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Impactos da União Econômica e Monetária Europeia na economia de Portugal

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ANDRESSA CRISTINA ZENI PICÁZ

IMPACTOS DA UNIÃO ECONÔMICA E MONETÁRIA EUROPEIA NA ECONOMIA DE PORTUGAL

Florianópolis 2012

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ANDRESSA CRISTINA ZENI PICÁZ

IMPACTOS DA UNIÃO ECONÔMICA E MONETÁRIA EUROPEIA NA ECONOMIA DE PORTUGAL

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao curso de graduação em Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Prof.ªKátiaRegina Macedo, Msc.

Florianópolis 2012

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ANDRESSA CRISTINA ZENI PICÁZ

IMPACTOS DA UNIÃO ECONÔMICA E MONETÁRIA EUROPEIA NA ECONOMIA DE PORTUGAL

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais e aprovado em sua forma final pelo Curso de Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Florianópolis, 20 de novembro de 2012.

________________________________________ Profa. e Orientadora Kátia Regina Macedo

Universidade do Sul de Santa Catarina

_______________________________________ Prof. José Tavares

Universidade do Sul de Santa Catarina

_______________________________________ Profª. Silvia Back

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a minha família, pelo suporte incondicional que me foi dado, não só na etapa final da faculdade, mas por todo o apoio dado ao longo da vida. Mesmo a distância, sempre esteve presente nos momentos em que precisei de motivação para continuar e mostrou-se disposta a compartilhar comigo minhas conquistas acadêmicas e profissionais.

Agradeço também aos meus amigos, pelo apoio que me foi dado ao longo dessa jornada, por proporcionarem momentos de descontração, alegria e também pelo incentivo para concluir mais esta etapa.

Agradeço muito a professora orientadora Kátia Macedo pelas dicas e conselhos para que pudesse seguir e finalizar este trabalho. Agradeço pela paciência e interesse em me ajudar na conclusão desta importante etapa.

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RESUMO

Este trabalho teve como objetivo principal identificar os impactos causados pela implantação do euro na economia portuguesa, iniciando o estudo pelo processo de integração europeia que culminou em uma união econômica e monetária. O estudo procurou, ainda, contextualizar a atual crise portuguesa, bem como apresentar as medidas tomadas pelo governo português para controlar a crise que se espalhou principalmente pelos países do sul da Europa. Para o desenvolvimento do trabalho, a metodologia utilizada foi a de pesquisa exploratória e descritiva. Para a coleta e análise dos dados, foi feito uso de pesquisa bibliográfica e documental, tendo como auxílio livros sobre os temas abordados, periódicos e internet. Na revisão bibliográfica, foram apresentados tópicos como globalização, integração regional e união econômica e monetária. Além disso, o estudo mostrou como se deu a formação do bloco comunitário europeu e a inserção de Portugal ao mesmo. A apresentação de fatos históricos foi de extrema importância para que se pudesse buscar compreender o que levou a atual situação de crise portuguesa. Por meio destas informações, torna-se possível identificar falhas estruturais no bloco europeu e a falta de sentimento comunitário para resolver desequilíbrios dentro da União Europeia.

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ABSTRACT

This study aimed to identify the impacts caused by the creation of the euro in the Portuguese economy, starting the study by the European integration process which culminated in an economic and monetary union. The study also sought to contextualize the current Portuguese crisis, as well as presenting the measures taken by the Portuguese government to manage the crisis that has spread mainly by the countries of southern Europe. In order to develop the study, the methodology used was exploratory and descriptive research. To collect and analyze data, it was used bibliographic and documentary research, with the aid of books on the topics covered, journals and internet. In the literature review were presented topics such as globalization, regional integration and economic and monetary union. Furthermore, the study has showed how European Unionwas created and Portugal participation in the Community. The presentation of historical facts was extremely important to understand what led to the current crisis situation in Portugal. Through this information, it becomes possible to identify structural flaws in the European bloc and the lack of community feeling to solve imbalances within the European Union.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Taxa média de crescimento verificado no período 1999-2011...34

Tabela 2 – Produto Interno Bruto (PIB) – Portugal (1999-2011)...39

Tabela 3 – Produto Interno Bruto per capita ...40

Tabela 4 – Produto Interno Bruto per capita PIIGS (2008-2011)...41

Tabela 5 – Taxa de desemprego (1999-2011)...42

Tabela 6 – Taxa de desemprego PIIGS (2008-2011) ...43

Tabela 7 – Balança Comercial (1999-2011) ...45

Tabela 8 – Taxa da dívida pública em relação ao PIB (1999-2011) ...46

Tabela 9 – Taxa da dívida pública em relação ao PIB – PIIGS (2008-2011) ...47

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LISTA DE SIGLAS

BCE – Banco Central Europeu

BENELUX – Bélgica, Holanda e Luxemburgo

CECA – Comunidade Econômica do Carvão e do Aço CEE – Comunidade Econômica Europeia

ECU – EuropeanCurrency Unit (Unidade Monetária Europeia)

EFTA – EuropeanFree Trade Association (Associação Europeia de Livre Comércio

EUA – Estados Unidos da América

EURATOM - Comunidade Europeia de Energia Atômica FMI – Fundo Monetário Internacional

MCE – Mercado Comum Europeu MERCOSUL – Mercado Comum do Sul PIB – Produto Interno Bruto

PIIGS – Portugal, Ireland, Italy, Greeceand Spain (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha)

SEBC – Sistema Europeu de Bancos Centrais SME – Sistema Monetário Europeu

UE – União Europeia

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SUMÁRIO

1INTRODUÇÃO ...9

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA...10

1.2 OBJETIVOS ... 11 1.2.1 Objetivo geral ... 11 1.2.2 Objetivos específicos ... 11 1.3 JUSTIFICATIVA ... 12 1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 13 1.4.1 Caracterização da pesquisa ... 13

1.4.2 Métodos de coleta e análise dos dados ... 13

1.5 ESTRUTURA DA PESQUISA ...15

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 16

2.1 GLOBALIZAÇÃO ... 16

2.2 INTEGRAÇÃO REGIONAL...18

2.3UNIÃO EUROPEIA ... 21

2.4UNIÃO ECONÔMICA E MONETÁRIA ... 25

2.4.1 Teoria das Áreas Monetárias Ótimas ... 27

3. APRESENTAÇÃO DOS DADOS ...29

3.1HISTÓRICO POLÍTICO - ECONÔMICO DE PORTUGAL...29

3.1.1Processo de Adesão de Portugal a CEE ...31

3.1.2 Preparação para o Euro ...33

3.1.3 Adesão ao Euro e abandono da moeda nacional...36

3.2 EVOLUÇÃO NOS PRINCIPAIS INDICADORES ECONÔMICOS ... 37

3.2.1 Variação no Produto interno bruto ...38

3.2.2 Produto interno bruto per capita...40

3.2.3 Desemprego...42

3.2.4 Balança Comercial ...45

3.2.5 Dívida Pública ...46

3.3 CRISE DA DÍVIDA PÚBLICA...48

3.3.1 O Euro...49

3.3.2 O Resgate as Medidas de Austeridade ...50

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 55

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1 INTRODUÇÃO

O processo de globalização teve como mola propulsora os desenvolvimentos na área tecnológica, que fizeram a comunicação tornar-se mais rápida e as distâncias geográficas cada vez menores. Para Magnoli (1997, p. 07), trata-se de “um processo pelo qual o espaço mundial adquiriu unidade”.

Esta unidade, como consequência da globalização, não está presente na definição de Aglietta (1998, p.67) que destaca:

A globalização é uma multiplicidade distinta e interconectada de processos. Ocorrendo em diferentes velocidades, em diferentes sequências e em diferentes lugares em níveis variados de intensidade, estes processos estão longe de serem coerentes. Eles se enraizaram em importantes áreas de modificação da divisão internacional do trabalho. Mas pela interação com modelos existentes de regulação, eles criam vários tipos de desordem nos campos econômico, financeiro e monetário.

