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Aula passada:
-
Introdução ao “Direito dos tratados”
-
Referências bibliográficas
-
Convenção de Viena (1969)
Rezek:
5. O rol das fontes no Estatuto da Corte de
Haia (1920)
Artigo 38
A Corte, cuja função é decidir de acordo com o direito internacional as controvérsias
que lhe forem submetidas, aplicará:
a. as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam regras
expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes;
b. o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo o
direito;
c. os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas;
d. sob ressalva da disposição do Artigo 59, as decisões judiciárias e a doutrina dos
juristas mais qualificados das diferentes nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direito.
A presente disposição não prejudicará a faculdade da Corte de decidir uma questão
ex aequo et bono, se as partes com isto concordarem. 3
Decreto-Lei n° 4657, de 4 de setembro
de 1942
.
Art. 4° - Quando a lei for omissa, o juiz
decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios
gerais de direito.
- ‘É uma convenção sobre tratados; - - Vigente entre oito países:
- Brasil, Equador, Haiti, Honduras, Nicarágua, Panamá, Peru e República Dominicana;
- Cuida-se de um texto sumário, objetivo, um tanto menos austero e idealista que o projeto de Epitácio Pessoa lhe serviu de inspiração.
- A partir de 1949, no âmbito das Nações Unidas, a Comissão do Direito Internacional trabalhou sobre o tema, até que se reunisse em Viena, nos anos de 1968 e 1969, a conferência diplomática programada para negociar uma convenção de alcance universal sobre o direito dos tratados.” (Rezek: 2005: 13)
CONVENÇÃO DE VIENA SOBRE O DIREITO
DOS TRATADOS (1969)
Art. 2
– Emprego de expressões:
1.
Para os fins da presente convenção:
a)
Tratado
significa um acordo internacional celebrado entre
Estados em forma escrita e regido pelo direito
internacional, que conste, ou de um instrumento único ou
de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja
sua denominação específica.
Terminologia: (Rezek: 2005:14)
O uso constante a que se entregou o legislador brasileiro – a
começar pelo constituinte – da fórmula tratados e convenções,
induz o leitor à idéia de que os dois termos se prestem a designar
coisas diversas. (...) O que a realidade mostra é o uso livre,
indiscriminado, e muitas vezes ilógico, dos termos variantes
daquele que a comunidade universitária, em toda parte – vem
utilizando como termo-padrão. (...) Esses termos são de uso livre
e aleatório...
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Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso
Nacional:
I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou
atos internacionais que acarretem encargos ou
(4) Isolado, o termo
acordo
quase nada informa. Já a
expressão acordo de sede, nas condições presentes, e sem
qualquer outro dado, permite saber: (a) que se cuida de um
tratado bilateral; (b) que uma das partes é uma organização
internacional, e a outra um Estado, provavelmente – mas não
seguramente – membro da primeira; (c) que o tema precípuo
desse tratado é o regime jurídico da instalação física da
organização no território do Estado. (Rezek: 2005:15)
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Apenas o termo
concordata
possui, em direito
das gentes, significação singular: esse nome é
estritamente reservado ao tratado bilateral em
que uma das partes é a
Santa Sé
, e que tem
por objeto a organização do culto, a disciplina
eclesiástica, missões apostólicas, relações entre
a Igreja católica local e o Estado co-participante.
(Rezek: 2005:16)
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Ato assinado por ocasião da Audiência Privada
do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva com Sua
Santidade o Papa Bento XVI - Vaticano, 13 de
novembro de 2008.
ACORDO ENTRE A REPÚBLICA FEDERATIVA
DO BRASIL E A SANTA SÉ RELATIVO AO
ESTATUTO JURÍDICO DA IGREJA CATÓLICA
Apenas o termo
concordata
possui, em direito
das gentes, significação singular: esse nome é
estritamente reservado ao tratado bilateral em
que uma das partes é a
Santa Sé
, e que tem
por objeto a organização do culto, a disciplina
eclesiástica, missões apostólicas, relações entre
a Igreja católica local e o Estado co-participante.
