• Nenhum resultado encontrado

Uma das doenças ocupacionais mais comuns são as Lesões por Esforço Repetitivo (LER) ou Distúrbios Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT). Apesar de não serem causadas unicamente pelo trabalho, são distúrbios que constituem a maior proporção de doenças ocupacionais em diversos países (Punnett, 2004).

Como destaca Punnett e Wegman (2004), os DORT incluem uma ampla quantidade de condições inflamatórias e degenerativas que afetam músculos, tendões, articulações e nervos periféricos. As condições inflamatórias específicas dos tendões, como a tenossinovite e a epicondilite, as compressões de nervos periféricos, como a síndrome do túnel do carpo, e as condições degenerativas, como a osteoartrose, estão entre as patologias mais comuns nos DORT. Estão presentes também as alterações inespecíficas, porém, dolorosas, como mialgia e dores lombares. Esses distúrbios do sistema osteomuscular podem resultar em dor persistente, perda da capacidade funcional e incapacidade para o trabalho (Walsh, Oishi e Couri, 2008).

Especificamente, a lombalgia ocupacional é a causa isolada mais comum de transtorno de saúde relacionado com o trabalho, de incapacidade em trabalhadores com menos de 45 anos de idade e ainda responde a mais de um quarto dos casos de invalidez prematura (Junior, Goldenfun e Siena, 2010).

Na literatura, há um consenso sobre o fato de as lesões osteomusculares terem múltiplos fatores causais, incluindo fatores relacionados ao trabalho e que não apresentam nenhuma relação com este. “Se tornou claro que tanto o trabalho quanto fatores não relacionados ao trabalho, incluindo os psicossociais, podem causar ou agravar as lesões musculoesqueléticas” (Barbe e Barr, 2006).

Punnet e Wegman (2004) concordam, salientando que, assim como as doenças crônicas, as lesões osteomusculares têm múltiplos fatores de risco, tanto ocupacionais quanto não ocupacionais. Além do trabalho, outros aspectos do cotidiano devem ser levados em consideração quando se avalia as

lesões osteomusculares, como, por exemplo, os esportes e o trabalho doméstico (Punnet e Wegman, 2004).

Em uma recente revisão sistemática a respeito dos fatores de risco para as DORT, Costa e Vieira (2010) levantam as relações do trabalho com as DORT. Fatores como excesso de força, movimentos repetitivos, posturas sustentadas ou desajeitadas e períodos prolongados na posição sentada ou em pé têm sido relacionados às lesões osteomusculares relacionadas ao trabalho (Costa e Vieira, 2010). Em relação aos fatores de risco para as DORT que não têm relação com o processo de trabalho em si, estão variáveis como tabagismo, índice de massa corporal (IMC) elevado, co-morbidades e demandas psicossociais.

Os fatores de risco para as DORT parecem estar bem evidenciados pela literatura, mas cuidados extras devem ser tomados e análises individuais podem trazer informações adicionais na avaliação desses distúrbios. Punnett e Wegman (2004) levantam uma questão interessante:

“... um baixo nível de esforço muscular pode parecer mais seguro do que um nível elevado de força. Mas se a força de baixa intensidade for sustentada por um período excessivo de tempo, então a duração prolongada do esforço pode torná-lo tão perigoso quanto o breve, porém árduo esforço.” (PUNNET e WEGMAN, 2004).

É importante lembrar que o processo de desenvolvimento das DORT, assim como quaisquer doenças, envolve mais do que somente dores no corpo e acometimento do sistema musculoesquelético. A dimensão psicopatológica dessa doença é um destaque no trabalho de Echeverria e Pereira (2007), no qual salientam que os pacientes acometidos com DORT, ao procurarem auxílio psicoterápico, encontram-se em estado de estagnação mental, uma imobilidade psíquica acompanhada de muita dor física. “Observa-se nos pacientes com DORT um conjunto orgânico funcional envolvido na doença (...). As doenças não migram de um ponto a outro, é sempre o mesmo grupo de órgãos envolvidos.” (Echeverria e Pereira, 2007). Somado ao sofrimento do sistema musculoesquelético dos que sofrem dessa patologia está presente a angústia pela incapacidade momentânea ou permanente, podendo levar o indivíduo a desenvolver sofrimento psíquico. Sato (2001) corrobora, dizendo que a forte associação entre sofrimento psíquico e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho introduz questionamentos em

relação ao tipo e à natureza dessa associação, que devem ser profundamente investigados.

Devido à grande quantidade de patologias específicas que estão inseridas nas DORT, torna-se difícil obter dados sobre a incidência e a prevalência das lesões osteomusculares. No entanto, Punnet e Wegman (2004) destacam que as DORT formam um grupo de doenças que representam um terço ou mais de todas as doenças ocupacionais registradas nos Estados Unidos, nos Países Nórdicos e no Japão. Relatam ainda que nos Estados Unidos, Canadá, Finlândia, Suécia e Inglaterra, distúrbios musculoesqueléticos são a maior causa de ausência no trabalho ou invalidez que qualquer outro grupo de doenças.

No Brasil, atualmente, os DORT são o principal grupo de distúrbios entre as doenças ocupacionais, “apresentando dimensões epidêmicas em várias categorias profissionais” (Alcantra et al., 2011).

Claramente as DORT são um problema de saúde pública, considerando- se a importância de sua manifestação (Sato, 2001). Porém, para que se possa compreender o processo de saúde e doença, e assim iniciar o processo estratégico de resolução dos problemas que envolvem o desenvolvimento de qualquer problema de saúde pública, necessita-se “reconhecer a multiplicidade de fatores desencadeadores das patologias nos seus aspectos biológicos, psicológicos, naturais e sociais” (Chiavegato Filho e Pereira Jr., 2004).

Segundo Sato (2001), as DORT demandam práticas multiprofissionais nos serviços públicos, por parte de profissionais como os médicos, os engenheiros, os terapeutas ocupacionais, os fisioterapeutas, os psicólogos, os ergonomistas, os assistentes sociais, entre outros.

As intervenções que buscam cercar todos os fatores de risco no desenvolvimento das DORT apresentam maiores chances de sucesso, principalmente se o foco incidir sobre a prevenção. Silverstein e Clark (2004), em sua revisão a respeito de intervenções para a redução das DORT, concluíram que as intervenções de múltiplos componentes, considerando os múltiplos fatores de risco, têm maiores índices de sucesso em comparação com as intervenções simples.

Documentos relacionados