A globalização como resultado de um longo processo, trouxe consigo inúmeras transformações no que tange aos aspectos econômicos, sociais, políticos, culturais, geográficos, etc. Em relação à globalização, Santos (1994, p. 48) evoca que “o espaço geográfico tende a ser produzido em conformidade com as necessidades de quem o idealiza, sendo, portanto, um sistema de objetos naturais ou fabricados”. Dessa maneira, blocos econômicos como o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) e a União Europeia (UE) são consequências desse novo padrão de organização nas relações internacionais.

A União Europeia sempre foi consideradaum dos exemplos mais bem sucedidos de integração regional. Trata-se do único bloco regional que conseguiu alcançar uma unidade monetária que, apesar das dificuldades, já faz circular o Euro há 10 anos, com características de moeda forte no sistema internacional. Conforme Guerot (2001, p.101), “o Estabelecimento da União Econômica e Monetária (UEM) e a introdução do euro criaram novas estruturas, um novo potencial econômico, e alteraram as dimensões de trabalho em todo o mundo”.

Sendo assim, o presente estudo irá apresentar um histórico da União Europeia, priorizando a questão da integração econômica. Irá também contextualizar esse processo e seus impactos na economia de Portugal, membro do bloco desde

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1986 e um dos países mais afetados pela crise do Euro atual. Após um período de reestruturação econômica, Portugal logrou entrar para o bloco comunitário europeu e aderiu ao Euro desde a sua implantação em 1999. Com essa adesão, o escudo deixou de ser a moeda nacional e deu lugar à moeda única utilizada pelos países-membros da zona do Euro.

Para tornar mais claro o entendimento do leitor, este estudo contará com duas etapas. Na primeira, serão determinados os objetivos (gerais e específicos), a justificativa para a realização do estudo e os procedimentos metodológicos. Em seguida, na segunda etapa, será realizada a revisão bibliográfica, de modo a abordar temas como globalização, integração regional e união monetária.

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA

O presente estudo tem como tema de pesquisa a União Econômica e Monetária Europeia (UEM), sendo suas delimitações: processo de formação e impactos na economia portuguesa.

Nas últimas décadas, tem-se acompanhado a intensificação dos processos de integração. Os países oficializam, por meio de acordos, suas intenções em cooperar, buscando atingir objetivos de interesse comuns. Sendo os países fronteiriços ou não, há a possibilidade de incremento dos níveis de comércio entre os países envolvidos e a transferência de know-how, gerando desenvolvimento mútuo.

Existem vários blocos que agregam países com interesses comuns, porém o bloco que mais se destaca é a União Europeia. O processo integrativo deu os primeiros passos tendo como objetivodesenvolver o continente europeu após a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), bem como assegurar que novos desentendimentos fossem evitados e, pela necessidade de integrar as suas economias. Após décadas de aprofundamento da integração regional, os países-membros da União Europeia não só aumentaram as trocas comerciais/financeiras entre eles, como liberalizaram o fluxo de pessoas, serviços e capitais e criaram uma moeda única.

Para tornarem-se aptos a aderirem à moeda única, os países-membrostiveram que cumprir uma série de exigências quanto às suas práticas econômicas. Após o cumprimento destas exigências, Portugal, que fazia parte do

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bloco desde 1986, tornou-se membro da chamada zona do euro desde a sua implantação. Com a adesão à União Econômica e Monetária, Portugal, assim como os demais países que aderiram à moeda única, transferiu parte de seus poderes soberanos quanto à condução da política monetária e econômica a órgãos de caráter supranacional do bloco. Com essa mudança, os efeitos da união econômica e monetária puderam ser percebidos nos indicadores macroeconômicos do país. O trabalho que se apresentará a seguir terá como foco identificar quais foram esses efeitos e como eles se deram ao longo dos anos. Para identificar estes efeitos, serão considerados indicadores como produto interno bruto (PIB), taxa de desemprego, PIB per capita, taxa da dívida pública e balança comercial. Com a análise da evolução destes indicadores, será possível perceber ano a ano as mudanças na economia portuguesa, que enfrenta atualmente uma grande crise, juntamente com países como a Grécia, a Espanha e a Irlanda.

Como problema de pesquisa, o estudo realizado possui o seguinte questionamento: Quais os impactos causados na economia de Portugal após a implantação da União Econômica e Monetária Europeia?

1.2 OBJETIVOS

Em seguida, serão apresentados o objetivo geral e os objetivos específicos, a fim de determinar os rumos e finalidades da pesquisa.

1.2.1 Objetivo geral

O presente estudo tem como objetivo geral identificar os impactos causados pela implantação do euro na economia portuguesa.

1.2.2 Objetivos específicos

Para a consecução do trabalho, foram definidos os objetivos específicos abaixo: - Contextualizar a inserção de Portugal na União Europeia;

- Apresentar a evolução dos principais indicadores macroeconômicos de Portugal a partir da União Econômica e Monetária;

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1.3 JUSTIFICATIVA

Nas últimas décadas, diversas transformações estão sendo percebidas no modo como os países conduzem suas relações internacionais. Existem hoje diversos blocos regionais que buscam integrar países com interesses e desafios comuns. Ao mesmo tempo em que os países têm buscado atingir os mais diversos mercados ao redor do globo, acompanha-se o aprofundamento dos processos de integração iniciados devido à proximidade geográfica, criando um contraste entre a globalização e a regionalização.

Os processos de integração regionais ganharam impulso a partir do momento em que os Estados passaram a encará-los como medidas estratégicas para o seu desenvolvimento político, social e econômico.

A União Europeiaé tida hoje como o exemplo mais avançado de integração regional, uma vez que já alcançou a integração monetária, contando com moeda única e órgãos de caráter supranacionais.

A respeito da União Europeia, Soder (1995, p. 76)aponta que:

O movimento integrativo europeu, desde o começo, baseou-se na transferência de poderes estatais, nacionais para uma central administrativae legislativa. Sem isso não seria possível formar uma comunidade, uma união, seja no setor econômico, seja no político.

Para os acadêmicos de Relações Internacionais e para a academia, será apresentado um panorama histórico e uma contextualização atual do tema já citado, buscando integrar o conhecimento adquirido ao longo do curso nas diversas disciplinas ofertadas. O estudo desenvolvido poderá servir como fonte de pesquisa aos demais interessados no assunto.

Quanto à escolha do tema, ela se deu pela observação do que se passa atualmente na União Europeia e a constatação de que essa crise é consequência de um longo processo de adaptação dos Estados-Membros a esta nova forma de integração. Atualmente, a questão da crise do Euro está sendo discutida exaustivamente, na busca de soluções para o problema. Com o assunto em evidência, torna-se importante discutir a questão da integração regional europeia mais a fundo, a fim de buscar compreender a crise e a atual conjuntura mundial.

Para um melhor entendimento, foi decidido então investigar especificamente o caso português neste contexto, uma vez que se sabe que o país

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precisou adequar-se a inúmeras exigências antes de aderir ao bloco e hoje é um dos Estados-Membros que mais sofre os efeitos da crise, abrindo o questionamento se o país estava mesmo apto para dar esse passo naquela época e quais foram os reflexos da adesão para a sua economia.

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os métodos de pesquisa que serão utilizados para a realização do presente estudo serão apresentados a seguir.

1.4.1 Caracterização da pesquisa

Considerando os objetivos definidos para a realização do estudo, a pesquisa que se segue pode ser definida como básica uma vez que consiste na aquisição de conhecimento, sem fins de aplicabilidade imediata. Quanto aos objetivos, a pesquisa pode ser classificada como exploratória e descritiva.

A este respeito, Gil (2002, p.42) aponta que a pesquisa exploratória “tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses”.Jáas pesquisas descritivas “têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis”.

