• Nenhum resultado encontrado

RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS SUSTENTABILIDADE E POLUIÇÃO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS SUSTENTABILIDADE E POLUIÇÃO"

Copied!
9
0
0

Texto

(1)

3º Simposio Iberoamericano de Ingeniería de Residuos 2º Seminário da Região Nordeste sobre Resíduos Sólidos

REDISA – Red de Ingeniería de Saneamiento Ambiental

ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental

1

RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS SUSTENTABILIDADE E POLUIÇÃO

Sandro Luiz da Costa (1)

Membro da ABES-SE, Bacharel em Direito e Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) pela Universidade Federal de Sergipe, sob orientação da Prof. Dra. Maria Augusta Mundim Vargas.

Endereço(1): Rodovia BR 101, s/nº, KM 92,5 - Fórum Bel Luiz Augusto Barreto - Conj. Parque dos Faróis - Nossa Senhora do Socorro - SE - CEP: 49160-000 - Brasil - Tel: +55 (xx) 3253-4949 - e-mail:

sandrolcosta@yahoo.com.br.

RESUMO

A questão do lixo tornou-se um problema de alcance global, agravado pelo efeito entrópico acentuado pelo desperdício de energia e de materiais, causados pelo racionalismo predominante do atual sistema econômico, que não incorpora a variável ambiental em seu contexto.

Verifica-se uma preocupação crescente com as políticas de gestão dos resíduos sólidos produzidos pela humanidade, de forma a minimizar seu uso e reutilizá-los, buscando, ainda a recuperação (reciclagem e compostagem) destes resíduos, reintroduzindo-se na cadeia produtiva todos os demais resíduos gerados, dentro de um sistema integrado e participativo de gestão e gerenciamento de resíduos.

Para alcançar a sustentabilidade na geração de resíduos sólidos urbanos (RSU), o poder público deve estabelecer políticas e ações que considerem todas as fases da produção de resíduos em sua forma conjunta, considerando-se suas inter-relações e interferências recíprocas (gestão e gerenciamentos integrados), com participação efetiva da população no processo de estabelecimento destas políticas e ações.

A poluição é uma das conseqüências mais negativas do gerenciamento inadequada de RSU e é definida juridicamente pela Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, onde são abraçadas suas dimensões sociais, econômicas e ambientais, sendo exigido para todas as atividades potencialmente poluentes um rigoroso sistema de licenciamento ambiental. Apesar deste duro tratamento legal, até hoje os municípios da Região Metropolitana de Aracaju gerenciam de maneira não sustentável e poluente os seus resíduos, gerando assim condições adversas ao meio ambiente.

PALAVRAS-CHAVE: Resíduos sólidos urbanos, Sustentabilidade, Poluição, Região Metropolitana de Aracaju.

INTRODUÇÃO

A constante degradação antrópica da natureza tem causado reflexos que começam a fazer o ser humano a repensar sua relação com o meio ambiente e os parâmetros de produção e consumo ilimitados atinentes ao sistema econômico corrente, buscando-se um ponto de equilíbrio que estabeleça sua sustentabilidade, antes que seja tarde demais.

Dentro da questão da geração de resíduos sólidos, verifica-se um desequilíbrio na relação consumo/produção de lixo/meio ambiente, tendo-se em vista que, por falta da implantação de uma política de gestão integrada de resíduos sólidos, a cada dia recursos ambientais preciosos são desperdiçados e, de outro, lado, aumenta-se o passivo ambiental decorrente da poluição ocasionada.

O presente trabalho, dentro de seus limites dimensionais, visa apresentar uma revisão de literatura sobre a sustentabilidade na gestão de resíduos sólidos e os efeitos naturais e jurídicos da poluição causada.

(2)

3º Simposio Iberoamericano de Ingeniería de Residuos 2º Seminário da Região Nordeste sobre Resíduos Sólidos

REDISA – Red de Ingeniería de Saneamiento Ambiental

ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental

2 RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS E SUSTENTABILIDADE

A questão do lixo tornou-se um grande problema no mundo, com reflexos que extrapolam a área ambiental, haja vista que a ausência de sustentabilidade do ciclo linear de produção, consumo e descarte de materiais, além de esgotar as reservas naturais, tem transformado nosso planeta em um largo depósito de lixo, causando a degradação do meio ambiente e afetando a saúde da população.

