• Nenhum resultado encontrado

A (in) constitucionalidade da atuação apuratória por parte da polícia militar nos crimes praticados por organizações criminosas

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A (in) constitucionalidade da atuação apuratória por parte da polícia militar nos crimes praticados por organizações criminosas"

Copied!
81
0
0

Texto

(1)

JULIO CÉSAR DE OLIVEIRA JUNIOR

A (IN) CONSTITUCIONALIDADE DA ATUAÇÃO APURATÓRIA POR PARTE DA POLÍCIA MILITAR NOS CRIMES PRATICADOS POR ORGANIZAÇÕES

CRIMINOSAS

Florianópolis 2016

(2)

JULIO CÉSAR DE OLIVEIRA JUNIOR

A (IN) CONSTITUCIONALIDADE DA ATUAÇÃO APURATÓRIA POR PARTE DA POLÍCIA MILITAR NOS CRIMES PRATICADOS POR ORGANIZAÇÕES

CRIMINOSAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Aldo Nunes da Silva Jr, Esp.

Florianópolis 2016

(3)
(4)
(5)

À todos aqueles qυе de alguma forma estiveram е estão próximos de mim, fazendo esta vida valer cada vez mais а pena.

(6)
(7)

RESUMO

O trabalho tem como tema de estudo a atuação apuratória da Polícia Militar frente aos crimes praticados por organizações criminosas, com o objetivo de verificar se a utilização de modo investigativo dessa instituição policial será considerada sempre constitucional. Para lograr êxito, empregou-se o método dedutivo, bem como o tipo de pesquisa exploratória e a técnica de pesquisa bibliográfica e documental. Nesta linha, a pesquisa trouxe à tona discussões acerca do assunto, sobre o qual alguns doutrinadores afirmam ser sempre inconstitucional a atuação em procedimentos investigatórios por parte da Polícia Militar, ao passo que outros conferem flexibilidade, asseverando existirem hipóteses nas quais o instituto será considerado válido. Aos que consideram constitucional, a atuação investigatória da Polícia Militar terá legitimidade quando a instituição agir em função da manutenção da ordem pública, ou seja, sempre que o interesse público for prejudicado, será legítima a ação da polícia militar de modo a restaurar esse prejuízo. Já no caso de inconstitucionalidade, alguns autores defendem que procedimentos investigatórios são atividades concedidas com exclusividade pela Constituição Federal às polícias judiciárias, sendo, portanto, ilegal a atuação da Polícia Militar nessa seara.

(8)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 12

2 SEGURANÇA PÚBLICA, PODER DE POLÍCIA E SEUS ÓRGÃOS DE ATUAÇÃO ... 12 2.1 SEGURANÇA PÚBLICA ... 14 2.1.1 Poder de polícia... 18 2.1.2 Polícia administrativa ... 19 2.1.3 Polícia judiciária ... 19 2.2 DA POLÍCIA FEDERAL ... 21 2.2.1 Breve histórico ... 21 2.2.2 Competência ... 22 2.2.3 Estrutura básica ... 23

2.3 DA POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL ... 24

2.3.1 Breve histórico ... 24

2.3.2 Competência ... 24

2.3.3 Situação Atual ... 25

2.4 DA POLÍCIA FERROVIÁRIA FEDERAL ... 25

2.4.1 Breve histórico ... 26 2.4.2 Competência ... 26 2.4.3 Situação Atual ... 26 2.5 DA POLÍCIA CIVIL ... 27 2.5.1 Breve histórico ... 27 2.5.2 Competência ... 28 2.5.3 Estrutura básica ... 28 2.6 DA POLÍCIA MILITAR ... 29 2.6.1 Breve histórico ... 29 2.6.2 Competência ... 30 2.6.3 Estrutura básica ... 32 2.6.4 Situação atual ... 32 3 ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA ... 33 3.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS ... 33 3.2 CONCEITO E CARACTERÍSTICAS ... 38

(9)

4 A DISCUSSÃO ACERCA DA ATUAÇÃO APURATÓRIA POR PARTE DA

POLÍCIA MILITAR ... 50

4.1 O POSICIONAMENTO PELA INCONSTITUCIONALIDADE ... 51

4.2 O POSICIONAMENTO PELA CONSTITUCIONALIDADE ... 56

4.3 ANÁLISE JURISPRUDENCIAL ... 66 5 CONCLUSÃO ... 68 REFERÊNCIAS ... 70 ANEXOS ... 77 ANEXO A – INFORMAÇÕES PMSC ... 78 ANEXO B - PORTARIA Nº 156/01...82

(10)

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho, requisito essencial para a conclusão do curso de Direito na Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL, possui como finalidade fundamental a pesquisa acerca da atuação apuratória por parte da polícia militar frente aos crimes praticados por organizações criminosas, averiguando-se se existem hipóteses em que o seu emprego será considerado válido.

A crescente compleição e disseminação da criminalidade organizada em suas mais diversas vertentes é algo alarmante. Nossa sociedade exige respostas mais eficientes, o que causa grande preocupação as autoridades competentes, as quais precisam encontrar soluções adequadas para o combate a este indigesto problema.

Frente a isso, surgi a indagação acerca da possibilidade de enfrentamento ao crime organizado, com o seguinte questionamento: A polícia militar pode ser empregada como instrumento de investigação e combate às organizações criminosas? Portanto, se torna fundamental o exame dos diferentes posicionamentos sobre o tema, bem como suas implicações práticas.

Assim sendo, o problema de pesquisa gira entorno da discussão acerca da constitucionalidade da Polícia Militar para atuar de modo investigativo em crimes praticados por organizações criminosas.

Visando a resolução do problema apresentado, tem-se como objetivo geral a atuação da Polícia Militar em repressão as organizações criminosas, e por objetivos específicos identificar a competência e atuação dos órgãos de segurança pública, com ênfase na Polícia Militar, conceituar organização criminosa e identificar a (i) legalidade de atuação por parte da Polícia Militar em procedimentos de apuração investigatória.

Informe-se que a escolha deste tema foi influenciada pelo fato do pesquisador ter realizado estágio na Unidade de Apuração de Crimes Praticados por Organizações Criminosas na Comarca da Capital, o que levou ao contato com diversos casos em que houve a atuação de agentes da Polícia Militar através de meios investigativos, nos quais os mesmos apuravam informações acerca da existência e formas de atuação de organizações criminosas , levando posteriormente essas informações ao conhecimento do Ministério Público e o Poder Judiciário.

A presente pesquisa buscará na doutrina e na jurisprudência os fundamentos para estudar a atuação da Polícia Militar em procedimentos de investigação, expondo as aplicações e casos onde serão admitidas.

(11)

Utilizará o método de abordagem dedutivo, partindo de uma temática geral, até chegar à questão-problema, baseando-se na construção doutrinária e jurisprudencial, que permitirá a análise da atuação da Polícia Militar frente ao crime organizado.

A pesquisa será básica, com características exploratórias, através do estudo de legislações pátrias, livros, sítios e artigos científicos. Dessa forma, o trabalho foi estruturado em quatro capítulos, sendo que o primeiro capítulo é a presente introdução.

O segundo capítulo trata de apontar o histórico, competência e normas de atuação dos órgãos de segurança pública através do poder de polícia, com ênfase na Polícia Militar e suas atribuições.

O terceiro capítulo aprofundará os estudos sobre o crime organizado com contextualização histórica e global, descrevendo as características de uma organização criminosa, e indicando suas principais atividades.

O quarto e último capítulo tem por objetivo identificar a (i) legalidade de atuação por parte da Polícia Militar em procedimentos de apuração investigatória, demonstrando posicionamentos favoráveis e contrários à sua legitimidade constitucional, bem como sua aplicabilidade prática, sendo feita ao final do conteúdo, a análise de casos concretos.

(12)

2 SEGURANÇA PÚBLICA, PODER DE POLÍCIA E SEUS ÓRGÃOS DE ATUAÇÃO

Existem os mais diversos princípios e conceitos que norteiam o tema segurança pública, e neste capítulo iremos explorar essa temática baseado em seu fundamento constitucional, assim como se faz necessário elaborar uma breve analise e contextualização dos órgãos que compõem o sistema de segurança pública brasileiro.

