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DIÁRIO DE SAÜDÈ. oir SCIENCIAS MÉDICAS. VOL. I. SABBADO 2 DE -JANEIRO D i836. SP.'.T&.",

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VOL. I. SABBADO 2 DE -JANEIRO D£ i836. SP.' .T&.",

DIÁRIO DE SAÜDÈ

oir

¦Subscreve-âe em caia de Publica te tfodo* oé iãb-

Seigno.-lU.ncher.eC., rua £

PIIK M E RID E S DAS SCIEIVCIAS M E DICAS bad<"* A. corre-pondenci...,

d^oiiviclor n.*>£», pelo preço de . memoriaSí reclamaçòe», etc.,

13"* por anno ou 6$ pofle-, -m-, w ir|i|in > ne T\f\ D1117I| detém se. dirigidai a^içrip- .ae.«re-B*£o.W.,™WoI.0. I. Jl AI t nAÜ» 11U BUAÍIL. to,i. dl. typograpliia .li'...-

ii«.ATulsofi cuetat&oàij o rs. redactores*

•** w* wv v**** f.

Vires acquirit eundo.

Rio dc JaQeiço* Typ. de J. Tix.M**iiv» ¦ Ç. , sitccersores de P. Plancher.

SCIENCIAS MÉDICAS.

PHYSIOLOGIA.

OBSERVAÇÕES SOBRE A THE0RIA DA RESPIRAÇÃO LIDAS NA SESSÃO DE 21 DE MAIO I)E l835, DA SOCIKDA- DE REAL DE LONDRES J PELO SR. M. W. STEVEN.

Os experimentadores, submettendo huma porção de sangue venoso á acção de huma bomba de ar, tem achado até agora que não se podia* extrahir nenhuma quantidade apreciável de gaz ácido car- bonico, e hão dahi concluido que o sangue não contém ácido carbônico livre. O autor da memo- ria pretende provar que huma tal conseqüência he errônea ; elle demonstra primeiro que o serura , ao qual tem-se feito absorver huma grande quantida- de do mesmo gaz , não o restitue quando se acaba a pressão athmosphcrica ; depois com o soccõrro de algumas experiências elle prova a poderosa attracção exercitada sobre !o gaz ácido carbônico, tanto pelo hydrogeno como pelo oxigeno , os quaes o .absorvem mui promplamente atra vez de huma membrana humida. Mediante hum apparelho par- licular , que consiste em huma garrafa çoin dois gargalos , aos quaes se adapta tubos Curvados , elle tem-se assegurado, de que o sangue venoso, mexido com o hydrogeno puro , e deixado depois durante huma hora em contacto com aquelle gaz, abandona- va«a este ultimo huma porção considerável de "ácido carbônico. O mesmo resultado tinha-se pbtido em

huma precedente experiência, pela simples applica*

ção do calor a huma porção do sangue venoso co- berlo de huma athmosphera de hydrogeno; porem a possibilidade 'da influencia chimica do calorico sobre o sangue, torna esta experiência menos deci- siva do que aquella em que se tem empregado a bomba de ar unicamente. Oauloràcha do mesmo modo, que pondo-se durante espaço de tempo sufli- ciente, huma porção de ar athmosphcrico em contacto com o sangue venoso, e immcdiatamente fazendo a applicaçaò da bomba de ar, este ar a-dqui- re ácido carbônico. A hypothese que o carbono do sangue atlraihe dentro do fluido o oxigeno do ar, e combina-se com elle.eque o ácido carbônico assim

"'% "

formado he exhalado depois , parece não concordar com este facto, que os aci-íos, e sobretudo o ácido carbônico, dão ao sangue huma cor preta , em quanto o effeito immediato dà exposição do sangue venoso ao ar athmospherico Oii ao oxigeno produz huma mudança de cor do vermelho escuro ao es- escarlate brilhante, mudança que constitue a con- versão de sangue venoso em sangue arterial.

O autor conclue destes factos, que o acid© não he formado durante a experiência em questão, po- rem que elle já existe no sangue venoso, e que he o ar athuiospherico; que o desenvolve.

