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Formação industrial e burguesa

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO (páginas 31-34)

A fim de finalizar o raciocínio acerca da desindustrialização brasileira e suas características dependentes e subimperialistas, o próximo passo será o de analisar os governos do período demarcado a partir da atuação de uma fração burguesa composta pelo FIESP/CNI e ABIMAQ, e como suas movimentações e conflitos políticos expressam as contradições históricas do capitalismo dependente, e que a desindustrialização no país, é inclusive um reflexo da subordinação ao imperialismo, inclusive como posição subimperialista.

Para a compreensão dos períodos políticos aqui abordados, as disputas internas das frações burguesas são importantes para compreendermos o cenário político atual. Tendo como cenário o início da industrialização brasileira e como prioridade o atendimento de seus interesses pelo Estado, a existência de um mercado interno que necessitava de bens de consumo não duráveis em um contexto de guerras europeias somadas as crises cíclicas do capitalismo, como a de 1929, despertam nas burguesias agrárias mercantis tradicionais e nas burguesias industriais ascendentes da época interesses em desenvolver-se uma indústria de base sob seus comandos, porém, condicionada obviamente aos interesses externos.

Contradições entre si, desde então, como políticas divergentes sobre o câmbio e o crédito e a tentativa de assegurar, através do Estado, o desenvolvimento desses setores base para a indústria, são os palcos de disputa interna, e como mecanismo político, a burguesia industrial em formação lançará mão das populações urbanas que estão em crescimento no período para concretizar essa conquista. Marcado pelo “populismo” não só no Brasil, mas em boa parte e mais intenso em outros países da América Latina como Perón na Argentina por exemplo, o desenvolvimento industrial tem como necessidade a implementação da indústria pesada, e dessa necessidade surge também entraves capitalistas, ou seja, a ampliação do consumo de bens não-duráveis e a transferência de capital do setor exportador se fazem necessárias para obtenção e manutenção do capital excedente de investimento, com isso, o setor exportador e barreiras alfandegárias necessitavam de mudanças, porém, tais alterações interferiam diretamente nos interesses agrário exportador e no risco de haver

absorção das indústrias nacionais pelas internacionais a fim de monopolizar o mercado. A saída para estes entraves? O apelo popular através das classes médias e do proletariado.

E qual a relação deste período com o circunscrito neste trabalho? Pode-se afirmar que através do nacionalismo de governos latinos do período, na tentativa de instaurar uma indústria de base nas economias dependentes, são marcadas de um posicionamento de contorno às imposições e restrições imperialistas Marini (1973 p.58). A composição dos governos Lula e Dilma, refletem uma burguesia interna composta pelos setores do agronegócio, estatais, indústria, bancos e construção civil a fim de buscar garantias e a proteção do Estado frente ao capital estrangeiro, portanto, uma postura segundo (Berringer; Belasques 2020 p.157) de subordinação conflitiva, assim como no início da industrialização, e que tentam buscar alternativas ao neoliberalismo ortodoxo dos governos antecessores a 2003.

Comparada as atuações dos governos anteriores ao de Lula, marcado pela subordinação passiva (Berringer; Belasques 2020 p. 157),ampliar no caso do governo Lula, as relações com economias dependentes da América Latina como a expansão do Mercosul, a construção dos BRICS e a aproximação com o Estado Chinês, traçando assim uma margem de manobra nas relações com o imperialismo estadunidense, também caracterizam essa disputa com o capital imperialista e com as antigas classes dominantes que a burguesia industrial ascendente brasileira se encontrava na primeira metade do século XX, as agrárias exportadoras.

Portanto, afirma-se que as gestões petistas têm como objetivo retomar o crescimento econômico do capitalismo brasileiro através da maior presença do Estado via financiamentos, maiores proteções e intervenção direta, que aliás, a partir de consequências negativas para estes setores da burguesia industrial durante o modelo neoliberal ortodoxo dos governos anteriores como abertura comercial, desnacionalização e desindustrialização brasileira, é que se firma a aproximação dessas burguesias ao governo de Lula inicialmente. Desta forma, a aproximação se expressa através dos interesses em determinar expansões de investimentos em infraestrutura, por novos mercados de exportação e pela internacionalização de empresas brasileiras, retomando a partir disso o caráter já citado aqui de uma burguesia subordinada conflitiva com o imperialismo.