Este problema é agravado exatamente porque durante as fases que vão da extração da matéria prima até o descarte final, o efeito entrópico é acentuado pelo desperdício de energia e de materiais, causados pelo racionalismo predominante do atual sistema econômico, que não incorpora a variável ambiental em seu contexto.

A entropia, identificada pela segunda lei da termodinâmica, estabelece a prova de que o movimento constante e o reaproveitamento total de toda a energia no sistema são impossíveis, estabelecendo assim o limite da racionalidade econômica vigente (LEFF, 2006).

Odum (1987), por sua vez, observa que tal como em um ecossistema, a economia é menos eficiente quando não aproveita todos seus subprodutos dentro do próprio sistema. Os resíduos não utilizados são poluentes, como se verá no tópico seguinte, e os reutilizados ou recuperados são benefícios para o sistema econômico.

Neste sentido, verifica-se que há uma preocupação crescente com as políticas de gestão dos resíduos sólidos produzidos pela humanidade (gestão), de forma a minimizar seu uso e reutilizá-los, buscando, ainda a recuperação (reciclagem e compostagem) destes resíduos, reintroduzindo-se na cadeia produtiva todos os demais resíduos gerados, dentro de um sistema integrado e participativo de gestão e gerenciamento de resíduos.

Resíduos sólidos, conforme leciona Tchobanoglous (1993, p. 3), “compreende todos os resíduos decorrentes de atividades humanas e animais que normalmente são sólidos e que são descartados como inúteis ou indesejados”. Em seguida, o autor define o termo como abrangendo “materiais heterogêneos descartados pela comunidade urbana como também a acumulação mais homogênea de resíduos agrícolas, industriais e minerais” (tradução do autor)1.

Por sua vez, Lima (2001, p. 32) dispõe que resíduos sólidos são “materiais heterogêneos, (inertes, minerais e orgânicos) resultantes das atividades humanas e da natureza, os quais podem ser parcialmente utilizados, gerando, entre outros aspectos, proteção à saúde pública e economia de recursos naturais”.

Finalmente, a ABNT (1987), através da NBR 10.004, explicita e alarga o referido conceito, estabelecendo que:

“resíduos sólidos são: resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível”.

Dentro do escopo deste trabalho serão analisados especificamente os resíduos sólidos urbanos (RSU), sendo aqui entendidos como aqueles provenientes das residências, das atividades comerciais, de limpeza das vias, feiras públicas e equipamentos públicos e da poda da vegetação municipal, abrangendo outros, que por

1“Solid wastes comprise all the wastes arising from human and animal activities that are normally solid and that are discarded as useless or unwanted. The term solid waste… encompassing the heterogeneous mass of throwaways from the urban community as well as the more homogeneous accumulation of agricultural, industrial, and mineral wastes”.

(3)

3º Simposio Iberoamericano de Ingeniería de Residuos 2º Seminário da Região Nordeste sobre Resíduos Sólidos

REDISA – Red de Ingeniería de Saneamiento Ambiental

ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental

3 suas características, sejam similares aos produzidos pelos domicílios e que são de responsabilidade do poder executivo municipal (CEMPRE, 2000).

De outro lado, o gerenciamento dos resíduos sólidos depois de sua geração, engloba sua coleta, transporte e destinação de resíduos sólidos e é focado nos aspectos administrativos, gerenciais, técnicos, tecnológicos, econômicos e ambientais deste ciclo de recolhimento dos resíduos até sua destinação final.

Por sua vez, a Agência de Proteção Ambiental Americana (EPA) define gerenciamento de resíduos sólidos como um programa que abrange a “prevenção, reciclagem, compostagem e disposição final de resíduos, ressaltando que tal sistema deve considerar como prevenir, reciclar e gerenciar resíduos sólidos em formas que mais eficazmente protejam a saúde humana e o meio ambiente” (EPA, 2002).