Segundo Oliveira (1999, p.114), “o estudo descritivo possibilita o desenvolvimento de um nível de análise em que se permite identificar as diferentes formas dos fenômenos, sua ordenação e classificação”.

Portanto, baseando-se nessas definições de pesquisaexploratória e descritiva, os objetivos serão alcançados por meio da contextualização de uma situação específica, considerando sua origem e efeitos.

1.4.2 Métodos de coleta e análise dos dados

Após apresentada a caracterização da pesquisa, faz-se necessário determinar os métodos que serão utilizados para a coleta e análise dos dados. Para este estudo, é feito uso de pesquisa bibliográfica e documental. A abordagem é tanto de caráter qualitativo como quantitativo.

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De acordo com Marconi et al (2001, p.43), a pesquisa bibliográfica “trata-se do levantamento de toda a bibliografia já publicada em forma de livros, revistas, publicações avulsas em imprensa escrita”. Este método de pesquisa tem como finalidade colocar o pesquisador em contato direto com o que foi escrito sobre o assunto tema de pesquisa. Para o presente estudo, serão utilizadas estas fontes, além de revistas e periódicos que possuam credibilidade em relação aos tópicos que serão abordados.

A respeito da pesquisa bibliográfica, Gil (2002, p. 45) cita que:

A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. Essa vantagem torna-se particularmente importante quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo espaço.

O método de pesquisa documental tem como objetivo conhecer documentos e provas existentes em relação a conhecimentos científicos. Dessa forma, Gil (2002, p.46) argumenta que “a pesquisa documental vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordos com os objetos da pesquisa”.

Para a pesquisa documental, serão utilizados documentos disponibilizados por órgãos da União Europeia, desde o tratado que instituiu o bloco, com a proposta de uma união monetária, até dados estatísticos para maior entendimento quanto às mudanças nos indicadores macroeconômicos após 1999, ano de implantação do Euro.

A respeito das pesquisas qualitativas e quantitativas, Oliveira (1999, p.115) aponta que:

A abordagem quantitativa e qualitativa são dois métodos diferentes pela sua sistemática, e, principalmente, pela forma de abordagem do problema que está sendo objeto de estudo, precisando, dessa maneira, estar adequado ao tipo de pesquisa que se deseja desenvolver. Entretanto, é a natureza do problema ou seu nível de aprofundamento que irá determinar a escolha do método.

Desse modo, as pesquisas qualitativas e quantitativas não se excluem, são complementares e tornam a compreensão dos fenômenos a serem estudados mais eficiente.

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1.5 ESTRUTURA DA PESQUISA

O trabalho estrutura-se em quatro capítulos para auxiliar a compreensão da atual situação de crise em Portugal, buscando englobar um contexto histórico do processo de adesão do país ao bloco comunitário europeu, transformações nos indicadores macroeconômicos após o euro e medidas tomadas para o resgate da economia.

O primeiro capítulo apresentará, dentro da introdução, o tema e o problema de pesquisa, os objetivos, geral e específicos, justificativa e procedimentos metodológicos que serão utilizados para pesquisa a fim de buscar informações para o trabalho.

Na sequência, será exposta a apresentação da revisão bibliográfica, expondo conceitos de globalização, integração regional e integração econômica e monetária.

Em seguida virá o desenvolvimento, no qual será introduzida brevemente a história recente da economia portuguesa, com as mudanças provocadas pela volta à democracia no país e a integração aos demais países europeus. Serão apresentadas também a preparação para o euro e o abandono da moeda nacional.

Ainda, neste terceiro capítulo, será realizada uma exposição de dados referentes à evolução de alguns indicadores macroeconômicos do país entre os anos de 1999 e 2011. Com a crise da economia portuguesa em evidência, será exposto também, neste capítulo, um panorama atual da crise, propostas de resgate da economia e perspectivas de recuperação do país.

No quarto e último capítulo serão apresentadas as considerações finais em relação ao estudo realizado e ao conteúdo apresentado, de modo que se possa alcançar o objetivo traçado de identificar impactos da adesão de Portugal à moeda única europeia.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Com a maior integração dos países no cenário internacional, tornaram-se perceptíveis diversas transformações de ordem política, econômica e social. Questões anteriormente relacionadas somente ao âmbito nacional, agora atingem proporções globais.

Atualmente, acentuou-se a tendência a integração em blocos econômicos ou por meio de acordos entre países com interesses comuns. A integração pode se dar em vários níveis e envolver as mais diversas áreas. De acordo comSoder (1995), a União Europeia destaca-se por ser o bloco de integração mais avançado que, entre outras coisas, estabeleceu a união monetária. Como o nível de desenvolvimento dos países-membros do bloco não é o mesmo, cada país sofre impactos diferentes ao processo de integração. Em meio às crises, por exemplo, alguns conseguem controlar os efeitos negativos que se abatem sobre a economia e outros apresentam maior dificuldade quanto a isso.

Para maior compreensão, serão abordados os seguintes tópicos: Globalização, Processo de Integração, União Europeia e União Monetária. Por fim, será apresentado um panorama geral da economia portuguesa a partir da década de 1970, priorizando o período após a implantação do Euro, visando descrever os efeitos mais perceptíveis desta mudança nos seus indicadores macroeconômicos. 2.1 GLOBALIZAÇÃO

Ao longo das últimas décadas, o mundo tem passado por inúmeras transformações nas áreas econômica, política, social e ambiental. Com estas transformações, tornou-se impossível tratar dessas questões com base apenas no que acontece dentro das fronteiras nacionais. A fim de explicar as causas e consequências dessas transformações, surgiu o termo “globalização”.

Segundo Chesnais (1996),o termo globalização surgiu na década de 1980 em renomadas universidades norte-americanas e ganhou o mundo através da imprensa anglo-saxã.

A partir da disseminação do termo, surgiram vários conceitos para defini-lo. Para Hobsbawn (1995), globalização transmite a ideia de unificação do mundo. Na visão de Giddens (1996, p. 69), globalização é “a intensificação das relações

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sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distância e vice-versa”. Conforme Bassi (1997), globalização se trata de um processo de integração mundial nas comunicações, economia, finanças e negócios.

Mesmo que este não seja um processo atual, é possível afirmar que a globalização foi intensificada com a aceleração e facilitação da comunicação em nível mundial. Os Estados ficam cada vez mais interligados e fenômenos em qualquer canto do planeta provavelmente terão consequências globais. Mesmo que em diferentes intensidades, qualquer mudança trará reflexos às sociedades que se encontram integradas de alguma forma.

Apesar do termo “globalização” ter surgido na década de 1980, o processo que acompanhamos e designamos dessa maneira é muito antigo. Quanto a isso os autores não diferem, porém há diversas interpretações a respeito do início de integração do mundo. Há estudiosos sobre o assunto que propagam a ideia de que o processo de globalização teve início ainda na Pré-História (RABELO, 2010). Em uma vertente diferente, fala-se dos tempos do Império Romano como data de início do processo de globalização, uma vez que os romanos empreenderam uma grande jornada rumo à conquista de novos povos e territórios (DIAS, 2004).

No entanto, conforme Magnoli (2004), as raízes da Globalização estão nas Grandes Navegações empreendidas pelos países europeus, uma vez que através delas, o comércio passou a englobar uma parcela muito maior do mundo e, com o estabelecimento de colônias, o continente europeu passou a exercer influência em territórios distantes e com grandes dimensões territoriais.

Independente destas diferentes visões quanto ao momento em que o processo de globalização ganhou forma, é correto afirmar que o fluxo de pessoas, de mercadorias e de influências é muito antigo e o que não existia, no entanto, era um termo específico para defini-lo.

