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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO

PAULO

ESCOLA DE FILOSOFIA LETRAS E CIÊNCIAS

HUMANAS

CARLOS HENRIQUE CAMARGO SILVA

Desindustrialização e dependência: Uma análise da indústria

de manufatura (2003- 2018)

Guarulhos

2021

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CARLOS HENRIQUE CAMARGO SILVA

Desindustrialização e dependência: Uma análise da indústria de

manufatura (2003- 2018)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal de São Paulo como requisito parcial para obtenção do grau em Licenciatura em Ciências Sociais.

Orientador: Professor Davisson Charles Cangussu de Souza

GUARULHOS

2021

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CARLOS HENRIQUE CAMARGO SILVA

Desindustrialização e dependência: Uma análise da indústria de

manufatura (2003-2018)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal de São Paulo como requisito parcial para obtenção do grau em Licenciatura em Ciências Sociais.

Aprovado em:

_____________________________________________________________

Prof. Dr. Davisson Charles Cangussu de Souza -

Unifesp

__________________________________________________________

Prof. Dr. Daniel Arias Vazques -

(4)

Na qualidade de titular dos direitos autorais, em consonância com a Lei de direitos autorais nº 9610/98, autorizo a publicação livre e gratuita desse trabalho no Repositório Institucional da UNIFESP ou em outro meio eletrônico da instituição, sem qualquer ressarcimento dos direitos autorais para leitura, impressão e/ou download em meio eletrônico para fins de divulgação intelectual, desde que citada a fonte.

Camargo, Carlos

Desindustrialização e dependência: Uma análise da indústria de manufatura (2003-2018) / Carlos Henrique Camargo Silva. – Guarulhos, 2021.

40 f.

Trabalho de conclusão de curso para habilitação em Licenciatura para Ciências Sociais). – Guarulhos : Universidade Federal de São Paulo. Escola de Filosofia, Letras e Humanas.

Orientador: Davisson Charles Cangussu de Souza.

De – industrialization and dependency: An analysis of the manufacturing industry(2003-2018)

1. Sociologia 2. Política 3. Economia I. Cangussu de Souza, Davisson Charles. II. Desindustrialização e dependência: Uma análise das burguesias industriais (2003-2018)

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RESUMO

Este trabalho de conclusão de curso tem como objetivo estabelecer uma relação entre interpretações econômicas acerca do processo de desindustrialização para o capitalismo no Brasil, articulá-lo a formulação de Ruy Mauro Marini, principalmente, acerca das especificidades do capitalismo dependente brasileiro, e a partir disso reunir o conteúdo para o período do governo petista (2003 – 20016) e suas políticas internas e externas a fim de estabelecer suas relações interdependentes com as economias industriais centrais através da burguesia industrial manufatureira representada pela FIESP/CNI e ABIMAQ. Portanto, a comparação do modelo para este primeiro período 2003-2016 a um segundo marcado pelo golpe de 2016 a 2018, tem como finalidade compreender o processo de desindustrialização brasileira através desta tripla argumentação, os dados e conceitos econômicos acerca de tal processo, o caráter dependente que a intensifica e os interesses burgueses industriais da manufatura de atuação conflituosa nos diferentes períodos e como isso interfere no processo de desindustrialização reafirmando o caráter dependente, subordinado e de sempre reaproximar-se as burguesias tradicionais agrários exportadoras.

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ABSTRACT

This course conclusion work aims to establish a relationship between economic interpretations about the deindustrialization process for capitalism and in Brazil, to articulate it with Ruy Mauro Marini's formulation, mainly about the specifics of Brazilian dependent capitalism, and from that to gather content for the period of the PT government (2003 – 20016) and its internal and external policies in order to establish its interdependent relations with the central industrial economies through the manufacturing industrial bourgeoisie represented by FIESP/CNI and ABIMAQ. Therefore, the comparison of the model for this first period 2003-2016 to a second one marked by the coup from 2003-2016 to 2018, aims to understand the Brazilian deindustrialization process through this triple argument, the economic data and concepts about such process, the character dependent that intensifies and industrial bourgeois interests of manufacturing of conflicting action in different periods and how this interferes in the process of deindustrialization reaffirming the dependent, subordinate and always reconnecting character to traditional agrarian exporting bourgeoisies.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1-Pessoal ocupado por atividade econômica em Milhões de pessoas...20

Tabela 2-Valor de Transformação da Indústria de transformação em Bilhões de Reais (2003-2018) 21

Tabela 3-Crescimento da produtividade total e da mudança estrutural(efeito deslocamento estático) dos setores da manufatura entre 1998 e 2014...27

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1-Participação do Valor adicionado a preços correntes da indústria de transformação em

porcentagem do PIB a preços de mercado...22

Gráfico 2-Renda Per Capita da Indústria de transformação em porcentagem do PIB...23

Gráfico 3-Saldo comercial do setor industrial de manufatura em bilhões de Dólares...25

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SUMÁRIO

Sumário...8

1 Introdução...9

2 A industrialização no capitalismo dependente...11

3 Interpretações econômicas sobre a desindustrialização...15

3.1 A precocidade da desindustrialização brasileira...15

3.2 Causas da Desindustrialização...17

3.3 A interpretação Clássica e a desindustrialização do período no Brasil (2003-2018)...20

3.4 A desindustrialização precoce ou prematura...23

3.5 A “visão de Cambridge”...25

3.6 Mudança estrutural...28

4 Governos petistas, burguesia industrial interna e o golpe...30

4.1 Formação industrial e burguesa...30

4.2 Governo Dilma e o conflito...33

5 Conclusão...36

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1 Introdução

Para pensarmos um processo de desindustrialização da economia brasileira, temos que primeiro compreender, de um modo geral, o processo de definição das economias sob o modo de produção capitalista contemporâneo. Sua consistência está na inserção das máquinas no processo produtivo dessas economias, portanto, o desenvolvimento industrial é essencial para sua compreensão desta “etapa” posterior. A partir disso, o capitalismo se desenvolveu a tal ponto de gerar um processo de desindustrialização, deslocando a importância deste setor para o mercado financeiro e o setor de serviços por exemplo. Este fenômeno se expressa sob a mesma forma e a partir das mesmas causas em todas as economias globais? Fugindo de universalismos e trazendo para o campo das abstrações concretas, o presente trabalho articulará inicialmente através da interpretação de capitalismo dependente de Ruy Mauro Marini diante sobretudo de duas obras, “Subdesenvolvimento e revolução” e “Dialética da dependência” a fim de argumentar as especificidades que o capitalismo na periferia se encontra além de corroborar com o fato de que sua caracterização não é meramente produtiva, mas sim ideológica, conflitiva e contraditória

Em um segundo momento, será utilizado o artigo de Maia (2020) “Há desindustrialização no Brasil? Um estudo da abordagem clássica e de análises alternativas entre 1998 e 2014” para argumentar as correntes teóricas acerca do tema e a partir da interpretação de dados puramente não é entendida como um caminho viável para a compreensão do desenvolvimento industrial e talvez para a desindustrialização.

Para tanto, o terceiro capítulo será dedicado a responder a contradição no seio das burguesias nacionais, sobretudo aquela que está mais próxima do ramo industrial e que é compreendida como um setor-chave para a estabilidade das contas nacionais, pois compõe uma parcela importante dos postos de trabalho, ciência e tecnologia e etc., sendo ela a indústria manufatureira ou de transformação. Sua caracterização será dada no último capítulo através da FIESP/CNI e ABIMAQ a fim de trazer a análise de suas atuações para diferentes momentos contemporâneos do capitalismo dependente brasileiro, agregara portanto, conceitos anteriores às práticas de políticas internas e externas dos governos petistas e como um processo de desindustrialização pode ser mais ou menos intenso quando sua burguesia está associada a um governo neoliberal ortodoxo como foi no período de 2016 a 2018, e se sob pressão de um cenário econômico político e social desfavorável, alguma dessas burguesias recuaria em seus interesses para

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favorecer àqueles imperiais ou de frações mais conservadoras e tradicionais internas como são as agrária exportadoras.

