualificado. Deduz-se, entretanto, a partir de uma interpretação sistemática, que a gravidade abstrata intrínseca ao tipo qualificado foi determinante para afastar a diminuição da reprimenda.

Como se pode ver, o parágrafo quarto, relativo ao furto qualificado, foi renovado por inteiro, apresentando hipóteses qualificadoras que atualmente não se encontram previstas como tal. Todavia, ainda que bastante alterado, o dispositivo não deteve muita atenção por parte dos parlamentares, ensejando apenas uma única emenda – de autoria do Sen. Sérgio Souza (PMDB/PR) – que tratou da punição aplicada ao delito.

Sugeriu-se, então, a redução da pena aplicável ao furto qualificado para o mínimo de um ano e máximo de cinco anos de reclusão. Para chegar a esse quantitativo, o Senador tomou como parâmetro a pena mínima proposta aplicada à lesão corporal grave e a pena máxima proposta para o crime de receptação simples. De acordo com ele, a conseqüência positiva seria a possibilidade de suspensão condicional do processo, conforme prevê o Art. 89, da Lei 9.099, de 1995. Ademais, o parlamentar chama atenção para o fato de que tanto na legislação em vigor, quanto no PLS 236/2012, “a pena máxima cominada para o furto qualificado, que é um crime sem violência ou grave ameaça à pessoa, chega a patamar superior à pena mínima prevista para o homicídio simples.” (Emenda modificativa, Senado Federal, 22.11.2012)

Corroborando com esta proposta, o anteprojeto do Código Penal, da Câmara dos Deputados, também se posicionou a favor da redução da pena do furto

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29 qualificado para atingir o mínimo de um ano e máximo de cinco anos, incluindo, necessariamente, a cominação da pena de multa. Mais uma vez, o argumento levado em consideração é de que tal redução possibilitaria a suspensão condicional do processo e dificultaria a ocorrência da prescrição da pretensão punitiva e executória.

No tocante às hipóteses indicadas como qualificadoras do furto, vale tecer alguns comentários. Em primeiro lugar, nota-se que algumas das atuais qualificadoras, previstas no Código Penal, passaram a ser classificadas como causas de aumento de pena. Neste caso, estão as hipóteses de furto praticado com abuso de confiança, mediante fraude, escalada ou destreza e praticado em concurso de duas ou mais pessoas. Em segundo lugar, vê-se que as hipóteses atualmente previstas como qualificadoras – furto praticado com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa e furto praticado com o emprego de chave falsa – foram descartadas por completo pelo o texto do novo Código Penal, sendo a primeira delas, inclusive, objeto de emenda aditiva por parte do Sen. Aloysio Nunes Ferreira, como citado anteriormente.

Interessante notar que a hipótese prevista como qualificadora no inciso terceiro, do Art. 155, do PLS 236/2012 – furto de veículo automotor cujo destino seja outro estado ou exterior – recebeu tratamento mais gravoso no PL 4.894/2012, da Câmara dos Deputados, com pena de três a oito anos de reclusão.

O último parágrafo concernente ao Art. 155, do PLS 236/2012, deixou expresso um novo tipo – o qual não encontra correspondente no Código Penal – sob o nome de “furto com uso de explosivo”, imputando a ele pena de quatro a dez anos de prisão, como se pode ver abaixo:

Furto com uso de explosivo

§ 5º Se houver emprego de explosivo ou outro meio que cause perigo comum, a pena será de quatro a dez anos.

Embora se trate de nova modalidade acrescida ao crime de furto, o Senador José Pimentel (PT/CE) e o GCCRIM apresentaram emendas a fim de suprimir o referido parágrafo do projeto de lei. Seus principais argumentos baseiam-se no fato de que já existe o crime de explosão previsto no ordenamento jurídico, tornando-se

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30 desnecessária a criação de novo tipo para tutelar situação fática já abarcada pela legislação.

Outra novidade penal, sugerida pelo promotor de justiça do estado do Paraná, Giovani Ferri, tratou da tipificação do furto de caixa eletrônico, a ser incluída ao final do Art. 155, do PLS 236/2012. De acordo com a emenda, se a subtração envolver destruição ou arrombamento de caixa eletrônico, a pena cominada será de reclusão de quatro a doze anos. A emenda previu ainda uma causa de aumento de pena de um terço para os casos em que o furto de caixa eletrônico seja praticado com o uso de substância, material ou artefato explosivo.

Ainda, convém mencionar a inclusão de dois parágrafos ao final do Art.

155, por parte da Câmara dos Deputados, para determinar que atendendo às circunstâncias do caso concreto, e se de pequeno valor a coisa furtada, o juiz poderá reduzir a pena de um terço a dois terços, na hipótese do caput, ou de um terço até metade nas demais hipóteses do artigo; e que a pena é aumentada de 1/3 (um terço) até metade se o furto for de bem público.

2.3.2 O crime de roubo

O segundo delito patrimonial selecionado para análise foi o crime de roubo. Assim como o furto, o crime tipificado no Art. 157 foi alvo de muitas emendas parlamentares, revelando, assim, a controvérsia existente a respeito desta temática.

