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Tratamento artroscópico da tendinite calcária do ombro *

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Academic year: 2021

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Tratamento artroscópico da tendinite calcária do ombro

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GLAYDSON GOMES GODINHO1, JOSÉ MÁRCIO ALVES FREITAS2, AGNUS WELERSON VIEIRA3, LEONARDO CÔRTES ANTUNES4, EDUARDO WATANABE CASTANHEIRA4

* Trab. realiz. no Hosp. Ortopédico – AMR (Associação Mineira de Reabi- litação) e Hosp. Belo Horizonte, Belo Horizonte, MG.

1. Cirurgião-Chefe do Serviço de Cirurgia e Reabilitação do Ombro dos Hosp. Ortopédico-AMR e Belo Horizonte.

2. Cirurgião Especialista de Ombro dos Hosp. Ortopédico-AMR e Belo Ho- rizonte.

3. Estagiário de Cirurgia do Ombro nos Hosp. Ortopédico-AMR e Belo Horizonte.

4. Residente R3 da Reiot (Residência Integrada de Ortop. e Traumatol. dos Hosp. Ortopédico-AMR e Belo Horizonte).

RESUMO

Uma das mais comuns afecções do manguito rotador, a tendinite calcária, tem etiologia desconhecida e, geralmen- te, apresenta resposta satisfatória ao tratamento conser- vador. Para pacientes nos quais a cirurgia está indicada, a artroscopia representa alternativa menos traumática do que o procedimento “aberto”, tradicional. Neste traba- lho, os autores apresentam as duas correntes teóricas que tentam explicar a fisiopatologia da tendinite calcária: 1) uma “área crítica”, onde fenômenos de hipóxia levariam à necrose e deposição de cálcio local e 2) um ciclo forma- tivo-absortivo, mediado por células e, portanto, tecido vi- vo, e não distrófico, levando à deposição e, posteriormen- te, à absorção do cálcio no local. Foram revistos 66 om- bros, correspondendo a 66 pacientes, operados pelo mesmo cirurgião, entre setembro de 1990 e agosto de 1996, com seguimento mínimo de 10 meses de evolução pós-cirúrgi- ca e máximo de 80 meses, com média de 30 meses. O tem- po médio, decorrido entre o início dos sintomas e o proce- dimento cirúrgico, foi de 39 meses, mínimo de 1 mês e máximo de 240 meses (20 anos). Os dados foram compila- dos dentro dos critérios de avaliação da UCLA com re- sultados globais excelentes em 58 pacientes (87,9%); bons, em 4 pacientes (6,1%); razoável, em 1 paciente (1,5%) e pobres, em 3 pacientes (4,5%). Os autores analisaram a influência da ressecção, completa e parcial da calcifica-

ção, sobre os resultados excelentes (88,9% e 83,3%, res- pectivamente) e concluíram, como a maioria absoluta dos autores, que esses resultados são semelhantes. Análise idêntica foi feita em relação à influência da acromioplas- tia, que, quando realizada, mostrou 89,1% de excelentes resultados, contra 81,8% quando não realizada, o que co- incide com a opinião generalizada dos autores, de que a acromioplastia é desnecessária na cirurgia da tendinite calcária do ombro.

SUMMARY

Arthroscopic treatment of shoulder calcifying tendinitis One of the most common disorders of the rotator cuff, the calcifying tendinitis, is of unknown etiology, generally pre- senting satisfactory results with conservative treatment. For patients to whom surgery is indicated, the arthroscopy rep- resents a less traumatic procedure than the “open” tradi- tional ones. In this paper, the authors try to explain the cal- cifying tendinitis physiopathology: 1) one “critical zone”

where a reduction in oxygen tension transforms a portion of the tendon into necrotic tissue where calcium deposition will occur; 2) one formative-resorptive cell-mediated reactive pro- cess that takes place in living tissue where calcium will de- posited and resorbed later. Sixty-six shoulders, correspond- ing to sixty-six patients, were reviewed, operated on by the same surgeon between September 1990 and August 1996, with minimum follow-up of 10 months, maximum of 80 months (mean follow-up of 30 months). The mean time between the beginning of symptoms and surgery was 39 months, with mi- nimum of 1 month and maximum of 240 months (20 years).