Contudo, de forma geral, a desindustrialização no Brasil no presente trabalho, terá como articulação metodológica a perspectiva de formação dependente do capitalismo brasileiro e consequentemente de uma indústria frágil e periférica, além disso, interpretações como a clássica será uma importante ferramenta ao levantar dados a partir da indústria de transformação, assim como pela argumentação de uma desindustrialização prematura e a “visão de Cambridge” e as mudanças estruturais na composição da indústria de transformação, e para exemplificar as posições variadas de alguns representantes da burguesia industrial interna, conforme os governos de 2003 a 2018, tendo como foco, o golpe de 2016, serão expostas os diferentes posicionamentos das burguesias compostas pelo FIESP/CNI e ABIMAQ a fim de afirmar a hipótese de que, diante de um cenário precário da economia interna, uma burguesia que antes era próxima aos governos iniciais do período em destaque, com a mudança no panorama pós-crise mundial de 2008 e manifestações contra o governo em questão, tem-se como objetivo argumentar que a desindustrialização não é apenas um processo “natural” de máximo desenvolvimento da trama industrial capitalista, mas sim, é representação do palco de disputa ideológica em economias periféricas, podendo inclusive, condicionar um país ao retrocesso agrário exportador.

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2 A industrialização no capitalismo dependente

Durante o período de expansão comercial Europeia, “descobre-se” as terras brasileiras e latinas, a relação estabelecida é de um aumento no fluxo das mercadorias e a expansão dos meios de pagamentos, permitindo assim, um desenvolvimento comercial e bancário dos países colonizadores de forma a estabelecerem os caminhos que levariam ao desenvolvimento das grandes indústrias. A chamada revolução industrial na Europa é paralela aos processos de independência política de países da América Latina, sendo que a Inglaterra passa a ser o ponto central de articulação da produção e exportação de bens primários em troca de bens manufaturados de consumo e dívidas.

E essa condição, de países agrários exportadores, foi fundamental para se estabelecer as relações produtivas baseadas na indústria que se desenvolve nos países centrais. Porém, a importância da América latina para um processo de industrialização e instauração e reprodução do capitalismo típico é a de possibilitar uma expansão da mais-valia relativa, ou seja, “que a acumulação passe a depender mais do aumento da capacidade produtiva do trabalho do que simplesmente da exploração do trabalhador.” Marini (1973, p. 5) Composta por reestruturações produtivas a fim de aumentar a exploração do trabalhador, a mais-valia relativa agora em expansão nos países industriais são possíveis apenas pela contradição entre as relações centro periferia citada anteriormente.

O que aparece claramente, portanto, é que as nações desfavorecidas pela troca desigual não buscam tanto corrigir o desequilíbrio entre os preços e o valor de suas mercadorias exportadas (o que implicaria um esforço redobrado para aumentar a capacidade produtiva do trabalho), mas procuram compensar a perda de renda gerada pelo comércio internacional por meio do recurso de uma maior exploração do trabalhador. Chegamos assim a um ponto em que já não nos basta continuar trabalhando simplesmente a noção de troca entre nações, mas devemos encarar o fato de que, no marco dessa troca, a apropriação de valor realizado encobre a apropriação de uma mais-valia que é gerada mediante a exploração do trabalho no interior de cada nação. Sob esse ângulo, a transferência de valor é uma transferência de mais-valia, que se apresenta, desde o ponto de vista do capitalista que opera na nação desfavorecida, como uma queda da taxa de mais-valia e por isso da taxa de lucro. (Marini, 1973, p. 11)

Sendo essa a base de instauração industrial no Brasil, argumenta-se que o desenvolvimento industrial dependente reproduz de forma específica a acumulação de capital que é pautada na superexploração do trabalhador, e a esse respeito, bens manufaturados não interferem na taxa da mais valia inicialmente, pois não era um elemento essencial do consumo individual do operário. A

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produção industrial no Brasil também independe da condição dos salários pois a oferta de mercadorias cresce às custas da redução do poder de compra dos operários sendo que esses fatores levam a manejar por outros caminhos as estratégias econômicas de desenvolvimento industrial nos países periféricos a partir do momento em que essa indústria passa a popularizar os bens de consumo.

Isso leva a dois tipos de adaptações na economia industrial dependente: a ampliação do consumo das camadas médias, que é criado a partir da mais-valia não acumulada, e o esforço para aumentar a produtividade do trabalho, condição sine qua non para baratear as mercadorias. (Marini, 1973, p. 23)

Houve ainda uma transferência de endividamentos do centro para a periferia junto aos maquinários e equipamentos obsoletos que para cá vieram, mesmo antes de serem amortizados pelos patrões, portanto, a industrialização do Brasil e da América Latina, do ponto de vista da divisão internacional do trabalho, ocorre de forma a precarizar seu desenvolvimento técnico e tecnológico, tendo em vista que processos mais complexos e de produção final de mercadorias ficam a cargo das indústrias centrais.

Somado a isso, antes de entrarmos propriamente nas classificações de desindustrialização, e como fator importante do processo histórico de formação da burguesia industrial brasileira, não podemos esquecer do período posterior ao até aqui abordado, sendo aquele marcado pela ditadura militar-empresarial de 1964.

Até o momento do golpe militar de 1964 a caracterização da política interna e externa já era de associação aos centros hegemônicos, a partir desta data, esta integração se torna mais latente, sobretudo com os EUA, e mais ainda, o Brasil se torna em um centro de irradiação imperialista na América Latina atuando como um país-chave em sua expansão para as demais economias dependentes.

A vinculação das burguesias industriais às antigas classes oligárquicas ligadas a exportação devido à instabilidade política e econômica no período após 1960, associado a importação de novas tecnologias e a crescente expansão demográfica, geram um alto número de desemprego, levando a economia brasileira a procurar uma reserva externa de mercado, e como correspondência disso, o Brasil tenta ser o protagonista militar e econômico na América Latina através do subimperialismo, atua como “uma extensão indireta do imperialismo estadunidense (não nos esqueçamos de que o centro de um imperialismo desse tipo seria uma economia brasileira integrada à estadunidense).” Marini (1969 p. 130)

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Por isso o ponto fundamental é compreender que a associação da burguesia industrial em formação durante o período de 1930 é firmado em 1937, compreende-se que a industrialização iniciada no período e que marca as características da burguesia industrial brasileira, foi a escapatória que o capitalismo dependente brasileiro trilhou para superar as crises internacionais do período. Em 1954 e em 1961, já possuindo melhores condições na indústria de base, ambos governos dos períodos se veem diante do mesmo problema dos anos de 1930, ou seja, os anos anteriores a esses períodos são marcados por políticas externas de afastamento do EUA, e a partir de conflitos internos e externos, as burguesias industriais se posicionam através de aproximações e conciliações com o capital privado externo, representando o nível máximo dessa associação burguesa aos interesses imperialistas o golpe de 1964 e a forte aproximação aos EUA, e como já dito, assumindo o papel de país-chave da expansão na América-Latina dos ideais estadunidenses. Porém, o subimperialismo brasileiro ao contrário das economias capitalistas centrais não transforma suas práticas subimperialistas externa em elevação do nível de vida de sua população, pois para a garantia de sobrelucro do parceiro maior representado pelos EUA, se faz necessária intensificar violentamente a exploração do trabalho interna e de outras economias dependentes.