2.1 SEGURANÇA PÚBLICA

Antes de adentrar ao tema segurança pública, primeiramente, deve-se entender por “segurança” como uma necessidade básica à natureza humana, necessidade essa que represente uma situação de bem-estar, conforto, confiança.

Para Oliveira segurança é:

[...] um sentimento, individual ou coletivo, de contenção de riscos de toda ordem, que propicia ao ser humano a tranqüilidade fundamental para produzir, descansar, divertir-se, enfim, viver a plenitude da vida, sem receio de perigo iminente ou potencial a preocupá-lo.1

Portanto se segurança infere na tranquilidade e no conforto de cada indivíduo, a segurança pública trata desses sentimentos, porém abrange os interesses de toda a coletividade.

Assim, conforme descreve enciclopédia virtual, segurança pública “é um conjunto de processos, dispositivos e medidas de precaução, para assegurar à população estar livre do perigo e segura de danos e riscos eventuais à vida e ao patrimônio”2

Para Nucci segurança pública é um conjunto de ações preventivas e repressivas frente a criminalidade, visando o bem-estar da coletividade e assim preservando a ordem pública.3

1 OLIVEIRA, Eduardo José Félix de. Polícia comunitária: uma estratégia para integração polícia e

comunidade. Florianópolis: PMSC, 1998. p. 20.

2 WIKIPÉDIA. Conceito de segurança pública. Disponível em:

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Seguran%C3%A7a_p%C3%BAblica> Acesso em: 08 jul. 2016.

3 NUCCI, Guilherme de Souza. Direitos humanos versus segurança pública. Rio de Janeiro:

(13)

Nesse mesmo norte se encontram as palavras de Moreira Neto, que define segurança pública como sendo conceito de atividade obrigacional do Estado, voltada à manutenção da ordem pública e da integridade das pessoas e do patrimônio, tendo a ordem pública como orientação para avaliar o padrão da segurança pública.4

Acerca da abrangência em que influi a segurança pública, Sulocki ensina que:

Falar de segurança pública não é apenas tratar de instituições policiais abstratas, mas sim de um aparelho que se constitui de um instrumento eficaz de controle social, que por sua vez segue determinadas políticas, visando a determinados fins. É preciso mergulhar na racionalidade desse aparato do Estado, seus fundamentos legais, suas atribuições e suas funções precípuas, como opera e principalmente como ele se insere em uma sociedade tão desigual e injusta como a brasileira.5

Aliado ao universo da segurança pública, temos o conceito de ordem pública do qual é composto por três elementos: segurança, tranquilidade e salubridade públicas, e são definidos por Lazzarini6 na forma que segue:

Segurança Pública: É o estado antidelitual, que resulta da observância dos preceitos tutelados pelos códigos penais comuns e pela lei de contravenções penais, com ações de polícia repressiva ou preventivas típicas, afastando-se, assim, por meio de organizações próprias, de todo o perigo, ou de todo o mal que possa afetar a ordem pública em prejuízo da vida, da liberdade ou dos direitos de propriedade das pessoas, limitando as liberdades individuais, estabelecendo que a liberdade de cada pessoa, mesmo em fazer aquilo em que a lei não lhe veda, não pode ir além da liberdade assegurada aos demais, ofendendo-a. (grifo nosso)

Assim, segurança pública é a tutela do estado através de ações policias repressivas e preventivas, na garantia dos direitos e liberdades individuais e coletivos.

Tranquilidade Pública: Exprime o estado de ânimo tranquilo, sossegado, sem preocupações nem incômodos, que traz às pessoas uma serenidade, ou uma paz de espírito. A tranquilidade Pública, assim, revela a quietude, a ordem, o silêncio, a normalidade das coisas, que, como se faz lógico, não transmitem nem provocam sobressaltos, preocupações ou aborrecimentos, em razão dos quais se possa perturbar o sossego alheio. A tranquilidade,

4 MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Mutações do Direito Administrativo. 2. ed. Rio de

Janeiro: Editora Renovar, 2001.

5 SULOCKI, Vitória-Amália de Barros Carvalho G. de. Segurança Pública e Democracia, Aspectos

Constitucionais das Políticas de Segurança Pública, 2007. p.53-54.

6 LAZZARINI apud MARCINEIRO, Nazareno; PACHECO, Giovanni Cardoso. Polícia comunitária: evoluindo para a polícia do século XXI, ed. Santa Catarina: Florianópolis: Insular, 2005. p. 41-42.

(14)

sem dúvida alguma, constitui direito inerente a toda pessoa, em virtude da qual está autorizada a impor que lhe respeitem o bem-estar, ou a comodidade do seu viver. (grifo nosso)

Portanto, tranquilidade pública exprime o bem estar e sossego da população, o direito de toda pessoa de viver com segurança e tranquilidade.

Salubridade Pública: Referindo-se às condições sanitárias de ordem pública, ou coletiva, a expressão salubridade pública designa também o estado de sanidade e de higiene de um lugar, em razão do qual se mostram propícias às condições de vida de seus habitantes. (grifo nosso)

Deste modo, salubridade pública, é o dever do estado em conservar o ambiente, e mantê-lo em condições dignas para a convivência da população.

No que concerne à ordem pública, temos o entendimento de Lazzarini de que cabe ao Estado a função de preservar a ordem pública, através da atuação do poder público mediante as forças policiais.7

Ainda sobre a relação entre ordem pública e segurança pública, Lazzarini ensina que:

Entendemos ser a segurança pública um aspecto da ordem pública, ao lado da tranquilidade e da salubridade públicas. Entendemos assim porque a ordem pública é efeito da causa segurança pública, como também o é da causa tranquilidade pública ou ainda é efeito da causa salubridade pública.8

Sendo assim podemos concluir que a segurança pública é um conjunto de medidas que possuem por meio fim assegurar e preservar a ordem pública.

O tema segurança é de suma relevância, tanto que a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 a trouxe como um dos pilares dessa nova constituinte, expondo-o em seu preâmbulo: “Nós representantes do povo brasileiro, reunidos na Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a

segurança [...].”9 (grifo nosso).

7 LAZZARINI, Álvaro. Temas de direito administrativo/Álvaro Lazzarini. 2. ed. rev. e ampl. São

Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003.

8 LAZZARINI, Álvaro. Temas de direito administrativo/Álvaro Lazzarini. 2. ed. rev. e ampl. São

Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003. p. 80-81.

9 BRASIL. Constituição da república federativa do Brasil. Brasília, DF. Disponível em:

(15)

Assim como, a Lei maior, reconheceu o direito à segurança como sendo um direito individual, social e coletivo, tratando da matéria nos artigos 5º e 6º:

Art. 5o Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos seguintes termos: [...]

Art. 6o São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança [...].10 (grifo nosso)

Visto a importância dada pela constituinte de 1988 à segurança, o tema tomou diversos desdobramentos dentro da própria legislação, tanto que no que concerne a segurança pública, a Carta Magna de 1988, destinou o Capítulo III inteiramente ao tema, senão vejamos:

Art. 144 - A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares [...]11 (grifo nosso)

O artigo em questão versa sobre o que abrange a segurança pública no país, bem como os órgãos que a compõem, conjuntamente com as atribuições e funções inerentes a cada órgão.

É primordial mencionar que Constituição deixa explícito no caput do referido artigo, o fato de que a segurança pública compete, não somente ao Estado através dos órgãos ali citados, mas igualmente responsabilidade de todos os cidadãos.12

Como visto, a segurança pública é dever do Estado e assegurada pelos órgãos policiais previstos no art. 144 da Constituição Federal, e para garantia desse princípio constitucional, a Administração Pública através dessas instituições exerce o chamado poder de polícia.

10 BRASIL. Constituição da república federativa do Brasil. Brasília, DF. Disponível em:

<www.planalto.gov.br/ccivil_03/.../constituiçao.htm>. Acesso em: 15 ago. 2016.

11 BRASIL. Constituição da república federativa do Brasil. Brasília, DF. Disponível em:

<www.planalto.gov.br/ccivil_03/.../constituiçao.htm>. Acesso em: 15 ago. 2016.

