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FRANCISCO ARISTÓFANES CHAVES TAVEIRA O PODER DE INVESTIGAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE DIREITO

FRANCISCO ARISTÓFANES CHAVES TAVEIRA

O PODER DE INVESTIGAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

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FRANCISCO ARISTÓFANES CHAVES TAVEIRA

O PODER DE INVESTIGAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

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FRANCISCO ARISTÓFANES CHAVES TAVEIRA

O PODER DE INVESTIGAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Esta monografia foi submetida à Coordenação do Curso de Direito, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Bacharel em Direito, outorgado pela Universidade Federal do Ceará – UFC e encontra-se à disposição dos interessados na Biblioteca da referida Faculdade.

A citação de qualquer trecho desta monografia é permitida, desde que feita de acordo com as normas de ética científica.

Trabalho defendido em 11 de dezembro 2007.

Banca Examinadora constituída por:

Prof: Marcos de Holanda, Ms.

Orientador da Universidade Federal do Ceará

Silvério Átalo Batista Nobre, Esp.

Examinador da Universidade Federal do Ceará

Ramon Ferreira Moreira, Adv.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a DEUS nosso pai, que nos concede o dom da vida.

Agradeço também ao professor Marcos de Holanda pelo incentivo e apoio que, com certeza foi deveras importante para a realização desse projeto.

A toda minha família, em especial, meus pais, por terem fomentado a formação do meu caráter e instigado o meu crescimento.

Aos meus amigos, que nas lutas da vida, são meus pilares, nas derrotas, meus ombros consoladores e nas vitórias meus mais ardentes torcedores.

A todos os que de algum modo foram contributivos com essa realização.

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RESUMO

O tema a ser discutido no trabalho monográfico, tem sido alvo de um conflito entre os membros do Ministério Público e a Polícia Judiciária, que é, composta, em nosso sistema, pela Polícia Federal e pelas Polícias Civis Estaduais, e está incumbida da apuração das infrações penais, contudo, não detêm estes órgãos a exclusividade, o monopólio das investigações criminais. No entanto, regularmente nos deparamos com investigações realizadas, não só, pelos membros do Parquet, como também pelas

Comissões Parlamentares de Inquérito. Para tanto, reconhecemos no Parquet, mais

uma frente de combate às práticas delitivas, O Ministério Público está qualificado na Constituição Federal de 1988 como instituição permanente e essencial à função jurisdicional do Estado, sendo detentor inclusive de legitimidade para realização de investigação e diligências, é o que se pode extrair da análise de um conjunto de normas e institutos jurídicos, notadamente consagrados pela nossa doutrina. Nesta linha, destacam-se como de suma importância dispositivos constitucionais, tais como: os artigos 129 e 144 da Constituição Federal de 1988, e infraconstitucionais, a exemplo dos artigos 4º, § único do Código de Processo Penal, e 8º, inciso V da Lei Complementar nº 75 de 1993, portanto, o nosso objetivo é estudar a estrutura do Ministério Público, atendo-se, sobretudo, à sua atuação na persecução penal; reportando-se à Polícia Judiciária, com singeleza, acerca de suas principais atribuições, e, ao final, concentrar-se na análise da investigação criminal, para concluir pela legitimidade do poder de investigação do Parquet.

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ABSTRACT

The theme to be discussed in the work monográfico, it has been objective of a conflict between the members of the public prosecution service and the Judiciary Police, that it is, composed, in our system, for the Federal Police and for the State Civil Police, and it is assigned of the apuração of the penal infractions, however, they don't stop these organs the exclusiveness, the monopoly of the criminal investigations. However, regularly we came across accomplished investigations, not only, for the members of Parquet, as well as for the Parliamentary Commissions of Inquiry. For so much, we recognized in Parquet, one more combat front to the criminal practices, THE public prosecution service is qualified in the Federal Constitution of 1988 as permanent and essential institution to the function jurisdicional of the State, being besides detainer of legitimacy for investigation accomplishment and diligences, it is what she can extract of the analysis of a group of norms and juridical institutes, especially consecrated by our doctrine. In this line, they stand out as of highest importance constitutional devices, such as: the goods 129 and 144 of the Federal Constitution of 1988, and infraconstitucionais, to example of the goods 4th, only § of the Code of Penal Process, and 8th, interruption V of the Law Complemental no. 75 of 1993, therefore, our objective is to study the structure of the public prosecution service, I am assisted, above all, to your performance in the penal persecução; reportando-if to the Judiciary Police, with singeleza, concerning your principal attributions, and, at the end, to ponder in the analysis of the criminal investigation, to end for the legitimacy of the power of investigation of Parquet.

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LISTA DE SIGLAS

ACP – Ação Civil Pública.

AP – Ação Penal.

APP – Ação Penal Pública.

ADI – Ação Direta de Inconstitucionalidade.

CF – Constituição Federal.

CI – Central de Inquérito.

CPI – Comissão Parlamentar de inquérito.

CPP – Código de Processo Penal.

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente.

HC – Habeas-Corpus.

IC – Inquérito Civil.

IP – Inquérito Policial.

LC – Lei Complementar.

LEOMAN – Lei Orgânica da Magistratura Nacional.

LEONMP - Lei Orgânica Nacional do Ministério Público.

MP – Ministério Público.

MPF – Ministério Público Federal.

MPU – Ministério Público da União.

STF – Supremo Tribunal Federal.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 11

2 O MINISTÉRIO PÚBLICO... 14

2.1ORIGEM, CONCEITO, PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS, GARANTIAS E VEDAÇÕES DO ÓRGÃO MINISTERIAL... 14

2.2 MINISTÉRIO PÚBLICO: INSTITUIÇÃO PRIMORDIAL PARA A APLICABILIDADE DA FUNÇÃO JURISDICIONAL DO ESTADO... 17

2.3 NORMAS CONSTITUCIONAIS PERTINENTES À ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA PERSECUTIO CRIMINIS... 20

2.4 ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVETIGAÇÃO CRIMINAL: PRINCIPAIS REGRAS INFRACONSTITUCIONAIS... 23

2.4.1 Lei 8.625 de 12 de Fevereiro de 1993... 24

2.4.2 Lei Complementar nº 75 de 20 de Maio de 1993... 26

2.4.3 Código de Processo Penal... 26

3 DA PERSECUÇÃO PENAL... 28

3.1 DA ATIVIDADE INVESTIGATIVA E DO JUS PUNIENDI...... 28

3.2 DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL...... 30

3.2.1 Do Inquérito Policial......... 33

3.2.2 Da Polícia Judiciária e Suas Atribuições na Constituição de 1988... 36

4 O PODER DE INVESTIGAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO... 39

4.1 UM BREVE COMENTÁRIO ACERCA DA DIVERGÊNCIA DOUTRINÁRIA EM TORNO SO TEMA... 40

4.2 A LEGITIMIDADE DA INVESTIGAÇÃO DIRETA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO SEGUNDO UMA ABORDAGEM CONSTITUCIONAL-DOUTRINÁRIA... 42