O termo globalização ganhou evidência com as modificações políticas registradas no mundo todo, principalmente com o final da Guerra Fria. Após a dissolução da União Soviética, a globalizaçãoé, nas palavras de Santos (1995, p. 23) “o ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista”.

A globalização pode, ainda, ser compreendida como um processo cíclico onde há períodos em que o ritmo é intensificado, porém nunca deixa de acontecer. A este respeito, globalização pode significar, segundo Moreira (2002) “um processo

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social que atua no sentido de uma mudança na estrutura política e econômica das sociedades, ocorrendo em ondas com avanços e retrocessos separados por intervalos que podem durar séculos”.

Desse modo, o processo de globalização sempre existiu, no entanto apresenta-se em velocidades diferentes em cada período. Durante as últimas décadas, ganhou mais evidência porque atingiu uma velocidade nunca antes experimentada.

Com a intensificação do processo de globalização, o fluxo de comércio também aumentou. A tecnologia proporcionou a diminuição das distâncias geográficas e as mercadorias podem ser levadas rapidamente de um lado do planeta ao outro, num ritmo sem precedentes. A este respeito, Campos e Canavezes (2007) apontam:

O comércio constitui um dos principais e certamente o mais antigo fundamento de uma globalização económica, ao articular produtores e consumidores geograficamente distantes e ao estabelecer entre eles uma relação de interdependência e mesmo, por vezes, de identificação entre si.

Apesar de algumas economias apresentarem forte protecionismo, principalmente em tempos de crises econômicas, há a tendência de maior integração entre os mercados locais. Isto se dá pela maior abertura e desregulamentação dos mercados. Os Estados passam a abandonar gradativamente as barreiras tarifárias e a diminuir obstáculos burocráticos, abrindo-se ao comércio e ao capital internacional. A globalização dos mercados faz com que a ideia de Estado-nação enfraqueça perante organizações internacionais, sejam elas do setor privado ou não (RAMOS, 2009).

Tendo como base conceitos e ideias elaboradas por estudiosos da área, é possível compreender qual foi o real início da globalização, seu significado e as consequências desse processo na sociedade atual. Com esta contextualização, pode-se então seguir ao estudo de integração regional mais a fundo, elencando suas principais características e etapas.

2.2 INTEGRAÇÃO REGIONAL

Nas últimas décadas, acompanhou-se o surgimento de vários blocos de integração regional que têm por objetivo, principalmente, desenvolver

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economicamente os países-membros desses acordos. A partir do fator econômico ou comercial, busca-se então agregar outros aspectos de interesse comuns.

Balassa (1973, p. 2) define integração econômica como:

[...]um conjunto de acordos, convênios, normas, regulamentações, etc. estabelecidos entre dois ou mais países, com o intuito de promover o desenvolvimento conjunto de suas respectivas economias, a partir do aproveitamento das vantagens econômicas oferecidas por acordos internacionais, por acordos setoriais de produção, pela eliminação de barreiras comerciais, pelo incremento do intercâmbio de mercadorias e fatores de produção e pela harmonização de políticas econômicas nacionais e internacionais.

Nos últimos anos, houve uma mudança a nível internacional quanto aos processos de tomada de decisão. Com a formação de blocos de integração, um conjunto de países passa a decidir em conjunto temas considerados anteriormente de caráter apenas nacional. Em meio a isso, surgem as competências supranacionais. Segundo Stelzer (2004, p. 75-76), o caráter de supranacionalidade denota a um poder superior ao dos Estados nacionais, visto que ocorre a transferência de soberania estatal em beneficio da organização comunitária.

A respeito da supranacionalidade, Sande (2000) aponta, ainda, que é esperado que uma organização política supranacional possa gerir os interesses das partes por meio de instituições eficazes, com poderes constitucionalmente separados do nível nacional para os assuntos regionais relevantes.

O processo de integração é constituído de várias etapasque vão definindo o grau de perda de autonomia dos Estados, na medida em que os países-membros vão aprofundando os acordos estabelecidos.

A primeira etaparefere-seà formação de uma “Zona de Livre Comércio”, formalizada por um tratado entre os países interessados. Conforme Balassa (1973), nesta fase, as barreiras ao comércio de produtos entre os países participantes são reduzidas ou se extinguem, porém cada país continua mantendo as suas próprias tarifas de importação em relação aos países não-membros do acordo.

A segunda etapa é denominada “União Aduaneira” onde, além de uma área de livre comércio, há também o estabelecimento de uma tarifa externa comum aplicada sobre os produtos oriundos de Estados não-membros da União Aduaneira. Segundo Thorstensenet al (1994), o acordo que estabelece a União Aduaneira exige a criação de um órgão de coordenação da política aduaneira e da política de

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comércio exterior. Neste grau de integração, a autonomia cedida pelo Estado é um pouco maior, visto que ele já não pode mais decidir a política comercial de modo independente, tendo que negociar com os demais participantes do bloco.

A etapa seguinte refere-se ao “Mercado Comum”. Nesta fase há, além da circulação de bens entre os países membros, o estabelecimento da livre-circulação de pessoas, capitais e serviços. Na teoria de Balassa (1973), o Mercado Comum atinge uma forma mais elevada de integração, pois são abolidas não só as restrições comerciais como também as restrições ao movimento dos fatores produtivos. Conforme Thorstensen et al. (1994), é necessária a criação de instituições supranacionais que envolvam políticas comuns acima das políticas nacionais.

A quarta etapa trata da “União Econômica e Monetária”. Para Thorstensen et al. (1994), neste grau de integração deve haver coordenação das políticas macroeconômicas dos Estados-membros, principalmente em relação às taxas de juros, taxas de inflação e índices de déficits públicos. Os países participantes do bloco passam a adotar uma moeda comum emitida pela autoridade monetária regional. Numa união econômica e monetária, é implantado um sistema de bancos centrais interdependentes e um banco central regional.

A respeito da quarta fase de integração, Grieco (1992) afirma que:

A autonomia cedida neste nível de integração é enorme. Além de abrir mão da emissão da moeda [...], os Estados transferem para a autoridade monetária regional a condução das políticas monetária e cambial, perdendo controle de variáveis macroeconômicas importantes no desempenho econômico nacional.

Por fim, alcança-se a “Integração Econômica Total”. Esta etapa implica na unificação das políticas monetárias, fiscais e sociais, exigindo a criação de órgãos supranacionais. As decisões tomadas por essa autoridade superior aos Estados nacionais tornam-se obrigatórias para os países-membros (BALASSA, 1973).

Para Grieco (1992), a proximidade geográfica parece ser mais necessária nos níveis mais elevados de integração. O estabelecimento de áreas de livre comércio, por exemplo, pode se dar sem que os países envolvidos no acordo sejam fronteiriços.

O processo de integração regional, independente de sua fase, apresenta custos e benefícios aos Estados-membros. Em relação aos custos, os países

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passam a apresentar limitações quanto ao grau de autonomia para conduzir suas políticas nacionais, o que resulta na impossibilidade de proteger algum setor da economia. Pode haver ainda um desvio de comércio.

Para Garcia (2007, p.27), o desvio de comércio implicaria na:

[...]redução do comércio entre a região integrada e os demais países. Nesse caso, a produção procedente de países extra bloco é preterida, não por seus produtores serem menos eficientes, mas em função da redução tarifária entre nações do bloco econômico.

Conforme Thorstensen (1994), os benefícios estão relacionados à extinção das barreiras, o que faz com que o nível de comércio aumente. Os acordos de integração ainda levam à melhora no poder de barganha internacional, devido ao maior tamanho do mercado. Há ainda que mencionar que os países-membros dos acordos elevam os seus níveis de confiança perante o restante do mundo, uma vez que os acordos de integração são mais difíceis de serem modificados do que as políticas internas.

