• Nenhum resultado encontrado

BULLYING: VIOLÊNCIA QUE NÃO ESCOLHE IDADE

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "BULLYING: VIOLÊNCIA QUE NÃO ESCOLHE IDADE"

Copied!
11
0
0

Texto

(1)

BULLYING: VIOLÊNCIA QUE NÃO ESCOLHE IDADE

Analu dos Santos Clementino1 Mônica Giseli Festa Antiquera2

Introdução

No Brasil, os debates sobre o bullying ainda são incipientes, embora essa problemática sempre tenha existido. As análises que serão apresentadas neste trabalho se fundamentam na compreensão do fenômeno bullying e de suas repercussões para os envolvidos, uma vez que essa violência permeia as relações sociais e afeta principalmente o cotidiano das instituições de ensino.

Buscamos por meio deste artigo abordar os reflexos do fenômeno bullying, alertando para o notório crescimento desta violência na sociedade. Alguns fatores como o consumismo, os padrões de beleza, as desigualdades sociais e a ausência de limites, tem exercído um intenso domínio nas relações interpessoais não só entre adultos mas também entre as crianças. Mesmo na infância as crianças podem sofrer ou causar conflitos éticos e morais, os quais podem comprometer o desenvolvimento futuro dos envolvidos.

É nosso propósito ainda, informar sobre a prevalência do bullying e conscientizar os leitores sobre a importância de ações preventivas, diagnósticos e tratamentos.

Definição do fenômeno bullying

O bullying diferencia-se das outras formas de violência, caracterizando-se como uma forma de violência moral que se dá por meio de gozações, intimidações e insultos, permeados de intencionalidade e crueldade, que tendem a gerar danos emocionais.

1 Acadêmica do curso de Pedagogia da UNIOESTE – Campus Cascavel.

2 Acadêmica do curso de Pedagogia da UNIOESTE – Campus Cascavel.

(2)

Apresenta-se em diversas esferas da sociedade, sendo que a maior ocorrência dos casos se evidencia no ambiente escolar.

Fante e Pedra (2008), precursores de estudos sobre o bullying no Brasil, definem este fenômeno como um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas, adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento.

Brincadeiras são muito saudáveis entre as pessoas e são importantes para a socialização do grupo, desde que não gerem nenhum tipo de constrangimento. A partir do momento que a brincadeira torna-se uma ação repetitiva causando traumas psíquicos, configura-se um ato de violência. A repercussão dessa relação afetiva desestruturada pode comprometer a formação de caráter, levando ao envolvimento com drogas, gangues, armas, violência doméstica e sexual, além de intervir intrinsecamente nos aspectos pessoal, profissional, familiar e social.

“O bullying sempre existiu desde que a escola existe. Porém, somente há pouco mais de três décadas é que se tornou assunto estudado, com parâmetros científicos”

(FANTE e PEDRA, 2008, p. 52.). O bullying acontece em diversos ambientes, porém a escola é o local mais frequente. Atinge escolas privadas ou da rede pública, independente do turno ou poder aquisitivo das mesmas. Não existe diferença entre o bullying praticado no Brasil ou em qualquer outro lugar do mundo, a única variante se dá em termos estatísticos.

É essencial saber diferenciar o bullying das demais formas de violência, caso contrário qualquer atitude inconsequente poderá ser entendida como bullying. Para tanto, Dan Olweus, pesquisador norueguês da Universidade de Bergen, definiu os seguintes critérios para identificar o comportamento bullying: “ações repetitivas contra a mesma vítima num período prolongado de tempo; desequilíbrio de poder, o que dificulta a defesa da vítima; ausência de motivos que justifiquem o ataque” (FANTE e PEDRA, 2008, p.39).

Os atos repetitivos caracterizam-se por um conjunto de condutas agressivas que ocorrem pelo menos duas ou mais vezes durante o ano letivo, contra a mesma vítima.

Outro fator imprescindível para o diagnóstico do bullying é o desequilíbrio de poder entre o agressor e a vítima. Este desequilíbrio remete ao fato da vítima não dispor de mecanismos de autodefesa, independente de suas características físicas, nem de despertar em outros o interesse em defendê-la. Os agressores demonstram habilidades de liderança e de persuasão, no entanto, na maioria das vezes, são inseguros. Assim, a prática do bullying se justifica na tentativa de satisfazer essa insegurança, visto que, os

(3)

ataques não partem de uma briga ou discussão entre dois ou mais indivíduos, mas surgem da intolerância às diferenças.