4.3 DA LEGALIDADE DAS PROVAS OBTIDAS EM INVESTIGAÇÃO PELO PARQUET... 51

4.3.1 Inexistência de Impedimento / Suspeição para o Oferecimento de Denúncia pelo Ministério Público Investigante... 54

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4.5 MINISTÉRIO PÚBLICO: MAIS UMA OPÇÃO NO COMBATE AO CRIME

ORGANIZADOO... 57

4.6 SUGESTÃO PARA UM NOVO MODELO DE INVESTIGAÇÃO... 60

5 O POSICIONAMENTO JURISPRUDENCIAL... 64

5.1 OS PRECEDENTES DO STF NA MATÉRIA... 64

5.2 OS PRECEDENTES DO STJ E DEMAIS TRIBUNAIS... 69

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 76

REFERÊNCIAS... 78

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INTRODUÇÃO

Ultrapassada a fase de vingança privada e da autotutela como forma de se fazer justiça, o Estado passou a ser o detentor exclusivo do direito de punir os infratores das leis penais. A punição do delinqüente passou à esfera privativa do poder estatal. O Jus puniendi, que é o poder exercido pelo Estado, decorre do poder genérico e impessoal

de punir qualquer pessoa culpável que venha a cometer um ilícito penal. É Quando uma conduta delitiva se concretiza, que as estruturas estatais se mobilizam para reprimi-la de acordo com as sanções vigentes. Nesse momento, o Estado, passa a atuar de forma repressiva, coletando todos os elementos fáticos que formam a culpa criminal, que através dela se fomenta o Jus puniendi in concreto, para que assim possam ser

punidos os que andam a margem da Lei.

A atividade desenvolvida com o escopo de amealhar os indícios de autoria e materialidade do delito, com a conseqüente provocação da jurisdição criminal e aplicação da sansão adequada, chamamos de persecução penal. Historicamente, coube à Polícia Judiciária, o mister de investigar, de colher os elementos fáticos e probantes para a preparação da ação penal, fazendo com que tal instituição, ao passar dos anos tenha se especializado na atuação que sucede o evento criminoso, a atividade repressiva.

Nos dias atuais, ainda é a Polícia Judiciária a responsável pela imensa maioria das investigações criminais. A Constituição Federal de 1988, seguindo a mesma linha de ordenamentos constitucionais precedentes, reafirmou a competência das Polícias Civis e da Polícia Federal para apurar as infrações penais, deflagrando a persecução penal. Todavia, as instituições policiais não detêm o monopólio das investigações criminais. Com efeito, o ordenamento vigente autoriza a realização desta atividade por outros órgãos estranhos à Polícia Repressiva.

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para tanto. Sendo assim, faz-se mister reconhecer o poder que têm outros órgãos e instituições, tais como as Comissões Parlamentares de Inquérito e o Ministério Público (MP), de realizar, diretamente, diligências investigatórias.

No mesmo compasso das ponderações acima descritas, faz-se um estudo acerca do poder de investigação criminal do Parquet, tecendo comentários acerca das

atribuições da Polícia Judiciária. Pretendemos, ainda, buscar no arcabouço das normas vigentes, aquelas que podem fomentar a atuação Ministerial nesta seara.

Assim sendo, no decorrer desta pesquisa monográfica, iremos responder aos seguintes questionamentos: É exclusivo da Polícia Judiciária, o poder de realizar investigações criminais? O Ministério Público tem legitimidade para realizar, diretamente, diligências investigativas, com o escopo de apurar a autoria e a materialidade das infrações penais?

Justifica-se este trabalho, no fato de a investigação criminal ser uma atividade de elevada importância para a sociedade contemporânea, que sofre com o crescimento desenfreado da violência, tornando-se a cada dia mais desenganada em relação ao poder do Estado de punir os protagonistas deste caos urbano. Ademais devemos ressaltar a importância e valoração que se deve dar a soma de forças entre os organismos policiais e o Ministério Público no combate à criminalidade, apresentando-se como uma alternativa bastante alentadora a este trágico problema.

Tem-se, como objetivo geral, investigar, com base no conjunto de normas vigentes em nosso sistema jurídico, a possibilidade de o Ministério Público dirigir e realizar, diretamente, diligências investigativas com o escopo de apurar a autoria e a materialidade das práticas delituosas.

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Quanto aos objetivos, a pesquisa é descritiva, buscando delinear fenômenos, sua natureza e suas características, e exploratória, procurando aprimorar e almejando maiores informações sobre o tema em questão.

No primeiro capítulo, o Ministério Público, busca-se fazer uma abordagem acerca da identidade da instituição em face do ordenamento jurídico vigente, passando por uma breve notícia acerca de suas origens, suas atribuições constitucionais e sua atuação na persecução penal, findando com a análise de alguns dos mais relevantes diplomas normativos que respaldam a atuação do Parquet na investigação criminal.

Em seguida, no segundo capítulo, a persecução penal, inicia-se com um breve relato em torno de sua feitura bem como da capacidade punitiva do Estado, através da investigação criminal, bem como o conceito de inquérito policial e suas nuances, seguindo com a análise das atribuições da Polícia Repressiva e encerrando com um exame das disposições constitucionais referentes à Polícia Judiciária.

No terceiro capítulo, entraremos no presente tema, tecendo breves comentários acerca da divergência que existe na doutrina quanto ao pretenso poder de investigação do Ministério Público, em seguida, faz-se uma exposição dos argumentos que legitimam as investigações empreendidas pelo Parquet, com base em preceitos normativos e

opiniões doutrinárias, bem como, comentários acerca da legalidade das provas obtidas pelo órgão Ministerial, e no desfecho, refere-se à importância do concurso do Ministério Público na luta diária contra o crime, finalizando com uma sugestão meramente despretensiosa de um novo modelo de investigação.

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2 O MINISTÉRIO PÚBLICO

Devido à importância do Ministério Público para defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, bem como à ampliação de suas funções pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, passando a exercer papel fundamental como órgão fiscalizador da efetividade da aplicação das leis vigentes no nosso ordenamento jurídico, é que iremos abordar neste capítulo, embora que de forma singela a origem desta renomada instituição, suas garantias e vedações, bem como, as suas funções, as normas constitucionais, que legitimam sua atuação e as principais normas vigentes relacionadas ao Ministério Público.

2.1 ORIGEM, CONCEITO, PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS, GARANTIAS E

VEDAÇÕES DO ÓRGÃO MINISTERIAL.

Divergem as opiniões dos publicistas quanto à origem do Ministério Público no mundo, uns dizem ser no antigo Egito, há aproximadamente 4 (quatro) milênios, quando possuía funções polivalentes, ou seja, um misto de verdugo - legalmente autorizado – com Polícia. Especificamente, era responsável por castigar os rebeldes e conter os violentos, bem como proteger os cidadãos.

Outros vêem nos Éforos, de Esparta, um embrião do Parquet, pois a estes

funcionários cabia o exercício do jus accusationis, ou seja, do direito de acusar os

eventuais infratores das regras de conduta Em Roma tinha como função vigiar a administração de bens do imperador. Já em Portugal, no ano de 1289, durante o reinado de Afonso III, existia a figura do procurador da coroa. Neste mesmo país lusitano, em 1387 o Rei Dom Ruan I instituiu El Ministério Fiscal, identificando-se, um

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No entanto, para grande parte dos tratadistas, a verdadeira origem se deu na França. No ano de 1302, esse país incumbiu-se de instituir o Ministério Público, posicionando os integrantes deste Órgão como procuradores do Rei. Já em 1960, através de decreto, atribui-se a vitaliciedade aos membros deste Órgão francês1.

