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A ocorrência de sintomas osteomusculares em coletores de lixo e varredores de rua de um município da região metropolitana de Campinas

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Academic year: 2021

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VINÍCIUS SIGRIST NAVA

A OCORRÊNCIA DE SINTOMAS OSTEOMUSCULARES EM COLETORES DE LIXO E VARREDORES DE RUA DE UM MUNICÍPIO DA REGIÃO

METROPOLITANA DE CAMPINAS

CAMPINAS 2012

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Faculdade de Ciências Médicas

VINICIUS SIGRIST NAVA

A OCORRÊNCIA DE SINTOMAS OSTEOMUSCULARES EM COLETORES DE LIXO E VARREDORES DE RUA DE UM MUNICÍPIO DA REGIÃO

METROPOLITANA DE CAMPINAS

Dissertação de Mestrado apresentada à Pós Graduação da Faculdade de Ciências Médicas Da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, para a obtenção de título de Mestre em Saúde Coletiva – Área de Concentração Epidemiologia. Sob a orientação do Prof. Dr. José Inácio de Oliveira.

CAMPINAS UNICAMP

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DEDICATÓRIA

À minha esposa Marcela, companheira de todas as horas, presente, me ajudando e apoiando, amor da minha vida!

Aos meus pais, Vilson e Virlei, e ao meu irmão, Frederico, que proporcionaram os pilares de sustentação da minha formação moral e profissional, sempre ao meu lado.

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AGRADECIMENTOS

Ao orientador José Inácio Oliveira, pela orientação, amizade e carinho;

Aos trabalhadores do lixo, coletores e varredores, sujeitos dessa pesquisa;

A todos os meus amigos, principalmente ao Rogério que me ajudou no início dessa jornada;

Aos professores do departamento de Saúde Coletiva da UNICAMP, pelo conhecimento passado, apoio e dedicação;

Aos colegas da pós-graduação, parceiros de mestrado;

À Marcela, pela ajuda e apoio durante todo o processo e pelo companheirismo cotidiano.

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“A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.”

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RESUMO

O lixo é uma produção diária e crescente na população mundial. Em diversos países, a coleta do lixo ocorre de maneiras diversificadas. No Brasil, a coleta do lixo é feita pelos coletores de lixo, que passam de casa em casa acompanhados do caminhão, recolhendo o que nos é imprestável. Já nas ruas, avenidas e praças, o lixo é retirado do chão pelos varredores de rua.

Nas duas profissões supracitadas há um fator comum, a insalubridade. Não somente devido ao contato direto com o lixo e com todos os seus microorganismos, fontes de doenças, mas as sobrecargas musculares, articulares e ósseas de tais profissões têm grande peso sobre esses trabalhadores, que também estão expostos a alterações de temperaturas e outros riscos de se trabalhar na rua. Além disso, destaca-se o descaso da sociedade para com esses indivíduos, percebido no mau acondicionamento do lixo e pelo desinteresse sobre a saúde deles, evidenciado na extrema escassez de pesquisas sobre o tema.

Devido à grande importância dos coletores e dos varredores em nossa sociedade e devido às pesquisas inversamente proporcionais, surge a necessidade de investigar a saúde desses “trabalhadores do lixo”.

A presente pesquisa teve como objetivo a avaliação dos coletores de lixo e dos varredores de rua de um município da RMC para saber se têm queixas osteomusculares e se essas queixas têm relação com variáveis como: tipo de profissão, índice de massa corporal (IMC), idade, tempo de profissão, nível de escolaridade e tabagismo. Para isso, esses trabalhadores foram submetidos a dois instrumentos de coleta de dados: o Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares e um questionário sócio-demográfico-laboral. Após coletadas as informações, a análise descritiva dos dados demonstrou que 56% dos coletores relataram sentir dores musculoesqueléticas nos últimos 12 meses e a mesma proporção disseram sentir esses sintomas nos últimos 7 dias. Os varredores, quanto às queixas osteomusculares, disseram apresentar os sintomas nos últimos 12 meses e nos últimos 7 dias em diferentes proporções: 33% e 29%, respectivamente.

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ABSTRACT

The garbage is a daily and growing production on world population. In several countries, the garbage collection occurs in diverse ways. In Brazil, the garbage collection is done by the garbage collectors, who go from house to house accompanied by the truck, picking up what is worthless for us. In the streets, avenues and squares, trash is removed from the ground by street sweepers.

In both professions there is a common factor, the unhealthiness. Not only because of the direct contact with the trash and all its microorganisms, sources of disease, but the physical aspect of these works have a greater impact on these workers, who are exposed to temperature changes and other risks of working on the street. In addition, there is the indifference of society towards those individuals noticed by the poor packaging waste and the lack of interest about their health, noticed in the little amount of research about such professionals.

Because the importance of garbage collectors and street sweepers in our society and because of the researches are inversely proportional, there is a need to investigate the health of these "garbage workers".

This study aims to evaluate if the garbage collectors and street sweepers in a municipality of Campinas Metropolitan Region have musculoskeletal complaints and if these complaints are related to variables like: type of occupation, body mass index (BMI), age, time of profession, education level and smoking. For this reason, these workers will be subjected to two data collection instruments: the Nordic Questionnaire of Musculoskeletal Symptoms and a socio-demographic and employment questionnaire. After gathering information, a descriptive analysis of data showed that 56% of respondents reported musculoskeletal pains in the last 12 months and the same proportion said they felt these symptoms in the last 7 days. The street sweepers, about musculoskeletal complaints, had symptoms in the last 12 months and in the last 7 days in different proportions: 33% and 29%, respectively.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 12 1.1 A Problemática do Lixo ... 12 1.2 Os trabalhadores do lixo ... 15 1.3 Justificativa ... 21 2. OBJETIVOS ... 22 3. REVISÃO DA LITERATURA ... 23 3.1 – Coletores de Lixo ... 23 3.2 – Varredores de Rua... 27

3.3 Lesões por Esforço Repetitivo e Distúrbios Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho – LER/DORT ... 30

4. METODOLOGIA ... 33

5. RESULTADOS ... 36

5.1 – Descrição da população analisada, do local de trabalho e do ambiente de trabalho. ... 36

5.1.1 – Descrição da população de coletores de lixo com dados obtidos nas entrevistas: ... 37

5.1.2 - Descrição da população de varredores de rua, com dados obtidos nas entrevistas: ... 54

5.2 – Registro de Imagens dos Coletores de Lixo ... 70

6. DISCUSSÃO ... 77

7. CONCLUSÃO ... 80

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1. INTRODUÇÃO

1.1 A Problemática do Lixo

Desde o início das civilizações, o mundo vem sofrendo grandes avanços em todas as áreas. Avanços não apenas econômicos, como a Revolução Industrial e a velocidade alucinante da tecnologia dos tempos atuais, mas também sociais, já que o homem passou a viver em uma sociedade mais organizada. Apesar de todas as mudanças, há algo que não se alterou: uma produção diária e na qual há participação de absolutamente todos os seres humanos da terra: o lixo.

Grippi (2006) lembra que a industrialização trouxe materiais a serem descartados. Além disso, destaca que o aumento populacional e o aumento do consumo geram também cada vez mais lixo. “O fato de o homem existir traz consigo a existência do lixo na mesma proporção” (Grippi, 2006).

O lixo é definido como o resíduo descartado pela população, que existe e acompanha toda a evolução da raça humana. Segundo Pinto (1979, citado em Silveira, Robazzi e Luis, 1998), “são resíduos sólidos resultantes da atividade das aglomerações urbanas, sobras industriais ou domésticas, que não possuem valor, utilidade ou não têm mais significação econômica”. Se os lixos de diferentes épocas da história da humanidade fossem comparados, sem dúvida, encontraríamos grandes diferenças, mas em todas elas esses resíduos estavam presentes e provavelmente estarão no futuro, talvez em maiores proporções, pois em quaisquer sociedades há a necessidade de descartar aquilo que não pode mais ser reaproveitado, ainda mais se considerando o crescimento populacional atual.