12 BRASIL. Constituição da república federativa do Brasil. Brasília, DF. Disponível em:

(16)

2.1.1 Poder de polícia

Para compreender o significado de poder de polícia, Meirelles traz a o entendimento de que “o poder de polícia é a faculdade de que dispõe a Administração Pública para condicionar e restringir o uso e gozo de bens, atividades e direitos individuais, em benefícios da coletividade ou o próprio Estado”.13

Cretella Júnior faz a conexão entre segurança pública e o poder de polícia, ensinando que:

O poder de polícia informa todo o sistema de proteção que funciona no Estado de direito, a satisfação a tríplice objetivo de assegurar a tranquilidade, a segurança e a salubridade pública caracteriza-se pela competência para impor as medidas que visem a tal desideratum, podendo ser entendido como a faculdade discricionária da Administração de limitar, dentro da lei, as liberdades individuais em prol do interesse coletivo.14

Na legislação vigente, o art. 78 da Lei nº. 5.172/1966, discorre que o poder de polícia é:

Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limita ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstração de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou fiscalização do Poder público, à tranqüilidade pública ou ao respeito a propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.

Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso ou desvio de poder.15 (grifo nosso)

Verificamos então, que Administração Pública exerce seu poder de polícia através dos órgãos ligados a segurança pública, e tratando-se do sistema policial brasileiro é essencial ressaltarmos o método adotado em nosso ordenamento, em que divide o poder de polícia entre polícia administrativa e polícia judiciária.

13 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2003.

p. 127.

14 CRETELLA JÚNIOR, José. Curso de Direito Administrativo. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense,

2003. p. 423

15 BRASIL, Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966: Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e

institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Brasília, DF. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5172Compilado.htm> Acesso em: 17 ago. 2016.

(17)

2.1.2 Polícia administrativa

Analisando a polícia administrativa, podemos constatar que é regida pelo Direito Administrativo e sua função é primariamente preventiva.

Ao tratar do conceito legal de polícia administrativa, o já citado Código Tributário Nacional em seu artigo 78 traz a definição, e Gasparini interpreta como sendo o que dispõe a Administração Pública para condicionar o uso, o gozo e a disposição da propriedade e o exercício da liberdade dos administrados no interesse público ou social.16

Meirelles refere-se a atividade da polícia administrativa como:

O exercício da Policia Administrativa está distribuído pelos órgãos e seus agentes investidos na Administração Pública; o objeto da polícia administrativa é a propriedade e a liberdade predispõe-se a impedir ou paralisar as atividades antisociais, regidas assim por normas administrativas.17

Para Gasparini a fundamentação de atribuição de polícia administrativa está centrada numa conexão, existente entre Administração Pública e os órgãos que autorizam o condicionamento do uso, gozo e disposição da propriedade e do exercício de liberdade em benefício do interesse público.18

Portanto, em razão das atribuições da polícia administrativa, observa-se que ela é um dos meios utilizados pelo Estado para aplicar o poder de polícia, uma vez que como à exemplo temos a Polícia Militar, que é a responsável pela garantia da ordem pública, sendo a que atua mais diretamente com a população através do policiamento ostensivo.

2.1.3 Polícia judiciária

No que concerne polícia judiciária, temos os ensinamentos na obra de Gasparini, onde faz a alusão de polícia judiciária na Constituição:

Assim, enquanto a polícia judiciária é notadamente repressiva, regida por normas processuais penais. É uma polícia de um determinado órgão, Secretaria de Segurança, com objeto de atuação é a pessoa, na medida em

16 GASPARINI, Diogenes. Direito Administrativo. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

17 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2003.

p. 102.

(18)

que lhe cabe apurar as infrações penais, exceto as militares, recepcionado pelo artigo 144, § 4º, da Constituição Federal.19

No tocante as diferenças conceituais existentes entre as polícias, Moreira Neto afirma que a polícia judiciária difere da administrativa principalmente pelo falto de que a primeira é voltada a investigação e elucidação de delitos, afim de auxiliar o Poder Judiciário.20

Ainda nesse contexto Moreira Neto leciona que:

A polícia judiciária comete uma atuação predominantemente voltada para as pessoas, relacionada, de modo especial com seu especifico valor contido na liberdade de ir e vir. Enquanto que de modo mais amplo, à polícia administrativa defere-se a atuação voltada às atividades das pessoas, relacionada, agora de modo geral, com todos os demais valores contidos nas liberdades e direitos fundamentais.21

Segundo o entendimento de Lazzarini, que diferencia as duas atividades no sentido de que, primeiramente cabe por observar que para o ordenamento jurídico a polícia administrativa é descrita como preventiva, regida pelos princípios e normas do direito administrativo. Já a polícia judiciária é precipuamente repressiva, exercendo uma atividade administrativa de auxiliar a repressão criminal, ou seja, auxiliar o Ministério Público e o Poder Judiciário, que são os titulares da jurisdição, motivo pelo qual, embora manifestação de atividade administrativa do Estado, a polícia judiciária é regida não pelo Direito Administrativo, e sim pelas normas e princípios jurídicos do Direito Processual Penal, conforme demonstra o artigo 6º do Código de Processo Penal.22

Cabe ressaltarmos que apesar das diferenças conceituais, é complicado se estabelecer os limites entre as atividades das duas polícias. É importante frisar que ambas possuem por objeto o ilícito penal, fato que por vezes permite encontrar instituições agindo de forma eclética, sendo eminentemente preventiva, mas agindo na repressão imediata ou ao contrário, conforme exigir a situação.23

19 GASPARINI, Diogenes. Direito Administrativo. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 124.

20 MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de Direito Administrativo. 13. ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2003.

21 MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de Direito Administrativo. 13. ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2003. p. 387.

22 LAZZARINI, Álvaro. Temas de direito administrativo. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Editora

Revista dos Tribunais, 2003.

23 LAZZARINI, Álvaro. Temas de direito administrativo. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Editora

(19)

O que existe realmente é uma divisão da polícia, e, apesar disso, e para exemplificar, embora havendo Polícia Civil e Polícia Militar, não está expressamente determinado a cada uma um tipo de polícia. Neste caso então, pode-se admitir a existência da atuação em ações de rondas, e policiamento ostensivo, por parte da Polícia Civil, assim como detenções, buscas e apreensões realizadas pela Polícia Militar.24

Sem exaurirmos toda a matéria tratada, porém superada essa parte, a seguir passaremos a estudar cada um dos órgãos descritos no art. 144 da Constituição Federal, e que compõem o sistema de segurança pública, buscando apresentar um breve histórico, e competência de atuação dos mesmos.

2.2 DA POLÍCIA FEDERAL

O primeiro órgão mencionado na Constituição Federal como pertecente ao sistema de segurança pública é a Polícia Federal, que a seguir passaremos a qualificá-la.

2.2.1 Breve histórico

Segundo Rocha, a origem da Polícia Federal está:

[...] na organização administrativa do antigo Distrito Federal. A polícia civil da então Capital Federal foi transformada em Departamento de Polícia Federal, pelo Decreto n. 6.378, de 28-3-1944, e, posteriormente, teve sua competência alterada pelo art. 2º do Decreto n. 9353, de 13-6-1946.25

Ainda sobre sua história, e de acordo com o extraído do site oficial da Polícia Federal, vemos que:

O Departamento de Polícia Federal foi criado em 28 de março de 1944, data em que Decreto-Lei n 6.378 transformou a antiga Polícia Civil do Distrito Federal (na cidade do Rio de Janeiro então capital da República) em Departamento Federal de Segurança Pública (DFSP). Além de atuar nos serviços de polícia e segurança pública no Distrito Federal, o novo órgão exerceria nacionalmente as funções de polícia marítima, aérea e segurança de fronteiras. [...] A Constituição Federal de 24 de janeiro de 1967 alterou o

24 LAZZARINI, Álvaro. Temas de direito administrativo. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Editora

Revista dos Tribunais, 2003.

(20)

nome do órgão para Departamento de Polícia Federal, estabelecendo atribuições de caráter nacional.26

Assim vemos que a Polícia Federal passou por muitas modificações até ser efetivamente estabelecida no Distrito Federal, e receber a atribuição de atuação no âmbito nacional que temos hoje.