A Constituição imperial brasileira, outorgada em 1824, não fez alusão ao Ministério Público. Contudo, o seu surgimento no Brasil, data de 1932, através do Código de Processo Criminal, tornando-o promotor da ação penal. A Constituição de 1891 instituiu a figura do Procurador-Geral da República, selecionado dentre os membros do Supremo Tribunal Federal.

A Carta Republicana de 1934, inspirada na Constituição Alemã de Weimar (1919), tratou, de forma mais completa, do Ministério Público, dedicando-o a Seção I do Capítulo VI do título I, prevendo-a sua existência na União, no Distrito Federal e Territórios, e nos Estados, a serem organizados por lei. Para esta Carta Magna, o Chefe do Ministério Público não era, necessariamente do Poder Judiciário, passando a ser nomeado pelo Presidente da República, isto na seara Federal. Também foram previstos, a estabilidade e vedações aos integrantes do Parquet2, bem como a

exigência do concurso público a fim de ser admitido à carreira.

Na Constituição outorgada de 1937, conhecida pelo nome de “a polaca”, pois se inspirou na Constituição da Polônia, o Ministério Público perdeu espaço no texto legal, chegando a ficar sem suas maiores garantias, inclusive a desnecessidade do concurso público para o ingresso à carreira.

A Carta Política de 1946 inovou, colocando o Ministério Público em uma posição de independência dos demais poderes do Estado e retornando suas garantias, como estabilidade e inamovibilidade relativa, inclusive o Procurador-Geral da República, Chefe do Ministério Público, somente poderia ser nomeado pelo Presidente da República, após a sua aprovação pelo Senado Federal, podendo ser exonerado ad nutum. Houve também o retorno da exigência do concurso público.

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Já na Carta Magna de 1967, o Ministério Público voltou a fazer parte do Poder Judiciário. Esta posição foi modificada pela Emenda Constitucional nº 1, de 1969, e pela Emenda Constitucional nº 7, de 1977, em que o Ministério Público retornou a estrutura do Poder Executivo.

A posição do Ministério Público diante à Carta Magna vigente é de destaque e relevância, com previsão em uma seção exclusiva, dentro do capítulo DAS FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA, que ampliou suas funções constitucionais.

Como foi exposto, o Ministério Público vem preenchendo, a cada dia, patamar de destaque na organização do Estado, essencialmente, após a promulgação da última Constituição Federal, que ampliou suas funções institucionais, como a de protetor de direitos indisponíveis e de interesses coletivos.

A nossa Carta Magna vigente define o Ministério Público como, in litteri:

Art 127. Instituição permanente, essencial a função jurisdicional do

Estado, incumbindo-lhes a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. “

É de bom alvitre ressaltar os Princípios Institucionais do Parquet, a saber:

“Unidade - capacidade dos membros do Ministério Público de constituírem um só corpo, uma só vontade, de tal sorte que a manifestação de qualquer deles valerá sempre, na oportunidade com manifestação de todo o órgão”;

Indivisibilidade – os membros do Ministério Público podem substituir-se reciprocamente, sem que haja prejuízo para o exercício do ministério comum;

Independência Funcional – Os membros do Ministério Público não

devem subordinação intelectual a quem quer que seja, nem mesmo ao Procurador-Geral. Agem em nome da Instituição que encarnam, de acordo com a Lei e a sua consciência.“3

É deveras importante lembrar que, os membros do parquet são agentes políticos, necessitando, de ampla liberdade funcional e maior segurança para desenvolver bem suas funções, e de forma imparcial, não podendo as garantias de vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídio serem vistas como privilégios pessoais, e sim como garantias de independência funcional do Ministério Público, com previsão no artigo 128, § 5º, I, “a“, “b”, “c”, da Constituição Federal.

3 Página Institucional do Ministério Público cearense. Disponível em < http: //www.pgj.ce.gov.br>. Acesso em 04 de

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A vitaliciedade é obtida pelo integrante do Ministério Público, após 2 (dois) anos de exercício, não podendo perder o cargo senão por sentença judicial transitada em julgado, descartando a demissão apenas por meio de processo administrativo– disciplinar.

Em regra, não se pode remover um membro do Parquet de uma comarca para

outra sem a sua aquiescência, devido à sua inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público mediante decisão do órgão colegiado competente, ou seja, do Conselho Superior do Ministério Público, por voto de dois terços (2/3) de seus membros, assegurado o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.

Já a irredutibilidade de subsídio é uma garantia não menos importante que as demais, devendo ser observado o que dispõem os artigos 37, XI, 150 II, 153, III, e 153, § 2º, I, da Carta Magna.

Em respeito ao Princípio da Imparcialidade, foram impostas aos membros do Ministério Público vedações Constitucionais, tais como:

a) Receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens ou custas processuais; b) Exercer a advocacia; c) Participar de sociedade comercial, na forma da Lei; d) Exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de magistério; e) Exercer atividade político-partidário salvo exceções previstas na Lei.

Esse rigor é devido ao Ministério Público ser o órgão que tem função precípua de fiscal da lei, incumbido da defesa da ordem jurídica do regime democrático e dos interesses sociais individuais indisponíveis.

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A Carta Política de 1988 instituiu, em seu artigo 1°, o Estado Democrático de Direito, o Estado que, no ensinamento de José Afonso da Silva4, tem como, “tarefa fundamental do Estado Democrático de Direito, superar as desigualdades sociais e regionais e instaurar um regime democrático que realize a justiça social” Estado democrático de Direito é a democracia, como realização de valores (igualdade, liberdade e dignidade da pessoa) de convivência humana.

O Estado Democrático de Direito é visto, nas áreas política e jurídica, como a expressão mais ampla de intervenção do povo, enquanto elemento do Estado, na direção do mesmo. Referido modelo de Estado trás, no seu âmago, em síntese, a máxima, como diretriz maior, de que o governo do povo é exercido pelo próprio povo, conforme o entendimento do constitucionalista Alexandre de Moraes.

O Estado democrático de Direito, que significa a exigência de reger-se por normas democráticas, com eleições livres, periódicas e pelo povo, bem como pelo respeito das autoridades públicas aos direitos e garantias fundamentais, proclamado no Caput do artigo, adotou, igualmente, no seu parágrafo único, o denominado princípio democrático, ao afirmar que ‘ todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição5.

Contudo, não se limitou o constituinte a consagrar e propalar, entre nós, o Estado Democrático de Direito, mas foi além, e não poupou esforços na busca de criar instrumentos para sua real consolidação. Desses instrumentos elencados na Carta Maior de 1988, talvez o mais importante, forte e valioso tenha sido o Ministério Público, visto ser ele o órgão legitimado como guardião do regime democrático, da ordem jurídica e dos interesses individuais e sociais indisponíveis, consoante reza o artigo 127 da Constituição Federal, in verbis:

“O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”.