Atualmente, o bloco regional mais evoluído é a União Europeia, não apenas por ter atingido fases mais elevadas no processo de integração, mas, principalmente, por abranger mais áreas de interesses comuns aos Estados-membros. Com o intuito de apresentar as particularidades de um bloco de integração em especial, será exposto em seguida um breve histórico da formação do bloco europeu.

2.3 UNIÃO EUROPEIA

O continente europeu foi assolado, ao longo dos séculos, por diversas guerras e revoluções. Após a Segunda Guerra Mundial, os países estavam destruídos e o continente que até então possuía grandes potências econômicas perdeu seu espaço para os Estados Unidos, que vinham emergindo política e economicamente há anos, beneficiando-se ainda mais por ter mantido seu território livre das batalhas da guerra e desenvolvido seu potencial industrial, enquanto seus concorrentes no mercado necessitavam reconstruir seus territórios (RAMOS, 2009).

A Europa havia, ao longo de quatro séculos, colonizado territórios nos hemisférios norte e sul, disseminando sua cultura, crenças religiosas e idiomas. De

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acordo com Grieco (1992, p.22), com a destruição causada pela Segunda Guerra Mundial, a situação européia alterou-se radicalmente, sendo que “o continente que decidira os destinos do mundo, passava a ser cenário de confrontação militar e ideológica entre duas superpotências extra europeias: os Estados Unidos e a União Soviética.”

Em relação a isso, Pfetsch (2001, p. 20-21) destaca que:

A evolução das grandes potências sediadas fora do espaço europeu tradicional de poder deu um novo impulso à integração europeia. Com a emergência da União Soviética, cujo potencial militar representava uma ameaça para as potências da Europa Central, a concepção de uma Europa como “terceira força” ganhou importância.

Desse modo, a Europa necessitava reorganizar-se política e economicamente por meio de um esforço conjunto. Na época, os nacionalistas desejavam uma união na qual os Estados mantivessem sua soberania intacta. Visavam, quase que unicamente, o reerguimento econômico.

Desse modo, a questão da soberania dos Estados tornou-se o centro da discussão onde, segundo Soder (1995, p.19), havia “a possibilidade, ou mesmo necessidade, de restringi-la em favor de interesses supranacionais que viessem a beneficiar a população de cada Estado”.

Assim, em meados da década de 1950, surgiu a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), apontada por Ramos (2009, p.13) como “o primeiro passo no processo europeu de integração regional que se aprofundou até a formação da União Europeia [...]”. A ideia baseava-se na cooperação em um setor técnico que posteriormente poderia ser estendida a outros setores e teve como mentoras a França e a Alemanha. O objetivo principal era criar uma organização supranacional para coordenar a produção de carvão e de aço destes dois países, que contavam com uma série de rivalidades históricas. Todavia, a Comunidade aceitaria qualquer outro país que compartilhasse o mesmo objetivo.

Foi assim que, em 1951, França, Alemanha, Benelux – Bélgica, Holanda e Luxemburgo – e Itália assinaram o Tratado CECA, ou Tratado de Paris. Criou-se então uma Comunidade, cujo objetivo era liberalizar a circulação do carvão e do aço, além de garantir o livre acesso às fontes de produção (RAMOS, 2009).

Em 1957, esses mesmos seis países-membros da CECA assinaram em Roma os Tratados que instituíam a Comunidade Econômica Europeia (CEE) e a

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Comunidade Europeia de Energia Atômica (Euratom). O Tratado que criou a Comunidade Econômica Europeia visava integrar as economias dos países da Europa e vislumbrava o estabelecimento de uma união aduaneira e, posteriormente, um mercado comum (UNIÃO EUROPEIA, 2012).

Segundo Soder (1995, p.39):

[...] a União Europeia não se deveria limitar ao aspecto econômico. Já nos preâmbulos dos tratados fala-se da manutenção da paz e das relações pacíficas entre os países da Europa e o resto do mundo, constituindo-se nisso o principal objetivo desse movimento integrador. Aparece, pois, claramente, desde o começo, a meta de uma União Política.

Apesar da adesão de vários países à Comunidade Econômica Europeia ao longo das décadas seguintes, vários acontecimentos externos fizeram com que o processo integrativo europeu apresentasse um período de quase estagnação. O fim do Sistema Monetário de Bretton Woods, a desvalorização do dólar, o aumento no preço internacional do petróleo e o quadro de desemprego e recessão na Europa foram alguns desses fatores. Esse momento ficou conhecido como “euroesclerose”. Após essa fase, o processo de integração foi retomado e culminou na declaração do Ato Único Europeu em 1986 (RAMOS, 2009).

A este respeito, Herz e Hoffmann (2004, p.185) apontam que:

O programa lançado pelo Ato Único Europeu foi um verdadeiro divisor de águas, ao marcar a passagem da integração negativa, ou seja, a mera liberalização, para uma integração positiva, com a harmonização das legislações nacionais e formulação das políticas comuns regulatórias em diversas áreas.

O Ato Único Europeu relançou o processo de integração europeia, de modo a concluir a realização do mercado comum. Ramos (2009, p. 25) cita que “o Ato Único Europeu altera as regras de funcionamento das instituições europeias e amplia as competências comunitárias [...]”. Aponta, ainda que “é a partir das alterações providenciadas pelo Ato Único Europeu que o processo de integração na Europa se revitaliza e entra em nova fase. Uma fase com grau de integração muito mais intenso e de cooperação complexa.

Para Lessa (2003), a União Europeia distingue-se de outras organizações em processo de integração, pois seus Estados-membros abdicaram de parte de sua soberania nacional em virtude dos interesses comunitários, conferindo aos órgãos

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supranacionais poderes próprios e independentes, capazes de promulgar atos equivalentes aos atos nacionais.

Tavolaro (2005, p. 67) pondera que:

Foi, portanto, a partir de meados da década de 80 que o desenvolvimento do processo de unificação econômica tomou novo impulso que teve como principal força propulsora a criação de um programa sobre o mercado, intitulado “Europa 92” que implicava uma série de medidas a serem adotadas a fim de alcançar, até o final de 1992, um mercado comum [...]

Em 7 de fevereiro de 1992, os chefes de Estado dos doze membros da Comunidade Europeia assinaram o Tratado de Maastricht, na cidade holandesa que lhe dá nome. Através deste tratado, a Comunidade passa a ser denominada União. Conforme Soder (1995), ela une as três comunidades já existentes, a saber: Comunidade Econômica do Carvão e do Aço, Comunidade Europeia de Energia Atômica e Comunidade Econômica Europeia.Os países signatários do Tratado foram: Alemanha, França, Itália, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Irlanda, Grécia, Espanha, Portugal, Áustria e Finlândia. Dinamarca, Reino Unido e Suécia assinaram o Tratado e fazem parte da União Europeia, porém não aderiram à moeda única (UNIÃO EUROPEIA, 2012).

A assinatura do Tratado de Maastricht apresenta-se como um aspecto de extrema importância no processo integrativo europeu. Com o estabelecimento da União Europeia, o continente europeu se propôs a discutir a cidadania européia e adotar uma moeda única.

Segundo Ramos (2009, p.32), o Tratado da União Europeia propunha alcançar cinco objetivos principais:

[...] fortalecer a legitimidade democrática das instituições; implementar uma União Econômica e Monetária; estabelecer uma política comum para a política externa e a segurança; aumentar a eficácia das instituições; ampliar o lado social da comunidade.

A seguir será apresentado um histórico dos esforços europeus em constituir uma maior integração econômica, iniciada há várias décadas, culminando na ratificação do Tratado de Maastricht, na adoção da moeda única e na transferência de poderes soberanos dos Estados para órgãos comunitários competentes. Será abordada também a Teoria das Áreas Monetárias Ótimas, desenvolvida por Mundell em 1961.