Na Agenda 21 Brasileira foi estabelecida, no eixo temático sobre cidades sustentáveis, a importância indissociável do enfrentamento da questão do saneamento ambiental, que, por sua vez, abarca o gerenciamento de resíduos sólidos. Neste contexto, Daltro Filho (2004, p. 13), conceitua saneamento ambiental como:

“Um conjunto de ações sócio-econômicas que têm por objetivo alcançar níveis de Salubridade Ambiental, através de sistemas de abastecimento de água e de esgotos; coleta, transporte e destinação sanitária dos resíduos sólidos [...]

entre outros, de forma a proteger e melhorar as condições de vida urbana e rural [...]” (grifo do autor).

Na área ambiental, tal preocupação é concretizada nestas políticas através do conceito de gestão ambiental, que segundo Coimbra (2002, p. 466):

“é um processo de administração participativo, integrado, contínuo, que visa à compatibilização das atividades humanas com a qualidade e preservação do patrimônio ambiental, através da ação conjugada do Poder Público e da sociedade organizada em seus vários segmentos, mediante priorização das necessidades sociais e do mundo natural, com alocação dos respectivos recursos e mecanismos de avaliação e transparência”.

Aplicando-se o conceito acima às políticas de resíduos sólidos teremos a definição da gestão de resíduos sólidos que pode ser traduzida como:

“o processo que compreende as ações referentes à tomada de decisões políticas e estratégicas quanto aos aspectos institucionais, operacionais, financeiros, sociais e ambientais relacionados aos resíduos sólidos, capaz de orientar a organização do setor” (LIMA, 2005, p. 35).

Tal gestão, conforme se vislumbra do conceito acima apresentado por Coimbra, deve ser sistêmica, sustentável ambientalmente e geradora de políticas públicas através do exercício da cidadania participativa, concepção que, aplicada especificamente em resíduos sólidos acaba por traduzir a gestão integrada de resíduos sólidos.

Mais especificamente, dentro da visão de administração dos resíduos sólidos urbanos (RSU), as políticas governamentais devem vislumbrar simultaneamente todas as fases do processo, buscando reduzir sua geração e investir no processo de tratamento2 dos resíduos gerados para que possam ser reutilizados ou aproveitados dentro do sistema econômico, diminuindo assim a quantidade de resíduos disposta para aterros sanitários ou alternativas tecnológicas de destinação ou tratamento de resíduos, buscando, com isto, alcançar um sistema circular de manejo deste lixo produzido (LIMA, 2001, p. 29).

2 "Treatment" means the physical, thermal, chemical or biological processes, including sorting, that change the characteristics of the waste in order to reduce its volume or hazardous nature, facilitate its handling or enhance recovery” Diretriz do Conselho da União Européia de 26/04/1999, disponível em http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=CELEX:31999L0031:EN:HTML. Acesso em: 13 out.

(4)

3º Simposio Iberoamericano de Ingeniería de Residuos 2º Seminário da Região Nordeste sobre Resíduos Sólidos

REDISA – Red de Ingeniería de Saneamiento Ambiental

ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental

4 Destarte, para se alcançar a sustentabilidade na geração de RSU, o poder público deve estabelecer políticas e ações que considerem todas as fases da produção de resíduos em sua forma conjunta, considerando- se suas inter-relações e interferências recíprocas, com participação efetiva da população no processo de estabelecimento destas políticas e ações. Para isto, no âmbito da gestão, deve ser estabelecido um plano integrado de gestão de resíduos sólidos (PIGRS), que oriente a tomada de ações no nível operacional (gerenciamento).

Assim o termo “gerenciamento integrado de resíduos sólidos” diz respeito aos aspectos mais operacionais de implantação e de operação do sistema sustentável de RSU, abrangendo a coleta, transporte, tratamento e disposição final destes resíduos de forma técnica e ambientalmente correta. Para isto é fundamental, dentre outras ações, que:

a) a coleta dos resíduos sólidos urbanos alcance cobertura total da área do município, evitando-se assim que parte dos resíduos acabe indo diretamente para o meio ambiente com poluição do solo, hídrica e atmosférica, devendo ainda ser seletiva desde a origem, com a devida separação do RSU gerado;

b) o transporte destes resíduos, além de observar normas técnicas e ambientais, deve ser também seletivo de acordo com a característica dos resíduos transportados;