2.2.2 Competência

A Polícia Federal tem seu funcionamento, através do Departamento de Polícia Federal - DPF, órgão este instituído por lei, de atribuições específicas, organizado e mantido pela União, estruturado em carreira, com autonomia administrativa e financeira, e subordinada diretamente ao Ministério da Justiça.27

E em conformidade com o Ministério da Justiça, a finalidade referente a Polícia Federal é:

Coibir a turbação, qualquer ato, direto ou indireto, manifestamente contrário, no todo ou em parte, à posse ou direito de posse de outrem; e o esbulho, ato de usurpação pelo qual uma pessoa é privada, ou espoliada, de coisa de que tenha propriedade ou posse, dos bens e dos próprios da União e das entidades integrantes da Administração Pública Federal, sem prejuízo da manutenção da ordem pública pelas polícias militares dos estados. Acompanhar e instaurar inquéritos relacionados aos conflitos agrários ou fundiários e os deles decorrentes, quando se tratar de crime de competência federal, bem como prevenir e reprimir esses crimes.28

Como já apresentado anteriormente, a CF/88, em seu art. 144, parágrafo 1º, estabelece como igualmente competente a Polícia Federal, para combater a prática delituosa de dimensões interestadual ou até mesmo internacional. O inciso II do referido parágrafo prevê também o combate por parte da Polícia Federal, no caso onde fronteiras estaduais ou internacionais são rompidas, nos delitos de tráfico ilícito de entorpecentes e substâncias afins, bem como ao contrabando, e o descaminho. Seguindo nos incisos o terceiro, atribui a Polícia Federal as funções de polícia

26 BRASIL. Policia Federal. História. Disponível em: <http://www.pf.gov.br/institucional/historia/>.

Acesso em: 08 ago. 2016.

27BRASIL. Ministério da Justiça. 60 anos do Departamento de Polícia Federal. Brasília: Governo

Federal, 2004.

28 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. 60 anos do Departamento de Polícia Federal. Brasília: Governo

(21)

marítima, aeroportuária e de fronteiras. Já no inciso IV confere com exclusividade à Polícia Federal, a função de polícia judiciária da União.29

De uma forma mais taxativa, o decreto nº 73.332, de 19 de dezembro de 1973, traz em seu art. 1º um rol de funções de competência da Polícia Federal:

Art 1º Ao Departamento de Polícia Federal (DPF), com sede no Distrito Federal, diretamente subordinado ao Ministério da Justiça e dirigido por um Diretor-Geral, nomeado em comissão e da livre escolha do Presidente da República, compete, em todo o território nacional: [...] IV - prevenir e reprimir: a) crimes contra a segurança nacional e a ordem política e social; b) crimes contra a organização do trabalho ou decorrentes de greves; c) crimes de tráfico e entorpecentes e de drogas afins; d) crimes nas condições previstas no artigo 5º do Código Penal, quando ocorrer interesse da União; e) crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência militar; [...] VIII - prestar assistência técnica e científica, de natureza policial, aos Estados, Distrito Federal e Territórios, quando solicitada; IX - proceder a investigação de qualquer outra natureza, quando determinada pelo Ministro da Justiça; X - integrar os Sistemas Nacional de Informações e de Planejamento Federal.30

Logo, de forma resumida, a Polícia Federal possui entre outras competências, em especial a atribuição exclusiva de polícia administrativa ou ostensiva e judiciária, na apuração de ilícitos no que diz respeito a esfera da União.

2.2.3 Estrutura básica

A Estrutura Organizacional da Polícia Federal está prevista no art. 2º, do já citado decreto nº 73.332/73, e conta com órgãos centrais e diretivos que ficam localizados em Brasília, órgãos esses compostos de uma Direção Geral e várias Diretorias: Administração e Logística, Recursos Humanos, Geral, Técnico-Científica, Investigação e Executiva. Em todos os Estados brasileiros há uma estrutura organizacional descentralizada, com uma Superintendência de Polícia Federal que reproduz a mesma divisão dos órgãos centrais.31

29 BRASIL. Constituição da república federativa do Brasil. Brasília, DF. Disponível em:

<www.planalto.gov.br/ccivil_03/.../constituiçao.htm>. Acesso em: 12 ago. 2016.

30 BRASIL, Decreto nº 73.332, de 19 de dezembro de 1973: Define a estrutura do Departamento de

Polícia Federal e dá outras providências. Brasília, DF. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/antigos/d73332.htm> Acesso em: 13 ago. 2016.

31 BRASIL, Decreto nº 73.332, de 19 de dezembro de 1973: Define a estrutura do Departamento de

Polícia Federal e dá outras providências. Brasília, DF. Disponível em:

(22)

2.3 DA POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL

O segundo órgão mencionado na Constituição Federal como pertencente ao sistema de segurança pública é a Polícia Rodoviária Federal, onde nos tópicos seguintes iremos caracterizá-lo.

2.3.1 Breve histórico

De acordo com o extraído do site oficial da Polícia Rodoviária Federal, temos a seguinte narrativa:

A Polícia Rodoviária Federal foi criada pelo presidente Washington Luiz no dia 24 de julho de 1928 (dia da Polícia Rodoviária Federal), com a denominação inicial de ‘Polícia de Estradas’. [...] Em 23 de julho de 1935 (dia do Policial Rodoviário Federal), foi criado o primeiro quadro de policiais da hoje Polícia Rodoviária Federal, denominados, a época, ‘Inspetores de Tráfego. ’ [...] Finalmente, em 1988, com o advento da Constituinte, a Polícia Rodoviária Federal foi integrada ao Sistema Nacional de Segurança Pública [...] Desde 1991, a Polícia Rodoviária Federal integra a estrutura organizacional do Ministério da Justiça, como Departamento de Polícia Rodoviária Federal.32

Assim, em virtude da necessidade de um efetivo policiamento ostensivo nas estradas federais é que ocorreu a criação da Polícia Rodoviária Federal.

2.3.2 Competência

A missão constitucional da Polícia Rodoviária Federal está pautada no já mencionado art. 144, §2º, da Carta Magna, onde tem por função principal o patrulhamento ostensivo das rodovias federais.33

A instituição exerce função de polícia administrativa, exercendo os poderes de autoridade de polícia de trânsito, pois pode abordar veículos, vistoriá-los, aplicar notificações, multas, entre outros procedimentos cabíveis, que estão previstos no

32 BRASIL. Departamento de Polícia Rodoviária Federal. Institucional. História. Disponível em:

<https://www.prf.gov.br/portal/acesso-a-informacao/institucional/historia> Acesso em: 16 ago. 2016.

33 BRASIL. Constituição da república federativa do Brasil. Brasília, DF. Disponível em:

(23)

Código de Trânsito Brasileiro, bem como no Decreto 1655/95 e em seu Regimento Interno, aprovado pela Portaria nº 1375/07.34

Tem por missão institucional prevista no site oficial da Polícia Rodoviária Federal fiscalizar diariamente mais de 61 mil quilômetros de rodovias e estradas federais, zelando pela vida e o direito constitucional da livre locomoção daqueles que utilizam as rodovias federais para exercer o direito constitucional da livre locomoção, garantindo segurança com cidadania nas rodovias federais.35

2.3.3 Situação Atual

Em conformidade com informação extraída do site oficial da Polícia Rodoviária Federal, a situação atual da instituição é de que:

A Polícia Rodoviária Federal está presente em todo o território nacional. Sua estrutura conta com uma unidade administrativa central, a Sede Nacional, situada em Brasília, e Unidades Administrativas Regionais, representadas por 22 Superintendências (GO, MT, MS, MG, RJ, SP, ES, PR, SC, RS, BA, PE, AL, PB, RN, CE, PI, MA, PA, SE, RO/AC) e 5 Distritos (DF, TO, AM, AP e RR). Além disso, é formada por 150 Subunidades Administrativas e 413 Unidades Operacionais (UOPs), totalizando, assim, mais de 550 pontos de atendimento em todo o Brasil.36

Assim verificamos a Polícia Rodoviária Federal como órgão único de atuação nacional, estando presente em todas as rodovias federais.

2.4 DA POLÍCIA FERROVIÁRIA FEDERAL

Seguindo a ordem descrita na Constituição Federal vemos a Polícia Ferroviária Federal como mais um órgão pertencente ao sistema de segurança pública.