Em 1750 a população mundial era em torno de 1 bilhão de habitantes, aumentando em quase 5 bilhões no século XX (Grippi, 2006) e, segundo o relatório divulgado em 2011 pela Divisão de Informações e Relações Externas do Fundo de Populações das Nações Unidas, o UNFPA, a marca de 7 bilhões de pessoas habitando o planeta Terra foi alcançada no dia 31 de outubro de 2011. Ocorre que 97% do crescimento populacional está concentrado nos países em desenvolvimento, que enfrentam dificuldades em promover saúde, educação e emprego para suas populações. Todo esse aumento populacional

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contribui para o aumento da produção do lixo e eleva a preocupação em relação à disposição desses resíduos.

Segundo o censo de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população brasileira atual é de mais de 190 milhões de habitantes. Nos últimos 30 anos, a população brasileira passou por muitas mudanças no ritmo de crescimento e de consumo, mudando também o lixo. Cada brasileiro, em média, gerava, no ano de 2006, 500g de lixo diariamente, significando em torno de 100.000 toneladas de lixo geradas todos os dias no país (Grippi, 2006). Segundo a pesquisa da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, a ABRELPE, divulgada no Panorama dos Resíduos Sólidos (2010), cada brasileiro gera hoje, aproximadamente, 1,3 kg de lixo, totalizando mais de 166.000 toneladas de resíduos sólidos urbanos por dia em todo o país.

Periodicamente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realiza a pesquisa nacional de saneamento básico (PNSB), que entre outras informações traz atualizações sobre a coleta e a deposição do lixo no Brasil. Segundo a PNSB, em 1989, 88,2% do lixo coletado no país era depositado em lixões a céu aberto, 9,6% em aterros controlados e 1,1% em aterros sanitários. Na pesquisa seguinte, realizada no ano 2000, os números eram: 72,3%, 22,3% e 17,3% das deposições em lixões a céu aberto, aterros controlados e aterros sanitários, respectivamente. Na última PNSB, publicada em 2010, os resultados mostram avanços importantes. Apesar de uma grande quantidade de lixo ainda ser depositada nos lixões, a quantidade de lixo despejada nesses locais caiu para 50%, com 22,5% dos depósitos em aterros controlados e 27,7% nos aterros sanitários.

Como se não bastassem os problemas com espaço e tratamento inadequado, a questão ambiental tem importância enorme quando se pensa em lixo. “O lixo urbano, muitas vezes, é responsável pelo impacto ambiental” (Mucelin e Bellini, 2008). Outro dado importante é o alto consumo de produtos industrializados na sociedade atual, que traz como resultado uma conta simples: quanto maior o consumo, maior a quantidade de lixo produzido. Mucelin e Bellini (2008) discorrem a respeito dessa relação, considerando inevitável a geração do lixo nas cidades, devido à cultura consumista. Os autores concluem, finalmente, que a “disposição inadequada de lixo provoca

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impactos ambientais negativos em diferentes ecossistemas da cidade” (Mucelin e Bellini, 2008). O padrão entre produção e consumo também é destacado por Siqueira e Moraes (2009) como causa de muitos problemas nas sociedades atuais, inclusive os ambientais.

Diante disso, outro ponto a ser levantado, e talvez o de maior importância, quando se trata da produção, do acúmulo e dos problemas envolvendo o lixo é a saúde pública. Há uma relação direta do ambiente no qual se vive e a saúde. Siqueira e Moraes (2009) lembram que desde a antiguidade há relatos de efeitos na saúde provocados pelo ambiente, mas somente na segunda metade do século XX é que a relação entre saúde e ambiente se insere nas preocupações da saúde pública. Atualmente, sobre essa relação, os autores salientam ainda que:

“A degradação do meio ambiente natural não pode ser desvinculada de um contexto que inclua comprometimentos da saúde física, transtornos psicológicos e psiquiátricos, e desintegração social. Assim, patologias como doenças infecciosas, degenerativas, cardiovasculares, crises de ansiedade e depressão, síndrome do pânico, dependência química e exacerbação da violência, dentre outras, são os componentes constitucionais de um mesmo fenômeno.” (SIQUEIRA E MORAES, 2009).

Ferreira e Anjos (2001) descrevem as populações suscetíveis a serem afetadas pelas questões ambientais relacionadas ao lixo e que podem apresentar prejuízos à saúde. Os autores enfatizam as populações que não dispõem de coleta de lixo domiciliar e também moradores de áreas vizinhas a estas, acumulando os resíduos próximos à sua residência e se expondo a agentes biológicos nocivos. Outra população lembrada pelos autores no trabalho em questão é a formada por moradores de áreas vizinhas às unidades de tratamento e deposição de lixo. Lembram ainda dos catadores de lixo e dos profissionais diretamente envolvidos na limpeza das cidades, no manuseio, na coleta, no transporte e na disposição final do lixo, nos quais a “exposição se dá notadamente: pelos riscos de acidente de trabalho (...), pela falta de condições adequadas de trabalho (...) e pelos riscos de contaminação” (Ferreira e Anjos, 2001).

Morar perto de aterros e lixões não traz somente o risco de se desenvolver doenças infecciosas. Isso ocorre devido à poluição causada pelo lixo, não só do solo, mas também do ar e das águas, sejam elas superficiais ou subterrâneas (Siqueira e Moraes, 2009). Outro fator importante quando se

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considera a saúde de coletividades é a qualidade de vida. A saúde de um indivíduo não se baseia somente na saúde física, mas também na saúde emocional e social. Lee et al. (2006) investigou sobre a qualidade de vida de moradores que vivem próximos a um depósito de lixo. A constatação de tal pesquisa foi a de que a qualidade de vida dos moradores de tal área é muito baixa, considerando-se os domínios físicos e ambientais.

O correto recolhimento e tratamento do lixo não é uma prioridade para as autoridades e o que há atualmente é tão somente um trabalho voltado para o recolhimento e deposição do lixo em locais distantes das populações mais privilegiadas (Siqueira e Moraes, 2009).

A reciclagem parece ser um caminho satisfatório para minimizar o impacto do acúmulo do lixo no ambiente e, consequentemente, na saúde das populações. Grippi (2006) lista alguns benefícios da reciclagem, tais como: a redução da quantidade de lixo a ser aterrado, a preservação de recursos naturais, a economia de energia, a redução da poluição ambiental e a geração de empregos diretos e indiretos.

A coleta seletiva do lixo vem evoluindo no Brasil. A PNSB do IBGE (2010) revelou que os programas de coleta seletiva saltaram de 58, em 1989, para 451, em 2000, e atingiram o patamar de 994 em 2008. Apesar do crescimento, isso representa pouco mais de 17% dos municípios brasileiros. Ainda segundo o IBGE (2010), a porcentagem de domicílios que têm coleta de lixo de forma direta no Brasil, em 2009, era de 82,1%. Já no estado de São Paulo, a coleta direta chegava a 94% dos domicílios.

1.2 Os trabalhadores do lixo

Enquanto toda a problemática do lixo em relação ao tratamento e à deposição ainda precisa de números mais significativos no Brasil, o foco se concentra na coleta. O recolhimento do lixo é feito, atualmente, pelos coletores de lixo, que coletam os lixos das residências, e pelos varredores de rua, que recolhem o lixo das ruas, praças e avenidas, através da varrição. Devido à grande diversificação de culturas presentes em nosso país, há muitas denominações diferentes para esses profissionais. Neste texto será utilizada a

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sinonímia de “lixeiros” como referência aos coletores de lixo e de “garis” quando forem citados os varredores de rua.

O processo de coleta de lixo feito pelos lixeiros, em muitas cidades brasileiras, é estritamente manual. Eles passam acompanhados do caminhão de lixo, que faz a compactação deste, recolhendo os sacos plásticos que contêm os resíduos imprestáveis que os moradores das residências descartam. Em alguns países desenvolvidos, o processo de coleta é mais mecanizado, exigindo menos esforços desses trabalhadores. No Brasil, “o processo de trabalho de coleta de lixo domiciliar é constituído de uma tecnologia precária, praticamente manual, onde o corpo do trabalhador transforma-se em instrumento de carregar o lixo” (Velloso, Valadares e Santos, 1998).