c) busque-se, prioritariamente, na fase de tratamento destes resíduos, sua total recuperação através da reciclagem, da compostagem ou da recuperação energética, utilizando-os como subprodutos dentro do próprio sistema econômico, minimizando-se assim, os rejeitos restantes que deverão ser absorvidos pelo planeta;

d) que o depósito no solo, quando necessário, seja efetivado através de aterros sanitários ambientalmente e tecnicamente corretos, para recepção apenas de materiais inertes3, inservíveis para recuperação. Tais aterros devem aperfeiçoar a compactação dos resíduos para aproveitamento de espaço, observando-se ainda o aproveitamento energético, tratamento ou eliminação dos gases gerados (metano e dióxido de carbono principalmente) e do chorume produzido pela decomposição dos resíduos orgânicos.

RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS E POLUIÇÃO

A poluição do meio ambiente é uma das maiores conseqüências negativas da insustentabilidade sócio-econômico-ambiental da operação ilegal de vazadouros de lixo (não podem ser licenciados ambientalmente4), da coleta, transporte ou tratamento inadequados dos RSU.

Tal questão é tão pacífica que o próprio ordenamento jurídico absorveu os conceitos multidimensionais básicos referentes ao que seja poluição (dimensões sócio-economico-ambiental).

Assim, além da preocupação constitucional com o meio ambiente equilibrado e com a preocupação com atividades potencialmente ou concretamente lesivas ao mesmo (artigo 225, da Constituição Federal Brasileira), no campo infraconstitucional importa ressaltar a Lei Federal nº 6.938/81, instituidora da Política Nacional do Meio Ambiente (LPNMA), que em seu texto define o que é meio ambiente natural, degradação, poluição, poluidor e licenciamento:

“Art. 3º. Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I - meio ambiente: o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida, em todas as suas formas;

II - degradação da qualidade ambiental: a alteração adversa das características do meio ambiente;

III - poluição: a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;

3 ABNT. NBR 10004. 1987.

4 A fiscalização e o controle do Poder Público destas atividades degradadoras do meio ambiente se dá através de vários instrumentos, entre os quais se ressalta o licenciamento ambiental, onde são estabelecidos pré-requisitos e condicionantes para que atividades econômicas sejam exercitadas sem lesão à natureza e ao ser humano, prevenindo-se assim ou diminuindo-se os impactos sócio-ambientais.

(5)

3º Simposio Iberoamericano de Ingeniería de Residuos 2º Seminário da Região Nordeste sobre Resíduos Sólidos

REDISA – Red de Ingeniería de Saneamiento Ambiental

ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental

5

c) afetem desfavoravelmente a biota;

d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;

e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;

IV - poluidor: a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental;

[...]

Art. 9º. São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:

[...]

IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras;

Art. 10. A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva e potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento de órgão estadual competente, integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, em caráter supletivo, sem prejuízo de outras licenças exigíveis”. (grifou-se).

De outro lado, a poluição e o exercício de atividade de gerenciamento de RSU sem licenciamento ambiental, como formas de ameaça ou lesão ao meio ambiente, são também tratadas de forma severa por outras normas infraconstitucionais, bastando aqui, sem maiores delongas, citar a Lei 9.605/98 e seu decreto regulamentador (Decr. 6.514/2008), respectivamente, os quais trazem sanções na esfera penal e administrativa para o caso:

“Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora:

V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos:

Pena - reclusão, de um a cinco anos.

[...]

Art. 60. Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do território nacional, estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente”. Lei 9.605/98.

“Art. 61. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da biodiversidade:

Multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 50.000.000,00 (cinqüenta milhões de reais).

Parágrafo único. As multas e demais penalidades de que trata o caput serão aplicadas após laudo técnico elaborado pelo órgão ambiental competente, identificando a dimensão do dano decorrente da infração e em conformidade com a gradação do impacto.

Art. 62. Incorre nas mesmas multas do art. 61 quem:

I - tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para ocupação humana;

[...]

V - lançar resíduos sólidos, líquidos ou gasosos ou detritos, óleos ou substâncias oleosas em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou atos normativos;

[...]