Em suma, o desenvolvimento do capitalismo no Brasil possui cada vez mais um caráter associativo, levando-o inclusive a etapa subimperialista, reafirmando a ideia de que a fração burguesa responsável pelo desenvolvimento industrial brasileiro é uma burguesia monopolista ligada a oligarquia clássica mercantil exportadora, fatores estes que deverão pairar sobre todo nosso trabalho, desde as construções teóricas econômicas e gráficas sobre a desindustrialização até o posicionamento explícito dos interesses dessa burguesia, por conseguinte a troca desigual opera na relação interna da exploração do trabalhador para compensar a perda de mais-valia na relação de mercado internacional da economia dependente, portanto, o que se tem, não é um incremento do processo produtivo, mas sim, um aumento da exploração do trabalhador, sobretudo, na produção da mais-valia absoluta caracterizada por aquela em que o trabalhador continua produzindo mesmo depois de atingir uma produção igual ao valor dos meios de sua subsistência. Então, o que interessa ao capital não é aumentar apenas a produtividade, pois esta alteração visa modificar os preços individuais da mercadoria obtendo assim uma mais-valia extraordinária que não altera o grau de exploração do trabalho na economia, e sim, que altera a repartição geral da mais-valia entre os diversos capitalistas, então, a diminuição do valor social da unidade de produto sendo proporcional ao aumento da produtividade do trabalho, acarretaria em uma diminuição da mais-valia. Tudo isso para argumentarmos o fato de que diminuindo o valor da força de trabalho empenhada nos insumos

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agrícolas do Brasil a serem exportados aos países industriais para compor os bens-salários daqueles trabalhadores que passavam a ocupar os centros urbanos Europeus, a mais-valia relativa pode atuar em larga escala nos países centrais do capitalismo, e submete aos países da periferia um caráter de baixa tecnologia de industrialização.

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3 Interpretações econômicas sobre a desindustrialização

3.1 A precocidade da desindustrialização brasileira

Caracterizado por um desenvolvimento “progressista” no sentido em que a indústria representa o estágio final e superior de economias estáveis e importante para a relação entre nações, expõe-se que esse “motor” que impulsiona o desenvolvimento nos países da periferia do capitalismo funciona com um combustível adulterado e peças usadas, já estando desgastado antes mesmo de entrar em circulação.

Evidência desse processo de precarização das condições materiais necessárias para um desenvolvimento industrial, integrando setores como o do trabalho, ciência e tecnologia assim como todos àqueles que compõem a trama social que são característicos de relações externas, como câmbios, termos de troca e abertura financeira, o possível processo de desindustrialização simboliza a precariedade e o retrocesso industrial e econômico de países periféricos como o Brasil. Além disso, a dependência dentro do quadro de interesses industriais mundiais, entende-se como uma “consequência” (aqui se exclui qualquer naturalização do processo de desindustrialização, e sim, considera-se, um processo que expõe a priorização dos interesses do capital metropolitano), de forma que, nos países centrais do capitalismo a diminuição na composição dos trabalhadores alocados em setores industriais é compreendida como consequência remodelagem da produção, ao mesmo tempo em que relações sociais mais básicas, que no caso compõem o setor de serviços, são apropriadas e fragmentadas pelo mercado.

A partir disso questiona-se porque a indústria é tão importante para as economias? Primeiro porque a produção industrial possui um encadeamento jusante/montante maior quando comparado aos outros setores, segundo pela presença de economia de escalas, terceiro pela relação que possui com o avanço tecnológico e por último pela elasticidade por importações de manufatura em relação as commodities. Oreiro e Feijó (2010, p. 223-224)

A análise do processo de desindustrialização tem como compreensão inicial, interpretações distintas a respeito dos motivos que levam a seu desenvolvimento. O fato de que a diminuição da participação industrial na economia e em postos de trabalho comparada aos outros macros setores

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da agricultura e de serviços, são fatores essenciais para sua determinação. O caminho tomado pela interpretação clássica segundo Maia (2020, p.551)foi formulada por Rowthorn e Wells (1987) (apud Maia, 2020, p.551) onde afirmam estar divididas em dois tipos, são eles: a “positiva” ou “natural” sendo identificada quando a economia em questão apresenta um rápido crescimento econômico e pleno emprego da indústria através do desenvolvimento máximo de sua trama de absorção da mão de obra e o aumento tecnológico dos processos produtivos, ao passo que o setor de serviços se expande e com isso aumenta a necessidade de mão de obra para compor sua estrutura, acarretando portanto em sua desindustrialização “positiva”.

Ou seja, há uma correlação entre o nível de emprego industrial e a renda per capita, no qual os países de industrialização madura passaram a trocar empregos da manufatura por serviços especializados, como um corolário do seu desenvolvimento. (Maia, 2020, p.551).

A negativa por sua vez, entende que o valor adicionado e o emprego associado ao setor industrial se estagnam, o que segundo Maia (2020, p.552) “[…] é o resultado de um desequilíbrio estrutural da economia que evita uma nação de alcançar o seu PIB potencial e que se manifesta no declínio da produção industrial e na sua produtividade.”, e a partir disso, ao olharmos para o período em destaque do presente trabalho que vai de 2003 a 2018 no Brasil, seria possível afirmar somente com base nessa teoria um processo de desindustrialização em nossa economia? Será que a economia brasileira atingiu seu potencial máximo de indústria ou está estagnada?

Dito isso, acrescenta-se que o crescimento acentuado da produtividade industrial (em função de melhorias técnicas e tecnológicas), a intensificação da dependência entre os produtores globais e a elasticidade-renda da demanda por bens manufaturados, são fatores que expõe as indústrias em seu nível máximo, e a partir de então, a desindustrialização tem início como uma “consequência” de um estágio avançado da produção capitalista, porém, o que aqui se propõe é justamente argumentar de que a desindustrialização no Brasil, e até mesmo na maioria dos países da América latina, essa “consequência” está mais para uma relação de dependência que se estabelece durante o processo de formação capitalista nesses países, do que um processo “natural” a ser enfrentado.

Para tanto, há ainda, segundo Maia (2020, p.552), conceitos alternativos importantes na compreensão a respeito da desindustrialização. Aquela que abarca conceitos como “prematura” ou “precoce”, tendo como principal argumento o fato de que no momento em que uma economia tem retração da renda per capita da indústria em níveis inferiores aos países industriais centrais, ou seja, apresenta fatores associados a desindustrialização negativa, porém, não sob sua forma extrema, mas

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sob uma forma branda, são países que podem estar passando por um processo de desindustrialização, economias que são enquadradas nesta classificação são as consideradas em “desenvolvimento” como o Brasil, e o caráter dessa “precocidade” da desindustrialização seria o que as impede de atingirem níveis estruturais de indústria mais sólidos como daquelas economias tidas como modelo a ser seguido para o capitalismo pleno.

Outro caminho alternativo seria a “visão de Cambridge” a respeito da desindustrialização, que caracteriza a desindustrialização a partir do momento em que o setor industrial é incapaz de suprir a demanda nacional de consumo e pagar as necessidades de importações do país, portanto, é um setor de produção deficitário comercialmente em suas relações internacionais, fato este que atrasa, ou impede, o desenvolvimento nacional como um todo, assim sendo, essa linha teórica compreende que a indústria de transformação será o setor-chave para identificar a desindustrialização.

