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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

1.0518.11.011918-8/001

Número do Númeração 0119188-

Des.(a) Moreira Diniz Relator:

Des.(a) Moreira Diniz Relator do Acordão:

28/08/2014 Data do Julgamento:

03/09/2014 Data da Publicação:

D I R E I T O D E F A M Í L I A - A P E L A Ç Ã O C Í V E L - A Ç Ã O D E RECONHECIMENTO DE POSSE DO ESTADO DE FILHA - PATERNIDADE SÓCIO-AFETIVA - INEXISTÊNCIA DO CARÁTER VOLITIVO - RECURSO DESPROVIDO.

- Não há como impor ao apelado, que textualmente não admite ser pai da apelante, a paternidade sócio-afetiva.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0518.11.011918-8/001 - COMARCA DE POÇOS DE CALDAS - APELANTE(S): S.C.F. - APELADO(A)(S): J.C.G.C.

A C Ó R D Ã O

(SEGREDO DE JUSTIÇA)

Vistos etc., acorda, em Turma, a 4ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em NÃO CONHECER DO AGRAVO RETIDO, REJEITAR PRELIMINARES E NEGAR PROVIMENTO À APELAÇÃO.

DES. MOREIRA DINIZ RELATOR.

DES. MOREIRA DINIZ (RELATOR)

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Cuida-se de apelação aviada por S. da C. F. contra sentença do MM. Juiz da 4ª. Vara Cível da comarca de Poços de Caldas, que julgou improcedente uma "ação ordinária de reconhecimento de posse do estado de filha (paternidade sócio-afetiva)" promovida contra J. C. G. C.

A apelante alega, em síntese, que a prova dos autos demonstra que, desde o seu nascimento, foi tratada como filha pelo apelado;

e que o apelado sempre soube que não era seu pai biológico.

Recurso respondido às fls. 327/336, com preliminares de não conhecimento da apelação, ante a ausência do requisito previsto no artigo 514 do Código de Processo Civil; e ante a inovação recursal.

Há parecer ministerial (fls. 345/346v), pelo desprovimento do recurso.

Há um agravo retido às fls. 134/137, interposto pelo ora apelado contra a decisão de fl. 132, que indeferiu a produção de prova pericial (exame de DNA).

Ocorre que não houve pedido de conhecimento do referido agravo nas contrarrazões de apelação, incidindo a regra do artigo 523, parágrafo 1º, do Código de Processo Civil.

Portanto, não conheço do agravo retido.

Quanto à preliminar de não conhecimento do recurso, por inobservância do disposto no artigo 514, inciso II, do Código de Processo Civil, tenho que, ao contrário do afirmado pelo apelado, a apelante expôs as razões do pedido de reforma da sentença de forma inteligível, com indicação dos fundamentos de fato e de direito para o pleito de nova decisão, nos termos do artigo 514, inciso II, do Código de Processo Civil.

Rejeito a preliminar.

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O apelado ainda diz que há inovação recursal, porque a apelante alegou, nas razões de apelação, questão que não foi discutida em primeiro grau de jurisdição, qual seja a de que o réu sempre soube que não era seu pai biológico.

Tal questão, entretanto, confunde-se com o mérito, devendo com o mesmo ser analisada.

Rejeito mais essa preliminar.

De início, convém ressaltar que a autora, ora apelante, embasa seus pedidos na chamada posse de estado de filha, fundada no que denomina paternidade sócio-afetiva.

Sobre o tema, tenho que a vontade das partes envolvidas é pressuposto fundamental, pois inserir sua linhagem em um registro de nascimento é direito personalíssimo.

Assim, é certo que se revela necessário o consenso das partes quanto à prevalência da paternidade sócio-afetiva sobre a biológica, de maneira a atender aos interesses de ambos.

Com efeito, "o STJ vem dando prioridade ao critério biológico para o reconhecimento da filiação naquelas circunstâncias em que há dissenso familiar, onde a relação sócio-afetiva desapareceu ou nunca existiu.