Results were analyzed using UCLA classification: 58 (87.9%) excelent results; 4 (6.1%) good results; 1 (1.5%) fair result and 3 (4.5%) poor results. The authors analyzed the effect of partial and complete calcium resection on the excelent re- sults (88.9% and 83.3% respectively) and concluded, like most authors, that these results are the same in both hypo-

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theses. A similar analysis was made in relation to the effect of acromioplasty. Excelent results were obtained in 89.1% of patients submitted to acromioplasty, as well as in 81.8% of those not submitted to this process. Therefore, the authors concluded that acromioplasty is not necessary in shoulder calcifying tendinitis surgeries.

INTRODUÇÃO

A tendinite calcária, uma das mais comuns afecções do manguito rotador, tem etiologia desconhecida e, geralmente, apresenta resposta satisfatória ao tratamento conservador.

De Palma & Kruper(5) propõem uma classificação clínico- radiográfica, dividindo as tendinites calcárias em lesões amor- fas, geralmente associadas com sintomas agudos, e em le- sões definidas homogêneas, geralmente subagudas ou crôni- cas. Essas lesões apresentam um triplo polimorfismo(19) – clí- nico, radiográfico e evolutivo:

a) Polimorfismo clínico, porque acometem principalmente o sexo feminino, entre 30 e 50 anos. Podem ser totalmente assintomáticas, apresentando episódios agudos de dor ou evoluindo sobre um fundo doloroso crônico;

b) Polimorfismo radiográfico, com dois aspectos extre- mos e com grande variação de imagens intermediárias: por um lado, com o aspecto de verdadeiro “abscesso” de aspecto radiográfico homogêneo e, por outro lado, verdadeira infil- tração calcária do tendão, de extensão variável e aspecto não- homogêneo, radiograficamente;

c) Polimorfismo evolutivo, porque algumas formas são imutáveis, enquanto outras desaparecem em algumas sema- nas por ocasião de crises hiperálgicas típicas.

O conceito da existência de uma área específica no tendão supra-espinhal, conhecida como “área crítica”, suscetível à calcificação, foi primeiro descrito por Codman(4).

A vascularização dessa área tem sido repetidamente in- vestigada. Acredita-se que possível hipoperfusão local inicie o processo degenerativo que, subseqüentemente, levará à cal- cificação ou à ruptura.

De acordo com McLaughlin(12), a lesão primária é uma hialinização focal das fibras que se destacam do tecido nor- mal que as contorna, constituindo-se em desbridamento ne- crótico focal sobre o qual ocorre a calcificação.

Uhthoff & Sarkar(17) teorizam que a tendinite calcária é uma condição autolimitante, caracterizada por um ciclo for- mativo-reabsortivo, mediado por células e, portanto, de ocor- rência em tecidos vivos, e não de natureza distrófica. Esses autores postulam uma fase pré-calcificante, na qual uma re- dução na tensão local de oxigênio transforma parte do ten-

dão em fibrocartilagem, onde condrócitos funcionam como mediadores da deposição de cálcio em múltiplos focos. Em seguida à fase formativa, o cálcio pode existir por período indefinido de tempo no local de depósito. Eventualmente, células fagocitárias se acumulam em torno de alguns focos, proliferando formação de verdadeiros canais vasculares lo- cais.

A fase reabsortiva inicia-se quando esses novos canais vasculares passam a formar uma via de reabsorção, restau- rando assim a perfusão e tensão normal de oxigênio nos teci- dos. Depois que a calcificação é reabsorvida, o tendão é ca- paz de retornar à função normal, presumivelmente através da síntese de nova matriz. É durante essa fase que os sinto- mas dolorosos se intensificam.

Ambas as fases podem ocorrer simultaneamente.

Baseando-se nessa teoria, longo período de tratamento con- servador deve ser observado, antes que se defina pelo trata- mento cirúrgico.

Para os pacientes nos quais a cirurgia está indicada, a ar- troscopia representa alternativa menos traumática do que o procedimento “aberto”, tradicional.

O objetivo deste trabalho é estudar o tratamento cirúrgico artroscópico da tendinite calcária do ombro, o qual represen- ta importante e eficiente opção para os casos crônicos, resis- tentes ao tratamento conservador.

CASUÍSTICA E MÉTODO

No período compreendido entre setembro de 1990 e agos- to de 1996, 68 pacientes, correspondentes a 68 ombros, por- tadores de quadros clínico e radiográfico de tendinite calcá- ria, de evolução crônica, resistentes ao tratamento conserva- dor, foram submetidos ao tratamento cirúrgico por via ar- troscópica, todos operados pelo mesmo cirurgião nos Hospi- tais Belo Horizonte e Ortopédico.

