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Turismo rural na região norte do Estado do Paraná:conceito e prática

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Turismo rural na região norte do Estado do Paraná: conceito e prática Fernando César Manosso, Marcelo Vinícius Salomé e Ayrton Tomilheiro de Carvalho

Resumo

O Turismo Rural tem se consolidado atualmente como uma importante alternativa para os proprietários rurais que apostam na diversificação de suas atividades realizadas no dia-a- dia do campo, sendo que, na maioria das vezes essa atividade é um complemento a renda dessas famílias. Na região Norte do estado do Paraná existe um conjunto de propriedades e/ou empreendimentos turísticos situados no espaço rural que ofertam diversas atividades de lazer e contato com o campo e natureza. Por isso se desperta a necessidade de compreender como essas atividades estão estabelecidas e quais são as reais relações com o turismo rural local. Assim, o presente trabalho tem como objetivo verificar quais atividades são ofertadas nas propriedades e se elas, de fato, condizem com os conceitos de turismo rural apresentados por instituições e referenciais bibliográficos. A partir de questionários aplicados em propriedades da região, que oferecem serviços turísticos no espaço rural, percebeu-se que muitas de suas atividades não são características de um turismo rural e que somente em parte das propriedades entrevistadas e das atividades verificadas, existe um real contato do visitante com o cotidiano do campo.

Palavras-chave: Turismo rural; norte do Paraná; agronegócios e empreendimentos rurais.

Abstract

The Rural Tourism has now consolidated as an important alternative for landowners who bet on the diversification of its activities on a day-to-day life of the Field. and, in most case this activity is a complement to income of these families. In the northern state of Parana is a set of properties and / or tourism enterprises located in rural areas that offer various leisure activities and contact with the field and nature. So if the need arises to understand how these activities are established and what are the real relationships with the local tourism.

Thus, this work aims to determine which activities are offered as properties and if they, in fact, agree with the concepts of rural tourism presented by institutions and references. From questionnaires applied to properties in the region, offering tourist services in rural areas showed that many of its activities are not characteristic of a rural tourism and that only part of the properties interviewed and observed the activities, there is a real contact Visitor with the daily life of the field.

Key-words: Rural tourism; northern of Paraná; agribusiness and rural enterprises.

www.ivt -rj.net

Laboratório de Tecnologia e Desenvolvimento Social

LTDS

Turismo rural na região norte do Estado do Paraná:

conceito e prática

Fernando César Manosso*

Marcelo Vinícius Salomé**

Ayrton Tomilheiro de Carvalho***

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D E C A R

Turismo rural na região norte do Estado do Paraná: conceito e prática Fernando César Manosso, Marcelo Vinícius Salomé e Ayrton Tomilheiro de Carvalho

*Geógragrafo, Mestre em Analise Ambiental pelo Programa de Pós- Graduação em Geografia (Mestrado) da Universidade Estadual de Maringá.

Professor Colaborador do Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Maringá e Professor da Faculdade de A p u c a r a n a - P R . f m a n o s s o @ y a h o o . c o m . b r

**Acadêmico do curso de Turismo da Faculdade de Apucarana.

m v s 1 2 7 9 @ b o l . c o m . b r

***Acadêmico do curso de Turismo da Faculdade de Apucarana.

tom.carvalho@hotmail.com

Introdução

Em razão do crescimento da demanda pelo turismo rural por parte das pessoas e da necessidade da sociedade moderna buscar descanso e lazer, deve-se evidenciar o grande potencial que o espaço rural possui, principalmente práticas de lazer dentro de propriedades rurais e empreendimentos que oferecem serviços turísticos em contato com o campo/natureza.

Na região Norte do estado do Paraná existe um conjunto de propriedades ou empreendimentos turísticos situados no espaço rural que ofertam diversas atividades de lazer e contato com o campo e natureza, e por isso se desperta a necessidade de compreender quais são as atividades ofertadas e qual a sua real relação com o turismo rural.

O turismo rural é uma atividade desenvolvida no campo, incluindo nesse cenário, o agricultor, suas características culturais e técnicas de manuseio da terra, além dos costumes, crenças, valores e o seu comprometimento com a atividade rural produtiva.