Não se pode impor os deveres de cuidado, de carinho e de sustento a alguém que, não sendo o pai biológico, também não deseja ser pai sócio- afetivo. A 'contrário sensu', se o afeto persiste de forma que pais e filhos constroem uma relação de mútuo auxílio, respeito e amparo, é acertado desconsiderar o vínculo meramente sanguíneo, para reconhecer a existência de filiação jurídica" (REsp 878941/DF, Relatora Ministra Nancy Andrighi, DJ 17/09/2007).

No caso, extrai-se dos autos que a autora, desde o

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sempre foi tratada e considerada, pública e notoriamente, como filha pelo réu.

É o que se conclui do depoimento prestado pela testemunha M. G. de O, que disse que "sabe que a autora é filha do réu; é vizinha da mãe da autora e sempre via o réu buscar só a autora para almoçar, jantar e passear, isso desde que ela era criança e até uns quatro anos atrás; não sabe porque ele parou de fazer isso" (fl. 243).

No mesmo sentido é o depoimento de A. de O. T, que afirmou que "o réu teve um relacionamento com a mãe da autora e como é vizinho sabe desses fatos e desde o nascimento da autora o réu a trata como filha;

duas, três vezes por semana ia buscá-la a tarde para jantar, isso desde pequenininha (...); no círculo de convivência das partes, todos acreditavam que a autora era filha do réu; até uma das filhas do réu mandava presentes para a autora no aniversário, natal; em todas as datas comemorativas o réu se fazia presente com a autora (...)" (fls. 244/245).

A testemunha A. C. P. assegurou que "conhece a autora há aproximadamente dez anos e em todo esse período tinha o réu como o seu pai, pois ele a assumiu como filha; frequentava restaurantes onde encontrava com o réu e a autora, o mesmo pagou a faculdade da mesma e a mantinha com alto padrão de vida; (...) todas as pessoas de relacionamento comum sabiam que o réu era o pai da autora; a autora sempre soube que o réu era seu pai, tanto que até hoje o trata como pai; (...)" (fls. 246/247).

Segundo a testemunha C. N. R. de C, "o réu apresentou a autora à testemunha como sendo sua filha há uns sete anos atrás; o mesmo tinha certeza que ela era sua filha; (...) o réu fez questão que seus amigos conhecessem a autora e tem conhecimento que um dia na semana ele dedicava a ela e não assumia compromisso nenhum nesse dia de tão importante que ela era para ele (...)" (fls. 248/249).

J. M. disse que "durante cerca de vinte anos o réu

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andava com a autora e dizia que era seu pai; o mesmo acreditava piamente nisso; a autora também acreditava piamente que ele era seu pai; (...)" (fl.

252).

Por fim, S. M. dos S. asseverou que "desde que a autora nasceu teve o réu como seu pai; desde pequenininha ele ia com ela em sua mercearia e dizia para a autora: 'o que você quer? Papai compra.', ele a tratava assim desde criancinha, quando ela ia com ele na mercearia; até quando se mudou da região, quando a autora já era moça, ele continuava a tratá-la com essa mesma atenção; (...) sabe que ele sempre saia com a autora para almoçar, jantar e agora eles estão com problemas com relação a um imóvel; para todos no bairro era pública essa situação (...)" (fl. 253).

Aliás, é o que se observa na própria contestação do réu: "(...) enquanto imaginava que a autora fosse de fato sua filha, a tratou como tal, a despeito de não tê-la registrado em seu nome. (...) passou a tratá-la como tal, colocando-a para estudar em bons colégios, e, posteriormente, custeando os seus estudos na faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUC -MG, campus Poços de Caldas. (...) que o réu acabou por estreitar seu relacionamento com a autora, vítima que fora de bem arquitetado ardil, pelo foi (sic) convencido por Jeane de que era o pai da sua filha. (...) e ainda imaginando ser a autora sua filha natural, resolveu ampará-la fazendo-lhe a doação do citado imóvel. (...)" (fls. 78/113).

Entretanto, apesar dos elementos constantes dos autos evidenciarem a construção de uma relação paterno-filial entre as partes, não se pode impor ao apelado a assunção da paternidade que lhe fora falsamente atribuída, mormente se considerarmos que o réu nunca registrou a autora em seu nome.

Por outro lado, a inexistência de vínculo biológico também foi devidamente demonstrada nos autos.