E por fim, apresenta uma interpretação acerca da desindustrialização em que pode se manifestar como desinvestimento sistemático nos principais setores da indústria de transformação, portanto, essa linha interpretativa compreende que para identificar e afirmar haver um processo de desindustrialização não se pode tomar uma via que se atente apenas pela comparação entre a composição de pessoal ocupado ou participação no PIB entre os macros setores, mas sim, pela especialização da produção manufatureira em atividades menos sofisticadas, pois afirma ser justamente a sofisticação tecnológica, produtiva, administrativa e etc., que engendram um crescimento econômico e industrial como afirmado por Maia (2020, p.552).

3.2 Causas da Desindustrialização

A partir da explanação das interpretações econômicas referentes ao desenvolvimento da desindustrialização, passaremos agora para análise das principais causas deste fenômeno segundo Maia (2020, p.554).

Os fatores são cinco segundo nosso autor: O primeiro argumenta que a relação inversa entre emprego e produtividade no setor industrial que são estabelecidas durante a desindustrialização estabelecem uma relação inversa entre emprego e produtividade, ou seja, quanto maior a

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produtividade industrial, menor será a demanda por empregos neste setor, portanto, acarretará em uma atração desses trabalhadores pelo setor de serviços, afirmando que tal mecânica se dá pela elasticidade da demanda por mão de obra do setor secundário(indústria de transformação), ser menor que a do setor terciário(serviços). Este impacto indica, sobretudo, a desindustrialização através da relação entre o emprego industrial e o nível geral de emprego da economia.

Um segundo fator apresentado é o de uma alteração dos preços relativos entre a indústria e o setor de serviços, onde, conforme o aumento da produtividade industrial em comparação ao de serviços, os preços relativos aos produtos da indústria sofrerá uma queda, por isso, haverá uma diminuição de sua participação da economia, somado a isso, o crescimento da renda e da demanda por bens de serviços acarretam na diminuição do consumo de bens industriais, ou seja, inicialmente há o crescimento da renda e demanda por bens manufaturados, porém, quando a renda atinge patamares elevados sofre uma regressão, desta forma, segundo nosso autor, a desindustrialização a partir desta causa pode ser aferida “[…] pela queda da participação do valor adicionado da indústria de transformação como porcentagem do PIB.” Maia (2020, p.555).

A terceira causa explanada é o fator da globalização. Compreendido como “etapa” da desindustrialização para os países centrais, o fato de haver um deslocamento da mão de obra para países com menor custo do fator trabalho durante o processo de interação internacional das economias globais, este fator é exemplo de que as relações de mercado internacionais contribuem para a manutenção do processo de desindustrialização nas economias centrais, também há nesse processo uma concentração de investimento das empresas em especializações produtivas, ou o que nosso autor chamou de “core business”, assim como em processos de Pesquisa e Desenvolvimento (marketing, produto, levantamento de dados sobre mercado, clientes, tecnologias, inovação e novas tendências), Tecnologia da Informação e até mesmo integração e fusão entre empresas a nível internacional, gerando assim uma “[…] mudança na relação entre a elasticidade-renda da demanda por produtos manufaturados e o de serviços[…]” Maia (2020, p.556).Todavia, estes processos demonstram a situação das economias centrais frente a desindustrialização, pois a globalização e o acirramento das competições no mercado internacional são fatores pouco relevantes para a desindustrialização nas economias centrais, tendo em vista que seu processo se da principalmente por fatores internos, para as economias dependentes, essa integração terá maior nível prejudicial, pois, firmará a dependência em diverso âmbitos de suas relações internacionais.

Deve-se levar em consideração a natureza do setor de serviços no contexto da industrialização avançada, cuja necessidade de reprodução ampliada expande para

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fora, pela mundialização do capital, e para dentro dessas economias, pela criação do que Braverman chama de “mercado universal”. Assim, para além de uma apropriação das relações sociais pelo mercado, cada nova função a ser desempenhada no setor de serviços é feita pela mão-de-obra cada vez mais precarizada devido à própria natureza fragmentada das atividades de serviços. (Durlo; Garcia, 2013, p. 11)

Como quarto fator temos a realocação dos empregos em um movimento de saída da indústria para a terceirização de serviços, onde, segundo Torres e Silva (apud Maia, 2020 p.556) argumentam, que, após a abertura econômica e a consequente exposição das indústrias nacionais às concorrências aos produtos oriundos de importação, tiveram como reestruturação em sua organização interna a terceirização de atividades não essenciais ao negócio a fim de se tornarem mais competitivas a essa nova situação mercadológica.

O quinto e último seria a Doença Holandesa como um recurso teórico para explicação da desindustrialização, tal entendimento acerca do tema afirma que a exportação de commodities superam as relações internacionais comparada aos outros setores da economia, de modo a diminuir empregos industriais, importação de bens e diminuição da participação dos produtos industrializados, focando seus esforços produtivos e econômicos às commodities. O Boom de commodities e a taxa de câmbio favorável a importações de bens comerciáveis seria então o que direciona as atenções produtivas do país em especialização de commodities gerando assim uma menor participação de produtos industrializados, ou de menor tecnologia, na composição de sua estrutura produtiva.

E a partir de Palma (2014) (apud Maia, 2020, p. 557) Maia (2020) argumenta:

Em seu conceito ampliado por Palma (2014) a doença holandesa ocorreu por três fatores diferentes: 1) A descoberta de recursos naturais, como no caso clássico holandês; 2) O desenvolvimento de export-service activities, como o turismo e o setor financeiro, exemplos que se enquadram nesse aspecto são a Grécia e Hong Kong; e 3) Mudanças no modelo de desenvolvimento econômico, sendo o Brasil um grande destaque devido à alteração de sua política macroeconômica voltada para a substituição de importações para um modelo liberalizante baseado nas premissas do Consenso de Washington. (Maia, 2020, p.557).

Durante um longo período de tempo, a sobrevalorização cambial também contribui para a desindustrialização, tornando bens comerciáveis internacionais mais competitivos no mercado interno encarecendo, portanto, os produtos nacionais no mercado externo. Essa valorização excessiva durante um longo período de tempo por uma moeda, ocorre principalmente em países da América latina após o consenso de Washington que estimulou a abertura comercial que impôs como única meta dos bancos centrais a estabilidade do nível dos preços e com isso:

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Como o processo de valorização da moeda local beneficia o controle da inflação, a administração da taxa de juros se tornou mais flexível em sua elevação e mais resiliente na sua queda, o que prejudica o setor industrial de duas formas: o câmbio tende a ser mais valorizado e a taxa de juros se torna mais elevada.(Maia, 2020, p.558).

Agrega-se a este o fato a ideia de que uma interação dependente, onde há uma subordinação cambial dos países periféricos em relação aos do capitalismo central, se dá fundamentalmente pela superexploração da força de trabalho e da transferência de valor, onde parte da mais valia produzida nos países periféricos é apropriada pelos países centrais, portanto, restruturações produtivas, não visam levar tecnologias, ou democratizar qualquer outro tipo de desenvolvimento, seja ele individual ou coletivo, mas sim, garantir a reprodução ampliada da dependência e a manutenção dos interesses centrais do capital. A partir disso, uma análise da desindustrialização sob uma perspectiva global, consiste no fato de que a internacionalização das economias ganha um significado de exploração ampliado, e com isso:

Nos termos da teoria marxista, o esquema de reprodução simples envolve um departamento produtor de meios de produção e um produtor de bens de consumo e tem, como principal característica, o fato de que toda a mais valia, apropriada pelos capitalistas, é gasta em consumo improdutivo, ou seja, tudo o que é ganho é também gasto em bens de consumo. No caso do ‘esquema de reprodução ampliada’, que envolve também os dois departamentos, o capitalista não mais gastará, sob a forma de consumo improdutivo, toda a mais valia de que se apropria. Esta última é repartida em duas frações, de modo que uma delas corresponde à demanda do capitalista por bens de consumo e a outra é reinvestida em capital constante e capital variável; é, em outras palavras, acumulada. Desta forma, o que de fundamental as torna distintas não é o valor que cada uma delas é capaz de produzir, mas sim o modo como se dá a realização deste valor. (Aamaral; Carcanholo, 2009, p. 223)

3.3 A interpretação Clássica e a desindustrialização do período no Brasil (2003-2018)

A perspectiva clássica para o cenário brasileiro durante o período em destaque, necessita do caráter numérico de comparação entre os setores macroeconômicos em suas composições de trabalho e valor adicionado. Da Tabela 1 a seguir, temos que a evolução da população ocupada nos setores apresentados indica uma mudança significativa para o setor de serviços, tendo em vista que durante os governos petistas (2003-2016) passou de aproximadamente de 26,6 milhões de trabalhadores em 2003 para 47,2 milhões em 2016, além disso, houve aumento também na

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composição dos trabalhadores no setor da indústria de transformação, que vai de 5,8 milhões de trabalhadores em 2003 para um valor de 7,5 milhões em 2016, número estagnado até 2018.

