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A PROTEÇÃO LEGAL DAS INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS

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Academic year: 2021

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Gustavo Bahuschewskyj Corrêa 1

Resumo:

O presente trabalho visa desmistificar o instituto das indicações geográficas, abordando os aspectos jurídicos relevantes para obtenção e proteção deste direito. As indicações geográficas são elementos que identificam produtos ou serviços, agregando valor a estes por concluir que determinados produtos ou serviços identificados preencheram os requisitos para obtenção do direito. Estes sinais dividem- se em indicações de procedência e denominação de origem. A primeira identifica produtos/serviços oriundos de determinado lugar, dependente apenas das ações do homem; diferentemente das denominações de origem, que além da produção do produto por parte do homem, requer ação da natureza para destacar as características identificadas pela denominação. A proteção via indicações geográficas protege, além dos produtos e serviços que identifica, também os consumidores, que obtém verdadeiras informações referentes à origem e qualidades (quando for o caso) dos produtos e serviços adquiridos. No que tange ao comércio internacional, mais especificamente às exportações de produtos ao exterior, as indicações geográficas são muito valorizadas, tendo em vista a prática já adotada em diversos países desenvolvidos, principalmente no continente europeu, de identificar seus produtos com estes sinais, que demonstram credibilidade dos produtos oferecidos.

Palavras-chave: Propriedade Intelectual. Propriedade Industrial. Indicações Geográficas. Indicação de Procedência. Denominação de Origem.

Sumário:

Introdução

1 Indicações Geográficas – 1.1 Evolução – 1.2 Finalidades – 1.2.1 Proteção dos titulares do direito – 1.2.2 Proteção dos consumidores – 1.3 Natureza Jurídica – 1.4 Espécies de Indicações Geográficas – 1.4.1 Indicações de Procedência – 1.4.2 Denominações de Origem – 1.5 Direito ao uso das Indicações Geográficas

2 Da utilização das Indicações Geográficas – 2.1 Pressupostos para obtenção do direito ao uso – 2.1.1 Nas Indicações de Procedência – 2.1.2 Nas Denominações de Origem – 2.2 Processo administrativo para obter o reconhecimento das Indicações Geográficas – 2.3 Das Indicações Geográficas de uso comum

3 Dos direitos relacionados – 3.1 Da distinção entre Indicações Geográficas e o Direito Marcário – 3.1.1 Distinções entre Indicações Geográficas e Marcas stricto sensu – 3.1.2 Distinções entre Indicações Geográficas e Marcas Coletivas e de Certificação – 3.2 Aspectos internacionais das Indicações Geográficas – 3.2.1 Tratados bilaterais e

1 Acadêmico da Faculdade de Direito da PUCRS. Trabalho orientado pela Profa. ME Helenara

Braga Avancini.

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regionais de proteção das Indicações Geográficas – 3.3 Dos crimes contra as Indicações Geográficas

4 Análise de casos no Brasil – 4.1 Vale dos Vinhedos – 4.2 Café do Cerrado – 4.3 Cachaça do Brasil

Conclusão

Referências Bibliográficas

Introdução

As indicações geográficas são de extrema importância no mundo comercialmente competitivo que vivemos atualmente, já que elas distinguem produtos e serviços quanto à sua procedência, atribuindo a qualidade e confiabilidade esperada pelo consumidor. Em face disto, apropriada é a proteção dada a este instituto, tendo em vista o alto valor que o mesmo agrega aos produtos e serviços.

O interesse oriundo do produtor, do prestador de serviço e do consumidor em geral se deve ao fato de que as indicações geográficas valorizam, identificam e protegem o produto ou serviço. A valorização ocorre no momento em que qualidades próprias do produto passam a ser conhecidas como oriundas daquela região; a identificação ocorre por parte do consumidor, que sabe que os produtos ou serviços de determinada localidade possuem certas características e a proteção é conferida pela Lei da Propriedade Industrial (Lei n.º 9.279/96), que busca salvaguardar os direitos do titular da indicação geográfica, além de proteger o produtor, o prestador de serviços e o consumidor dos atos de concorrência desleal que possam vir a acontecer.

As indicações geográficas geram um ganho para a coletividade como um todo e contribuem para o desenvolvimento econômico e social do local em que se inserem.

Ademais, valorizam o próprio produto ou serviço nacional no mercado externo, visto que é prática comum a utilização deste instituto no exterior. A identificação via indicações geográficas salienta para os importadores externos que o produto ou serviço que eles venham a adquirir ou utilizar possui características já determinadas, o que gera confiabilidade no investidor.

As indicações geográficas são constituídas de indicação de procedência e

denominação de origem, que se diferenciam pelos requisitos para obtenção do

registro, sendo que a segunda opção ainda requer a influência geográfica e humana

no produto ou serviço. Por óbvio, trata-se a proteção da denominação de origem de

instituto mais complexo e de difícil obtenção do reconhecimento deste direito; porém, a

preferência por este instituto por parte dos produtores deve-se ao fato que agrega

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mais qualidade ao produto identificado, merecendo maior destaque dentro das indicações geográficas.

O tema abordado é relevante, tendo em vista o visível crescimento de interesse no instituto das Indicações Geográficas. Este instituto começa a despontar no Brasil, sendo que tanto os produtores quanto os consumidores já percebem sua importância; os produtores, pois identificam e agregam qualidade e confiabilidade nos produtos que produzem e por parte dos consumidores, a certeza de onde provêm e o quê podem esperar ao comprar um produto com esta indicação.

O presente estudo visa desmistificar o instituto das indicações geográficas, tão pouco aprofundado pela doutrina. Questões como conceituação, situações de diluição do nome que identifica a indicação geográfica, os crimes contra as indicações geográficas, a proteção conferida à esta pelo nosso sistema jurídico pátrio, tratados internacionais e procedimentos para obter a proteção pelo nosso sistema jurídico serão abordados ao longo do estudo.

1 Indicações Geográficas

1.1 Evolução histórica

No aspecto temporal, há pelo menos um século e meio, na França, surgiu o interesse dos produtores em proteger as indicações geográficas. Na ocasião, produtores das regiões francesas de Bourgogne e Bourdeaux foram selecionados como fornecedores de vinho de um evento internacional a ser realizado em Paris.

Assim, entenderam por bem identificar que seus vinhos eram provenientes daquelas regiões. A partir daí, outros produtores de diversas regiões passaram a identificar a região de seus produtos 2 .

As indicações geográficas estão inseridas como parte do direito desde a Convenção da União de Paris – CUP (de maneira indireta, já que tutelou a repressão a falsa indicação), datada de 1883 e do Acordo de Madri relativo à repressão às falsas indicações de procedência, assinado em 1891, tendo o Brasil como país signatário.

Segundo o Acordo de Madri 3 , ainda hoje em vigor, os países-membros obrigavam-se a reprimir o uso direto ou indireto de indicações geográficas falsas ou

2 RODRIGUES, Maria Alice Castro e MENEZES, José Carlos Soares. A Proteção legal à Indicação Geográfica no Brasil. Revista da ABPI n.º 48, Set/Out 2000, p. 3.

3 Decreto n.º 19.056/29.

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enganosas, desenvolvendo medidas coercitivas para impedir a importação do produto que ostentasse a indicação geográfica ilegítima 4 .

