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Dispensado o relatório, nos termos do artigo 38 da Lei nº 9.099/95.

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SENTENÇA

Processo Digital nº: 1021738-86.2020.8.26.0564

Classe - Assunto Procedimento do Juizado Especial Cível - Não padronizado Requerente: Fabio Alexandre da Rocha Batista

Requerido: Município de São Bernardo do Campo

Juiz(a) de Direito: Dr(a).MARTA OLIVEIRA DE SA

Vistos.

Dispensado o relatório, nos termos do artigo 38 da Lei nº 9.099/95.

Fundamento e decido.

O feito comporta julgamento antecipado, nos termos do artigo 355, inciso I, do Código de Processo Civil, eis que as provas até então produzidas se mostram suficientes para o deslinde da demanda.

Aduziu o autor que é portador da doença Diabete Mellitus tipo 1 (CID E10), gerando ultimamente, como consequência do agravamento da doença, retinopatia diabética, nefropatia diabética e neuropatia diabética, não possuindo controle glicêmico adequado, evoluindo com períodos recorrentes de hiperglicemias e hipoglicemias graves, com riscos à definitiva debilitação de sua vida e saúde. Diante deste quadro, é necessária a utilização dos seguintes medicamentos: Insulina GLARGINA e Insulina LISPRO, conforme relatório médico acostado – assinado por autoridade médica componente do SUS e responsável pelo específico tratamento.

Afasta-se a preliminar de falta de interesse de agir, sob alegação de inadequação da via eleita. Os fatos descritos na exordial foram suficientemente comprovados por meio da prova documental, sendo desnecessária a produção que qualquer outra prova.

A preliminar de ilegitimidade de parte passiva do Município de São Bernardo do Campo, confunde-se com o mérito, e será com ele apreciada.

No mérito, o pedido é procedente.

Em que pesem os inúmeros entraves e justificativas para não atender à

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necessidade de tratamento de saúde da parte autora, os argumentos do recorrente não podem prosperar.

A documentação juntada aos autos (fls. 19/21) indica que a parte autora é portador de “Diabetes mellitus tipo 1” e indica os medicamentos e insumos de que necessita.

Postas estas premissas, vê-se que o autor, pessoa desprovida de recursos financeiros suficientes para arcar com o alto custo do tratamento – cf. observo na declaração de hipossuficiência de p. 8 e documentos de p. 9/15 –, tem direito à tutela estatal para tratamento de sua enfermidade.

Acerca da legitimidade do ente estatal, a Constituição Federal estabelece que “(...) a saúde é direito de todos e dever do Estado” (art. 196, “caput”), entendendo-se este como sendo de responsabilidade dos Municípios, Estados membros e da União. É o que se extrai do disposto nos artigos 6º, 194, parágrafo único e inciso I, 195, 196, 197 e 198, §1º. Trata-se de obrigação solidária, que pode ser cumprida por apenas um deles. O Egrégio Superior Tribunal de Justiça já se pronunciou a respeito do tema: “Sendo o SUS composto pela União, Estados e Municípios, impõe-se a solidariedade dos três entes federativos no pólo passivo da demanda.” (REsp 507.205-0/PR, Rel. Ministro José Delgado, j. 07.10.2003).

Sobre o tema o E. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo já sedimentou posicionamento, conforme Súmula 37 do TJSP: “A ação para o fornecimento de medicamento e afins pode ser proposta em face de qualquer pessoa jurídica de Direito Público Interno”.

É importante apontar que, segundo o posicionamento firmado pelo C.

Superior Tribunal de Justiça no julgamento do REsp n.º 1.657.156, sob a égide de recurso repetitivo, TEMA nº 106, de 04/05/2.018, a concessão de medicamentos que não estão presentes nos atos normativos do SUS depende da comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado expedido por médico que assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim como a ineficiência dos fármacos fornecidos pelo SUS, além da incapacidade financeira do paciente para arcar com o custo do medicamento e a existência de registro na ANVISA.