34 BRASIL, Decreto nº 1.655, de 3 de outubro de 1995: Define a competência da Polícia Rodoviária

Federal, e dá outras providências. Brasília, DF. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D1655.htm> Acesso em: 16 ago. 2016.

35 BRASIL. Departamento de Polícia Rodoviária Federal. Institucional. Disponível em:

<https://www.prf.gov.br/portal/acesso-a-informacao/institucional> Acesso em: 16 ago. 2016.

36 BRASIL. Departamento de Polícia Rodoviária Federal. Institucional. Disponível em:

(24)

2.4.1 Breve histórico

Em pesquisa junto ao site oficial do Sindicato dos Metroviários de Pernambuco, encontramos um breve histórico da Polícia Ferroviária Federal, que se apresenta como sendo:

A mais antiga Polícia Especializada do Brasil foi criada através do Decreto nº 641, em 26 de junho de 1852, por D. Pedro II, numa visão histórica, chamada a ‘Polícia dos Caminhos de Ferro, foi regulamentada pelo Decreto nº 1930 de 26 de abril de 1857. Em 23 de abril de 1862, com a regulamentação do Decreto nº 2913, pelo então Conselheiro do Estado, Senador do Império, Ministro e Secretario de Estado dos Negócios de Agricultura, Comercio e Obras Públicas, Dr. Manoel Felizardo de Souza e Mello, os poderes da polícia das Estradas de Ferro foram ampliados, com a finalidade de dar segurança ao transporte de especiarias, café e a riqueza brasileira daquela época.37

Vimos que desde os tempos do Brasil Império a Polícia Ferroviária esteve presente, diante do crescimento exponencial das estradas de ferro que conectavam todo o país na época, e devido a sua fundamental importância para o desenvolvimento econômico e social do país, surgiu a necessidade de uma polícia especializada para um melhor controle e fiscalização das ferrovias.

2.4.2 Competência

Conforme preconiza o Art. 144, §3º da Constituição Federal, “a Polícia Ferroviária Federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.”38

Assim sendo, a Polícia Ferroviária Federal atua pela prevenção e repressão à ocorrência de delitos nas ferrovias federais, exercendo papel de polícia administrativa.

2.4.3 Situação Atual

Em conformidade com informação obtida em enciclopédia virtual:

37 SINDICATO DOS METROVIÁRIOS DE PERNAMBUCO. História da polícia ferroviária federal.

Disponível em: <http://www.sindmetrope.org.br/historia>. Acesso em: 15 ago. 2016.

38 BRASIL. Constituição da república federativa do Brasil. Brasília, DF. Disponível em:

(25)

Com a privatização das ferrovias brasileiras em 1996, o seu efetivo foi reduzido de 3.200 para 1.200 policiais em todo o país, para fiscalizar cerca de 26 mil quilômetros de trilhos, destinados ao transporte de cargas. Ocorre que, atualmente, não existe cargo público provido de policial ferroviário federal, sendo certo que os empregados públicos da RFFSA, CBTU, e TRENSURB, são considerados agentes de segurança públicos ferroviários. Por sua atividade ser regida por leis antigas, aguardam sua transferência para o Ministério da Justiça, pois por omissão do Governo Federal ainda se encontram subordinados aos Ministérios das Cidades e Transportes.39

Constata-se, portanto, que por falta de legislação regulamentadora e por omissão dos órgãos competentes, a Polícia Ferroviária Federal é órgão de segurança pública praticamente extinto em nosso país.

2.5 DA POLÍCIA CIVIL

Em se tratando da esfera estadual, o primeiro órgão mencionado na Constituição Federal como pertencente ao sistema de segurança pública é a Polícia Civil, onde nos tópicos seguintes iremos caracterizá-la.

2.5.1 Breve histórico

A Polícia Civil conforme descrito em seu site oficial em Santa Catarina, acerca do seu surgimento, encontramos que:

A Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro foi a primeira polícia civil instituída no Brasil, em 10 de maio de 1808, pelo Conselheiro Paulo Fernandes Viana, que nessa data, seguindo as instruções do Príncipe Regente D. João VI, criou no Rio de Janeiro a Intendência Geral de Polícia da Corte e do Estado do Brasil nos moldes da existente em Lisboa. A Intendência Geral de Polícia, reorganizou a polícia brasileira e deu forma orgânica à corporação que futuramente viria a ser denominada de Polícia Civil. [...]40

Sendo assim, tem-se que a instituição Polícia Civil como assim conhecemos hoje, tem sua origem datada desde os tempos de Brasil Colônia.

39 WIKIPÉDIA. Polícia Ferroviária Federal. Disponível em:

<https://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADcia_Ferrovi%C3%A1ria_Federal> Acesso em: 16 ago. 2016.

40 SANTA CATARINA. Polícia Civil do Estado de Santa Catarina. História. Disponível em:

(26)

2.5.2 Competência

No que concerne a competência, cada Estado brasileiro tem sua Polícia Civil, dirigidas por Delegados de Polícia de carreira, e para tanto compete a todos os entes federativos organizar e estruturar em plano de carreira esse órgão, com exceção do Distrito Federal, onde compete à União organizar e manter a Polícia Civil.

Apresenta a Carta Magna, em seu art. 144, §4º que: “Compete à polícia civil à atividade de polícia judiciária, visando à apuração de infrações penais, salvo as militares.”41

Ainda, em relação à autoridade da Polícia Civil e suas funções, o art. 4º do CPP, prevê que:

A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria. Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função.42

Portanto, precipuamente, compete a Polícia Civil realizar todo trabalho de investigação de delitos, que instruem os inquéritos policiais. Assim cumprindo sua função como polícia judiciária.

2.5.3 Estrutura básica

De acordo com o extraído de organograma disponível no site oficial da instituição, a Polícia Civil de Santa Catarina possui em sua estrutura, de forma resumida, uma Delegacia Geral, onde se subdivide em gabinetes do delegado geral e do adjunto, bem como um conselho superior. Subordinado ao gabinete do delegado geral, temos setores de gerência, coordenadorias e assessoria. As delegacias regionais, de comarca e municípios, estão subordinadas as suas respectivas

41 BRASIL. Constituição da república federativa do Brasil. Brasília, DF. Disponível em:

<www.planalto.gov.br/ccivil_03/.../constituiçao.htm>. Acesso em: 15 ago. 2016.

42 BRASIL. Decreto-Lei n. 3.689, de 03 de outubro de 1941: código de processo penal. Disponível

(27)

diretorias. Temos ainda diretoria de inteligência, corregedoria, e a Academia da Polícia Civil de Santa Catarina, responsável pela formação dos policias civis.43

2.6 DA POLÍCIA MILITAR

Para finalizar os principais órgãos vinculados ao sistema de segurança pública, temos a Polícia Militar, órgão de abrangência estadual, que nos tópicos seguintes iremos fazer sua qualificação.

2.6.1 Breve histórico

A Polícia Militar tem sua origem nas chamadas Forças Policiais, na época do Brasil Império, de acordo com a História, e nas palavras de Fátima Souza:

As Polícias Militares brasileiras têm sua origem nas Forças Policiais, que foram criadas quando o Brasil era Império. A corporação mais antiga é a do Rio de Janeiro, a “Guarda Real de Polícia” criada em 13 de maio de 1809 por Dom João 6º, Rei de Portugal, que na época tinha transferido sua corte de Lisboa para o Rio, por causa das guerras na Europa, lideradas por Napoleão. Foi este decreto que assinalou o nascimento da primeira Polícia Militar no Brasil, a do Estado da Guanabara. Essa guarda era subordinada ao governador das Armas da Corte que era o comandante de força militar, que, por sua vez, era subordinado ao intendente-geral de Polícia.44

Ainda sobre o surgimento da Polícia Militar, porém restringindo à Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC), temos o seguinte histórico retirado do site oficial da mencionada instituição:

Criada por Feliciano Nunes Pires, então Presidente da Província de Santa Catarina, através da Lei Provincial Nº 12, de 05 de Maio de 1835, a ‘FORÇA POLICIAL’, denominação que lhe foi conferida na época, substituiu os ineficazes Corpos de Guardas Municipais Voluntários, então existentes, com a missão de manter a ordem e a tranquilidade públicas e atender às requisições de autoridades judiciárias e policiais. Sua área de atuação ficava restrita à vila de Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis) e distritos vizinhos. [...]45

43 SANTA CATARINA. Polícia Civil do Estado de Santa Catarina. Institucional: Organograma.

Disponível em: < http://www.policiacivil.sc.gov.br/images/stories/ADMIN/Imagens/Organograma.jpg>. Acesso em: 16 ago. 2016.