Da leitura da petição inicial, vê-se que a autora, em momento algum, afirma ser filha biológica do réu, requerendo apenas

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o reconhecimento da paternidade sócio-afetiva, com o consequente pagamento de pensão alimentícia e de indenização por danos morais.

A testemunha A. de O. T. disse que "não sabe se o réu é realmente o pai biológico da autora, (...)" (fls. 244/245).

A testemunha A. C. P. afirmou que "(...) não sabe se a autora é filha biológica do réu; (...)" (fl. 247).

C. N. R. de C. assegurou que "(...) em 2010 mais ou menos, não sabe como, o réu descobriu que a autora não era sua filha e isso lhe trouxe um abalo emocional enorme...; ele sempre tratou a autora como filha e não sabe se a autora tinha conhecimento de que realmente não era filha dele;...com a notícia de que a autora não era sua filha sabe que ele teve um agravamento de seus problemas médicos, agravou-se a diabetes, arteriosclerose e entrou em depressão profunda dado o trauma emocional;(...)" (fl. 248).

M. F, proprietária do Externato Maria de Lourdes Freitas, instituição onde a autora estudou desde a pré-escola até a antiga 8ª. Série, informou que "a autora nunca comentou consigo que o réu era seu pai; não sabe para quem a autora dava seus trabalhos de dia dos pais;...nunca ouviu comentários de que o réu era o pai da autora;...nunca perguntou ao réu se era o pai da autora (...)" (fl. 250).

J. M. asseverou que "a cerca de dois anos atrás o réu lhe procurou muito abalado e disse que tinha uma coisa para contar que a testemunha não iria acreditar e disse que a autora não seria sua filha; o réu ficou muito abalado, não sabe se ficou doente e nem quis tomar nesse dia a 'cervejinha' que costumava tomar consigo; dali pra frente nunca mais viu o réu junto com a autora; viu o réu várias vezes depois disso e ele sempre se queixava que gostava muito da autora, tinha ela como sua filha, mas que foi enganado durante vinte anos. (...)" (fl. 252).

Além disso, a própria autora, nas razões de apelação, atesta que nunca disse que era filha biológica do réu, e que este

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sempre soube que não era seu pai biológico.

Logo, conclui-se que restou demonstrado nos autos que o réu tratou a autora como sua filha por realmente acreditar que era seu pai biológico, sendo, na verdade, induzido a erro pela genitora desta, uma vez que possuíam relacionamento amoroso.

Desse modo, ante o reconhecimento por parte da própria autora, em sede de apelação, de que o apelado não é seu pai biológico, e a ausência de vontade deste em reconhecer a apelante como sua filha, entendo que o Poder Judiciário não está autorizado a suprir a suposta vontade do alegado pai, impondo-lhe uma filha que não reconhece como tal, e as consequências jurídicas daí decorrentes.

A meu ver, referendar o falso, manter uma paternidade artificial, não é pleito que se possa acolher.

Por fim, é preciso registrar que estamos sendo pródigos em criar "paternidades" demais, assim como "filiações" demais, fazendo

"declarações" que aqueles que deveriam fazê-las não fizeram.

No caso, se realmente estivéssemos frente ao que se denominou de paternidade sócio-afetiva, não estaríamos aqui julgando "ação de reconhecimento de posse do estado de filha", pois o "pai sócio-afetivo", por certo, teria feito o registro acolhendo a autora como sendo sua filha, ainda que não o fosse.

Portanto, revela-se temerário o reconhecimento da paternidade sócio-afetiva através das provas produzidas nos autos, em razão da inexistência do caráter volitivo necessário para tal ato, o que, por consequência, implica no desprovimento dos pedidos de alimentos e de indenização por danos morais.

Com tais apontamentos, nego provimento à apelação.

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teor do artigo 12 da lei 1.060/50.

DES. DUARTE DE PAULA (REVISOR) - De acordo com o Relator.

DES. DÁRCIO LOPARDI MENDES - De acordo com o Relator.

SÚMULA: "NÃO CONHECERAM DO AGRAVO RETIDO, REJEITARAM PRELIMINARES E NEGARAM PROVIMENTO"

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