Toda essa estrutura tem agregado valores a seus produtos e serviços e resgatando tanto o patrimônio cultural e natural da comunidade onde está localizado.

Turismo Rural

O fenômeno turístico, difundido em todo mundo, teve uma evolução significativa a partir do século XX, sobretudo por conta do aumento do tempo livre das pessoas (conquistas trabalhistas) e dos avanços tecnológicos nos meios de comunicação e transporte, e hoje se apresenta bastante diversificado, dividido entre variadas tipologias.

Em se tratando do turismo rural, ele é caracterizado como um segmento importante do turismo e teve seu início na Europa, não como uma nova opção de

lazer, pois movimentos cidade/campo de férias foram característicos durante séculos.

Hoje, esses deslocamentos possuem dimensões econômicas que o diferenciam (Rodrigues, 2000).

De acordo com a Organização Mundial do Turismo - OMT e pelo Instituto Brasileiro de Turismo/Embratur, o turismo rural, surgiu nos Estados Unidos nas propriedades denominadas "Ranchos", propriedades que localizavam-se em lugares distantes, de difícil acesso, desprovidos de infra-estrutura hoteleira, mas recebiam caçadores e pescadores que se deslocavam para o local em temporadas de caça.

Cavaco (1996), por exemplo, relata que casais jovens com crianças e adultos com mais de cinqüenta anos, residentes em grandes cidades na Alemanha, tornam o turismo rural importante, pois procuram explorações agrícolas rústicas.

Barreira (1998), também relata que na Argentina, especificamente na região da Patagônia, observou-se que o turismo rural encontra-se em um estágio preliminar de desenvolvimento. Já no Uruguai o mesmo autor descreve que mulheres e filhos de proprietários apresentam-se como importantes peças na organização e administração das atividades, e destaca o fomento do associativismo, com a oferta de pacotes complementares entre os diversos estabelecimentos.

No mesmo sentido da problemática, Rodrigues (2000) explica que não tem como datar o inicio da atividade de turismo rural no Brasil, devido a grande extensão territorial, tal atividade se torna nova, quando comparada ao modelo "sol e praia" e o "ecoturismo". Sabe-se que as primeiras iniciativas descritas ocorreram no município de Lages, no planalto de Santa Catarina, em 1986, quando uma fazenda se propôs a acolher visitantes para passar

"um dia no campo".

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O espaço rural brasileiro e as próprias propriedades rurais têm passado por inúmeras e profundas transformações nas últimas décadas, como a modernização agrícola e modificação na estrutura agrária, as quais dinamizaram rapidamente as características do campo, contribuindo para que as mesmas, não possam ser consideradas essencialmente agrícolas. Dessa forma, as atividades não ligadas ao meio agrícola, são formas e alternativas de complementar a renda das propriedades rurais, dentre elas podemos destacar as atividades ligadas ao lazer e esporte, meio ambiente, culinária e gastronomia, hospedagem, prestação de serviços e cultura. Assim, a atividade turística no espaço rural é uma forma de valorizar as propriedades rurais contribuindo para a conservação do patrimônio natural, histórico e cultural no meio rural.

Em busca de um conceito

Existe uma discrepância nos conceitos de turismo rural, a maioria das obras são compostas por estudos de caso, sendo que, grande parte das afirmações nelas contidas, são concordantes somente entre localidades da mesma região, tornando o conhecimento sobre esse assunto uma espécie de mosaico.

Rodrigues (2000), por exemplo, coloca que existe uma imprecisão de conceitos sobre o termo no Brasil, a qual pode estar baseada em parâmetros europeus, apresentando, inclusive equívocos, pois trata-se de espaços rurais com realidades totalmente distintas e complexas.