VII - deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução ou contenção em caso de risco ou de dano ambiental grave ou irreversível; e

[...]

Art. 66. Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, em desacordo com a licença obtida ou contrariando as normas legais e regulamentos pertinentes:

Multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais).

Parágrafo único. Incorre nas mesmas multas quem:

I - constrói, reforma, amplia, instala ou faz funcionar estabelecimento, obra ou serviço sujeito a licenciamento ambiental localizado em unidade de conservação ou em sua zona de amortecimento, sem anuência do respectivo órgão gestor; e

II - deixa de atender a condicionantes estabelecidas na licença ambiental.” Decr. 6.514/2008.

Ainda, a Lei do Estado de Sergipe nº 5.858 de abril de 2006 (Política Estadual do Meio Ambiente), após definir o que se considera poluição em seu artigo 12, inciso XXVIII5, estabelece que “são proibidos o

5 “Art. 12. Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

[...]

XXVIII - poluição - toda e qualquer alteração dos padrões de qualidade e da disponibilidade dos recursos ambientais, resultantes de atividades que, direta ou indiretamente, mediata ou imediatamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem estar da população, ou que possam vir a comprometer seus valores culturais;

(6)

3º Simposio Iberoamericano de Ingeniería de Residuos 2º Seminário da Região Nordeste sobre Resíduos Sólidos

REDISA – Red de Ingeniería de Saneamiento Ambiental

ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental

6 lançamento, a liberação e a disposição de poluentes no ar, no solo, no subsolo e nas águas, interiores ou costeiras, superficiais ou subterrâneas, ou no mar territorial, bem como qualquer outra forma de degradação ambiental” (artigo 80).

Nos municípios da Região Metropolitana de Sergipe (RMA) atualmente não existe um Plano Integrado de Gestão de Resíduos Sólidos (PIGRS) e os resíduos gerados são encaminhados sem nenhum tratamento a vazadouros de lixo. Em Aracaju, hoje tal disposição é efetivada para a lixeira do bairro Santa Maria e, antes de 1985, os resíduos sólidos urbanos (RSU) eram encaminhados para a lixeira do bairro Soledade (CAMPÊLLO e FREIRE, 2008, p. 103-106), que, mesmo desativada há mais de 20 anos, ainda gera poluição, pois não foi efetivado nenhum programa de recuperação de área degradada. Nos demais municípios da grande Aracaju tal situação não é diferente, contando cada um com pelo menos um vazadouro de lixo, com exceção do Município de Barra dos Coqueiros, que, atualmente, encaminha seus resíduos para a lixeira de Aracaju6.

Dentro do conceito de poluição apresentado pela Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (LPNMA) de poluição, verifica-se que os vazadouros apresentam características poluentes que se enquadram em todas as definições da referida lei, vez que entre os aspectos negativos desta atividade, conforme aponta Matthews (2003), pode-se citar: a) associação entre mais de 20 doenças humanas com lixões; b) atração de roedores, aves e outros animais; c) proliferação de moscas; d) Contaminação do lençol freático e das águas superficiais, e) poluição atmosférica e f) poluição visual.

Somente para se ter uma idéia do largo espectro poluente desta atividade de disposição incorreta de resíduos, Lima (2004, p. 10) apresenta abaixo esquema sobre esta questão, demonstrando parte do ciclo de contaminação do lixo:

Figura 1: ciclo de contaminação do lixo (LIMA, 2004, p. 10).

Dentre os diversos efeitos negativos da utilização de vazadouros de lixo se pode citar também o não tratamento do metano gerado pela decomposição de resíduos orgânicos, um dos gases que contribuem para o

b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;

c) afetem desfavoravelmente a biota;

d) comprometam as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;

e) alterem desfavoravelmente o patrimônio genético e cultural;

f) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;

g) criem condições inadequadas de uso do meio ambiente para fins públicos, domésticos, agropecuários, industriais, comerciais, recreativos ou outros”.