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2.4 UNIÃO ECONÔMICA E MONETÁRIA

O Tratado de Maastricht, que estabeleceu a União Europeia, definiu as fases para a consecução de uma união econômica e monetária entre os Estados-membros do bloco. De acordo com Guerot (2001, p.90), “o estabelecimento da União Econômica e Monetária (UEM) e a introdução do Euro criaram novas estruturas, um novo potencial econômico, e alteraram as dimensões do mercado em todo o mundo”.

Todavia, muito antes da assinatura do Tratado de Maastricht, os países europeus já propunham maneiras de atingir uma maior integração econômica entre os membros da Comunidade Econômica Europeia. Quanto a isso, Pfetsch (2001, p.192) aponta que:

O percurso em direção à moeda européia comum está marcado por três importantes iniciativas: o Plano Werner, o Sistema Monetário Europeu e o Relatório Delors. O assim chamado “Plano Werner”, encomendado no final dos anos 1960, sinalizou a vontade dos chefes de Estado e de governo de utilizar melhor o espaço comunitário [...]

O Plano Werner, apresentado em 1971, tinha como ideia principal uma política integrada capaz de corrigir os desequilíbrios macroeconômicos entre os países-membros. A principal razão para o insucesso do Plano Werner foi a falta de cooperação dos governos nacionais quanto à subordinação de suas políticas públicas à Comunidade.

Como as propostas do Plano Werner não puderam ser postas em prática ao longo dos anos 1970, a criação do sistema monetário europeu (SME) em 1979 foi uma tentativa a mais de reagir às turbulências monetárias, sempre preocupantes. O Relatório Delors de 1989, por fim, deixou clara a decisão política de aproveitar os resultados positivos do SME e de caminhar para uma integração política e econômica maior pela via da moeda comum (PFETSCH, 2001 p.193).

Em abril de 1978, os chefes de governo dos Estados-membros da Comunidade Europeia criaram o Sistema Monetário Europeu (SME), com o intuito de fazer com que as moedas nacionais dos seus membros apresentassem maior estabilidade nas cotações de câmbio. Este sistema resultou na Unidade Monetária Europeia, o ECU (EuropeanCurrency Unit). Diferente do Euro, o ECU não se tornou moeda corrente, mas foi usado como unidade de conta européia nos Bancos

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Centrais, nas estatísticas, empréstimos e doações (SODER, 1995). O ECU destacou-se por ter estabelecido as bases do que mais tarde seria a moeda única, o Euro.

Antes de o Tratado de Maastricht ser ratificado, a última tentativa de integrar os europeus em relação ás suas políticas econômicas foi o Relatório Delors de 1989. A respeito do Relatório Delors, PFETSCH (2001, p.199) destaca que:

Previa-se a instituição de um sistema de bancos centrais europeus, mas a responsabilidade última pela política econômica e monetária continuaria nas mãos dos Estados nacionais [...] As propostas do Relatório Delors serviram de base às decisões tomadas nos Tratados de Maastricht.

Com a assinatura do Tratado de Maastricht, foi necessária a criação de um Banco Central comunitário e um Sistema de Bancos Centrais, onde o Banco Central Europeu (BCE) e os Bancos Centrais nacionais de cada Estado-membro estivessem integrados. O BCE possui personalidade jurídica própria e autonomia perante os governos dos Estados-membros. Cabe ao Banco Central Europeu, também, a tarefa de determinar a política monetária da Comunidade e emitir a moeda comum (SODER, 1995).

Conforme disposto no Tratado, os Estados-membros devem fornecer dados quanto às medidas por eles tomadas a fim de facilitar a vigilância multilateral. Os Estados-membros devem, também, seguir regras quanto à disciplina fiscal e orçamentária (EUR-LEX, 2012).

Para que um Estado-membro fosse considerado apto a fazer parte da UEM e ser capaz de abrir mão de suas moedas nacionais, bem como da condução de suas políticas monetárias, devia cumprir determinadas exigências, denominadas “critérios de convergência”. Esses critérios foram estipulados para garantir que a economia dos Estados-membros comportasse a adoção da moeda única. Quantoa isso,Manzi (2011 apud PFETSCH, 2001) destaca:

Os critérios de convergência estabelecidos no Tratado de Maastricht estabelecem que os déficits públicos dos países da zona do euro não deveriam ser superiores a 3% do PIB, a dívida pública deveria ter um teto de 60% do PIB, a taxa de inflação dos países deveria ser no máximo 1,5% acima da média dos três países com as menores taxas de inflação e a taxa de juros dos Bancos Centrais não deveria ser superior a 2% em comparação a média das três menores taxas de juros dos países da zona do euro.

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A concretização da união econômica e monetária na Europa se deu após a conclusão bem-sucedida de três fases. Todavia, as ideias e iniciativas de alcançar uma integração econômica mais avançada no continente europeu datam de antes de 1992.

De acordo com informações obtidas na página oficial do Banco Central Europeu, a implantação da união econômica e monetária compreendeu três fases. Na primeira fase, que teve início em 1° de julho de 1990, houve a eliminação das barreiras à livre circulação de mercadorias, pessoas, serviços e capitais entre os Estados-membros da UE. A segunda fase iniciou-se em 1º de janeiro de 1994 e destacou-se pela criação do Instituto Monetário Europeu, órgão que antecedeu o BCE. Durante este fase, foram aplicadas medidas em relação à disciplina orçamentária dos Estados-membros e reforçados os critérios de convergência estipulados em Maastricht.

Por fim, em 1º de janeiro de 1999 teve início a terceira fase, onde se fixaram irrevogavelmente as taxas de câmbio das moedas dos países que inicialmente iriam aderir à UEM. Houve, ainda, a introdução do Euro como moeda única. A partir desta data, o BCE assumiu a responsabilidade pela condução da política monetária na zona do Euro (BANCO CENTRAL EUROPEU, 2012).

Cabe ressaltar que nem todos os países-membros da União Europeia da época aderiram ao Euro. A Inglaterra e a Dinamarca, por exemplo, decidiram não fazer parte da zona da moeda única e mantiveram suas moedas nacionais. Já a Grécia não cumpria todos os critérios de convergência, aderindo a moeda única posteriormente. Portugal, país foco deste trabalho, participa da união econômica e monetária desde a sua implantação.

A seguir será apresentado um pequeno resumo sobre a Teoria das Áreas Monetárias Ótimas, uma das principais fontes de literatura no que diz respeito à integração econômica e monetária de um grupo de países.

2.4.1 Teoria das Áreas Monetárias Ótimas

A principal fonte de literatura quando se fala em união monetária foi desenvolvida em 1961 por Robert Mundell e é denominada Teoria das Áreas Monetárias Ótimas. Por meio desta teoria, torna-se possível avaliar os impactos de um choque assimétrico nos países pertencentes a uma mesma área monetária. Em

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relação a isso, Rodrigues (2002) destaca que com o desenvolvimento da teoria de Mundell, “pretende-se, em suma, assegurar que as diferentes regiões existentes no espaço de uma União Monetária possam reagir de forma idêntica e sincronizada no tempo aos choques com impacto econômico [...]”.

Para que uma área monetária seja de fato ótima, Mundell (1961 apud PINHO, 2010) aponta que é necessária a existência de pelo menos uma das seguintes características: flexibilidade dos preços e salários ou mobilidade dos fatores de produção, principalmente do fator mão-de-obra. Deste modo, com a flexibilidade dos preços e dos salários, é possível efetuar ajustes em curto prazo, em caso de choque num país, sem que isto implique significativamente no aumento das taxas de desemprego e inflação. Já o grau de mobilidade dos fatores de produção é essencial para absorver, a longo prazo, os efeitos de um choque.

Conforme a teoria das áreas monetárias ótimas, evidenciada por Pinho (2010), o custo de aderir a uma união monetária, na qual ocorre perda sobre instrumentos de controle monetário e cambial, também diminui quando há abertura da economia, um orçamento ao menos parcialmente comunitário e diversificação da economia. Ainda, segundo aponta Pinho (2010), o principal benefício da integração monetária destacado nessa teoria é o aumento das transações comerciais e financeiras entre os países que fazem parte da integração. Isto se dá pela redução dos custos nas transações (conversão das moedas e transparência dos preços) e pela eliminação da incerteza cambial.