No caso dos autos encontram-se atendidos os requisitos do TEMA nº 106, de 04/05/2.018, do E. STJ, na medida em que, a ineficácia do tratamento tradicional com os medicamentos fornecidos pelo SUS, bem como a necessidade do uso dos fármacos e insumos indicados, restou comprovada através do relatório médico e respectiva prescrição

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medica juntadas aos autos (fl. 19/21), o que, por si só, atesta a imprescindibilidade destes.

Do mesmo modo, restou comprovado que a parte autora não possui condições financeiras para fazer frente ao seu custo, visto que é beneficiária da justiça gratuita (fl.08), bem como o fato de os medicamentos pleiteados terem registro na ANVISA.

É certo que o dever não está vinculado à marca do medicamento, de modo que havendo medicamentos outros que possuam o mesmo princípio ativo e eficácia terapêutica, serão estes permitidos para fornecimento, desde que autorizados pelo médico responsável pela prescrição.

Ocorre que, no caso em tela, o relatório medico atesta a ineficácia de alternativas terapêuticas.

O médico elaborou relatório detalhado, explicando que o autor fez uso de insulina NPH e regular, não apresentando controle glicêmico adequado, evoluindo com períodos recorrentes de hiperglicemias e hipoglicemias graves. O medico afirmou a necessidade do medicamento, porquanto somente com o uso da Insulina GLARGINA e Insulina LISPRO o autor vem “evoluindo com melhora do controle glicemico e diminuição das hipoglicemias” – cf. p. 19/21.

Assim, tem-se que o medicamento pleiteado é apto a solucionar a enfermidade que o autor é portador.

Bem por isso, a não autorização de uso de “equivalentes terapêuticos distribuídos pelo SUS”, está devidamente justificada, não havendo que se falar em substituição do medicamento.

Inegável, portanto, o dever do Estado em fornecer o medicamento indicado.

Os entes federativos não podem se exonerar da responsabilidade, invocando a não previsão dos medicamentos no rol padronizado de remédios a fornecer. Afinal, a garantia de assistência integral à saúde é preceito assegurado no art. 6º, I, “d”, da Lei nº 8.080/90. Ademais, a prescrição médica está devidamente fundamentada por profissional da saúde, que demonstra as necessidade e eficiência concreta do fármaco indicado, não passível de substituição por outro padronizado pelo SUS.

Cabe ao médico, que acompanha o paciente, e não ao Poder Público, decidir qual é o melhor tratamento e remédio para melhora e cura do mal que aflige o enfermo.

Cumpre salientar que a Constituição Federal determina que sejam respeitadas as

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necessidades específicas de cada pessoa.

Assim, não pode a Administração Pública negar-se a fornecer os fármacos prescritos pelo médico, simplesmente por não ter sido o paciente submetido às regras padronizadas pelo Sistema Único de Saúde SUS.

Importante também salientar que não se pode falar em intromissão do Poder Judiciário na discricionariedade administrativa, pois, tratando-se de obrigação constitucional que não está sendo cumprida pelo Poder Público, é possível a interferência do Judiciário, para assegurar o direito, constitucionalmente previsto, de integral assistência à saúde.

Este tema já foi julgado por esta Colenda Câmara de Direito Público, merecendo destaque: “E não colhe a alegação de que o acolhimento do pedido viola o princípio da separação dos poderes, insculpido no artigo 2º da Constituição Federal. Ora, o reconhecimento de tal responsabilidade não importa em transformar o Poder Judiciário em cogestor dos recursos destinados à saúde pública, visto que o acolhimento da pretensão ora deduzida apenas torna efetivo o direito de integral assistência à saúde, não se confundindo essa atribuição específica do Judiciário com o poder-dever da Administração de gerir as verbas ou recursos de determinada área ou, ainda, de estabelecer suas prioridades de atuação.” (Apelação nº 0001487-06.2012.8.26.0383, 8ª Câmara de Direito Público, j. 19.06.2013, Rel. Des. Paulo Dimas Mascaretti).