Entendemos ser o Ministério Público uma instituição notadamente esculpida com o intuito de proteger a sociedade, sendo oportuno acentuar que, o Promotor de Justiça manifesta sua função precípua no exercício incessante da busca pela verdade jurídica no plano legal e pela verdade moral no plano social. A tais ajuntamentos de objetos

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entrelaçados pela hermenêutica jurídica e acerca do fundamento de tais reflexões chegamos à conclusão de que o Ministério Público nada mais é do que o braço direito do Estado democrático.

Como visto, a ordem constitucional vigente valorizou, sobremaneira, a instituição do Ministério Público, outorgando-lhe importantes funções, voltadas, sobretudo, à tutela dos direitos, garantias e prerrogativas da sociedade. Para tanto, dotou-lhe de total autonomia e independência frente aos demais poderes do Estado.

Tais funções institucionais encontram-se no rol exemplificativo do artigo 129º, da Constituição Federal, abaixo transcrito:

Art.129°. São funções institucionais do Ministério Público:

I –promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; II – zelar pelo efetivo respeito dos poderes públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia;

III – promover o inquérito civil e ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;

IV – promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição;

V – defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas;

VI – expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva;

VII – exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no artigo anterior;

VIII – requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais;

IX – exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas;

§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações civis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei.

§ 2º As funções de Ministério Público só podem ser exercidas por integrantes da carreira, que deveram residir na comarca da respectiva lotação.

§ 3º O ingresso na carreira far-se-á mediante concurso público de provas e títulos, assegurada participação da Ordem dos Advogados do Brasil em sua realização, e observada, nas nomeações, a ordem de classificação. § 4 º Aplica-se ao Ministério Público, no que couber, o disposto no art. 93, II e VI.

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penais, seja fiscalizando a atuação das milícias, seja requisitando providências às autoridades policiais. Enfim, é flagrante a proximidade institucional entre promotores de justiça e os órgãos de polícia, proximidade essa decorrente do tratamento constitucional dedicado à persecução criminal.

2.3 NORMAS CONSTITUCIONAIS PERTINENTES À ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO

PÚBLICO NA PERSECUTIO CRIMINIS

Culturalmente, imagina-se que o promotor de justiça, é aquele que tem a função de acusar, especialmente nos casos de competência do Tribunal do Júri. Indubitavelmente essa é a visão mais corrente em nossa sociedade a respeito do órgão ministerial e de suas atribuições. Conforme exposto no item 2.1 do presente trabalho, o Ministério Público, surgiu no Brasil, na data de 1932, através do Código de Processo Criminal, tornando-o promotor da ação penal.

Como se vê, a instituição surgiu para nosso direito com a denominação de promotor da ação penal. Essa era, em princípio, a função básica dos promotores. Hoje, como restou demonstrado, as atribuições do Ministério Público são diversas, e exorbitam, em muito, os limites da persecução penal. Contudo, a atuação do Parquet

na seara criminal é importantíssima, e está traçada, basicamente, nos incisos I, VII, VIII do artigo 129 da Constituição Federal.

Podemos dizer que, a persecução penal abrange toda atuação do Estado voltada à satisfação de seu direito de punir, desde as fases preambulares da investigação, passando pela fase processual e culminando com a sentença e posterior execução da pena aplicada. A persecução penal é todo esse iter, toda essa seqüência de atos

preordenada à efetivação do jus puniendi do Estado. Ademais, pode-se encontrar, no

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O inciso I, do artigo 129, da Lei Maior, afirma ser função institucional do Ministério Público promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei. O dispositivo elencado, outorga ao Parquet o monopólio da ação penal pública,

colocando-o como destinatário imediato dos inquéritos policiais e demais procedimentos administrativos destinados à apuração de infrações penais, uma vez que ele é, por imperativo constitucional, o legítimo titular da ação penal pública.

O inciso VII do mesmo artigo encarrega o Ministério Público de exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei. Este dispositivo foi regulamentado, em nível Federal, pela Lei Complementar nº 75 de 1993, que dispõe sobre a organização, as atribuições e o Estatuto do Ministério Público da União, em seu artigo 9º, in verbis:

Art.9°. O Ministério Público da União exercerá o co ntrole externo da atividade policial por meio de medidas judiciais e extrajudiciais, podendo: I - ter livre acesso em estabelecimentos policiais ou prisionais;

II – ter acesso a quaisquer documentos relativos à atividade-fim policial; III – representar à autoridade competente pela adoção de providências para sanar a omissão indevida, ou para prevenir ou corrigir ilegalidade ou abuso de poder;

IV – requisitar à autoridade competente a instauração de inquérito policial sobre a omissão ou fato ilícito ocorrido no exercício da atividade policial; V – promover a ação penal por abuso de poder.

A respeito, convém trazer a lume os escólios de Celso Seixas Ribeiro Bastos e Ives Gandra da Silva Martins, em breve comentário ao referido dispositivo da Carta Maior:

Só poderão, pois, fazer parte desse controle externo aqueles atos que entrem em processo de continuidade com a atividade do próprio Ministério Público, é dizer, não faria sentido que, sendo este órgão o detentor por excelência da ação penal, não tivesse ele certeza de que as atividades que tornam possível essa ação, sobretudo o Inquérito Policial, a sua instauração e a sua condução até o desfecho final etc, fossem praticadas com regularidade para que não haja uma evasão da criminalidade antes que tenha chegado ao conhecimento do MP6.

É de fácil percepção que, esse controle externo levado a efeito pelo Ministério Público limitar-se-á à fiscalização da atividade-fim das milícias, pois não está a polícia subordinada administrativamente ao Parquet.

6 BASTOS, Celso Seixas Ribeiro; MARTINS, Ives Gandra da Silva. Comentários à Constituição do Brasil

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Não há que se falar, pois, tornar-se-ia, descabido, e antijurídico, conceber a possibilidade de ingerência do Ministério Público em questões das entranhas milicianas, relativas, por exemplo, à formação de seus profissionais, organização de suas carreiras, disciplina interna, promoções, etc. O controle ressalte-se, é meramente finalístico, e justifica-se pela razão de ensejar melhores resultados na apuração das infrações penais e garantir a tutela dos direitos da pessoa humana, muitas vezes menoscabada pelas instituições policiais.

É o que de forma cristalina nos ensina Edílson Santana Gonçalves:

Por isso, a expressão controle externo da atividade policial pelo Ministério Público não significa ingerência que determine a subordinação da polícia judiciária ao Ministério Público. Mas sim, a prática de ato administrativo ao Ministério Público, de forma a possibilitar a efetividade dos direitos fundamentais da pessoa assegurados na Carta de 19887.

O inciso VIII, do artigo 129, da Carta Política, concede ao Ministério Público a função de requisitar diligências investigatórias e instauração de inquérito policial, indicando os fundamentos jurídicos para tanto. Aqui, depreende-se a idéia de quão importante e relevante é à atuação do Parquet nesta fase da pesecutio criminis, a fase

pré-processual, ou fase policial.