Experiências idênticas feitas com o oxigeno em

lugar de ar, derão os mesmos resulta«l«.s , porem

com hum grau maior , e assim concorrem para

fortificar as idéas einiltidas .pelo autor, sobre a

(2)

2$r DIÁRIO DE .SAÚDE.

theoria da respiração. Segundo estas idéas, não he nem nos pulmões „ peru «em; aycotgQ. d*«eirculaG/$»

em geral, mais unicamente durante a sua passagem atravez dos vasos capilares, que o sangue se trans- forma da sangue arterial em sangue venoso, mu- dança que consiste na formação de ácido earbonico, em conseqüência da addição das particulas do car- bono, provenientes dos tecidos sólidos do corpo, e que se combinarão com o oxigeno fornecido pelo san- gue arterial. He a esta combinação que he devido o desenvolvimento do calor, bem como lambem a cor escura que adquire o sangue. Todavia, e autor re- fere a bclla cor vermelha do sangue arterial, não á acção do oxigeno, que por si mesmo he hum agen- te para colorir completamente inerte, porem á acção dos ingredientes salinos naturalmente conti- dos no sangue de hum indivíduo são. Chegando aos pulmões, a primeira mudança que experimenta o sangue provém do oxigeno do ar athmospherieo, e consiste na subtracção do ácido carbônico que causava a cor escura deste fluido ; a segunda con- siste na attracção pelo sangue de huma porção de oxigeno que elle absorve ao ar, e que toma o lugar do ácido carbônico. A strncfcura particular do pul- mão, e a elevação da temperatura nos animaes de sangue quente, concorrem para facilitar a produe- ção rápida daquelies pbcnomenos. (J. des Seiences physiques.—Septembre 1835.)

THERAPEUTIC A.

TRATAMENTO DA AMAUKOSIS

¦¦¦"¦;¦¦

PELA STRYCIININA.

«ei

A amaiwosis ou gota-serena he huma das moles- tias mais graves que se conhece , e sobretudo das que menos se curâo. Tem-se-lhe alternati vãmente op- poste, e de ordinário sem úteis resultados, os vo- mitorios, os purgantes, as sangue-sugas, os vesi- catemos por cima das sobrancelhas, os cauterios nos braços, os sedenhos na nuca, os moxas nas fontes, a pommáda ammoniacal nosinciput (Gondret), os esternutatorios, as duches salinas (Dr. Faye), as fü- migações ou vapores excitantes (Fioraventi) , as tittilações mecânicas, etc. Em fim, ultimamente

hum medico d'Edimburgo, o doutor Shortz, tem pensado que talvez a noz-voiwic» e seu extraclo vírião a ser elTicazes na paralysia da retina , assim como na paralysia dos membros. O Sr. doutor Mid- dlemore, de Birmingham , e o nosso compatriota o doutor Miquel, tem também , a exemplo do dou- tor Shortz, preconisado a noz-vomica e a strychni- na, seu alcali. Eis o que o doutor Miquel diz deste novo remédio :

« ... De sete pessoas atacadas d'amaurosis, e tra- tadas pelo methodo do doutor Shortz, trez, diz o Sr.' Miquel, tem recobrado completamente a vista; dois que mal vião a claridade do dia , estão assaz pers- picazes para se guiarem, e até mesmo para lerem letras grandes; os dois últimos nenhuma melhoria tiverão.

Antes de principiar o tratamento, cumpre certi- ficar-se de que estão perfeitamente transparentes os humores do olho, eque o doente distingue, pelo menos com hum dos olhos, a luz das trevas.

Indispensável he esta ultima condição ; sc ella não existir, creio que hc inútil empregar a strych- nina : ella não terá resultado algum. A percepção da luz por hum só olho basta ; porquanto o Sr.

Roussel, relojoeiro de Paris, que estava neste caso, recuperou completamente a vista do olho esquerdo, postoque elle não podesse distinguir deste lado a chama de huma vella, posta na distancia de huma pollegada do órgão.

Huma vez estabelecidas as cireumstancias favora- veis, começo o tratamento, applicando dose ou quin- ze sangue-sugas por detraz da orelha , do lado que desejo atacar em primeiro lugar. Se o sujeito he pletorico e disposto ás congestões cerebraes, eu applico as sangue-sugas no ânus ; em todos os casos também purgo previamente os enfermos, depois applico na fonte do mesmo lado hum vesicatorio de quinze linhas de diâmetro, que deixo até o dia seguinte.