No que tange ao nosso sistema jurídico, em que pese o Decreto n.º 9.233, de 28 de junho de 1884, que internalizou a Convenção da União de Paris ao nosso sistema jurídico pátrio, este instituto veio a tona com o Decreto n.º 16.264 de 19 de dezembro de 1923, responsável por criar a Diretoria Geral da Propriedade Industrial, estando previsto em seu art. 80, item 4, as primeiras restrições quanto ao uso indevido das indicações geográficas.

Recentemente, o tratado mais influente que regulou a propriedade intelectual, ocorreu no âmbito da OMC, na Rodada Uruguai de Negociações Comerciais Multilaterais do GATT. O Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (conhecido pela sigla em inglês TRIPS) começou a viger na esfera nacional em 1º de janeiro de 1995, efetivado através do Decreto n.º 1.355 de 30 de dezembro de 1994. O mencionado acordo estabelecia patamares mínimos de proteção aos direitos da propriedade intelectual, ainda que de forma diversa para os países-membros 5 .

Atualmente, a Lei da Propriedade Industrial, Lei n.º 9.279/96, revogou o Código da Propriedade Industrial de 1945. A atual lei reconhece a indicação de procedência e a denominação de origem como ramificações das indicações geográficas; diferentemente do Código anterior que estabelecia apenas proteção as indicações de procedência.

1.2 Finalidades

Ab initio, importante situar onde as indicações geográficas estão inseridas dentro do Direito. As indicações geográficas fazem parte da Propriedade Industrial, prevista na Lei n.º 9.279 de 14 de maio de 1996, inserida mais amplamente dentro dos Direitos da Propriedade Intelectual.

A propriedade intelectual, de maneira geral, vêm recebendo grande destaque ultimamente, sendo difundida, inclusive, para fins econômicos. Conforme estudo da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) de 2002, políticas de incentivo à criação e gestão de ativos de propriedade intelectual podem obter os seguintes resultados:

4 RODRIGUES e MENEZES. Op. cit., p. 3.

5 LEONARDOS, Gustavo Starling. A data de aplicação no Brasil do Acordo sobre Aspectos

dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio. Revista da ABPI n.º

17, Jul/Ago 1995, p. 6 e 12.

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(...) geração de lucro a partir da venda de produtos e serviços derivados de licenças; aumento do PIB e das exportações; atração de profissionais altamente qualificados; geração de oportunidades de emprego e reforço das instituições docentes e científicas; atração de investimentos estrangeiros diretos e fomento às empresas unidas; aumento do valor das empresas e fomento à criação de novas indústrias técnicas e culturais; e contribuição para movimentação de fundos para atividades de P&D, incentivando a criação de tecnologias e produtos necessários. 6

O crescente interesse em torno das indicações geográficas, pode-se creditar em parte à influência econômica que exerce no comércio internacional.

As indicações geográficas têm por objetivo principal identificar a proveniência de determinado produto ou serviço. A Organização Mundial da Propriedade Intelectual 7 conceitua indicação geográfica como “a sign used on goods that have a specific geographical origin and possess qualities that are due to that place of origin”. 8

Percebe-se que a conceituação de indicação geográfica da OMPI é mais restrita que aquela adotada pela LPI, visto que na lei brasileira as indicações geográficas abrangem tanto produtos como serviços.

Valiosa definição dá Márcio Oliveira e Souza ao concluir que

(...) as indicações geográficas são expressões e sinais que indicam a origem de um determinado bem, transmitindo ao público consumidor as qualidades e os modi operandi utilizados em sua produção e distribuição, agregando valor aos produtos ou serviços sobre os quais são afixadas. 9

Segundo Maria Luisa Lobregat Hurtado 10 , geralmente existirá certa conexão entre a indicação geográfica e o produto/serviço identificado, podendo se manifestar de três maneiras:

La primera de ellas es designando el lugar en que el producto es extraído o cultivado, es decir, el lugar de extracción del producto, y se tratará de productos naturales, como por ejemplo el agua, la sal o el granito. La segunda será el lugar en que el producto es elaborado, es decir, el lugar de transformación del producto, donde se somete a determinados tratamientos que, gracias a la actividad humana, consiguen ciertos resultados, como por ejemplo los licores, cervezas, quesos, etc. Finalmente, lá indicación geográfica aludirá al lugar en que el producto es fabricado, y cuyo resultado es ajeno a fuerzas naturales, como por ejemplo los juguetes, relojes, etc.

6 SOUZA, Márcio Oliveira. Panorama Interno e Externo da Proteção às Indicações Geográficas. Revista da ABPI n.º 72, Set/Out 2004, p. 33.

7 Organização Mundial da Propriedade Intelectual – OMPI. Disponível em:

<www.wipo.int/about-ip/en/geographical_ind.html> - Consultado em 20/01/2006.

8 Tradução do autor: “(...) um sinal utilizado em produtos que tem uma origem geográfica específica e possuem qualidades que se devem ao lugar de origem”.

9 SOUZA. Op. cit., p. 34.

10 HURTADO, Maria Luisa Lobregat. Temas de Propriedad Industrial – Madrid, España: Ed.

La Ley, 2002, p. 165.

(6)

A influência que as indicações geográficas sofrem quanto aos aspectos geográficos e culturais tornam este instituto mais complexo, porém aqueles que obtém o direito de uso de determinada indicação têm a certeza de passar ao consumidor informações inerentes ao uso da indicação geográfica, conforme destaca Márcio Oliveira Souza 11 :

Por referir-se também aos aspectos culturais de produção, que incluem a obediência a padrões tradicionais e a características únicas de uma determinada região, a indicação geográfica se presta a angariar a confiança do público e oferecer opções às suas preferências individuais, contemplando, em sua essência, idéias como know-how, qualidade, extração controlada, além de outros predominantemente subjetivos, tais como tradição, charme, sofisticação e simpatia pessoal por uma determinada região ou pais.

Sendo assim, produtos ou serviços identificados por essas designações passam a ser objeto de uma produção ou prestação melhor organizada. Isso se deve não só em face dos requisitos existentes para se obter o registro oficial, mas também pela obrigação de se zelar pela sua reputação, preocupação essa que leva à maior racionalização dos meios de produção, bem como a produtos e serviços com maior preço de venda no mercado, fazendo com que tanto produtores como consumidores sejam beneficiados.

As indicações geográficas se subdividem em indicação de procedência (ou proveniência) e denominação de origem. Esta subdivisão ocorre para distinguir a indicação daqueles produtos ou serviços que apenas identificam sua procedência, ou seja, onde é fabricado determinado produto ou prestado determinado serviço, daquele que além da indicação da procedência, vincula características determinantes dos produtos ou serviços, incluindo fatores geográficos e humanos.

Utilizando o vinho como elemento de estudo, Jorge Tonietto 12 analisa muito bem a distinção entre a indicação de procedência e a denominação de origem:

Assim, é fundamental a distinção entre denominação de origem e indicação de procedência. Dessa forma, verifica-se que se podem produzir, em um mesmo lugar geográfico, vinhos com denominação de origem e outros com indicação de procedência. Todos os vinhos de um lugar geográfico podem usar a indicação de procedência, mas somente os que cumprem os requisitos específicos podem utilizar a denominação de origem. Ela garante, além de uma origem geográfica precisa do produto, qualidades e características obtidas dos fatores naturais dessa origem e dos fatores humanos, que são regulamentados.

11 SOUZA. Op. Cit., p. 34/35.

12 TONIETTO, Jorge. O conceito de denominação de origem: uma opção para o

desenvolvimento do setor vitivinícola brasileiro. Bento Gonçalves: EMBRAPA-CNPUV,

1993, p. 11.