44 SOUZA, Fátima. A história da Polícia Militar começou no Império. Disponível em:

<http://pessoas.hsw.uol.com.br/policia-militar1.htm>. Acesso em: 04 ago. 2016.

45 SANTA CATARINA. Polícia Militar do Estado de Santa Catarina. História. Disponível em:

(28)

Acerca da transformação na nomenclatura dentro da instituição, Bastos Júnior esclarece que:

A Força Policial recebeu a denominação de Companhia de Polícia em 1854; voltou a ser Força Policial, em 1857; tornou-se Corpo de Polícia, em 1887; Corpo de Segurança, em 1894; Regimento de Segurança, em 1912; Força Policial, em 1912; Força Pública, em 1917; novamente Força Policial, em 1936; finalmente, em 1947, recebeu sua atual denominação, Polícia Militar.46

Sendo assim, percebe-se que a Polícia Militar passou por muitas modificações, principalmente em sua nomenclatura, até tornar-se a instituição nos moldes que conhecemos hoje.

2.6.2 Competência

Semelhantemente as Polícias Civis, interessa a cada Estado organizar sua Polícia Militar com base na hierarquia e disciplina, sendo a instituição subordinada ao Governador do respectivo Estado.

A missão constitucional da Polícia Militar, está compreendida no parágrafo 5º, do art. 144, da CF/88, e prevê que “compete às Polícias Militares a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública.”47

O Decreto-Lei nº 667/69 instituiu com maiores detalhes a competência da Polícia Militar, com as devidas ressalvas e alterações do Decreto-Lei nº 1072, de 30 de dezembro de 1969 e do Decreto-Lei nº 2010, de 12 de janeiro de 1983.48

Aduz o Decreto-Lei nº 667/69 em seu art. 3º que:

Instituídas para a manutenção da ordem pública e segurança interna nos Estados, nos Territórios e no Distrito Federal, compete às Polícias Militares, no âmbito de suas respectivas jurisdições:

a) executar com exclusividade, ressalvas as missões peculiares das Forças Armadas, o policiamento ostensivo, fardado, planejado pela autoridade competente, a fim de assegurar o cumprimento da lei, a manutenção da ordem pública e o exercício dos poderes constituídos; b) atuar de maneira preventiva, como força de dissuasão, em locais ou áreas específicas, onde se presuma ser possível a perturbação da ordem; c) atuar de maneira

46 BASTOS JÚNIOR, Edmundo José de. Polícia Militar de Santa Catarina: história e histórias.

Florianópolis: Garapuvu, 2006. p. 16.

47 BRASIL. Constituição da república federativa do Brasil. Brasília, DF. Disponível em:

<www.planalto.gov.br/ccivil_03/.../constituiçao.htm>. Acesso em: 15 ago. 2016.

48 BRASIL. Decreto-lei nº 667, de 2 de julho de 1969: Reorganiza as Polícias Militares e os Corpos

de Bombeiros Militares dos Estados, dos Território e do Distrito Federal, e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del0667.htm>. Acesso em: 03 ago. 2016.

(29)

repressiva, em caso de perturbação da ordem, precedendo o eventual emprego das Forças Armadas; [...]49 (grifo nosso).

Assim como, vem a corroborar o Decreto n.88.777, de 30 de setembro de 1983 (R-200), documento do qual aprova o Regulamento para as Policiais Militares (Decreto-Lei nº 667/69):

Policiamento Ostensivo - Ação policial, exclusiva das Policias Militares em cujo emprego o homem ou a fração de tropa engajados sejam identificados de relance, quer pela farda quer pelo equipamento, ou viatura, objetivando a manutenção da ordem pública. São tipos desse policiamento, a cargo das Polícias Militares ressalvadas as missões peculiares das Forças Armadas, os seguintes: a) ostensivo geral, urbano e rural; b) de trânsito; c) florestal e de mananciais; d) rodoviária e ferroviário, nas estradas estaduais; e) portuário; f) fluvial e lacustre; g) de radiopatrulha terrestre e aérea; h) de segurança externa dos estabelecimentos penais do Estado; i) outros, fixados em legislação da Unidade Federativa, ouvido o Estado-Maior do Exército através da Inspetoria-Geral das Polícias Militares.50

A competência da Polícia Militar é muito mais ampla do que aqui descrito, pois os conceitos de sua missão constitucional “polícia ostensiva e preservação da ordem pública” são abrangentes na sua precisa interpretação, porém iremos tratar com maior clareza dos limites constitucionais da atuação da Polícia Militar mais à frente nesta monografia.51

Desta forma, a Polícia Militar, pautada na hierarquia e disciplina, e sendo órgão integrante do sistema de segurança pública nacional, tem por missão constitucional manter o Estado e todas suas conjunturas à pleno funcionamento, e em caso de perturbação da ordem pública, restaurá-la.52

49 BRASIL. Decreto-lei nº 667, de 2 de julho de 1969: Reorganiza as Polícias Militares e os Corpos

de Bombeiros Militares dos Estados, dos Território e do Distrito Federal, e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del0667.htm>. Acesso em: 03 ago. 2016.

50 BRASIL. Decreto n° 88.777, de 30 de setembro de 1983: aprova o regulamento para as policias

militares e corpos de bombeiros militares (R-200). Disponível em:

<http//www.planalto.gov.br/ccivil/decreto/D88777>. Acesso em: 03 ago. 2016.

51 HIPÓLITO, Marcello Martinez; TASCA, Jorge Eduardo. Superando o mito do espantalho: Uma

polícia orientada para a resolução dos problemas de segurança pública. Florianópolis: Insular, 2012.

52 SANTA CATARINA. Lei nº 6.217, de 10 de fevereiro de 1983: Dispõe sobre a Organização Básica

da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina e dá outras providências. Disponível em:

<http://server03.pge.sc.gov.br/LegislacaoEstadual/1983/006217-011-0-1983-000.htm> Acesso em: 15 ago. 2016.

(30)

2.6.3 Estrutura básica

No estado de Santa Catarina, a estrutura básica da Polícia Militar, é regulamentada pela Lei nº 6.217, de 10 de fevereiro de 1983 e pelo Decreto nº 19.237, de 14 de março de 1983, determinando no art. 4º da Lei nº 6.217/83 que a estrutura organizacional básica da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina compõe-se de um Comando Geral, subdividido em Estado-Maior como órgão de direção, seguido por Seções e Diretorias, conjuntamente com órgãos de apoio, dos quais administram toda parte de ensino dentro da instituição, assim como centros de apoio logísticos, da área da saúde, e toda parte de comunicação.53

2.6.4 Situação atual

Segundo informações prestadas pelo Comando Geral da Polícia Militar em Santa Catarina, a instituição conta atualmente em seu quadro de oficiais com 640 polícias em atividade. Quanto às praças o efetivo policial é de 9.877 membros, totalizando 10.517 policias militares em atividade no estado de Santa Catarina.54

Ainda referente às informações prestadas pelo Comando Geral, no que concerne as suas estruturas físicas, a Polícia Militar de Santa Catarina prevê 45 unidades, dividas em batalhões e companhias disseminadas por todo o estado.55

Portanto, vemos que a Polícia Militar é órgão de segurança pública de grande expressividade numérica em Santa Catarina.

Finalizado a temática da segurança pública e seus órgãos de atuação, no próximo capítulo iremos explorar as organizações criminosas e suas vertentes.

53 SANTA CATARINA. Lei nº 6.217, de 10 de fevereiro de 1983: Dispõe sobre a Organização Básica

da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina e dá outras providências. Disponível em:

<http://server03.pge.sc.gov.br/LegislacaoEstadual/1983/006217-011-0-1983-000.htm> Acesso em: 15 ago. 2016.