Na varrição das ruas, o cenário é semelhante. Os garis circulam pela cidade, com suas vassouras em punho, varrendo o lixo acumulado nas calçadas, ruas, avenidas e praças das cidades. O lixo das ruas é aumentado na mesma proporção do crescimento populacional, a tarefa se torna mais complexa visto que a quantidade de detritos é maior (Silveira, Robazzi e Luis, 1998).

Esses profissionais da limpeza exercem um papel fundamental no desenvolvimento da sociedade atual, ao recolherem o que é “imprestável”. Segundo Vasconcelos et al. (2008), a carga de trabalho desses profissionais aumenta de acordo com o crescimento populacional das cidades. Além disso, esses profissionais lidam com diferentes expectativas: da sociedade, da empresa na qual trabalham e deles próprios. Os trabalhadores ainda lidam “com diferentes exigências de tempo, qualidade e segurança, desenvolvendo estratégias e regulações a fim de manter sua carga de trabalho aceitável” (Vasconcelos et al., 2008).

Apesar de realizarem uma função tão importante, recolhendo o lixo que sempre foi e continuará sendo produzido diariamente, os trabalhadores são mal remunerados, passam por situações de risco durante a atividade profissional e sofrem com uma rotina de trabalho que exige esforços físicos desgastantes. No entanto, eles não passam pelo reconhecimento social devido. Um dado que não causa surpresa é o baixo nível de escolaridade dos coletores. Gir et al. (1991) em sua pesquisa identificou que, dentre os 41 trabalhadores entrevistados na cidade de Ribeirão Preto no ano de 1986, apenas 1 (2,43%)

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tinha o ensino médio incompleto, sendo que todos os outros tinham níveis inferiores de estudo.

A visão social desse grupo de trabalhadores e sua própria autoimagem são problemáticas.

“Ocorre que há um menosprezo por essa ocupação que se origina dos próprios lixeiros, de suas condições econômicas e de trabalho adversas, que dinamicamente interagem com a imagem social da própria profissão” (VELLOSO, SANTOS E ANJOS, 1997).

Um olhar crítico da sociedade atual revela a ignorância em relação ao papel social fundamental desempenhado pelos coletores de lixo e varredores de rua. São invisíveis, desde que façam o seu trabalho, tanto para a sociedade quanto para as administrações públicas e empresas responsáveis pelo recolhimento do lixo.

De acordo com Velloso, Santos e Anjos (1997), os coletores de lixo lidam com uma realidade tão universalmente desprezível, sem receberem salários condignos, socialmente equitativos, até mesmo quando comparados aos de outras categorias pertencentes ao setor de serviços, no qual se inserem. Não existem, portanto, condições em que qualquer negociação social de prestígio profissional pudesse superar ambas as fontes de mal estar psíquico em relação à vida e à identidade profissional dos lixeiros. A impressão dos trabalhadores que lidam com o lixo a respeito de sua imagem e de seu papel na sociedade também é problemática. Santos e Silva (2011) concluem, em sua pesquisa qualitativa entrevistando trabalhadores do lixo em Fortaleza – CE, que esses sujeitos desenvolvem suas atividades por uma questão de sobrevivência, além de sentirem-se desvalorizados e envergonhados por trabalharem com o lixo.

Em seu brilhante e conhecido trabalho a respeito da invisibilidade de alguns profissionais, inclusive os trabalhadores do lixo, Costa (2004) se passou por gari da Universidade de São Paulo (USP) e pôde revelar suas impressões sobre essa experiência. O autor diz que o ofício de gari reflete claramente a expressão “invisibilidade pública” e revela que a varrição, entre outras funções, são:

“Tarefas nas quais pudemos reconhecer ingredientes psicológicos e sociais profunda e fortemente marcados pela degradação e pelo servilismo. São atividades cronicamente reservadas a uma classe de homens subproletarizados; homens que se tornam historicamente condenados ao rebaixamento social e político” (COSTA, 2004).

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Além disso, como destaca Robazzi et. al (1997), o trabalho em si não tem uma condição favorável, uma vez que os coletores de lixo não têm um local fixo para exercerem sua atividade, percorrendo longas distâncias ao longo de um dia, além de o fazerem em movimento, o qual é bastante intenso. Os coletores de lixo desenvolvem um ritmo acelerado de trabalho e carregam vários sacos de lixo ao mesmo tempo. Frequentemente, esses trabalhadores correm ao longo de vias públicas, mudando de direção, pegando as sacolas de lixo no chão e em níveis mais altos. Durante o recolhimento do lixo, os coletores sobem e descem ladeiras, percorrendo quilômetros a pé, “tornando-se evidente nessa atividade a existência de esforços físicos e de posições inadequadas e repetitivas” (Robazzi et. al, 1997).

A atividade dos varredores de rua não é diferente quanto à insalubridade. Realizam seu trabalho a céu aberto, em praças, ruas e avenidas, estando expostos ao sol, ao trânsito, às alterações de temperatura, entre outros (Silveira, Robazzi e Luis, 1998).

Todavia, embora se reconheça a importância e o desgaste físico dessas profissões, atualmente, a preocupação com a saúde desses trabalhadores não é uma prioridade. Velloso, Santos e Santos (1997) salientam que, deparando-se com uma rotina de trabalho desgastante, os lixeiros e garis deveriam ter intervalos para descansar. O trabalhador que recolhe o lixo diariamente, apesar de realizar tarefas que demandam esforço físico em ritmo acelerado, não possui pausas oficializadas para descanso (Velloso, Santos e Santos, 1997).

A cidade da Região Metropolitana de Campinas (RMC) – SP pesquisada produz, segundo a empresa responsável pela coleta do lixo, um total de, aproximadamente, 135 toneladas de lixo não reciclável diárias. Para a coleta desse material, está disponível um total de, ainda segundo a empresa, 13 equipes. Cada uma das equipes é formada por 4 coletores e 1 motorista. Portanto, no trabalho direto da coleta estão trabalhando 52 homens. Esses trabalhadores têm uma carga horária diária de trabalho de 7 horas e 20 minutos, tendo um intervalo de 1 hora para a refeição.

Deparando-se com essa grande quantidade de lixo diário produzida por essa cidade, nota-se a importante carga de trabalho pela qual passam os

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coletores de lixo nessa atividade. Em média, nota-se que cada coletor recolhe mais de 2,5 toneladas de lixo por dia.

Já no trabalho dos garis, a empresa conta com 28 varredores para fazer a limpeza da cidade. Infelizmente, a empresa não sabe informar a quantidade de lixo varrido pelas ruas todos os dias, porém, é clara a alta carga física da atividade, considerando-se os longos períodos na posição em pé e os movimentos repetitivos do ato de varrer.

Além da carga física pela qual esses trabalhadores do lixo passam, os acidentes de trabalho estão frequentemente presentes. Em sua pesquisa, Silveira, Robazzi e Luis (1998) constataram que, na cidade de Ribeirão Preto entre os anos de 1993 e 1994, os varredores sofreram acidentes de trabalho causados por, em sua maioria, objetos perfuro-cortantes, colisões com veículos e quedas.

Não apenas nas profissões abordadas, mas em quaisquer outras, a saúde do trabalhador deve ser vista como fator primário em qualquer nível de relação empregatícia, seja ela pública ou privada, ainda mais no caso desses trabalhadores do lixo, responsáveis pela manutenção da ausência dos resíduos descartados pela sociedade. Os coletores e varredores ligam-se às pessoas de forma indireta, porém, diária. Como destaca Kuijer et al (2010), são trabalhadores que contribuem muito para a saúde da população, evitando diversas doenças através da remoção do lixo.

No entanto, certamente a grande maioria das pessoas não nota a presença deles em seu cotidiano, muito menos se preocupa com a saúde desses profissionais. Em sua pesquisa, Santos (1999) observou que esta categoria parecia ser lembrada pelas autoridades e pela comunidade apenas no contraponto da cidade limpa, ou seja, quando faziam paralisações e o lixo amontoava-se nas calçadas.