Caracterização dos envolvidos no fenômeno

Frequentemente as vítimas do bullying apresentam características físicas sobressalentes, usam óculos, são obesas ou muito magras, tem orelhas ou nariz grandes.

Possuem características raciais marcantes, necessidades especiais, alguma deficiência física, mental ou sensorial, opção sexual atípica, sotaque, diferenças religiosas e modo de vestimenta incomum.

Além disso, pessoas que demonstrem timidez, insegurança, baixa autoestima, irritação, ansiedade, aspectos depressivos ou coordenação motora pouco desenvolvida também podem sofrer esse tipo de assédio moral. Todavia faz-se necessário salientar que o alvo dessa violência são sujeitos passivos, submissos que não reagem frente às humilhações.

Segundo Fante e Pedra (2008), existem dois tipos de vítimas do bullying, as provocadoras e as agressoras. Os alunos considerados vítimas provocadoras são aqueles que através de suas atitudes acabam atraindo para si reações agressivas. Nesse grupo enquadram-se alunos geralmente imaturos, inquietos, hiperativos, que despertam irritabilidade em seus colegas. Já as vítimas agressoras são pessoas que reproduzem as consequências sofridas, portanto, são ou foram vítimas do bullying e por sua vez vinculam-se a grupos ou agem sozinhos com o intuito de intimidar seus agressores.

Os agressores ou bullies são definidos como:

[...] aqueles que se valem de sua força física ou habilidade psicoemocional para aterrorizar os mais fracos e indefesos. São prepotentes, arrogantes e estão sempre metidos em confusões e desentendimentos. Utilizam várias formas de maus-tratos para tornar- se populares, dentre elas as “zoações”, os apelidos pejorativos, expressões de menosprezo e outras formas de ataques, inclusive os físicos [...] (FANTE e PEDRA, 2008, p.60).

Verifica-se ainda outro grupo de alunos envolvidos com o bullying, são os espectadores. Estes de forma passiva presenciam a atitude dominadora dos agressores

(4)

sobre os vitimados. Muitos repudiam, mas não interferem. Outros apóiam, pois temem se tornar novo alvo.

Os tipos de bullying

Os atos de bullying podem se manifestar não só ambiente real, com a presença do agressor e da vítima, mas também no mundo virtual. A prática da violência moral através de meios eletrônicos, como Internet e celulares, denomina-se ciberbullying, prática que está sendo difundida cada vez mais, especialmente com o acesso facilitado a estes meios e com a popularidade dos sites de relacionamentos, como blogs, Orkut, programas instantâneos de troca de mensagens, como o MSN, celulares com câmeras, dentre outros. As intenções e as consequências são as mesmas, a diferença está no método, já que através do ciberbullying os agressores podem permanecer anônimos, ou ainda, se passar por outras pessoas.

O bullying compreende várias formas de ataques os quais normalmente são combinados a fim de gerar a exclusão social. Os ataques podem ser físico (bater, chutar, beliscar), verbal (apelidar, xingar, zoar), moral (difamar, caluniar, discriminar), sexual (abusar, assediar, insinuar), psicológico (intimidar, ameaçar, perseguir), material (furtar, roubar, destroçar pertences), virtual (zoar, discriminar, difamar, por meio da internet e celular).

Dos sete tipos de ataques habituais, “na maioria dos países onde o fenômeno é estudado, os maus-tratos verbais, por meio de apelidos depreciativos, são os mais incidentes” (FANTE e PEDRA, 2008, p.45).

O bullying sexual também é muito frequente contra homossexuais, sendo definido como bullying homofóbico.

Os professores também podem ser alvo da violência moral. Os casos de bullying envolvendo professores e alunos são facilmente encontrados e os índices são cada vez maiores. Professores vitimizados são assediados moralmente e sexualmente, são humilhados e convivem com situações constrangedoras e deprimentes. Este fator tem contribuído para o aumento de profissionais que sofrem com a Síndrome de Burnout3.