Esta ferida bem limpa e bem rosada, he qae

tem de servir de meio d'introducção á strychaina ;

togo importantíssimo he copsorval-a n'hum estado

conveniente para a absorpção.

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DIÁRIO DE SAÚDE. 299

HSB5

A ninguém passaria pela idéa, que hc esla huma das grandes difficuldades que tenho encontrado, e que só a força de apalpadcllas , he que cheguei a vencei-a ,* coin effeito a strychnina em pó como eu empregara a principio, determinava em poucas ho- ras, sobre a ferida, huma falsa membrana espessa, muito adherente ; de sorte que o segundo curativo já éra sem effeito , e que para dar á ferida a pro- priedade absorvente, via-me obrigado de dois em tlois dias a reapplicar o eraplastro vesicatorio sobre as mesmas partes. Então tentei misturar a slrychr nina com a pommada de laureola ; havia o mesmo inconveniente. O mesmo aconleceo, aindaque cm grau menor, substituindo o coroto á parte da pum- mada de laureola. Não consegui attingir pouco mais oti menos o meu alvo , se não dissolvendo previamente a strychnina com huma pequena quan- tidade de álcool. Ahi vai a formula da pommada que eu emprego, e cujas proporções me parecem até hoje as mais ventajosas:

H.—Pommada epispatiea de laureola . . . 2 escr. (48 gr.) Ceroto de Galeno 21/2 escr. (60 gr.) Strychnina dissolvida em q. b. d'alcool 2 gr. (isto he »/54)

Faça huma pommada bem homogênea.

Os curativos fazem-se pela manhãa e á tarde com doze grãos desta pommada, extendida em hum folha de acelga, ou de papel pardo, o que dá quasi hum quinto de grão de strychnina para cada curativo ; augmenta-se, segundo a necessidade, c suecessi- vãmente, a dose da strychnina hum grão dc cada vez; a mais alta dose a que a levei foi de dés grãos.

Logo depois do curativo, e no primeiro dia mes- mo, o doente recebe a influencia da strychnina;

c já no terceiro ou quarto dia , pode-se possuir algum indicio do resultado provável do tratamento.

O primeiro effeito que se observa he o sentimento de faíscas mais ou menos numerosas e vivas no fundo dos dois olhos, e sobretudo no olho do lado em que está posto o vesicatorio. Estas faíscas são muito importantes; se não existissem, mal se de- vera augurar do bom êxito do tratameuJfctjir Também he coisa dipa de notar-se a qualidade da» faíscas *

ellas são algumas vezes denegridas, outras vezes brarfcas ou rubras. As faiscas rubras são as mais ventajosas : todavia não deverão ellas ser muito brilhantes , porque nesse caso fôra necessário mo- derar a acção do remédio, quer diminuindo a quan- tidade da pommada, quer fazendo hum único cu- ratívo por dia.

No decurso do tratamento accidentes sobrevem , sobre os quaes cumpre parar a attenção ; são estes dores de cabeça mais particularmente,na região oc- cipilal, ou no alto da cabeça , rigeza da mandibula, e difliculdade no movimento dos membros inferio- res. Se estes symplomas são passageiros , se elles não chegão a grau muito elevado, não se lhes deve dar importância ; no caso contrario se interromperá o uso da pommada de strychnina por hum dia, e se applicará na ferida hum oitavo de grão d'hydro- çhlorato de morphina. Este único meio me sortio sempre bom effeito.

Em quanto dura o tratamento, tenho o costume de entreter branda, porem continuadamente , a acção do tubo intestinal, por meio de pílulas com- postas com dois grãos de calomelanos, e quatro grãos de resina de jalapa. Estas pílulas tomão-se ao deitar. Se pela continuação os calomelanos ma- nifestarem a sua acção sobre a boca, serão subs- tituidos por hum ou dois grãos d'azevre.

Algumas vezes essas faiscas , que forão copiosas nos primeiros dias, supprimem-se , e não torpão a apparecer , se não quando se augmenta a dose da strychnina ; então cumpre acerescentar ao trata- meuto fricções sobre a sobrancelha e palpebra iafe- rior, com tintura de strychnina muito carregada. Se, apezar desta addição, ainda se supprimemasfaUcas, então eu me dei bem com hum vomitorio. Depois dos choques que elle determina, as faiscas tornão a começar e continuão. Em dois doentes fui ©bri- gado a recorrer trez vezes ao vomitorio, em quan- to durou o tratamento.