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Analisaremos em seguida cada um dos institutos (indicação de procedência e denominação de origem) que compõem as indicações geográficas separadamente.

1.2.1 Proteção dos titulares do direito

As indicações geográficas têm, entre suas principais características, proteger os titulares dos direitos, no sentido de servir como meio de defesa da identificação da procedência/origem de seus produtos ou serviços.

O primeiro protegido pelas indicações geográficas são os próprios produtos e serviços por ela identificados, visto que passam a trazer um sinal que os distingue frente à terceiros.

Conseqüência direta desta identificação, os próprios titulares dos direitos, ou seja, o produtor e o prestador de serviço se beneficiam nas relações de mercado, visto que agregam uma importante distinção aos seus produtos/serviços, que passam a ter a procedência e qualidade reconhecida pelo público.

1.2.2 Proteção dos consumidores

Outro pólo de proteção das indicações geográficas é o próprio consumidor.

As indicações geográficas têm por característica identificar a origem dos produtos ou serviços e, no caso das denominações de origem, atribuir características únicas inerentes à estes. Neste sentido, o consumidor se beneficia das indicações geográficas para obter informações dos produtos e/ou serviços.

A identificação de um produto ou serviço com o sinal distintivo da indicação geográfica agrega informações importantes acerca do produto ou serviço identificado.

O ilustre tratadista José Carlos Tinoco Soares assevera que o que não se pode admitir é que consumidores sejam levados à erro e confusão por conta de imitações que conduzam à falsa origem ou enganosa procedência 13 .

De forma a proteger os interesses dos consumidores, o próprio Código de Defesa do Consumidor (Lei n.º 8.078 de 11 de setembro de 1990) dispõe o seguinte:

Art. 4.º - A Política Nacional de Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:

13 SOARES, José Carlos Tinoco. Tratado da Propriedade Industrial: marcas e congêneres –

São Paulo: Editora Jurídica Brasileira, 2003, p. 663.

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(...)

VI – coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais , das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores.

Ainda considerando o princípio da hipossuficiência dos consumidores nas relações de consumo, faz-se justa toda proteção garantida aos consumidores através de uma clara identificação de procedência/origem de determinado produto ou serviço.

1.3 Natureza Jurídica

Primeiramente, a proteção às indicações geográficas está prevista na própria Constituição Federal de 1988, onde no artigo 5º, inciso XXIX, o legislador conferiu proteção aos direitos de propriedade industrial, incluindo aí a proteção aos signos distintivos:

XXIX – a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País. (grifo nosso)

As indicações geográficas, conforme estabelecido pela LPI (Lei 9.2796/96), são consideradas bens móveis 14 e o registro concedido pelo Órgão Oficial, no caso o INPI.

No que tange ao caráter do registro concedido, assim leciona Denis Borges Barbosa, que merece reprodução ipsis literis 15 :

Exercendo a delegação normativa prevista no CPI/96, o INPI optou por criar um registro específico de indicações geográficas, deferindo a legitimidade ad adquirendum aos sindicatos, associações, institutos ou qualquer outra pessoa jurídica de representatividade coletiva, com legítimo interesse e estabelecida no respectivo território, ‘como substituto processual da coletividade que tiver direito ao uso de tal nome geográfico’.

Não vejo tal registro como constitutivo, em especial quanto às indicações de procedência; o fato concorrencial precede qualquer reconhecimento pela autoridade registral, e merece reconhecimento judicial – aparentemente sem limitação de uma proteção pela concorrência desleal.

14 Art. 5.º - Consideram-se bens móveis, para os efeitos legais, os direitos de propriedade industrial.

15 BARBOSA, Denis Borges. Uma Introdução à Propriedade Intelectual. Rio de Janeiro:

Editora Lumen Juris, 2ª Edição, 2003, p.916.

(9)

Não existe na lei em vigor uma disposição que fixe como efeito do registro a proteção erga omnes; pelo contrário, o que diz o texto legal é ‘considera-se indicação de procedência [aquela relativa a certo local] que se tenha tornado conhecido como centro de extração, produção ou fabricação de determinado produto ou de prestação de determinado serviço’. Como se vê, o requisito é objetivo, não subjetivado, atribuído a um local e não a determinadas pessoas.

Assim, o direito nasce do conhecimento local como origem da atividade econômica, e não do registro, ainda que este possa ser requisito quanto aos efeitos das indicações na via administrativa (por exemplo, para impedirem, ex officio, registro de marcas).

No caso de designações de origem, que presume o preenchimento caso a caso, de forma subjetiva, determinados requisitos de fundo qualitativo ou característico, via de regra preceituada ou apurada por entidade do país de origem, há que se entender que o registro deva reconhecer e dar eficácia interna a tal certificação. Mesmo assim, não se deva crer que o registro no INPI institua, mas apenas declare ex ante um direito que o preexistiria.

Ou seja, na opinião do doutrinador, o registro outorgado pelo INPI não constitui direito, apenas declara um direito pré-existente, mormente nas indicações de procedência.

Por outro lado, o importante doutrinador português José de Oliveira Ascensão 16 , ao estudar o registro das indicações geográficas em Portugal e na União Européia, destaca que lá o registro é atributivo de direitos, visto que efetivamente confere direitos ao titular, diferentemente do contrário, quando a falta do registro só deixaria margem de proteção da indicação na hipótese de se configurar violação via concorrência desleal.

A título ilustrativo de direito comparado, os Estados Unidos protegem suas indicações geográficas também através da Common Law, caso em que não é necessário o registro perante o USPTO para adquirir direitos sobre a indicação geográfica 17 .

Sendo assim, apesar da doutrina divergir neste aspecto, ao fazer um contraponto com o direito português, a LPI não faz qualquer espécie de restrição à indicação geográfica, de modo que não a vincula a qualquer registro para legitimar seu direito.

1.4 Espécies de Indicações Geográficas

16 ASCENSÃO, José de Oliveira. Questões problemáticas em sede de indicações geográficas e denominações de origem no direito português. Revista da ABPI n.º 81, Mar/Abr de 2006, p. 63.

17 O “Cognac” é um exemplo desta proteção nos Estados Unidos através do julgado Institut National Des Appellations v. Brown-Forman Corp, 47 USPQ2d 1875, 1884 (TTAB 1998).

Disponível em: http://www.uspto.gov,gov/web/offices/dcom/olia/globalip/pdf/gi_system.pdf.

Acesso em: 08/05/2006.

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1.4.1 Indicação de Procedência

A primeira subdivisão das Indicações Geográficas diz respeito à Indicação de Procedência, àquela em que o produto ou serviço é indicado apenas pelo renome da localidade em produzir determinado produto ou prestar determinado serviço, independendo de outros fatores.

Como se observa, esta indicação consiste no nome geográfico de local conhecido pela fabricação, produção ou extração de determinado produto ou de prestação de determinado serviço, sem que necessariamente as condições geográficas daquela região tenham contribuído para esse renome. 18

Para Carlos Henrique de C. Fróes 19 a indicação de procedência é

(...) uma simples referência ao lugar de fabricação de um produto, que se tornou conhecido como tal. Isso ocorre, em geral, com produtos industriais, como a cidade de Sheffield, na Inglaterra, que é conhecida, já há muitos anos, como lugar de fabricação de artigos de prata.