54 Informações retiradas de e-mail enviado do Comando Geral da PMSC (vide Anexo A) 55 Informações retiradas de e-mail enviado do Comando Geral da PMSC (vide Anexo A)

(31)

3 ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA

A presente monografia, neste respectivo capítulo, tem por finalidade apresentar um estudo acerca dos fenômenos do Crime Organizado. Pretende-se descrever sua origem histórica ao redor do mundo, como também apresentar as características destes acontecimentos, identificando suas principais relevâncias ao ordenamento jurídico, principalmente com a implantação da Lei nº 12.850. Este capítulo vem apontar as convicções e compreensões sobre a criminalidade organizada, assim como algumas das principais atividades delituosas desempenhadas por essas organizações.

3.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS

Ainda que não se trate de um fenômeno recente, a criminalidade organizada traz em voga um dos maiores problemas de nosso mundo globalizado, seja devido à extensão das atividades desenvolvidas pelas organizações criminosas, seu poder, ou mesmo seu grau de influência, que usurpa a sociedade, e muitas vezes corrompe o Estado, nos oprimindo e instalando real pânico e insegurança.56

Apontar com precisão a origem embrionária das organizações criminosas é algo complexo, pois fatores culturais e temporais influenciam e divergem em cada país. Porém, podemos destacar algumas das organizações que surgiram ao decorrer da história, em especial as Máfias italianas, a Yakuza japonesa e as Tríades chinesas.57

No que diz respeito a origem desses organismos anteriormente mencionados, Eduardo Araujo da Silva ensina que:

Essas associações tiveram início no século XVI como movimentos de proteção contra arbitrariedades praticadas pelos poderosos e pelo Estado, em relação a pessoas que geralmente residiam em localidades rurais, menos desenvolvidas e desamparadas de assistência dos serviços públicos. Para o crescimento de suas atividades esses movimentos contaram com a conivência de autoridades corruptas das regiões onde ocorriam os movimentos político-sociais.58

56 TOLENTINO NETO, Franciso. Histórico do Crime Organizado. In: MESSA, Ana Flávia; Carneiro,

José Reinaldo Guimarães. (Coords.). Crime Organizado. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

57 SILVA, Eduardo Araujo da. Crime organizado: procedimento probatório. 8. ed. São Paulo: Atlas,

2009.

58 SILVA, Eduardo Araujo da. Crime organizado: procedimento probatório. 8. ed. São Paulo: Atlas,

(32)

A mais antiga entre as organizações mencionadas são as Tríades chinesas, também conhecidas como “máfia chinesa”, tendo sua origem na China no início do séc. XVII, quando assumiam o modelo de sociedade secreta, e atuavam em apoio a dinastia Ming em resistência a dinastia Tsing.59

As Tríades, ou “máfia chinesa”, tem como principais grupos integrantes o Sun Yee On, o 14 K e a Federação Wo, todos com sedes na região de Hong Kong, sendo que juntos perfazem a soma estimada acima de 123.000 mil membros.60

No que se refere as principais atividades das Tríadas, temos os ensinamentos de Francisco Tolentino Neto:

Entre suas ações estão o tráfico de drogas, prostituição e extorsão. Devido ao grande volume de negócios e membros da organização, seu âmbito de atuação ganhou proporções mundiais, atuando, inclusive na fronteira entre Brasil e o Paraguai.61

Ainda sobre as atividades ilícitas da máfia chinesa, Ferro esclarece que essa organização “[...] dedica-se à redistribuição da heroína e do ópio produzidos nos países integrantes do conhecido ‘Triângulo de Ouro’, isto é, Myanmar, Laos e Tailândia [...]”62

Em continuidade, entre as principais organizações criminosas temos a Yakuza, a qual possui sua origem as margens da sociedade no Japão feudal do séc. XVIII.63

Em relação a sua estrutura e foco de atuação, a Yakuza, podendo ser denominada também como “máfia japonesa”, se assemelha muito as Tríades chinesas. Sua nomenclatura vem da sequência dos números 8, 9 e 3, que em japonês se pronunciam como Ya-Ku-Za, nomenclatura essa oriunda de um jogo de cartas

59 FERRO, Ana Luiza Almeida. Crime organizado e organizações criminosas mundiais. 1. ed.

(2009), 2. reimpr. Curitiba: Juruá, 2012.

60 FERRO, Ana Luiza Almeida. Crime organizado e organizações criminosas mundiais. 1. ed.

(2009), 2. reimpr. Curitiba: Juruá, 2012.

61 NETO, Francisco Tolentino. Histórico do Crime Organizado. In: MESSA, Ana Flávia; Carneiro, José

Reinaldo Guimarães. (Coords.). Crime Organizado. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 53.

62 FERRO, Ana Luiza Almeida. Crime organizado e organizações criminosas mundiais. 1. ed.

(2009), 2. reimpr. Curitiba: Juruá, 2012. p. 537.

63 SILVA, Eduardo Araujo da. Crime organizado: procedimento probatório. 8. ed. São Paulo: Atlas,

(33)

chamado Hanafuda, e motivada pelo fato de que os antepassados dos membros dessa organização eram envolvidos com jogos de azar.64

A Yakuza, apesar de ter nascido no Japão e seus membros serem privativamente japoneses, possuí ramos de atuação fora de seu país de origem, em locais como Estados Unidos, Alemanha, Rússia, China, Coréia do Sul, Colômbia e Brasil. No tocante ao número de membros, em 1998 os grupos ligados a Yakuza somavam 3.200, e totalizavam 86.300 integrantes.65

Como visto anteriormente, a máfia japonesa tem suas ramificações por vários países, e acerca de suas principais atividades, Tolentino Neto nos traz que:

É detentora de um grande volume de negócios que abrange desde o tráfico de drogas, com ênfase nas anfetaminas, como também a prostituição, pornografia, jogos de azar, usura, controle do comércio de camelôs, extorsão principalmente a empresas japonesas e multinacionais que atuam no Oriente, além do tráfico de imigrantes.66

Quando tratamos de organização criminosa logo relacionamos as Máfias italianas, relação essa devido ao fato dessa organização ser a mais famosa e tradicional dentre as outras aqui apresentadas.

Os primórdios da Máfia italiana são datados da Idade Média. Precisamente ao sul da Itália, com a grande exploração dos camponeses por seus senhores feudais, surgiu um grupo de trabalhadores que visavam uma reforma agrária e condições mínimas de melhoria de vida, decidiram então por começarem a questionar os excessos por parte dos seus senhores, bem como a insuficiência do Estado em ressalvar os direitos básicos a esses trabalhadores rurais, e ao se organizarem começaram a boicotar os feudos, e assim deram início a Máfia italiana, porém a denominação “Máfia Italiana” ficou consagrada somente após um julgamento em um tribunal siciliano em 1863.67

Acerca dos vínculos e conexões da Máfia italiana bem como aos seus membros, temos as explicações de Almeida Ferro:

64 FERRO, Ana Luiza Almeida. Crime organizado e organizações criminosas mundiais. 1. ed.

(2009), 2. reimpr. Curitiba: Juruá, 2012.

65 FERRO, Ana Luiza Almeida. Crime organizado e organizações criminosas mundiais. 1. ed.

(2009), 2. reimpr. Curitiba: Juruá, 2012.

66 NETO, Francisco Tolentino. Histórico do Crime Organizado. In: MESSA, Ana Flávia; Carneiro, José

Reinaldo Guimarães. (Coords.). Crime Organizado. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 53.

67 NETO, Francisco Tolentino. Histórico do Crime Organizado. In: MESSA, Ana Flávia; Carneiro, José

(34)

Tem a seu dispor cerca de 5.000 membros, encontrados em mais de 180 cosche (grupos), e centenas de simpatizantes. Possui conexões em toda a Itália, mantendo vínculos com a Camorra, a Ndrangheta e a Sacra Corona Unita, e conexões internacionais com a Máfia americana, a Organizacija, os cartéis colombianos e as Tríades chinesas, apresentando ainda as células mafiosas, exempli gratia, na Alemanha, na Grã-Bretanha, na Bélgica, na França, na Espanha e no Brasil.68

No que se refere as atividades exercidas pela Máfia, além da principal fonte de lucro, o tráfico de drogas, temos as extorsões, a lavagem de dinheiro, e também sua forte influência política, utilizando-se de chantagens e ameaças para obterem participações em obras públicas, bem como proteção e poder para confrontarem o Estado.69

Em relação a criminalidade organizada no Brasil, temos inúmeros exemplos ao longo da história, porém nos ateremos apenas as mais notáveis, como o Comando Vermelho (CV), o Primeiro Comando da Capital (PCC), e em Santa Catarina o Primeiro Grupo Catarinense (PGC).