Quando o doente tem hum olho melbor que o

outro, he preciso começar o tratamento por aquel-

le; o que está peior sempre melhora ; e algumas

vezes até aem he preciso atocal-o d/reclamante.

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ooo DIÁRIO'¦!-__ SAUDÜ.

Está feliz circumstancia realisou-se em hum dos meus doentes.

Tenho notado, e não sou eu o único, que o sedenho na nuca, o moxa nas fontes, erão mais nocivos do que úteis no caso d'amàurosis idiopathi- ca ; o que posso dizer he, que os dois doentes que não experimentarão melhora alguma, tinhão sido martyrisados por esles meios.

Não me deve esquecer o prevenir, que, apezar ' da modificação, por que fiz passar a pominada, não cheguei a conseguir completamente impedir a for- mação das falsas membranas; forma-se huma dei- gada e molle em seguida de cada curativo. He de mister ter o cuidado de liral-a todas as vezes que se renova a poinmada, o que he fácil de practi- car-se.

De resto, o facultativo mesmo he que deve curar o doente todos os dias, e não perder de vista, que a mais minuciosa atlenção deve ser empregada neste tratamento, que mal administrado, pode vir a ser

perigoso. M.

(Do — J. de Santé — de .5 de outubro do i835, trad. F. C. Valdetaro.)

CIRURGIA.

NECROSCOPIA DE MANOEL ANTÜNEZ , OPERADO PELO DR. JOÃO JOSÉ MONTES DE OCA , DE HUM ANEÜRIS- MA DA CARÓTIDA PRIMITIVA DIREITA, ETC. , ETC.

(Continuado do numero antecedente.)

Habito exterior do corpo: — Côr branca de leite du pelle, rigidez dos membros thoracicos e abdo- minaes, infiltração dos últimos e do escroto, aug- toento do volume do ventre. Livores na parte pos- terior do tronco , rigidez das mandibulas, echymose na metade direita da cara, mais pronunciada ao redor da orelha do mesmo lado. Tecido cellular gorduroso, músculos volumosos de côr roixa, e com forte cohesão das suas fibras , difficuldade de os romper, cabeça inclinada sobre o lado direito.

Percussão :— Percutido o peito, dava hum som obtuso.no fllsnco anterior superior esquerdo, claro

no flanco direito. Não se percutio a parte posterior por não variar a posição do cadáver.

Collo :—Mui volumoso na sua parte inferior, echymose mais pronunciada sobre o lado direito cicatriz de duas polegadas na direcção obliqua de cima para baixo e de traz para diante, na direcção do borda interna do músculo sterno-cleido-mastoido.

Levantada a pelle e os tegumentos da parte superior do peito, encontrarão-se hum tecido cellular mui- to abundante, veias superficiaes muito injectadas.

Levantada a primeira capa muscular, apparecem as jugulc.res do mesmo modo. Foi nesle ponto da autópsia que se suspendeo a dissecção, a qual con- tinuou-se ás cinco horas e meia da tarde do dia seguinte. O cadáver oíferecia todos os signaes da putrefacção, tinha-se augmentado muito o volume das partes, os tecidos estavão esverdiados , e o chei- ro que se desenvolvia era dos mais dpsagrada- veis.

Levantadas as costellas , se encontrou quasi duas libras de serosidade entre a pleura coslal e a pulmo- nar do lado direito; adherencia do pulmão direito á pleura costal; os dois pulmões de huma côr cin- zenta e crepitantes, quando se lhes praticava inci- soes com o escalpello.

O pericardio aberto com huma incisão longitu - dinal, encontrou-se dentro deste sacco trez a quatro onças de huma lympha sanguinolenla. Ocoração hum pouco mais volumoso do que o punho do cadáver , e dotado de huma certa porção de gordura.

A carótida laqueada , sendo dissecada no collo, cortou-se nas immediaçõcs do orifício carotideo.