Características relevantes das indicações de procedência são as identificações da proveniência do produto e a proibição de terceiros utilizar destas indicações. Esta última característica, segundo Maria Luísa Lobregat Hurtado 20 , tem uma peculiaridade relevante, visto que, em que pese o direito do uso exclusivo por parte do titular do direito, há a possibilidade de terceiros utilizarem a indicação de procedência, desde que adicionem um vocábulo “deslocalizador”, como por exemplo, os termos “tipo”, “estilo”, etc. O intuito do uso deste vocábulo é esclarecer ao consumidor que na realidade os produtos não procedem da região identificada. Neste caso, o titular do direito da indicação de procedência não tem um jus prohibendi absoluto, visto que o máximo que podem exigir é que os produtores e prestadores de serviços de outras regiões identifiquem aos seus consumidores que seus produtos/serviços não provêem daquela região.

Ocorre que há divergências quanto a possibilidade de uso do vocábulo

“deslocalizador” para identificar indicação de procedência como oriunda de outro lugar, inclusive José de Oliveira Ascensão 21 , em recente artigo publicado, diz ser inteiramente desproporcionado este tipo de utilização.

18 DANNEMANN, Siemsen, Bigler & Ipanema Moreira. Comentários à Lei da Propriedade Industrial e Correlatos – Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2001, p. 338.

19 FRÓES, Carlos Henrique. A Proteção das Indicações Geográficas no Brasil. Revista da ABPI n.º 56, Jan/Fev 2002, p. 66.

20 HURTADO. Op. cit., p. 167.

21 ASCENSÃO. Op. cit., p. 62.

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Aqueles que defendem a idéia de que não é possível a utilização dos vocábulos “deslocalizadores” o fazem baseados nos artigos 193 da Lei 9.279/96, que inclusive define como crime quem o faz (analisaremos este artigo no capítulo referente aos crimes contra as indicações geográficas) e no Decreto-Lei n.º 986 de 21 de outubro de 1969, que ao instituir normas básicas sobre alimentos, assim se expressa nos artigos 12 e 21:

Art. 12 - Os rótulos de alimentos de fantasia ou artificial não poderão mencionar indicações especiais de qualidade, nem trazer menções, figuras ou desenhos que possibilitem falsa interpretação ou que induzam o consumidor a êrro ou engano quanto à sua origem, natureza ou composição.

Art. 21 - Não poderão constar da rotulagem denominações, designações, nomes geográficos, símbolos, figuras, desenhos ou indicações que possibilitem interpretação falsa, êrro ou confusão quanto à origem, procedência, natureza, composição ou qualidade do alimento, ou que lhe atribuam qualidades ou características nutritivas superiores àquelas que realmente possuem.

Por outro lado, os defensores da utilização dos vocábulos “deslocalizadores”

contra-argumentam no sentido da lei deixar margem para aqueles que utilizem estes vocábulos de forma clara indicando a real origem do produto ou serviço, impossibilitando confusão do público-consumidor.

Percebe-se que a proteção das indicações de procedência não é tão ampla.

Existe o entendimento que o fato de poder impedir que terceiros utilizem esta distinção é relativo, visto que é permitido o emprego da indicação de procedência por terceiros, desde que estes utilizem termos como ‘tipo’, ‘classe’, ‘espécie’, etc. agregando à real origem do produto, de modo a não restar dúvidas ao consumidor que os produtos, em que pese tenham características semelhantes, não provêem da mesma localidade que aqueles identificados pela indicação de procedência.

1.4.2 Denominação de Origem

A segunda e mais atual subdivisão das Indicações Geográficas é a Denominação de Origem. Esta não constava na Lei anterior da Propriedade Industrial – Lei 5.772/71 e foi uma inclusão em respeito às normas de adequação impostas pelo TRIPS, que já previa esta denominação em seu texto.

A denominação de origem traz uma complexidade maior às indicações

geográficas, visto que envolve não só aspectos de comércio, mas também fatores

geográficos.

(12)

Sobre estas características citamos Dannemann, Siemsen, Bigler & Ipanema Moreira 22 :

Como a indicação de procedência, a denominação de origem consiste no nome geográfico de local conhecido pela fabricação, produção ou extração de determinado produto ou de prestação de determinado serviço. Ocorre que, neste caso, os fatores naturais e humanos da região necessariamente influem na qualidade ou nas características do produto ou serviço, diferentemente do que ocorre na indicação de procedência. Para que determinada indicação geográfica possa ser considerada denominação de origem, é mister que o clima, o solo ou alguma outra característica exclusiva daquela região tenha influência direta no produto ou, ainda, que um notório saber da população da região seja imprescindível à confecção daquele produto. Nesta categoria enquadram-se, obviamente, os vinhos, pois é notória a influência do solo das regiões no produto resultante das vindimas da região. Como exemplo desta influência, temos o vinho do Porto, elaborado unicamente com uvas colhidas em pequena região demarcada às margens do Rio Douro, em Portugal, cujo solo pedregoso e rico em xisto proporciona características únicas àquele vinho.

Igualmente é denominação de origem a região de Parma, na Itália, onde as condições especiais do solo, aliadas às técnicas seculares de trabalho, proporcionam o presunto de Parma, ou o queijo Parmiggiano.

Denis Borges Barbosa 23 assim expõe:

(...) para a designação de origem se exige não só o estabelecimento no local designado, mas também o atendimento de requisitos de qualidade. Por exemplo, no caso de vinhos, os regulamentos pertinentes não só indicam os exatos locais de plantio (demarcações às vezes com minúcia de metros), mas também a insolação, a qualidade de cepa, a distância entre vinhas, etc.

Assim, entre os elementos a serem apresentados no caso de designação de origem está descrição das qualidades e características do produto ou do serviço a descrição do processo ou método de obtenção do produto ou do serviço, que devem ser locais, leais e constantes’, os elementos que comprovem a existência de uma estrutura de controle sobre os produtores ou prestadores de serviços bem como sobre o produto ou serviço e prova de que os produtores ou prestadores de serviços estejam lá estabelecidos e operando.

Para Carlos Henrique de C. Fróes 24 a denominação de origem

(...) encerra um plus, porque não é apenas, o nome conhecido do lugar em que determinado produto é fabricado, mas o de um lugar intrinsecamente ligado ao produto, devido à influência de fatores naturais, entre os quais o solo, o subsolo, o clima e a vegetação, e humanos.

Mais especificamente referente aos fatores naturais e humanos envolvidos na concepção das denominações de origem, assim leciona Jorge Tonietto 25 :

22 DANNEMANN. Op. cit., p. 339.

23 BARBOSA. Op. cit., p. 913.

24 FRÓES. Op. cit., p. 66.

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Da definição, entende-se como fatores naturais aqueles sobre os quais o homem não pode ter influência direta, e que são determinantes da qualidade e característica dos vinhos (latitude, altitude, formação geológica, declividade, textura, estrutura e composição do solo, precipitação pluviométrica e sua distribuição, umidade do ar, soma térmica, insolação, ventos, flora natural, entre outros).

Já os fatores humanos são aqueles sobre os quais o homem tem influência direta e que também são determinantes da qualidade e características dos vinhos (porta-enxertos e variedades recomendadas, espaçamento, sistema de condução e poda, época de colheita, sistemas de vinificação e envelhecimento, entre outros).

A proteção conferida às denominações de origem garantem aos seus titulares o direito de proibir que terceiros utilizem sua denominação, inclusive agregando termos que mostrem não se tratar o produto/serviço daquela região.