O período escolhido permite recuo mínimo de dez meses após a cirurgia, para essa avaliação.

Desse total, foram revistos 66 pacientes, correspondendo a 66 ombros, avaliados através de entrevista, exame físico e radiográfico, em quatro incidências: ântero-posterior (AP) em posição neutra, AP em rotação interna e rotação externa, e no perfil de escápula (outlet view).

Os dados foram compilados dentro dos critérios de avalia- ção da UCLA (tabela 1).

O seguimento mínimo foi de 10 meses e o máximo, de 80 meses, com média de 30 meses. A faixa etária média foi de 50,5 anos, com mínimo de 36 e máximo de 79 anos. Quanto

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TABELA 1

Escore de resultados segundo a UCLA Dor

Presente todo o tempo, insuportável, analg. fortes freq. 1 Presente todo o tempo, suportável, analg. forte ocasional 2 Fraca/ausente em repouso, pres. ativ. leves, salicilatos freq. 4 Pres. atividades pesadas/especif., salicilatos freq. 6

Ocasional e fraca 8

Ausente 10

Função

Incapaz de usar o membro 1

Somente ativ. leves possíveis 2

Capaz/ ativ. caseiras leves/ ativ. da vida diária 4 Ativ. caseiras/compras/dirigir/pent./vestir/abotoar atrás 6 Restrição leve/capaz de trabalhar acima do nível do ombro 8

Atividades normais 10

Flexão ativa

150 graus ou mais 5

120 a 150 graus 4

90 a 120 graus 3

45 a 90 graus 2

30 a 45 graus 1

Menos de 30 graus 0

Força de flexão anterior (teste muscular manual)

Grau 5 (normal) 5

Grau 4 (bom) 4

Grau 3 (regular) 3

Grau 2 (fraco) 2

Grau 1 (contrações musculares) 1

Grau 0 (ausente) 0

Satisfação do paciente

Satisfeito e melhor 5

Insatisfeito e pior 0

Escore máximo: 35 pontos

Pontuação de Ellmann (UCLA)

34-35 excelente

28-33 bom

21-27 razoável

00-20 pobre

ao sexo, 40 pacientes (60,6%) são femininos e 26, masculi- nos (39,4%). Quanto à dominância, 64 pacientes são destros (97%) e 2, sinistros (3%). O ombro direito foi acometido em 42 pacientes (63,6%), enquanto o esquerdo, em 24 (36,4%).

Apenas 5 pacientes (7,6%) praticavam esportes, todos como lazer, enquanto 61 (92,4%) não eram desportistas.

O tempo médio, decorrido entre o início dos sintomas e o procedimento cirúrgico, foi de 39 meses, mínimo de 1 mês e máximo de 240 meses (20 anos).

Um contingente expressivo de 40 pacientes (60,6%) teve curso clínico superior a um ano, antes de submeter-se à ci- rurgia.

Foi relatado por 30 pacientes o número exato de infiltra- ções prévias, cujas média foi de 2,6, com mínimo de 1 e máximo de 8.

Quanto aos tendões acometidos, o supra-espinhal esteve presente 65 vezes (98,5%) e o subescapular, em 1 paciente (1,5%).

O tratamento fisioterápico pré-operatório foi realizado em 60 pacientes (90,9%), enquanto 6 não foram submetidos a ele (9,1%).

Fisioterapia pós-cirúrgica, em ginásio, foi realizada em 9 pacientes (13,6%), enquanto 57 (86,4%) fizeram apenas exer- cícios domiciliares e em piscina.

Técnica cirúrgica

O procedimento é realizado com o paciente sob anestesia geral, complementada com bloqueio do plexo braquial e po- sicionado em decúbito lateral oposto. O membro superior é posicionado por mecanismos de tração longitudinal e verti- cal.

Usamos os portais habituais para artroscopia e bursosco- pia do ombro e, através do portal lateral, introduzimos o sha- ver, com o qual realizamos a sinovectomia subacromial(2,3,6,

7,14).

Com movimentos de rotação interna e externa, além de adução e abdução do braço, localizamos o “tofo” calcário que produz um abaulamento na superfície do tendão, de co- loração mais pálida que o tecido circundante, assemelhan- do-se em muito à protuberância de hérnia discal.

Com auxílio de uma agulha nº 18 ou uma agulha de pun- ção lombar, via percutânea, perfuramos a área, de onde a saída de material pastoso, característico, ou de grânulos cal- cários irá confirmar a topografia da calcificação (fig. 1).