Apesar da diferença de idéias sobre o assunto, se faz necessário colher pontos em concordância dentre tais conceitos, sendo assim, considera-se algumas definições sobre turismo no espaço rural ou turismo rural:

Segundo a Embratur (1994) citado por Salles (2003) "as múltiplas variedades do Turismo Rural, conceituam como um turismo diferente, turismo interior, turismo doméstico,

turismo integrado, turismo endógeno, alternativo, agroturismo, turismo verde. É o turismo do país, um turismo concebido por e com os habitantes desse país, um turismo que respeita a sua identidade, um turismo de zona rural em todas as suas formas".

Salles (2003) afirma que a definição de Silva, Vilarinho e Dale (2000) é aceita informalmente pela Embratur, na qual contem que turismo rural é uma atividade multidisciplinar que se realiza no meio ambiente, fora de áreas intensamente urbanizadas. Caracteriza-se por empresas turísticas de pequeno porte, que têm no uso da terra a atividade econômica predominante, voltada para práticas agrícolas e pecuárias.

Segundo Cals et al (1995, p.54) que chama a atividade de "agroturismo" a define como a prestação de qualquer serviço turístico, por motivos de férias e com preços, realizado no interior da exploração agrária, que se encontre em plena atividade agrícola, pecuária e florestal".

Outros autores também traduzem o termo de agroturismo mais detalhado como é o exemplo de Graziano da Silva et al.

(1998, p. 14). "atividades internas a propriedade, que geram ocupações complementares às atividades agrícolas, as quais continuam a fazer parte do cotidiano da propriedade, em menor ou maior intensidade, devem ser entendidas como parte de um processo de agregação de serviços aos produtos agrícolas e bens não-materiais existentes nas propriedades rurais (paisagens, ar puro, contato com a natureza, etc.)"

O espaço rural tem ganhado cada vez mais prestígio entre os citadinos no preenchimento do seu "tempo livre"

destinado ao descanso e ao lazer.

São exemplos de empreendimentos associados ao agroturismo: a fazenda-hotel,

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o pesque-pague, a fazenda da caça, a pousada, o restaurante típico, as vendas diretas de produtos locais, o artesanato, a industrialização caseira e outras atividades de lazer associadas a recuperação de um estilo de vida dos moradores do campo.

O ecoturismo é também hoje uma boa opção e muito procurado pelos habitantes das cidades urbanas, para se recuperarem do stress do dia a dia, por essa razão é um dos mais dinâmicos mercados turísticos existentes nos pais e acontece associado ao turismo rural algumas vezes.

Segundo Ceballos Lascurain (1987), citado por Pires (1998, p. 15.) O ecoturismo: "é a realização de uma viagem a áreas naturais que se encontram relativamente sem distúrbios ou contaminação, com o objetivo especifico de estudar, admirar e desfrutar a paisagem, juntamente com as plantas e animais silvestres, assim como qualquer manifestação cultural (passada ou presente) que ocorra nestas áreas".

Com a prática do turismo no âmbito rural a comunidade envolvida pode se beneficiar, pois esta compartilha os benefícios gerados, como a melhoria da infra-estrutura e de serviços públicos, saneamento básico, hospitais, segurança e transporte, aumentando os investimentos no comércio local dentre outros setores.

O Turismo rural como atividade não agrícola e uma perspectiva de desenvolvimento

Em algumas áreas as atividades agrícolas já não geram empregos e renda suficientes para sobrevivência do pequeno produtor rural, assim como sua permanência no campo, por isso, a oferta de serviços e produtos turísticos tem criado novas alternativas para complemento da renda na propriedade.

Segundo Graziano da Silva et al (1997) o turismo rural pode representar um importante

indutor da promoção e disseminação de atividades não agrícolas no meio rural.

Outras atividades que também caracterizam outras fontes de rendas não- agrícola são os artesanatos, as expressões culturais e as festas, por exemplo.

Estas atividades, com o passar do tempo foram adquirindo uma importância muito significativa, tanto na economia, com a geração de empregos e renda nas propriedades rurais. Estas atividades, que antes eram consideradas sem grande importância, passaram a formar verdadeiras cadeias de produção, envolvendo vários setores como agroindústrias, serviços, comunicação, dentre outras.