Destacamos importante consideração de Maria Luisa Lobregat Hurtado 26 , no sentido de estabelecer diferenças entre as denominações de origem e as indicações de procedência:

En primer lugar tenemos que destacar las ‘denominaciones de origen’, que son loas indicaciones geográficas que se encuentran mejor protegidas, ya que se salvaguarda a todas las empresas que cumplan los requisitos que luego veremos, y que se encuentren localizadas en la zona protegida por la denominación de origen. Un ejemplo es ‘Rioja’. Las empresas de esta zona tienen un derecho de exclusiva para el empleo de la denominación de origen Rioja y, por tanto, pueden impedir que terceros la utilicen. Los terceros no pueden utilizar la denominación de origen no siquiera con un vocablo tal como

‘tipo’, ‘clase’ o cualquier otro similar.

Esta vedação de utilizar a denominação de origem, inclusive com o emprego de termos como ‘tipo’, ‘classe’, ‘semelhante’, etc. fundamenta-se pelo fato que para se obter a denominação de origem, deve-se apresentar características geográficas próprias de determinada região. No caso de um produto/serviço oriundo de outra localidade, este não preencheria tais requisitos, então não poderia utilizar esta distinção, nem mesmo informando se tratar apenas de características, muito embora o produto seja proveniente de outra região.

1.5 Direito ao uso das Indicações Geográficas

25 TONIETTO. Op. cit., p.10.

26 HURTADO. Op. Cit., p. 166-167.

(14)

O direito ao uso das indicações geográficas é dos produtores e prestadores de serviços estabelecidos no local, conforme preceitua o artigo 182 da LPI:

Art. 182 – O uso da indicação geográfica é restrito aos produtores e prestadores de serviço estabelecidos no local, exigindo-se, ainda, em relação às denominações de origem, o atendimento de requisitos de qualidade.

Sobre este artigo, Dannemann, Siemsen, Bigler & Ipanema Moreira 27 complementa:

Esta disposição determina quem pode usar as indicações geográficas. Como se observa do texto legal, unicamente os produtores e prestadores de serviço estabelecidos na região podem apor em seus rótulos, etiquetas ou notas fiscais a menção da indicação geográfica, estando os infratores sujeitos às penalidades previstas nesta lei, em seus arts. 192 e seguintes.

As indicações geográficas, embora de natureza declaratória, podem ser reconhecidas através de um registro efetivado no órgão competente. Tal registro é aconselhável para comprovação do direito, sendo que no Brasil, o órgão competente é o Instituto Nacional da Propriedade Industrial.

A legitimidade para requerer o registro de uma indicação geográfica, na qualidade de substitutos processuais, é das associações, institutos e pessoas jurídicas representativas da coletividade, desde que estabelecidas no território que visam identificar.

Além disso, é permitido ao produtor ou prestador de serviço independente requerer o registro da indicação geográfica, caso estejam todos pressupostos preenchidos.

No que se refere ao uso, propriamente dito, das indicações geográficas, eles se distinguem quando se tratam das indicações de procedência e denominações de origem.

Maria Alice Castro Rodrigues e José Carlos Soares de Menezes 28 abordam as questões dos titulares dos direitos nos dois casos, expondo que cabe a todos os produtores ou prestadores de serviços estabelecidos na localidade o direito de forma privativa e indistintamente. No caso das denominações de origem, o direito ao uso é exercido, exclusivamente, pelos produtores que atendam aos requisitos estabelecidos para concessão da denominação de origem.

27 DANNEMANN. Op. Cit., p. 340.

28 RODRIGUES e MENEZES. Op. cit., p. 3-4.

(15)

2 Da utilização das Indicações Geográficas

2.1 Pressupostos para obtenção do direito ao uso

Apesar do entendimento de que o registro das indicações geográficas é meramente declaratório, o INPI, para conceder o registro, estabelece algumas condições. A resolução n.º 75/2000 do INPI estabelece os requisitos necessários para a obtenção do reconhecimento das indicações geográficas.

Segundo Ana Lucía de Sousa Borda 29 , a obtenção do registro das indicações geográficas está condicionada ao cumprimento de uma série de exigências previstas na Resolução do INPI N.º 75 de 28/11/2000 que visam assegurar que a obtenção do reconhecimento se dê em cumprimento das finalidades essenciais das indicações geográficas.

Conforme resolução, os requisitos são distintos para os casos de indicação de procedência e denominação de origem, devendo constar, além de documentos básicos como nome geográfico, descrição dos produtos e serviços e características dos produtos ou serviços, as seguintes informações:

2.1.1 Nas Indicações de Procedência

Abaixo relacionamos os requisitos estabelecidos pelo INPI para a comprovação e posterior deferimento do reconhecimento da indicação de procedência:

a) elementos que comprovem ter o nome geográfico se tornado conhecido como centro de extração, produção ou fabricação do produto ou de prestação do serviço;

b) elementos que comprovem a existência de uma estrutura de controle sobre os produtores ou prestadores de serviços que tenham o direito ao uso exclusivo da indicação de procedência, bem como sobre o produto ou a prestação do serviço distinguido com a indicação de procedência; e

c) elementos que comprovem estar os produtores ou prestadores de serviços estabelecidos na área geográfica demarcada e exercendo, efetivamente, as atividades de produção ou de prestação do serviço 30 .

2.1.2 Nas Denominações de Origem

29 BORDA, Ana Lucía. Estudio de las Indicaciones Geográficas, Marcas de Certificación y las Marcas Colectivas – su protección en Brasil e importancia en el contexto

internacional. Disponível no site:

http://www.dannemann.com.br/files/ASB_Indicaciones_Geograficas.pdf - Consultado dia 02/03/2006.

30 Resolução INPI n.º 75/2000 – Art. 7.º, § 1.º

(16)

Relacionamos aqui também os requisitos para a comprovação e deferimento da denominação de origem:

a) descrição das qualidades e características do produto ou do serviço que se devam, exclusiva ou essencialmente, ao meio geográfico, incluindo os fatores naturais e humanos;

b) descrição do processo ou método de obtenção do produto ou do serviço, que devem ser locais, leais e constantes;

c) elementos que comprovem a existência de uma estrutura de controle sobre os produtores ou prestadores de serviços que tenham o direito ao uso exclusivo da denominação de origem, bem como sobre o produto ou a prestação do serviço distinguido com a denominação de origem; e

d) elementos que comprovem estar os produtores ou prestadores de serviços estabelecidos na área geográfica demarcada e exercendo, efetivamente, as atividades de produção ou de prestação do serviço 31 .

Importante atentar para o item b das indicações de procedência e c das denominações de origem. A exigência deste controle sobre os produtos e serviços que garante a qualidade e respeito às características dos produtos, agregando o valor que a indicação geográfica pressupõe.

2.2 Processo administrativo para obter o reconhecimento das Indicações Geográficas

O processo administrativo para reconhecimento de uma indicação geográfica tramita perante o INPI e procede-se conforme estipulado pelo INPI na Resolução n.º 75 de 2000.

Primeiramente, após o depósito do pedido, o mesmo passa por um exame formal, período em que poderão ser formuladas exigências para cumprimento no prazo de 60 (sessenta) dias, visando adequar o pedido as normas previstas.

Após o exame formal, o pedido é então publicado, para que terceiros tomem conhecimento e possam se manifestar no prazo de 60 (sessenta) dias. Havendo manifestação, esta é publicada e corre o prazo de 60 (sessenta) dias para que o titular do pedido apresente contestação.

Decorrido o prazo para manifestação ou contestação, o INPI profere sua decisão deferindo ou indeferindo o pedido de reconhecimento da indicação geográfica.