3 “A chamada Síndrome de Burnout é definida por alguns autores como uma das conseqüências mais marcantes do estresse profissional, e se caracteriza por exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo, depressão e insensibilidade com relação a quase tudo e todos (até como defesa emocional) (...) Essa síndrome se refere a um tipo de estresse ocupacional e institucional com predileção para profissionais que mantêm uma relação constante e direta com outras pessoas, principalmente quando esta atividade é considerada de ajuda (médicos, enfermeiros, professores).” (BALLONE, 2009).

(5)

Da mesma forma, há professores que praticam bullying contra seus alunos.

Muitos alunos sofrem perseguição, são ridicularizados, sofrem agressão verbal e moral, sendo acusados publicamente. Tais acontecimentos reproduzem queda da auto-estima, rebaixamento da capacidade cognitiva, sensação de impotência e fracasso, fatores estes que prejudicam o rendimento escolar do aluno.

Incidência do bullying

Os ataques de bullying ocorrem normalmente nos pátios de recreio, banheiros, corredores, salas de aulas e imediações da escola. Mas também se evidenciam fora do ambiente escolar, nos condomínios, lan-houses, shoppings. No Brasil, o local preferido para os ataques são as salas de aulas. A partir do momento em que a criança vai para a escola, torna-se mais propícia a sofrer com esse tipo de violência, bem como se tornar autora dessa prática.

“O comportamento bullying pode ser identificado em qualquer faixa etária e nível de escolaridade” (FANTE E PEDRA, 2008, p.45). Mesmo em crianças de três e quatro anos pode-se identificar características abusivas e manipuladoras ou ao mesmo tempo passivas e submissas. Porém, “[...] a maior incidência está entre os alunos do 6º ao 9º ano, período em que, progressivamente, os papéis de protagonistas se definem com maior clareza” (FANTE E PEDRA, 2008, p.46). O bullying acontece com mais freqüência na educação infantil e no ensino fundamental. Contudo, ainda que a maioria dos casos ocorra nas séries iniciais a gravidade das incidências aumenta conforme o grau de escolaridade, tornando a situação mais grave.

Estudos revelam que entre meninos a incidência do bullying é maior.

Enquanto a maioria dos meninos utiliza, comumente, os maus-tratos físicos e verbais, as meninas valem-se mais de maledicência, fofoca, difamação, exclusão e manipulação para provocar sofrimento psicológico nas vítimas (SIMMONS apud FANTE e PEDRA, 2008, p.64).

Diversos casos de bullying têm sido noticiados pela imprensa internacional. No Brasil, o tema ganhou espaço principalmente após a tragédia de 2003 em Taiúva, São Paulo. “[...] um aluno de 18 anos de uma escola de Taiúva, no interior de São Paulo, feriu oito pessoas com disparos de um revólver calibre 38, suicidando-se em seguida. O

(6)

jovem era obeso e, por isso, era uma vítima constante de apelidos humilhantes”

(JORNAL CIDADE, 2008).

Outro caso recente acontecido na Paraíba envolvendo ciberbullying:

[...] um aluno menor de idade, criou um perfil no Orkut onde aparecia numa foto armado e afirmava ser vítima de bullying e ameaçava a escola. Diante da situação, a escola instalou detectores de metal e pediu ajuda à polícia. O jovem se entregou e afirmou estar arrependido. (JORNAL CIDADE, 2008).

Segundo pesquisa realizada em 2008 pela Plan 4, a cada dia aproximadamente 1 milhão de crianças sofrem algum tipo de violência nas escolas em todo o mundo. O relatório, que integra a campanha internacional “Aprender sem medo”, elenca algumas estatísticas específicas do Brasil, mostrando que 84% de 12 mil estudantes de seis estados reportaram suas escolas como violentas; cerca de 70% desses 12 mil estudantes afirmaram terem sido vítimas de violência escolar; um terço dos estudantes afirmou estar envolvido em bullying, seja como agressor ou vítima; quando questionadas a respeito de castigo corporal, crianças brasileiras de 7 a 9 anos disseram que a dor nem sempre é só física. Declararam sentir “dor no coração” e “dor de dentro”. (PLAN, 2008)

Esta pesquisa demonstra como são alarmantes os casos de violência nas escolas brasileiras, assim como os casos de bullying. Mas esta não é uma prerrogativa apenas da escola, sabe-se que a violência e a agressividade infanto-juvenis tem crescido notoriamente em nossa sociedade e os fatores que colaboram para essa situação são inúmeros. As mudanças sociais, tais como, globalização, apelo ao consumismo, padrões de beleza ditados pela mídia, mal-estar econômico, desigualdades sociais, assim como a ausência de limites e de modelos educativos familiares, têm grande influência no surgimento da violência infanto-juvenil. (FANTE e PEDRA, 2008).