Tabela 1-Pessoal ocupado por atividade econômica em Milhões de pessoas

Atividade 2003 2016 2018 Indústria Extrativa 0,1 0,19 0,2 Indústria de Transformação 5,8 7,5 7,5 Construção 5,1 7,4 6,7 Serviços 26,6 47,2 49 Administração Pública, defesa, seguridade social, saúde, educação e serviços sociais

3 15,6 16,2

Agricultura 16,4 9 8,5

Total 57 86,89 88,1

Fonte: Elaboração própria a partir do IBGE - SIDRA

Apesar da evolução da composição da população ocupada no setor da indústria de transformação ter sido menor que a evolução do setor de serviços, quando comparado ao setor da agricultura, que passou de 16,4 milhões em 2003 para 9 milhões em 2016 e 8,5 milhões em 2018 (Tabela 1), apresenta uma maior composição nos postos de trabalho, pois em vista da “liberação” de mão de obra pelo setor exportador haverá a absorção de grandes massas de trabalho, que, acentuada pela superexploração do trabalho acelera a concentração de capital no setor industrial, o que nos daria uma falsa impressão de desindustrialização “positiva”. A respeito do aumento da composição do pessoal ocupado no setor de serviços argumenta-se a necessidade de capital menor de investimento e renovação das formas tradicionais de concorrência no mercado, ou seja, recorrem a força de trabalho pauperizadas e não sindicalizadas de forma a acarretar em baixa remuneração, maior exploração e opressão quando comparadas a setores mais estáveis, técnicos e sindicalizados.

Ainda cabe identificar que o progresso tecnológico tem como característica geral, baseado na exploração do trabalho, reduzir o “tempo de trabalho produtivo em relação ao tempo total disponível para a produção” (Marini, 1973, p. 24, 25) acarretando em um aumento na composição dos empregos no setor de serviços e a diminuição no setor industrial em geral, sobretudo, dessa grande composição de operários sem ocupação, ou exército de reserva, se justificam políticas que

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preconizam um desenvolvimento tecnológico apenas para ocupar essa parcela da população, porém, sem levar em conta que tal entendimento prende o desenvolvimento industrial em baixos níveis tecnológicos, além de não identificarem que isso é um problema do modo de produção capitalista em si. Por isso, um capitalismo baseado na superexploração do trabalho possibilita o progresso técnico a aumentar o ritmo de trabalho e sua produtividade, além é claro, de remunerá-lo proporcionalmente inferior ao seu valor real.

Segundo a visão clássica e os dados apresentados a desindustrialização neste sentido não foi tão intensa apesar de podermos afirmá-la, pois, através do VTI (Valor de Transformação da Indústria) para a indústria de manufatura, segundo os dados levantados na Tabela 2 composta por dados gerais das empresas industriais de transformação com 1 ou mais pessoas ocupadas a partir da faixa de pessoal ocupada da CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) 1.0 para 2003 e CNAE 2.0 para 2016 e 2018, argumenta-se que houve um crescimento real do valor de transformação da indústria brasileira, pois passou de 395 Bilhões de Reais em 2003 para 1 Trilhão e 222 Bilhões em 2018.

Tabela 2-Valor de Transformação da Indústria de transformação em Bilhões de Reais (2003-2018)

Ano VTI em Bilhões de Reais

2003 395

2016 1030

2018 1222

Fonte: Elaboração própria a partir do IBGE – SIDRA

O Gráfico 1 adiante ainda argumenta a favor da constatação da desindustrialização, pois aponta a evolução da composição do PIB a preços de mercado a partir do valor a preços correntes da indústria de transformação. No ano de 2003 a colaboração da indústria de transformação ao PIB chegava a quase 14% e em 2018 passa a compor aproximadamente apenas 10% do PIB.

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Fonte: Elaboração própria a partir do IBGE - SIDRA

A partir das exposições anteriores a respeito da interpretação clássica de desindustrialização para o cenário brasileiro, nos é possível afirmar que ela existe, porém, deixa lacunas a partir do fato de que não conseguimos identificá-la como “positiva” ou “negativa”, pois a diminuição da participação relativa do emprego industrial e do valor adicionado da indústria de transformação na economia brasileira poderia ser compensando pelo seu deslocamento aos demais setores produtivos, e também pelo aumento no Valor de Transformação da Indústria de Transformação, no entanto, apenas da perspectiva clássica nos é possível afirmar a desindustrialização, e agora, na tentativa de ampliar o entendimento desse processo, se utilizará alguns conceitos alternativos para melhor articular a argumentação.

3.4 A desindustrialização precoce ou prematura

Uma análise comparativa entre os processos de desindustrialização internacional se faz necessário para afirmar se há ou não uma desindustrialização precoce no Brasil. A partir da análise dos conceitos alternativos os articularemos para uma maior compreensão acerca do tema a fim de

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elucidar mais possibilidades para interpretar um processo de diminuição do potencial industrial de uma economia.

Aquela interpretação que identifica uma etapa “precoce”, ou “prematura”, identifica no Brasil um processo agudo de desindustrialização, entende que um processo “natural” de desindustrialização deve ser gradual como na maioria dos casos exemplificados no Gráfico 2 a seguir, porém, no Brasil (Linha AZUL) ela ocorre antes mesmo da elevação da renda per capita como nos países centrais do capitalismo, o que para os autores dessa corrente concordaria com o fato de haver uma desindustrialização precoce no Brasil, por exemplo, quando observamos as curvas para um mesmo período de tempo que vai de 1970 a 2018, indústrias de transformação de economias centrais como EUA(Linha VERDE), Reino Unido(Linha AMARELA) e Alemanha(Linha LARANJA), é possível afirmar que seus declínios são graduais, diferentemente da linha verde que representa uma queda brusca da renda per capita da indústria de transformação do Brasil para o mesmo período de tempo, por isso a precocidade da desindustrialização brasileira.

Fonte: Elaboração própria a partir do UNCTADStat

Ainda sobre a compreensão de que o a desindustrialização brasileira seria precoce, a argumentação está no fato de não ser possível ao setor de serviços sustentar níveis elevados de renda per capita, portanto, apresentam características semelhantes aos “sintomas” da “doença holandesa” ao transferirem o ônus da balança para o setor Agrário-exportador.