6 Dados constantes do processo n. 2003.85.00.0033.80-1 em tramitação na 1ª vara da Justiça Federal- Seção de Sergipe.

HOMEM

(7)

3º Simposio Iberoamericano de Ingeniería de Residuos 2º Seminário da Região Nordeste sobre Resíduos Sólidos

REDISA – Red de Ingeniería de Saneamiento Ambiental

ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental

7 efeito estufa (GEE)7. Ressalte-se que o metano tem o potencial de contribuir 75 vezes (variação de 21 a 75 vezes conforme a linha de tempo adotada) mais para o efeito estufa do que o CO28

.

Neste aspecto é importante destacar que, ao contrário dos vazadouros e dos aterros controlados, os aterros sanitários, por sua própria definição, são projetados para eliminação ou aproveitamento energético do metano gerado, ocupando tal atividade, atualmente 11% do mercado global de carbono (UNEP, 2008, p. 25), implementado pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), oriundo do protocolo de Kyoto9 (vigente desde 2005) onde a redução de emissão de carbono CO2 ou equivalente é compensada economicamente por empresas ou fundos governamentais.

Exatamente pelo fato dos municípios da RMA disporem seus resíduos para vazadouros a céu aberto, tratando-se assim de ato lesivo ao meio ambiente, foi ajuizada, em 2003, uma ação civil pública pelo Ministério Público Estadual e Federal na Justiça Federal (litisconsórcio ativo), onde, em julho de 2006, os municípios de São Cristóvão, Aracaju e Nossa Senhora do Socorro, entre outros réus (incluindo-se a ADEMA e o IBAMA), aderiram a um termo de ajustamento de conduta (TAC) proposto pelo Ministério Público, comprometendo-se, dentre outras obrigações e com base em um cronograma proposto, ao seguinte: a) desativar os lixões e substituí-los por aterros sanitários; b) estabelecer provisoriamente aterros controlados, enquanto não instalado o aterro sanitário e c) recuperar as áreas degradadas dos antigos vazadouros de lixo dos municípios; d) investir em Educação Ambiental.

Dentro do cronograma para implantação do aterro sanitário da RMA foi pré-selecionada uma área em Nossa Senhora do Socorro (área da Palestina), e após atrasos na entrega do estudo de impacto ambiental e seu respectivo relatório (EIA/RIMA), que culminaram com execução judicial do TAC em novembro de 2007, a Administração Estadual do meio Ambiente (ADEMA) reprovou o EIA/RIMA (necessário para a licença ambiental prévia) em maio de 2008, estando o processo de seleção de área estagnado até o presente momento, no aguardo da conclusão de outro EIA/RIMA sobre a mesma área (Palestina).

De outro lado, através de laudos emitidos pela ADEMA10, por provocação do Ministério Público, verificou-se que os municípios referidos não adotaram medidas mitigadoras previstas expressamente na cláusula décima do TAC para transformar seus lixões em aterros controlados11, enquanto não instalado o aterro sanitário definitivo, o que ensejou, em julho de 2008, novas execuções junto à Justiça Federal por parte do Ministério Público, sendo que até hoje tais ações não produziram resultados práticos, caracterizando-se a morosidade ineficiência do poder judiciário neste caso concreto.

7 Methane has increased as a result of human activities related to agriculture, natural gas distribution and landfills. (IPCC, 2007, p.

135).

8 Ibid. p. 212.

9 “Protocolo segundo o qual os quarenta países mais industrializados do mundo reduziriam suas emissões combinadas de gases de efeito estufa em pelo menos 5% em relação aos níveis de 1990 até o período entre 2008 e 2012”. (LIMA, 2005, p. 207).

10processo n. 2003.85.00.0033.80-1.

11 “CLÁUSULA 10ª - Enquanto não iniciada a efetiva operação do novo Aterro Sanitário, os MUNICÍPIOS COMPROMISSÁRIOS obrigam-se, para atender às necessidades de recebimento e disposição adequada dos resíduos sólidos urbanos gerados nos municípios de Aracaju, Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão, bem como para atenuar os impactos existentes e controlar a geração de novos impactos potenciais em seus lixões:

1 - a manter a destinação de resíduos sólidos apenas para um único local de seus territórios, caso haja mais de um vazadouro no município, observando-se os seguintes requisitos mínimos:

a) isolamento da área com cercamento de todo o perímetro do vazadouro;

b) colocação de vigilância 24 horas por dia.

