Dados Básicos
Fonte: 1.0434.08.012994-4/001(1) Tipo: Acórdão TJMG
Data de Julgamento: 09/06/2011 Data de Aprovação Data não disponível Data de Publicação:30/06/2011
Estado: Minas Gerais Cidade: Monte Sião Relator: Tiago Pinto
Legislação: Art. 178, § 10 do Código Civil de 1916.
Ementa
APELAÇÃO - AÇÃO DEMOLITÓRIA - DESFAZIMENTO DE MURO - RELAÇÃO DE VIZINHANÇA - ADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA - SENTENÇA DE EXTINÇÃO CASSADA. É adequada a via da ação demolitória para a pretensão dos proprietários de desfazimento de um muro construído na divisa entre imóveis vizinhos em razão de suposta invasão de área.
Íntegra
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS Número do processo: 1.0434.08.012994-4/001(1) Numeração Única: 0129944-02.2008.8.13.0434 Relator: Des.(a) TIAGO PINTO
Relator do Acórdão: Des.(a) TIAGO PINTO Data do Julgamento: 09/06/2011
Data da Publicação: 30/06/2011 Inteiro Teor:
EMENTA: APELAÇÃO - AÇÃO DEMOLITÓRIA - DESFAZIMENTO DE MURO - RELAÇÃO DE VIZINHANÇA - ADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA - SENTENÇA DE EXTINÇÃO CASSADA. É adequada a via da ação demolitória para a pretensão dos proprietários de desfazimento de um muro construído na divisa entre imóveis vizinhos em razão de suposta invasão de área.
APELAÇÃO CÍVEL N° 1.0434.08.012994-4/001 - COMARCA DE MONTE SIÃO - APELANTE(S): TIAGO RIBEIRO FARIA E OUTRO(A)(S) - APELADO(A)(S): SANDRA LOBATO SANTINI E OUTRO(A)(S), JORGE LUIS DE CASTRO - RELATOR: EXMO. SR. DES. TIAGO PINTO
ACÓRDÃO
Vistos etc., acorda, em Turma, a 15ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, sob a Presidência do Desembargador JOSÉ AFFONSO DA COSTA CÔRTES, na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM CASSAR A SENTENÇA.
Belo Horizonte, 09 de junho de 2011.
DES. TIAGO PINTO - Relator
NOTAS TAQUIGRÁFICAS O SR. DES. TIAGO PINTO:
VOTO
TIAGO RIBEIRO FARIA, THALITA TAINÁ RIBEIRO FARIA E THOMAS FELIPE RIBEIRO FARIA propuseram "ação de demarcação c/c reivindicação e devolução de área inválida" a MARCELO LOBATO e SANDRA SANTOS LOBATO.
Segundo a narrativa da inicial, os autores são proprietários do lote nº11 da quadra 'J' do loteamento 'Parque Antonieta', na cidade de Monte Sião/MG. O lote mede 12,0m de frente para a rua 4 e também 12,0m para os fundos, sendo25,0m em cada lateral, totalizando um área de 300,00m². O imóvel confronta "à direita, olhando para a Rua, com o Lote nº12, à esquerda com o Lote nº10 e aos fundos, com o Lote nº14". Os réus são seus vizinhos e proprietários do lote nº12 na mesma quadra. Este imóvel mede
"vinte e dois metros e cinquenta centímetros (22,50m) de frente para a Rua 4 e sete
metros (27,00m) pelo lado direito olhando para a rua, confrontando com terras de Rafael David Campanari; vinte e cinco metros (25,00m) pelo lado esquerdo, divisando com o Lote nº13, perfazendo área total de quatrocentos e quarenta metros e setenta e cinco centímetros quadrados (443,75m)".
Ocorre que os réus levantaram um muro na divisa dos terrenos desrespeitando a divisa anterior e invadindo a área deles, os autores, em 22,50m². Essa situação resultou numa diminuição da área de 300m² do lote dos autores para 277,50m², sendo que o muro invadiu 1,80m na frente do lote, que media 12,0m. Diante disso, foi pedida a demolição do muro e, alternativamente, a conversão da demolição em perdas e danos, condenando os autores a indenizarem a área apropriada pelo valor de mercado, acrescentando-se as benfeitorias nela existentes.
Os réus apresentaram defesa (fl.31/41), dizendo primeiro da inadequação da via eleita, já que a situação não se enquadra nas hipóteses de demolição, já que o pedido tem natureza possessória e não de demolição cumulada reivindicação.
Dizem da prescrição da pretensão porque superado o lapso de ano e dia. Mesmo que se entenda estar inserta a hipótese no prazo quinquenal do art.178, §10 do CC/1916, já houve esgotamento do prazo. Ainda nesse tópico, informam que o lote onde estão situados os terrenos de ambas as partes chama-se "Parque Dona Antonieta", criado em 1989 pela família Zucato. No início de 1990, a mãe dos réus adquiriu o lote nº12, quadra 'J' (registro nº 3-3681) e fez a construção de uma edícula de 82,18m² e um muro em toda a extensão do lote (443,75m²), finalizando a obra em 1992. Por sucessão hereditária, eles (réus) são proprietários do imóvel desde 7/9/2002. Em razão disso, considerando que de 1992 a 2008 (ajuizamento) decorreram 16 anos, está superado o prazo legal.