(Rezek: 2005:16)
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O que se pretende?
Trabalhar a idéia de formalidade
Tratado como ato e norma juridicos
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Tratados internacionais (Rezek)
Tratado é todo acordo formal concluído entre pessoas jurídicas
de direito internacional, e destinado a produzir efeitos jurídicos.
(2005:14)
Na afirmação clássica de Georges Scelle, o tratado internacional
é em si mesmo um simples instrumento; identificamo-lo por seu
processo de produção e pela
forma final
, não pelo conteúdo.
(2005:14
)
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Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003
Dispõe sobre a organização da Presidência da República e dos Ministérios, e dá outras
providências.
Seção II
Das Áreas de Competência
Art. 27. Os assuntos que constituem áreas de competência de cada Ministério são os
seguintes:
XIX - Ministério das Relações Exteriores:
a) política internacional;
b) relações diplomáticas e serviços consulares;
c) participação nas negociações comerciais, econômicas, técnicas e culturais com
governos e entidades estrangeiras;
d) programas de cooperação internacional;
e) apoio a delegações, comitivas e representações brasileiras em agências e
http://www.itamaraty.gov.br/o-ministerio/conheca-o-ministerio/view
O Ministério das Relações Exteriores é o órgão político da
Administração direta cuja
missão institucional
é auxiliar o
Presidente da República na formulação da política exterior
do Brasil, assegurar sua execução, manter relações
diplomáticas com governos de Estados estrangeiros,
organismos e organizações internacionais e promover os
interesses do Estado e da sociedade brasileiros no exterior.
No trato dos assuntos de sua competência, o MRE possui as seguintes incumbências:
1.executar as diretrizes de política exterior estabelecidas pelo Presidente da República;
2.propor ao Presidente da República linhas de atuação na condução dos negócios
estrangeiros;
3.recolher as informações necessárias à formulação e execução da política exterior do
Brasil, tendo em vista os interesses da segurança e do desenvolvimento nacionais;
4.contribuir para a formulação e implementação, no plano internacional, de políticas
de interesse para o Estado e a sociedade em colaboração com organismos da
sociedade civil brasileira;
5.administrar as relações políticas, econômicas, jurídicas, comerciais, culturais,
científicas, técnicas e tecnológicas do Brasil com a sociedade internacional;
6.negociar e celebrar tratados, acordos e demais atos internacionais;
7.promover os interesses governamentais, de instituições públicas e privadas, de
empresas e de cidadãos brasileiros no exterior.
Nota nº 142
Solicitação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da OEA
05/04/2011 - O Governo brasileiro tomou conhecimento, com perplexidade, das medidas que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) solicita sejam adotadas para “garantir a vida e a integridade pessoal dos membros dos povos indígenas” supostamente ameaçados pela
construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.
O Governo brasileiro, sem minimizar a relevância do papel que desempenham os sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos, recorda que o caráter de tais sistemas é subsidiário ou complementar, razão pela qual sua atuação somente se legitima na hipótese de falha dos recursos de jurisdição interna.
A autorização para implementação do Aproveitamento Hidrelétrico de Belo Monte foi concedida pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo nº 788/2005, que ressalvou como condição da autorização a realização de estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental, em especial “estudo de natureza antropológica, atinente às comunidades indígenas localizadas na área sob influência do empreendimento”, com a devida consulta a essas comunidades. Coube aos órgãos competentes para tanto, IBAMA e FUNAI, a concretização de estudos de impacto ambiental e de consultas às comunidades em questão, em atendimento ao que prevê o parágrafo 3º do
artigo 231 da Constituição Federal.
O Governo brasileiro está ciente dos desafios socioambientais que projetos como o da Usina Hidrelétrica de Belo Monte podem acarretar. Por essa razão, estão sendo observadas, com rigor absoluto, as normas cabíveis para que a construção leve em conta todos os aspectos sociais e ambientais envolvidos. O Governo brasileiro tem atuado de forma efetiva e diligente para responder às demandas existentes.