Dissecada a carótida do lado contrario, notou-se

hum augmentó de hum terço no seu diâmetro , e

se cortou na mesma altura. Forão depois cortadas

as subcalvias ; a do lado direito havia augmentado

hum terço de seu diâmetro normal. Introduzido

hum estilete pelo orifício da aorta , e pela parte

superior da carótida ligada, esta se encontrou per-

feitamente obliterada desde huma polegada da bi-

furcação da sub-clavia até ao ponto onde se prac-

ticou a laqueação , e onde se ha deixado huma

porção de partes molles em forma de huma auricula

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DIÁRIO DE SAÜDE.

fluctuante, na peça anatômica que existe no muzeo, para melhor a fazer distinguir.

Aberto o craneo, se encontrou hum derrama- mento seroso sanguinolento em aiiíbos os vcntricu- ]os, de côr cinzento esverdiado, e notarei amolle- cimento do cerebro, pontos roixos na inaior parte da substancia medtillar. O cerebello reduzido a hum estado de papas , e hum derramamento seroso sanguinolento debaixo do cerebello, e no principio da inedulla espinhal. Nada de notável na dura-matér.

A membrana arachnoide quasi de todo destruida, e a pia-mater como macerada dentro dos plexos choroides.

O ventre meteorisado; nos flancos derramamen- to seroso sanguinolento. O baço muito volumoso , fácil a se romper e destacar-se. O figad ), côr de chumbo azulado. O estomago e os intestinos muito dilatados por gazes. A túnica mucosa do primeiro de huma côr azulada na porção splenica.

Buenos-Ayres, 18 de dezembro de 1834- —Dr.

João José Montes de Oca.

VARIEDADES E NOTICIAS MÉDICAS.

ABERTURA. DO MUZEU— DUPUYTREN.

Lembrados estarão de que 0 Sr. Dupuytren legara por sua morte duzentos mil francos (\ escola de me- dicinade Paris,para o estabelecimento de huma ca- deira de anatomia pathologica ; o celebre cirurgião do Hôtel-Dicu melhor não podia terminar huma carreira toda de dedicação á sciencia e aos progres- sos da arte; o Sr. Dupuytren não quiz apoiar-se unicamente sobre os seus títulos de gloria para pas- sar á posteridade, preferio antes confiar seu nome ao reconhecimento da faculdade, e de seus nume- rosos discípulos.

Esse derradeiro olhar d'interesse, lançado pelo illustre moribundo sobre a escola , que o havia ac- colhido, cujos amphilheatros tinhão aplaudido os seus primeiro triumphos , esses primeiros votos ex- presiados em favor de huma sciencia, á que con- sagrara elle os trabalhos de sua mocidade, essa

3o 1 _ • .. "

maneira nobre de pagar a soa divida á arte, que o , enriquecera", não serão esquecidos; são tilulo.s que a posteridade não lhe contestará , mesmo depois que sábio, que o eloqüente professor, o profundo ci- rurgião, houver sido excedido. Era o Sr. Dupuy- tren desses homens cheios de ardente e nobre am- bição , que se não podem decidir a morrer de todo;

elle , em quanto viveo quiz elevar-se acima dos outros; todos os instantes forão consagrados a este pensamento , a elle sacrificou o seu descanço, a sua mesma felicidade, e até o seu derradeiro momento preoccupado esteve de sua gloria futura : a creação de huma cadeira de anatomia pathologica ha sido o ultimo acto dessa necessidade d'immortalidade.

He de mister convir que o Sr. Dupuytren, me- lhores testamenteiros não podia achar do que o Sr.

ministro da instrucção publica, c o Sr. decano da escola de medicina. Os Srs. Guizot e Oríila hão feito para sua gloria mais do que elle mesmo tinha pedido em seu testamento. Acceilando o legado do Sr. Dupuytren, o ministro empenhou se não só a criar os fundos da nova cadeira , porem a pedido do Sr. Orfila , decidio-se, que hum museo , com o nome de Dupuytren , seria destinado a receber os materiaes do novo ensino, que acabava de crear a sua generosidade.

Ein menos de dois mezes víinos elevar-se este bello estabelecimento no sitio dos amphitheatros da escolha practica; no meio da antiga igreja dos Fran- ciscanos, construio-se huma sala immensa susten- l.ada por duas ordens de columnas, conveniente- mente decorada , aonde se vê agora , arranjada por ordem favorável ao estudo, todas as variedades de lesões que podem aflectar o corpo humano ; este museu começado em princípios de setembro', em o qual ainda a semana passada trabalhava multidão de obreiros, está já enriquecido de peças anatomi- cas mui curiosas, bem classificadas, e preparada com arte e cuidado credores d'elogios.

