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Poder Judiciário do Estado de Mato Grosso do Sul

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Academic year: 2022

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Autos n° 0028760-87.2016.8.12.0001 Ação: Inquérito Policial

Parte Ativa: Ministério Público Estadual

Parte Passiva: Johnny Willian Camargo Gomes

Vistos, etc.

O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL ofereceu denúncia em desfavor de Johnny William Camargo Gomes e Geisieli da Silva Marinho, já qualificados nos autos, pela suposta prática dos crimes de porte de arma de fogo de uso restrito e tráfico de drogas, na forma do art. 16 da Lei 10.826/2006 c.c art. 33, caput, da Lei 11.343/2006.

Os autos vieram conclusos para admissibilidade da denúncia.

É o Relatório. Decido.

Inicialmente, pela pluralidade de imputações, adoto o rito comum ordinário, eis que o mais abrangente.

I – DO DENUNCIADO JOHNNY.

A inicial acusatória preenche todos os requisitos indicados no art. 41 do CPP, descrevendo de forma detalhada a suposta prática dos crimes, além de conter sua tipificação e rol de testemunhas, possibilitando-se, desta forma, a adequada compreensão da imputação ora lançada.

Além disso, constato indícios de autoria consubstanciados nos depoimentos dos policiais que atuaram na prisão em flagrante e nas declarações do acusado de fls. 15/16 e materialidade fulcrada no laudo preliminar de constatação de fls. 32/33, auto de apreensão de fls. 34/35, auto de exibição e apreensão de fls. 36/37,

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havendo, desta forma, justa causa para sua tramitação (art. 395 do CPP).

II – DA DENUNCIADA GEISIELI.

Especificamente com relação à denunciada Geisieli, entendo que a denúncia deve ser rejeitada por ausência de justa causa1. Explico.

Por justa causa se entende a coleta de elementos de convicção suficientemente robustos à garantir suporte probatório mínimo à propositura e admissão de uma acusação, com toda a movimentação da máquina estatal neste sentido, tal como pondera Aury Lopes Jr:

"justa causa é um verdadeiro ponto de apoio (topos) para toda a estrutura da ação processual penal, uma inegável condição da ação penal, que, para além disso, constitui um limite ao (ab)uso do ius ut procedatur, ao direito de ação. Considerando a instrumentalidade constitucional do processo penal, conforme explicitamos anteriormente, o conceiro de justa causa acaba por constituir numa condição garantia contra o uso abusivo do direito de acusar (...) identifica-se como a existência de uma causa jurídica e fática que legitime e justifique a acusação (e a própria intervenção penal)2"

In casu, da denúncia se extrai que o Ministério Público Estadual formulou a mesma imputação a ela, ou seja, a suposta prática dos crimes de porte ilegal de arma de fogo e tráfico de drogas porque, em tese, ela era convivente de

1 "(...) 7. Justa Causa: “ônus da acusação de demonstrar, ainda que superficialmente, porém com fundamento de relativa consistência, nesta fase preliminar do processo, os fatos constitutivos sobre os quais se assenta a pretensão punitiva do Estado”. Precedentes. 8.

Inexistência de elemento, ainda que circunstancial, que autorize intuir validamente o nexo de causalidade entre a atuação do primeiro acusado e o resultado afirmado – STF – Inq 3507/MG, Relator: Min. GILMAR MENDES, Julgamento: 08/05/2014, Tribunal Pleno

2 LOPES JR, Aury. Direito processual penal. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 377

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Johnny e estava em sua companhia no dia da prisão em flagrante.

A testemunha Jose Manoel, ouvida às fls. 9/10, narra a abordagem policial e, com relação à denunciada, acrescentou apenas: "Johnny estava acompanhado de sua convivente Geisieli da Silva Marinho e de seu filho, o menor Johnny (...)".

Na mesma trilha, ainda em sede precária de conhecimento, a testemunha Jackson Lemos Pinheiro, ouvida às fls. 13/14, reiterou a narrativa dos fatos, porém não fez qualquer menção ao suposto envolvimento da denunciada.