Ainda, segundo PINHO (2010) sobre a teoria das áreas monetárias ótimas, pode não ser ótimo que a mesma decisão seja aplicada a todos os países, sendo que eles têm ciclos econômicos assimétricos. O autor vai além e considera que mesmo assim, a sincronização dos ciclos econômicos não é suficiente para garantir uma desejável união monetária, mesmo sendo uma condição necessária para tal.

Na sequência será apresentado um histórico econômico de Portugal, envolvendo as transformações políticas do país com o final da ditadura. Além disso, será exposto também a adesão de Portugal à Comunidade Econômica Europeia, precursora da União Europeia.

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3 APRESENTAÇÃO DOS DADOS

Para melhor compreender o que levou Portugal ao atual cenário de crise econômica, é importante fazer um estudo referente ao processo de adesão do país ao bloco comunitário europeu e as transformações registradas no país após este grande passo em relação à integração regional e à cessão de parte de sua soberania em prol dos interesses da comunidade.

Após a realização desta contextualização histórica, é possível perceber as mudanças na economia portuguesa através da comparação de dados ao longo dos doze anos de moeda única em indicadores como Produto Interno Bruto (PIB), taxa de desemprego, PIB per capita e taxa da dívida pública.

3.1 HISTÓRICO POLÍTICO - ECONÔMICO DE PORTUGAL

Portugal está situado na Península Ibérica, fazendo fronteira com a Espanha e com o Oceano Atlântico. Ainda que já tenha sido uma potência no período das Grandes Navegações e tenha tido territórios em vários continentes, Portugal enfrenta hoje uma grave crise, como resultado de escolhas tomadas nas últimas décadas.

Apesar de fazer parte geograficamente da Europa e ser membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) desde a sua formação, o país enfrentava dificuldades para se integrar aos demais países europeus. Na visão de Secco (2004), uma justificativa para isso seria a ditadura vigente em Portugal, conduzida por Salazar, e também pelo fato do país se auto-definir “Império” com “províncias” ultramarinas.

Mesmo que Portugal tenha se declarado neutro durante a Segunda Guerra Mundial, tendo, posteriormente demonstrado apoio aos Aliados, o país enfrentava e enfrentou durante as décadas seguintes à guerra uma ditadura com inspiração fascista, o que colocou a economia portuguesa em grande atraso econômico. Durante o período de ditadura português, o país ligou-se ainda mais às colônias ultramarinas que ainda mantinha como forma de continuar com o poder dos séculos passados (PREVIDELLI, 2001).Após a Segunda Guerra Mundial, Portugal era considerado um dos países mais pobres e atrasados da Europa. Por contar com

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um mercado interno pequeno, Portugal não possuía meios de desenvolver suas indústrias sozinho.

Ainda que a adesão de Portugal à Comunidade Econômica Europeia tenha ocorrido efetivamente décadas mais tarde, o país buscava sua integração econômica com os demais países da Europa ocidental já na década de 1960. De acordo com Romão (1982), o período que se estende de 1960 a 1980 pode ser dividido em três fases: a primeira, entre 1960 e 1968, quando Portugal aderiu à Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA). Com a adesão, Portugal visava manter-se unido aos principais compradores de seus produtos, como a Inglaterra. Na segunda fase, entre 1968 e 1973, Portugal tomou medidas para que houvesse uma maior abertura da indústria nacional à participação de capital estrangeiro. A tentativa de estabelecer um acordo com a CEE acabou fracassando, visto que a Comunidade apresentava restrições à política colonial e imperialista portuguesa. A terceira fase começa com a Revolução de 1974 e se estende até 1985. Esta fase se caracteriza pela consolidação efetiva na integração com o restante do continente europeu (ROMÃO, 1982).

O país enfrentou uma ditadura imposta pelos militares por mais de quarenta anos. Conforme Previdelli (2011), em 1926, “Salazar foi chamado para assumir a pasta das finanças onde obteve ‘carta branca’ sobre todos os demais ministérios no tocante a orçamento e gastos”. Nas palavras de Saraiva (2003), o governo de Salazar pode ser considerado “autoritário, nacionalista e imperialista, buscando, a todo custo, manter o que restava do Império português no mundo”. No final da década de 1960, Salazar foi afastado do governo devido à questão de saúde e Marcello Caetano assumiu o seu lugar. Caetano era defensor da integração portuguesa à Comunidade Econômica Europeia.

Durante a década de 1970, houve mudanças significativas quanto à política e economia portuguesas. O estopim se deu em 1974, com a chamada Revolução dos Cravos, que marcou o fim da ditadura em Portugal. A este respeito, Previdelli (2011) destaca:

A revolução constitui-se numa revolta militar correspondente a um descontentamento geral da população civil e militar. Deu-se em relação à conjuntura que o país vivia. As guerras coloniais e a ditadura na metrópole eram motivos de insatisfação popular, com uma situação externa de Choque do Petróleo e crise inflacionária que levaria ao fim de Bretton Woods.

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Nos anos posteriores à Revolução dos Cravos, o país enfrentou uma crise econômica enquanto tentava se reestruturar. A partir da década de 1980, Portugal estabeleceu acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a fim de estabilizar suas contas.

Por meio do programa de estabilização econômica, supervisionado pelo FMI, Portugal apresentou melhoras em seus aspectos econômicos e despertou maior confiança perante os mercados externos. Segundo Mendonça e Farto (2012), o principal objetivo do acordo, reduzir o déficit na balança de transações correntes, foi cumprido plenamente, assim como os objetivos secundários, a saber: a limitação do endividamento externo e a desaceleração da inflação.

De maneira geral, a economia portuguesa passou por diversas mudanças após o fim das décadas de ditadura e perda de suas últimas colônias. Além disso, o país buscou reestruturar-se visando atender as exigências impostas pela Comunidade Econômica Europeia no que dizia respeito à adesão de novos países ao bloco europeu. O país, que até então defendia o protecionismo, demonstrando grande atuação do Estado na economia, passou a um modelo de economia aberta, com livre circulação de mercadorias (PREVIDELLI, 2001). Submetendo-se totalmente às exigências do bloco, Portugal logrou ser aceito como membro do Mercado Comum Europeu (MCE).

Após a apresentação deste pequeno histórico das transformações políticas e econômicas portuguesas após a Segunda Guerra Mundial,será exposto na sequência como se deu o processo de adesão de Portugal à Comunidade Econômica Europeia, posteriormente denominada União Europeia.

3.1.1Processo de Adesão de Portugal a CEE

Após um período de reestruturação econômica visando atender as exigências dos países-membros da Comunidade Econômica Europeia, Portugal tornou-se membro do bloco em 1º de janeiro de 1986, juntamente com a Espanha. O pedido de adesão foi feito em 1977, porém a assinatura do tratado se deu em 1985. Nestes oito anos de negociações, o país foi se adequando lentamente às exigências do bloco (PREVIDELLI, 2011).

De acordo com Almeida (2005), os principais motivos para a demora nas negociações estavam ligados à situação da economia portuguesa na época,

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especialmente em relação aos seguintes fatores: déficit na balança comercial; demanda interna sob forte recessão; desvalorização do escudo perante o dólar e; diminuição dos investimentos do setor público. Em função desses fatores, alguns membros do bloco posicionavam-se contra a adesão de Portugal à Comunidade Econômica Europeia. Ainda, segundo Previdelli (2011), os principais problemas econômicos do país na época das negociações de adesão podem ser sintetizados como: setor industrial não era competitivo dentro do continente; o setor público respondia pela maioria dos investimentos do setor produtivo; a política monetária limitava-se ao controle de câmbio e administração da taxa de juros.

