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O presente trabalho teve como objetivo principal identificar os impactos causados pela implantação do euro na economia portuguesa. Portugal vem enfrentando, nos últimos anos, uma grave crise econômica, impulsionada com a crise financeira mundial de 2008-2009 que teve início no setor imobiliário nos Estados Unidos. Como Estado-membro de um bloco comunitário considerado exitoso até então, o governo português não tem autonomia para conduzir sozinho as politicas monetária e cambial do país, uma vez que ao assinar o Tratado de Maastricht no ano de 1992, abdicou de parte de sua soberania quanto à condução de sua economia, delegando-a ao Banco Central Europeu. Na teoria, o BCE trabalha em prol dos interesses comunitários, como órgão responsável por controlar as práticas econômicas dentro da zona do Euro.

Com a eclosão da crise na zona do euro que atinge principalmente os países do sul da Europa, entre eles Portugal, as desigualdades dentro do bloco comunitário europeu ficaram evidentes, além de expor a falta de sentimento de Comunidade dentro da União Europeia. A partir do momento em que um país da zona do euro passou a enfrentar problemas econômicos e deu-se o contágio a outros parceiros, a credibilidade e estabilidade de todo o bloco foram afetadas, além de ter colocado a prova o sucesso do modelo de integração regional.

A tendência a estabelecer parcerias mais fortes entre os Estados e aprofundar o processo de integração tem ganhado força nas últimas décadas. Os países oficializam suas intenções em cooperar nas mais diversas áreas com a finalidade de atingir objetivos de interesses comuns. Até o momento, a União Europeia era considerada o exemplo de maior sucesso de aprofundamento do processo de integração regional, servindo como padrão para os blocos que surgiram após a sua criação. Com o estabelecimento do bloco comunitário europeu, não só as trocas comerciais entre os Estados-membros aumentaram, como também houve a liberalização do fluxo de pessoas, serviços de capitais.

Entretanto, o fator mais importante para que a União Europeia fosse considerada um exemplo para os demais blocos econômicos foi a criação da moeda única, o euro. A ideia de integrar o continente e introduzir uma moeda única vem de décadas e a decisão de implantá-la foi bastante estudada.

Atualmente, em função da crise, os céticos voltaram a dizer o que já diziam antes do Tratado de Maastricht: o bloco não estava preparado para aderir à moeda única e as disparidades entre os países-membros do bloco eram e continuam sendo gritantes. Passou-se a questionar então se o fato de justamente os países que mais precisaram de ajuda para ajustar suas economias antes da participação no bloco ser hoje os países com maiores desequilíbrios nas finanças publicas é meramente coincidência ou o desastre já era anunciado.

Essa questão é muito interessante, principalmente quando se pensa que Portugal enfrentou nas décadas anteriores a adesão a União Europeia uma ditadura imposta por militares que levou o país ao status de economia atrasada na Europa e, com a volta a democracia, necessitou auxílio do Fundo Monetário Internacional (FMI) para reestruturar-se economicamente. Somente com o programa de estabilização econômica supervisionado pelo FMI, Portugal apresentou melhoras em seus aspectos econômicos e conquistou a confiança dos mercados internacionais. Este fator foi fundamental para que o país fosse aceito pelo bloco europeu e se tornasse membro em 1986.

Apesar de uma pequena economia até mesmo no continente se integrar com algumas das maiores economias mundiais, evidenciando neste momento as disparidades do bloco, não há dúvidas de que a integração foi benéfica para o país. Foi com o auxílio dos fundos recebidos pelo bloco que Portugal modernizou-se e passou a apresentar significativo crescimento econômico. Além disso, para cumprir com as exigências do bloco, Portugal passou a controlar suas práticas econômicas com mais disciplina e rigor, o que colaborou para a estabilização da economia.

Portugal é membro-fundador do euro e fez parte da primeira leva de países a abandonar suas moedas nacionais e adotar a moeda única. Em função de sua participação na Zona do Euro, Portugal não pode mais emitir moeda e em caso de choques, também não há a possibilidade de desvalorizar a moeda, já que estas funções cabem ao Banco Central Europeu.

Mesmo que alguns países estejam sendo mais afetados pela crise do que outros, a situação preocupa todo o bloco, uma vez que a credibilidade da moeda única é afetada. Por isso, o bloco está tentando proteger o euro e evitar a saída de algum membro da Zona do Euro. Neste momento, é extremamente importante frear os riscos de contágio às economias mais vulneráveis.

Portugal tentou resistir à necessidade de pedir ajuda financeira internacional, mas acabou por fazê-la. Em 2011, passou a receber auxílio da troika, formada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e Comissão Europeia, porém para que o auxílio seja liberado ao longo de três anos, o país tem o compromisso de equilibrar as finanças. As medidas de austeridade implantadas pelo governo português incluem cortes nos gastos públicos. Por outro lado, houve o crescimento da carga tributária para que aumente a arrecadação do governo.

A dívida pública portuguesa, por exemplo, já extrapola há anos o limite estabelecido pelo Tratado de Maastricht de 60% do PIB. Hoje, todas as riquezas produzidas no país em um ano já não são suficientes para pagar as dívidas. A balança comercial será superavitária pela primeira vez em mais de sessenta anos, já que o excedente da produção terá que ser escoado para o exterior devido a queda na demanda interna. Com os salários congelados e os impostos aumentando, a tendência dos portugueses é gastar menos. A economia de Portugal sofreu desaceleração no último ano e o crescimento do PIB foi negativo. Uma das grandes preocupações no cenário de crise no país é lidar com o aumento do desemprego, o que tem provocado a migração de mão-de-obra qualificada para o exterior. O Brasil tem sido um dos principais destinos para os portugueses que decidem deixar o país em busca de oportunidades fora de Portugal.

A economia portuguesa está mal e o país já não tem meios para enfrentar a atual situação econômica sozinho. Em contrapartida, a União Europeia deve trabalhar com a ideia de que é importante ajudar os países com problemas nas finanças públicas, pois do contrário as suas economias também serão prejudicadas. A falta de sentimento comunitário, muitas vezes, faz com que os países do norte europeu vejam os países do sul do continente como irresponsáveis, já que não conseguiram controlar os gastos públicos. Mesmo que tenha havido indisciplina, o que houve, de fato, as disparidades entre os países eram evidentes desde o princípio e muitas vezes não foi considerado que havia dois blocos dentro de um só, que cresciam em velocidades diferentes, com necessidades diferentes. Na sua criação, a União Europeia teve como princípio a igualdade, porém a lógica para umas das economias mais desenvolvidas do mundo não é a mesma para as economias pequenas, com níveis de crescimento e desenvolvimento muito inferiores.

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