Baseado no que reza o inciso acima citado, o órgão ministerial determinará, quando reputar oportuno, e notadamente indicando os respectivos fundamentos jurídicos, a instauração do procedimento formal de investigação por parte da polícia, bem como a realização de qualquer outra diligência que tenha como escopo a constituição de elementos probatórios que instruirão de forma coerente a posterior, e eventual, ação penal.

Na verdade é muito clara a determinação que, de conformidade com o inciso I do mesmo artigo 129 da Constituição Federal, é o órgão ministerial o titular exclusivo da ação penal de natureza pública, devendo, portanto, zelar por ela, garantindo a colheita de todo o material probatório que servirá para a formação de sua opinio delicti.

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A essa requisição que se refere o dispositivo supra, não pode se opor à autoridade policial, ou seja, uma vez determinada à instauração do procedimento administrativo de investigação, por parte do órgão ministerial, não há outra saída para o delegado de polícia senão instaurá-lo. É que esta requisição, conforme sustentam os mestres Júlio Fabrinni Mirabete e Fernando Capez, na esteira do entendimento esposada pela melhor e majoritária doutrina, não pode ser vista como uma mera solicitação, mas, ao revés, deve ser entendida como uma ordem, uma imposição, todavia, tal determinação não pode ser absurda.

Ao finalizar esta breve análise acerca das disposições constitucionais pertinentes à participação do Ministério Público no processo penal lato sensu, convém ressaltar

que, o rol constitucional do artigo 129, que traça as funções institucionais do órgão ministerial, não é taxativo, visto que, o inciso IX do referido dispositivo garante a possibilidade de o Ministério Público exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com suas finalidades, vedando-lhe, contudo, a representação judicial e a consultoria jurídica das entidades públicas.

De fato, outras funções foram determinadas, em nível infraconstitucional, de acordo com a permissão elencada no artigo 129, IX do Texto Maior. Nestes diplomas, não haverá vício de inconstitucionalidade sempre que as funções neles previstas guardarem uma relação harmônica com as finalidades maiores da instituição ministerial contidas na Lei Maior.

Contudo, surgiram em nosso ordenamento outras funções afeitas ao Parquet,

contidas, por exemplo, na Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, Lei 8.625 de 1993, e na Lei Complementar n° 75, também de 1993. Algumas dessas funções, consagradas em diplomas infraconstitucionais, enfatizam a atuação do órgão ministerial na investigação criminal, ou seja, na fase inicial da persecução penal, e, portanto, merecem especial destaque.

(24)

Na esteira da permissão inserta no artigo 129, IX da Constituição Federal, surgiram no ordenamento pátrio um sem número de preceptivos legais que passaram a legitimar as investigações realizadas por membros do Ministério Público. Normas como a Lei 8.069 de 1990, conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei 10.741 de 2003, o Estatuto do Idoso, trazem previsões que autorizam o Parquet a atuar

na investigação criminal.

Neste universo legal que rege a atuação do Ministério Público no âmbito da investigação criminal, avultam como de maior relevância três outros diplomas legais. O primeiro deles, o Código de Processo Penal, Decreto-lei 3.689 de 1941, que em muitos de seus dispositivos reporta-se ao Ministério Público, emprestando-lhe decisiva participação nestes procedimentos preliminares.

Outra regra de notável relevância é a Lei Complementar n° 75 de 1993, que dispõe sobre a organização, as atribuições e o Estatuto do Ministério Público da União, promulgada de acordo com a previsão do artigo 128, parágrafo 5°, da Constituição Federal.

Nesta linha, ainda merece destaque à lei 8.625 de 1993, conhecida como Lei Orgânica do Ministério Público, que dispõe sobre normas gerais para a organização do Ministério Público dos Estados e dá outras providências. Destarte, convém fazer breves apontamentos a estas Leis, especificamente às disposições que fundamentam a atuação do MP na investigação criminal.

2.4.1 Lei 8.625 de 12 de Fevereiro de 1993

A Lei 8.625, de 12 de Fevereiro de 1993, conhecida por Lei Orgânica Nacional

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disposições contidas na Lei 8.625 de 1993, não podendo, assim, em sua atividade legiferante, contrariar os dispositivos ali insertos, sob pena de violar o sistema instituído na lei nacional.

A norma em pauta compõe-se de oitenta e quatro artigos, distribuídos em dez capítulos, que versam, respectivamente sobre: disposições gerais; organização do Ministério Público; órgãos de administração; funções dos órgãos de execução; órgãos auxiliares; garantias e prerrogativas dos membros do Ministério Público; deveres e vedações; vencimentos, vantagens e direitos; carreira; e, por fim, disposições finais e transitórias.

No capítulo IV, intitulado “Das funções dos órgãos de execução”, a lei fixa um extenso rol de funções a serem exercidas pelos membros do MP. Destas funções estabelecidas no texto legal, podemos destacar as descritas no artigo 26, inciso I, alíneas “a” e “c”, e inciso II e IV, por demonstrarem a efetiva participação do Parquet na

fase de investigação criminal. Sendo essa a redação dos dispositivos mencionados:

Art. 26. No exercício de suas funções, o Ministério Público poderá: I-instaurar inquéritos civis e outras medidas e procedimentos administrativos pertinentes e, para instruí-los:

a) expedir notificação para colher depoimento ou esclarecimentos e, em caso de não comparecimento injustificado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela Polícia Civil ou Militar, ressalvadas as prerrogativas previstas em lei;

[...]

c) promover inspeções e diligências investigatórias junto às autoridades, órgãos e entidades a que se refere à alínea anterior.

II-requisitar informações e documentos a entidades privadas, para instruir procedimentos ou processo em que oficie;

IV-requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial e de inquérito policial militar, observado o disposto no artigo 129, inciso VIII, da Constituição Federal podendo acompanhá-los;

(26)

2.4.2 Lei Complementar n° 75 de 21 de Maio de 1993

A Lei Complementar n° 75 de 1993, que dispõe sobre a organização, as atribuições e o Estatuto do Ministério Público da União, foi promulgada em respeito ao mandamento expresso no artigo 128, parágrafo 5° da Constituição Federal, que determina sejam os Ministérios Públicos da União e dos Estados organizados por Lei Complementar.

Este diploma, a exemplo do que se viu quando da análise da Lei 8.625 de 1993, contém diversos dispositivos que legitimam a atuação do Ministério Público no trabalho de apuração das infrações penais. Dentre estes instrumentos colocados à disposição do Parquet, pode-se ver a requisição de diligências investigatórias, exames, perícias e

documentos a entidades públicas e privadas; a notificação de testemunhas e a condução coercitiva das mesmas, dentre outras.

Contudo, dos dispositivos contidos no capítulo II da Lei Complementar, intitulado: Dos instrumentos de atuação, um merece especial destaque, pela clareza de seus termos e pela força de sua prescrição, qual seja, o artigo 8°, inciso V, que tem a seguinte redação, in verbis: “Art. 8°. Para o exercício de suas atribuições, o Ministério

Público da União poderá, nos procedimentos de sua competência: [...] V-realizar inspeções e diligências investigatórias”

A redação do dispositivo é de uma singular cristalinidade. A Lei garante, no artigo 8°, inciso V, aos membros do Ministério Público da União, o poder de realizar diligências investigativas diretamente, sem a necessidade de auxílio ou colaboração da polícia ou de quaisquer outras instituições públicas.