Por derradeiro, o denunciado Johnny, ouvido às fls. 15/16, supostamente confessou a propriedade das armas de fogo e relatou que o entorpecente era destinado ao seu consumo pessoal, não apresando qualquer conduta que pudesse ser atribuída a sua companheira (Geisieli).

Desta forma, pelos elementos colhidos neste processo entendo, mesmo em sede precária de conhecimento, que as "provas" colhidas no inquérito policial apontam apenas e tão somente condutas, em tese, praticadas por Johnny, não havendo qualquer informação do envolvimento de Geisieli, dela ter adquirido

as armas de fogo e a substância entorpecente ou dela ser sua co-proprietária, por exemplo.

Aliás, neste exato sentido, noto que embora tenha sido abordada em companhia do acusado Johnny, ela não foi presa em flagrante naquela oportunidade, circunstância que, por si, reforça a ausência de elementos concretos e robustos a sustentar a imputação estatal.

Vale registro, neste ponto, que não se está a afirmar que não houve sua eventual participação na prática dos crimes descritos na denúncia mas, isto

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sim, que os elementos de "prova" até então colhidos, são frágeis neste sentido, havendo, tão somente, meras conjecturas, presunções ou meras suposições que, como sabido, não se prestam a embasar a propositura de uma ação penal.

Neste ponto, importante a distinção entre indício e presunção:

"Diferença entre indício e presunção: esta última não é meio de prova válido, pois constitui uma mera opinião baseada numa suposição ou numa suspeita. É um simples processo dedutivo.

(...) Como afirma, com razão Bento de Faria, os indícios possibilitam atingir o estado de certeza no espírito do julgador, mas as presunções apenas impregnam-no de singelas probabilidades e não podem dar margem à condenação (...)3"

"(...) faz-se confusão entre a finalidade do indício e da presunção (formar o livre convencimento do juiz) com o meio utilizado para se atingir tal finalidade (o indício e a presunção).

Nossa posição é amparada por autores do peso de Hélio Bastos Tornaghi (Instituições, vol. III, 2 ed., Saraiva, p. 439) e eduardo Espínola Filho (Código de Processo Penal Brasileiro Anotado, 3 ed., vol. III, p. 182). Indício vem do latim indiciu, que significa indicar, apontar, asinal, indicação. É todo e qualquer fato, ou circunstância, certo e provado, que tenha conexão com o fato, mais ou menos incerto, que se procura provar. Presunção vem do latim praesumptione, que significa opinião ou juízo baseado nas aparências; suposição ou suspeita. O fato de Tício ter sido visto com uma arma na mão no local do crime no dia e hora em que o mesmo foi perpetrado, indica, aponta que Tício foi seu autor. Pois, provavelmente, todo aquele que se encontra no local

3 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado, 9ª Edição, São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2009, p. 523.

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do crime no dia e hora em que o mesmo for cometido, estando munido de uma arma, será seu autor. Portanto, a operação mental (processo de raciocínio lógico) que é realizada para concluir que Tìcio é autor do homicídio é a presunção (suposição, suspeita). Assim, indício é o fato provado e conhecido (Tício estava no local do crime no mesmo horário e dia em que foi praticado, com uma arma na mão); a presunção é a operação intelectual que liga esse fato a outro, qual seja: Tício é o autor do crime. O indício é o fato indicativo. A presunção, o fato indicado. Assim, na definição que demos acima, o fato certo e provado é o indício. O raciocínio que se faz para se chegar ao fato incerto que se quer provar é a presunção, razão pela qual se diz que a presunção é a operação mental que liga um fato conhecido a outro que se quer conhecer (...)4"

O fato de Geisieli ser companheira e estar na companhia do acusado Johnny, por si, não se mostra fundamento idôneo a indicar seu eventual envolvimento nos crimes descritos na denúncia, já que, como sabido, a ciência e/ou conivência com delitos não configura conduta penalmente relevante, (ex vi do art. 13,

§ 2º, do CP), até mesmo pelo fato ele não ter o dever jurídico de impedir o evento criminoso.