Um dado que demonstra claramente a invisibilidade desses profissionais perante a sociedade é a falta de preocupação da população no acondicionamento do lixo. Em seu estudo, Velloso et al. (1997) constatou que 73% dos acidentes ocorridos durante o trabalho dos coletores eram causados por acondicionamento inadequado de lixo. Em outro estudo, Robazzi et al. (1997) concluiu que a maioria dos acidentes de trabalho dos coletores de lixo de Ribeirão Preto teve a mesma causa, o mau acondicionamento do lixo.

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Santos (1999), em uma rápida enquete realizada com pessoas de diversos níveis de escolaridade, idade, formação cultural, profissão etc., indagou sobre o que gostariam de saber sobre o coletor de lixo. Nesse aspecto, o autor conclui que a relação da comunidade com o coletor se estabelece através do lixo, daquilo de que queremos nos livrar. Outro ponto observado por esse trabalho é a associação do coletor à sujeira, igualado ao lixo que recolhe. Estas falas deixam entrever uma conotação valorativa do belo, do feio, do limpo e do sujo, desqualificando a sua atividade e, também, principalmente, o próprio trabalhador da limpeza pública (Santos, 1999).

É extremamente contraditório o descaso para com esses trabalhadores do lixo, que desempenham função de singular importância. As pesquisas que envolvem esses profissionais são extremamente escassas e a preocupação com a saúde deles deveria ser multiplicada. Robazzi et al. (1997) salienta que se deveria dar mais atenção a esses trabalhadores, já que a organização dessa profissão insalubre e a pouca supervisão favorece a ocorrência de acidentes. A investigação mais aprofundada das condições de trabalho e das consequências que elas podem trazer à saúde dos lixeiros e dos varredores deveria ser mais frequente, recompensando esses trabalhadores pelos benefícios que proporcionam à população, oferecendo-lhes somente o que é de direito: saúde e melhores condições de trabalho.

As pesquisas que envolvem os coletores voltam-se, em sua maioria, aos comprometimentos respiratórios causados por essa profissão, voltados à exposição a bioaerossóis, tais como: Ivens UI et al (1997), Wouters I (1999), Bünger J et al (2000), Wouters IM et al (2002), Steiner D et al (2005), Lavoie J et al (2006) e Widmeier S et al (2007).

Kuijer et al. (2010), em sua revisão sistemática das publicações a respeito da saúde dos coletores de lixo, destaca que há evidências moderadas que relacionam a ocupação desses indivíduos com os riscos de desenvolver doenças respiratórias e lesões. Porém, conclui ainda Kuijer et al. (2010) que as evidências são limitadas quanto ao risco dos coletores desenvolverem queixas gastrointestinais, queixas musculoesqueléticas, entre outras. O pesquisador salienta que a exposição a bioaerossóis apresenta relação com as queixas respiratórias e gastrointestinais e que há conexão da alta carga de trabalho

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biomecânico e energético com queixas musculoesqueléticas, porém, com menores níveis de evidências.

Os comprometimentos respiratórios também ganham destaque nas pesquisas envolvendo varredores de rua. Nku et al. (2005) identificou em seu estudo do tipo caso-controle maior prevalência de sintomas respiratórios nos varredores de rua, em comparação ao grupo controle. Assim como Nku, Yogesh e Zodpey (2008) também relatam diferenças entre os varredores de rua e os controles, quando são avaliados os comprometimentos respiratórios. Os autores identificaram níveis de prevalência significativamente maiores de bronquite crônica nos varredores em comparação aos controle.

Nota-se pelos estudos a evidente exposição do aparelho respiratório nesses sujeitos, porém, a carga física pela qual eles passam também necessita de atenção. Os lixeiros e garis estão expostos a muitos riscos laborais. Além de algumas vezes serem desvalorizados pela própria população a quem servem, encontram-se submetidos a riscos que, somados ao precário acesso à assistência médica, ao lazer e à alimentação, acabam por torná-los doentes (Salvador et. al, 2005).

As queixas osteomusculares são conhecidas como LER/DORT (Lesões por Esforço Repetitivo/Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho). Em seu trabalho, Costa (2010) encontrou fatores de risco com evidências razoáveis da relação causal do desenvolvimento das LER/DORT com trabalho pesado, tabagismo, índice de massa corporal (IMC) alto, altas demandas psicossociais e presença de co-morbidades.

1.3 Justificativa

Diante do cotidiano exigente pelo qual passam os coletores de lixo e os varredores de rua, não só na marginalização de suas profissões, como na extrema degradação física que elas provocam, surge a necessidade da investigação da relação entre a profissão em questão e as sobrecargas osteomusculares. A necessidade desta pesquisa é potencializada pela pouca quantidade de pesquisas que envolvem esses trabalhadores, principalmente as que destacam a saúde do corpo desses indivíduos.

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O presente trabalho pretende, então, estudar esses trabalhadores de maneira mais aprofundada, enriquecendo as informações sobre a saúde, o processo de trabalho, os riscos e as condições de vida dos coletores de lixo e dos varredores de rua do município em questão.

2. OBJETIVOS

Objetivo Geral:

Investigação da ocorrência de Sintomas Osteomusculares em coletores de lixo e varredores de rua de uma cidade da RMC.

Objetivos Específicos:

 Verificar se os coletores e varredores têm queixas osteomusculares;

 Investigar os locais mais comuns de queixas osteomusculares nos coletores e varredores que referirem dor;

 Descrever o perfil dos lixeiros e garis quanto às características físicas e sociais como: idade, IMC, nível de escolaridade.

 Verificar se há relação das queixas com variáveis como: idade, tempo de trabalho, tipo de trabalho, IMC, tabagismo e nível de escolaridade;

 Questionar se os lixeiros e varredores estabelecem relações entre suas queixas e a rotina de trabalho;

 Registrar por meio de fotografias e vídeos o processo de trabalho dos lixeiros e garis;

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3. REVISÃO DA LITERATURA

3.1 – Coletores de Lixo

Atualmente, no Brasil, a coleta de lixo é feita pelos coletores de lixo, ou lixeiros. Os lixeiros passam de casa em casa recolhendo os lixos acumulados dentro de sacolas plásticas, na maioria das vezes.

As pesquisas envolvendo esses trabalhadores são escassas. Apesar de exercerem uma função extremamente importante, a preocupação com a saúde, com a qualidade de vida e com a rotina de trabalho desses profissionais não tem tido destaque na bibliografia.

Alguns estudos nos proporcionam tirar algumas conclusões a respeito do perfil social desses trabalhadores. Num julgamento precipitado é razoável concluir que pessoas que trabalham com o lixo, com o imprestável, não são as mais favorecidas. Nosso senso de lógica nos faz supor que são pessoas com nível baixo de escolaridade, que recebem baixos salários e que trabalham com o lixo por falta de opção e não por escolha própria. As pesquisas comprovam essas suposições.

Perante a sociedade, esses trabalhadores não são devidamente valorizados. Essa desvalorização inicia-se pelos baixos salários que esses profissionais recebem, socialmente não equitativos a outras categorias pertencentes ao setor terciário ao qual se inserem (Velloso, Valadares e Santos, 1998). Adiciona-se aos baixos salários a principal causa de acidentes de trabalho envolvendo os coletores de lixo que, constatado por Robazzi et al. (1997) e Velloso et al. (1997), é o mau acondicionamento do lixo. Cada cidadão que compõe a sociedade também é responsável pela saúde desses trabalhadores que desempenham função de vital importância. O simples fato de não separar o lixo adequadamente, isolando os objetos que podem causar lesões perfuro-cortantes nesses trabalhadores, demonstra o descaso da sociedade com a segurança e a saúde dos lixeiros.

Logicamente, a posição social da profissão de lixeiro nos leva à conclusão de que são sujeitos que, possivelmente, não tiveram oportunidades de estudo quando crianças. O nível de escolaridade desses trabalhadores é baixo, quando comparado a outras categorias.