Fig. 1 Drenagem percutânea da calcificação utilizando agulha de punção lombar nº 18

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Nesse tempo cirúrgico, a solução salina de irrigação é subs- tituída por solução de glicina a 1,5%, para possibilitar o uso do eletrocautério(7), com o qual realizamos a abertura parcial e superficial do tendão no mesmo sentido de suas fibras, ou seja, de medial para lateral, evitando-se assim o enfraqueci- mento pela incisão transversal delas.

Em seguida, realizamos o desbridamento da área com o shaver-sucção (fig. 2) e uma cureta artroscópica de 3mm pode ser usada na remoção do cálcio.

Todo o cuidado é necessário para não criar dano adicional ao tendão.

Pequenos pontos de calcificação residual podem aparecer no exame radiográfico pós-operatório, mas, geralmente, são reabsorvidos na fase de recuperação. Por vezes, o cálcio não é localizado, ou então é multiloculado e apenas os depósitos maiores são visibilizados. Nessa circunstância, o exame ra- diográfico intra-operatório pode tornar-se necessário.

Após a excisão do cálcio, deve-se proceder a exaustiva lavagem com solução fisiológica, pois resíduos de cálcio po- dem causar sinovite e dor no pós-operatório.

Quando a calcificação ocorre com dimensões muito pe- quenas e não conseguimos localizá-la, procedemos, neces- sariamente, à descompressão subacromial com acromioplas- tia, que também é realizada quando há evidência de espo- rões acromiais ou acromioclaviculares, ou quando existe um típico acrômio do tipo III.

Nos pacientes operados até novembro de 95, realizamos, sistematicamente, a descompressão subacromial com secção do ligamento coracoacromial, isoladamente, ou associada à acromioplastia.

Fig. 2 Desbridamento da calcificação com shaver- sucção

Fig. 3 – Drenagem calcificação

Após esse período, abandonamos a secção ligamentar e mantivemos a acromioplastia, com indicação apenas nos pa- cientes que apresentaram esporões acromiais ou acromiocla- viculares, nos portadores de acrômio do tipo III, quando a drenagem da calcificação foi incompleta e quando o tempo de evolução foi muito longo.

Recomendamos o uso intermitente de tipóia durante os primeiros 10 a 15 dias e estimulamos a realização de exercí- cios autopassivos em elevação anterior e rotações interna e externa, desde o primeiro dia pós-operatório, acrescentando- se exercícios em piscina, com proteção das feridas cirúrgi- cas dos portais desde o 5º dia PO.

RESULTADOS

Foi avaliada a influência da descompressão subacromial realizada através da acromioplastia, associada ou não à res- secção do ligamento coracoacromial.

Essa descompressão foi realizada em 55 pacientes, nos quais obtivemos 49 resultados excelentes (89,1%). Em 11 pacientes ela não foi realizada e 9 deles (81,8%) obtiveram o mesmo índice de excelentes resultados.

Realizamos a drenagem completa da calcificação em 54 pacientes (81,8%) e, parcialmente, em 12 deles (18,2%) (fig.

3).

Apenas 1 paciente apresentava ruptura completa do man- guito rotador associada, com localização no tendão supra- espinhal, reparada através de incisão mini open.

Lesão parcial, localizada exclusivamente na face articular do tendão do músculo subescapular, foi identificada em as- sociação, em 1 paciente.

Slap lesions(16) apresentaram-se associadas em 4 pacientes (6,1%), 2 com o tipo I e 2 com o tipo II.

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Como complicação, tivemos apenas um paciente com cap- sulite adesiva detectada no período pós-operatório recente.

Nenhum caso de infecção, lesão nervosa ou dor de grande intensidade e que tenha merecido cuidados de urgência foi detectado.

O resultado global, segundo os critérios de classificação da UCLA, foi o seguinte:

Excelentes resultados foram observados em 58 pacientes (87,9%). Bons resultados foram obtidos por 4 pacientes (6,1%). Razoável resultado ocorreu em 1 paciente (1,5%).

Pobres resultados foram obtidos em 3 pacientes (4,5%).

DISCUSSÃO

Dois aspectos no estudo da tendinite calcária do ombro apresentam pontos de concordância entre a maioria dos au- tores: o primeiro deles é de que a reabsorção espontânea ge- ralmente ocorre, mas a dúvida é sobre quando isso aconte- ce(17). O segundo ponto de convergência é de que a maioria dos pacientes (78,9 a 90%) responde muito bem ao trata- mento conservador(1,5,8-10).