Nesse sentido, pondera René Ariel Dotti:

"A chamada conivência se caracteriza pela presença física de alguém no ato da execução de um crime ou a omissão em denunciar à autoridade pública de um fato delituoso de que tenha conhecimento. Nessas hipóteses não se caracteriza a participação (ou uma infração autônoma), se não houver o dever

4 RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal, 8 ed., rev., ampli. e atual., Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2004, p. 435/436

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jurídico de impedir o evento ou de comunicar a sua existência à autoridade. A jurisprudência tem se orientado nessa linha: "Não fica caracterizada a participação do agente pela conduta omissiva de presenciar a prática do crime. A inexistência do dever jurídico de impedir o resultado desvincula o agente da autoria do delito. A sua conivência, ainda que evidenciada, não sendo delituosa, é impunível" (TACRIM-SP, RJD 2/70)5" (grifei)

Na mesma trilha, reitera Guilherme de Souza Nucci:

"A omissão que não é típica, vale dizer, quando o não fazer deixa de constar expressamente num tipo penal (como no caso da omissão de socorro – art. 135, CP), somente se torna relevante para o direito penal caso o agente tenha o dever de agir. Do contrário, não se lhe pode exigir qualquer conduta. Ex.:

qualquer do povo que acompanhe a ocorrência de um furto pode agir para impedir o resultado, mas não é obrigado. Daí por que, mesmo que aja dolosamente, não pode ser punido, pois não tinha o dever jurídico de impedir o resultado6"

Desta forma, até mesmo como forma de garantia dos direitos individuais de 1ª geração, o reconhecimento da ausência de justa causa é medida de rigor, com a consequente rejeição da denúncia em relação a ela, na forma do que dispõe o art. 395, III, do CPP.

III – DISPOSITIVO.

ISTO POSTO e mais do que consta dos autos é a presente

5 DOTTI, René Ariel. Curso de direito penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 354

6 NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado, 10 ed, rev, atual e ampli. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2010, p. 158.

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para: a) RECEBER a denúncia de fls. 1/4, com relação ao acusado Johnny William Camargo Gomes, já qualificado nos autos, eis que preenchidos os requisitos legais do art. 41 do CPP, além de não vislumbrar nenhuma das hipóteses de sua rejeição liminar e b) REJEITAR a denúncia de fls. 1/4, especificamente com relação à denunciada Geisieli da Silva Marinho, já qualificada nos autos, por ausência de justa causa, o que faço com supedâneo no art. 395, III, do CPP.

Cite-se o acusado para, no prazo de 10 (dez) dias, apresentar defesa preliminar nos moldes do art. 396-A do CPP, cientificando-lhe que, decorrido o prazo sem resposta, desde logo será nomeada a Defensoria Pública para patrocínio de sua defesa (situada no Fórum desta comarca, para providenciar a sua defesa conforme dispõe os termos da Lei nº 1.060, de 05.02.1950), independentemente de nova determinação neste sentido.

Observe-se no mandado de citação o disposto no art. 362, da lei 11.719/2008, isto é: verificando-se que o acusado se oculta para não ser citado, o oficial de justiça certificará a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida pelo Código de Processo Civil.

Defiro os requerimentos formulados pelo Ministério Público Estadual às fls. 49, com exceção da notificação dos administradores do INFOSEG, porquanto este juízo foi informado por meio de ofício encaminhado pelo Coordenador da Rede INFOSEG, de que a rede em questão apenas interliga as bases federais e estaduais, consubstanciando-se em um Banco Nacional de Índices e não em um Banco de Dados e que a responsabilidade pela inclusão das informações compete exclusivamente aos órgãos de origem, sejam Federais ou Estaduais.

Outrossim, não vislumbro irregularidades formais no laudo preliminar de fls. 32/33 e, na forma do art. 50, § 3º, da Lei 11.343/2006, autorizo e determino a incineração da substância entorpecente apreendida nos autos,

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resguardada fração para exame toxicológico definitivo e eventual contraprova, caso necessário.

Determino a evolução de classe e cumprimento das determinações lançadas no art. 47 do Provimento 70/2012 da Corregedoria-Geral de Justiça, com as retificações necessárias.

Com a defesa preliminar, tornem-me.

Campo Grande, 1º de agosto de 2016.

Roberto Ferreira Filho Juiz de Direito (Assinatura Digital)

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