No caso de indeferimento do pedido de reconhecimento da indicação geográfica, cabe pedido de reconsideração no prazo de 60 (sessenta) dias, onde o INPI poderá formular novas exigências. Tal pedido será julgado pelo Presidente do INPI. Encerra-se a instância administrativa.

31 Resolução INPI n.º 75/2000 – Art. 7.º, § 2.º

(17)

2.3 Indicações Geográficas de uso comum

Há situações em que as indicações geográficas se tornam de uso comum, casos em que não servem mais de elemento distintivo para identificar o produto ou serviço.

Bruno Jorge Hammes 32 comenta tal situação:

Quando o nome geográfico virou uso comum, designando produto ou serviço, não será considerado indicação geográfica (art. 180). O nome geográfico que não se constitua em indicação de procedência ou denominação de origem poderá servir de elemento característico de marca para produto ou serviço, desde que não induza falsa procedência (art. 181).

Em outras palavras, quando as indicações geográficas não servirem mais como distinção do produto ou serviço será considerada de uso comum. Esta situação ocorre quando o elemento nominativo da indicação geográfica passa apenas a descrever o produto ou serviço que pretende indicar. A indicação geográfica, neste caso, poderá vir então a ser requerida como marca, desde que não cause erro, dúvida ou confusão no espírito do consumidor quanto à sua origem.

As palavras de Albrecht Conrad 33 ao comentar tal situação não deixam dúvidas sobre o afirmado:

Quando o nome geográfico é largamente utilizado e o público passa a entender como sendo o nome para uma categoria de produtos do mesmo tipo, mas não necessariamente de uma certa origem o nome não é, e não pode ser protegido sobre qualquer forma como uma indicação geográfica.

Citamos como exemplo o queijo prato e o queijo de minas 34 , hoje identificados em todas localidades com este nome, sendo assim, resta prejudicada a tentativa de indicar a real origem dos queijos, quais sejam, a região italiana de Prato e o estado de Minas Gerais no Brasil, pois passaram a identificar e são reconhecidos como um tipo de queijo e não apenas como os queijos oriundos daquelas regiões.

No caso da indicação geográfica ser considerada de uso comum para determinado produto ou serviço, esta poderá compor elemento de marca, conforme artigos 180 e 181 da Lei 9.279/1996:

32 HAMMES, Bruno Jorge. O Direito de Propriedade Intelectual – São Leopoldo: Editora Unisinos, 3ª Edição, 2002, p. 366.

33 CONRAD, Albrecht. Apud SOARES. Op. cit., p. 551.

34 DANNEMANN. Op. cit., p. 340.

(18)

Art. 180 – Quando o nome geográfico se houver tornado de uso comum, designando produto ou serviço, não será considerado indicação geográfica.

Art. 181 – O nome geográfico que não constitua indicação de procedência ou denominação de origem poderá servir de elemento característico de marca para produto ou serviço, desde que não induza falsa procedência.

No caso de uma indicação geográfica ser reconhecida como tal em um determinado país e ser considerada de uso comum em outro gera um problema para a proteção. O acordo TRIPS (estudaremos no ponto 3.2), no seu artigo 24.6, excepciona a obrigação dos países-contratantes de proteger as indicações geográficas dos países membros da OMC, se esta for considerada de uso comum no seu país. Assim, existe a limitação da proteção às indicações geográficas em tais situações.

3 Dos direitos relacionados

3.1 Da distinção entre as Indicações Geográficas e o Direito Marcário

Apesar de causar haverem confusões entre indicações geográficas e marcas lato sensu, comentaremos abaixo as principais distinções das indicações geográficas e as espécies de marcas, quais sejam, as marcas stricto sensu e as marcas coletivas e de certificação.

3.1.1 Distinções entre Indicações Geográficas e Marcas stricto sensu

As indicações geográficas e as marcas são institutos distintos, muito embora tenham por objetivo básico designar determinados produtos ou serviços.

As marcas, assim como as indicações geográficas buscam identificar produtos e/ou serviços, assim diferenciando-os frente à terceiros. Ocorre que algumas características específicas de cada instituto as tornam distintas.

Dois fatores são apontados por Sérgio Escudero 35 ao distinguir indicações geográficas e marcas. Primeiramente, as marcas identificam produtos ou serviços de um produtor específico, situação que não ocorre com as indicações geográficas, onde esta identifica o lugar de origem do produto ou serviço. Segundo ponto é quanto à criatividade humana que está presente por trás do desenvolvimento da marca. A criatividade humana seria responsável por criar um elemento diferenciador para cada

35 ESCUDERO, Sérgio. International Protection of Geographical Indications and

Developing Countries - South Centre, 2001, p. 01.

(19)

produto ou serviço. Neste aspecto, as indicações geográficas enfatizam a origem e as características dos produtos ou serviços e não necessariamente servem para distinguir produtos e serviços.

A qualidade, por exemplo, é outro fator que difere as indicações geográficas das marcas, visto que não se encontra inserido nas prerrogativas de uma marca.

Diferentemente das indicações geográficas, que no caso das denominações de origem, é fator primordial para obtenção do direito de uso da denominação.

Esta questão da qualidade presente nas indicações geográficas e não nas marcas é estudada por Lia Krücken Pereira 36 , que muito bem identifica este requisito nos dois institutos:

A qualidade de um produto certificado com uma denominação possui uma obrigação de respeito a parâmetros produtivos fixados, fiscalizados periodicamente. Permite ao consumidor um melhor julgamento da qualidade e maior confiabilidade. A marca, por sua vez, assegura ao consumidor a qualidade do produto segundo a política própria do seu fabricante.

Além disso, importante esclarecer que as indicações geográficas e as marcas podem ser utilizadas conjuntamente, pois na verdade, identificam seus produtos e/ou serviços de forma diversa. Ou seja, a finalidade das indicações geográficas e das marcas são diversas, assim, é perfeitamente possível e aconselhável o uso das marcas e das indicações geográficas, de forma a melhor proteger o produto ou serviço.

O que ocorre é que as indicações geográficas constituem um dos elementos que impedem o registro de marcas, quando estas possam vir a causar confusão ou induzir falsa indicação de origem (art. 124, IX e X da LPI).

Dannemann, Siemsen, Bigler & Ipanema Moreira 37 comentam o referido dispositivo da Lei da Propriedade Industrial:

O princípio informativo da irregistrabilidade pronunciada pelo legislador é intuitivo. Cabe apenas anotar que a irregistrabilidade atinge não apenas quem não tem domicílio na localidade e lá não se dedica a atividade de fabrico, extração ou prestação de serviços, como, também, os próprios empresários locais. Os empresários locais têm – e são os únicos que têm – legitimação para ‘usar’ a indicação geográfica, nas condições estabelecidas em legislação própria, quando houver. Há condomínio, portanto.

A lei veda, no bojo do mesmo dispositivo, fato ainda mais grave, que é o registro de sinal que possa induzir ‘falsa’ indicação geográfica. Com

36 PEREIRA, Lia Krücken. O processo de valorização de produtos alimentícios através das denominações de origem e qualidade: uma abordagem de gestão do conhecimento.

2001. 169 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) Faculdade de Engenharia de Produção, UFSC, Florianópolis, 2001.

37 DANNEMANN. Op. cit., p. 238.

(20)

isso, previne fraudes, lesivas não apenas aos legitimados como também ao consumidor.