Seguindo a mesma tendência aplicada aos crimes patrimoniais em geral, o PLS tratou de adequar a penalização imposta ao crime de roubo ao ordenamento jurídico, na tentativa de reduzir as incoerências do sistema.

A atual descrição do tipo de roubo encontra-se, no Código Penal, assim redigida:

Art. 157 – Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência à pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:

Pena – reclusão, de quatro a dez anos, e multa. (grifo meu)

No PLS 236/2012:

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31 Art. 157 – Subtrair coisa alheia móvel, para si ou para outrem, mediante violência ou grave ameaça à pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:

Pena – prisão, de três a seis anos. (grifo meu)

A principal mudança, como dito, refere-se à pena aplicada ao tipo. Além da supressão da pena de multa, houve uma redução significativa da pena privativa de liberdade para configurar a pena mínima de três anos e máxima de seis anos. A Comissão de Reforma entendeu por bem reduzir a sanção penal, pois

Considerou que o roubo é, a princípio, justificador de prisão efetiva, nos regimes semiaberto ou fechado (e só excepcionalmente, na figura simples, de regime aberto). A redução de penas é, assim, a contrapartida das regras mais severas sobre progressão de regime, considerando que, para crimes cometidos com violência ou grave ameaça a progressão de regime de pena somente será possível se houver cumprimento de um terço da pena no regime anterior e, em caso de reincidência, de metade da pena.7

A proposta, todavia, ensejou emendas no sentido de manutenção da reprimenda aplicável atualmente e até mesmo de uma redução ainda maior na pena. Os Senadores Aloysio Ferreira (PSDB/SP) e Magno Malta (PR/ES) defenderam a manutenção da pena de prisão para o crime de roubo da forma como se encontra prevista na codificação atual, sob os mesmos argumentos que justificaram a mesma proposta para o crime de furto. O Sen. Magno Malta acrescentou ainda que o roubo corresponde a, aproximadamente, “70% de todas as ações em curso nas varas criminais comuns, mostrando-se, por óbvio, como um dos principais financiadores de grandes facções criminosas”. (Emenda modificativa, Senado Federal, 28.11.2012)

No sentido contrário, o Sen. Sérgio Souza (PMDB/PR) propôs uma equiparação da pena cominada ao crime de roubo àquela cominada ao crime de furto atualmente, reduzindo-a para prisão de um ano a quatro anos. De acordo com o parlamentar, a pena imputada ao crime de roubo “deve também corresponder, por analogia, à pena prevista para as lesões corporais de natureza grave („em primeiro

7 Relatório Final da Comissão de Juristas do Senado Federal para a Elaboração de Anteprojeto de Código

Penal. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=110444&tp=1>

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32 grau‟), em homenagem ao princípio da proporcionalidade e o devido valor aos bens jurídicos tutelados”. (Emenda modificativa, Senado Federal, 22.11.2012)

O PL 4.894, de 2012, da Câmara dos Deputados, não apresentou proposta de alteração para o caput do Art. 157, do Código Penal, mantendo, assim, a pena atualmente imputada ao roubo de quatro a dez anos e multa. Essa atitude corrobora com a intenção precípua dos deputados em apenas reduzir a penalização do conjunto dos crimes considerados de lesividade mínima, do qual o roubo está excluído.

O parágrafo primeiro, do Art. 157, do PLS 236/2012, discorreu acerca do roubo por equiparação. O inciso primeiro repetiu disposição já prevista no Código Penal vigente. Assim, o destaque deste parágrafo ficou para o inciso segundo que acrescentou a tipificação do roubo mediante a utilização de senha, código ou segredo necessários à subtração, como se pode ver abaixo:

Roubo por equiparação

§ 1º Incorre na mesma pena quem:

I – logo depois da subtração, emprega violência ou grave ameaça contra pessoa, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a manutenção da coisa pra si ou para terceiro; ou II – obtém coisa alheia móvel para si ou para outrem, obrigando a vítima, mediante violência ou grave ameaça, ou após reduzi-la à impossibilidade de resistência, a revelar senha, código ou segredo, necessários à sua subtração.

Ao dispor sobre o inciso segundo, a Comissão de Reforma entendeu que a despeito da distinção clássica entre roubo e extorsão, a conduta de obter, mediante violência ou grave ameaça, a revelação forçada de senha ou código configura-se roubo.

Assim se justifica, de acordo a Comissão, porque o apossamento da senha para esse fim ocorre imediatamente após à obtenção do segredo “não permitindo, à vítima, qualquer veleidade de comportamento independente. Há razões técnicas, portanto, para a reclassificação, que não é feita somente porque nesses casos, a vítima se sente roubada e não extorquida.”8

Em relação ao inciso segundo, todavia, os Senadores Aloysio Ferreira (PSDB/SP) e José Pimentel (PT/CE) apresentaram emendas requerendo a supressão do dispositivo. Eles entendem que não há necessidade para a criação de um novo tipo

8 Relatório Final da Comissão de Juristas do Senado Federal para a Elaboração de Anteprojeto de Código

Penal. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=110444&tp=1>

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