Além dos entraves citados acima, Portugal encontrava ainda resistência especial por parte da França e da Itália quanto à adesão, uma vez que esses países exigiam mudanças na política agrícola portuguesa. A respeito da adesão de Portugal à CEE, Previdelli (2011) destaca:

Havia também a preocupação dos países-membros quanto às disparidades regionais, não só pela tradicional atração à migração da mão-de-obra portuguesa, que poderia se deslocar mais facilmente pelos países do bloco, mas também o prejuízo social e econômico que a abertura do mercado português poderia causar.

Após anos de negociações, Portugal assinou o tratado de adesão à Comunidade Econômica Europeia em 12 de junho de 1985. O objetivo de liberalização de bens, pessoas e capitais não ocorreu simultaneamente. A liberdade de circulação de trabalhadores e bens teve como limite estipulado o ano de 1993. Em relação à circulação de bens, Portugal necessitava tempo para suprimir os direitos aduaneiros e submeter-se a pauta exterior comum. Quanto à liberdade de circulação de capitais, Portugal adotou uma postura mais conservadora, visando proteger suas empresas do domínio europeu (INFOPEDIA, 2004).

Na época de adesão, Portugal vivia uma fase de otimismo devido ao fim da ditadura uma década antes, à estabilidade econômica alcançada com o auxílio de acordos com o FMI e a possibilidade de acesso aos mercados mais desenvolvidos da Europa ocidental. Neste contexto, durante a cerimônia de assinatura do tratado de adesão, o Primeiro-Ministro português da época, Mário Soares declarou:

Quero acreditar que o acto a que acabam de assistir pode, sem exagero, considerar-se como um dos momentos mais significativos da história contemporânea portuguesa [...] Para Portugal, a adesão à CEE representa uma opção fundamental por um futuro de progresso e de modernidade. Mas

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não se pense que seja uma opção de facilidade. Exige muito dos portugueses. Embora lhe abra, simultaneamente, largas perspectivas de desenvolvimento (RÁDIO E TELEVISÃO DE PORTUGAL, 2010).

Nos anos posteriores à adesão ao bloco de integração europeu, Portugal passou a receber fundos de ajuda da Comunidade Econômica Europeia que visavam modernizar o setor produtivo.

Segundo Silva (2002), “Portugal assistiu entre 1986 e 1990, com a adesão a então CEE, a um período de significativo crescimento e prosperidade, talvez um dos melhores períodos da economia portuguesa”. Neste período, foram concretizadas importantes reformas na economia do país, uma vez que este passou a relacionar-se com mais facilidade às economias mais desenvolvidas do continente. Em seguida, será abordado o período equivalente à criação da União Econômica e Monetária e a preparação para a introdução da moeda única no bloco europeu, o Euro.

3.1.2 Preparação para o Euro

Após a assinatura do Tratado de Maastricht, que passou a denominar a Comunidade Econômica Europeia como União Europeia e estabeleceu prazos limites para a consecução das etapas da União Econômica e Monetária no bloco, Portugal passou a controlar seus indicadores econômicos com mais disciplina e rigor, com o objetivo de adotar a moeda única desde o seu início.

O país cumpriu em 1998 os critérios de convergência estabelecidos no Tratado de Maastricht. Os progressos obtidos no controle das finanças, além das boas taxas de juros e inflação registradas no período foram fundamentais para que o país estivesse apto a abandonar o escudo e adotar a moeda única europeia (BRASILGLOBALNET, 2007). Além disso, Portugal seria um dos fundadores da moeda única, fato que superou as expectativas dos países céticos quanto a participação do país no bloco.

Desde a assinatura do tratado, o nível de crescimento de Portugal vinha sendo inferior ao da maioria dos Estados-membros do bloco. No entanto, de acordo com relatórios do Banco de Portugal, com os recursos fornecidos pela CEE, Portugal viu seus indicadores econômicos melhorarem gradativamente.

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Conforme o relatório desenvolvido pelo Fundo Monetário Internacional, “Perspectivas da Economia Mundial: Reequilibrar o crescimento” divulgado no ano de 2010, a taxa de crescimento econômico de Portugal verificada no período de 1992 a 2001, que corresponde exatamente ao período de preparação para a introdução da moeda única, foi de 2,9%, abaixo de taxas de países como EUA, China e Irlanda, este último também membro da União Europeia. No entanto, apresentou índices superiores aos apresentados pela Grécia e pela própria Zona do Euro, que teve uma média de crescimento de 2,1% no mesmo período, conforme Tabela 1.

Tabela 1 – Taxa Média de Crescimento verificado no período 1992-2001

País Taxa Média

EUA 3,5% Zona do Euro 2,1% Portugal 2,9% Grécia 2,5% Espanha 3,0% Finlândia 2,9% Irlanda 7,5% China 10,3%

Baseado em: Fundo Monetário Internacional: Perspectivas da Economia Mundial: Reequilibrar o

crescimento, 2010.

Com esta taxa média de crescimento econômico no período, Portugal conseguiu convergir para a média da União Europeia e, portanto, tornou-se apto a aderir ao euro já em seu lançamento.

Na época da introdução do euro, o clima era de otimismo em Portugal, uma vez que os índices apresentados nos últimos anos eram positivos e demonstravam o desenvolvimento do país valendo-se dos recursos disponibilizados pelo bloco. Conforme destaca Pinho (2010), o Banco de Portugal expressou em seu Relatório Anual em 1998 que “a participação na área do euro representa uma importante mudança estrutural, com efeitos expansivos na procura interna privada (consumo e investimento)”.

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Para que uma união monetária e econômica ganhe forma, culminando na introdução de uma moeda única para os Estados-membros do bloco, é necessário que haja vontade dos países, porém, abandonar várias moedas nacionais e adotar uma única moeda, depende da evolução econômica, histórica e política de cada país.

A respeito da União Econômica e Monetária Europeia, Carvalho (2006) aponta:

O Euro e a União Económica e Monetária representam uma séria limitação à soberania dos Estados da Zona do Euro, passando para a esfera supranacional a política monetária e cambial, e põe em causa uma prerrogativa de um Estado soberano a par dos impostos – a capacidade de emitir moeda. Os governos perdem o controle das taxas de juro para controlar a massa monetária e a liquidez da economia, perdem a capacidade de utilizar a política cambial para responder a choques externos ou para controlar o saldo da balança comercial (balança das transacções correntes) e perdem a receita fiscal (direitos de “senhoriagem”) inerente à emissão da moeda.

Antes de a moeda única entrar em circulação, coube aos líderes europeus a tarefa de decidir qual seria seu nome, seu desenho e como se daria a troca das moedas nacionais. Em 1995, na cidade de Madri, na Espanha, foi acordado que a nova moeda seria chamada “Euro”. Foram propostos outros nomes como “ecu” e franken”. Propôs-se também que a palavra euro fosse utilizada como prefixo aos nomes das moedas nacionais. Dessa maneira, em Portugal, por exemplo, a moeda seria conhecida como “euroescudo”. Na Itália, a moeda seria denominada “eurolira”. Optou-se então somente pela palavra “euro”, de fácil pronúncia em todos os idiomas oficiais da União Europeia. Além disso, tratava-se de um nome simples e que representava a Europa (BANCO CENTRAL EUROPEU, 2012).

A decisão de construir uma união monetária foi uma das mais importantes no continente europeu. De acordo com Silva (1996), a criação de uma moeda única para circulação nos territórios dos países-membros do bloco poderia ser considerada um teste quanto à vontade dos líderes em aprofundar a integração econômica e financeira e avançar na integração política. No caso específico de Portugal, que era um dos países mais pobres da Europa, a adoção à moeda única significava também a possibilidade de garantir progresso e estabilidade econômica no futuro.

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