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Gir et al. (1991) apurou tal fato em sua pesquisa identificando que, dentre os 41 trabalhadores entrevistados na cidade de Ribeirão Preto no ano de 1986, 7 (17,07%) eram analfabetos, 27 (65,85%) não completaram o ensino fundamental I, 6 (14,63%) não completaram o ensino fundamental II e apenas 1 (2,43%) tinha o ensino médio incompleto. Athanasiou, Makrynos e Dounias (2010) também puderam constatar esse dado em sua pesquisa, afirmando que esses profissionais têm níveis de educação significativamente inferiores aos controles.

Outro dado alarmante é a relação dos lixeiros com o álcool. Mabuchi et al. (2007) em sua pesquisa sobre o consumo de álcool entre coletores de lixo encontrou uma relação alarmante entre esses trabalhadores e a bebida. No trabalho em questão, foi constatado que 94% dos coletores entrevistados consomem algum tipo de bebida alcoólica, sendo que 15% foram considerados dependentes e 67% disseram já ter sentido algum sintoma relacionado à ingestão de álcool.

Vasconcelos et al. (2008) avaliaram a complexidade do trabalho dos coletores de lixo e enfatiza o quão complexa é a atividade de profissional desses trabalhadores. Destacam-se os riscos de acidentes, da perda do emprego e de mudanças de trechos e equipes e o sistema de trabalho, caracterizado pela instabilidade, pela imprevisibilidade, pela incerteza e pelas pressões de tempo e de ritmo de trabalho.

Do ponto de vista da saúde do corpo desses profissionais, há um destaque, na literatura, aos comprometimentos respiratórios que esses trabalhadores sofrem pelo contato com o lixo. Tem sido mostrado que a exposição aos bioaerossóis presentes no lixo pode provocar aumento nos sintomas respiratórios e inflamação tanto das vias aéreas superiores quanto das vias aéreas inferiores. Como os lixeiros mantêm contato diário e intenso com o lixo e consequentemente com os bioaerossóis, esses sintomas e inflamações estão mais presentes nesses trabalhadores do que nos grupos controles.

Em seus estudos, Athanasiou, Makrynos e Dounias (2010) avaliaram a saúde respiratória de 104 trabalhadores do lixo da cidade de Keratsini, Grécia e, em comparação, 80 funcionários do mesmo município que não são expostos ao lixo. Em seus resultados, encontraram maior prevalência de sintomas

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respiratórios entre os lixeiros, além de grande diminuição da função pulmonar, em comparação com os controles.

Em outro estudo sobre a saúde respiratória de coletores de lixo, Heldal et al. (2003) analisou o escarro de lixeiros de Oslo e sugere que a exposição, mesmo que moderada, aos bioaerossóis presentes no lixo, durante a coleta ou o manuseio, induz à inflamação das vias aéreas inferiores. Já Wouters et al. (2002), em seu trabalho com 47 lixeiros comparados a 15 controles, concluiu que há mais sintomas respiratórios presentes nos lixeiros e inflamação das vias aéreas superiores desses trabalhadores em comparação com os indivíduos do grupo controle.

Somado ao fator da exposição aos bioaerossóis e dos consequentes problemas respiratórios, há um fator importante a ser considerado sobre a saúde dos coletores de lixo. Os microorganismos presentes no lixo também são fontes de doenças e agressões à saúde dos lixeiros. Ivens et al. (1997) concluiu em seu importante estudo caso-controle com todos os coletores de lixo da Dinamarca que, totalizando 1747 coletores de lixo e 1111 controles, os sintomas gastrointestinais, como por exemplo a diarréia, estão mais presentes nos lixeiros em comparação ao grupo controle, suportando a hipótese de que os componentes microbianos presentes no lixo foram os responsáveis por tais resultados.

Outro fator importantíssimo a ser lembrado quando se considera a saúde ocupacional desses trabalhadores são os acidentes de trabalho. Por se tratar de uma atividade realizada em movimento e com grande exposição aos fatores climáticos, ao trânsito e ao manuseio de objetos desconhecidos que estão acondicionados no lixo, os riscos de acidentes são grandes. Em seu trabalho, Robazzi et al. (1997) identificou, na cidade de Ribeirão Preto (SP), em um período de 12 meses, 103 acidentes de trabalho com 81 coletores de lixo. No referido estudo foram encontrados acidentes causados por acondicionamento inadequado do lixo (que inclui lesões por objetos perfuro-cortantes); acidentes envolvendo o processo de coleta, quando os lixeiros correm e saltam do caminhão; acidentes envolvendo as vias públicas, como os buracos, as pedras, os desníveis; acidentes envolvendo o trânsito; entre outros. Os autores concluíram que a principal causa dos acidentes foi o acondicionamento inadequado do lixo; que os membros inferiores foram as regiões mais

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acometidas, seguido dos membros superiores e que os tipos de lesões mais comuns foram: feridas, cortes, contusões e escoriações.

Em outro estudo, Velloso et al. (1997) verificou que 24 coletores da cidade do Rio de Janeiro, acompanhados por um período de 6 meses, apresentaram 67 acidentes de trabalho e seus resultados são similares ao trabalho citado anteriormente. Neste, destaca-se como causa principal dos acidentes o mau acondicionamento do lixo (73%), acidentes envolvendo o veículo coletor (12%) e outras causas (9%). Além disso, os autores verificaram ainda que 50% dos acidentes ocasionaram cortes e ferimentos.

Como se não bastassem os riscos respiratórios dos bioaerossóis e o contato com microorganismos presentes no lixo, a rotina de trabalho dos lixeiros não os favorece quando se considera as sobrecargas no sistema musculoesquelético. Como destaca Kuijer et al. (2010), quando a coleta do lixo é realizada manualmente devem ser considerados seriamente fatores de risco que afetam a saúde desses trabalhadores em vários aspectos, inclusive as queixas musculoesqueléticas.

O trabalho dos coletores de lixo é excessivamente pesado, caracterizado pelas grandes cargas a serem carregadas no transporte do lixo das lixeiras para o caminhão.

“Além disso, o trabalho dos coletores de lixo pode conter trabalhos acima do nível dos ombros, frequente excesso de força, contrações estáticas, e posições articulares extremas que são fatores de riscos ocupacionais para desordens musculoesqueléticas do pescoço, ombros e braços” (POULSEN et al, 1995).

Segundo Poulsen (1995), as desordens musculoesqueléticas mais comuns entre os coletores de lixo dinamarqueses são as tendinopatias, as dores musculares, os prolapsos discais lombares, as dores lombares, as dores no pescoço e nos ombros.

Muitas vezes, os sintomas osteomusculares podem ser causados por acidentes de trabalho e não por esforços repetitivos ou excessivos. Em sua pesquisa realizada no Rio de Janeiro, a respeito de acidentes de trabalho, Velloso et al. (1997) verificou que mais de 34% dos acidentes de trabalho tiveram como diagnóstico a torção, o mau jeito, a hérnia de disco, a dor muscular, a contusão lombar e o entorse.

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Diante de tantas agressões à saúde dos lixeiros e do descaso da sociedade e do Estado para com esses trabalhadores, resta-lhes se autorregularem para sofrerem menos durante o processo de trabalho e assim tentar preservar a saúde. Vasconcelos et al. (2008) destaca em seu trabalho o processo de “redução”, criado pelo próprio grupo de coletores da cidade de Belo Horizonte – MG.

Este “método de trabalho” ou “modo de organização da produção”, desenvolvido pelo próprio grupo de trabalhadores, consiste de atividade preparatória à coleta de lixo por meio da formação de “estoques intermediários” que permitem reduzir os pontos de parada dos caminhões para coleta do lixo, além de propiciar outros benefícios para a regulação da carga de trabalho pela equipe (VASCONCELOS et al, 2008).

Para a empresa responsável pela coleta do lixo, a “redução” prejudica o processo de coleta além de causar transtornos à população, que tem que lidar com o lixo acumulado em frente às suas casas. Na visão dos lixeiros, a “redução” diminui a carga de trabalho e evita acidentes (Vasconcelos et al, 2008).

Ainda sobre a estratégia de “redução”, Vasconcelos et al. (2008), pela Análise Ergonômica do Trabalho, concluem que o método proporciona diminuição do gasto energético e provavelmente menor incidência de lesões osteomusculares, cortes e atropelamentos.