O turismo rural, sendo uma importante atividade não-agrícola, é uma forma de atividade que permite um melhor aproveitamento da propriedade rural, auxiliando o agricultor a agregar valores tanto aos produtos ou serviços produzidos dentro de sua propriedade, conseqüentemente gerando renda e emprego para as famílias rurais e de entorno.

Os proprietários rurais desenvolveram outros tipos de atrativos para serem ofertados aos visitantes como forma de atrair mais turistas para suas propriedades e entorno como, por exemplo, passeios a cavalo, vivenciar uma rotina de trabalho no campo, comer uma comida típica feita no fogão a lenha, a própria ordenha da vaca no curral, e desse modo criaram alternativas para suprir a falta de renda e agregar maior valor aos produtos e serviços ofertados.

Para Campanhola e Silva (1999), o turismo rural é um vetor de desenvolvimento.

O desenvolvimento regional ou local constitui umas das alternativas mais viáveis para se enfrentar os desafios da globalização.

Embora tenda a padronizar produtos, padrões de consumo, hábitos e costumes em prol da eficiência e da produtividade, a

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globalização reforça o local, no sentido de que estimula a organização comunitária, para que encontre o seu caminho de sustentabilidade.

Devido às condições impostas pelo processo de globalização vigente atualmente, o local e o regional necessita aproveitar ao máximo seus diversos potenciais para que este não seja excluído do processo de desenvolvimento e para que encontre seu próprio caminho de sustentabilidade.

No caso da região Norte do estado do Paraná, as características do espaço rural apresentam um importante potencial a ser aproveitado no âmbito do turismo, onde cada propriedade pode criar produtos específicos, valorizando a cultura local, a paisagem e os modelos de produção.

no espaço rural na região Norte do estado do Paraná e confrontá-las com o próprio conceito de turismo rural.

Materiais e métodos

Após um levantamento bibliográfico sobre o tema, sobretudo sobre os conceitos e classificação do turismo rural no Brasil, procurou-se confrontar as características conceituais do turismo rural com a realidade dos empreendimentos turísticos situados no espaço rural da região Norte do estado do Paraná.

Para isso selecionou-se alguns empreendimentos situados no espaço rural ou que ofertam seus serviços como empreendimento de turismo rural no Norte do estado do Paraná.

Quadro 1. Lista de propriedades para as quais o questionário foi enviado:

Assim, nesse trabalho, objetivou-se descrever e avaliar os tipos de atividades que são oferecidas por empreendimentos turísticos

Procurou-se selecionar o máximo de propriedades existentes na região, no entanto, acredita-se que existam mais

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propriedades que não foram contatadas, principalmente porque as mesmas não são divulgadas pelos meios que utilizou-se como método de busca, que foram prefeituras, internet e lista telefônica.

Para todas as propriedades listadas no quadro abaixo (Quadro 1) foi enviado um questionário de questões fechadas, primeiramente via e-mail, não obtendo resposta de imediato, o questionário foi re- enviado e ainda não obtendo resposta, realizou-se telefonemas no intuito de solicitar outro meio de envio do questionário, podendo ser por outro e-mail ou via correio.

No questionário, procurou-se inserir questionamentos sobre a infra-estrutura do empreendimento, assim como os serviços de hotelaria, lazer, esporte e demais atividades ofertadas. Também foram inseridas questões sobre alguns procedimentos do empreendimento, principalmente para possibilitar o entendimento sobre sua característica "rural" ou não.

Figura 1. Mapa de Localização

Conforme dito, o levantamento se restringiu somente a algumas propriedades da região Norte do Paraná que oferecem o turismo no espaço rural (Quadro 1), seja em nome da tipologia de hotel-fazenda, pousadas, pesque-pagues, fazenda hotel ou estações de lazer.

A região Norte do Paraná

A região Norte do estado do Paraná passou por uma recente e rápida colonização a partir das décadas de 1930 e 1940, realizada por intermédio da Companhia de Terras Norte do Paraná e pelo significativo contingente populacional de imigrantes que procuravam trabalho (Manosso, 2005).