2 - a executar, no prazo de 90 (noventa) dias, uma nova célula no vazadouro existente, com a finalidade de recebimento de resíduos sólidos urbanos, devendo apresentar, no mínimo, as seguintes características:

a) impermeabilização com argila compactada (K < 5x10-5 cm/s - coeficiente de permeabilidade);

b) execução de drenos de gases e chorumes;

c) cobertura diária dos resíduos e cobertura final da célula provisória.

3 - a não depositar os resíduos perigosos no aterro sanitário, devendo ser estes destinados para tratamento em local adequado.

[...]

5 – Os municípios compromissários se obrigam a imediatamente realizar estudos para avaliar a quantidade de chorume existente em seus antigos lixões e, em caso de possibilidade de contaminação de recursos hídricos superficiais ou subterrâneos, deverão tomar medidas urgentes de contenção”.

(8)

3º Simposio Iberoamericano de Ingeniería de Residuos 2º Seminário da Região Nordeste sobre Resíduos Sólidos

REDISA – Red de Ingeniería de Saneamiento Ambiental

ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental

8 Enquanto isto, impunemente, os municípios continuam operando seus vazadouros recebendo não somente RSU, mas também resíduos não inertes, tais como de serviços de saúde (RSS) e outros12, causando não somente prejuízo ao meio ambiente, como também à saúde da população.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A busca ilimitada pelo aumento da produção e do consumo, aliada à limitada capacidade de nosso planeta de absorver estes resíduos, tem gerado um fator de crescente poluição, com afetação da saúde e qualidade de vida da população mundial e do funcionamento dos ecossistemas naturais.

Isto tem demandado a implantação de políticas de gestão de resíduos sólidos que priorizem a redução dos hábitos perdulários de consumo, reutilização de materiais e reciclagem de resíduos, buscando-se a recirculação dos resíduos como subprodutos da própria cadeia produtiva e dispondo somente os rejeitos não mais aproveitáveis. Estas políticas, além de sustentáveis, no sentido do respeito ao limites do ambiente, em todas suas dimensões, devem também ser integradas dentro de uma visão sistêmica e participativa, conceitos inerentes à gestão e ao gerenciamento integrado de resíduos sólidos.

Dentro de nosso ordenamento jurídico foram configurados como ilícito administrativo, civil e penal com sanções cumulativas tanto o exercício de algumas atividades operacionais de gerenciamento de RSU sem licenciamento ambiental, tais como a disposição no solo, ou o tratamento prévio, como também a poluição efetivamente causada por meio destas atividades.

Os municípios da Região Metropolitana de Sergipe, além de não contar com um PIGRS, dispõe seus resíduos sólidos urbanos para vazadouros causando os efeitos adversos ao meio ambiente e à saúde humana, dentre os quais se pode citar a atração de micro e macrovetores, lixiviação, percolação, contaminação do lençol freático e das águas superficiais, agravamento do efeito estufa, dentre outros, exigindo-se assim que a sociedade e o poder público cumpram o preceito constitucional previsto no artigo 225, caput, da CF, promovendo a proteção e a defesa do meio ambiente ecologicamente equilibrado, garantindo-o assim, não somente para as presentes, mas também para as futuras gerações.

REFERÊNCIAS

1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10.004 - Resíduos sólidos:

classificação. Rio de Janeiro, 1987.

2. BRASIL. Cidades Sustentáveis: Subsídios à Elaboração da Agenda 21 brasileira / Maria do Carmo de Lima Bezerra e Marlene Allan Fernandes (coordenação-geral). Brasília: Ministério do Meio Ambiente;

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis; Consórcio Parceria 21 IBAM-ISER-REDEH, 2000.

3. CAMPÊLLO, Lorena de Oliveira Souza; FREIRE, Eliane Oliveira de Lima. Informação Ambiental, Cidadania e Qualidade Ambiental em Espaços Urbanos: Os casos da Fábrica de Cimento Portland de Sergipe e da Lixeira da Soledade. In: Sustentabilidade, Cidadania & Estratégias Ambientais: A Experiência Sergipana. São Cristóvão: Editora UFS, 2008, p. 103-106.