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Em resumo, a desindustrialização “precoce” sem uma análise histórica e política dos eventos que marcam a indústria no país não faz sentido, além de desconsiderar as pautas e os conflitos das burguesias nacionais dependentes, tendo em vista que seu processo é marcado pelo autoritarismo no espectro político e de concentração de renda no econômico, este é um cenário para se compreender o processo de industrialização e de consolidação do capitalismo no Brasil e em países da América Latina, além disso, novas questões são agregadas a esses fatores como a mundialização do capital financeiro, a desarticulação do papel econômico do Estado, a superexploração da força de trabalho, a reorganização da DIT e os trabalhadores diante dessa reorganização produtiva, o que reafirma o fato de que não há constatação da desindustrialização apenas a partir de sua “precocidade”, pois o caráter da superexploração da força de trabalho, da desarticulação do setor de serviços, da acumulação capitalista de mercadorias e um setor industrial que se desenvolve numa composição de empresas multinacionais e pela divisão internacional do trabalho, mudam totalmente o panorama histórico de desenvolvimento da indústria dentro das economias dependentes. A sistematização dos argumentos acerca da desindustrialização e as características que a definem como precoce, ao mesmo tempo em que se compara com uma compreensão histórica universal do desenvolvimento industrial observando o processo como um todo e não fragmentado, torna incompleto o entendimento deste processo para os países periféricos.

3.5 A “visão de Cambridge”

A interpretação de Cambridge a respeito desse fenômeno, entende que o deficit comercial da indústria, sobretudo, a de transformação, evidencia o processo de desindustrialização. A partir do Gráfico 3 a seguir, construído para o período em questão, pode-se afirmar que de 2003 a meados do ano de 2007 a balança comercial da indústria de transformação esteve estável mantendo-se na casa dos 25 bilhões de Dólares positivos, porém, a desindustrialização segundo a “visão de Cambridge” se intensifica no período posterior, onde desde a crise de 2008 o saldo comercial do setor se mantém negativo até 2018, sendo que em 2014, período de grande instabilidade política devido a diversas manifestações de oposição ao governo Dilma e como veremos no último capítulo o afastamento das burguesias industriais do governo petista, registrou um deficit de aproximadamente 100milhões de dólares, isso indica, que há um processo de priorização do mercado por bens manufaturados

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oriundos de importação, já que internacionalmente se tornam mais viável devido ao maior nível tecnológico, menor custo de produção e etc., e internamente há uma erosão da produção de manufaturas, representado pelo alto valor de importações do ano de 2009 ao de 2016.

Fonte: Elaboração própria a partir do MDIC

A esse respeito pode-se afirmar que a produção e a circulação de mercadorias são os eixos que irão se firmar no desenvolvimento capitalista das economias dependentes, sendo assim, a formação do mercado interno está baseada no processo de desenvolvimento capitalista clássico de transformação do trabalhador em também consumidor, tendo em vista que os meios de subsistência passam a integrar o capital variável do capitalista retornando apenas ao trabalhador quando o compram de volta, é possível afirmar que no Brasil a industrialização não cria sua própria demanda interna por muito tempo como podemos ver no Gráfico 3 acima durante o período de 2003 a 2008, mas que se estrutura segundo as demandas do mercado dos países centrais do capitalismo, portanto, a indústria não tem a pretensão de atuar com um fator de popularizar suas mercadorias, o que se tem, é que a demanda que era maior que a oferta permite ao capitalista aumentar o preço da mercadoria, além disso, favorecido pelas crises globais e pelas barreiras alfandegárias e pelo baixo nível tecnológico, o custo de produção é integrado quase que por completo apenas pelos salários havendo uma pressão no sentido de diminuição da remuneração da classe operária industrial dos países dependentes como o Brasil.

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Para tanto, no gráfico a seguir (Gráfico 4) durante o período de 2003 a 2018, identifica-se que o saldo comercial brasileiro (Exportações – Importações = Saldo) incluindo todos os setores produtivos, tem início em 2003 na casa dos 25 bilhões de dólares, atingindo em 2014 um deficit de 10milhões de dólares, justamente no pior período da balança comercial de bens manufaturados, fato este que, além, obviamente, de comprometer o desenvolvimento industrial e de encarecer o custo de vida, este deficit na balança expõe o intenso peso causado à balança brasileira que em 2018 registra um valor perto da casa dos 50 bilhões de dólares.

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3.6 Mudança estrutural

Para o período em análise que corresponde as décadas iniciais do século XX, compreende-se através dos gráficos e das tabelas anteriores, um processo de desindustrialização a partir da associação entre as três correntes, porém, a especialização regressiva se apresenta como um dos fatores mais importantes para esta conclusão.

[…] tanto a América Latina e a África passam por um processo de Mudança Estrutural com especialização em setores de menor produtividade, ou seja, os trabalhadores têm migrado dos setores mais produtivos para os de menor produtividade. Os países asiáticos, por outro lado, ampliam a participação nos setores de maior produtividade, apresentando Bônus Estrutural do crescimento. (Maia, 2020, p. 571)

A tabela a seguir compõe o que chamamos de especialização regressiva e tem como objetivo identificar a alteração da produtividade entre os setores da economia, portanto o deslocamento estático válido para o período de 1998 a 2014 corresponde a uma perda relativa de R$ 450 entre os setores da manufatura brasileira, além disso, aponta que o deslocamento dos trabalhadores entre os setores da indústria de manufatura foi em direção àqueles de menor produtividade, mesmo apresentando um crescimento agregado em geral de 10% e R$ 4.447 em preços. Vale ressaltar ainda, que países de economia industrial dependente possuem um baixo nível tecnológico a fim de garantir processos mais sofisticados de produção nos países industriais e na manutenção da mais-valia a partir da troca desigual e da superexploração do trabalho para a garantia e a manutenção dos interesses imperiais do capital “como continuidade histórica e como estruturas dialeticamente interatuantes” (Santos, 2000, p.129)

Tabela 3-Crescimento da produtividade total e da mudança estrutural(efeito deslocamento estático) dos setores da manufatura entre 1998 e 2014

Efeito Absoluta(R$) Relativa(%)

Deslocamento estático -450 -1,2%

Total 4470 12

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Ainda constata-se junto a Tabela anterior, que os bens supérfluos, que passam por alta elaboração tecnológica não terão uma tendência de se popularizar nas economias dependentes, reafirmando a ideia de que uma simples incrementação em massa do trabalhador nos setores industriais de baixo nível tecnológico não terá resultado significativo para uma industrialização nos moldes centrais do capitalismo.

Pois bem, ao se concentrar de maneira significativa nos setores produtores de bens supérfluos, o desenvolvimento tecnológico acabaria por colocar graves problemas de realização. O recurso utilizado para solucioná-los tem sido o de fazer a intervenção do Estado (por meio da ampliação do aparato burocrático, das subvenções aos produtores e do financiamento ao consumo supérfluo), assim como fazer intervir na inflação, com o propósito de transferir poder de compra da esfera baixa para a esfera alta da circulação; isso implicou em rebaixar ainda mais os salários reais, com o objetivo de contar com excedentes suficientes para efetuar a transferência de renda. Mas, na medida em que se comprime dessa forma a capacidade de consumo dos trabalhadores, é fechada qualquer possibilidade de estímulo ao investimento tecnológico no setor de produção destinado a atender o consumo popular. Não pode ser, portanto, motivo de surpresa que, enquanto as indústrias de bens supérfluo crescem a taxas elevadas, as indústrias orientadas para o consumo de massas (as chamadas "indústrias tradicionais") tendem à estagnação e inclusive à regressão. (Marini, 1973, p.26)

Da construção teórica até o presente momento, afirma-se haver um processo de desindustrialização em curso no Brasil, e mais ainda, um que apresenta instabilidades conforme o contexto internacional de competição e reorganização das empresas transnacionais, onde esse acirramento da concorrência mundial irá corroer o setor manufatureiro brasileiro, e como consequência, a expansão continuada da demanda interna por manufaturados dará lugar a uma crescente importação desses bens, argumenta-se ainda que a superexploração do trabalho nos países dependentes também reafirma o distanciamento de consumo entre as classes extremas, ainda que o modelo industrial dependente pode se expressar sob a forma de uma economia exportadora, um mercado interno de consumo de bens supérfluos frágil, volta-se novamente para o mercado externo, as produções pautadas em baixos salários, aumento de produção e elevação do progresso técnico, estimula a saída de transnacionais mantendo aqui apenas a rentabilidade do capital já investido, portanto, oscilações e crises no mercado internacional, assim como os conflitos e antagonismos entre as burguesias nacionais a fim de atender as demandas do imperialismo, são fatores que devem ser levados na consideração do processo de desindustrialização brasileira.