Os produtores rurais naquela época constituíram na região, mesmo com as monoculturas cafeeiras, um modelo agrícola de agricultura familiar, baseada na pequena propriedade, onde além dos cafeeiros, nos

"sítios" também existia uma série de plantios e criações paralelas que poderiam ser vendidas e principalmente consumidas, o que condicionava uma independência do mercado (Manosso, 2005).

Este modelo perdeu força frente aos incentivos governamentais que favoreciam a introdução de outras culturas agrícolas a partir da década de 1970, sobretudo após 1975, ano que ocorre uma geada intensa e

os cafeeiros são totalmente erradicados na região. Nesta época o setor rural da região e de Apucarana passa a perder população expressivamente devido a inovação tecnológica dos plantios de culturas temporárias (Manosso, 2005).

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Nesse espaço constituiu-se um mosaico na paisagem que possui um importante potencial turístico e que vem sendo explorado pelo turismo rural, que são as características do espaço rural e a identidade rural que se constituiu ao longo do tempo e ainda não se perdeu totalmente, mesmo com a forte influência da modernidade urbana.

Resultados e discussão

Por meio de questionário enviado aos empreendimentos turísticos instalados no espaço rural do Norte do estado Paraná, notou-se que as classificações são bastante variadas (Tabela 1), correspondendo aos Resorts, Pesque-Pagues, Pousadas e Hotéis.

Tabela 1 - Classificação utilizada pelos empreendimentos entrevistados.

Quanto a localização e a distância da cidade mais próxima, verifica-se que das propriedades entrevistadas, 40% estão localizadas entre 1 e 5 km da cidade mais adjacente, e que a maioria, 60%, localiza-se à mais de 5 km da cidade mais próxima. Tais dados afirmam que as propriedades se encontram no espaço rural e não muito distantes de pequenos e médios centros urbanos, o que possibilita à visita de moradores de entorno interessados.

Tabela 2 - A localização do empreendimento quanto ao seu acesso.

O acesso aos estabelecimentos se torna um fator de decisão muito importante, a partir do momento que em que os visitantes visam a segurança e conforto do passeio, pois, o público é formado em maior parte por famílias, as quais acredita-se não estarem dispostas a correrem riscos desnecessários e percorrerem grandes distancias em estradas não asfaltadas.

De acordo com a pesquisa realizada, 40% dos empreendimentos possuem todo seu acesso asfaltado e 20% dos empreendimentos é asfaltado em parte, e isso demonstra uma certa preocupação com o turista, porém 40% dos entrevistados dispõe de todo o seu acesso em cascalho, que, além de demandar uma manutenção

devido ao seu rápido desgaste em relação ao asfalto, desestimula o visitante que procura um maior conforto em sua ida à localidade (Tabela 2). Por outro lado, o acesso por vias secundárias e sem pavimento caracteriza o segmento turismo rural, onde o público começa a interagir com as características do espaço rural.

Com relação as linhas de transportes coletivos, verificou-se que 40% dos empreendimentos contam com a passagem

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de ônibus próximos as suas propriedades. Tal fato é de suma importância para à visitação de turistas que não possuem meios de locomoção, dando-lhes a oportunidade de freqüentar o estabelecimento. Em contrapartida, os outros 60% dos empreendimentos clamam por linhas de transporte coletivo, pois entende-se que com esse serviço, o empresário pode alcançar outros públicos para o seu negócio, expandindo assim sua lucratividade e por ventura tornar o turismo algo mais abrangente, atingindo todas as classes socioculturais.

No que diz respeito aos leitos oferecidos pelos empreendimentos rurais, observou-se que 50% das propriedades não possuem nenhum tipo de acomodação para pernoite.

Isso porque parte da amostragem refere-se a empreendimentos classificados como Pesque- Pague, que geralmente oferecem atividade de apenas um dia (Tabela 1). Entende-se então a necessidade de agregar leitos a estas propriedades, de forma a viabilizar uma aplicação do turismo rural, pois, já esclarecido que os estabelecimentos se localizam afastados dos centros, fica clara a vontade de que o visitante permaneça mais tempo no local, o que seria inviável sem condições mínimas de pernoite.