Ainda que assim não fosse, não cabe invocar a aplicação da Teoria da Reserva do Possível. Sobre o tema, confira-se parte do voto do eminente Des. Décio Notarangeli, na Apelação nº 9111999-58.2007.08.26.0000 (outros nºs: 994.07.061842-4 e 658.318-5/3-00), j. 31.10.2007: “(...) Primeiro, porque a referida teoria, fruto de construção jurisprudencial, tem origem na Alemanha, cuja realidade socioeconômica é manifestamente distinta da realidade brasileira. Assim, é de discutível validade e difícil aceitação a teoria sobre conceitos de mínimo existencial e razoabilidade do que esperar da sociedade em face do confronto entre a gama de direitos já reconhecidos naquele país e um sistema perverso de profundas desigualdades que afligem milhares de brasileiros.

Segundo, porque o direito à vida e à saúde qualifica-se como direito de primeira geração, prerrogativa essencial para assegurar condições materiais mínimas de existência, o chamado mínimo existencial, compatível com a dignidade da pessoa humana, de forma que não comporta sacrifício em razão de abusiva conduta governamental negativa. A prevalecer entendimento contrário estariam comprometidos direitos constitucionais impregnados de um sentido de essencial fundamentalidade (STF ADPF nº 45/DF, Rel.

Min. Celso de Mello, j. 29/04/04, DJU 04/05/04)."

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Cumpre salientar que inexiste nos autos elemento de prova capaz de afirmar a ausência de verba suficiente para a obtenção dos medicamentos requeridos pela parte autora, tampouco há nos autos comprovação de que a situação da mesma não é emergencial, cabendo lembrar que hipóteses de emergência autorizam a dispensa de licitação, em conformidade com o disposto no art. 24, IV, da Lei nº 8.666/93.

Além disso, os princípios da unidade e da universalidade orçamentária não vedam os créditos adicionais (extra orçamentários), que autorizam despesas não computadas ou insuficientemente fixadas na Lei Orçamentária Anual, sejam os de natureza suplementar, sejam os de natureza especial, vale dizer, aqueles destinados a satisfazer necessidades novas e para as quais não havia dotação orçamentária.

Ressalte-se, aliás, em conformidade com precedente da relatoria do eminente Des. Paulo Dimas Mascaretti, que: “De qualquer modo, impende ainda considerar que a Administração Pública não deve se esquivar de tal dever constitucional para com o cidadão, diante da própria redação da Lei de Responsabilidade Fiscal que, em seu artigo 5º, inciso III, alínea b, aponta que o orçamento anual dos entes federativos deverá conter reserva de contingência, cuja forma de utilização do montante, definido com base na receita corrente líquida, será destinada ao atendimento de passivos contingenciais e outros riscos e eventos fiscais imprevistos, tais como o fornecimento de medicamentos e aparelhos de alto custo para pessoas carentes, portadoras de moléstias graves.”

(Apelação nº 0009258-62.2012.8.26.0568, TJSP, 8ª Câmara de Direito Público, j.

20.03.2013).

Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido inicial e o faço para, confirmar a tutela de urgência de p. 27 e reconhecer o direito do autor ao fornecimento do medicamento indicado na inicial: Insulina GLARGINA e Insulina LISPRO, de responsabilidade da ré, enquanto necessário ao seu tratamento, devendo-se observar estritamente a prescrição e relatório médico de p. 19/21, sem qualquer ônus para o requerente.

JULGO EXTINTO o processo, com resolução de mérito, com fundamento no artigo 487, I, do Código de Processo Civil.

Sem condenação em verbas sucumbenciais nesta fase dos Juizados, em atenção ao dispostos no artigo 55 da Lei 9099/95.

P.I.C.

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São Bernardo do Campo, 31 de agosto de 2021.

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

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