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Governo Dilma e o conflito

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO (páginas 34-40)

Apesar da integração regional implementada no governo Dilma através do BRICS e da expansão nas relações entre as economias dependentes, ou seja, da continuidade das políticas do governo Lula, menores taxas de crescimento principalmente composta pela queda de exportação de commodities no período pós 2011, é que define onde começam os indícios das críticas da burguesia interna ao governo petista. Intensificado pelas manifestações de 2013 e as demais do período, a mesma burguesia que se aproximou do governo, agora é crítica das políticas do governo Dilma, impactadas pela crise interna e externa, se associam a grupos neoliberais ortodoxos como as burguesias de capital financeiro e externo, pela alta classe média, contando ainda com o apoio da imprensa e é claro do imperialismo, burguesia interna esta que apoia e se beneficia do golpe de 2016 Berringer e Forlini (2018 p. 8).

Como pano de fundo tem-se o ano de 2016 e um clima hostil aos governos do PT pautados, sobretudo, por parte das altas classes médias e da burguesia associada ao imperialismo, por outro, a burguesia interna já citada e as frações populares. Práticas como a redução de Impostos sobre Produtos Industrializados desagradaram tanto a parcela imperialista quanto a burguesia nacional associada da fração industrial, a intensificação da crise financeira internacional, as medidas de controle da dívida do setor público e de financiamentos do BNDES, o aumento de greves e a continuidade no aumento do salário-mínimo, também foram fatores importantes para o distanciamento da burguesia industrial interna em relação ao governo e pela aproximação da oposição neoliberal ortodoxa.

E como pano de fundo internacional temos 6 fatores que incomodam essa burguesia manufatureira:

1) a diminuição do PIB; 2) o aumento das barreiras comerciais da Argentina dado a crise econômica e política e a necessidade de proteger a sua indústria; 3) a ofensiva imperialista que incentivou a criação da Aliança para o Pacífico como uma forma de disputar o projeto do Mercosul e da Unasul, e o papel da China; 4) o Golpe de Estado no Paraguai, dando início à crise do período de governos “progressistas” ou neodesenvimentistas na região; 5) a entrada da Venezuela no Mercosul e o aprofundamento da crise política naquele país; 6) o aumento das importações chinesas na região que disputou mercado com a burguesia brasileira. (Berringer; Forlini, 2018, p. 9)

Como crítica central ao governo de Dilma o fator decisivo de mudança de lado por parte da burguesia industrial seria a acusação de caráter “ideológico” das políticas externas, sendo que o caráter anti-imperialista de governos como de Chávez e Maduro seriam inadmissíveis dentro do Mercosul, desta forma, há uma retomada para o modelo de regionalismo aberto característico dos anos 1990, marcado pela ausência de compromissos políticos e sociais endógenos, com isso, retomamos a argumentação de que o caráter do processo de desindustrialização se intensificou justamente no período de abertura comercial dos anos 90, portanto, reatar tais argumentos por parte da burguesia industrial manufatureira é contraditório, concomitante a essas movimentações econômicas, articula-se o golpe, onde é retomada a posição de subordinação uma burguesia industrial passiva frente ao imperialismo estadunidense, exemplificado através de tais medidas:

1) reaproximação com os Estados Unidos, com o treinamento conjunto das forças armadas na Amazônia, a renegociação da base de Alcântara no Maranhão, a venda da Embraer para a Boeing; 2) e a ênfase conferida à renegociação do acordo Mercosul-UE; 3) o desmantelamento da política de integração regional que tem transformado o Mercosul em um mero processo de integração comercial e tem paralisado a dinâmica interna da Unasul (com a suspensão da participação nesta iniciativa ao lado dos Estados argentino, paraguaio, chileno, peruano e colombiano, através do alinhamento com ou da oposição ao governo venezuelano), recolocando, portanto, o regionalismo aberto como modelo de integração regional; 4) o esvaziamento do conteúdo político dos BRICS, principalmente no que concerne a uma nova estratégia de relações com a China, que passa a ser a principal investidora em obras públicas e área estratégicas; 5) término das políticas de cooperação sul-sul como a política de combate à fome com os Estados africanos; 6) sinalizações de subordinação marcantes e reversas ao sentido da política externa altiva - como a candidatura brasileira para a entrada na OCDE, a adesão do protocolo adicional do Tratado de Não Proliferação de Armas (TNP), entre outras. (Berringer; Forlini, 2018, p. 10)

Outro ponto contraditório desta burguesia é que durante o período inicial de debate sobre os certames do acordo Mercosul-UE, a burguesia industrial composta pela FIESP e pelo CNI se opunham, tendo em vista os riscos que corriam durante a abertura econômica nos governos de

Fernando Henrique Cardoso, enquanto isso o setor de agronegócios se colocava a favor da integração. Conforme as crises econômicas internacionais e internas, além dos posicionamentos “ideológicos” do governo Dilma, FIESP e CNI começam a mudar seu posicionamento frente a integração Mercosul-UE a fim de apoiá-la:

O acordo MERCOSUL-União Europeia é uma prioridade imediata da política externa brasileira e deve ser finalizado até o início de 2015. O acordo poderá também ser efetivado, por parte do MERCOSUL, em velocidades distintas, por meio de listas e cronogramas de desgravação diferenciados, com vistas, futuramente, à convergência normativa entre os membros do bloco (FIESP, 2014, p.4).