Reflexos do bullying

4 “A Plan é uma organização não-governamental de origem inglesa, ativa há mais de 70 anos. Sem qualquer vinculação política ou religiosa e sem fins lucrativos, está voltada para a defesa dos direitos da infância, conforme expressos na Convenção dos Direitos da Criança, da Organização das Nações Unidas. [...]

Atualmente, está presente em mais de 60 países, atende cerca de 1,5 milhão de crianças em seus projetos e possui aproximadamente 1 milhão de doadores. No Brasil desde 1997, a Plan possui, hoje, mais de 50 projetos que atendem aproximadamente 75 mil crianças e adolescentes.” Mais informações podem ser obtidas no site http://www.plan.org.br.

(7)

As consequências do bullying para as vítimas podem ser de ordem física e psíquica. Sendo que os sintomas físicos mais comuns são aqueles associados ao alto nível de estresse, tais como, dores de cabeça, dores estomacais, tensões musculares, taquicardia, insônia ou excesso de sono, perda ou aumento do apetite, bulimia, anorexia, acompanhados de possível surgimento de doenças psicossomáticas.

Os sintomas psíquicos podem ocasionar prejuízos ao desenvolvimento social, cognitivo e emocional.

[...] devemos pensar nos tipos de construções inconscientes de cadeias de pensamentos que estarão sendo construídas na memória da vítima e suas implicações para o desenvolvimento da auto-estima, da socialização e do aprendizado. A experiência bullying é traumática ao psiquismo das vítimas, pois promove o superdimensionamento do registro em sua memória, por causa da forte carga emocional de constrangimento vivenciada. Daí por diante, seja de fonte extrapsíquica ou intrapsíquica, a cada novo estímulo aversivo, gerado pela presença ou lembrança do agressor, novas construções de cadeias de pensamentos se constroem, aprisionando a mente da vítima a emoções desagradáveis e geradoras de desequilíbrios biopsicossociais.

(CURY apud FANTE e PEDRA, 2008, p. 41.).

Os sintomas mais freqüentes são ansiedade, medo, irritabilidade, dificuldade de concentração, melancolia, cansaço, insegurança, complexo de inferioridade, humor instável, depressão, hiperatividade, fobias, ou ainda podendo chegar a níveis mais drásticos como o surgimento de sintomas ligados ao transtorno do pânico, transtorno de ansiedade generalizada (TAG), transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e transtorno do estresse pós-traumático (TEPT). Quadros menos frequentes estão ligados ao desejo de vingança e tendências suicidas ou homicidas, como os casos descritos anteriormente.

(SILVA, 2010).

Os efeitos do bullying comprometem a educação das vítimas e ferem os direitos promulgados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. O artigo 53, incisos I e II, do Estatuto da Criança e do Adolescente, prevê que:

A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - direito de ser respeitado por seus educadores; [...]

(8)

Contudo, educandos que são vítimas do bullying tem tido seu direito comprometido. Alguns alunos por sentirem-se amedrontados esquivam-se do ambiente escolar, aumentando o índice de absentismo, levando à queda no rendimento escolar e consecutivamente à evasão. Outros, em consequência do clima de extrema tensão perdem a concentração e não conseguem mais acompanhar a turma, o que também resulta em queda do rendimento e evasão.

As consequências também pesam sobre aqueles que praticam o bullying, estes estão mais propícios a adoção de posturas anti-sociais e envolvimento com drogas, consumo de álcool, porte ilegal de armas, participação em gangues. No contexto escolar geralmente os bullies tem dificuldade em se adaptar às normas estabelecidas pela instituição de ensino, além disso, suas atitudes perturbadoras resultam em déficit de aprendizagem e desinteresse pelos estudos.

Os espectadores não sofrem diretamente as agressões, mas podem desenvolver sentimento de insegurança, traumas causados pelo sofrimento do outro. Os danos também podem comprometer sua saúde física e emocional que poderá rebaixar seu desenvolvimento escolar.