Este – como o da lei ordinária numa ordem jurídica interna
– é variável ao extremo. Pelo
efeito
compromissivo e
cogente que visa a produzir, o tratado dá cobertura legal à
sua própria substância.
(2005:14)
compromissório/compromisso: obrigação mais ou menos
solene assumida por uma ou diversas pessoas;
comprometimento;
cogente: racionalmente necessário, de maneira coercitiva,
para o intelecto.
(Houaiss)
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Formal + i + dade
ato que uma pessoa é obrigada a cumprir de
determinada maneira; praxe;
comportamento formal; preocupação com
etiquetas; cerimônia;
conjunto de prescrições quanto ao ritual e
procedimentos que devem ser observados na
formação de um ato para que este produza efeitos
jurídicos. (Houaiss
)
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Formalidade
Tratado internacional: acordo formal, preciso, teor e
contornos bem definidos.
Este seria o principal elemento distintivo entre o
tratado e o
costume
, este último também resultante
do acordo entre pessoas de direito das gentes, e
não menos propenso a produzir efeitos jurídicos,
porém forjado por meios bem diversos daqueles que
caracterizam a celebração convencional.
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Formalidade:
-
forma escrita
(x oralidade)
- Fixada pela Convenção de Havana (1928), retomada em
1969 pela Convenção de Viena, em consonância com o
sistema de registro e publicidade inaugurado pela
Sociedade das Nações (art.18), herdado pelas Nações
Unidas (art.102) e assimilada por algumas organizações
regionais (Pacto da Liga dos Estados Árabes, art.17)
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-
acordo concluído
Este último termo, quando empregado na definição do
tratado internacional, tem muito mais do seu significado
comum –
o de coisa efetivamente acabada
...
A verdade é que, antes deste último evento, não existe um
tratado internacional, senão um
projeto concluído
, e
sujeito a uma variedade de incidentes que poderão lançar,
dentro do arquivo histórico das relações internacionais, na
vasta galeria dos projetos que não vingam. (2005:17)
Art. 49. É da competência exclusiva do
Congresso Nacional:
I - resolver definitivamente sobre tratados,
acordos ou atos internacionais que acarretem
encargos ou compromissos gravosos ao
patrimônio nacional;
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Atores
As partes, em todo tratado, são necessariamente pessoas
jurídicas de direito internacional público: tanto significa dizer os
Estados soberanos
– aos quais se equipara, como será visto
mais tarde, a
Santa Sé
– e as
organizações internacionais
.
Não têm personalidade jurídica de direito das gentes, e
carecem, assim, por inteiro, de capacidade para celebrar
tratados, as empresas privadas, pouco importando sua
dimensão econômica e sua eventual multinacionalidade.
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Efeitos jurídicos
A produção de efeitos de direito é essencial ao tratado, que
não pode ser visto senão na sua dupla qualidade de
ato
jurídico
e de
norma
.
O acordo formal entre Estados é o ato jurídico que produz a
norma, e que, justamente por produzi-la, desencadeia efeitos
de direito, gera obrigações e prerrogativas, caracteriza enfim,
na plenitude de seus dois elementos, o tratado internacional
.
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Gentlemen´s agreement
A doutrina uniformemente distingue do tratado sob o
argumento de não haver ali um compromisso entre
Estados, à base do direito, mas um
pacto pessoal
entre estadistas, fundado sobre a honra, e
condicionado, no tempo, à permanência de seus
atores no poder.