3.1.2 Distinções entre Indicações Geográficas e Marcas Coletivas e de Certificação

As indicações geográficas em muito se assemelham às marcas de certificação e coletivas. Antes de adentrarmos nas diferenças entre estes institutos, primeiro cabe uma breve exposição do que vem a ser as marcas de certificação e coletivas.

José Carlos Tinoco Soares 38 recorre às legislações de outros países para buscar uma definição sobre as marcas de certificação:

(...) para alguns, marca de certificação é aquela adotada para assinalar e distinguir quaisquer produtos ou serviços, distinguindo-os no comércio e nos negócios. Produtos e/ou serviços esses que foram sobejamente atestados (certificados) por qualquer pessoa ou grupo de pessoas, como sendo aqueles que detêm certa qualidade, esmero ou outro característico preponderante, tendo por base a origem, o material ou a maneira de fabricação.

Outros países entendem ser a marca de certificação, simplesmente, aquela utilizada sobre ou em conexão com os produtos ou serviços de uma ou mais pessoas jurídicas para certificar a região, o material, o modo de fabricação, a qualidade, a acuidade etc.

DANNEMANN, Siemsen, Bigler & Ipanema Moreira 39 trata de distinguir as marcas coletivas e de certificação:

As marcas de certificação e as marcas coletivas têm similaridade conceitual, mas não se confundem. Enquanto a marca de certificação visa atestar a conformidade de determinado produto ou serviço com especificações particulares exigidas ou estabelecidas por uma entidade, servindo como uma garantia de conformidade técnica, a marca coletiva não tem esse propósito e, primordialmente, se destina a identificar a origem de produtos e serviços de uma mesma coletividade, como no caso de cooperativas, associações ou organizações comunitárias.

Como se vê, são grandes as semelhanças que as marcas coletivas e de certificação trazem com as indicações geográficas. Inclusive nos Estados Unidos a proteção das indicações geográficas se dá através de marcas de certificação. Assim como na legislação italiana e alemã podem ter os institutos das indicações geográficas combinadas com as marcas coletivas.

Porém, apesar de toda semelhança, tratam-se as indicações de geográficas, marcas coletivas e marcas de certificação de institutos distintos. Sendo de extrema relevância os apontamentos de Ana Lucía de Sousa Borda 40 :

38 SOARES. Op. cit., p. 167.

39 DANNEMANN. Op. cit., p. 300.

(21)

Las indicaciones geográficas y las marcas colectivas se asemejan en la medida en que su uso es permitido a una determinada colectividad, con exclusión de los miembros: en común ellas poseen también el hecho de que indican un determinado origen al público, siendo que aquí, por su turno, surge una diferenciación clara: la indicación geográfica se presta a indicar el origen o la procedencia geográfica de un producto o servicio, al paso que la marca colectiva, como se ha visto, tiene como función indicar su origen empresarial.

(...)

Con relación a las marcas de certificación, las indicaciones geográficas también presentan puntos en común, en especial con las denominaciones de origen. La semejanza más importante está en el hecho de que, así como las denominaciones de origen, las marcas de certificación buscan asegurar que el producto o el servicio esta revestido de determinadas calidades o características. Entre tanto, a diferencia de lo que ocurre con las indicaciones geográficas, las características del producto o servicio designado por las marcas colectivas son el resultado de la obediencia a normas y patrones que no están vinculados a factores geográficos. Tales normas y patrones, una vez obedecidos, asegurarán, invariablemente, las mismas características y/o calidades. Necesariamente, todos los productos o servicios tendrán las mismas propiedades y los mismos trazos en común.

Deste modo, resta claro que, em que pese às características em comum destes institutos, os mesmos não se confundem.

3.2 Aspectos internacionais das Indicações Geográficas

As indicações geográficas ganham destaque internacional a partir do mercado globalizado que se caracteriza atualmente. Diversos produtos e serviços são comercializados ao redor do mundo e não apenas a marca ganha relevância, mas também as indicações geográficas.

O direito das indicações geográficas já vem recebendo guarida através de legislação interna de diversos países. Porém, tendo em vista seu caráter visivelmente internacional, diversos tratados e acordos buscam também resguardar estes direitos.

No que tange à proteção nacional nos diversos países, Sérgio Escudero 41 comenta que tem havido três formas de proteção das indicações geográficas:

1) Leis focadas nas práticas comerciais, onde não se prevê registro das indicações geográficas, porém se proíbe o uso da “falsa” indicação;

2) Leis de marcas que vedam o registro destas quando possam induzir falsa indicação geográfica; e

40 BORDA, Ana Lucía. Op. cit.

41 ESCUDERO. Op. cit., p. 06.

(22)

3) Leis específicas de proteção às indicações geográficas.

Em que pese estas outras alternativas de proteção apresentadas e utilizadas já em alguns países, as indicações geográficas permanecem sendo reguladas, na grande maioria dos países, como parte das leis de marcas.

Os principais tratados a abordar este tema são: o Acordo de Lisboa e o TRIPS – Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights.

O Acordo de Lisboa, tratado que o Brasil não aderiu e foi adotado apenas por 16 países signatários da Convenção de Paris em 1958, confere proteção às apelações de origem, do mesmo modo que o TRIPS e a Lei da Propriedade Industrial conferem às denominações de origem. Este tratado estabeleceu uma forma de registro das indicações geográficas.

Já o TRIPS 42 , acordo no âmbito da OMC, inserido com a conclusão da Rodada do Uruguai do GATT em 1994, obteve maior importância no contexto internacional, já que de imediato 125 países aceitaram os termos do tratado.

O TRIPS, ao tratar das indicações geográficas no artigo 22, estabelece que as partes interessadas devem utilizar meios legais que possam impedir:

§ 2.º – a) a utilização de qualquer meio que, na designação ou apresentação do produto, indique ou sugira que o produto em questão provém de uma área geográfica distinta do verdadeiro lugar de origem, de uma maneira que conduza o público a erro quanto à origem geográfica do produto;

b) qualquer uso que constitua um ato de concorrência desleal, no sentido do disposto no art. 10 “bis” da convenção de Paris (1967).

Além disso, o parágrafo 3 do mesmo artigo diz que caberá ao Estado agir ex- officio para impedir o registro de marca que possa causar erro, duvida ou confusão no público consumidor quanto à sua procedência.

Estas ações, segundo expresso no parágrafo 4º do mesmo artigo, se aplicam contra aquelas indicações que, embora literalmente verdadeiras, dão ao público a falsa percepção de que o produto/serviço provêem de outro território.

Exemplo dessa situação é fornecido por Antonella Carminatti 43 , citamos:

(...) um caso em que uma cidade dos Estados Unidos com o nome de Champagne fabrique determinado vinho. O uso da indicação geográfica Champagne, neste caso, poderia induzir o consumidor a imaginar que a real origem do vinho em questão fosse a região de Champagne, na França, tradicional fabricante de vinhos espumantes. O uso da indicação geográfica em

42 Decreto n.º 1.355, de 30/12/1994

43 CARMINATTI, Antonella. A Proteção das Indicações Geográficas no TRIPS. Revista da

ABPI n.º 18, Set/Out de 1995, p. 35.

(23)

tal situação constituiria um caso de concorrência desleal, pois o fabricante americano tenderia a aproveitar-se do conhecimento notório da indicação geográfica Champagne para vender o seu produto no mercado.