As moléstias dos ossos, suas diformidades, são

que se fazem notar mais particularmente ; seguem-

se ao depois as moléstias dos diversos apparelhos

o orgãos da economia, as monstruosidades, e em

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DIÁRIO DE SAÚDE.

íjrn as magníficas peças arlificiaes doSr, JDupuytren, que consoguio, como sc sabe, dar a s8us modelos de çera, a medonha verdade das nioleslias mais horrendas da humanidade.

A escola de medicina já possuia a maior parlo dessas peças anatômicas , que nem á sciencia , nem aos discípulos aproveitavão ; pela maior parte amon- toadas nas agoas furtadas da faculdade, em mau estados de conservação, houve mister de muito zelo e perseverança para restabelecer a ordem neste cahos, e para restituir a essas peças, alteradas em o espirito de vinho , a sua forma e cor. Graças a este trabalho , em tão pouco tempo executado com dextreza eactividade maravilhosas, estão hoje restituidas á sciencia grande numero de peças importantes quo se poderá considerar perdidas e ignoradas.

O museu Dupuytren pode já rivalisar com os museus semelhantes de Florença e de Bolonha.

Elle excede os de Leyde, que o Sr. Orfila foi de proposito visitar, e dentro de poucos annos certo será único na Europa; por pouço que os Srs. pro- íessores da faculdade imitarem o zelo de seu de- cano, os hospitaes de Paris lhes fornecerão rapi- damente numerosos materiaes, para cumular as lacunas desta importante collecção. O nome de Dupuytren está gravado em letras inextinguiyeis sobre este monumento; huma nova geração de discípulos ignorará daqui a alguns jinnos qual he o fundador da cadeira de anatomia pathologica , o museu Dupuytren porem trará sempre á lembrança da faculdade o nome e a generosidade de hum dos seus mais íllustres professores. O Sr. Orfda não reservou para si a mais pequena parte da gloria ligada a este novo estabelecimento ; elle a referio generosa e plenamente ao Sr. Dupuytren ; mas se o seu nome se não acha inscripto em parle alguma deste monumento, cumpre não esquecer, que aos seus desvelos, zelo ç dedicação pelo bem da escola, he que nós devemos a realisação dos votos de seu 3TOÍgQ. Bem çomprehenderu Dupuytren, que taro- befli dedicado tinha sua vida inteira , com mui F9ra paixão pa escola, aos deverei do ensino > 6 ao

esplendor da faculdade, que não podia confiara melhores mãos que ás do Sr. Orfila, as suas derra- deirns vontades.

O Sr. ministro dn instrucção publica visitou hoq- tem o novo museu anatomico, e este estabeleci- mento foi hoje exposto ao empenho dos discípulosi o publico será a4mittido nelle na quinta-feira de cada semana.

A faculdade de medicina celebrou hoje a sua so- lemne sessão de abertura ; ,era numerosa a assem- bléa ; quantos professores, aggregados, discípulos e curiosos, podia conter o, grande ampbitheatro da escola , assistia a esta sessão. Excitava este anno o interesse da assembléa huma circumstancia par-, ticular : o Sr. professor Broussais he que fora in- cumbído do discurso d'abertura; e não esquecera que o celebre autor da medicina antiphlogistica ti- nha de responder a algumas criticas assaz finas, dirigidas contra os fazedores de systemas, pelo Sr.

professor Fouquier, no seu discurso do anno pas- sado. Esperava-se pois por huma especie de po- lemíca tanto mais picante, quanta §e conhoce o calor e o estro com que na carreira das discussões se lança de ordinário o medico em chefe do Vai- de-Grace; as contradicções não excitão menos a sua cólera do que se elle tivera de repellir os ata- ques de seus inimigos .na tribuna politica. Porem desta vez foi singularmente enganada a expectação dos ouvintes; o Sr. Broussais esforçou-se por ser moderado, e esteve frio. Para mim, francamente o confesso, gosto mais do Sr. Broussais fogoso e apoi- xonado, entregue a todo o ardor de sua natureza bellicosa, do que do Sr. Broussais sQCegadp e cons- trangido, moderando as suas expressões, poupando os seus adversários, tolerando as contradicções, adoçando a sua voz, e poupando os feus pulmões;

athleta de sobejo vigoroso he o Sr. Broussais, de

sobejo largas são as suas espadoas, de sobejo mor-

dente a sua palavra, o seu gesto de sobejo animado

para sujeitar-se ás formas de hum discurso academi-

co; elle não está á sua vontade; cmbaraça-se

em suas phrases doces e polidas, a sua palavra ai-

gum tanto rude não gosta de Menções, elle tem

(7)

diário de salde. , 5o3

precisão d'espaçò para bater nos peitos pancadas redobradas, e para ostentar toda a sua força e toda a sua energia contra o inimigo que ellc persegue violentamente.