Antes de analisarmos a trajetória dessas organizações, devemos entender acerca do modelo organizacional adotado pela criminalidade no Brasil, e de acordo com os ensinamos de Almeida Ferro vemos que:

Não seguem elas um modelo estrangeiro, como o mafioso, guardando suas peculiaridades, que refletem o nosso cenário socioeconômico e político, conquanto não deixem de ostentar determinadas características em comum com as organizações criminosas alienígenas.70

Sobre o Comando Vermelho, identificamos que seu surgimento ocorreu em meados de 1970 nas penitenciárias da cidade do Rio de Janeiro, mais especificamente no complexo carcerário Bangu I, em virtude da união de líderes do tráfico de drogas do Estado do Rio de Janeiro e membros de uma outra organização criminosa atuante no Estado denominada de “Falange Vermelha”, que por sua vez era formada por chefes de quadrilhas especializada em roubo de veículos.71

68 FERRO, Ana Luiza Almeida. Crime organizado e organizações criminosas mundiais. 1. ed.

(2009), 2. reimpr. Curitiba: Juruá, 2012. p. 510-511.

69 FERRO, Ana Luiza Almeida. Crime organizado e organizações criminosas mundiais. 1. ed.

(2009), 2. reimpr. Curitiba: Juruá, 2012.

70 FERRO, Ana Luiza Almeida. Crime organizado e organizações criminosas mundiais. 1. ed.

(2009), 2. reimpr. Curitiba: Juruá, 2012. p. 544.

71 SILVA, Eduardo Araujo da. Crime organizado: procedimento probatório. 8. ed. São Paulo: Atlas,

(35)

Outra organização criminosa de grande expressão que atua no Brasil é o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção oriunda do Estado de São Paulo, que teve sua criação datada em meados da década de 90, no complexo prisional de segurança máxima de Taubaté.72

Dentre as suas principais atividades estão o tráfico de entorpecentes, roubos, extorsões, além de patrocinarem rebeliões e resgate de presos, como a que promoveram no ano de 2002, quando o PCC assumiu a autoria de uma das maiores rebeliões em presídios no Brasil, na qual ocorreram rebeliões e fugas em várias penitenciarias no Estado de São Paulo, e de forma paralela e simultânea, foram os responsáveis por ataques a prédios públicos e ônibus destinados ao transporte coletivo em todo Estado.73

Acerca da criminalidade organizada em nosso estado, temos como exemplo maior o Primeiro Grupo Catarinense (PGC). Organização essa oriunda das penitenciárias catarinenses de origem um pouco mais recente que as outras organizações criminosas brasileiras aqui apresentadas.74

As primeiras informações sobre o PGC datam de meados de 2003 na Penitenciária Estadual de Florianópolis, onde detentos encarcerados que não concordavam com algumas diretrizes impostas por outros presos, membros do PCC, criaram um “grupo” próprio pois não aceitavam a denominação “comando”, dando origem ainda que embrionária ao PGC. No entanto, esse grupo começou a ganhar maior expressividade na Penitenciária de São Pedro de Alcântara.75

Apesar de certa rivalidade entre as organizações criminosas, como antes verificado, o PGC baseou sua estruturação com componentes semelhantes ao PCC, como bem asseverou Schelavin: “Percebe-se que o dito ‘Grupo’ imitou algumas

72 SILVA, Eduardo Araujo da. Crime organizado: procedimento probatório. 8. ed. São Paulo: Atlas,

2009.

73 TOLENTINO NETO, Francisco. Histórico do Crime Organizado. In: MESSA, Ana Flávia; Carneiro,

José Reinaldo Guimarães. (Coords.). Crime Organizado. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

74 SCHELAVIN, José Ivan. A teia do crime organizado: documentário: Força Nacional de Segurança

Pública e Operação no Rio de Janeiro; Crime Organizado: 'Poder paralelo', 'Modus operandi' e Meios de controle. São Paulo: Conceito Editorial, 2011.

75 SCHELAVIN, José Ivan. A teia do crime organizado: documentário: Força Nacional de Segurança

Pública e Operação no Rio de Janeiro; Crime Organizado: 'Poder paralelo', 'Modus operandi' e Meios de controle. São Paulo: Conceito Editorial, 2011.

(36)

palavras do estatuto do PCC (paulista), seguindo ideologias semelhantes, procurando usar termos como: liberdade, respeito, lealdade, paz, justiça e união.”76

Esclarecido um pouco acerca das origens das principais organizações criminosas encontradas ao redor do mundo, passaremos a seguir a conceituação assim como as principais características de uma organização criminosa.

3.2 CONCEITO E CARACTERÍSTICAS

Por ser um tema de grande abrangência e controvérsias, conceituar organizações criminosas se torna um trabalho complexo, visto que não se pode restringir um único conceito onde abarque todas a peculiaridades e variedades dos fenômenos delitivos contidos nas organizações criminosas. Ademais, esse tipo de criminalidade, está em constante processo evolutivo, modificando-se e visando formas mais lucrativas de atuação, bem como novos mecanismos e disfarces, aspirando furtar-se da persecução penal.77

Contribuindo com a conceituação de crime organizado, Guaracy Mingardi traz uma definição de organização criminal mais tradicional, expondo que:

Grupo de pessoas voltadas para as atividades ilícitas e clandestinas que possui uma hierarquia própria e capaz de planejamento empresarial, que compreende a divisão do trabalho e o planejamento de lucros. Suas atividades se baseiam no uso de violência e da intimidação, tendo como fonte de lucros a venda de mercadorias ou serviços ilícitos, no que é protegido por setores do Estado. Tem como características distintas de qualquer outro grupo criminoso um sistema de clientela, a imposição da lei do silêncio aos membros ou pessoas próximas e o controle pela força de determinada porção de território.78

No que tange nossa legislação, a mais recente definição de organização criminosa está contida no parágrafo primeiro do artigo inaugural da Lei nº 12.850/13, senão vejamos:

§ 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas

76 SCHELAVIN, José Ivan. A teia do crime organizado: documentário: Força Nacional de Segurança

Pública e Operação no Rio de Janeiro; Crime Organizado: 'Poder paralelo', 'Modus operandi' e Meios de controle. São Paulo: Conceito Editorial, 2011. p. 200.

77 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Crime Organizado; aspectos gerais e mecanismos legais. 5. ed.

São Paulo: Editora Atlas, 2015.

78 MINGARDI, 1998 apud LEVORIN, Marco Polo. Fenomenologia das associações ilícitas. In:

MESSA, Ana Flávia e Carneiro, José Reinaldo Guimarães (Coords.). Crime Organizado. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 33.

Referências

Documentos relacionados

Estudo prospectivo, no qual foram incluídas amostras de escarro provenientes do Hospital Sanatório Partenon de Porto Alegre em conjunto com o Laboratório de Micologia da

No contexto das teorias sobre o Conhecimento Pedagógico do Conteúdo (PCK), de Shulman e o Conhecimento do Conteúdo Pedagógico e Tecnológico (TPCK), de Mishra

that the expressed objective of IWC was to maintain the whales popu- lations at leveis of maximum sustained yield (MSY). Food habits are often refined by

Livre da frustração e do desequilíbrio, com as rédeas da sua vida e realizando o que você sempre desejou: essa será a sua condição ao avançar no desenvolvimento pessoal, e

Assim, elege-se um desses elementos para análise: os jovens, daí porque, este estudo objetiva analisar a complexa relação, jovens e o desemprego, assim como,

 A avaliação da vida em fadiga de armaduras de tração na situação de anular alagado pode ser realizada com segurança, para níveis altos de tensão,

Ademais, dentro do formato ideológico (pejorativo) das políticas do Banco Mundial para os países periféricos do capitalismo, as indeterminações do mercado,

Cardiac events in 735 type 2 diabetic patients who underwent screening for unknown asymptomatic coronary heart disease: 5-year follow-up report from the Milan Study on