(27)

O Código de Processo Penal (CPP), a exemplo do que se pôde ver em relação às leis supracitadas, também prevê a atuação do promotor de Justiça na fase de investigação criminal. São muitas as disposições que marcam a intensa participação do

Parquet nesta fase preliminar de colheita de indícios da autoria e materialidade da

prática delitiva.

O artigo 5° do CPP, que trata das formas pelas qua is pode ser iniciado o inquérito policial, prevê, em seu inciso II, a possibilidade de deflagração do procedimento investigatório mediante requisição do Ministério Público. Esta requisição, em bem verdade, é, como já foi esclarecida, uma determinação, uma ordem dirigida à autoridade policial para que ela inicie a investigação em torno de um fato pretensamente delituoso.

O artigo 16, do Código de Processo Penal, por sua vez, garante ao Ministério Público a faculdade de fazer retornar os autos de inquérito à autoridade policial quando reputar necessária a realização de novas diligências imprescindíveis à propositura da ação penal. Aqui, na verdade, o Ministério Público requisita a realização de outras inspeções não efetivadas inicialmente e, com isso, atua diretamente na investigação, impulsionando a atuação policial. Determinação semelhante é a contida no artigo 47 do CPP, in verbis:

Art. 47 Se o Ministério Público julgar necessários maiores esclarecimentos e documentos complementares ou novos elementos de convicção, deverá requisitá-los, diretamente, de quaisquer autoridades ou funcionários que devam ou possam fornecê-los.

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3 DA PERSECUÇÃO PENAL

A persecução penal é deflagrada quando um fato, tipificado na legislação penal como crime, é praticado e torna-se conhecido, a Notitia criminis. O Estado, detentor do

direito de punir, se manifesta como protetor da sociedade e da ordem pública, ou seja, nasce para o Estado o Jus Puniendi. É nesse momento que o Estado, que é soberano

no direito de punir os delitos, se faz presente com o objetivo de salvaguardar o bem da coletividade em detrimento das usurpações dos particulares.

Porém o direito de punir, avocado pelo Estado, está delimitado em condições de atuação do Poder Público, resguardando a sociedade de qualquer ilegalidade, ou abuso, sendo vedada a vingança privada.

A Carta Magna assevera diretrizes e limitações quanto ao direito de punir do estado, como atesta os seguintes incisos do art. 5°, in verbis:

XXXV - A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.

XXXVII – Não haverá juízo ou tribunal de exceção.

XXXIX – Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.

LII – Não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião.

LIV - Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal.

3.1 DA ATIVIDADE INVESTIGATIVA E DO JUS PUNIEDI

A Ação Penal é o meio pelo qual o Estado alcança o Jus Puniendi, sendo aquela

promovida privativamente pelo Parquet, quando pública. Isto ocorrerá quando houver

elementos suficientes para a sua propositura: Indícios de autoria e da materialidade do crime.

(29)

instauração de Inquérito Policial, como assim assevera o art. 5º inciso II do Código de processo Penal:

Art. 5º - Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: II – mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.

Não obstante, quando o agente ministerial detém elementos de prova suficientes para a propositura da Ação Penal, poderá oferecer a denúncia sem a necessidade de requisição de Inquérito Policial, sendo este procedimento, perfeitamente dispensável.

A primeira etapa da Persecução Penal é, portanto, a atividade investigativa, por meio do inquérito, é nesse momento que a Polícia8 Judiciária coleta informações para a propositura da competente Ação Penal. É nesse instante que podemos compreender que a Polícia Judiciária tem por finalidade investigar as infrações penais e apurar a respectiva autoria, a fim de que o titular da Ação Penal disponha de elementos probantes suficientes para ingressar em juízo.

Procedida à investigação criminal, passa-se à fase da Ação Penal, na qual o

Parquet exercerá o Jus Puniendi, como titular privativo da Ação Penal Pública, irá

requerer ao Estado-Juíz o recebimento da denúncia e a punição do acusado através de sentença condenatória transitada em julgado. Como bem leciona a doutrina de Júlio Fabrinni Mirabete.

À soma desta atividade investigatória com a ação penal promovida pelo Ministério Público ou ofendido se dá o nome de persecução penal (persecutio criminis). Com ela se procura tornar efetivo o jus Puniendi

resultante da prática do crime a fim de se impor a seu autor a sanção penal cabível. Persecução penal significa, portanto, a ação de perseguir o crime9.

É oportuno registrar que, os órgãos diretamente responsáveis pela persecução penal são a Polícia Judiciária e o Ministério Público. Entretanto, o Parágrafo único do Art. 4º do Código de Processo Penal atesta a admissibilidade de outros órgãos administrativos realizarem atividades investigativas com o fito de elucidar delitos penais.

8 Oriundo da palavra grega polititeia que significa, “administração da cidade” (polis).

9MIRABETE, Júlio Fabrinni.

(30)

3.2 DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

No que tange à exclusividade da Investigação Criminal pela Polícia Judiciária, os juristas se dividem, mas o posicionamento majoritário é de que não há tal exclusividade. O Código de Processo Penal é bem conciso quanto a este questionamento. Para tanto, basta uma interpretação literal do dispositivo do art. 4º, especialmente em seu parágrafo único, do referido diploma, in verbis:

Art. 4º - A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e de sua autoria.

Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função.

Ainda, atesta o Art. 144º, § 1º, inciso IV, e § 4º da Constituição Federal de 1988, que:

Art. 144º - A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

(...);

IV – polícias civis; (...);

§ 4º - Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incubem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.

Observando o texto Constitucional, conclui-se que, a exclusividade do exercício da polícia judiciária é atribuída somente à Polícia Federal, salientando que o deferimento desta exclusividade pela Carta Magna é no que concerne ao exercício da polícia judiciária e não à investigação de delitos. De igual modo, não atribui às polícias civis a exclusividade nas investigações das infrações de cunho criminal.

(31)

Dentre os doutrinadores mais respeitados, na seara acadêmica, ressalta-se o posicionamento do mestre Júlio Fabrinni Mirabete. In literis

Os atos de investigação destinados à elucidação dos crimes, entretanto, não são exclusivos da polícia judiciária, ressalvando expressamente a lei a atribuição concedida legalmente a outras autoridades administrativas (art. 4º, do Código de Processo Penal). Não ficou estabelecida na constituição, aliás, a exclusividade de investigação e de funções da polícia judiciária em relação às polícias civis estaduais. Tem o Ministério Público legitimidade para proceder a investigações e diligências, conforme determinam as leis orgânicas estaduais. É, aliás, de sua atribuição “acompanhar atos investigatórios junto a organismos policiais ou administrativos, quando assim considerarem conveniente à apuração de infrações penais, ou se designados pelo Procurador-Geral10”.

A investigação criminal preliminar não se resume apenas ao Inquérito Policial, muito menos é uma atribuição exclusiva da polícia judiciária, podendo ser realizada por órgãos dos 3 (três) poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário.