Nota-se, portanto, que mesmo com a escassez de pesquisas sobre a saúde desses sujeitos, é evidente na literatura a insalubridade presente nesta ocupação, tanto no aspecto físico da saúde do corpo quanto no aspecto social e emocional da marginalização da profissão. Resta a esses sujeitos criarem eles próprios estratégias para tornar seu trabalho menos agressivo e proporcionar melhores condições para que possam manter fora de nossas vistas o que nos é imprestável.

3.2 – Varredores de Rua

A literatura também não apresenta muitas pesquisas sobre a saúde dos varredores de rua. Assim como os coletores de lixo, os varredores têm um papel fundamental na nossa sociedade, retirando a sujeira das ruas. O processo de limpeza das ruas também é variado quando se compara a limpeza pública em vários países. O processo de varrição feito pelos garis aqui no

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Brasil não está presente em países que têm a limpeza das ruas feita de forma automatizada.

Socialmente os varredores também não têm o reconhecimento devido e proporcional à importância do trabalho que realizam. Muitos trabalhos destacam a exclusão social pela qual esses trabalhadores passam, mas um dos trabalhos mais ricos é o de Costa (2004), em que relata suas impressões durante o período que se vestiu de gari e trabalhou com os varredores do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP). Durante a vivência, o autor relata ter se sentido invisível:

“O ofício de gari parece acentuadamente atravessado por um fenômeno de gênese e expressão intersubjetivas: a invisibilidade pública – espécie de desaparecimento psicossocial de um homem no meio de outros homens.” (COSTA, 2004).

Enfatizando essa sensação de invisibilidade, ao atravessar o prédio do IPUSP, cruzando com pessoas conhecidas, Costa (2004) compara-se, enquanto vestido no uniforme de gari, a simples obstáculos pelos quais as pessoas passam cotidianamente sem notar:

“Talvez apenas uma ou outra tenha se desviado de nós como desviamos de obstáculos, de objetos. Nenhuma saudação corriqueira, um olhar, sequer um aceno de cabeça. Foi surpreendente. Eu era um uniforme que perambulava: estava invisível...” (COSTA, 2004).

Apesar de a varrição ser uma tarefa bem menos dinâmica do que o ato de coletar lixo acompanhado do caminhão, como acontece com os lixeiros, os garis também sofrem com vários riscos laborais devido ao trabalho ser realizado nas ruas.

“Como realizam seu trabalho a “céu aberto” (em praças, ruas e demais logradouros), encontram-se submetidos às radiações solares, à umidades ou climas secos, ao trânsito existente no horário de trabalho, à mordedura de animais soltos nas ruas, às variações de temperatura, entre outros tipos de agentes agressores.” (SILVEIRA, ROBAZZI E LUIS, 1998).

Assim como nas pesquisas envolvendo os coletores de lixo, há uma prevalência maior de estudos que enfatizam o sistema respiratório dos varredores, devido à exposição à poeira. A varrição das ruas expõe os trabalhadores à poeira levantada pelo ato de varrer e à poeira levantada pelos automóveis e pelos transeuntes, expondo cronicamente esses trabalhadores ao pó e causando prováveis afecções à saúde pulmonar desses sujeitos (Nku et al, 2005).

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Nku et al. (2005) avaliou as funções pulmonares de 200 varredoras de rua da cidade de Calabar – Nigéria, em comparação com 200 controles. Neste trabalho, verificou-se que a função respiratória das varredoras estava diminuída em relação aos controles. Os pesquisadores encontraram ainda maior prevalência de sintomas respiratórios nos garis em comparação com os controles, tais como: catarro, tosse e espirros.

Sabde e Zodpey (2008) investigaram 273 varredores de rua da cidade de Nagpur, na Índia. Esses varredores foram comparados a 142 controles, sendo estes funcionários públicos municipais da cidade em questão. Neste estudo, os pesquisadores também encontraram as afecções do trato respiratório como as morbidades mais comuns, afetando 15% dos sujeitos. As morbidades encontradas foram: infecções do trato respiratório superior (7,3%), bronquite crônica (5,9%) e asma brônquica (1,8%). Os pesquisadores acreditam que a alta prevalência de bronquite crônica entre os varredores, quando comparados aos controles, deve-se à exposição à poeira, a bioaerossóis e ao tabagismo.

Os acidentes de trabalho também estão presentes no cotidiano dos varredores de rua. Silveira, Robazzi e Luis investigaram os acidentes de trabalho registrados em Ribeirão Preto durante os anos de 1993 e 1994. Em 1993, a empresa responsável pela limpeza urbana tinha 313 funcionários na varrição e foram registrados 18 acidentes de trabalho. No ano seguinte, os varredores eram 233 e desses, 26 sofreram acidentes de trabalho. Nos dois anos referidos, as causas mais comuns de acidentes foram as colisões com veículos a motor, as quedas da própria altura e escorregões e lesões causadas por objetos perfuro-cortantes.

O sistema osteomuscular dos varredores também pode sofrer sobrecargas pelo tipo de trabalho. Os longos períodos na posição em pé, associado ao ato de varrer podem trazer sobrecargas à coluna e aos membros dos garis. Nku (2005) corrobora, ao demonstrar em seu estudo, que os sintomas não respiratórios mais presentes nos varredores de rua, investigados em sua pesquisa, são as dores na coluna, apresentando-se muito mais prevalentes nos varredores em comparação ao grupo controle. “A dor na coluna como o sintoma não respiratório mais prevalente nos varredores não é

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surpresa, visto que os garis sempre se curvam para fazer a varrição” (NKU, 2005).

3.3 Lesões por Esforço Repetitivo e Distúrbios Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho – LER/DORT

Uma das doenças ocupacionais mais comuns são as Lesões por Esforço Repetitivo (LER) ou Distúrbios Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT). Apesar de não serem causadas unicamente pelo trabalho, são distúrbios que constituem a maior proporção de doenças ocupacionais em diversos países (Punnett, 2004).

Como destaca Punnett e Wegman (2004), os DORT incluem uma ampla quantidade de condições inflamatórias e degenerativas que afetam músculos, tendões, articulações e nervos periféricos. As condições inflamatórias específicas dos tendões, como a tenossinovite e a epicondilite, as compressões de nervos periféricos, como a síndrome do túnel do carpo, e as condições degenerativas, como a osteoartrose, estão entre as patologias mais comuns nos DORT. Estão presentes também as alterações inespecíficas, porém, dolorosas, como mialgia e dores lombares. Esses distúrbios do sistema osteomuscular podem resultar em dor persistente, perda da capacidade funcional e incapacidade para o trabalho (Walsh, Oishi e Couri, 2008).

Especificamente, a lombalgia ocupacional é a causa isolada mais comum de transtorno de saúde relacionado com o trabalho, de incapacidade em trabalhadores com menos de 45 anos de idade e ainda responde a mais de um quarto dos casos de invalidez prematura (Junior, Goldenfun e Siena, 2010).

Na literatura, há um consenso sobre o fato de as lesões osteomusculares terem múltiplos fatores causais, incluindo fatores relacionados ao trabalho e que não apresentam nenhuma relação com este. “Se tornou claro que tanto o trabalho quanto fatores não relacionados ao trabalho, incluindo os psicossociais, podem causar ou agravar as lesões musculoesqueléticas” (Barbe e Barr, 2006).

Punnet e Wegman (2004) concordam, salientando que, assim como as doenças crônicas, as lesões osteomusculares têm múltiplos fatores de risco, tanto ocupacionais quanto não ocupacionais. Além do trabalho, outros aspectos do cotidiano devem ser levados em consideração quando se avalia as

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lesões osteomusculares, como, por exemplo, os esportes e o trabalho doméstico (Punnet e Wegman, 2004).

Em uma recente revisão sistemática a respeito dos fatores de risco para as DORT, Costa e Vieira (2010) levantam as relações do trabalho com as DORT. Fatores como excesso de força, movimentos repetitivos, posturas sustentadas ou desajeitadas e períodos prolongados na posição sentada ou em pé têm sido relacionados às lesões osteomusculares relacionadas ao trabalho (Costa e Vieira, 2010). Em relação aos fatores de risco para as DORT que não têm relação com o processo de trabalho em si, estão variáveis como tabagismo, índice de massa corporal (IMC) elevado, co-morbidades e demandas psicossociais.