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Exemplo:
É neste ponto que surge o temor sobre a reforma trabalhista, que o
governo Lula pautou como prioridade para o próximo período. É ilusório pensar que o FMI não tentará interferir neste debate, usando todos seus expedientes de pressão. O tema nem precisará constar do acordo, mas é inevitável que estará presente nas negociações. Além disso, ele pode se inscrever nas imposições "não escritas ou não reveladas". Segundo recente denúncia da Rede Brasil sobre Instituições Financeiras Multilaterais, o FMI "adota procedimentos 'informais' para aprovação dos empréstimos stand-by, sendo tais procedimentos classificados por juristas como 'acordos de cavalheiro' (gentlemen´s agreements) ou simplesmente 'arranjos' ( arrangements)“
Natureza Jurídica e Eficácia dos Acordos Stand-By com o FMI
Autor:
Valerio de Oliveira Mazzuoli
352 páginas – 2005 – RT
Tratado sob ótica estritamente jurídica, este trabalho aborda tema inédito no Brasil. Além de conjugar os princípios e as regras do Direito Internacional Público com as normas da Constituição brasileira que tratam das operações externas de natureza financeira de interesse da União, a obra também transita por algumas das vertentes da prática internacional dos stand-by arrangements, estabelecida a partir de várias decisões do Fundo Monetário Internacional, de valor jurídico vinculante. Vale ressaltar que os acordos stand-by (stand-by arrangements) destinam-se a conceder apoio de curto prazo (de 12 a 18 meses) a países com problemas na balança de pagamentos, o que é a política mais comum de empréstimos do FMI. Nos seis capítulos deste livro, o autor esclarece uma série de tópicos referentes às operações do Brasil com o FMI, analisa os conceitos jurídicos fundamentais do sistema monetário internacional e informa como são negociados os stand-by com o FMI.
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- Carta do Atlântico – 1941
- Yalta – 1945
A distinção entre tratado internacional e gentlemen´s agreement – sugerida pelo próprio nome deste último – tem sido feita à consideração inicial não do teor do compromisso, mas da qualidade dos atores.
Quase tudo quanto se tem escrito a respeito induz ao abandono da pesquisa dos efeitos jurídicos, em favor da apuração, pretensamente simples, de quais sejam a partes pactuantes.
Assim, afirma-se que o gentlement´s agreement não é um tratado pela razão elementar de que os contratantes não são pessoas jurídicas de direito internacional. Não são Estados soberanos. São pessoas humanas, investidas em cargos de mando, e hábeis para assumir externamente – sobretudo em matéria política prospectiva – compromisso de pura índole moral, cuja vitalidade não ultrapassará aquele momento em que uma dessas pessoas deixe a função governativa.
As bases dessa tradicional análise são inconsistentes.
Não se conhece um único exemplo de acordo de cavalheiros
em cujo cabeçalho os cavalheiros pactuantes tenham
declarado agir a título pessoal. E como presumi-lo?
Cuida-se de chefes de Estados, de chefes de governo, de
ministros de relações exteriores, de estadistas, enfim,
plenamente capazes, segundo o direito internacional, para
falar pelos respectivos Estados. (2005:19)
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Declarações ou comunicados comuns
Papéis dessa natureza vêm a público, às vezes, por ocasião de um
simples encontro de trabalho entre ministros de relações
exteriores. Aí estamos em presença de uma variante do
gentlemen´s
agreement.
Frequentemente,
contudo,
as
declarações ou comunicados não mais contêm que um arranjo
tedioso de frases feitas, onde a ausência do que dizer de
consistente mal se vê compensada por algum esforço diplomático
de imaginação... (2005:20)
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Regência do direito internacional
Convenção de Viena
“tratado... celebrado por escrito... e e
regido pelo direito internacional
”
O
tratado
internacional
poderia
ser
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Base instrumental
O tratado internacional pode materializar-se
em duas ou mais peças documentais
distintas.
Anexos
35
Troca de notas
Um meio de comunicação e método negocial
A conversação diplomática, quando não oral, faz-se
rotineiramente pela via do intercâmbio de notas escritas – ora
assinadas, ora providas apenas do selo ou carimbo próprio –
sem que essa constante movimentação, em duplo sentido,
caracterize a troca de notas do direito convencional.