O TRIPS, por característica, baseou-se “no equilíbrio entre a promoção da inovação e da difusão e transferência de tecnologia e a proteção de outros interesses difusos” 44 , delimitando patamares mínimos de proteção dos direitos da propriedade intelectual, no caso das indicações geográficas abre uma exceção por tratar especificamente, no artigo 23, da proteção às indicações geográficas para vinhos e destilados.

A proteção conferida aos vinhos e destilados no TRIPS merece atenção especial, visto que o acordo estabelece uma proteção mais ampla nestes casos. O fato do público ser induzido a erro não é fator determinante para o impedimento do uso de determinada indicação geográfica.

Maristela Basso 45 discorre sobre esta exceção:

Aqui a obrigação do Estado-Parte é mais ampla do que no regime geral, porque deve impedir a utilização de uma indicação geográfica que identifique vinhos ou destilados que não sejam originais do lugar designado, mesmo quando se utilize a indicação geográfica de verdadeira origem dos bens traduzida, ou através de outros elementos de identificação como ‘espécie’,

‘tipo’, ‘estilo’, ‘imitação’ ou outras similares. Com relação a esta obrigação, os Estados-Partes poderão, sem prejuízo do art. 42 do TRIPS, estabelecer medidas administrativas destinadas à aplicação das normas de proteção das indicações geográficas.

O Estado-Parte tem a obrigação de recusar ou invalidar, ex-officio, se a legislação assim o permitir, ou a pedido de uma parte interessada, o registro de

‘uma marca para vinhos que contenha ou consista em uma indicação geográfica que identifique vinhos, ou para destilados que contenha ou consista em uma indicação geográfica que identifique destilados, que não tenham essa origem’ (art. 23.2). Nestes casos, não se exige o efeito danoso sobre o público, como acontece no regime geral.

3.2.1 Tratados bilaterais e regionais de proteção das Indicações Geográficas

Outra forma de proteção das indicações geográficas no âmbito internacional tem sido a implementação de tratados bilaterais e regionais. Estes tratados, no que tange apenas às indicações geográficas, consistem em estabelecer aos países contratantes o respeito e à proteção a determinadas indicações geográficas.

44 TEIXEIRA, Daniel Pezzutti Ribeiro. Propriedade Intelectual e o Comércio Internacional. In:

AMARAL, Antônio Carlos Rodrigues (org.). Direito do Comércio Internacional – São Paulo:

Aduaneiras, 2004, p. 305.

45 BASSO, Maristela. O Direito Internacional da Propriedade Intelectual – Porto Alegre:

Livraria dos Advogados, 2000, p. 220.

(24)

As bases dos referidos tratados têm sido estabelecidas em tratados independentes ou como parte de tratados mais amplos. A principal característica é a reciprocidade, de forma a aumentar a proteção às indicações geográficas dos respectivos países 46 .

Ocorre que há também outros interesses e outras formas de estabelecer estes tratados. Atualmente, vem ocorrendo que os países desenvolvidos estabelecem acordos de investimento e de comércio onde estão incluídos maiores níveis de proteção à direitos de propriedade intelectual.

Este fato foi tratado recentemente por Maristela Basso 47 :

Em síntese, os acordos de investimento (BITs) e de comércio (FTAs), na era pós-TRIPS, constituem instrumentos potenciais por meio dos quais se podem impor novas obrigações de propriedade intelectual aos países em desenvolvimento. O “novo bilateralismo”, portanto, em vez de utilizar a OMC ou a OMPI para novas negociações, estimula e impõe uma agenda expansionista, por meio de múltiplos tratados, bilaterais e regionais, capazes de assegurar um sistema global de propriedade intelectual mais rígido do que aquele resultante do TRIPS.

Ou seja, os acordos de investimento e de comércio estipulam níveis de proteção aos direitos de propriedade intelectual mais elevados do que aqueles previstos pelo TRIPS. Apesar de não haver restrição legal a este fato, deve-se atentar para os efeitos a longo prazo deste tipo de acordo.

3.3 Dos crimes contra as Indicações Geográficas

Os titulares dos direitos das indicações geográficas sofrem hoje com as freqüentes violações por parte de falsificadores que se apropriam do signo distintivo para identificar seus próprios produtos ou serviços. Nestes casos, os titulares dos direitos sofrem duplamente, primeiro por deixar de lucrar com a venda paralela, segundo pela depreciação da indicação geográfica e da qualidade do produto falsificado, que foge ao controle dos titulares 48 .

De modo a evitar estas violações, o Capítulo V da Lei 9.279/96, prevê como crime o uso indevido das indicações geográficas.

46 WIPO, Standing Committee on the Law of Trademarks, Industrial Designs and Geographical Indications. Geographical Indications: historical background, nature of rights, existing systems for protection and obtaining protection in other countries – Genebra, Suiça.

Disponível em: < http://www.wipo.int/edocs/mdocs/sct/en/sct_8/sct_8_4.pdf> - Acesso em 14/02/2006.

47 BASSO, Maristela. Propriedade Intelectual na era pós-OMC – Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 22.

48 TEIXEIRA. Op. cit., p. 309.

(25)

A Lei da Propriedade Industrial, em seus artigos 192 e 193, estabelece as diversas formas de uso que configuram crime contra as indicações geográficas, inclusive definindo o uso daquelas tornadas de “uso comum”.

Dannemann, Siemsen, Bilger e & Ipanema Moreira 49 observam que “o legislador foi cuidadoso, ao tipificar como crime contra indicações geográficas qualquer menção não verdadeira de indicação”.

No que diz respeito às indicações geográficas tornadas de uso comum, José Henrique Pierangeli comenta que “a tutela jurídica se vincula com a procedência de produto, tanto assim é que, uma vez ressalvada a sua verdadeira procedência, inexistirá o delito” 50 .

A legitimidade nos crimes contra as indicações geográficas recai sobre os titulares da indicação e os consumidores. Pierangeli 51 comenta que

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa física, não se reclamando qualquer circunstância especial. Como não mais se trata de crime de concorrência desleal, que o transformaria em crime próprio, e exigiria a particularidade de uma relação de rivalidade de fatos entre sujeitos ativo e passivo, trata-se de crime comum, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.

Salienta-se que a norma penal também atinge aqueles que utilizam termos como “tipo”, “espécie”, “semelhante”, etc., sem que informem de forma expressa a real procedência do produto ou serviço.

Exemplo de tal situação é fornecido por Denis Borges Barbosa ao citar que

“não há infração penal no uso de algo como ‘queijo tipo Grana Padano fabricado em Vacaria’, em que fique claro que o produto não foi feito em Pádua” 52 .

Por outro lado, o comércio utilizando indicação geográfica que induza o consumidor em erro, dúvida ou confusão pode ser enquadrado como crime de concorrência desleal, também previsto na Lei n.º 9.279/96 no art. 195.

A concorrência mercadológica pressupõe a disposição das partes em manter e conquistar novos clientes. O saudoso mestre João da Gama Cerqueira 53 delimita o estágio em que a concorrência passa a ser desleal:

Quando essa luta se desenvolve normalmente, empregando os concorrentes as suas próprias fôrças econômicas e os seus recursos e meios pessoais para

49 DANNEMANN. Op. cit., p. 380.

50 PIERANGELI, José Henrique. Crimes Contra a Propriedade Industrial e Crimes de Concorrência Desleal – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003, p. 251.

51 Ibidem, p. 246.

52 BARBOSA. Op. cit., p. 919.

53 CERQUEIRA, João da Gama. Tratado da Propriedade Industrial – São Paulo: Editora

Revista dos Tribunais, 2ª Edição, Volume 2, 1982, p. 1.268.

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