Os fatores de risco para as DORT parecem estar bem evidenciados pela literatura, mas cuidados extras devem ser tomados e análises individuais podem trazer informações adicionais na avaliação desses distúrbios. Punnett e Wegman (2004) levantam uma questão interessante:

“... um baixo nível de esforço muscular pode parecer mais seguro do que um nível elevado de força. Mas se a força de baixa intensidade for sustentada por um período excessivo de tempo, então a duração prolongada do esforço pode torná-lo tão perigoso quanto o breve, porém árduo esforço.” (PUNNET e WEGMAN, 2004).

É importante lembrar que o processo de desenvolvimento das DORT, assim como quaisquer doenças, envolve mais do que somente dores no corpo e acometimento do sistema musculoesquelético. A dimensão psicopatológica dessa doença é um destaque no trabalho de Echeverria e Pereira (2007), no qual salientam que os pacientes acometidos com DORT, ao procurarem auxílio psicoterápico, encontram-se em estado de estagnação mental, uma imobilidade psíquica acompanhada de muita dor física. “Observa-se nos pacientes com DORT um conjunto orgânico funcional envolvido na doença (...). As doenças não migram de um ponto a outro, é sempre o mesmo grupo de órgãos envolvidos.” (Echeverria e Pereira, 2007). Somado ao sofrimento do sistema musculoesquelético dos que sofrem dessa patologia está presente a angústia pela incapacidade momentânea ou permanente, podendo levar o indivíduo a desenvolver sofrimento psíquico. Sato (2001) corrobora, dizendo que a forte associação entre sofrimento psíquico e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho introduz questionamentos em

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relação ao tipo e à natureza dessa associação, que devem ser profundamente investigados.

Devido à grande quantidade de patologias específicas que estão inseridas nas DORT, torna-se difícil obter dados sobre a incidência e a prevalência das lesões osteomusculares. No entanto, Punnet e Wegman (2004) destacam que as DORT formam um grupo de doenças que representam um terço ou mais de todas as doenças ocupacionais registradas nos Estados Unidos, nos Países Nórdicos e no Japão. Relatam ainda que nos Estados Unidos, Canadá, Finlândia, Suécia e Inglaterra, distúrbios musculoesqueléticos são a maior causa de ausência no trabalho ou invalidez que qualquer outro grupo de doenças.

No Brasil, atualmente, os DORT são o principal grupo de distúrbios entre as doenças ocupacionais, “apresentando dimensões epidêmicas em várias categorias profissionais” (Alcantra et al., 2011).

Claramente as DORT são um problema de saúde pública, considerando-se a importância de sua manifestação (Sato, 2001). Porém, para que considerando-se possa compreender o processo de saúde e doença, e assim iniciar o processo estratégico de resolução dos problemas que envolvem o desenvolvimento de qualquer problema de saúde pública, necessita-se “reconhecer a multiplicidade de fatores desencadeadores das patologias nos seus aspectos biológicos, psicológicos, naturais e sociais” (Chiavegato Filho e Pereira Jr., 2004).

Segundo Sato (2001), as DORT demandam práticas multiprofissionais nos serviços públicos, por parte de profissionais como os médicos, os engenheiros, os terapeutas ocupacionais, os fisioterapeutas, os psicólogos, os ergonomistas, os assistentes sociais, entre outros.

As intervenções que buscam cercar todos os fatores de risco no desenvolvimento das DORT apresentam maiores chances de sucesso, principalmente se o foco incidir sobre a prevenção. Silverstein e Clark (2004), em sua revisão a respeito de intervenções para a redução das DORT, concluíram que as intervenções de múltiplos componentes, considerando os múltiplos fatores de risco, têm maiores índices de sucesso em comparação com as intervenções simples.

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4. METODOLOGIA

O estudo epidemiológico foi descritivo, desenvolvido no formato transversal e a coleta de dados foi feita por entrevistas com os coletores de lixo orgânico e varredores de rua da empresa responsável pela coleta e varrição da cidade em estudo. Além disso, foram captadas imagens fotográficas dos coletores de lixo durante a realização do seu trabalho, assim como um vídeo que mostra dinamicamente o ritmo acelerado pelo qual passam esses trabalhadores.

O estudo obedeceu aos princípios éticos e foi aprovado pelo Comitê de Ética Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Processo Nº 940/2011, Anexo 1) (Unicamp, 2011).

A empresa responsável pela coleta do lixo e varrição das ruas, praças e avenidas da cidade em questão, previamente contatada, autorizou as entrevistas com os trabalhadores. Adotou-se como critério de inclusão que os coletores e os varredores fossem trabalhadores devidamente contratados pela empresa para realizarem seu trabalho. Como critério de exclusão, portanto, fica estabelecido que qualquer indivíduo que desenvolva algum tipo de coleta de lixo, reciclável ou orgânico, e não seja funcionário da empresa de saneamento da cidade, não fará parte da pesquisa. Fica estabelecido, também, como critério de exclusão, a não participação dos funcionários da empresa que exercem a função de motorista dos caminhões de lixo, assim como os lixeiros que fazem a coleta de lixo reciclável, por se tratar de um processo de coleta feito em dias específicos e diferente do qual desenvolvem os coletores que diariamente recolhem o lixo orgânico.

A coleta de dados foi realizada na própria empresa que emprega os trabalhadores, entre os meses de junho e agosto do ano de 2011, sendo disponibilizado um espaço para que a coleta fosse feita. Nesta mesma sala os trabalhadores foram pesados e tiveram suas alturas medidas por uma trena.

A empresa conta com 13 equipes de coletores de lixo. Cada equipe é composta por 4 coletores e 1 motorista. No total, trabalham na empresa 52 lixeiros, dos quais 11 não quiseram participar da pesquisa.

Os garis devidamente registrados como funcionários da empresa responsável pela varrição na cidade em questão somam 28, dos quais 7 não concordaram em participar da pesquisa.

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Primeiramente, foi apresentado aos lixeiros e garis o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) (Anexo 2). Este termo contém todas as informações a respeito da pesquisa, bem como a possibilidade de não participação, desistência ou desejo do participante de não divulgação dos seus dados. Aos participantes analfabetos, os termos foram lidos. Quando houve dificuldades no entendimento do TCLE, foram esclarecidas quaisquer dúvidas sobre os direitos do sujeito que constam no termo.

O inquérito constou de instrumentos de coleta de dados (questionários) diretamente focados na coleta das informações necessárias à investigação das queixas osteomusculares e de suas possíveis relações com as variáveis descritas nos objetivos específicos. Os coletores e varredores entrevistados responderam ao questionário. O instrumento (Anexo 3) é um questionário sóciodemográfico - profissional, anexado ao Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares (QNSO), que coletou as informações referentes às queixas musculoesqueléticas. Por exigência da empresa, as entrevistas deveriam ser feitas o mais rapidamente possível, sem prejuízos nos horários de início da coleta e varrição. Por esse motivo, os questionários sóciodemográfico - profissional e o QNSO foram anexados, para criar dinamismo e rapidez nas entrevistas.

O QNSO é um instrumento validado por Pinheiro et. al (2002) para a realização de inquéritos que fornecem informações a respeito de sintomas osteomusculares. Pinheiro et. al (2002) destaca que, apesar das limitações inerentes aos instrumentos de autoavaliação, a simplicidade e os bons índices de confiabilidade do QNSO fazem deste instrumento um bom aliado em estudos que busquem mensurar os sintomas osteomusculares.

Por exigência da empresa, as entrevistas foram aplicadas antes da saída dos trabalhadores para a coleta do lixo e para a varrição das ruas, nos períodos da manhã (antes das 7h00) e da tarde (antes das 17h00).

A captura das imagens por meio de fotografia e vídeo também foi autorizada pela empresa, desde que os trabalhadores e a empresa não fossem identificados. A filmagem foi realizada com imagens da retaguarda do caminhão de lixo e, dessa forma, ficou também resguardada a identificação dos lixeiros.