Medidas de intervenção

Diretrizes e ações para intervenção na prática do bullying precisam ser estudadas e definidas de modo que contribuam para sua superação. Ultimamente o bullying tem tomado posição de destaque nos debates acadêmicos e até mesmo políticos. Exemplo disso é que está em trâmite o Projeto de Lei 5369/09, do deputado Vieira da Cunha (PDT-RS), o qual se propõe a identificar as crianças vítimas de bullying nas escolas e na sociedade, além de criar estratégias para que a prática do bullying se inviabilize (DIREITOS DA CRIANÇA, 2010).

Entre as propostas deste projeto estão: a capacitação de docentes e equipes pedagógicas para a implementação das ações de discussão, prevenção, orientação e solução do problema; a implementação e disseminação de campanhas de educação, conscientização e informação; a instituição de práticas de conduta e orientação de pais, familiares e responsáveis para a identificação de vítimas e agressores; a assistência psicológica, social e jurídica às vítimas e agressores.

(9)

Vale ressaltar a importância de a escola reconhecer que a violência é um problema social e, ao mesmo tempo, reconhecer que seu papel é fundamental para a sua redução.

As estratégias de enfrentamento ao bullying devem ser desenvolvidas sempre considerando as características sociais, econômicas e culturais de sua população. Assim, ao criar programas preventivos, a escola deve envolver a participação de alunos, pais, professores e funcionários.

Identificar os casos de bullying é o primeiro passo que leva a adoção de medidas interventoras. Para isso, além dos educadores, os pais também devem estar atentos aos sinais comportamentais apresentados pelos filhos.

Silva (2010) alerta para alguns comportamentos típicos das vítimas no ambiente doméstico, como: frequentes queixas de dores de cabeça, enjoos, dores estomacais e ou- tros, geralmente mais intensos nos horários que antecedem a ida à escola; constante mu- dança de humor e explosões de raiva; isolamento e pouco contato social; pedidos de mais dinheiro aos pais do que de costume, na tentativa de aliviar as agressões compran- do presentes; falta de vontade de frequentar às aulas, utilizando-se de diversas desculpas e desmotivação com tudo que esteja relacionado aos afazeres escolares. Já os agressores (bullies) comumente apresentam atitudes hostis, desafiadoras e agressivas com os pais, irmãos e empregados; desrespeitam hierarquias; demonstram conduta manipuladora e mentem sem constrangimentos; adotam maneiras diferentes de se vestir e se comportar;

podem aparecer com objetos e dinheiro sem justificativa e quando repreendidos, contes- tam as críticas advindas tanto da escola quanto dos familiares.

A capacitação dos profissionais escolares para observação, identificação, diagnóstico, intervenção e encaminhamentos corretos deve ser contínua. Importante também é que a escola possa contar com consultores externos, especialistas no tema, como psicólogos e assistentes sociais. Além disso, é preciso organizar uma rede de apoio, mantendo parcerias com conselhos tutelares, delegacias da Criança e do Adolescente, promotorias públicas, varas da Infância e Juventude, promotorias da Educação, dentre outros. (FANTE e PEDRA, 2008).

A participação de todos visa estabelecer normas, diretrizes e ações co- erentes. As ações devem priorizar a conscientização geral; o apoio às vítimas de bullying, fazendo com que se sintam protegidas; a consci-

(10)

entização dos agressores sobre a incorreção de seus atos e a garantia de um ambiente escolar sadio e seguro (NETO, 2005, p. S169).

Neto (2005) ainda sugere algumas atividades a serem desenvolvidas com os alu- nos envolvidos com o bullying:

treinamentos através de técnicas de dramatização – trabalham a aquisição de ha- bilidades para lidar com diferentes situações e de formas diferentes;

 formação de grupos de apoio - protegem os alunos alvos e auxiliam na solução das situações de bullying;

 aos alunos autores, fornecer condições para que desenvolvam comportamentos mais amigáveis e sadios, evitando o uso de ações puramente punitivas, como castigos, suspensões ou exclusão do ambiente escolar, que acabam por margina- lizá-los.

Apesar do tema bullying estar ganhando espaço no debate público, infelizmente muitas escolas ainda não estão preparadas para este enfrentamento. “Algumas por desconhecimento, outras por omissão, muitas por comodismo e negação do fenômeno”

(FANTE e PEDRA, 2008, p. 106.).