Sobre a tipologia de leitos oferecidos, sabe-se que 50% dos empreendimentos entrevistados possuem leitos (Tabela 3), e destes, apenas dois com chalés, e, tendo em vista que este tipo de acomodação seria o mais adequado para quem trabalha com o turismo rural, pode-se afirmar que os outros

Tabela 3 - Tipologia de leitos oferecidos.

empreendimentos apresentam um serviço diferenciado, pois ofertam suítes e apartamentos. Para os objetivos da pesquisa isso significa um ponto importante, pois os serviços ofertados pela maioria dos empreendimentos que possuem leitos, é destinado a um público específico, que dá um significante valor no conforto das acomodações, e que, tais serviços poderiam ser ofertados em uma outra área qualquer, não necessariamente na área rural.

Percebe-se que, mesmo instaladas no espaço rural, as propriedades procuram oferecer leitos cada vez mais confortáveis, providos de alguns confortos como ar- condicionado e frigobar, no entanto também verifica-se uma preocupação com o rústico, em alguns casos, pelo menos na aparência ou arquitetura.

Questionados quanto ao seu público, que em geral se apresenta variado, pois verificou-se que os grupos familiares são mais representativos, com 34% das respostas embora o público jovem também tem uma significativa presença nesses locais com 29%

do total de visitas. O turismo rural como um todo, tem uma boa aceitação no público conhecido como famílias, principalmente os jovens casais, e a terceira idade, que procura o turismo rural como forma de voltar no

tempo, já que há cinqüenta anos, a maioria desse público, possivelmente habitava a zona rural ou tinha uma relação bastante direta.

Quando observada a estrutura física oferecidas pelo empreendimento (Quadro 2 e 3), ficou claro, o fato dos estabelecimentos trabalharem com lagos para pesca, e todos,

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sem exceção, possuírem uma ou mais áreas para pescaria. Outra estrutura a se destacar é que 60% dos empreendimentos possuem piscinas, e isso aponta para um modelo de turismo urbanizado, não condizente com estruturas utilizadas em turismo rural, conforme observou-se na revisão de literatura sobre o tema.

Quadro 2 - Estrutura física oferecida pelo empreendimento.

Quadro 3 - Atividades oferecidas pelo empreendimento.

Percebe-se, analisando o Quadro 2, que alguns estabelecimentos apresentam atividades ligadas diretamente ao turismo rural, porém, acredita-se que estas atividades são provocadas apenas para serem mais uma atração do estabelecimento, não

havendo uma relação mais direta entre as mesmas, ou seja, uma atividade não da continuidade a outra, de forma que, o turista que as realiza escolhe entre as atividades, as mais agradáveis, e o proprietário não às acompanha, gerando uma mecanização de todo o processo.

A recepção dos visitantes, é realizada por funcionários (70%) do total, e a recepção pelo proprietário ocorre somente em 30 % dos estabelecimentos. O fato de haver um funcionário para receber o turista pode descaracterizar o turismo rural praticado

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nestas propriedades, tornando-o um serviço muito mecânico e meramente comercial, perdendo assim seu verdadeiro foco, que é colocar o turista em contato com as atividades rurais, a identidade local e o seu cotidiano.

Percebe-se com à analise da Tabela 4, que a maioria dos estabelecimentos apresentam um serviço de alimentação convencional, comum a qualquer estabelecimento hoteleiro. Sobre a questão relacionada ao "café da tarde", que nessa ocasião, pode-se também dizê-lo como "café colonial", que também foi incluso na pesquisa, constatou-se que nenhum empreendimento o apontou como um de seus serviços, isso demonstra um distanciamento com o dia-dia do homem do campo, pois é de conhecimento geral que para se lidar com o trabalho no campo se necessita de mais energia calórica que a maioria das atividades, sendo de suma importância uma refeição ligando o almoço, e o jantar.

Tabela 4 - Serviço de alimentação oferecido.