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4 Governos petistas, burguesia industrial interna e o golpe

4.1 Formação industrial e burguesa

A fim de finalizar o raciocínio acerca da desindustrialização brasileira e suas características dependentes e subimperialistas, o próximo passo será o de analisar os governos do período demarcado a partir da atuação de uma fração burguesa composta pelo FIESP/CNI e ABIMAQ, e como suas movimentações e conflitos políticos expressam as contradições históricas do capitalismo dependente, e que a desindustrialização no país, é inclusive um reflexo da subordinação ao imperialismo, inclusive como posição subimperialista.

Para a compreensão dos períodos políticos aqui abordados, as disputas internas das frações burguesas são importantes para compreendermos o cenário político atual. Tendo como cenário o início da industrialização brasileira e como prioridade o atendimento de seus interesses pelo Estado, a existência de um mercado interno que necessitava de bens de consumo não duráveis em um contexto de guerras europeias somadas as crises cíclicas do capitalismo, como a de 1929, despertam nas burguesias agrárias mercantis tradicionais e nas burguesias industriais ascendentes da época interesses em desenvolver-se uma indústria de base sob seus comandos, porém, condicionada obviamente aos interesses externos.

Contradições entre si, desde então, como políticas divergentes sobre o câmbio e o crédito e a tentativa de assegurar, através do Estado, o desenvolvimento desses setores base para a indústria, são os palcos de disputa interna, e como mecanismo político, a burguesia industrial em formação lançará mão das populações urbanas que estão em crescimento no período para concretizar essa conquista. Marcado pelo “populismo” não só no Brasil, mas em boa parte e mais intenso em outros países da América Latina como Perón na Argentina por exemplo, o desenvolvimento industrial tem como necessidade a implementação da indústria pesada, e dessa necessidade surge também entraves capitalistas, ou seja, a ampliação do consumo de bens não-duráveis e a transferência de capital do setor exportador se fazem necessárias para obtenção e manutenção do capital excedente de investimento, com isso, o setor exportador e barreiras alfandegárias necessitavam de mudanças, porém, tais alterações interferiam diretamente nos interesses agrário exportador e no risco de haver

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absorção das indústrias nacionais pelas internacionais a fim de monopolizar o mercado. A saída para estes entraves? O apelo popular através das classes médias e do proletariado.

E qual a relação deste período com o circunscrito neste trabalho? Pode-se afirmar que através do nacionalismo de governos latinos do período, na tentativa de instaurar uma indústria de base nas economias dependentes, são marcadas de um posicionamento de contorno às imposições e restrições imperialistas Marini (1973 p.58). A composição dos governos Lula e Dilma, refletem uma burguesia interna composta pelos setores do agronegócio, estatais, indústria, bancos e construção civil a fim de buscar garantias e a proteção do Estado frente ao capital estrangeiro, portanto, uma postura segundo (Berringer; Belasques 2020 p.157) de subordinação conflitiva, assim como no início da industrialização, e que tentam buscar alternativas ao neoliberalismo ortodoxo dos governos antecessores a 2003.

Comparada as atuações dos governos anteriores ao de Lula, marcado pela subordinação passiva (Berringer; Belasques 2020 p. 157),ampliar no caso do governo Lula, as relações com economias dependentes da América Latina como a expansão do Mercosul, a construção dos BRICS e a aproximação com o Estado Chinês, traçando assim uma margem de manobra nas relações com o imperialismo estadunidense, também caracterizam essa disputa com o capital imperialista e com as antigas classes dominantes que a burguesia industrial ascendente brasileira se encontrava na primeira metade do século XX, as agrárias exportadoras.

Portanto, afirma-se que as gestões petistas têm como objetivo retomar o crescimento econômico do capitalismo brasileiro através da maior presença do Estado via financiamentos, maiores proteções e intervenção direta, que aliás, a partir de consequências negativas para estes setores da burguesia industrial durante o modelo neoliberal ortodoxo dos governos anteriores como abertura comercial, desnacionalização e desindustrialização brasileira, é que se firma a aproximação dessas burguesias ao governo de Lula inicialmente. Desta forma, a aproximação se expressa através dos interesses em determinar expansões de investimentos em infraestrutura, por novos mercados de exportação e pela internacionalização de empresas brasileiras, retomando a partir disso o caráter já citado aqui de uma burguesia subordinada conflitiva com o imperialismo.

No período do governo Dilma, as associações empresariais e concomitantemente a redução da taxa Selic, a diferença entre a taxa de empréstimo e a taxa de captação dos bancos (spread bancário) e a desvalorização do real ao dólar, foram medidas a fim de fomentar a contribuição do setor industrial para o PIB, já nos governos Lula, as políticas foram a favor do favorecimento dos

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interesses da grande burguesia interna compradora e do capital financeiro internacional, ou seja, o financiamento com juros subsidiados destinados às empresas que se tornaram internacionais e àquelas exportadoras foram a marca de seu governo:

[…] o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a mudança do regime de exploração do petróleo ― de concessão para partilha ―, o fortalecimento da indústria de construção naval, a exigência de porcentagens mínimas de produtos locais nas compras governamentais, a criação de novas empresas estatais nos ramos de infraestrutura e tecnologia, a busca por mercados para exportação, a criação do BNDESpar ― subsidiária do BNDES para apoio e financiamento às fusões e aquisições de empresas ―, o incentivo à internacionalização de empresas e a política de formação das ―campeãs nacionais. (Berringer, 2015, p. 3)

Argumenta-se, portanto, que o caráter neoliberal moderado dos governos Petistas tiveram bons resultados na balança comercial total da economia e do setor manufatureiro da indústria até meados de 2007 como vimos no Gráfico 4 pág. 22.

Aproximação de setores populares

E porquê moderado? A partir do exposto e da constatação da relação próxima entre o governo inicial do PT e das burguesias internas, fica a impressão de um caráter neoliberal ortodoxo do governo, porém, também houve importantes políticas de ampliação do crédito, aumento real do salário-mínimo, diminuição do desemprego e etc, ou seja, fortaleceu-se principalmente as frações baixas da classe média urbana, dos empregados não formais, desempregados e do campesinato assentado. Grupos sindicais como a Força Sindical e CUT são exemplos de aproximação do governo às classes populares, concomitantemente, a expansão do Programa Bolsa Família e do Programa Fome Zero são também marcos importantes para superação dos níveis de extrema pobreza no país. O programa nacional de habitação “minha casa minha vida” atendeu aos anseios das populações urbanas por moradia, e no campo, o trabalhador assalariado e a base assentada do MST usufruíram de aumento de financiamentos à agricultura familiar e programas de compra da produção de alimentos, porém, a ampliação de assentamentos não teve significativo aumento, pior, houve um favorecimento do setor agrário. No campo educacional destaca-se as universidades federais e as políticas afirmativas de ingresso nas universidades públicas através do Prouni. Berringer (2015 p. 135).