Todos os autores concordam em que a tendinite calcária não tem correlação com qualquer doença sistêmica e Wel- fling et al.(21) concluem, categoricamente, que a calcificação tendinosa é, por si só, uma doença.

Existem concordâncias entre nossos achados e os da lite- ratura(1,11,17,19) quanto à maior incidência no sexo feminino, entre 30 e 50 anos, com raros acometimentos acima dos 70 anos de idade(11) e maior no lado dominante. Tivemos apenas um paciente com 71 anos e outro com 79 anos de idade.

Embora a literatura asiática evidencie alta incidência de rupturas completas do manguito rotador em associação(11), esse achado não tem correspondência no Ocidente(9,11,13). Entre nossos pacientes, apenas um apresentou-se com ruptura com- pleta do tendão supra-espinhal.

A ruptura completa corresponde à expressão de grave doen- ça tendínea, cujo prognóstico não é favorável, desaparecen- do ou não a calcificação. Nesses casos o tratamento cirúrgi- co é indiscutivelmente necessário(13).

Recomenda-se o tratamento conservador por período ex- tenso, por mais de um ano, antes de indicar a cirurgia(1,17).

O tempo médio decorrido entre o início dos sintomas e a cirurgia em nossos pacientes foi de 39 meses, com mínimo de 1 mês e máximo de 20 anos, chamando atenção para o fato de que 40 (60,6%) tiveram curso clínico superior a 1 ano.

A ansiedade do paciente e do médico diante do quadro de dor crônica, prolongada, ou a agravação da dor na fase reab-

sortiva, tem levado certamente à indicação cirúrgica precoce em muitos casos, passíveis de serem tratados conservadora- mente.

Gschwend et al.(8,9) propõem os seguintes critérios de indi- cação cirúrgica: 1) progressão dos sintomas; 2) dor constan- te, interferindo com as atividades de vida diária; 3) ausência de melhora dos sintomas através do tratamento conservador.

Quanto ao tratamento cirúrgico, a maioria dos autores opina que a ressecção parcial da calcificação não interfere negati- vamente nos resultados(1,6).

Em nosso estudo, verificamos que 48 pacientes, entre os 54 nos quais realizamos a ressecção completa da calcifica- ção, obtiveram excelentes resultados (88,9%), ao passo que 10 entre os 12 nos quais a ressecção foi parcial também con- seguiram o mesmo padrão de resultados excelentes (83,3%) (fig. 4), o que nos põe em concordância com a maioria dos autores, já que a diferença é estatisticamente desprezível.

Quanto à descompressão subacromial, a maioria dos auto- res não aconselha sua indicação sistemática(1,6,13,20), limitan- do-a geralmente para os casos nos quais existam sinais evi- dentes de pinçamento subacromial, observados no exame ra- diológico pré-operatório ou na visibilização direta no ato ci- rúrgico, bem como quando a ressecção feita é apenas par- cial.

Em nosso estudo, o achado de 49 pacientes, entre os 55 submetidos à acromioplastia (89,1%), com excelentes resul- tados, contra 9 pacientes, entre 11 que não se submeteram a ela (81,8%) (fig. 5), também com excelentes resultados, nos permite concluir que a acromioplastia é desnecessária, exce- to na evidência dos sinais de pinçamento subacromial, quan- do a evolução clínica foi muito longa, diante de um acrômio

Fig. 4 – Drenagem parcial

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Fig. 5 – Sem acromioplastia

do tipo III, ou quando a excisão do cálcio foi apenas parcial, como temos procedido.

A ressecção isolada do ligamento coracoacromial, postu- lada por alguns autores(8,9) e julgada desnecessária pela maio- ria deles(18,20), não nos parece lógica, especialmente se anali- sarmos a importância dessa estrutura na estabilização ascen- sional da cabeça do úmero(14,15).

Apenas 9 pacientes (13,6%) realizaram fisioterapia pós- operatória, em nível de ginásio, enquanto 57 (86%) fizeram apenas exercícios para preservação das amplitudes de movi- mentos e, em piscina, quando possível, em nível domiciliar.

Não trabalhamos a força muscular, pois, em nenhum dos pacientes ocorreu perda real, observada após desaparecimento das dores.

É importante enfatizar que o tratamento cirúrgico artros- cópico não representa substituição para o adequado trata- mento conservador, mas importante e eficiente opção para os casos crônicos, resistentes a essa conduta, bem conduzida e por período de tempo suficientemente longo.

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