Considerações finais

Nos últimos anos os casos de bullying tem se destacado, sobretudo no contexto escolar. Embora os índices dessa violência sejam mais elevados entre os adolescentes, na educação infantil ela também se faz presente. Portanto, as escolas devem implementar estratégias que previnam quanto a ocorrência desse tipo de violência em todas as instâncias. Os educadores e os pais precisam estar preparados para diagnosticar os casos, identificar quem são os agressores e quem são os vitimados e definir ações interventoras. É fundamental que os pais dialoguem com seus filhos a respeito do ambiente escolar e estejam atentos aos aspectos comportamentais relativos a este fenômeno, a fim de idenficar quando a “brincadeira” se torna violência.

Qualquer criança que tenha sido vítima de bullying poderá precisar de atendimentos especializados, sejam psicológicos, terapêuticos e até mesmo educacionais.

(11)

Os aspectos psicológicos, emocionais, intelectuais e de personalidade tem suas bases na infância e estão em contínuo desenvolvimento. As características individuais dependem da interação do ser humano com o meio físico, social e cultural. É na escola que a criança inicia sua caminhada para a vida adulta e é justamente neste ambiente que ela deve aprender a não admitir qualquer tipo de violência ou preconceito.

Referências

BALLONE, G. J. Síndrome de Burnout. PsiqWeb. Disponível em:

www.psiqweb.med.br. Acesso em: 19 julho 2009.

BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm. Acesso em: 25 agosto 2009.

DIREITOS DA CRIANÇA. Portal dos direitos da criança e do adolescente. Projeto de Lei nº 5369/09. Disponível em: http://www.direitosdacrianca.org.br/temas- prioritarios/educacao/projeto-de-lei-no-5369-09. Acesso em: 20 agosto 2010.

FANTE, Cleo; PEDRA, José Augusto. Bullying escolar: perguntas e respostas. Porto Alegre: Artmed, 2008. 132 p.

JORNAL CIDADE. Bullying é explicação para muitas tragédias em escolas, diz a psicóloga. Rio Claro, out. 2008. Disponível em:

http://jornalcidade.uol.com.br/rioclaro/educacao/3-educacao/29853-Bullying-e-

explicacao-para-muitas-tragedias-em-escolas-diz-psicologa. Acesso em: 19 julho 2009.

NETO, Aramis A. Lopes. Bullying: comportamento agressivo entre estudantes. Jornal de Pediatria, Rio de Janeiro, v. 81, n. 5 (Supl), p. S164-S172, 2005.

PLAN. Aprender sem medo: campanha global para acabar com a violência nas escolas. Resumo do relatório. Brasil, set. 2008. Disponível em:

http://www.plan.org.br/publicacoes/download/aprender_sem_medo_setembro2008_resu mo.pdf. Acesso em: 30 novembro 2009.

SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Bullying: mentes perigosas nas escolas. Rio de Janeiro:

Objetiva, 2010. 188p.

Referências

Documentos relacionados

De seguida, vamos adaptar a nossa demonstrac¸ ˜ao da f ´ormula de M ¨untz, partindo de outras transformadas aritm ´eticas diferentes da transformada de M ¨obius, para dedu-

Nas últimas décadas, os estudos sobre a fortificação alimentar com ferro no país têm sido conduzidos na tentativa de encontrar uma maneira viável para controle da anemia

A prova do ENADE/2011, aplicada aos estudantes da Área de Tecnologia em Redes de Computadores, com duração total de 4 horas, apresentou questões discursivas e de múltipla

17 CORTE IDH. Caso Castañeda Gutman vs.. restrição ao lançamento de uma candidatura a cargo político pode demandar o enfrentamento de temas de ordem histórica, social e política

O enfermeiro, como integrante da equipe multidisciplinar em saúde, possui respaldo ético legal e técnico cientifico para atuar junto ao paciente portador de feridas, da avaliação

Apothéloz (2003) também aponta concepção semelhante ao afirmar que a anáfora associativa é constituída, em geral, por sintagmas nominais definidos dotados de certa

A abertura de inscrições para o Processo Seletivo de provas e títulos para contratação e/ou formação de cadastro de reserva para PROFESSORES DE ENSINO SUPERIOR

Seja o operador linear tal que. Considere o operador identidade tal que. Pela definição de multiplicação por escalar em transformações lineares,. Pela definição de adição