Em mérito, dizem que a área questionada nos autos foi adquirida por usucapião, já que o muro foi construído pela sua genitora em 1992, sem qualquer oposição até o ajuizamento desta demanda, em 2008.
Questionam a descrição do local feita nos documentos juntados, especialmente, o levantamento pluviométrico de fl.15, alertando que não há prova da área total do
loteamento, que inclusive se desenvolveu e foi anexado por outro, o 'Jardim Flamboyant'.
Em peça distinta, os réus pleitearam a denunciação da lide de Jorge Luís de Castro porque seria ele o proprietário do lote nº1 do 'Jardim Flamboyant', onde fica parte do muro (lado esquerdo - 22,50m²) que deve ser alterada para adequação da metragem, se acolhido o pedido dos autores, adotando-se o levantamento pluviométrico de fl.15.
Na defesa do denunciado (fls.70/75) foi arguida a prescrição, nos mesmos moldes da que foi alegada pelos denunciantes. No mérito, foi negada a responsabilidade com base no fato de que não foi o denunciado que construiu o muro e, ainda, que o seu terreno está dentro da metragem correta.
Na sentença (fls.97/102), o Magistrado extinguiu o feito sem resolução de mérito por ausência de pressupostos processuais de constituição e desenvolvimento válido do processo. A denunciação da lide restou prejudicada.
Inconformados com a decisão, recorrem os autores (fls.105/112).
Nas razões recursais, eles afirmam que a ação proposta é a correta para a pretensão deles é de demolição. Além disso, alertam para o fato de que houve pedido alternativo de conversão em perdas e danos (colacionam decisões sobre o tema).
Pedem o provimento do recurso para que o feito prossiga normalmente.
Os apelados apresentam contrarrazões (fls.123/126 - dos réus; fls.133/138 do denunciado). O apelado/denunciado apresenta prejudicial de mérito de prescrição sob o fundamento já apresentado na defesa de que o prazo de ano e dia, previsto no art.1.302 do CC já se escoou, já que a obra foi concluída em 1992. Faz alusão também ao prazo de cinco anos previsto no art.178, §10 do CC/1916, dizendo que já foi ultrapassado. No mérito, quer que se mantenha a decisão.
É o relatório.
Preenchidos os demais requisitos de admissibilidade, conhece-se do recurso.
A ação foi extinta sem resolução de mérito, sob o fundamento de que a hipótese comportaria ação possessória.
O quadro apresentado pelos autores/recorrentes é o de que os réus/recorridos fizeram um muro na divisa do terreno deles que adentrou na área do imóvel de propriedade deles. Com isso, pediram que fosse demolido o muro e devolvida a área ou que se estabelecesse a recomposição das perdas e danos. Para tanto, alegam que são proprietários da área matriculada no registro imobiliário sob o nº 5-3680.
Então, a natureza da demanda não é possessória, já que os apelantes buscam com base no domínio, o desfazimento de um muro que supostamente invadiu parte do lote deles.
Sobre isso:
"Quando a demanda versar sobre o domínio da coisa, terá natureza petitória, não se aplicando a ela as regras previstas no procedimento especial das ações possessórias.
Como bem asseverado pela melhor doutrina, a característica da ação possessória é a tutela de um possuidor contra um fato que ofenda a sua posse, de forma que são excluídas do âmbito das ações as demais tais como a imissão de posse e a ação nunciação de obra nova". (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil, Rio de Janeiro, Forense, São Paulo, p.1231).
Sendo assim, como a ação demolitória, de rito ordinário, tem por objetivo o desfazimento de obra danosa ao vizinho, não há inadequação na via eleita pelos apelantes, que, segundo o contexto apresentado na inicial, querem mesmo é isso. Há que se considerar também que os autores fizeram pedido para conversão em perdas e danos, dando azo à possibilidade de ampla análise da matéria objeto da demanda.
Destaque-se que mesmo que haja uma área estabelecida dos imóveis os réus põem dúvida quanto ao estabelecimento da área e até mesmo quanto aos loteamentos existentes na atualidade.
Não há razão para a extinção prematura do feito.
Registre-se que a análise da prejudicial de mérito de prescrição suscitada em contrarrazões está prejudicada, pois a sentença nada dispôs sobre ela, encerrando a tramitação da ação preliminarmente. Nesse caso, não cabe apreciação nesta Instância sob pena de configurar supressão de um grau de jurisdição. Mesmo que a matéria
possa ser analisada de ofício, não é adequado que seja de plano numa Instância de Revisão.
Dessa forma, CASSA-SE A SENTENÇA DETERMINANDO O RETORNO DOS AUTOS À PRIMEIRA INSTÂNCIA PARA O SEU REGULAR PROSSEGUIMENTO.
Custas recursais ex lege.
Votaram de acordo com o(a) Relator(a) os Desembargador(es): ANTÔNIO BISPO e JOSÉ AFFONSO DA COSTA CÔRTES.
SÚMULA: CASSARAM A SENTENÇA.