No período do governo Dilma, as associações empresariais e concomitantemente a redução da taxa Selic, a diferença entre a taxa de empréstimo e a taxa de captação dos bancos (spread bancário) e a desvalorização do real ao dólar, foram medidas a fim de fomentar a contribuição do setor industrial para o PIB, já nos governos Lula, as políticas foram a favor do favorecimento dos

interesses da grande burguesia interna compradora e do capital financeiro internacional, ou seja, o financiamento com juros subsidiados destinados às empresas que se tornaram internacionais e àquelas exportadoras foram a marca de seu governo:

[…] o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a mudança do regime de exploração do petróleo ― de concessão para partilha ―, o fortalecimento da indústria de construção naval, a exigência de porcentagens mínimas de produtos locais nas compras governamentais, a criação de novas empresas estatais nos ramos de infraestrutura e tecnologia, a busca por mercados para exportação, a criação do BNDESpar ― subsidiária do BNDES para apoio e financiamento às fusões e aquisições de empresas ―, o incentivo à internacionalização de empresas e a política de formação das ―campeãs nacionais. (Berringer, 2015, p. 3)

Argumenta-se, portanto, que o caráter neoliberal moderado dos governos Petistas tiveram bons resultados na balança comercial total da economia e do setor manufatureiro da indústria até meados de 2007 como vimos no Gráfico 4 pág. 22.

Aproximação de setores populares

E porquê moderado? A partir do exposto e da constatação da relação próxima entre o governo inicial do PT e das burguesias internas, fica a impressão de um caráter neoliberal ortodoxo do governo, porém, também houve importantes políticas de ampliação do crédito, aumento real do salário-mínimo, diminuição do desemprego e etc, ou seja, fortaleceu-se principalmente as frações baixas da classe média urbana, dos empregados não formais, desempregados e do campesinato assentado. Grupos sindicais como a Força Sindical e CUT são exemplos de aproximação do governo às classes populares, concomitantemente, a expansão do Programa Bolsa Família e do Programa Fome Zero são também marcos importantes para superação dos níveis de extrema pobreza no país. O programa nacional de habitação “minha casa minha vida” atendeu aos anseios das populações urbanas por moradia, e no campo, o trabalhador assalariado e a base assentada do MST usufruíram de aumento de financiamentos à agricultura familiar e programas de compra da produção de alimentos, porém, a ampliação de assentamentos não teve significativo aumento, pior, houve um favorecimento do setor agrário. No campo educacional destaca-se as universidades federais e as políticas afirmativas de ingresso nas universidades públicas através do Prouni. Berringer (2015 p. 135).

Em resumo, podemos afirmar que como consequência dessa associação entre o governo Lula (2003 – 2010) e a burguesia interna, resultam práticas de inserção no mercado externo global, característica importante para delinearmos o caráter dependente do capitalismo brasileiro e da indústria, e como tais práticas políticas repercutem sobre a burguesia industrial a ponto dela tomar

posturas econômicas de conciliação, garantindo e intensificando o processo de desindustrialização, a partir dos governos Dilma (2011 – 2016) e do governo Temer (2016-2018):

(i) o apoio do Estado para a conquista de novos mercados para exportação de seus produtos e para a realização de investimentos diretos no exterior; (ii) a prioridade para os seus produtos e serviços nas compras do Estado e das empresas estatais e (iii) uma maior proteção do Estado para o mercado interno. Para nós, foi justamente por isso que os principais focos de atuação internacional do Estado brasileiro foram: (i) a ênfase nas relações Sul-Sul; (ii) a prioridade dada à América do Sul; (iii) a Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) e (iv) as negociações e o arquivamento da proposta da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) (Boito Jr e Berringer 2013, p. 34 e 35)

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO (páginas 31-34)

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