Percebe-se na apresentação da Tabela 5, que a maioria dos estabelecimentos contrata temporariamente funcionários para realizarem os serviços tido como hoteleiros, este fato aponta para uma massificação do turismo existente nesses locais, de forma que

Tabela 5 - Quanto aos funcionários.

se faz necessário o planejamento dos recursos humanos destas propriedades, não de forma simples, como qualquer outra fazenda a faz, mas atentando-se para a sazonalidade turística, e comprovando um possível desligamento do turista com os meios de produção da propriedade.

A parcela de empreendimentos que apresentam funcionários tanto para os serviços da fazenda quanto hoteleiros, pode ser interpretada da seguinte forma, os funcionários que participam do serviços prestados pela propriedade ao turista, fazem também a manutenção do local, e entende- se que estes também só estão trabalhando no empreendimento para servir aos turistas, até porque não está especificada na pesquisa as outras atividades praticadas.

Na Tabela 6, apresenta-se as respostas dadas pelos entrevistados sobre a noção que eles possuem sobre a preferência do turista que visita seu empreendimento, por onde percebe-se uma maior quantidade de respostas nos itens tranqüilidade, sossego

e contato com a natureza. O item contato com o campo foi citado apenas uma vez, e este fato pode ser explicado pela ausência de serviços ligado ao contato com o rural, por parte dos estabelecimentos, ou seja, a inexistência deste produto, que inclusive caracteriza o segmento turismo rural.

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Tabela 6 - Preferência do turista.

Considerações finais

Uma maior compreensão do turismo rural enquanto atividade turística se faz necessária para que as pessoas possam escapar da rotina do dia-a-dia e da agitação causada pelos problemas diárias do nosso cotidiano.

Hoje as pessoas estão cansadas do trabalho rotineiro e não dispõe mais de tempo livre para poderem se desprender dos problemas ocasionados pelos trabalhos, e as mesmas necessitam de descanso para agüentarem a carga horária de trabalho que é muito complexa.

Portanto, entender como essa atividade é ofertada as pessoas que se interessam por esse seguimento é de suma importância, conhecer o que os empreendimentos fornecem aos turistas e se estes são turismo rural em sua integra, identificar se o que é oferecido a eles é o que realmente significa turismo rural ou apenas atividades em áreas rurais, para que assim possa se atender melhor o cliente que procura essa atividade.

Observando os resultados apresentados em conjunto, percebe-se que, conforme previsto hipoteticamente no início, as propriedades entrevistadas, embora estejam localizadas no espaço rural e participam da modalidade de turismo "rural" apresentam algumas deficiências frente aos modelos ou conceitos propostos por diversos autores da área ou até mesmo frente ao que a própria Embratur conceitua sobre esse segmento.

A forma em que esses empreendimentos estão estruturados e o conjunto de atividades que são ofertadas contemplam parcialmente os pressupostos do que, de fato, é caracterizado como turismo rural, uma vez que, percebe-se uma tímida relação com o espaço rural.

Essa relação com o campo, conforme visto na literatura, deve ser promovida por meio de atividades e serviços que insira o turista no cotidiano da propriedade, inclusive oferecendo a participação no processo de produção agrícola e desse modo agregando mais valor ao modelo produtivo local.

No entanto, o que percebeu-se é que quando os empreendimentos hoteleiros entrevistados situam-se em uma propriedade que ainda desenvolve atividades agropecuárias, a visitação turística encontra- se um pouco dissociada do processo produtivo agrícola, aparecendo apenas algumas atividades de contato indireto com o campo, como por exemplo a caminhada em trilhas, a cavalgada e os passeios de charrete.

De modo a minimizar esse problema, na tentativa de construir um turismo rural mais promissor na região, sugere-se que os empreendimentos devam procurar oferecer serviços que agreguem mais valor às características da região, valorizando a cultura e os sistemas agrícolas presentes e passados, inclusive colocando o turista em maior contato com a natureza e às atividades típicas do campo.

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Cronologia do processo editorial:

Recebimento do artigo: 13-out-2008 Envio ao parecerista: 11-nov-2008 Recebimento do parecer: 02-nov-2008 Envio para revisão do autor: 28-nov-2008 Recebimento do artigo revisado: 01-dez-2009

Aceite: 15-dez-2009

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