0 Sr. Broussais, raciocinando pacificamente so Jire as febres , discutindo sem cólera os diversos systemas, como se outro systema haver poderá oin medicina, a não ser o seu, já não he o Sr.

Broussais, ou quando muito, he o Sr. Broussais fadigado dos combates , estafado por tantas lutas, e sahindo da arêna para entregar-sc ao repouso. Ah ! se assim tivera sempre fallado o Sr. Broussais, certo sublevado não houvera as escolas, nem removido lodo o mundo medico; reinado não tivera elle por dtSs annos sobre nós !

O assumpto de seu discurso era em primeiro lugar o elogio de Dupuytren, a narração de seus dons á escola, e a analy.se de seus trabalhos; na segunda parte o Sr. Broussais passou ern rcvists os diversos systemas da medicina; e na verdade, li vemos a felicidade de que semelhante exame se fizesse quasi em familia, entre pessoas interessadas a guardar segredo.

O que temos nós feito, se não pode ainda a nos- sa sciencia offerecer mais que semelhante vasio, e que tacs decepções! porem por dita necessário não he absolutamente entregar-se ein corpo e alma ao enthusiasmo dos systemas para practicar-se boa sciencia c boa medicina.

Depois do discurso do Sr. Broussais, que foi co- berto de aplausos, o Sr. decano distribuio os pre mios e as medalhas , propostas pela academia.

AL D.

(Do—Temps— de nov. de i855, trad. F. C.

V atdelaro.)

ESTATUTOS A Q*JE SE REFERE O DEC Mi TO BESTA DATA, QJJE ELEVA A SOCIEDADE DE MEDICINA DO BIO DE JAlNEIRQ A' CATIIEGORIA DE ACADEMIA.

Art. i.° A academia imperial de medicina do Rio de Janeio será dividida em trez secções: a pri- roeira de medicina, composta de quinze membros

honorários, vinte e cinco titulares, e treze adjuntos:

a segunda de cirurgia, composta de onze membros honorários, quinze tilulares , e nove adjuntos : e a terceira de pharmacip , composta de sete membros honorários, onze titulares, e cinco adjuntos. Cada huma destas secções terá mais hum numero illimi- tado de membros correspondentes.

Art. 2.° Os membros honorários serão escolhi- dos d'entre os sábios nacionaes ou estrangeiros, por eleição da academia , com apptovação do go- verno, que poderá regeitar o candidato. Excep- tuão se :

I. Os membros titulares que tiverem comple- tado a idade de sessenta annos, ou que estiverem na sua classe por espaço de doze annos.

II. Os que estiverem na classe dc adjuntos por espaço de dezeseis annos.

III. Os que estiverem na classe de correspoa- dentes por espaço de 20 annos.

IV. Os professores das faculdades de medicina que tiverem dezeseis annos dè magistério. As pes- soas comprehendidas nestas excepções serão de di,- reito membros honorários.

Ari. 3.° A eleição de todos os outros membros pertencerá exclusivamente á academia , e se fará sempre pelas duas terças partas dos rotos do nume- ro total dos membros existentes ~e

por escrutínio secreto, precedendo a apresentação de memórias, ou dissertações feitas pelos candidatos ¦, as quaes serão julgadas pela mesma academia : se a eleição porem versar sobre hum sábio conhecido, ou pes- soa da profissão medica , que tenhão prestado f or longos annos os serviços da sua arte á humanidade, para entrar na classe de correspondentes, poder-se- ha fazer por meio de acclamação.

Art. 4." Se o candidato não obtiver no primeira escrutínio a maioria de que trata o artigo antecc- dente, correr-se-ha segundo , e não a alcançando também neste, não poderá ser recebido sem apre- sentar nova memória ou dissertação.