Porém, a ABIMAQ, por estar ligada a processos produtivos com a Petrobras e devido aos altos investimentos na estatal durante os governos Lula e Dilma, a associação se posicionou contrária a integração Mercosul-UE inclusive após o golpe, afirmando que as práticas de acordos internacionais devem ser pautadas com mercados compatíveis ao brasileiro, ou seja, entre economias dependentes.

Diante do diferente posicionamento da burguesia composta pela FIESP e CNI durante o período de retração econômica, associado às intensas manifestações do período contrária ao PT, levanta-se a hipótese de que o histórico da burguesia industrial que se forma no Brasil é composto pela sua associação aos interesses imperialistas em momentos de crises internas e externas como expostos pelos gráficos, sendo que os períodos em que o capitalismo central se encontra em crise e necessita de reajustes da exploração, burguesias dependentes como exemplificadas aqui estão mais do que dispostas a cederem boa parte da parcela de seus lucros obtidos através da superexploração do trabalho e transferência de renda, associando-se internamente às burguesias tradicionais agrárias exportadoras, portanto, junto ao caráter dos interesses externos e dos conflitos internos, existe o processo de desindustrialização no Brasil para o período em questão.

5 Conclusão

Contudo, após as exposições dos capítulos, o processo de desindustrialização em uma economia dependente como o Brasil em que apresenta uma desindustrialização sob sua forma clássica, prematura, uma balança comercial do setor industrial de manufatura deficitária que onera a balança comercial total como exposto segundo a “visão de Cambridge”, a diminuição na contribuição do PIB, uma composição do pessoal ocupado em setores de baixo nível tecnológico, quando articulados ao caráter subordinado da burguesia interna representada pelo FIESP e CNI e de sua aproximação aos setores agrários exportadores reforçando e se reinfectando com a “doença Holandesa”, através da compreensão de que muitas das causas da desindustrialização como a relação inversa entre produtividade e emprego são fatores a fim de garantir a reprodução ampliada da mais-valia através da superexploração do trabalho, se fazem necessárias para compreender a formação do capitalismo industrial dependente e de como suas forças produtivas e conflitos internos são enfrentados.

Em resumo, a não ruptura revolucionária a fim de superar o capitalismo, colocará sempre uma condição conciliativa de subordinação passiva ou conflitiva, de cooperação antagônica sobre os países periféricos dependentes. E o que se entende por uma economia dependente?

[...]é uma situação em que um certo grupo de países tem sua economia, condicionada pelo desenvolvimento e expansão de outra economia à qual sua própria está submetida. A relação de interdependência entre duas ou mais economias, e entre elas e o comércio mundial, assume a forma de dependência, quando alguns países (os dominantes) podem se expandir e auto impulsar, enquanto outros países (os dependentes) só podem fazer isso como reflexo dessa expansão, que pode agir de forma positiva ou negativa sobre o seu desenvolvimento imediato. De qualquer forma, a situação básica de dependência leva a uma situação global dos países dependentes, que os coloca em posição de atraso e sob a exploração dos países dominantes. (Santos, 2000, p.379)

Então, a associação da burguesia industrial manufatureira a ponto de se associar ao imperialismo e recorrer ao afago repentino do neoliberalismo ortodoxo, e quem sabe do fascismo, pode culminar em um golpe como em 2016, além é claro de firmar um processo infindo de industrialização precária, que onera a balança comercial e sobrevive sob máquinas, equipamentos e tecnologias obsoletas, portanto, aqui se expõe que um processo de desindustrialização se observado à primeira vista, apenas através de determinações econômicas como nas visões clássicas ou

naquelas em que argumentam que a desindustrialização é exclusivamente precoce, são no mínimo equivocadas.

Pois bem, os três mecanismos identificados — a intensificação do trabalho, a prolongação da jornada de trabalho e a expropriação de parte do trabalho necessário ao operário para repor sua força de trabalho — configuram um modo de produção fundado exclusivamente na maior exploração do trabalhador, e não no desenvolvimento de sua capacidade produtiva. Isso é condizente com o baixo nível de desenvolvimento das forças produtivas na economia latino-americana, mas também com os tipos de atividades que ali se realizam (Marini, 1973, p.12)

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