4. CEMPRE. Lixo Municipal: Manual de Gerenciamento Integrado. 2. ed. São Paulo:IPT/CEMPRE, 2000.

5. COIMBRA, José de Ávila Aguiar. O Outro Lado do Meio Ambiente: Uma Incursão Humanista na Questão Ambiental. Campinas: Millenium, 2002.

6. CONSELHO DA UNIÃO EUROPÉIA, Diretiva nº1999/31/EC, de 26 de abril de 1999. Disponível em:

<http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=CELEX: 31999L0031:EN:HTML>. Acesso em: 13 out. 2008.

12 processo nº 2003.85.00.0033.80-1.

(9)

3º Simposio Iberoamericano de Ingeniería de Residuos 2º Seminário da Região Nordeste sobre Resíduos Sólidos

REDISA – Red de Ingeniería de Saneamiento Ambiental

ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental

9 7. DALTRO FILHO, José. Saneamento Ambiental: Doença, Saúde e o Saneamento da Água. São Cristóvão:

Editora UFS; Aracaju: Fundação Oviêdo Teixeira, 2004.

8. EPA – UNITED STATES ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY. Solid Waste Management:A Local Challenge With Global Impacts. EUA: 2002.

9. LEFF, Enrique. Racionalidade Ambiental: A Reapropriação Social da Natureza. Rio de Janeiro:

Civilização Brasileira, 2006.

10. LIMA, Jose Dantas de. Sistemas Integrados de Destinação Final de Resíduos Sólidos Urbanos. Joao Pessoa, 2005.

11. ______. Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil. João Pessoa, 2001.

12. LIMA, Luiz Mário Queiroz. Lixo: Tratamento e Bioremediação. 3. ed. São Paulo: Hemus, 2004.

13. MATTHEWS, Robin A e WEINER, Ruth F. Environment Engineering. 4. ed. Burlington-MA-USA:

Elsevier’s Science, 2003.

14. ODUM, H. T.; ODUM, E. C.; BROWN, M. T.; LAHART, D.; BERSOK, C.; SENDZIMIR, J. Sistemas Ambientais e Políticas Públicas. Programa de Economia Ecológica, Phelps Lab. Universidade da Florida, Gainesville, 1987. Disponível em: <http://www.unicamp.br/fea/ortega/eco/index.htm>. Acesso em: 10 de julho de 2009.

15. PAINEL INTERGORVENAMENTAL DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS (IPCC). Fourth Assessment Report: Clima Change 2007- Synthesis Report. Valência, 2007.

16. TCHOBANOGLOUS, G.; THEISEN, H.; VIGIL, S. Integrated Solid Waste Management: Engineering Principles and Management Issues. McGraw-Hill, Inc, 1993.

17. UNEP - UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME. Year Book 2008: An Overview of Our Changing Enviroment. Kenya, 2008.

Referências

Documentos relacionados

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

devidamente assinadas, não sendo aceito, em hipótese alguma, inscrições após o Congresso Técnico; b) os atestados médicos dos alunos participantes; c) uma lista geral

A Seqüência de Três Níveis oferece um quadro mais amplo de uma situação e pode ser útil para fazer perguntas a respeito da situação de pessoas que não estão fisicamente

Ara bé: sé del cert que jo existeixo i sé també que totes les imatges (i, en general, totes les coses que es refereixen a la naturalesa dels cossos) potser són només somnis

Aos 7, 14 e 21 dias após a emergência (DAE), foi determinado o índice SPAD no folíolo terminal da quarta folha completamente expandida devido ser esta folha recomendada para verificar

Assinale a alternativa correta com relação ao conceito de direitos humanos. a) Direitos humanos é uma forma sintética de se referir a direitos fundamentais da pessoa

Esta derrota obrigava a equipa do IPLeiria a vencer o jogo com a equipa do ISMAI, mas, mais uma vez, num jogo equilibrado e disputado até ao fim, não conseguiu vencer, tendo

Ambos os critérios são avaliados no caso concreto, mediante um critério de proporcionalidade (adequação, necessidade de defesa/necessidade dos meios empregados e