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A cidade na qual os coletores de lixo e os varredores de rua avaliados trabalham faz parte da região metropolitana de Campinas e apresenta, segundo o censo de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e estatística, uma população de 200.346 habitantes, com 60.942 domicílios. As 13 equipes de coletores se dividem para fazer a coleta do lixo, assim como a divisão ocorre entre os varredores de rua.

Os trabalhadores em questão têm uma carga horária de 7 horas e 20 minutos e têm um intervalo de 1 hora para as refeições. Diariamente, os trabalhadores se concentram, minutos antes da abertura dos portões da empresa, do lado de fora até que possam entrar. Após ingressarem na sede da empresa, deslocam-se aos vestiários para fazerem a troca de roupa e, em seguida, encaminham-se ao refeitório para um lanche. À disposição dos trabalhadores estão dois galões, um de leite e outro de café, além de poderem comer pão com manteiga, que também está disponível.

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5. RESULTADOS

5.1 – Descrição da população analisada, do local de trabalho e do ambiente de trabalho.

Ao partirem os caminhões com as equipes, cada um deles “toma um rumo” diferente e tem um trajeto específico para a coleta do lixo. Ao iniciar a jornada, os coletores de lixo descem do caminhão ao qual fazem parte e iniciam a coleta manual das sacolas e caixas armazenadas nas lixeiras e nas calçadas dos domicílios. Após recolherem os lixos, arremessam nos caminhões e partem para novas coletas. Em alguns trechos os coletores saltam para cima da parte posterior do caminhão e aguardam novos pontos para que possam saltar de volta na rua e continuar a coleta.

Os varredores de rua, após o lanche que antecipa o início da jornada diária de trabalho, se deslocam a um ônibus que os leva até o ponto de trabalho. Alguns varredores não vão até a sede principal da empresa. A maioria dos garis se apresenta para o trabalho, no mesmo horário dos outros, em uma subssede da empresa, localizada no centro da cidade. Deste ponto, eles partem a pé para os locais pré-determinados para fazerem a varrição. Esses trabalhadores fazem a varrição das ruas, praças e avenidas em duplas. Revezando-se, um dos garis faz a varrição enquanto o outro leva o compartimento para que o lixo varrido seja depositado.

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5.1.1 – Descrição da população de coletores de lixo com dados obtidos nas entrevistas:

A tabela 1 apresenta os dados sobre a idade, o peso, a altura, o IMC e o tempo de profissão dos coletores, com os valores mínimos e máximos de cada variável, assim como as médias, as medianas e os intervalos de confiança.

Tabela 1 – Média, mediana e valores mínimos e máximos das variáveis.

Média Mediana Mínimo Máximo

Idade 23.56 22.00 18.00 34.00 Peso (Kg) 66.45 65.90 48.30 87.00 Altura (cm) 1.74 1.74 1.62 1.85 IMC 21.97 21.56 15.95 28.74 Tempo Profissão (meses) 10,6 9 0,3 35

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a) Idade:

A figura 1 mostra um gráfico da distribuição dos coletores em relação à idade. A variável foi categorizada em três faixas de idade: 1 – 18 a 25 anos; 2 – 26 a 30 anos e 3 – 31 a 35 anos. Como o coletor com mais idade tem 34 anos, limitou-se em 35 anos.

Nota-se na distribuição das idades dos coletores de lixo que são trabalhadores jovens. Mesmo com o trabalhador com mais idade apresentar somente 34 anos, percebe-se que é uma exceção. A grande maioria dos coletores da cidade avaliada está na faixa de 18 a 25 anos. Percebe-se que nesta faixa de 18 a 25 anos, concentram-se 14 trabalhadores abaixo de 20 anos de idade.

Figura1 – Distribuição das idades dos coletores de lixo, categorizados em 18 a 25 anos, 26 a 30 anos e 31 a 35 anos.

31 4 6 0 5 10 15 20 25 30 35 18 a 25 26 a 30 31 a 35 Categorias de Idade F re q u ê n c ia s A b s o lu ta s

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b) Altura, Peso e Índice de Massa Corporal:

A figura 3 apresenta um histograma da frequência de altura distribuídas entre os coletores de lixo entrevistados. Nota-se a distribuição normal das alturas dos lixeiros entrevistados, com destaque aos coletores que medem de 1,70m a 1,75m.

Figura 2: Histograma – distribuição de altura dos coletores de lixo.

1,85 1,80 1,75 1,70 1,65 1,60

Altura (em metros)

12 10 8 6 4 2 0

F

re

q

u

ê

n

c

ia

s

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A figura 3 ilustra a distribuição dos pesos dos lixeiros no histograma. É perceptível a distribuição normal dos pesos dos lixeiros entrevistados, com destaque aos coletores que pesam entre 60 e 70 kg, apresentando uma frequência de 13 indivíduos.

Figura 3: Histograma – distribuição dos pesos dos coletores de lixo.

90,00 80,00 70,00 60,00 50,00 40,00

Peso (em Kg)

14 12 10 8 6 4 2 0

F

re

q

u

ê

n

c

ia

s

(41)

No histograma da figura 4 estão expostas as frequências do índice de massa corporal (IMC) da população de coletores estudada. Nesta representação nota-se a distribuição normal e maior frequência dos valores de IMC entre 18 e 24.

Figura 4 – Histograma das frequências de IMC dos coletores de lixo da cidade estudada. 30,00 27,00 24,00 21,00 18,00 15,00

IMC

10 8 6 4 2 0

F

re

q

u

ê

n

c

ia

s

(42)

Segundo Anjos (1992), os tradicionais limites de IMC são: magreza (<20); saudável (20 a 25); sobrepeso (25 a 30) e obesidade (>30).

Na figura 5 estão representados os valores de IMC dos lixeiros, categorizados de acordo com a tabela 2, a seguir:

A variável IMC foi categorizada da seguinte forma: 1 – menor que 20 (Magreza)

2 – 20 a 24.9 (Saudável)

3 – 25.0 a 29.9 (Excesso de Peso) 4 – 30.0 a 39.9 (Obesidade)

Tabela 2 – Categorização do IMC dos lixeiros da cidade estudada, entrevistados em 2011.

A figura 5 apresenta as frequências absolutas dos lixeiros distribuídos nas quatro faixas de categorização do IMC. Percebe-se a grande concentração de coletores de lixo na faixa “saudável” da categorização, na qual o IMC encontra-se no intervalo de 18,6 a 24.9, são 31 indivíduos, sendo que nas faixas de obesidade, nenhum trabalhador se enquadrou.

Figura 5 – Frequências absolutas de coletores entrevistados, pelo IMC.

4 31 6 0 0 0 5 10 15 20 25 30 35

Magreza Saudável Excesso de

Peso Obesidade Obes. Mórbida Categorias de IMC F re q u ê n c ia s A b s o lu ta s

(43)

c) Tempo de Profissão

Na figura 6 estão representadas as porcentagens dos coletores entrevistados, pelo tempo de trabalho, em meses. A categorização está feita da seguinte forma: de 0 a 6 meses de trabalho, de 7 a 12 meses, de 13 a 24 meses, de 25 a 36 meses. Nota-se a grande quantidade de coletores de lixo concentrada na faixa de 0 a 6 meses, 44% dos entrevistados.

Figura 6 – Proporção dos coletores de lixo da cidade estudada, por tempo de profissão (em meses).

44%

20%

27%

10%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

0 a 6

7 a 12

13 a 24

25 a 36

Categorias de Tempo de Profissão (em meses)

(44)

Quando a categorização do tempo de profissão é feita a cada 12 meses, temos as proporções que estão demonstradas na figura 7. As faixas de categorização são: 0 a 12 meses, 12 a 24 meses e 24 a 36 meses. Devido ao fato do coletor que tem mais tempo de profissão ter 35 meses de trabalho, a categorização foi até o limite de 36 meses.

Figura 7 - Tempo de profissão dos lixeiros da cidade estudada. Categorização de 12 em 12 meses de trabalho.

63%

27%

10%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

0 a 12

13 a 24

25 a 36

Categorias de Tempo de Profissão (em meses)

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