Em resumo, podemos afirmar que como consequência dessa associação entre o governo Lula (2003 – 2010) e a burguesia interna, resultam práticas de inserção no mercado externo global, característica importante para delinearmos o caráter dependente do capitalismo brasileiro e da indústria, e como tais práticas políticas repercutem sobre a burguesia industrial a ponto dela tomar

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posturas econômicas de conciliação, garantindo e intensificando o processo de desindustrialização, a partir dos governos Dilma (2011 – 2016) e do governo Temer (2016-2018):

(i) o apoio do Estado para a conquista de novos mercados para exportação de seus produtos e para a realização de investimentos diretos no exterior; (ii) a prioridade para os seus produtos e serviços nas compras do Estado e das empresas estatais e (iii) uma maior proteção do Estado para o mercado interno. Para nós, foi justamente por isso que os principais focos de atuação internacional do Estado brasileiro foram: (i) a ênfase nas relações Sul-Sul; (ii) a prioridade dada à América do Sul; (iii) a Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) e (iv) as negociações e o arquivamento da proposta da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) (Boito Jr e Berringer 2013, p. 34 e 35)

4.2 Governo Dilma e o conflito.

Apesar da integração regional implementada no governo Dilma através do BRICS e da expansão nas relações entre as economias dependentes, ou seja, da continuidade das políticas do governo Lula, menores taxas de crescimento principalmente composta pela queda de exportação de commodities no período pós 2011, é que define onde começam os indícios das críticas da burguesia interna ao governo petista. Intensificado pelas manifestações de 2013 e as demais do período, a mesma burguesia que se aproximou do governo, agora é crítica das políticas do governo Dilma, impactadas pela crise interna e externa, se associam a grupos neoliberais ortodoxos como as burguesias de capital financeiro e externo, pela alta classe média, contando ainda com o apoio da imprensa e é claro do imperialismo, burguesia interna esta que apoia e se beneficia do golpe de 2016 Berringer e Forlini (2018 p. 8).

Como pano de fundo tem-se o ano de 2016 e um clima hostil aos governos do PT pautados, sobretudo, por parte das altas classes médias e da burguesia associada ao imperialismo, por outro, a burguesia interna já citada e as frações populares. Práticas como a redução de Impostos sobre Produtos Industrializados desagradaram tanto a parcela imperialista quanto a burguesia nacional associada da fração industrial, a intensificação da crise financeira internacional, as medidas de controle da dívida do setor público e de financiamentos do BNDES, o aumento de greves e a continuidade no aumento do salário-mínimo, também foram fatores importantes para o distanciamento da burguesia industrial interna em relação ao governo e pela aproximação da oposição neoliberal ortodoxa.

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E como pano de fundo internacional temos 6 fatores que incomodam essa burguesia manufatureira:

1) a diminuição do PIB; 2) o aumento das barreiras comerciais da Argentina dado a crise econômica e política e a necessidade de proteger a sua indústria; 3) a ofensiva imperialista que incentivou a criação da Aliança para o Pacífico como uma forma de disputar o projeto do Mercosul e da Unasul, e o papel da China; 4) o Golpe de Estado no Paraguai, dando início à crise do período de governos “progressistas” ou neodesenvimentistas na região; 5) a entrada da Venezuela no Mercosul e o aprofundamento da crise política naquele país; 6) o aumento das importações chinesas na região que disputou mercado com a burguesia brasileira. (Berringer; Forlini, 2018, p. 9)

Como crítica central ao governo de Dilma o fator decisivo de mudança de lado por parte da burguesia industrial seria a acusação de caráter “ideológico” das políticas externas, sendo que o caráter anti-imperialista de governos como de Chávez e Maduro seriam inadmissíveis dentro do Mercosul, desta forma, há uma retomada para o modelo de regionalismo aberto característico dos anos 1990, marcado pela ausência de compromissos políticos e sociais endógenos, com isso, retomamos a argumentação de que o caráter do processo de desindustrialização se intensificou justamente no período de abertura comercial dos anos 90, portanto, reatar tais argumentos por parte da burguesia industrial manufatureira é contraditório, concomitante a essas movimentações econômicas, articula-se o golpe, onde é retomada a posição de subordinação uma burguesia industrial passiva frente ao imperialismo estadunidense, exemplificado através de tais medidas:

1) reaproximação com os Estados Unidos, com o treinamento conjunto das forças armadas na Amazônia, a renegociação da base de Alcântara no Maranhão, a venda da Embraer para a Boeing; 2) e a ênfase conferida à renegociação do acordo Mercosul-UE; 3) o desmantelamento da política de integração regional que tem transformado o Mercosul em um mero processo de integração comercial e tem paralisado a dinâmica interna da Unasul (com a suspensão da participação nesta iniciativa ao lado dos Estados argentino, paraguaio, chileno, peruano e colombiano, através do alinhamento com ou da oposição ao governo venezuelano), recolocando, portanto, o regionalismo aberto como modelo de integração regional; 4) o esvaziamento do conteúdo político dos BRICS, principalmente no que concerne a uma nova estratégia de relações com a China, que passa a ser a principal investidora em obras públicas e área estratégicas; 5) término das políticas de cooperação sul-sul como a política de combate à fome com os Estados africanos; 6) sinalizações de subordinação marcantes e reversas ao sentido da política externa altiva - como a candidatura brasileira para a entrada na OCDE, a adesão do protocolo adicional do Tratado de Não Proliferação de Armas (TNP), entre outras. (Berringer; Forlini, 2018, p. 10)

Outro ponto contraditório desta burguesia é que durante o período inicial de debate sobre os certames do acordo Mercosul-UE, a burguesia industrial composta pela FIESP e pelo CNI se opunham, tendo em vista os riscos que corriam durante a abertura econômica nos governos de

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Fernando Henrique Cardoso, enquanto isso o setor de agronegócios se colocava a favor da integração. Conforme as crises econômicas internacionais e internas, além dos posicionamentos “ideológicos” do governo Dilma, FIESP e CNI começam a mudar seu posicionamento frente a integração Mercosul-UE a fim de apoiá-la:

O acordo MERCOSUL-União Europeia é uma prioridade imediata da política externa brasileira e deve ser finalizado até o início de 2015. O acordo poderá também ser efetivado, por parte do MERCOSUL, em velocidades distintas, por meio de listas e cronogramas de desgravação diferenciados, com vistas, futuramente, à convergência normativa entre os membros do bloco (FIESP, 2014, p.4).

Porém, a ABIMAQ, por estar ligada a processos produtivos com a Petrobras e devido aos altos investimentos na estatal durante os governos Lula e Dilma, a associação se posicionou contrária a integração Mercosul-UE inclusive após o golpe, afirmando que as práticas de acordos internacionais devem ser pautadas com mercados compatíveis ao brasileiro, ou seja, entre economias dependentes.

Diante do diferente posicionamento da burguesia composta pela FIESP e CNI durante o período de retração econômica, associado às intensas manifestações do período contrária ao PT, levanta-se a hipótese de que o histórico da burguesia industrial que se forma no Brasil é composto pela sua associação aos interesses imperialistas em momentos de crises internas e externas como expostos pelos gráficos, sendo que os períodos em que o capitalismo central se encontra em crise e necessita de reajustes da exploração, burguesias dependentes como exemplificadas aqui estão mais do que dispostas a cederem boa parte da parcela de seus lucros obtidos através da superexploração do trabalho e transferência de renda, associando-se internamente às burguesias tradicionais agrárias exportadoras, portanto, junto ao caráter dos interesses externos e dos conflitos internos, existe o processo de desindustrialização no Brasil para o período em questão.

Referências

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