Desta forma, podem realizar atividades investigativas, a Receita Federal nos crimes de sonegação fiscal, o Juiz nos crimes praticados por Magistrados (O próprio Poder Judiciário realiza as investigações), o Congresso Nacional auxiliado pelo Tribunal de Contas, o Poder Legislativo nos crimes cometidos no âmbito do Senado Federal e da Câmara dos Deputados.

Mas em todos os procedimentos investigatórios, os relatórios devidamente instruídos com o que foi apurado, deverão ser encaminhados ao órgão Ministerial para que este, dotado dos dados suficientes (indícios de autoria e da materialidade do fato criminoso) possa elaborar a propositura da ação penal, oferecendo a respectiva denúncia.

Em conformidade com o que dispõe o Art. 4º, Parágrafo único do Código de Processo Penal, já transcrito anteriormente, a atribuição da investigação criminal à polícia judiciária não exclui a de outras autoridades administrativas a quem a lei atribui. Este dispositivo não foi revogado pela Carta Política de 1988, tendo total vigência em sua literal interpretação, uma vez que foi recepcionada, posição divergente de alguns juristas.

(32)

A lei Complementar Nº 35, de 14 de março de 1979 (lei orgânica da Magistratura Nacional), em seu Art. 33º, Parágrafo único, assevera que:

Art. 33 - São prerrogativas do magistrado:

Parágrafo único - Quando, no curso de investigação, houver indício da prática de crime por parte do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá os respectivos autos ao Tribunal ou órgão especial competente para o julgamento, a fim de que prossiga na investigação.

Sem distinção, a lei Complementar, 8625, de 12 de fevereiro de 1993 (lei orgânica do Ministério Público), em seu Art. 41º, parágrafo único, também disciplina:

Art. 41. Constituem prerrogativas dos membros do Ministério Público, no exercício de sua função, além de outras previstas na Lei Orgânica:

Parágrafo único: Quando no curso de investigação, houver indício da prática de infração penal por parte de membro do Ministério Público, a autoridade policial, civil ou militar remeterá, imediatamente, sob pena de responsabilidade, os respectivos autos ao Procurador-Geral de Justiça, a quem competirá dar prosseguimento à apuração.

Na esfera do Poder Legislativo, a Carta Magna determina em seu Art. 58º, § 3º, que:

Art. 58 –O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e temporárias, constituídas na forma e com as atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato de que resultar sua criação. (...)

§ 3º - As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.

Por fim, o Supremo Tribunal Federal sumulou o entendimento de que os crimes cometidos no ambiente do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, é o Legislativo que realiza as atividades investigativas. Transcreve-se a súmula, in verbis:

Súmula 397 –O poder de polícia da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, em caso de crime cometido nas suas dependências, compreende, consoante o regimento, a prisão em flagrante do acusado e a realização do inquérito.

(33)

A Carta Política atribui ao Parquet o dever de promover medidas que julgue necessárias à propositura da ação penal, sem agredir o dispositivo do Art. 144 da Carta Maior. Este pressuposto entra em detrimento do posicionamento de doutrinadores que defendem a exclusividade na investigação, por parte da polícia judiciária, fundamentados na ilegitimidade e inconstitucionalidade de tal procedimento investigativo por membros do Ministério Público que, assim sendo, estaria usurpando a competência conferida privativamente a polícia.

Já é consolidado o entendimento de que o inquérito policial não é essencial à propositura da ação penal, como único meio utilizado para elucidar a autoria e a materialidade das práticas delitivas. Muito menos pretende o órgão ministerial presidir o inquérito policial, posto que este procedimento realmente é de exclusividade da polícia judiciária.

Como já ressaltado, a exclusividade suscitada é no que tange à investigação em sentido amplo, não necessariamente por meio de inquérito, mas através de procedimentos administrativos internos da própria instituição do Ministério Público, com procedimentos que tragam os elementos indispensáveis a propositura da ação penal.

Fazendo-se uma singela analogia ao procedimento do Ministério Público quando da instauração do Inquérito Civil preparatório para a Ação Civil Pública, dotada de diligências administrativas, que se viabiliza o mesmo procedimento na esfera penal, que visa a coleta de informações para o início de uma possível ação penal.

3.2.1 Do Inquérito Policial

(34)

necessidades de quem, em Juízo, deverá não somente acusar, mas também provar os fatos ensejadores de tal acusação.

O inquérito é excessivamente demorado e nos casos mais complicados, normalmente fica incompleto, necessitando de novas diligências, com notório prejuízo a celeridade e à eficácia da persecução.

Por outro lado, os advogados insurgem-se, com toda razão, contra a forma inquisitiva de comando das investigações, sendo que normalmente não é respeitado o contraditório e a ampla defesa. É extremamente comum ouvir reclamações de advogados que se quer conseguem falar a sós com seus clientes, ora por falta de policiais, ora por falta de estrutura física das delegacias. O certo, e inegável é que o inquérito policial está mais que falido.

O Inquérito Policial pode ser conceituado conforme a Doutrina de Fernando Capez, como sendo:

O conjunto de diligências realizadas pele polícia judiciária para a apuração de uma infração penal e de sua autoria, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar em juízo (CPP, Art 4º). Trata-se de procedimento persecutório de caráter administrativo instaurado pela autoridade policial11.

Nesta mesma esteira, outro não menos renomado doutrinador Júlio Fabbrini Mirabete, bem define o inquérito policial, como sendo:

Todo procedimento policial destinado a reunir os elementos necessários à apuração da prática de uma infração penal e de sua autoria. Trata-se de uma instrução provisória, preparatória, informativa, em que se colhem elementos por vezes difíceis de obter na instauração judiciária, como auto de flagrante, exames periciais e etc12.

O Art. 12 do Código de Processo Penal atesta que “o inquérito policial acompanhará, a denúncia ou a queixa, sempre que servir de base a uma ou a outra”, concluindo-se que, a investigação criminal, antes do ajuizamento da ação penal, é perfeitamente admitida sem a obrigatoriedade do inquérito policial.

Ainda, no mesmo diploma legal, o dispositivo do Art. 27 assevera que “Qualquer pessoa do povo poderá provocar a iniciativa do Ministério Público, nos casos em que

(35)

caiba a ação pública fornecendo-lhe, por escrito, informações sobre o fato e a autoria e indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção”, garantindo ao Ministério Público a propositura da ação penal pública com base em informações trazidas por qualquer membro da sociedade.

Não obstante, poderá o órgão ministerial dispensar o inquérito policial nas hipóteses da ação penal pública condicionada a representação, quando esta se encontrar devidamente instruída de elementos suficientes para a propositura da ação pública. O parágrafo 5º do Art. 39º do Código de Processo Penal, melhor expõe:

Art. 39º - O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procurador com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade policial.

§ 5º O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia num prazo de 15 dias.

A dispensabilidade do inquérito está mais latente no Art. 46, § 1º, do Código de Processo Penal que assim determina:

Art. 46 - O prazo pra oferecimento da denúncia, estando o réu prezo, será de 5 dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto ou afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito à autoridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo da data em que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos.