Art. 5." Os membros adjuntos serão sempre

escolhidos d'entre as pessoas residentes no Rio de

Janeiro, e os- correspondentes d'entre os que resi-

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5o4 , .DIÁRIO direm fora delle. O membro adjunto qtie se mudar para fora desta província , passará á classe dos correspondentes, assim como o correspondente que se mudar para dentro delia passará á dos adjuntos, havendo lugar vago.

Art. 6.° Os membros adjuutos que contarem seis annos nesta classe, passarão, por ordem de antigüidade, á de titulares, havendo vaga. Achan- do-se porem mais de hum destes membros em identidade de çircuinstancias , o lugar se dará áquelle que melhor memória ou dissertação para esse fim apresentar.

Ari. 7.0 O lugar de membro da academia he hum titulo de reoommendação para todas as com- missões ou empregos relativos ao exercício de mo dicina; e a elle não poderão ser admittidos aquel- Jes médicos, cirurgiões e pharmaccuticos que tive- rem aífixado nos lugares públicos, ou divulgado pela imprensa, annuncios sobre curativos que íize- rem, ou sobre a distribuição e venda de remedios secretos que não tenhão sido previamente submet- tidos ao exame e approvação da academia , ou de qualquer das faculdades de medicina do império.

As suas memórias serão regeiladas sem discussão.

Art. S.° Os membros de todas as classes perten- cerão á academia , e«aão serão ligados a nenhuma secção particular,

Art. 9.0 A academia terá huma mesa composta de hum presidente honorário, que será sempre o ministro e secretario d'estado dos negocios do im- perio ; de hum presidente temporário, de hum se- cretario geral , e de hum lhesourciro escolhido pela academia inteira d'enlre os membros titulares, seja qual for a secção a que pertenção.

Art. io.° O presidente temporário e o thesou- reiro servirão sómente por hum unno, e o secretario geral por trez annos , salvo se forem reeleitos. Este secretario terá huma gratificação de 600U000 réis annuaes,

Art. u.° Cada huma das secções da academia terá a sua mesa particular, que será composta de

SAÚDE.

hum presidente, de hum vice-preshlente, e de hum secretario , todos escolhidos d'entre os membros ti tulares da respectiva secção.

Art. 12.0 Os membros das mesas das secções servirão por seis mezes , findos os quaes poderão ser reeleitos o presidente e vice-presidente por mais seis mezes, c o secretario successivameute , salvo se pedir a sua escusa ; a qual só será admittida de- pois da primeira reeleição.

Art. i5.° O presidente temporário da academia será substituído nos seus impedimentos pelo da soe- çâo de medicina : e o secretario geral por hum dos secretários

particulares, e estes pelos membros das suas secções mais modernos em idade.

Art. 14.0 O presidente da academia poderá ac- cumular a presidencia da secção a que pertencer;

terá voto deliberativo com os outros membros, e além disso o de qualidade no caso de empate ; mar' chará á frente da academia e das suas deputaçõés, e dirigirá a palavra em nome delia.

Art. i5.° A academia de medicina , he especial- mente instituída para responder ás perguntas do governo, sobre tudo quanto pode interessar a sau- de publica , e principalmente sobre as epidemias ou moléstias particulares de certos paizes , as epizoo- cias, os diíFerenles casos de medicina legal, os quaes (menos os corpos de delicto por occasião de ferimentos), no Rio de Janeiro , não poderão ser resolvidos se não por ella, ou pelos professores da faculdade de medicina, a propagação da vaccina, os remedios novos ou secretts, os quaes não po- derão ser expostos ao publico sem o seu exame e approvação, ou referida faculdade; sobre as agoas mineraes assim naturaes como factícias; occupando- se além disto de todos os objectos de estudo, c de indagação que podem concorrer para o progresso dos dillcrentes ramos da arte de curar.

Art. 16.0 A academia se reunirá em corpo, ou por secções. As secções da academia serão privadas e terão lugar de trez em trez mezes: as das secções serão publicas, e terão lugar duas vezes por mez.

Em humas e outras os adjuntos terão lugar sepa-

rados. . (Continuar-se-ha.)

Rio de Janpiro. Typ. de J. YILLENEUYE

ç C,*, successores de P. PJancher, rua d'ouvidor n.° 95. —1836.

Referências

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