§ 1º Quando o Ministério Público dispensar o inquérito policial, o prazo para o oferecimento da denuncia contar-se-á da data em que tiver recebido as peças de informações ou a representação.

O inquérito é um procedimento administrativo presidido por autoridade policial que o conduz de forma discricionária, respeitados os limites estabelecidos em lei, mas sempre com a finalidade de colher informações, indícios e provas para a elucidação das infrações penais e de sua autoria.

No que concerne à natureza do inquérito, concluímos ser um procedimento inquisitorial, escrito, autônomo e instrumental.

Na seara jurisprudencial a Corte Suprema manifestou-se sobre esta questão:

(36)

indeferido.(Supremo Tribunal Federal, HC Nº 70991-5, Ministro Moreira Alves).

Após tantas conclusões e premissas, o entendimento de que o membro do Ministério Público deverá ter, obrigatoriamente, sua convicção elaborada somente através do inquérito tornou-se inócua, uma vez que o próprio sistema processual Brasileiro afirma que o inquérito policial é peça dispensável à propositura da ação penal.

Conforme todo o exposto, se é realmente facultado ao Parquet, oferecer

denúncia sem a necessidade prévia de inquérito policial, com base apenas em provas coletadas por particulares, ou por outras instituições, o Ministério Público estaria plenamente legitimado a proceder a atividades investigativas em procedimento interno, de forma administrativa, coletando as informações necessárias a uma eventual denúncia, descartando o monopólio da persecução penal pela polícia judiciária.

3.2.2 Da Polícia Judiciária e Suas Atribuições na Constituição Federal de 1988

Os delitos penais são apurados, no Brasil, em regra, pela polícia judiciária para instruírem a Ação Penal Pública, a ser promovida privativamente pelo Ministério Público, mas no ordenamento jurídico brasileiro, verifica-se que a persecução penal pode ser realizada por ambas as instituições.

A polícia é um órgão estatal, auxiliar do Poder Judiciário, porém subordinada ao Poder Executivo, que tem o dever de preservar a ordem pública, o bem estar dos cidadãos e do patrimônio, conforme determina o Art. 144, Caput, da Constituição Federal.

(37)

disto, vejamos o que determina o Art. 4º, parágrafo único do Código de Processo Penal a seguir transcrito:

Art. 4º - A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria

Parágrafo Único – A competência definida neste arquivo não excluirá a de autoridades administrativas, a quem por Lei seja cometida à mesma função.

Imperioso frisar que, a Carta Política de 1988 trouxe à baila não só o papel do Estado, na segurança pública, como também definiu a participação da sociedade neste mister, em seu Art. 144, § 4º, in verbis:

Art. 144 – A segurança pública, dever do estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos.

(...)

§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.

Como órgão estatal, a polícia é vinculada ao Poder Executivo, no entanto, a denominação de polícia judiciária não implica ao exercício de atividade jurisdicional, posto que somente pratica atos administrativos.

Conforme mencionado, a polícia atua como instituição de auxílio ao Poder Judiciário, fornecendo dados que instruam a denúncia. Na história da persecução penal no Brasil, sempre coube a polícia a tarefa de proceder às investigações das infrações penais que antecedem a ação penal.

(38)

A imprensa teve um grande papel no levantamento desta questão, uma vez que deu publicidade às condições em que a polícia se encontra, labutando com quantidades de agentes insuficientes praticamente em todos os Estados da Federação, sem falar na ineficiência de suas ações, que acabam por tornar o inquérito uma peça eivada de vícios, sejam estes por omissão ou deficiência dos atos neles praticados. Vale salientar que os procedimentos realizados nos inquéritos policiais são, em geral, antiquados e defasados anti a evolução do crime organizado.

Notadamente, a atribuição, determinada no parágrafo único do Art. 4º do Código de Processo Penal, não é de caráter exclusivo, devendo sua interpretação ser efetivada de forma literal.

Os atos de investigação destinados à elucidação dos crimes, com a descoberta da autoria e da materialidade delitiva, entretanto, não são exclusivos da polícia judiciária, ressalvando expressamente a lei a atribuição concedida legalmente a outras autoridades administrativas.

(39)

4 O PODER DE INVESTIGAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Diante dos percalços criados pelo sofisticado modus operandi da criminalidade

organizada a qual fragmenta o iter criminis ao extremo, segmentando-o entre inúmeros

autores (ou partícipes), assenta-se entendimento de que já caducam os clássicos métodos investigatórios, os quais concebidos ao combate da delinqüência pré-capitalista industrial-financeira, de modo que a adoção do sistema de investigação preliminar a cargo do Ministério Público passou a ser apontado como solução à realidade Brasileira.

A Constituição Federal de 1988 permite que, o Ministério Público proceda à investigação criminal e tal medida deve ser incentivada, porque possibilitará uma garantia há mais aos direitos individuais. Polícia judiciária e Ministério Público não devem disputar o direito de investigar, mas estabelecer uma conduta articulada, a fim de apurar de modo eficaz as infrações penais, principalmente aquelas que causam maior dano à sociedade.

O sistema Processual Penal Brasileiro conferiu ao Ministério Público a condição de “dono” da ação penal pública, isto é, dominus litis, que exerce a chamada pretensão

punitiva perante o Poder Judiciário, prerrogativa assegurada pelo inciso I do artigo 129 da nossa Carta Política.

(40)

A tese segundo a qual, o órgão ministerial não pode participar da investigação criminal, presta um desserviço à sociedade Brasileira, ao passo que somente interessa àqueles que possuem objetivos diretos em tal proibição e se distancia da tendência mundial.

4.1 UM BREVE COMENTÁRIO ACERCA DA DIVERGÊNCIA DOUTRINÁRIA EM TORNO DO TEMA

É impossível não perceber a importância da atuação do órgão ministerial a cada dia se afirmando como uma instituição atuante, proba e combativa, sempre em defesa dos interesses e valores mais caros à sociedade. A Constituição Federal de 1988, como restou explicitado, armou-lhe de garantias e prerrogativas necessárias à plena e efetiva realização de seus deveres institucionais.

Nos últimos tempos, mais explicitamente no período que seguiu à Carta Política de 1988, o Parquet tem agido incessantemente no combate ao crime seja ele qual for,

especialmente, os crimes de maior repercussão, em que figuram como suspeitas figuras de um alto poder político-financeiro, bem como, fiscalizando com rigor a atividade policial, seja reclamando a atuação das milícias por meio de requisições para a abertura de inquéritos e realização de diligências, seja, ainda, investigando diretamente os fatos delituosos.

É em torno dessa forma de atuação (a realização de investigações por membros do Ministério Público) que se segue um grande embate no âmago dos tribunais e entre os doutrinadores. Para alguns esse tipo de conduta consubstancia violação à competência constitucional da Polícia Judiciária, para outros, cuida-se de atividade absolutamente lícita, e que, ao invés de ser repelida, deve ser aplaudida e estimulada.

Fernando Capez13, ao referir-se à divergência existente entre turmas do Supremo Tribunal Federal acerca do tema, alerta: “A questão, no entanto, ainda está

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